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Direito da Família

Noções Fundamentais
 Art. 1576º CCivil
 A família é constituída por todas as pessoas ligadas por as relações jurídicas familiares.
 Os familiares de uma pessoa são o seu cônjuge, todos os seus parentes e afins,
adotantes e adotados.

 União de fato: situação jurídica de duas pessoas que independentemente do sexo,


vivem em condições análogas às dos cônjuges há mais de dois anos
 Não estão englobadas nas fontes das relações jurídicas familiares
 Merecem alguma proteção jurídica (2020º nº1): o membro sobrevivo da
união de fato tem o direito de exigir alimentos da herança do falecido;
cessando se o alimentado contrair casamento ou iniciar nova união de fato
(2019º).

Fontes das relações jurídicas familiares

 Parentesco: relação que se estabelece entre pessoas que têm o mesmo sangue porque
descendem uma das outras ou porque provêm de um progenitor comum [vínculo de
sangue que é a relação que está na base da relação jurídica familiar – 1578º].
 1579º - «cada geração forma um grau, e a série dos graus constitui a linha de
parentesco»
 Parentesco em linha reta: pode ser descendente ou ascendente (1580º nº2);
há tantos graus quanto pessoas que forma a linha de parentesco excluindo o
progenitor
 Exemplo: pai e filho – parentesco na linha reta descendente de 1º grau
 Parentesco em linha colateral: há tantos graus quanto as pessoas que
formam a linha de parentesco, subindo por um dos ramos e descendo pelo
outro, sem contar o progenitor em comum
 Exemplo: irmãos – parentes na linha colateral de 2º grau
 Exemplo: tio e sobrinho – parentes na linha colateral de 3º grau
(1603º - impedimento de casamento)
 Exemplo: primos – parentes na linha colateral de 4º grau

 Limites (1582º): os efeitos do parentesco produzem-se em qualquer grau na


linha reta, mas só até ao 6º grau da linha colateral
 Efeitos sucessórios (2133º): os descendentes, ascendentes, irmãos e seus
descentes e outros colaterais até ao 4º grau integram as classes de sucessíveis
 Obrigação de alimentos (2009º): a lei impõe aos descendentes, ascendentes,
irmãos e tios [estes durante a menoridade]
 Art. 1602º-a),b): não podem contrair casamento entre si parentes na linha
reta, nem parentes em 2º grau na linha colateral [irmãos], e parentes em 3º
grau na linha colateral [tio e sobrinha].
 Filiação (1796º): relação de parentesco que liga os descendentes aos
respetivos progenitores.
 Tutela (1931º): quando os pais não designaram tutor ou este não haja sido
confirmado, compete ao tribunal de menores, ouvido o conselho de família
[estes são escolhidos entre os parentes e afins do menor, levando em conta a
proximidade do grau] nomear o tutor de entre os parentes ou afins do menor.

 Casamento (1587º): relação que liga os cônjuges entre si; contrato entre duas pessoas
que pretendem constituir família.

 Afinidade (1584º): vínculo que liga cada um dos cônjuges aos parentes do outro
[sogros, cunhados, enteados…]. Para haver afinidade é necessário que tenha havido
casamento e que exista parentesco – a fonte das relações de afinidade é o casamento
[a afinidade só nasce após a sua celebração]. Os afins não são parentes entre si, visto
que não estão ligados por vínculo de sangue, embora o parentesco esteja na base da
afinidade.
 Exemplo: o parentesco está na origem da afinidade entre sogro e nora,
não é o parentesco entre ele (que não existe), mas o que liga o sogro ao
marido da nora, que é filho daquele.

 Dissolução do casamento (1585º): A afinidade só cessa no caso de dissolução do


casamento por morte [contudo não se extingue, ou seja, não pode haver
casamento entre afins após dissolução por morte]. No caso de dissolução por
divórcio, permite um posterior casamento do ex-cônjuge com o filho ou com o pai
do outro.
 1585º - A afinidade determina-se pelos mesmos graus e linhas que definem o
parentesco e não cessa pela dissolução do casamento por morte.

 Afins na linha reta: sogros, genro e nora; afim em linha reta dos parentes em
linha reta do seu cônjuge.
 Afins na linha colateral: cunhados; afim em linha colateral dos parentes do seu
cônjuge em linha colateral
 O cônjuge é afim em 2º grau dos parentes em 2º grau do seu cônjuge

 Não existem limites para os graus de afinidade


 Não produz qualquer efeito na sucessão legitima nem origina obrigação de
alimentos
 Motivo de preferência: escolha de tutor pelo tribunal (1931º nº1) ou escolha de
vogais do conselho de família (1952º nº1)
 Fundamento de incapacidades ou incompatibilidades
 A afinidade na linha reta constitui um impedimento dirimente relativo (1602º-c)).
 Art. 1866º-a): não existe averiguação oficiosa da paternidade se a mãe e o
pretenso pai forem afins em linha reta
 Caso de impedimento do juiz: o seu cônjuge ou algum parente ou afim na linha
reta ou no 2º grau da linha colateral intervieram na causa como mandatário (115º
nº1-d) CPC)
 Art. 497º nº1—b) CPC: o sogro pode recusar-se depor como testemunha nas
causas do genro ou nora.

 Adoção (1576º): relação que se estabelece entre adotante e adotado ou entre um


deles e os parentes do outro. Este vínculo nasce a partir da sentença constitutiva da
doação e é semelhante quanto aos efeitos, à filiação natural, embora não provenha
dos laços biológicos da procriação.
 Visa realizar o superior interesse da criança e será decretada quando
apresente reais vantagens para o adotando, se funde em motivos legítimos e
não envolva sacrifício injusto para os outros filhos do adotante, e seja razoável
supor que entre o adotante e o adotando se estabelecera um vínculo
semelhante ao da filiação (1974º).
 Quem pode ser adotado: filhas do cônjuge do adotante, confiadas ao
adotante mediante confiança administrativa ou medida de promoção e
proteção de confiança com vista a futura adoção (1980º nº1)
 Quem pode adotar (1979º)
− Duas pessoas casadas há mais de 4 anos e não separadas
judicialmente de pessoas e bens ou de fato, em que ambas tem de ter
mais de 25 anos
− O adotante, para adotar individualmente, tem de ter mais de 30 anos
e menos de 60
− Se o adotando for o filho do cônjuge, a idade mínima do adotante é de
25 anos

 O adotando deverá ter menos de 15 anos à data do requerimento de adoção


 A adoção exige o consentimento:
− do adotando quando maior de 12 anos
− do cônjuge do adotante não separado judicialmente de pessoas e bens
− dos pais do adotando, ainda que menores e mesmo que não exerçam
as responsabilidades parentais, desde que não tenha havido medida
de promoção e proteção de confiança com vista a futura adoção
− do ascendente, do colateral até ao 3º grau ou do tutor, tendo falecido
os pais do adotando (1981º nº1-a) a e)).
 Art. 1984º: o juiz impõe a audição de certas pessoas do núcleo familiar do
adotante, nomeadamente os filhos do adotante maior de 12 anos (se
existirem)
 A identidade do adotante não pode ser revelada aos pais naturais do adotado
[exceto se o adotante declarar expressamente que não se importa]
 Os pais naturais do adotado podem opor-se, mediante declaração expressa,
que não querem a sua identidade revelada ao adotante.
 Garante-se, ao adotando, o direito ao conhecimento das suas origens nos
termos do diploma que regula o processo de adoção (RJPA – Regime Jurídico
do Processo de Adoção)
 Efeitos: o adotado adquire a situação de filho do adotante e integra-se com os
seus descendentes na família deste, extinguindo-se as relações familiares
entre o adotado e os seus ascendentes e colaterais naturais sem prejuízo do
disposto quanto a impedimentos matrimoniais (1986º)
− Se um dos cônjuges adota o filho do outro mantêm-se as relações
entre o adotado e o cônjuge do adotante e os respeitos parentes
− O adotado perde os seus apelidos de origem e pode até modificar o
nome próprio (1988º)
 Após ser decretada a adoção, não é possível estabelecer a filiação natural do
adotado nem fazer a prova dessa filiação (1987º)
 Irrevogabilidade da adoção (1989º): a adoção não é revogável, mas pode vir
a ser anulada pela revisão da sentença nos termos do art. 696º CPC
Relação matrimonial
 Vínculo que une duas pessoas em virtude do casamento e afeta o seu estado, tendo
implicações a vários níveis, nomeadamente no âmbito pessoal e patrimonial
 Art. 1577º CCivil: «Casamento é o contrato celebrado entre duas pessoas que
pretendem constituir família mediante uma plena comunhão de vida, nos termos e
disposições deste Código» [alterado pela Lei 9/2010, de 31 de maio]

o Como ato – é algo negocial e a que a ordem jurídica atribui efeitos


o Como um estado – pode ser dissolvido por morte ou divórcio

Plena comunhão de vida

 Comunhão de vida não livremente dissolúvel (1773º)


 Deveres de respeito, fidelidade, coabitação, cooperação e assistência (1672º)
 Dever de comunhão de vida exclusiva (1601º-c))

Do ponto de vista da organização do casamento podemos ter 4 tipos de sistema:

 Sistema do casamento religioso obrigatório [já não existe entre nós]


− «ato da vontade pelo qual o homem e a mulher, por pacto irrevogável se
entregam e recebem mutuamente a fim de constituírem o matrimónio»
− Consumação: possui um relevo que não o tem no casamento civil – torna o ato
mais estável, pois só depois de consumado é que o casamento católico goza de
indissolubilidade, não apenas intrínseca, mas também extrínseca

− Três “bens do matrimónio”


 Bonum prolis (procriação e educação dos filhos)
 Bonum fidei (mútua fidelidade)
 Bonum sacramenti (indissolubilidade)

− Estes elementos exprimem-se em deveres recíprocos dos conjugues. A não


intenção de assumir estes deveres, invalida o casamento por falta de
consentimento matrimonial

Sistema matrimonial português


 Lei da Liberdade Religiosa

 Casamento católico: instituto disciplinado pelas regras do direito canónico e do direito


civil
− O Estado atribui direitos civis ao casamento católico como tal, e reconhece ou
recebe não só as normas do direito canónico que regem o ato matrimonial,
mas também, inclusivamente a aplicação que os órgãos jurisdicionais da
própria Igreja façam dessas normas
 Casamento religioso
− Igrejas ou comunidades “radicadas no País”
 O casamento religioso é apenas uma forma de celebração do
casamento, o qual fica sujeito em todos os aspetos às mesmas normas
por que se rege o casamento civil

− Outras Igrejas ou comunidades não “radicadas no País”


 O Estado só oferece a possibilidade do casamento civil, pois a lei não
dá qualquer valor à respetiva cerimónia religiosa

O direito civil e o direito canónico concorrem na disciplina do matrimónio:

 Requisitos da validade
 é exigido capacidade civil para a celebração do casamento católico (1596º);
 todos os impedimentos ao casamento civil, são também impedimentos ao
casamento católico;
 os tribunais civis não podem pronunciar-se sobre a validade ou nulidade do
casamento católico (1625º).

 Sistema de registo
 o pároco é obrigado a enviar à conservatória do registo civil competente o
duplicado do assento principal, a fim de ser transcrito no livro dos casamentos
– condição de eficácia civil do casamento.

 Dissolução do casamento:
 o direito canónico não prevê o divórcio;
 o casamento civil e o católico podem ser dissolvidos por divórcio nos tribunais
civis;
 a dissolução do casamento por morte compete exclusivamente à lei civil
 a dispensa do casamento rato e não consumado compete exclusivamente ao
direito canónico

 Forma
 O processo preliminar de ambos os tipos de casamento correm na
conservatória do registo civil (134º, 148º CRegCivil).

 Causas de nulidade
 Uma vez declarada a nulidade do casamento católico pelo tribunal
eclesiástico, é ao direito civil que cabe regular os efeitos da nulidade e a
eventual aplicação do instituto do casamento putativo (1647º)

 Efeitos do casamento
 Os efeitos pessoais e patrimoniais são regulados pelo direito civil (1588º)

 Promessa de casamento
 «O contrato pelo qual, a título de esponsais, desposórios ou qualquer outro,
duas pessoas se comprometem a contrair matrimónio não dá direito a exigir a
celebração do casamento, nem a reclamar, na falta de cumprimento, outras
indemnizações que não sejam as previstas no artigo 1594º, mesmo quando
resultantes de cláusula penal» (art. 1591º).
 Efeitos: se algum dos contraentes romper a promessa sem justo motivo ou,
por culpa sua, der lugar a que o outro se retrate, deve indemnizar o esposado
inocente, bem como os pais deste ou terceiros que tenham agido em nome dos
pais, quer das despesas feitas, quer das obrigações contraídas na previsão do
casamento (1594º).
 Incapacidade ou retratação de algum dos promitentes: cada um deles é
obrigado a restituir os donativos que o outro ou terceiro lhe tenha feito em
virtude da promessa e na expetativa do casamento (1592º e 1593º).
 Morte de algum dos promitentes: o promitente sobrevivo pode conservar os
donativos do falecido, mas nesse caso perderá o direito de exigir os que, por
sua parte, lhe tenha feito; contudo relativamente à correspondência e aos
retratos pessoais o promitente sobrevivo pode reter o que tenha recebido e
exigir a restituição do que tenha dado – fica com tudo (1593º).
 Restituição dos donativos/indemnização: caduca no prazo de um ano
contado da data do rompimento da promessa ou da morte do promitente
(1595º).

Casamento Civil
Consentimento

 É o consentimento dos nubentes que faz o casamento e não a coabitação, a qual não
sendo suficiente para constituir a relação conjugal, também não é necessária para que
se produzam os respetivos efeitos – princípio da vontade
 O casamento é um contrato verbal, mas solene em que o consentimento dos nubentes
se exprime em palavras [e a lei diz quais as palavras que eles devem dizer] que devem
dizer na cerimónia de celebração.
 Se um dos nubentes for mudo, surdo-mudo ou não souber falar a língua
portuguesa deve ser nomeado um intérprete idóneo (art. 41º nº1 e 42º
CRegCiv.

Carácter pessoal do consentimento

 Princípio geral – o consentimento deve ser expresso pelos próprios nubentes,


pessoalmente no ato da celebração (1619º)
 Exceção: casamento por procuração (1620º CCivil e 43º e 44º CRegCiv)
 A procuração deve ser outorgada por documento assinado pelo representado, com
reconhecimento presencial da assinatura, por documento autenticado ou por
instrumento público
 Só um dos nubentes pode fazer-se representar por procurador
 A procuração deve conferir poderes especiais para o ato, individualizar a pessoa do
outro nubente e indicar a modalidade do casamento.
 Art. 1628º-d): o casamento celebrado depois de terem cessado os efeitos da
procuração ou quando esta não tenha sido outorgada por quem nela figura como
constituinte, considera-se juridicamente inexistente.
 Art. 1621º nº1: cessam todos os efeitos da procuração pela revogação dela, pela morte
do constituinte ou do procurador ou pelo acompanhante de qualquer deles, quando a
sentença que haja decretado o acompanhamento assim o determine.
 Art. 1620º nº2: a vontade do constituinte não pode ser uma vontade incompleta,
lacunosa e que o procurador integrará.

 O consentimento deve ser puro e simples – não podem ser apostos ao casamento uma
condição ou termo (1618º nº2).

Perfeição do consentimento

 Divergência entre a vontade e a declaração e suas formas (1635º)


 No consentimento perfeito existe concordância entre a vontade e a
declaração, mas por vezes, ou consciente ou inconscientemente, pode ocorrer
que a vontade manifestada ou declarada seja diferente da vontade efetiva ou
real – consentimento imperfeito.
 1635º - enumera quatro hipóteses em que o casamento pode ser anulado por
“falta de vontade”, devendo tomar-se atenção ao art. 1627º em que o
casamento só é anulável com fundamento na mencionada divergência em
casos que se reconduzam a alguma dessas hipóteses típicas.

 Casamento simulado (1635º-d))


 Simulam-se casamentos com várias finalidades: a) adquirir nacionalidade
estrangeira; b) obter autorização de residência ou de trabalho num país
estrangeiro; c) adquirir uma situação vantajosa decorrente do estado do
cônjuge; d) contornar uma disposição legal.
 Lei nº 26/2018, de 5/07: proíbe o casamento para estas finalidades [art. 108º
nº1 e 2, 186º].
 Contudo, o casamento é válido, quando mesmo com estes motivos, os
nubentes tem disposição de fazer e fazem realmente vida em comum.
 O casamento simulado é anulável, e pode ser requerida pelos próprios
cônjuges e quaisquer pessoas prejudicadas com o casamento (1640º nº1),
dentro dos 3 anos subsequentes ou, se o casamento era ignorado do
requerente, nos 6 meses seguintes à data em que dele teve conhecimento
(1644º).
o Os cônjuges não poderão provar o acordo simulatório através de
testemunhas ou por presunções (394º, 351º)
o A anulação do casamento simulado não poderá ser oposta aos
terceiros que acreditaram, de boa fé, na validade do casamento.
 Simulação relativa ou parcial: os cônjuges querem casas, mas desfiguram ou
descaracterizam o casamento. O casamento católico é nulo, mas o casamento
civil continua válido.

 Erro na declaração
 Se falta ao declarante a própria vontade da ação ou até a vontade da
declaração, o casamento é anulável (1635º-a) que constitui desvio da regra do
246º)
 O casamento é anulável por falta de vontade quando:
o Ao nubente, no momento da declaração, não tinha a consciência do
ato que praticava, por incapacidade acidental ou outra causa;
o O nubente estava em erro acerca da identidade física do outro
contraente
 A anulação só pode ser requerida pelo cônjuge cuja vontade faltou (1640º
nº2), dentro dos 3 anos subsequentes ou, se o casamento era ignorado do
requerente, nos 6 meses seguintes à data em que dele teve conhecimento
(1644º), mas podem prosseguir nela os seus parentes, afins na linha reta,
herdeiros ou adotantes, se o autor falecer na pendência da causa.

Liberdade do consentimento

 Vícios do consentimento
 Para que o consentimento seja verdadeiramente livre é preciso que a vontade
dos nubentes tenha sido esclarecida e formada sem pressões ou ameaças
exteriores (1634º)
 1627º: é válido o casamento civil relativamente ao qual não se verifique
alguma das causas de inexistência jurídica, ou de anulabilidade especificadas
na lei – só são relevantes em matéria de casamento o erro ou a coação.

 Erro (1636º)
 O erro que vicia a vontade só é relevante para efeitos de anulação quando
recaia sobre qualidades essenciais da pessoa do outro cônjuge, seja
desculpável e se mostre que sem ele, razoavelmente, o casamento não teria
sido celebrado
 Pressupostos para a relevância do erro no casamento:
 É necessário que o erro recaia sobre a qualidade essencial da pessoa
do outro cônjuge [qualidades particularmente significativas que sejam
idóneas para determinar o consentimento] – ex: estado civil ou
religioso do outro, nacionalidade, prática de crime infamante, vida e
costumes desonrosos, impotência…
 O erro deve ser próprio [não deve recair sobre qualquer requisito legal
de existência ou de validade do casamento] – ex: assim, se um dos
cônjuges suponha erradamente que o outro era divorciado quando
ainda era casado, o erro será impróprio. O casamento será anulável,
não propriamente por erro, mas sim, e independentemente do erro,
por falta do requisito legal a que o erro diz respeito.
 O erro deve ser desculpável (1636º)
 O erro há de versar sobre uma circunstância que tenha sido decisiva
ou determinante na formação da vontade de contrair casamento [se o
erro não existisse e o sujeito tivesse um conhecimento exato dessa
circunstância, não teria querido celebrar o casamento].

 Coação (1638º nº1)


 A coação deve ser essencial ou determinante da vontade
 A cominação deve ser injusta e ilícita
 Há de haver intenção de extorquir a declaração
 Tem de ser grave o mal cominado
 O receio da sua consumação deve ser justificado

 Anulabilidade por erro ou coação (1631º-b))


 A ação de anulação só pode ser intentada pelo cônjuge enganado ou coato
dentro dos seis meses subsequentes à cessação do vício (1645º), mas podem
prosseguir nela os seus parentes, afins na linha reta, herdeiros ou adotantes,
se o autor falecer na pendencia da causa (1641º).
 É sanável mediante confirmação (288º)
 A confirmação pode ser expressa ou tácita (288º nº3)
 É possível a convalidação objetiva do casamento, resultante de a anulação não
ter sido pedido no prazo do 1645º

Capacidade – Impedimentos matrimoniais


 Circunstâncias que, de qualquer modo, impedem a celebração do casamento
 Circunstâncias perante as quais, uma vez verificadas, o casamento não pode celebrar-
se sob pena de anulabilidade do ato ou de sanções de outra natureza
 Não são propriamente incapacidades, mas são as causas que originam incapacidades
matrimoniais e as outras proibições legais de concluir matrimónio.
 A apreciação dos impedimentos matrimoniais reporta-se ao momento da celebração
do casamento.

Impedimentos dispensáveis – admitem dispensa (1609º)


Impedimentos indispensáveis – não admitem dispensa
Impedimentos de direito civil
Impedimentos de direito canónico – no sistema matrimonial português os impedimentos ao
casamento são também impedimentos ao casamento católico (1596º)
Impedimentos absolutos – são verdadeiras incapacidades, filiam-se numa qualidade ou
deficiência da pessoa e impedem-na de casa seja com quem for
 Impedimentos absolutos (1601º)
 Impedimentos relativos (1602º)
Impedimentos relativos – são ilegitimidades que se fundam numa relação da pessoa de que se
trata com outra ou outras e só lhe proíbem o casamento com essa ou essas pessoas
 Impedimentos absolutos ou relativos (1604º).
Impedimentos dirimentes (1601º e 1602º) – o casamento contraído com algum impedimento
dirimente é anulável (1631º-a)).

 Falta de idade nupcial (1601º-a))


 Legitimidade: cônjuges ou qualquer parente deles na linha reta ou até ao 4º
grau da linha colateral, bem como os herdeiros e adotantes dos cônjuges e o
MP, e ainda o tutor do menor (1631º e 1643º)
 Prazo: quando é o menor a propor, tem até 6 meses depois de atingir a
maioridade, se forem outras pessoas a propor, têm 3 anos subsequentes à
celebração do casamento, mas nunca depois da maioridade (1643º nº1-a)).
 Casamento convalidado: antes de transitar em julgado, o menor confirmar o
casamento perante o funcionário do registo civil e duas testemunhas [depois
dos 18] (1633º nº1-a)).

 Demência notória e decisão de acompanhamento (1601-b))


 Casos em que a condição psíquica [o direito considera que a demência é
qualquer anomalia que impeça o individuo de reger convenientemente a sua
pessoa e os seus bens] da pessoa impede a plena comunhão de vida.

 Vínculo matrimonial anterior não dissolvido (1601-c))


 Este impedimento evita a bigamia, assegurando proteção, no plano civil, ao
bem da unidade matrimonial
 Morte presumida (115º e 116º): não dissolve o casamento, mas decorrido um
ano sobre a data das últimas notícias, o cônjuge pode pedir o divórcio com
fundamento no art. 1781º-c).
 Legitimidade: pode propor a ação os cônjuges ou qualquer parente deles na
linha reta ou até ao 4º grau da linha colateral, herdeiros ou adotantes e MP,
bem como o 1º cônjuge do bígamo (1639º nº1 e 2)
 Prazo: 6 meses após a dissolução do casamento (1643º nº1-c))

 Parentesco e afinidade
 Vínculos familiares que constituem impedimentos dirimentes: parentesco na
linha reta, 2º grau da linha colateral, afinidade na linha reta (1602º-a),b),c))
 Este impedimento também vale para a adoção dado o princípio expresso no
art. 1986º.
 Vale também, mesmo que a maternidade ou paternidade não se encontre
estabelecida (1603º)
 Visa-se proteger o valor da proibição do incesto
 O casamento celebrado com impedimento de parentesco é anulável (1631º-a))
 Legitimidade: cônjuges ou quaisquer parentes deles na linha reta ou até ao 4º
grau da linha colateral, herdeiros e adotantes dos cônjuges ou MP (1639º nº1)
 Prazo: 6 meses após a dissolução do casamento (1643º nº1-c))
 Lei nº 61/2008, de 31/10 (“lei do divórcio”): a afinidade cessa com a
dissolução por divórcio, do casamento que lhe dá origem (1585º), e deste
modo cessa também o impedimento.
 Relação anterior de responsabilidades parentais (1602-b))
 Lei nº 137/2015, de 7/09: o cônjuge de um pai ou mãe, ou unido de fato com
estes que, nos termos daquela lei, tenha assumido responsabilidades parentais
relativamente ao filho desse pai ou mãe, fica impedido de vir a casar com esse
filho.
 O casamento é anulável (1631º-a))
 Legitimidade: cônjuges ou quaisquer parentes deles na linha reta ou até ao 4º
grau da linha colateral, herdeiros ou adotantes e MP (1639º nº1)
 Prazo: 6 meses após a dissolução do casamento (1643º nº1-c))

 Condenação por homicídio (1602º-d))


 Sanção imposta ao autor ou cúmplice do homicídio embora não consumado,
homicídio que a lei suspeita tenha sido cometido com intenção de permitir o
casamento do agente com o cônjuge da vítima.
 A condenação por homicídio negligente não constitui impedimento
 Este impedimento só existe a partir da data do trânsito em julgado do
respetivo acórdão condenatório.
 Legitimidade: cônjuges ou quaisquer parentes deles na linha reta ou até ao 4º
grau da linha colateral, herdeiros ou adotantes e MP (1639º nº1)
 Prazo: 3 anos subsequentes à celebração do casamento (1643º nº1-b))

Impedimentos simplesmente impedientes (1604º) – o casamento contraído com algum


impedimento impediente não é anulável, mas está sujeito a outro tipo de sanções. Estes
impedimentos não originam incapacidades, mas sim proibições legais de contrair casamento.

 Falta de autorização dos pais ou do tutor para casamento de menores (1604º-a))


 O menor pode pedir o suprimento da autorização para casamento que lhe seja
negada pelos pais.
 Se o menor contrair casamento sem autorização, não fica plenamente
emancipado; segundo o 1649º [com remissão para o 133º], continua a ser
considerado menor quanto à administração de bens que tenha levado para o
casal ou que lhe advenham por título gratuito até à maioridade – esses bens
não são confiados à administração do outro cônjuge (1678º nº2-f))

 Parentesco no 3º grau da linha colateral (1604-c))


 Este impedimento é dispensável (1609º nº1-a))
 Sanção: se não houver dispensa e o casamento se celebrar, o tio ou tia não
poderá receber qualquer benefício por doação ou testamento do seu consorte
(1650º nº2).

 Tutela, acompanhamento de maior e administração legal de bens (1604º-d) e 1608º)


 Extensão do impedimento: abrange não só tutor […] mas também seus
parentes ou afins na linha reta, irmãos, cunhados ou sobrinhos (1608º)
 A lei quer evitar que se exima, através do casamento, o cumprimento da
obrigação de prestar contas; receia também que o consentimento não seja
totalmente livre (por parte do incapaz).
 O impedimento é dispensável desde que estejam aprovadas as contas (1609º
nº1-b))
 Sanção: o tutor […] torna-se incapaz para receber qualquer benefício por
doação ou testamento do consorte (1650º nº2).

 Vínculo de apadrinhamento civil


 Lei nº 103/2009, de 11/09: criou a figura do apadrinhamento civil (art. 22º)
 Não é extensivo aos outros familiares deles
 O impedimento é dispensável sempre que haja motivos sérios que justifiquem
a celebração do casamento
 Sanção: o padrinho ou madrinha torna-se incapaz de receber qualquer
benefício por doação ou testamento, do seu ex-afilhado, agora cônjuge (1650º
nº2 com remissão para o 22º nº3 LApCiv).

 Pronúncia por homicídio (1604º-f))


 Este impedimento conta a partir da data da pronúncia do nubente pelo
respetivo crime, que se manterá enquanto não houver absolvição por decisão
julgada.

Formalidades do casamento
1. Processo preliminar de casamento

 Aqueles que pretendem contrair casamento devem fazer a declaração para casamento
pessoalmente ou por intermédio de procurador
 Onde: qualquer conservatória do Registo Civil (134º CRegCiv)
 Finalidade da declaração: instauração do processo de casamento (135º
CRegCiv)
 Legitimidade: nubentes e procuradores
 Forma da declaração: art. 136º CRegCiv
 Despacho final (144º CRegCiv): no prazo de 1 ano a contar da última
diligência, o conservador deve lavrar despacho a autorizar os nubentes a
celebrar o casamento ou a mandar arquivar o processo
 No despacho devem ser identificados os nubentes, feita referência à
existência ou inexistência de impedimentos ao casamento e apreciada
a capacidade matrimonial dos nubentes
 O despacho desfavorável à celebração do casamento é notificado aos
nubentes, pessoalmente ou por carta registada, que podem dele
recorrer nos 8 dias seguintes à data da notificação (292º CRegCiv)

2. Incidentes do processo

 O processo preliminar do casamento termina com o despacho previsto no 144º


CRegCiv, mas há necessidade de considerar algumas hipóteses particulares que podem
verificar-se [incidentes do processo].
 Certificado para casamento (146º CRegCiv): se os nubentes, na declaração
inicial ou posteriormente, houverem manifestado a intenção de celebrar
casamento católico ou civil sob a forma religiosa, é passado pelo conservador,
dentro do prazo de um dia, um certificado no qual se declara que os nubentes
podem contrair casamento.
 Dispensa dos impedimentos dirimentes

− O processo é instaurado e instruído na conservatória (253º nº1)


− Na petição, os interessados justificam os motivos da pretensão (253º nº2)
− O conservador profere decisão fundamentada sobre concessão ou denegação
da dispensa, uma vez organizado e instruído o processo (254º nº1)
− Se um dos nubentes for menor, são, sempre que possível, ouvidos os pais ou o
tutor (254º nº2)
− A decisão é notificada aos interessados (254º nº4)
− Cabe recurso para o juiz da comarca (254º nº4)

 Demência dos impedimentos: qualquer pessoa pode declarar a existência de


impedimentos, até à data da celebração do casamento (1611º nº1 CCivil, 142º
nº1 CRegCiv). O processo é suspenso até que o impedimento cesse, seja
dispensado ou julgado improcedente por decisão judicial com trânsito em
julgado (1611º nº3 CCivil, 142º nº2 CRegCiv)

3. Celebração de casamento

 Se o despacho final for favorável, o casamento deverá celebrar-se dentro dos 6 meses
seguintes (1614º CCivil, 145º nº1 CRegCiv)
 No ato de celebração devem estar presentes:
 Ambos os nubentes; ou
 Um deles e o procurador do outro; e
 O conservador
 É ainda obrigatória a presença de duas testemunhas quando a identidade de
qualquer dos nubentes ou do procurador não possa ser verificada por uma das
formas previstas no 154º nº3-a),b),c) CRegCiv
 A cerimónia da celebração, que é pública está regulada no 155º CRegCiv, e está sujeita
segundo a vontade dos nubentes:
 À forma fixada neste código e nas leis do registo civil (155º)
 À forma religiosa nos termos da legislação especial

4. Registo do casamento

 Única prova legalmente admitida dos mencionados atos ou fatos que, salvo disposição
legal, não podem ser invocados quer pelas pessoas a quem respeitem os seus
herdeiros, quer por terceiros, enquanto não for lavrado o respetivo regime (1669º
CCivil, 2º CRegCiv)
 O registo faz prova plena de todos os fatos nele contidos (371º CCivil e 3º CRegCiv)
 Modalidades do registo: o registo civil dos fatos a ele sujeitos é lavrado por meio do
assento ou de averbamento, podendo os assentos, por sua vez, ser lavrados por
inscrição ou por transcrição (51º-53º CRegCiv); o registo pode ainda ser efetuado por
menção no assento de outro ato [convenção antenupcial] – 190º nº1.
 Os fatos sujeitos a registo, só podem provar-se pelo acesso à base de dados do
registo civil ou por meio de certidão (221º nº1 CRegCiv).
 O registo pode ainda ser lavrado por inscrição (52º-e)) ou por transcrição (53º
nº1-c),d) e e)), havendo ainda a considerar o caso previsto no 179º, de
casamento católico celebrado entre cônjuges já vinculados entre si por
casamento civil anterior não dissolvido, que é averbado ao assento deste.
 Casamento civil: o registo é lavrado por inscrição em suporte
informático (14º)
 Princípio da retroatividade (1670º nº1 CCivil, 188º nº1 CRegCiv): os
efeitos do casamento não se produzem só ex nunc, desde a data do
registo, mas ex tunc, desde a data da celebração do ato. Efetuando o
registo e ainda que este venha a perder-se, os efeitos civis do
casamento se retrotraem à data da sua celebração [ficam ressalvados
os direitos de terceiro quem sejam compatíveis com os direitos e
deveres da natureza pessoal dos cônjuges e dos filhos, desde que se
trate de registo por transcrição]
 O registo não é constitutivo.

5. casamentos urgentes

 Quando haja fundado receio de morte próxima de algum dos nubentes, ainda que
derivada de circunstâncias, ou iminência de parto, o casamento pode celebrar-se
independentemente de processo preliminar e sem intervenção do funcionário do
registo civil (1622º nº1 CCivil e 156º CRegCiv).
 As formalidades preliminares reduzem-se à proclamação (156º-a)) oral ou escrita, feita
à porta da casa onde se encontrem os nubentes, pelo funcionário do registo civil, ou
na sua falta, por qualquer das pessoas presentes, de que vai celebrar-se o casamento
(156º-b) – exige uma declaração expressa do consentimento de cada um dos nubentes
perante 4 testemunhas, 2 das quais não podem ser parentes sucessíveis dos nubentes)
 Registo (156º-c)): ata do casamento por documento escrito e sem formalidades
especiais, assinado por todos os intervenientes que saibam e possam fazê-lo.
 Se houver já processo preliminar de casamento organizado o despacho final do
conservador é proferido no prazo de 3 dias a contar da data da ata ou da última
diligência do processo; caso contrário, o conservador organiza oficiosamente com base
na ata, o processo preliminar de casamento nos termos do art. 134º e ss. (159º nº1).
 Fica sujeito a homologação do conservador que deve fixar expressamente todos os
elementos que devam constar do assento (159º nº5) – o casamento urgente não
homologado é juridicamente inexistente (1628º-b) CCivil).
 O despacho de homologação deve fixar os elementos que o assento deve
conter e deve ser lavrado no prazo de 2 dias a contar da data em que o
despacho de homologação tenha sido proferido e deve conter a referência à
natureza urgente do casamento, omitindo-se as circunstâncias particulares da
celebração (182º CRegCiv)
 Os casamentos urgentes celebrados sem precedência do processo preliminar
consideram-se sempre contraídos em regime de separação de bens (1720º
nº1-a)).

6. Casamentos de portugueses no estrangeiro e de estrangeiros em Portugal

 O casamento contraído no estrangeiro entre dois portugueses ou entre português e


estrangeiro pode ser celebrado por três formas (161º):
 Perante ministros do culto católico
 Perante os nossos agentes diplomáticos ou consulares no estrangeiro, pela
forma estabelecida na lei civil
 Perante autoridades locais competentes, pela forma prevista na lei do lugar
da celebração

Em qualquer um dos casos, o casamento deve ser precedido do processo respetivo, organizado
nos termos do 134º e ss pelos agentes diplomáticos ou consulares portugueses ou por
qualquer conservatória do registo civil, exceto se dele estiver dispensado por lei (162º)

 Casamento de estrangeiro em Portugal (165º e 166º CRegCiv): o casamento pode ser


celebrado segundo a forma e nos termos previsto na lei nacional de qualquer dos
nubentes, perante os respetivos agentes diplomáticos ou consulares, desde que igual
competência seja reconhecida pela mesma lei aos agentes diplomáticos e consulares
portugueses (51º nº1 CCivil e 165º CRegCiv) ou por qualquer das formas previstas no
CRegCiv.
 O nubente deve instruir o processo preliminar com certificado de capacidade
matrimonial, passado pela entidade competente do país de que seja nacional
ou verificado o condicionalismo do 166ºnº2.

7. Casamentos civis sob forma religiosa (Lei da Liberdade Religiosa)

 Processo preliminar de casamento


 Declaração para instauração do processo [prestada por ministro de culto]
 Comprovação da qualidade e da credenciação do ministro do culto pelo
conservador, da radiação da Igreja ou comunidade religiosa
 Diligências pelo conservador para assegurar que os nubentes têm
conhecimento dos art. 1577º, 1600º, 1671º, 1672º CCivil
 Despacho a autorizar a celebração do casamento (ou arquivamento)
 Certificado para casamento

 Celebração do casamento
 Indispensável presença de nubentes [ou um + procurador], do ministro de
culto credenciado e de 2 testemunhas (19º nº4 Lei Liberdade Religiosa)
 Registo
 Assento lavrado em duplicado no livro ou arquivo eletrónico da Igreja (187º-A
nº1 CRegCiv)
 Transcrição (187º-B e C CRegCiv)
 Comunicação ao ministro do culto

Invalidade do casamento
 No direito matrimonial não se distingue, como na Parte Geral do Direito Civil, entre
nulidade e anulabilidade – não há casamentos nulos, só anuláveis.
 As referências ao casamento “declarado nulo” ou à “declaração de nulidade” do
casamento visam, porém exclusivamente o casamento católico. Este é que pode ser
nulo e declarado nulo; o casamento civil se for anulável pode ser anulado.

Inexistência do casamento (1628º)

 Casamentos celebrados perante quem não tinha competência funcional para o ato
(1628º-a), b))
 Casamentos em que faltou a declaração de vontade dos nubentes ou de um deles
(1628º-c), d))
 Não é, porém, inexistente, nem sequer anulável, o casamento celebrado perante
funcionário de fato (1629º)

Contudo, embora o casamento celebrado perante funcionário de fato seja válido, é nulo o
respetivo registo, por conter a aposição do nome de quem não tinha competência funcional
para o fazer (87º-c) CRegCiv).

 Regime
 O casamento inexistente não produz efeitos nem mesmo putativos
 Pode ser invocada [a inexistência] a todo o tempo e por qualquer interessado,
independentemente de declaração judicial (1630º).
 Pode ser reconhecida por sentença em ação que não seja especialmente
intentada para esse fim [ao contrário da anulabilidade do casamento – 1632º]
 Se o casamento estiver registado e a inexistência do casamento não resultar
do próprio contexto do registo, o registo do casamento não é inexistente.

Anulabilidade do casamento (1631º)

Princípio pas de nullité sans texte  : princípio de que, ao contrário do que acontece no direito
comum (294º), não há nulidades tácitas, mas só expressas, devendo, portanto, considerar-se
válidos todos os casamentos relativamente aos quais não se verifique alguma das causas de
inexistência ou de anulabilidade especificada na lei
 Casos de anulabilidade (1631º):
 Casamentos contraídos com impedimento dirimente
 Casamentos celebrados com falta de vontade por parte de um ou de ambos os
nubentes
 Casamentos em que tenha havido vício da vontade juridicamente relevante
 Casamentos celebrados sem a presença das testemunhas exigidas por lei

 Regime da anulabilidade
 A anulabilidade não é invocável por qualquer efeito, judicial ou extrajudicial,
enquanto não for reconhecida por sentença em ação especialmente intentada
para esse fim (1632º)
 Legitimidade: a ação de anulação só pode ser proposta por certas pessoas
(1639º-1642º)
 Prazo: a ação de anulação só pode ser proposta dentro de certos prazos
(1643º-1646º)
 Validação do casamento: considerando-se sanada a anulabilidade e válido o
casamento em determinadas hipóteses (1633º)

Não há só um, mas sim vários regimes de anulabilidade

 Interesses dos cônjuges e suas famílias, como no interesse público


 Interesse [apenas] público
 Interesse particular de um dos cônjuges

Casamento putativo (1647º)

 Casamento reputado pelas partes e por terceiros como tendo sido celebrado em
termos não merecedores da censura da lei
 Declarado nulo ou anulado o casamento, os efeitos que este produziu até à data da
declaração de nulidade ou da anulação podem manter-se.
 Embora seja ferido de invalidade, os nubentes ou pelo menos um deles, estava
convencido da sua validade, pois agiu/agiram de boa fé ao celebrá-lo.

 Pressupostos:
 É necessária a existência do casamento [se o casamento é inexistente por se
verificar alguma das situações previstas no 1628º, não tem efeitos putativos]
(1630º nº1)
 É preciso que o casamento tenha sido declarado nulo ou anulado (1647º nº1 e
3) [ a invalidade do casamento não opera ipso iure (1632º) e enquanto não for
reconhecida por sentença em ação especialmente intentada para esse fim, o
casamento produz todos os seus efeitos].
 É necessário que pelo menos um dos cônjuges tenha agido de boa fé (1648º)
– deve existir no momento da celebração do casamento

 Efeitos

Regra: “produz os seus efeitos em relação a estes e a terceiros até ao trânsito em julgado da
respetiva sentença” ou ao “averbamento da decisão” que declarou a nulidade do casamento
católico (1647º nº1 e 3) e não produz novos efeitos.

 Efeitos relativamente aos cônjuges


 Se ambos os cônjuges estavam de boa fé, o casamento produz todos os efeitos
entre eles até à data da declaração de nulidade ou da anulação (1647º nº1)
− Exemplo: Se A, casado com B, faleceu, sendo B herdeiro de A, e depois
o casamente entre A e B é declarado nulo ou anulado, o efeito
sucessório já produzido mantém-se.
 Se só um estava de boa fé, o casamento inválido produz os efeitos que forem
favoráveis, concretamente, ao cônjuge de boa fé (1647º nº2)
− Exemplo: se, A, casado com B, faleceu, e B foi herdeiro de A, o efeito
sucessório mantém-se se B era o cônjuge de boa fé; a convenção
antenupcial terá efeitos se o regime estipulado beneficiar o cônjuge
de boa fé (1716º)
 Se ambos os cônjuges estavam de má fé, o casamento não tem eficácia
putativa em relação a eles.

 Efeitos relativamente aos filhos


 Mesmo que estes tenham contraído o casamento de má fé, a presunção pate
ris est aplica-se aos filhos nascidos do casamento (1827º)

 Efeitos em relação a terceiros


 Se ambos os cônjuges estavam de boa fé, o casamento invalido produz todos
os seus efeitos, também em relação a terceiros, até ao trânsito em julgado da
sentença de anulação do casamento civil ou ao averbamento da decisão do
tribunal eclesiástico que declarou a nulidade do casamento (1647º nº1 e 3)
 Se só um dos cônjuges estava de boa fé, o art. 1647º nº2 faz mais uma
distinção:
− Tratando-se de relações que, estabelecendo-se entre os próprios
cônjuges, vão afetar terceiros nos seus interesses; os respetivos
efeitos produzem-se ou não conforme forem favoráveis ou
desfavoráveis ao cônjuge de boa fé.
− Tratando-se, pelo contrário, de relações que se estabeleçam
diretamente entre cada um dos cônjuges e terceiros, mas que
estejam dependentes do estado pessoal de casado [relação de
afinidade, doação para casamento feito por terceiro a um dos
esposados], não existe produção de efeitos – princípio da invalidade.
 Se ambos os cônjuges estavam de má fé, o casamento não produz efeitos em
relação a eles, e por conseguinte, também não os produz em relação a
terceiros.

Efeitos pessoais do casamento

No âmbito pessoal, os “cônjuges estão reciprocamente vinculados pelos deveres de respeito,


fidelidade, coabitação, cooperação e assistência” (1672º).

Art. 1671º CCivil: os cônjuges encontram-se em plena igualdade jurídica na relação, isto é, o
casamento “baseia-se na igualdade de direitos e deveres”.

 Princípio da igualdade dos cônjuges (1671º nº1 CCivil e 36º e 13º CRP)
 “os cônjuges têm iguais direitos e deveres quanto à capacidade civil e política e
à manutenção e educação dos filhos”

 Princípio da direção conjunta da família (1671º nº2)


 A direção da família cabe a ambos os cônjuges, devendo ter em consideração
tanto o bem comum de todos os membros, como os interesses de cada um
 Se os cônjuges são iguais, a direção da família deve pertencer aos dois e não
exclusivamente a um deles

Seria nulo o contrato em que os cônjuges acordassem em que a direção da família


ficasse a pertencer a um deles, ou até, em que a decisão em todos os atos da vida
conjugal comum caberia a um dos cônjuges.

 O dever de acordar sobre a orientação da vida em comum é assim um dever pessoal


dos cônjuges [repartição dos recursos económicos, planeamento familiar, repartição
de funções ou tarefas, residência da família] – fica de fora a vida pessoal e privada de
cada um
 O casamento não limita os direitos de personalidade dos cônjuges, salvo o direito à
liberdade sexual
 Cada cônjuge guarda intacta a sua liberdade de pensamento e opinião, assim como a
liberdade de os manifestar pelo modo que achar mais adequado.
 Art. 1677º-D: os cônjuges podem exercer qualquer profissão ou atividade sem o
consentimento do outro [contudo tem de harmonizar com o dever de os cônjuges
acordarem sobre a orientação da vida em comum tendo em conta o bem da família –
1671º nº2].

Desacordos sobre a orientação da vida familiar

 Casos de desacordo sobre a fixação ou alteração da residência da família (1673º nº3)


 Casos de desacordo sobre o nome próprio ou os apelidos dos filhos (1875º nº2)
 Casos de desacordo sobre questões de particular importância relativas ao exercício das
responsabilidades parentais (1901º nº2)

Deveres dos cônjuges

 Têm natureza estatuária, durabilidade virtual e são oponíveis erga ommes; obedecem
ao princípio da tipicidade, a sua tutela é reforçada e são também indisponíveis.
 A sua violação permite, em contexto próprio, demonstrar a rutura da vida em comum,
que é fundamento do divórcio.
 Art. 1672º CCivil: imperativo
 Nenhum destes deveres pode ser afastado por convenção das partes
 A lei oferece por vezes a possibilidade das partes os cumprirem de modo
diverso, de acordo com os seus interesses e conveniências
 O conteúdo dos deveres conjugais ou de algum deles, depende do modo
como os cônjuges conformarem a sua relação.

1. Dever de respeito

 Trata-se de um dever residual – só são violações do dever de respeito atos ou


comportamentos que não constituam violações diretas de qualquer dos outros
deveres mencionados no 1672º.
 O adultério ou o abandono da residência da família são faltas de respeito,
mas constituem também violações autónomas dos deveres de fidelidade e de
coabitação respetivamente [não são consideradas violações do dever de
respeito].
 Dever negativo – dever que incumbe a cada um dos cônjuges de não ofender a
integridade física ou moral do outro
 Dever positivo – dever que incumbe a cada um dos cônjuges de falar ao outro, de
mostrar o mínimo interesse pela família que constituiu e de respeitar a personalidade
do outro cônjuge.
 Considera-se violação deste dever, a permanente rudeza no trato por parte de um dos
cônjuges.

2. Dever de fidelidade

 O nosso sistema condena o adultério (1601º-c) CCivil e 247º CPenal); assim este dever
traduz-se na obrigação de lealdade, honestidade e dedicação entre os cônjuges.
 É um dever negativo
 O dever de fidelidade obriga cada um dos cônjuges a não ter relações sexuais
consumados com outra pessoa que não seja o seu cônjuge [elemento objetivo]
 O adultério supõe ainda a intenção ou, pelo menos, a consciência de violar o
dever de fidelidade [elemento subjetivo].

3. Dever de coabitação

 Comunhão de leito: partilha de cama e prática de atos sexuais


 Comunhão de mesa: entreajuda económica
 Comunhão de habitação: escolha da morada da família (1673º nº1)
 A residência da família é o lugar do cumprimento do dever de coabitação, salvo
motivos ponderosos [p.e: exigências da sua vida profissional] em contrário (1673º nº2)
 O acordo sobre a residência da família não pode ser revogado unilateralmente
por qualquer dos cônjuges
 A alteração da residência requer igualmente o acordo do dois
 Na falta de acordo sobre a fixação ou alteração da residência da família,
decidirá o tribunal a requerimento de qualquer dos cônjuges (1673º nº3).

4. Dever de cooperação

 Implica a obrigação de unir esforços em vários aspetos da vida comum de um casal,


quer moral, quer materialmente (1674º).
 O cônjuge que demonstrar absoluto desinteresse pela saúde e educação dos filhos,
não infringe apenas um dever em relação a estes, mas também um dever em relação
ao outro cônjuge, o dever de assumir em conjunto com o outro as responsabilidades
inerentes à vida familiar.

5. Dever de assistência

 Obrigação de prestar alimentos (2004º)


 Necessidades de quem recebe os alimentos e pelas possibilidades de quem o
presta [critério geral – 2004º]
− O credor de alimentos tem direito apenas ao que for necessário para o
seu “sustento, habitação e vestuário” (2003º)
 Só se concretiza havendo separação de fato ou de direito, com a concomitante
necessidade por parte de um dos membros
− Se vivem juntos, o “dever de prestação de alimentos” toma a forma de
“dever de contribuição para os encargos da vida familiar”
 Obrigação de contribuir para os encargos da vida familiar (1675º)
 Incumbe a ambos os cônjuges nos mesmos termos e pode ser cumprido por
qualquer deles de duas formas:
− Pela afetação dos seus recursos àqueles encargos
− Através do trabalho dependido no lar ou na manutenção e educação
dos filhos
 O acordo sobre a repartição de funções ou tarefas é um dos mais importantes
“acordos sobre a orientação da vida em comum” a que os cônjuges estão
obrigados (1671º nº2).

 E se um dos cônjuges contribuir com MAIS?

Art. 1676º nº2: crédito de compensação [quando um cônjuge “renunciou de forma


excessiva à satisfação dos seus interesses em favor da vida em comum, designadamente à
sua vida profissional, com prejuízos patrimoniais importantes”]

 E se um dos cônjuges contribuiu com MENOS do que devia?

O outro cônjuge pode exigir ao faltoso o que for devido, e se este é trabalhador por conta de
outrem e contribui para os encargos da vida do lar com o produto do seu trabalho, aquele
pode exigir que lhe seja diretamente entregue a importância a que tenha direito (1676º nº1).

Direito ao nome

 “cada um dos cônjuges conserva os seus próprios apelidos, mas pode acrescentar
apelidos do outro até ao máximo de dois” (1677º). – faculdade e não imposição.
 Se na ocasião do casamento qualquer dos cônjuges usar da faculdade concedida pelo
1677º, a indicação dos apelidos adotados deve ficar a constar do respetivo assento
(167º nº1-h) CRegCiv), a indicação dos apelidos adotados deve ficar a constar do
respetivo assento.

 E em caso de viuvez?
 O cônjuge que tenha adotado apelidos do outro conserva-os em caso de
viuvez e, se o declarar até à celebração do novo casamento, mesmo depois de
segundas núpcias (1677º-A), não podendo neste caso, acrescentar apelidos do
segundo cônjuge (1677º nº2).
 E em caso de separação de pessoas e bens?
 Decretada a separação, cada um dos cônjuges conserva os apelidos do outro
que porventura tenha adotado (1677º-B nº1). Nada o impede, porém, de
renunciar aos apelidos do outro cônjuge nos termos do 104º nº2-d) CRegCiv.
 E em caso de divórcio?
 Em princípio, cada um dos cônjuges perde os apelidos do outro que tenha
adotado; contudo pode conservá-los se o ex-cônjuge der o seu consentimento,
ou for autorizado a usá-los tendo em atenção os motivos invocados (1677º-B
nº1).
 Se conservar os apelidos e passar a segundas núpcias, não pode acrescentar-
lhes apelidos do novo cônjuge (1677º nº2).
− O pedido de autorização de uso dos apelidos do ex-cônjuge pode ser
deduzido no processo de divorcio, mas também o pode ser em
processo próprio, mesmo depois de o divórcio ter sido decretado
(1677º-B nº3)
− Falecido um dos cônjuges ou decretada a separação de pessoas e
bens ou o divórcio, o cônjuge que preserve apelidos do outro pode ser
privado do direito de os usar quando esse uso lese gravemente os
interesse morais do outro cônjuge ou da sua família (1677º-C nº1).

Direito à nacionalidade
 O estrangeiro casado há mais de 3 anos com nacional português pode adquirir a
nacionalidade portuguesa mediante declaração feita na constância do casamento [art.
3º nº1 LNac (Lei nº 37/81, de 3/10)] – a declaração de nulidade ou a anulação do
casamento não prejudica a nacionalidade adquirida pelo cônjuge que o tenha
contraído de boa fé.
 O português que case com nacional de outro país não perde por esse fato a
nacionalidade portuguesa (8º); exceto se tendo adquirido pelo casamento a
nacionalidade do seu cônjuge, declare que não quer ser português.
 A mulher que tenha perdido a nacionalidade portuguesa por efeito do casamento
poderá readquiri-la (30º).

Efeitos Patrimoniais do Casamento


1. Convenções antenupciais

 Contrato acessório ao casamento, celebrado entre os nubentes e destina-se a fixar o


regime de bens aplicável entre os futuros cônjuges, seja porque pretendem eleger um
outro regime que não o supletivo [comunhão de adquiridos], seja porque pretendem
estipular outras cláusulas que a esse respeito lhe aprouver
 Não podem ser objeto (1699º):
o Regulamentação da sucessão hereditária dos cônjuges ou terceiros [exceção –
1700º-1707º]
o Alteração dos direitos e deveres quer paternais quer conjugais
o Alteração das regras sobre a administração dos bens do casal
o Estipulação da comunicabilidade de bens enumerados no 1733º [se um dos
nubentes já tiver filhos não pode estipular a comunicabilidade, nem o regime
de comunhão geral – 1699º nº2]
 A violação das regras do 1699º implica a nulidade da cláusula (294º), contudo a
convenção não será inválida na sua totalidade, apenas opera a redução da parte
viciada (292º).
 As convenções antenupciais importam a observância de forma especifica – escritura
pública ou declaração prestada perante funcionário do registo civil (1710º CCivil e 189º
nº1 CRegCiv) e o seu registo é condição de eficácia em relação a terceiros (190º e 191º
CRegCiv).
 São livremente revogáveis e/ou modificáveis até ao momento da celebração do
casamento, obedecendo depois ao princípio da imutabilidade
 Caducidade: se passou mais de 1 ano desde a celebração da convenção até ao
casamento, ou se este vier a ser declarado nulo ou anulado (1716º).

2. Regime de bens

 Os esposados têm a possibilidade de aderir integralmente a um dos 3 regimes ou


combiná-los entre si (1698º) dentro das limitações que constam da lei (1698º in fine e
1699º)
 Caso os nubentes não estipulem, em convenção antenupcial, o regime de bens,
vigorará o regime supletivo (1717º, 1721º-1731º) sem olvidar do regime imperativo da
separação de bens consagrado no 1720º [casamentos urgentes e daqueles que
tenham mais de 60 anos].
 Na constância do matrimonio distinguem-se bens próprios e bens comuns
o Bens próprios: aqueles cuja titularidade, mesmo após o casamento, pertence
apenas a um dos cônjuges
o Bens comuns: aqueles cuja titularidade pertence a ambos os cônjuges,
integrando assim a comunhão

 Regime da comunhão de adquiridos [regime supletivo] – existência concomitante de


bens próprios e comuns (1721º-1731º)
 Bens comuns:
− Os adquiridos por qualquer dos cônjuges ou ambos depois do
casamento, a título oneroso
− Produto do trabalho dos cônjuges
− Frutos e benfeitorias dos bens comuns e dos bens próprios (1733º nº2)
− Bens móveis [a não ser que se prove que pertenceram a um dos
cônjuges] (1725º)

 Bens próprios do cônjuge


− Aqueles que tiver ao tempo do casamento
− Aqueles que lhes advierem depois a título gratuito (sucessão ou
doação)
− Aqueles que forem adquiridos em virtude do direito próprio anterior
− Os bens sub-rogados no lugar de bens próprios de um dos cônjuges
por meio de troca direta
− O preço dos bens próprios alienados
− Os bens adquiridos ou as benfeitorias feitas com dinheiro ou valores
próprios de um dos cônjuges, desde que a sua proveniência seja
devidamente mencionada do documento da aquisição, ou documento
equivalente com intervenção de ambos os cônjuges (1723º).

 Regime de comunhão geral (1698º e ss.)


 Não poderá ser convencionado se:
− Se os nubentes tiverem filhos ainda que maiores ou emancipados, a
não ser que sejam filhos em comum (1699º nº2)
− No caso de casamento urgente
− Se um dos nubentes tiver completado 60 anos de idade (1720º nº1)
 A maioria dos bens integra a comunhão, mesmo os que são levados para o
casamento ou adquiridos posteriormente, a título gratuito.
 Excetuam-se:
− Os bens previstos no 1733º, por se tratar de bens de natureza íntima e
estritamente pessoal
− Os bens doados entre cônjuges (1764º nº2 e 1699º nº1-d))
− Aqueles que sejam excluídos validamente, por vontade das partes, em
sede de convenção antenupcial

 Regime de separação de bens (1735º e 1736º)


 Inexistência de património comum, e no máximo existirão bens em
compropriedade, mas nunca bens comuns
 Cada cônjuge conserva a titularidade dos seus bens, presentes e futuros,
podendo dispor deles livremente.
 Apesar do casamento estar submetido ao regime da separação, os bens
móveis presumem-se pertencer, em caso de dúvida, a ambos os cônjuges no
regime de compropriedade (1736º) e não de comunhão.
 Vigora:
− Se este for o regime escolhido, em convenção antenupcial pelos
nubentes (1698º e ss)
− Nos casamentos urgentes e celebrados com quem tenha completado
60 anos de idade [regime imperativo – 1720º nº1-a)]
− No caso de separação judicial de bens (1714º)

3. Administração de bens (1678º-1681º)

 As regras são imperativas, ou seja, nem por acordo dos nubentes se poderão afastar,
nem convencionar de forma diferente (1699º nº1-c))

 Quanto aos bens próprios:


 Regra: “Cada um dos cônjuges tem a administração dos bens próprios” (1678º
nº1)
 Exceções:
− Um dos cônjuges pode administrar os bens móveis do outro desde que
sejam utilizados exclusivamente por si como instrumento de trabalho
(1678º nº2-e))
− Um dos cônjuges pode administrar os bens próprios do outro em caso
de ausência ou impedimento do outro cônjuge (1678º nº2-f))
− Um dos cônjuges pode administrar os bens próprios do outro quando
o outro lhe confira, por mandato revogável, poderes de administração
(1678º nº2-g))

 Quanto aos bens comuns:


 Regra: ambos os cônjuges são os administradores do património comum
(1678º nº3)
 Exceções:
− Proventos que receba do seu trabalho [embora os bens são comuns
por força do regime que vigora no casamento] (1724º-a)e 1734º)
− Os seus direitos de autor
− Os bens comuns levados para o casal
− Os bens que tenham sido doados ou deixados a ambos os cônjuges
com exclusão da administração do outro cônjuge
− Os móveis comuns por ele exclusivamente utilizados como
instrumento de trabalho
− Todos os bens do casal, se o outro cônjuge se encontrar ausente ou
impedido de administrar
− Todos os bens do casal ou parte deles, se o outro cônjuge lhe conferir
por mandato revogável, esse poder
− Todos os bens comuns, se apenas praticar atos de administração
ordinária (1678º nº3)

 Poderes do cônjuge administrador


 Vão além da mera administração (1682º nº2) e abrange poderes de
disposição dos móveis comuns ou próprios do cônjuge administrador.
 Ambos os cônjuges tem o poder de fazer depósitos bancários em seu nome
exclusivo e de os movimentar livremente (1680º).

 Responsabilidade pela administração


 1678º nº2-a) a f): casos em que o cônjuge tem o poder, por força da lei, de
administrar bens que não são seus
 Responsabilidade ampla: se um dos cônjuges entrar na administração dos
bens próprios do outro ou de bens comuns cuja administração lhe não caiba,
sem mandato escrito, havendo oposição, o cônjuge administrador responde
como possuidor de má fé (1681º nº3).

 Responsabilidade do cônjuge administrador


 Se o dano indemnizado for um dano num bem próprio, o crédito será
incomunicável por força da lei (1733º nº1-d) aplicável por maioria de razão a
qualquer outro regime de comunhão
 Se o dano indemnizado for um dano em bem comum, é difícil optar entre duas
possibilidades:
− O crédito integral pertence ao património comum
− O crédito corresponde a metade do dano e pertence ao cônjuge que
se achou prejudicado
 Momento [em que se exige o pagamento]: momento da partilha (1697º)
 A prescrição não começa nem corre entre cônjuges (318º-a))
 Quando a administração seja ruinosa a ponto de o cônjuge não administrador
correr o risco de perder o que é seu, dá-lhe ainda a lei, a faculdade de requerer
a simples separação judicial de bens (1767º)

 Poderes do cônjuge não administrador


 Pode tomar providencias se o outro cônjuge se encontrar impossibilitado de o
fazer, desde que o retardamento das providencias puderem resultar prejuízos
(1679º).
Ilegitimidades conjugais
 Legitimidade: resulta de uma posição, isto é, de um modo de ser para com os outros.
 Ilegitimidade: a interdição de concluir o negócio jurídico inspira-se na tutela dos
interesses alheios, podendo o negócio ser concluído pelo titular dos interesses ou com
o consentimento dele.

Ilegitimidades nos regimes de comunhão

Cada um dos cônjuges não pode, sem o consentimento do outro:

 Alienar bens imóveis próprios ou comuns (1682º-A nº1-a))


 Não vale para os bens móveis (1682º nº2)
 O contrato-promessa de alienação não carece do consentimento de ambos os
cônjuges (410º nº1)
− Este contrato só vincula o cônjuge que o celebra, assim o outro
cônjuge como não se obrigou a anda, nunca estará em falta quanto à
declaração de venda
− Não é possível recorrer a uma execução específica em que o tribunal
se substitua ao cônjuge que não assinou, pois ele não se obrigou a
fazer o contrato prometido.
 NÃO SE APLICA – alienação de imóveis praticados pelo empresário que
constituem o objeto da empresa (ex: venda de andares praticadas pelo
empresário da construção civil)

 Onerar bens imóveis próprios ou comuns através da constituição de direitos reais de


gozo ou de garantia, e ainda dar de arrendamento esses bens ou constituir sobre eles
outros direitos pessoais de gozo (1682º-A nº1-a)).
 A constituição de direitos reais de gozo significa uma limitação pesada do uso e
da fruição que pode ser equivalente à perda do valor do bem.
 O exercício dos direitos do arrendatário provoca uma privação considerável
das faculdades do proprietário.

 Alienar o estabelecimento comercial próprio ou comum (1682º-A nº1-b))

 Onerar ou locar o estabelecimento comercial próprio ou comum (1682º-A nº1-b))


 Aplica-se aqui as restrições que valem para a oneração de imóveis.

 Alienar a casa de morada da família (1682º-A nº2).


 Trata-se de defender a estabilidade da habitação familiar no interesse dos
cônjuges e eventualmente dos filhos no decurso da vida conjugal, ou seja, a lei
protege cada um dos cônjuges contra atos de disposição sobre a casa de
morada de família praticados pelo outro cônjuge que possam pôr em perigo a
estabilidade da habitação familiar.

 Onerar a casa de morada da família através da constituição de direitos reais de gozo


ou de garantia, e ainda a dá de arrendamento ou constituir sobre ela outros direitos
pessoais de gozo (1682º-A nº2).
 Dispor do direito ao arrendamento da casa de morada da família (1682º-B).
 Não é livre o ato individual de resolução ou denúncia, de revogação por mútuo
consentimento, de cessão da posição de arrendatário, de subarrendamento ou
empréstimo.

 Alienar os móveis próprios ou comuns utilizados conjuntamente pelos cônjuges na


vida do lar (1682º nº3-a)
 A lei quer proteger a integridade do recheio (2103º) – conjunto de todos os
bens móveis que se encontram afetados à fruição normal da habitação,
móveis cuja falta se faria sentir por tornarem a habitação diferente do que
costuma ser.
 No contexto de execução por dívidas, deve-se restringir o núcleo de bens
considerados imprescindíveis a qualquer casa (737º nº3 CProcCiv).
 Contudo, aqui, o conjunto de bens protegidos por esta norma estará mais
próximo daquele que se teve em vista para efeitos da atribuição preferencial
(2013º)

 Alienar os móveis próprios ou comuns, utilizados conjuntamente pelos cônjuges como


instrumento comum de trabalho (1682º nº3-a)).

 Alienar os seus bens móveis e os móveis comuns, se não for ele a administrá-los
(1682º nº2 e 3-b)).
 Pressupõe a concessão de poderes de administração a um cônjuge sobre bens
comuns ou sobre bens do outro

 Repudiar heranças ou legados (1683º nº2).


 Como, em regra, as heranças e legados constituem um benefício, o repúdio
por um dos cônjuges significaria uma perda patrimonial equivalente a
qualquer outra perda económica, e como ambos os cônjuges são interessados
quer o bem se integre no património comum (1732º), quer se integre no
património do cônjuge chamado (1722º nº1-b)), pois aqui o outro cônjuge
participará em metade dos frutos dos bens (1728º nº1 e 1733º nº2)
 Qualquer dos cônjuges pode aceitar doações, heranças ou legados sem o
consentimento do outro (1683º nº1).

Ilegitimidades conjugais no regime da separação de bens

Necessita do consentimento do outro cônjuge para:

 Alienar a casa de morada de família


 Onerar a casa de morada de família
 Dispor do direito ao arrendamento da casa de morada de família
 Alienar móveis próprios utilizados conjuntamente na vida do lar
 Alienar móveis próprios utilizados conjuntamente como instrumento comum de
trabalho
 Alienar bens móveis próprios de que não seja administrador
Forma

O consentimento conjugal para a prática dos atos que dele legalmente carecem deve ser
especial para cada um desses atos (1684º nº1).

 Forma exigida para a procuração (1684 nº2), ou seja, forma exigida para o respetivo
negócio ou ato jurídico (262º nº2) – ex: o consentimento para a constituição de
direitos reais sobre imóveis deveria ser prestado em escritura pública.
 A autorização do cônjuge pode ser revogada enquanto o ato para que foi concedida
não tiver começado; contudo se já tiver começado, o cônjuge só a poderá revogar
reparando qualquer prejuízo de terceiro que resulta da revogação (1684 nº2)

Efeito do consentimento

 Quando o cônjuge não tem legitimidade para praticar os atos: validar o ato.
 Quando o cônjuge já tem legitimidade: responsabilizar o cônjuge que o concede
(1690º nº1)
 Suprimento do consentimento (1684º nº3): acontece quando o cônjuge não tem
legitimidade para praticar sozinho, validamente, um ato jurídico que lhe pareça
necessário ou conveniente.
− É admitido no caso de “impossibilidade” e no de “injusta recusa”: cabe ao
autor a prova da recusa ou da impossibilidade, mas também a da vantagem ou
da necessidade da realização do ato.
 1687º nº1: considera anuláveis os atos praticados contra o disposto nos nº1 e 3 do
1682º, no 1682º-A, 1682º-B e 1683º nº2.
− São igualmente anuláveis as alienações de móveis comuns feitas pelo cônjuge
não administrador.
 A anulabilidade é sanável mediante confirmação expressa ou tácita nos termos gerais
(288º)

Legitimidade

 1687º: a anulação pode ser pedida pelo cônjuge que não deu o consentimento ou seus
herdeiros, nos seis meses subsequentes à data em que o requerente teve
conhecimento do ato, mas nunca depois de decorridos três anos sobre a sua
celebração.
 O 1687º nº4 restringe-se aos atos de alienação e de oneração, enquanto o nº1 visa
outros atos considerados ilegítimos como o arrendamento e a constituição de outros
direitos pessoais de gozo.
 Ex: casos em que um dos cônjuges aliena ou onera bens próprios do outro
quando não tem qualquer relação juridicamente tutelada com esse bem
porque não é o dono nem sequer o administrador.
Poderes dos cônjuges relativamente aos bens que integram as várias massas
patrimoniais
A – Poderes de disposição inter vivos

 Quanto a bens imóveis


 Sendo o regime de comunhão: cada um dos cônjuges não pode dispor dos seus
bens próprios nem dos bens comuns sem o consentimento do outro (1682º-A nº1-
a)) sob pena de anulabilidade do ato (1687º nº1); além disso, não pode dispor dos
bens do outro, sendo nula a disposição que faça desses bens (892º e 1687º nº4).

 Sendo o regime de separação: cada um dos cônjuges pode dispor livremente dos
seus bens próprios (1682º-A nº1-a)), mas não pode dispor dos bens do outro sob
pena de nulidade do ato (892º e 1687º nº4).

 Quanto a bens móveis


 Sendo o regime de comunhão: cada um dos cônjuges pode dispor livremente dos
seus próprios bens e dos bens comuns se os administrar, salvo nos casos referidos
no 1682º nº3-a)).
− A alienação que um dos cônjuges faça dos seus móveis próprios ou dos móveis
comuns que não administre, ou dos móveis a que se refere o 1682º nº3-a), é
anulável nos termos do 1687º nº1
− Não pode também cada um dos cônjuges dispor dos bens do outro quer esteja
ou não na administração desses bens, sob pena de anulabilidade ou nulidade
dos atos, respetivamente; a não ser que estando na administração dos bens, o
respetivo ato de disposição seja de administração ordinária (1682º nº3-b)).

 Sendo o regime de separação: cada um dos cônjuges pode dispor livremente dos
seus bens próprios se os administrar, salvo nos casos referidos no 1682º nº3-a)),
mas não pode dispor dos bens do outro sob pena de nulidade do ato (1687º nº4).

B – Poderes de disposição mortis causa

 Cada um dos cônjuges só pode dispor, para depois da morte, dos seus bens próprios e da
sua meação no património comum (1685º)
 Cada cônjuge é livre de fazer disposições por morte, não valendo as “ilegitimidades
conjugais”.
− Em regra, as disposições são feitas durante a vida dos cônjuges, mas por
definição, só pretendem produzir os seus efeitos depois da morte do
disponente; e a morte tem a consequência de dissolver o matrimónio. Assim,
não se justifica a imposição de restrições aos poderes normais de cada cônjuge
proprietário.
− Isto não é verdade relativamente ao destino da casa de morada de família: a
lei protege o cônjuge sobrevivo com o regime das chamadas “atribuições
preferenciais” (2103º-A).
 A liberdade plena que esta norma reconhece só tem o limite geral de que cada cônjuge só
pode dispor do que é seu – o conjunto dos seus bens próprios e a sua metade do
património comum.
 Cada um dos cônjuges não pode saber, antes da partilha, quais os bens concretos que vão
preencher a sua meação no património comum.
 A disposição que tenha por objeto coisa certa e determinada do património comum
apenas se dá ao contemplado o direito de exigir o respetivo valor em dinheiro (1685º nº2).
− Só pode ser exigida a coisa em espécie nos casos do 1685º nº3:
o Se esta, por qualquer título, se tiver tornado propriedade exclusiva do
disponente à data da sua morte;
o Se a disposição tiver sido previamente autorizada pelo outro cônjuge por
forma autêntica ou no próprio testamento;
o Se a disposição tiver sido feita por um dos cônjuges em benefício do outro.

 A disposição pode ser feita durante o casamento, mas também pode ser feita depois da
dissolução, por morte do testador.
 Este regime só tem sentido e eficácia no âmbito da comunhão pós-matrimonial, depois da
dissolução do casamento por morte do testador (1685º nº2).

Responsabilidade por dívidas dos cônjuges


 Regime especial face ao direito comum

 Um dos cônjuges pode obrigar o outro sem a participação deste na assunção da dívida,
na ausência de mandato e independentemente de preenchidos os requisitos da gestão
de negócios
 O património de um dos cônjuges e o património comum são chamados a responder
para além da sua quota de responsabilidade.
 Cada um dos cônjuges tem legitimidade para contrair dívidas sem o consentimento do
outro (1690º nº1), entendendo-se para a determinação da responsabilidade dos
cônjuges (1691º nº2) que a data em que as dívidas foram contraídas é a do fato que
lhes deu origem (1690º nº2)

Lei de Bases da Habitação – impenhorabilidade da casa de morada de família para satisfação


de créditos fiscais ou contributivos (art. 13º nº6-f) Lei nº 83/2019, de 3/09).

1. Dívidas da responsabilidade de ambos os cônjuges (1691º nº1 e 2)


 Dívidas contraídas pelos dois cônjuges ou por um deles com o consentimento do outro
(alínea a)).
− Visam-se aqui quer as dívidas anteriores quer posteriores ao casamento, e
qualquer que seja o regime de bens.
− A lei não faz exigências formais para a validade do casamento, apenas tem de valer
o princípio da liberdade de forma consagrado no 219º, pelo que o consentimento
meramente consensual é válido, podendo também ser tácito (217º).

 Dívidas contraídas por qualquer dos cônjuges para ocorrer aos encargos normais da
vida familiar (alínea b)).
− Trata-se de pequenas dívidas relativamente ao padrão de vida do casal, em geral
correntes ou periódicas que qualquer dos cônjuges tem de ser livre de contrair.
− É aqui que cabem as dívidas de alimentação, vestuário, médico e farmácia.
− Dívidas contraídas por um dos cônjuges no âmbito da parcela de administração
dos bens afetados ao governo do lar que lhe caberá e em proveito comum do
casal.
− União de fato: aplica-se analogicamente o 1691º nº1-b) para proteção da
confiança dos credores na aparência de um casamento [o credor ganharia a
responsabilidade dos dois membros da união de fato.

 Dívidas contraídas na constância do matrimónio pelo cônjuge administrador e nos


limites dos seus poderes de administração, em proveito comum do casal (alínea c)).
− É importante averiguar se o devedor agiu nos limites dos seus poderes de
administração.
− Proveito comum:
 Não se presume exceto nos casos em que a lei o declarar (1691º nº3)
 Afere-se não pelo resultado, mas pela aplicação da dívida, ou seja, pelo fim
visado pelo devedor que a contraiu.
 O interesse comum do casal pode ser só material ou económico, mas também
moral ou intelectual
 Exemplo: será aplicada em proveito comum a dívida que um dos cônjuges
contraia para fazerem os dois uma viagem, para irem a uma festa…
 Não basta a intenção subjetiva do agente – exige-se uma intenção objetiva de
proveito comum, ou seja, é necessário que a dívida se possa considerar
aplicada em proveito comum à luz das regras da experiência e das
probabilidades normais.
− Hoje, apoia-se a posição de que o aval e a fiança prestados por um dos cônjuges
não satisfazem os requisitos da alínea c), sobretudo o requisito do “proveito
comum”.

 Dívidas contraídas por qualquer dos cônjuges no exercício do comércio (alínea d)).
− Visa a tutela do comércio: alarga o âmbito da garantia patrimonial concedida aos
credores daqueles que exercem o comércio, facilitando a estes últimos a obtenção
do crédito.
− O cônjuge do comerciante pode querer afastar a comunicabilidade da dívida: deve
mostrar que a dívida não foi contraída no exercício do comércio do devedor; ou se
vigorar entre os cônjuges o regime de separação de bens [aplica-se a ideia de que
os cônjuges são estranhos um ao outro, do ponto de vista patrimonial].
Por que razão a inexistência de proveito comum, num regime de comunhão, afasta a
responsabilidade do outro cônjuge, mesmo quando os frutos se integram na massa
patrimonial comum? Enquanto a existência de proveito comum, num regime de separação,
não é suficiente para sustentar a responsabilização do segundo cônjuge, porque os frutos são
bens próprios e os patrimónios estão separados?

 O legislador usou dois critérios: nos regimes de comunhão, o critério decisivo foi a
inexistência de proveito comum, enquanto no regime da separação o critério decisivo
foi a natureza de bens próprios dos frutos do estabelecimento, que primou sobre a
existência de proveito comum.

 Dívidas que onerem doações, heranças ou legados quando os respetivos bens tenham
ingressado no património comum (alínea e) e 1693º nº2).
− O ingresso dos bens no património comum resultará, naturalmente, de os
cônjuges terem estipulado o regime de comunhão geral ou uma cláusula de
comunicabilidade de certos bens adquiridos a título gratuito.
− A responsabilidade por estas dívidas é comum ainda que o outro cônjuge não
tenha dado o seu consentimento à aceitação da liberalidade.

 Dívidas contraídas antes do casamento por qualquer dos cônjuges em proveito comum
do casal, vigorando o regime da comunhão geral de bens (1691º nº2).
− Os bens que pertenciam ao devedor e garantiam a dívida integram-se no
património comum, no momento do casamento; o outro cônjuge passa a
participar por metade no valor dos bens que garantiam a dívida, e por esta razão, é
justo que partilhe também a responsabilidade.
− Sendo outro o regime de bens, a dívida será da exclusiva responsabilidade do
cônjuge que a contraiu, não obstante ter sido aplicada em proveito comum do
casal.

 Dívidas que onerem bens comuns (1694º nº1).

 Dívidas que, nos regimes de comunhão, onerarem bens próprios, se tiverem como
causa a perceção dos respetivos rendimentos (1694º nº2 e 1733º nº2).
− Apenas nos casos em que a dívida está relacionada com a perceção dos
rendimentos desses bens é que será de responsabilidade comum, por também
serem comuns, nos regimes de comunhão [os rendimentos] (1733º nº2)

 Bens que respondem pelas dívidas de responsabilidade comum


 Respondem os bens comuns, e na falta ou insuficiência deles, os bens próprios de
qualquer dos cônjuges (1695º nº1)
 Enquanto nos regimes de comunhão, a responsabilidade é solidária; no regime de
separação é parciária (1695º nº2), embora não está excluída a solidariedade
convencional (512º e ss.).
 IMPORTANTE: a parte de cada cônjuge na responsabilidade não é necessariamente de
50%; ao menos quando as dívidas visaram ocorrer aos encargos normais da vida
familiar, a responsabilidade de cada cônjuge deve corresponder à medida do seu
dever de contribuir para os encargos, isto é, na proporção das possibilidades de cada
um (1676º nº1).

2. Dívidas da exclusiva responsabilidade de um dos cônjuges


 Dívidas contraídas por um dos cônjuges sem o consentimento do outro (1692º-a)).
− Visam-se aqui quer as dívidas anteriores quer as posteriores ao casamento.
− No caso de as dívidas terem sido contraídas para ocorrer aos encargos normais da
vida familiar ou pelo cônjuge administrador em proveito comum do casal, as
dívidas são de responsabilidade comum (1691º nº1-b) e c)).

 Dívidas provenientes de crimes ou de outros fatos imputáveis a um dos cônjuges


(1692º-b)).
− Consideram-se não só as dívidas provenientes de crimes, mas também as
indemnizações, restituições, custas judiciais ou multas devidas por fatos
imputáveis a cada um dos cônjuges.
− Caso estes fatos impliquem responsabilidade meramente civil, estão abrangidos
pelo 1691º nº1 e 2º, e assim, o cônjuge do infratos também será responsável pela
dívida.

 Dívidas que oneram bens próprios de qualquer dos cônjuges (1692º-c) e 1694º nº2).
− Se por força do regime de bens do casamento, os rendimentos forem comuns, as
dívidas que tiverem como causa a perceção dos rendimentos são de
responsabilidade comum.

 Dívidas que onerem doações, heranças ou legados, quando os respetivos bens sejam
próprios (1693º nº1).
− A incomunicabilidade da dívida subsiste ainda que a aceitação da doação, herança
ou legado tenha sido efetuada com o consentimento do outro cônjuge [que é
desnecessário] (1683º nº1).

 Bens que respondem pelas dívidas de exclusiva responsabilidade de um dos cônjuges


 Regra geral (1696º nº1): respondem por estas dívidas os bens próprios do cônjuge
devedor e, subsidiariamente, a sua meação nos bens comuns.
 Na falta ou insuficiência de bens próprios do cônjuge devedor, podem ser
imediatamente penhorados bens comuns do casal contanto que o exequente, ao
nomeá-los à penhora, peça a citação do cônjuge do executado para requerer,
querendo, a separação de bens.
 1696º nº2: respondem ao mesmo tempo que os bens próprios do cônjuge devedor:
 Os bens por ele levados para o casal ou posteriormente adquiridos a título
gratuito, bem como os respetivos rendimentos;
 O produto do trabalho e os direitos de autor do cônjuge devedor;
 Os bens sub-rogados no lugar dos referidos na alínea a)
Compensações devidas pelo pagamento de dívidas

 Surge um crédito de compensação a favor do cônjuge que pagou mais do que a sua
parte, sobre o outro cônjuge; crédito que só é exigível no momento da partilha dos bens
do casal (1697º nº1).
 O nº2 regula a hipótese inversa: responderam bens comuns por dívidas da exclusiva
responsabilidade de um dos cônjuges [ex: 1696º nº2]. Neste caso, surge um crédito de
compensação do património comum sobre o património do cônjuge devedor, a tomar em
conta no momento da partilha.

Termo das relações patrimoniais – Partilha


 As relações patrimoniais entre os cônjuges cessam com a dissolução, a declaração de
nulidade ou a anulação do casamento (1688º) ou com a separação de pessoas e bens
(1795º-A).
 Procede-se, nesse momento, à partilha dos bens do casal (1698º).
 Separação de bens próprios;
 Liquidação do património comum, destinada a apurar o valor do ativo comum
líquido, através do cálculo das compensações e da contabilização das dividas a
terceiros e entre cônjuges;
 Partilha propriamente dita.

1. Separação dos bens próprios


 Estes bens pertencem individualmente aos seus titulares e não carecem, em rigor, de
qualquer intervenção.
 Trata-se de uma operação ideal de exclusão para que as restantes operações incidam
apenas sobre o ativo e o passivo comuns.
 Excecionalmente, esta separação ganha uma grande importância quando a
propriedade sobre um bem se torna objeto de litígio.

2. Liquidação do património comum


A. Relacionamento dos bens comuns
 O relacionamento dos bens comuns inclui os bens e os direitos qualificados como
comuns pelas regras do regime de bens que vigorou durante o casamento salvo as
exceções previstas no 1719º e 1790º.

B. Compensações
 Durante o casamento, operam-se transferências de valores entre os patrimónios.
 No momento da partilha pode verificar-se que os movimentos de capital não se
equilibraram espontaneamente e que algum património ficou enriquecido enquanto
outro ficou correlativamente empobrecido.
 As compensações visam restabelecer as forças dos patrimónios, restituir os seus
valores, corrigindo os desequilíbrios da conta-corrente através do reconhecimento de
créditos de compensação em favor de cada património empobrecido.
 Momento de exigibilidade dos créditos?
− Diferimento da exigibilidade para o momento da partilha.

 O regime das compensações é imperativo ou pode ser afastado por acordo dos
nubentes, dos cônjuges, ou por mera renúncia do titular?
− Durante o casamento: o acordo sobre dispensa de compensação significaria que
um dos patrimónios não tinha de restituir aquilo com que se enriquecera;
− Um acordo assim significaria uma alteração concreta do valor dos patrimónios, da
sua composição, em prejuízo de um certo entendimento do princípio da
imutabilidade
− Tendo em conta o 1697º é difícil aceitar que os nubentes convencionaram a
exigibilidade imediata dos créditos de compensação.
− Renúncia: pode admitir-se nos mesmos termos em que se admitem as doações
entre cônjuges – livremente revogáveis e sobre bens próprios.

C. Pagamento de dívidas
 Quanto às dívidas dos cônjuges um ao outro, são pagas em primeiro lugar pela meação
do cônjuge devedor no património comum e, não havendo bens comuns ou sendo
estes insuficientes, pelos bens próprios do cônjuge devedor (1689º nº3).
 Estas dívidas podem nascer:
− Da responsabilidade civil por administração de bens do outro cônjuge
intencionalmente prejudicial (1681º nº1) ou abusiva (1681º nº3);
− Porque o património de um cônjuge pagou dívidas que cabiam a ambos, a lei,
neste caso, reconhece um crédito do cônjuge prejudicado, sobre o outro, pelo
valor que o primeiro pagou além do que lhe competia (1697º nº1).

 Satisfação do passivo relativamente a terceiros (1689º nº2):


− O património comum paga em 1º lugar, as dívidas comuns e só depois as dívidas
próprias
− Os patrimónios próprios pagam indistintamente todas as dívidas, as próprias e as
comuns, se os bens comuns não chegarem para pagar estas últimas, mas os
credores comuns estão sempre em posição mais vantajosa pois beneficiam da
solidariedade legal (1695º nº1).

3. Partilha propriamente dita


 A partilha faz-se em princípio segundo o regime adotado, mas a regra comporta as
exceções dos 1719º e 1790º.
− Art. 1719º: permite aos esposados convencionar, para o caso de dissolução do
casamento por morte de um dos cônjuges quando haja descendentes comuns, que
a partilha dos bens se faça segundo o regime da comunhão geral embora o regime
adotado seja outro.
− Art. 1790º: no caso de divórcio, a partilha faz-se sempre de acordo com o regime
da comunhão de adquiridos.
o Cada cônjuge receberá o que é seu, e receberá metade do património
comum que foi adquirido onerosamente, com o esforço conjunto.
 Se o casamento terminar por morte, a partilha é feita segundo o regime
convencionado pelos cônjuges, respeitando-se o plano inicial tanto quanto eles
próprios conservaram o matrimónio.

 Quando os cônjuges vivam em casa tomada de arrendamento, o 1105º permite-lhes


acordar, obtido o divórcio ou separação de pessoas e bens, em que a posição de
arrendatário fique pertencendo a qualquer deles; e na falta de acordo, permite ao
tribunal decidir, tendo em conta as circunstâncias aí referidas.
 O 1793º prevê o caso de os cônjuges divorciados ou separados de pessoas e bens
viverem em casa própria, permitindo ao tribunal dar de arrendamento a qualquer dos
cônjuges, a seu pedido, a casa de morada de família, quer esta seja comum, quer
próprio do outro cônjuge.

 Atribuições preferenciais (1731º e 2103º-A): antes das negociações entre os cônjuges, a


própria lei reserva certos bens para cada um dos cônjuges, atendendo à especial ligação
que esse cônjuge tem com eles – valorização da relação particular entre um cônjuge e
certos bens, e concede uma garantia contra a fraqueza negocial desse cônjuge.
 Art. 1731º: os instrumentos de trabalho dos cônjuges que, por força do regime de
bens tenham ingressado no património comum , reconhecendo ao cônjuge que
deles necessite para o exercício da sua profissão o direito de ser encabeçado
nesses instrumentos de trabalho no momento da partilha, qualquer que seja a
causa desta.
 Art. 2103º-A: na dissolução do casamento por morte, atribui ao cônjuge sobrevivo
direito a ser encabeçado, no momento da partilha, no direito de habitação da casa
de morada de família e no direito de uso do respetivo recheio, devendo tornas aos
co-herdeiros se o valor recebido exceder o da sua pate sucessória e meação, se a
houver.

 Os cônjuges poderão convencionar outras atribuições preferenciais que


reservem para um cônjuge certos bens com que este criou ligações particulares?
 Por um lado, a convenção não perturba a divisão do valor do património
comum em duas metades, não diminui o valor que cada cônjuge levanta no
momento da partilha, pois a imputação de um bem concreto na meação de
um dos cônjuges não aumento o valor da sua quota relativamente à do outro
cônjuge.
 Por outro lado, a estipulação de atribuições preferenciais durante o casamento
satisfaz interesses legítimos dos cônjuges que poderiam não estar presentes
antes do matrimónio

 Assim, admitimos a estipulação de atribuições preferenciais depois da


dissolução do casamento e antes da partilha.
Contrato-promessa de partilha

O simples contrato-promessa de partilha é válido, independentemente de os cônjuges se


encontrarem em processo de divórcio.

 Ao celebrarem um contrato-promessa de partilha dos bens comuns, os cônjuges nem


alteram as regras que valem acerca da propriedade dos bens, dentro do seu
casamento, nem modificam as normas aplicáveis à comunhão (1714º nº1); e também
não modificam o estatuto de qualquer bem concreto (1714º nº2).

 EXCEÇÃO: se o contrato-promessa servir para projetar uma partilha de tal modo que
um dos cônjuges venha a receber um valor maior do que o outro – nulo por força do
1730º nº1.

Contratos entre cônjuges


 Contrato de sociedade
 O art. 8º nº1 CSC alterou os nº2 e 3 do 1714º CC, no âmbito das sociedades
comerciais e das sociedades civis sob forma comercial
 Relativamente às sociedades civis continua a aplicar-se o 1714º nº2 e 3, pois
não estão subordinadas ao 8º CSC – o nº2 do 1714º estabelece uma clara
proibição da constituição de sociedade entre cônjuges.

 Contrato de compra e venda


 O legislador entendeu que, se as vendas fossem válidas, os cônjuges podiam
fazer um ao outro, sob a aparência de vendas, verdadeiras doações, com as
quais facilmente iludiriam o princípio da livre revogabilidade das doações
entre casados.
 Art. 1714º nº2: evitar que um dos cônjuges abuse da influência ou do
ascendente que exerça sobre o outro cônjuge.
 Esta proibição supõe que:
− O contrato celebrado entre os cônjuges é uma verdadeira venda;
− O vendedor e o comprador são casados no momento da conclusão do
contrato

 EXCEÇÕES: a) casados separados de pessoas e bens; b) venda executiva.

 Contrato de trabalho
 Existe a dúvida de que os cônjuges consigam abandonar a regra da igualdade
própria da condução da vida em comum para laborar no quadro de uma
relação hierárquica, respeitando o típico “poder de direção”.
 Existe alguns problemas relativos a este contrato:
− Como é que o marido-patrão, e futuro pai, cumpre os deveres
relacionados com a maternidade da sua mulher grávida-empregada, que
presta os serviços dentro de casa;
− É o cônjuge-patroa que tem de dar férias pagas ao cônjuge-empregado?
− Tratando-se de uma empresa qualificada como bem comum do casal, o
património comum é responsável pelo pagamento do salário que, reverte
para o mesmo património, a título de rendimento do trabalho do cônjuge
assalariado.

 Contrato de mútuo e de comodato


 O dever recíproco de cuidar, sob a forma de socorro e de auxílio mútuos, deve
puder assumir uma destas concretizações, antes de qualquer dos cônjuges ter
de recorrer a um terceiro.

 Contrato de locação
 Quando o bem locado for próprio, deve ter-se em conta que o produto do
arrendamento ou aluguer é comum, na qualidade de fruto do bem próprio.
 Quando o bem locado é comum, é preciso admitir que ambos os cônjuges
possam dá-lo em locação a um só deles, e que o crédito sobre o locatário seja
cobrado periodicamente pelo património comum.

Doações entre os cônjuges


 Não são admitidas sem reservas em todos os sistemas jurídicos.
− Há o receio de que a doação resulte do ascendente ou influência de um dos
cônjuges sobre o outro
− Interesses de terceiros
 O nosso sistema jurídico permite as doações entre cônjuges, mas consideram-nas
livremente revogáveis, como as disposições testamentárias (1765º).
 Capacidade: o nosso direito contém uma proibição genérica de os cônjuges fazerem
doações um ao outro em todos os casos de regime de bens imperativo (1762º).
 Forma: as doações entre cônjuges regem-se pelos princípios das doações em geral (947º),
com duas especialidades:
− Doação de coisas móveis, mesmo quando acompanhada de tradição, tem de ser
reduzida a escrito (1763º nº1);
− Os cônjuges não podem fazer doações recíprocas no mesmo ato (1673º nº2)
 Exceção (nº3): os pais fazem doação aos filhos de determinados bens comuns,
com a cláusula de reserva do usufruto desses bens até à morte do último
doador.
 As doações entre cônjuges só podem ter por objeto bens presentes e próprios, nos termos
do regime geral das doações (942º nº1 e 1753º nº2).
 Livre revogabilidade (1765º nº1): as doações entre cônjuges podem ser revogadas por
qualquer motivo, que não apenas por ingratidão do donatário (970º).
− Princípio da revogabilidade ad nutum: revogabilidade que não carece de ser
motivada ou fundada.
− A revogação pode acontecer a todo o tempo, mesmo após a morte do donatário,
quando os bens doados já pertencem aos herdeiros deste
 IMPORTANTE: os herdeiros do doador não tem a faculdade de revogar a
doação (1765º nº2).
 As doações entre cônjuges produzem imediatamente os seus efeitos, mas estes ficam
dependentes de uma condição resolutiva legal [revogação pelo doador], cuja verificação
opera retroativamente.
 Após a revogação, os bens doados revertem para o doador livres de quaisquer encargos
que o donatário tenha constituído sobre eles.
 Caducidade:
− Quando o donatário falecer antes do doador, salvo se este confirmar a doação nos
3 meses subsequentes à morte do donatário (1766º nº1-a));
− No caso de declaração de nulidade ou anulação do casamento (alínea b), sem
prejuízo dos princípios do casamento putativo (1647º).
 A doação não caduca havendo boa fé de ambos os cônjuges, pois os efeitos
que já produziu mantêm-se em atenção a essa boa fé
 Quando apenas um dos cônjuges está de boa fé, a doação também não caduca
quando feita pelo cônjuge de má fé a favor do outro cônjuge.

Doações para o casamento

 Caducidade:
− se o casamento não for celebrado dentro de um ano, ou se, tendo-o sido, vier a ser
declarado nulo ou anulado, salvo o disposto em matéria de casamento putativo;
− se ocorrer divórcio ou separação judicial de pessoas e bens por culpa do donatário, se
este for considerado único ou principal culpado (1791º)
 o autor da liberalidade pode determinar que o benefício reverta para os filhos do
casamento.
Modificação da relação matrimonial
 Simples separação de pessoas [separação de fato]
 Entende-se que há separação de fato, quando não existe comunhão de vida entre os
cônjuges há mais de 1 ano e há da parte de ambos, ou de um deles, o propósito de não
a restabelecer (1781º)
 Simples separação judicial de bens
 Qualquer dos cônjuges pode requerer a simples separação judicial de bens quando
estiver em perigo de perder o que é seu pela má administração do outro cônjuge
(1767º)
 Separação judicial de pessoas e bens

O direito português apenas admite a simples separação judicial de bens e a separação de


pessoas e bens.

Simples separação judicial de bens

 Separação restrita aos bens, que deixa imperturbados os efeitos pessoais do casamento;
não se modificando a relação matrimonial (1767º-1772º)
 Só pode ser decretada em ação intentada por um dos cônjuges contra o outro (1768º);
revestindo, assim, carácter judicial, no que se distingue do divórcio e da separação de
pessoas e bens [mútuo consentimento], pois estes quase sempre são decretados pelo
conservador do registo civil.
 Ação executiva: pretende-se, obter, através do tribunal, um efeito jurídico novo que
vai alterar a esfera jurídica do réu, independentemente da sua vontade.
 Pressupostos:
 O cônjuge está em perigo de perder o que é seu: não basta um ou outro ato isolado de
má administração, mas sim uma gestão sistematicamente mal conduzida, e que, com
grande possibilidade, vá causar o prejuízo que se receia;
 O requerente está em perigo de perder o que é seu: refere-se aos bens próprios do
requerente de que o outro cônjuge tenha a administração exclusiva (1678º nº2);
 O perigo resulta da má administração do outro cônjuge: a má administração pode
consistir na prática reiterada de atos que diminuam os bens próprios do outro cônjuge,
ou os bens comuns.
 Efeitos:
 Após o trânsito em julgado da sentença que decretar a separação judicial de bens, o
regime matrimonial passa a ser o da separação, procedendo-se à partilha do
património comum como se o casamento tivesse sido dissolvido (1770º)
 Já não existem os desvios admitidos por lei do 1678º nº2.
 IRREVOGÁVEIS: não é permitido restabelecer o regime de comunhão anterior à
separação judicial de bens, nem por convenção nem por nova decisão judicial (1771º)
Separação judicial de pessoas e bens

 A separação não afeta simplesmente os bens, mas as próprias pessoas dos cônjuges,
sendo, por isso, muito mais extensa. Contudo, os cônjuges continuam casados, ou seja,
nenhum deles pode contrair novo casamento, sob pena de bigamia.
 Subsistem depois da separação, o dever de fidelidade conjugal, os deveres de cooperação
e respeito reforçado (1795º-A), e ainda o dever de cuidar sob a forma de prestação de
alimentos.
 A separação de pessoas e bens e o divórcio justificam a extinção da relação matrimonial ou
a sua modificação no sentido de um relaxamento do vínculo, podendo o cônjuge optar por
um dos dois livremente, contudo a nossa lei mostra, nitidamente, uma preferência em
relação ao divórcio.

Regime do divórcio aplicável à separação (1794º)

 Separação por mútuo consentimento: requerida pelos cônjuges de comum acordo


 Judicial, decretado no tribunal
 Administrativo, decretado pela conservatória do registo civil
 O regime aplicável a esta modalidade de separação, administrativa ou judicial, é o
mesmo do divórcio por mútuo consentimento.

 Separação sem consentimento de um dos cônjuges: pedida por um contra o outro, e


fundada numa causa
 As causas da separação sem consentimento de um dos cônjuges são as mesmas do
divórcio sem consentimento de um dos cônjuges (1714º com remissão para o 1781º);
 Processo especial regulado nos 931º-932º CProCiv.

 Termina pela reconciliação dos cônjuges ou pela dissolução do casamento.


▫ Decorrido um ano sobre o trânsito em julgado da sentença que tiver decretado a
separação judicial de pessoas e bens sem consentimento do outro cônjuge ou por
mútuo consentimento, sem que os cônjuges se tenham reconciliado, qualquer deles
pode requerer que a separação seja convertida em divórcio.
▫ Os cônjuges podem a todo o tempo restabelecer a vida em comum e o exercício pelo
dos direitos e deveres conjugais - revogável a todo o tempo (1795º-C).
 Reconvenção:
▫ A separação judicial de pessoas e bens pode ser pedida em reconvenção, mesmo que
o autor tenha pedido o divórcio; tendo ao autor pedido a separação de pessoas e
bens, pode igualmente o réu pedir o divórcio em reconvenção;
▫ Nos casos previstos no nº1 do 1795º, a sentença deve decretar o divórcio se o pedido
de ação e o da reconvenção procederem.

 Efeitos: afeta os cônjuges quanto às pessoas e quanto aos bens


▫ Efeitos pessoais
♦ A separação judicial de pessoas e bens não dissolve o vínculo conjugal, mas
extingue os deveres de coabitação e assistência, sem prejuízo do direito a
alimentos;
♦ A separação produz efeitos que produziria a dissolução do casamento no que
refere aos bens (1795º-A);
 Se o vínculo conjugal se mantém e os cônjuges mantêm esse estado, hão de
manter-se todos os efeitos do casamento que lhe são absolutamente
necessários, de tal forma que o casamento não possa conceber-se sem eles.
♦ Mantém-se:
 Dever de fidelidade conjugal (1795º-A)
 Dever recíproco de respeito e cooperação
 Dever de alimentos (1794º, 1795º-A e 2016º) - mas cessa o dever de contribuir
para os encargos da vida familiar
 Cada um dos cônjuges conserva os apelidos do outro que porventura tenha
adotado (1677º-B nº1)

▫ Efeitos patrimoniais
♦ Produz os efeitos que produziria a dissolução do casamento
♦ Perda dos direitos sucessórios do cônjuge sobrevivo (2133º nº3)
♦ Reparação de danos não patrimoniais – quando o cônjuge fundamente o seu
pedido de separação na alteração das faculdades mentais do outro (1781º-b))

Reconciliação dos cônjuges separados de pessoas e bens (1795º-C)

 Os cônjuges podem a todo o tempo restabelecer a vida em comum e o exercício pleno dos
direitos e deveres conjugais;
 O processo de reconciliação está regulado nos art. 12º e 13º DL nº 272/2001, de 13/10, e é
da exclusiva competência das conservatórias do registo civil
o Os cônjuges que pretendem reconciliar-se devem formular o pedido, devidamente
fundamentado, em requerimento entregue em qualquer conservatória;
o A reconciliação que pode ser requerida a todo o tempo, efetua-se por acordo dos
cônjuges que o conservador deve homologar sge verificar que estão preenchidos os
pressupostos legais, para o que pode determinar a prática de atos e a produção de
prova;
o A decisão que homologue a reconciliação deve ser oficiosamente registada por
averbamento aos assentos de nascimento e ao assento de casamento;
o Os efeitos da reconciliação só se produzem a partir da homologação ou, em relação a
terceiros, a partir do registo (1795º-C nº4).
 Regime de bens: a reconciliação repõe em vigor o mesmo regime de bens que vigorava
antes da separação, conforme o princípio geral enunciado no 1795º-C nº1.

Conversão da separação em divórcio (1795º-D)

 Se no prazo de 1 ano a contar do trânsito em julgado da sentença ou da decisão do


conservador que decretou a separação os cônjuges não se reconciliarem, pode qualquer
deles pedir a separação, litigiosa ou por mútuo consentimento, seja convertida em
divórcio.
 Se a convenção for requerida por ambos os cônjuges, nem é necessário o decurso
daquele prazo.
 Efeito: cessa todas as consequências do casamento que ainda se mantinham durante a
separação
Extinção da relação matrimonial
 Dispensa do casamento não consumado – casamento católico
 Dispensa pedida por ambos os cônjuges ou só por um deles, mesmo contra a vontade
do outro, e que pode ser concedida se, não tendo havido consumação do casamento,
houver para a dispensa uma justa causa.
 Morte
 Divórcio
 Dissolução do casamento decretada pelo tribunal ou pelo conservador do registo civil,
a requerimento de um dos cônjuges ou dos dois.

Características do direito ao divórcio

 Direito potestativo extintivo [poder de produzir determinado efeito jurídico - dissolução do


vínculo matrimonial], pessoal e irrenunciável.
o Direito relativo ao estado das pessoas – direito pessoal (1785º nº3)
o Não é admitida a representação voluntária
o A representação legal é admitida no 1785º nº1 - estando interdito, o cônjuge ofendido
pode ser representado na ação do divórcio.
o Irrenunciável
 Não se pode renunciar de antemão à mera faculdade legal de pedir o divórcio se e
quando essa causa se verificar;
 Nenhum dos cônjuges poderá demitir-se do direito que adquiriu de pedir o
divórcio com base em determinados fatos já verificados.

Modalidades

♦ Divórcio sem consentimento de um dos cônjuges


 Pedido por um dos cônjuges contra o outro e com fundamento em determinada causa
 Separação de fato por um ano consecutivo (1782º)
 Alteração das faculdades mentais do outro cônjuge
 Ausência, sem que do ausente haja notícias, por tempo não inferior a um ano
 Quaisquer outros fatos que, independentemente da culpa dos cônjuges, mostrem
a rutura definitiva do casamento.
♦ Divórcio por mútuo consentimento
 Pedido por ambos os cônjuges, de comum acordo e sem indicação da causa por que é
pedido
 Administrativo (1775º) - conservatória
 É instaurado a todo o tempo, mediante um requerimento assinado por ambos os
cônjuges ou seus procuradores, acompanhado pelos seguintes documentos:
 Relação especificada dos bens comuns
 Acordo sobre o exercício das responsabilidades parentais (1775º nº1-b))
 Não há fihos menores ou havendo, o exercício das responsabilidades parentais está
judicialmente regulado;
 O conservador deve convocar os cônjuges para uma conferência em que informa os
cônjuges da existência de serviços de mediação familiar (1774º) e aí deve apreciar os
acordos que os cônjuges juntaram (1776º nº1).
 Se estes acordos juntos aos autos acautelarem os interesses de ambos os cônjuges
e dos seus filhos menores, o conservador homologa os acordos e decreta o
divórcio
 Caso o conservador entenda que os acordos não protegem os interesses de ambos
os cônjuges e dos filhos menores, convida os cônjuges a alterá-los (1776º nº1)
 Se os cônjuges assim o fizerem, o conservador homologa-os e decreta o
divórcio, decisão que tem os mesmos efeitos que os produzidos pelas
sentenças judiciais (1776º nº2)
 Se os cônjuges não alterarem os acordos, o conservador recusa a homologação
dos acordos e remete o processo para o tribunal competente (1778º).

 Há filhos menores e o exercício das responsabilidades parentais não está judicialmente


regulado
 Neste caso, antes de marcar o dia para a conferência, deve o conservador enviar o
processo de divórcio ao MP junto da seção de competência especializada do tribunal
de comarca para que ele se pronuncie, no prazo de 30 dias, sobre o acordo dos
cônjuges acerca dos exercícios das responsabilidades parentais (1776º-A nº1).
 Se o MP entender que o acordo não acautela suficientemente os interesses dos
menores e que lhe devem ser feitas determinadas alterações
 O processo baixa à conservatória e o conservador notifica os cônjuges de que
no prazo de 10 dias devem alterar o acordo em conformidade ou apresentar
outro acordo, do qual é dada nova vista ao MP para que ele se pronuncie, no
prazo igualmente de 30 dias (1776º-A nº2)

 Se o MP validar o acordo inicial, ou entender que o acordo alterado nos termos


por ele indicados, ou o novo acordo, já acautela devidamente os interesses dos
menores
 O conservador marca dia para a conferência em que informa os cônjuges da
existência dos serviços de mediação familiar;
 Verificando que estão preenchidos os outros “pressupostos legais” do divórcio,
decreta o divórcio e ordena o averbamento da decisão aos assentos de
nascimento e ao assento de casamento (1776º-A nº3).
 Se os cônjuges não alterarem o acordo nos termos indicados do MP e mantiverem
o propósito de se divorciar, o conservador deve remeter o processo à seção de
competência especializada do tribunal da comarca a que pertença a conservatória
(1776º-A nº4)
 Sempre que o conservador remete o processo de divórcio para o tribunal
competente, seguem-se os termos previstos no 1778º - o tribunal vai tratar do
processo como se se tratasse de um divórcio sem consentimento de um dos
cônjuges (1778º e 1778º-A).
 Acordo sobre a prestação de alimentos ao cônjuge que deles careça (1775º
nº1-c))
 Acordo sobre o destino da casa de morada de família (1775º nº1-d))
 Certidão da escritura da convenção antenupcial
 Acordo sobre o destino dos animais de companhia (Lei nº 8/2017, de 03/03)
 Judicial
 A lei permitiu em qualquer altura do processo, a conversão do divórcio sem
consentimento em divórcio por mútuo consentimento, conversão que, para
verdadeiramente o ser, exige que não se inicie novo processo.
1. Requerimento apresentado no tribunal (1778º-A nº1)
 Ausência de algum dos acordos previstos no 1775º nº1
2. Apreciação pelo juiz dos acordos que os cônjuges tiverem apresentado (1778º-A nº2)
 Convite a alterá-los se não acautelarem os interesses de algum deles ou dos filhos
3. Fixação pelo juiz das consequências do divórcio nas questões referidas no 1775º nº1 sobre
que os cônjuges não tenham apresentado acordo (1778º-A nº3)
 O juiz deve sempre não só promover, mas também tomar em conta o acordo dos
cônjuges (1778º-A nº6)
4. Decretamento do divórcio (1778º-A nº5)
5. Registo (1778º-A nº5)
Casos práticos
Relações familiares – Impedimentos

1. Pronuncie-se sobre a validade dos seguintes casamentos:

a) Casamento do padrasto (viúvo/divorciado) com a viúva do seu enteado

b) Casamento do sogro com a viúva de um dos seus filhos

c) Casamento do genro com a madrasta da sua antiga mulher

Resposta: Estes casos remetem para a relação de afinidade. Mesmo que em dois dos três
casos, a relação já não “acontece” pois houve dissolução do casamento por morte ou divórcio,
a verdade é que a afinidade não se extingue com o fim da relação que a originou (1585º).
Assim, estamos perante três situações em que o hipotético casamento estaria
vedado pelo 1602º-d), pois estamos perante um impedimento dirimente [apto para romper o
casamento por a celebração enfermar de um vício de anulabilidade que o tornará inválido,
ainda que eficaz] relativo [impossibilidade para certas pessoas].
O casamento é anulável nos termos do 1631º-a) CCivil.

2. Nuno tem um irmão mais novo, Vítor, que aos 16 nos tinha fugido com a prima, de
14 anos, Margarida. Margarida engravida e por causa disso conseguem casar catolicamente
em 2015.
Em 2020 Vítor, que, entretanto, se cansou de Margarida, casa com Angelina e,
aproveitando-se de o casamento anterior não estar transcrito ao registo, consegue.
Quando Margarida descobre, ameaça propor ação de anulação do casamento entre
Vítor e Angelina, mas este acha que consegue evitar isso, propondo ele uma ação de anulação
do primeiro casamento, já que Margarida tinha 14 anos quando casaram.
Resposta: Vítor e Margarida são ambos menores de idade, sendo um menor núbil (Vítor) por
já ter 16 anos e o outro não núbil (Margarida) por ter idade inferior a 16 anos (neste caso 14).
Antes de mais, importa referir que o fato dos nubentes serem primos não constitui
nenhum impedimento, porque os únicos impedimentos relativos entre parentes na linha
colateral são um impedimento dirimente relativo(1602º-c)) referente ao segundo grau
[irmãos] e o impedimento impediente previsto no 1604º-c) do parentesco no terceiro grau na
linha colateral [tio e sobrinha]. Vítor e Margarida são parentes no 4º grau da linha colateral,
não havendo impedimento relativo ao casamento.
Há, no entanto, dois impedimentos absolutos. O primeiro é um impedimento
impediente absoluto, indicado no 1604º-a). Este refere-se ao fato de Vítor ser um menor de 16
anos, sendo que não pode casar com ninguém. Porém, ele pode ser autorizado pelos pais
(1612º nº1), ou, na falta de autorização, esta pode ser suprida pelo conservador do registo civil
(1612º nº2). A existência deste impedimento não impede a homologação do casamento
celebrado sem processo preliminar de publicações nem constitui causa de anulabilidade, pelo
que o casamento do menor núbil é válido, ainda que comporte sanções na matéria da
administração de bens que leve para o casal (1649º nº2)
O segundo impedimento absoluto, o de Margarida já é, porém, dirimente.
Margarida, é menor não núbil, ou seja, tem idade inferior a 16 anos, pelo que não pode
contrair matrimónio com ninguém (1601º-a)). Contudo, terão conseguido casar catolicamente,
à luz das regras do direito canónico, sem certificado de casamento por eventuais razões de
ordem moral, à luz do disposto no 1599º, e só poderá ser homologado e ser transcrito para o
registo quando Margarida atingir a maioridade.
Posteriormente, Vítor casa com Angelina ainda antes do seu casamento anterior ser
registado. Vítor não pode casar com Angelina porque tem um impedimento dirimente
absoluto, dado que o seu casamento anterior com Margarida ainda não tinha sido dissolvido
incorrendo numa situação de bigamia (1601º-c)). Logo, este segundo casamento é anulável.
Margarida, tendo conhecimento desta situação, apresenta clara intenção de interpor uma
ação de anulação do segundo casamento de Vítor. Por força do 1639º nº2, última parte, ela
tem legitimidade para o fazer, dado que é o primeiro cônjuge do bígamo. Relativamente ao
prazo, ela ainda pode interpor a ação, porque, por força do 1643º nº1-c) ela tem até 6 meses
após a dissolução do casamento alvo da ação de anulação, ou seja, ela está dentro de prazo
durante toda a vida do segundo casamento de Vítor e mais 6 meses.
Vítor com o objetivo de se precaver e não ver o seu casamento com Angelina
anulado, propõe uma ação de anulação do seu primeiro casamento com Margarida,
argumentando que este é anulável, dado que ela tinha um impedimento dirimente absoluto
em razão da idade, por ter uma idade não núbil (1601º-a)). Ele pode fazê-lo, porque nos casos
de bigamia, que é o que se verifica no caso prático, não se pode propor uma ação de anulação
do segundo casamento do cônjuge, enquanto a ação de anulação relativa ao primeiro estiver a
decorrer (1643º nº3). Segundo o que é dito no 1639º nº1, o Vítor tem legitimidade para
propor esta ação, dado que é um dos cônjuges. Relativamente ao prazo, conclui-se que ele já
não estaria no tempo de propor esta ação, dado que o 1643º nº1-a), diz que depois de o
menor atingir a maioridade, ele só tem o prazo de 6 meses para anular o casamento. Assim,
Vítor já não poderá anular o seu casamento com Margarida.
Margarida além de poder anular o 2º casamento de Vítor, também poderá obter a
validação do seu próprio casamento. Isto, [quando o menor atinge a maioridade], perante
funcionário do registo civil e acompanhada de duas testemunhas validar o seu casamento com
Vítor, afastando a sua anulabilidade (1633º nº1-a)).

3. Angelina descobre isto tudo e, chocada, quer anular o casamento com Vítor.
Resposta: Para o caso de se reverter a situação e ser Angelina a propor uma ação de anulação
do seu casamento com Vítor, ela invoca como causa o fato do seu cônjuge se casar sem o
casamento anterior estar dissolvido, representando isto um impedimento dirimente absoluto
(1601º-c) e 1631º-a)).
Angelina tem legitimidade e está no prazo para anular o seu próprio casamento com
Vítor (1639º nº1 e 1643º nº1-c)).

4. António, de 21 anos, sempre foi apaixonado por Bruna, de 19 anos, sua tia, nascida
de um segundo casamento contraído entre o seu avô paterno – Carlos – com Dália.
Bruna é irmã de Eunice, de 32 anos, que foi adotada por Carlos e Dália. Eunice vive, há
mais de 7 anos com Fernando, que é filho de Gastão e de Helena, e tem dois filhos menores
(Inês e João).
Helena tem uma irmã gémea, Leonor que enviuvou de Nuno, com quem teve três
filhos (Miguel, Maria e Manuela). Leonor e os filhos vivem com Quirino e Rosa, pais de Nuno.
Concluído o ensino superior, António resolver declarar-se a Bruno e pede-a em
casamento

a) Identifique as relações jurídicas familiares existentes e esclareça o respetivo


enquadramento normativo.
Resposta: Podemos identificar três grupos de relações jurídicas familiares, que são relações
que visam a constituição da família e as que resultam dos laços ou vínculos familiares, tendo
como alvo ou ponto de referência a família.
Neste caso concreto, estamos perante casos de relação de adoção (Eunice, Carlos e
Dália), casamento (Carlos e Dália), parentesco e afinidade [mistura de casamento e
parentesco] (Fernando com a família de Eunice; Leonor e os filhos com Quirino e Rosa).
Fica a faltar descrever a situação de Eunice e Fernando que não é tomada clara pelo
enunciado, que somente refere que “vivem” juntos. Assim sendo, podemos estar perante uma
de duas situações possíveis: a) casamento civil ou católico (1587º e ss.), sendo que não
parecem existir qualquer espécie de impedimentos matrimoniais (1600º e ss.); b) união de fato
(Lei nº 7/2001, de 11/05) com economia comum, sendo que é para esta situação que a
expressão “vive” parece apontar.

b) Pronuncie-se sobre a suscetibilidade, à luz do Direito vigente, de celebração de casamento


entre:
(i) António e Bruna
Resposta: António têm uma relação de parentesco nos termos do 1578º, integrando-se por
isso, numa noção ampla de família. Sabendo que o parentesco pode se apresentar por diversos
graus (no máximo até ao sexto – 1582º) e pode ser reta ou colateral consoante um dos
parentes descenda do outro ou estejam somente unidos por um progenitor comum; António e
Bruna estão unidos por uma linha colateral de parentesco, sendo assim, parentes no 3º grau
da linha colateral (1579º-1582º).
Sendo António e Bruna parentes no 3º grau da linha colateral a hipotética
celebração do seu casamento sofre de um impedimento impediente, ou seja, um impedimento
que impede a celebração, todavia se a mesma for levada a cabo, é perfeitamente válido e
eficaz e não poderá ser atacado (1604º). Por tudo isto, o contrato de casamento entre Antónia
e Bruna não poderá ser celebrado, mas, se porventura o for, não viciará de qualquer vício de
nulidade ou anulabilidade, sendo, portanto, válido e eficaz na produção dos seus efeitos
jurídicos.

(ii) Eunice e Dália


Resposta: Não constituiria qualquer espécie de problema o fato de Eunice e Dália serem
ambas do sexo feminino, uma vez que no decurso da alteração legislativa interposta pela Lei
9/2010, de 31/05 foi admitido o casamento entre pessoas do mesmo sexo.
Contudo, o problema coloca-se uma vez que Eunice foi adotada por Dália e Carlos.
Estamos perante uma relação de afinidade e de adoção. Poderá uma mãe adotiva contrair
matrimónio com a sua filha adotada?
Se Eunice foi adotada plenamente por Dália e Carlos, um hipotético casamento entre
ela e Dália estaria vedado pelo art. 1602º-a), pois constatamos a existência de uma relação de
parentesco em linha reta (mãe-filha, por equiparação).

c) Cipreste e Dália, adeptos do que entendem ser “relações amorosas modernas”, decidem
casar um com o outro. Confrontados com o catálogo legal de deveres conjugais – entre os
quais, o dever de fidelidade –, pretendem celebrar um “casamento à medida dos seus valores
e filosofias da vida”, que passa pela “refeição de um conjunto de imposições externas que
constituem uma ofensa à liberdade e autodeterminação, nomeadamente, no plano sexual”.
Quid Iuris?
Resposta: O casamento é um contrato típico e extremamente rígido no que ao plano pessoal
diz respeito, admitindo somente alguma autonomia privada no plano patrimonial (1671º e ss).
O direito da família caracteriza-se e autonomiza-se, também pela imperatividade das suas
normas, que são impostas pela Constituição.

Sistemas matrimoniais

1. Ester e Jacob, que pertencem à Comunidade Judaica de Belmonte pretendem casar-


se na sinagoga segundo os ritos da sua religião. Sabem que a Comunidade Judaica de Belmonte
já obteve atestado de radicação. Que valor terá o casamento que realizarem?
Resposta:

2. Imagine que Diogo pretende casar com a sua namorada, Hilária. Porém, sendo
ambos portugueses e pretendendo casar em Portugal, em agosto deste ano, compraram casa
em Madrid, onde residem e continuarão a residir habitualmente. É possível convencionarem
um regime patrimonial para o seu casamento previsto na Lei espanhola? Comente.
Resposta:

3. Clara e Daniel, ambos portugueses e atores de telenovelas, anunciaram o seu


namoro e juraram amor eterno numa entrevista concedida a uma revista cor-de-rosa.
A revista desafiou-os a, querendo, casar num resort paradisíaco no Hawai e ofereceu-
se para suportar os custos implicados com as viagens e a estadia – incluindo a cerimónia do
casamento. Em contrapartida, a Revista exigiu o exclusivo da cobertura fotográfica do evento.
Clara e Daniel casaram numa linda cerimónia tipicamente hawaiana, envergando trajes
brancos decorados com flores coloridas.
Resposta: Estamos perante um casamento de portugueses no estrangeiro (aliás, entre dois
portugueses no estrangeiro). Nestes termos, a forma do casamento será regulada pela lei
havaina (50º CCivil e 161º CRP), exceto a verificação da exceção do 5º nº2. Sublinhemos que se
se adequar às leis canónicas, mesmo no estrangeiro, a lei portuguesa reconhece-o como tal
(51º nº4). Em tudo o que concerne às relações familiares, à sucessão por morte, ao estado dos
indivíduos, e à capacidade dos nubentes a lei portuguesa tem império (25º e 31º, 52º, 53º, 56º
e 57º).
Ao casamento, é assim reconhecida validado no nosso ordenamento, desde que seja
objeto de registo (1651º nº1-b)) e não contrarie a ordem pública portuguesa (22º).
O casamento também será válido visto que não corresponde a nenhum caso
previsto no 1628º (inexistência) nem no 1631º (anulabilidade).

b) Admita agora que Daniel se apaixonou por Eliza, atriz de uma telenovela exibida na
concorrência, a quem pediu a mão em casamento porque entende que “não tem nenhum
vínculo jurídico para com Clara”. Tem razão? Aprecie criticamente o argumento defendido.
Resposta: O casamento entre Daniel e Cláudia é válido, mesmo que não tenha sido registado,
porque temos um impedimento dirimente absoluto (1601º-c)) quanto ao segundo casamento
com Elisa.
Se alguma vez este casamento vier a ser celebrado, padece de um vício de
anulabilidade (1631º-a). Para além disso, é claro que em tem um vínculo jurídico para com
Elisa (contrato de casamento).

4. Ana e Bruno, ambos maiores de idade, são namorados desde os tempos da escola
primária.
No dia em que completou 16 anos, Bruno “pediu a mão de Ana” ao pai de Ana, Carlos
que prontamente anuiu. Desde esse dia, Ana e Bruno usaram alianças de noivado e
continuaram a viver um namoro tranquilo e feliz. Combinaram que casariam no dia 1 de
setembro de 2020, dia em que celebrariam 15 anos de namoro.
Com a entrada para a Faculdade de Direito, no ano letivo 2016/2017, Bruno, que até
então era um rapaz pacato e “caseiro”, fez novas amizades e passou a frequentar festas e a
participar em convívios sociais sem se fazer acompanhar por Ana.
No segundo semestre do 1º ano, Bruno terminou o namoro com Ana, que ficou
desolada e deprimida.

a) Carlos, tendo conhecimento da decisão de Bruno, confronta-o com o “compromisso, com


efeitos vinculativos, que assumiu junto de Ana, dele e de toda a restante Família”. Quid Iuris?
Resposta: Dos termos do 123º onde se consagra a incapacidade genérica de exercício do
menor, conclui-se que este não dispõe de capacidade de exercício para celebrar um contrato-
promessa de casamento. As promessas regem-se pelos princípios relativos ao contrato
definitivo (410º), e assim sendo, a promessa de casamento estará sujeita às restrições do
1612º.
Posto isto, tendo em consideração que estávamos perante um rapaz e uma rapariga
de 16 anos, ambos necessitariam da autorização dos pais por forma a suprir a sua
incapacidade genérica de exercício.
Acrescente-se que nos termos do 1881º, os pais não podem aceitar negócios
puramente pessoais em nome dos filhos, mas somente autorizá-los, nos termos referidos.
Contudo, ainda que essa autorização tenha sido, de facto, concedida, não produz,
naturalmente, os efeitos da emancipação.
A promessa de casamento é um contrato preliminar, em que ambos os nubentes se
comprometem a celebrar um futuro contrato de casamento. É também um contrato
consensual (232º) e não assistindo de coercibilidade (1591º com remissão para o 830º) pela
sua natureza intuito personae.
Parece que os requisitos de capacidade e de perfeição estão preenchidos, e que foi
celebrado um contrato válido de promessa de casamento, que desde os 16 anos vincula os
nubentes.
O que acontece quando há incumprimento? Essencialmente, adstringe a parte
faltosa a uma obrigação de indemnizar, mas somente das despesas e obrigações que o
legislador definir e não nos termos gerais, pois o legislador não quer motivar os nubentes a
contrair um casamento que não desejam (1591º - princípio da ineficácia da promessa e regra
especial face ao 410º). Indemnizam-se todas as despesas tendentes à preparação da cerimónia
(1594º) – interesse contratual negativo, o que exclui danos morais, emergentes ou lucros
cessantes, desde que se considere que estamos perante uma rutura “sem justo motivo” ou
culposa. Haverá ainda lugar à restituição de todos os donativos, de presentes auferidos por
motivo de casamento, o que se estende a cartas e retratos (1592º). Pode ainda se apelar ao
regime do enriquecimento sem causa, subsidiariamente, caso os anteriores não se apliquem.

Consentimento

1. Ana e Igor conheceram-se em 2018 numa concentração de motards e casaram em


dezembro de 2020. Igor tinha vivido de 2015 a 2017 na Rússia.
No passado dia 13 de março, no contexto da atenção dirigida para o cenário da guerra
atual, ao ver um site noticioso, Ana apercebe-se que a organização de motards a que Igor tinha
pertencido na Rússia era afinal uma organização muito ativa de extrema-direita, responsável
por ataques xenófobos e por outras atividades de cariz criminal.
Hoje vem alegar que, se tivesse sabido de tal situação, nunca teria casado com Igor e pretende
anular o casamento. Pode fazê-lo?
Resposta: Estamos perante uma vontade viciada no erro presente no 1634º, uma vez que Ana
não tinha conhecimento que o marido era ativo numa organização de extrema-direita.
À luz do art. 1641º, apenas a pessoa vítima do erro, neste caso Ana, tem legitimidade
para intentar uma ação para anular o casamento (1634º) tendo 6 meses a contar da cessação
do vício para o fazer (1631º-n)).
Sabemos ainda que o erro tem de incidir na pessoa nubente, deve ser desculpável e
deve ser uma situação subjetiva e objetiva, determinante da vontade do casamento.
Assim, a anulação do casamento faz-se por vício da vontade, sendo assim não produz
efeitos.

Impedimentos

1. A Diana de 30 anos pretende casar com Eduardo de 20 anos. Acontece que em 2017,
Diana viverá em condições análogas com o pai de Eduardo, tendo até exercido as
responsabilidades parentais relativamente a Eduardo na altura em que o pai deste esteve
internado em estado de coma, sendo o único parente vivo.

Resposta: Estamos perante uma questão relativa à capacidade para contrair o casamento.
Neste caso concreto, estamos perante um impedimento dirimente relativo, que impede o
casamento entre estas duas pessoas e a sua sanção é a anulabilidade – existe aqui uma relação
de responsabilidades parentais, uma vez que não se chegou a formar uma relação de
afinidade, pois Diana e o pai de Eduardo não eram casados.
Assim , e à luz do 1649º, qualquer um dos cônjuges pode tentar a anulabilidade do
casamento e tem até 6 meses após a anulação do casamento.
2. João conhece Mário. Apaixona-se perdidamente e acaba tudo com a namora de há
dez anos, Leonor; mas Mário, quando João o conheceu, era casado com Noémia.
João de cabeça perdida, assassina, em setembro de 2015, Noémia e acaba por convencer o
enlutado Mário a casar com ele.
Casam em janeiro de 2017, já depois de João ter sido acusado e pronunciado pelo
homicídio de Noémia o que Mário desconhecia.
João, em março de 2019, é condenado pelo homicídio de Noémia. Mário, chocado,
quer anular o casamento.
Resposta: Na situação apresentado, não se está perante um impedimento dirimente relativo
do art. 1602º CCivil, mas sim perante um impedimento meramente impediente previsto no
1602º-f).
Quando Mário e João se casam, João tinha sido apenas pronunciado pelo homicídio
doloso de Noémia. Se à do casamento já existisse uma sentença que condenasse,
efetivamente, o João pelo crime, aí sim o fato constituía um impedimento dirimente relativo e
o casamento seria anulável. Como tal não sucede o casamento é válido. A violação do
impedimento impediente não tem, aparentemente, qualquer sanção, ao contrário do que
acontece relativamente a outros impedimentos impedientes, como por exemplo, o disposto
no art. 1649º quanto aos casamentos de menores.
Contudo, existe outra causa de anulação que Mário pode invocar. Se este soubesse
que o João era um assassino ou uma pessoa capaz de matar, Mário não teria casado com ele.
Isto corresponde a uma situação presente no 1636º, respetiva ao erro que vicia a vontade.
Mário erra sobre as qualidades essenciais – morais – do João, que não estão diretamente
ligadas ao fato de este ter matado Noémia, mas sim ao fato de ele ser um assassino, tendo
uma personalidade e características rebuscadas, demonstrando má formação da pessoa.
Para tal causa ser verificada, Mário tem de provar que se tivesse conhecimento
destas características de João não teria casado com ele e, além disso, tem de se considerar que
o desconhecimento ou erro é desculpável, ou seja, ele não teria como saber e que são
características de tal maneira gravosas na personalidade de uma pessoa, que o levam a não
querer contrair matrimónio.
Nesta causa de anulação diferente, Mário tem legitimidade para intentar a ação.
Aliás, por força do 1641º só o cônjuge tem legitimidade para interpor a ação. A nível do prazo,
este também é diferente, pelo que Mário optando por esta causa, só tem 6 meses após a
cessação do vício, ou seja, 6 meses a contar do momento que Mário tem conhecimento de que
João matou Noémia. Como ele só se dá conta em março de 2019, ainda está dentro do prazo
[presumindo que estamos em junho de 2019].

3. Leonor, chocada com a traição de João, decide casar com o melhor amigo deste,
Nuno, mas apenas para se vingar do João.
Nuno acede, sem saber das razões de Leonor, porque sempre gostou dela. Casam logo
em fevereiro de 2017.
Leonor, depois de saber o que se passou entre João, Mário e Noémia, cai nela e
percebe que afinal João não valia a pena tanto desgaste e pretende anular o casamento com
Nuno.
Resposta: Sabe-se que Leonor era a namorada de João quando este se apaixonou por Mário e
se casou com ele. Neste seguimento, Leonor casa com Nuno com falta de vontade, sendo esta
uma causa de anulação do casamento segundo o pressuposto do art. 1635º, mas o Nuno casa
com Leonor com vontade para tal e desconhecimento do vício de vontade existente.
A questão aqui adjacente é que a única alínea do art. 1635º plausível de ser aplicada
a esta situação, é a alínea d), relativa à simulação. Segundo a noção de simulação presente no
240º, tal pressupõe um conluio, ou seja, um “acordo entre declarante e declaratário” que,
devidamente transposto para este caso, seria entre nubentes. O que é fato, é que não houve
nenhum acordo entre Nuno e Leonor, até porque o primeiro não tinha conhecimento da falta
de vontade dela.
Assim, só resta verificar o pressuposto do 244º, relativo à reserva mental, que é
equiparada, pela doutrina, à simulação, ao nível dos seus efeitos (nulidade). A questão é que
Leonor não tinha como objetivo enganar Nuno. Ela casou-se por uma questão de vingança
contra João e não com nenhum objetivo de prejudicar o seu cônjuge. Por outro lado, Nuno
desconhecia a reserva mental de Leonor. Por esse motivo, também não se pode aplicar a
reserva mental. Assim, não há causa de anulação plausível de se aplicar, visto que o Nuno
ignora o vício.
Concluindo, Leonor não pode anular o casamento, restando-lhe eventualmente a
dissolução do mesmo, por divórcio.

Casamento putativo

1. O Igor e a Ana casaram em regime de bens comuns e o Igor compra um imóvel com
o seu salário.
Sendo este um bem comum, vende-o sem o consentimento de Ana, mesmo a lei
dizendo que não o podia fazer.
Quid Iuris?

Resposta: Estamos perante um ato inválido segundo o regime de casamento.


Ana invoca o regime do casamento putativo (1647º), um casamento reputado pelas
partes e por terceiros como tendo sido celebrado em termos não merecedores da censura da
lei. Assim, como se trata de relações que se estabelecem entre os próprios cônjuges e que vai
afetar terceiros, ou seja, é um mero reflexo da relação dos cônjuges, e como Ana estava de
boa fé, os efeitos produzem-se se forem favoráveis ao cônjuge de boa fé (Ana) nos termos do
art. 1647º nº2. Contudo, os efeitos não se produzem, pois, o ato em si é inválido.

Efeitos pessoais do casamento

1. Ana e Bernardo casaram em 1988.


Ana deixou de trabalhar assim que casaram e quando, no passado mês de agosto,
Bernardo abandonou a casa, Ana deparou-se com o fato de não ter meios de subsistência
próprios. No entanto, como continua casada com Bernardo, considera que este tem o “dever
de continuar a sustentar a casa”. Quid Iuris?
Resposta: O casamento é o contrato celebrado entre duas pessoas que pretendem constituir
família, mediante plena comunhão de vida, nos termos e disposições do CC (1577º).
Com a celebração do casamento cria-se o status que implica que existam efeitos
pessoais para o casamento, nomeadamente os deveres de respeito, fidelidade, coabitação,
cooperação e assistência presentes no 1672º.
Neste caso concreto estamos perante o dever de assistência quando o Bernardo sai
de casa, uma vez que quando existe separação neste caso, sem alteração do vínculo pois não
há anulação do casamento, fica a obrigação de alimentos. Por alimentos entende-se tudo o
que é indispensável ao sustento, habitação e vestuário (2003º)
À luz do 2004º e fazendo-se prova de que Ana tem necessidades de alimentos para a
sua subsistência e Bernardo tendo condições para tal, estamos perante um direito a alimentos
a favor de Ana.

2. No processo de divórcio, Joana deduz pedido de autorização judicial do uso dos


apelidos do seu marido, Pedro. Joana usa nome constituído pelos apelidos do marido,
“Plympton de Azevedo”. É conhecida social e profissionalmente por esse nome e alega que a
não manutenção destes apelidos implicará graves prejuízos a nível profissional, já que a
angariação de clientes na sua área se faz por indicação de clientes já conhecedores e o seu
nome figurou desta forma em vários artigos de revistas e jornais económicos que publicou ao
longo da sua carreira. Pedro invoca que apenas ele e outros cinco membros da sua família
usam o referido apelido, pelo que seria da maior importância que não fosse concedida tal
autorização. Quid Iuris?
Resposta: Existe aqui a criação de um novo status e existe a possibilidade de acrescentar o
apelido do outro cônjuge (1677º).
Porém, no preciso momento há dissolução do casamento por divórcio, assim o art.
1677º-B diz-nos que Joana pode pedir ao tribunal que a deixe continuar a usar o apelido visto
que ex-cônjuge não deixa.
Pelos motivos enumerados (razões profissionais), existe uma forte possibilidade de o
tribunal a deixar ficar com o apelido, uma vez que o exercício da profissão está ligada ao nome
que ela deixou no mercado.

Efeitos patrimoniais do casamento

1. João e Marta casaram entre si em Junho de 1970, sem convenção antenupcial. No


corrente ano, João praticou os seguintes atos sem o consentimento de Marta:
a) Vendeu o apartamento que tinha comprado com o dinheiro que trouxe para o
casamento;
b) Repudiou a herança que o tio lhe deixara.
Poderá Marta reagir contra estes atos?
Resposta:

Convenções antenupciais

1. Ana e José pretendem celebrar casamento segundo um regime de bens diferente do


regime supletivo.
Para tanto, celebraram, em agosto de 2017, por escritura particular, convenção
antenupcial onde estipularam o seguinte:
1 – O regime de bens do casamento será o da separação de bens até ao primeiro
aniversário de casamento, depois dessa data passará a ser o regime da comunhão geral;
2 – O produto do trabalho dos cônjuges será objeto de administração conjunta;
3 – Será considerado bem comum Amélia, a cadela poodle que José oferecera a Ana no
início do seu namoro;
4 – Todos os bens adquiridos por doação pelos cônjuges serão considerados bens
próprios
Ana e José celebraram casamento em julho de 2019, como haviam acordado.
a) Aprecia o valor desta convenção
Resposta: A convenção é um contrato celebrado entre os nubentes e pressupõe a validade do
casamento. À luz do art. 1688º, os nubentes podem fixar livremente o regime de bens do
casamento. Partimos desse princípio de que Ana e José podem celebrar esta convenção nestes
termos (princípio da liberdade).
Existem alguns requisitos que se deve respeitar: a) capacidade; b) forma – escritura
pública ou perante funcionário do registo civil; c) publicidade (1711º); d) aposição de termo ou
condição (1713º); e) revogabilidade (1712º); f) caducidade (1716º).
Vamos supor que não havia problemas quanto à caducidade, pois nada nos é dito, e
que o casamento não foi revogado.
Contudo, existe um problema de forma, à luz do disposto no 219º, 220º e 1710º, em
que este último exige escritura pública, e neste caso concreto o casal celebrou por escritura
particular. Assim, a convenção antenupcial é nula.
Para além disso, a convenção já tinha caducado quando se celebrou o casamento
(1716º).
Significa que, o casamento será celebrado sobre o regime de comunhão de
adquiridos segundo o disposto no 1717º.

b) Suponha que a convenção foi celebrada por escritura pública e o casamento se celebrou em
junho de 2018. Aprecie o valor da convenção e das diferentes cláusulas à luz desta alteração.
Regime de bens e administração de bens.
Resposta: Neste caso a convenção é valida pois respeita a forma prevista no 1710º; e como foi
celebrada com menos de 1 ano de diferença para o casamento também é eficaz.
Relativamente à primeira cláusula, como não estamos perante nenhum caso de
imperatividade absoluta (1720º) ou imperatividade relativa (1699º nº2), à partida o casal pode
escolher o regime de bens. O problema encontra-se na alteração de regime de bens – até ao
dia X vigora o regime de separação de bens, e depois do dia X passa a vigorar o regime de
comunhão geral. Como o regime de bens foi definido antes do casamento estamos perante o
princípio da imortalidade. Sabendo ainda que a convenção é válido sobre condição ou termo
(1713º) e que tudo foi definido na convenção antenupcial, antes do casamento; estamos
perante um regime de bens que vale antes de data X, e outro regime que vale a partir dessa
data. Ou seja, a cláusula é válido.
Sobre a segunda cláusula, o produto de trabalho de bens é gerido pelos dois nos dois
regimes estabelecidos. Isto não é possível pois estamos perante um regime de separação de
bens, e estamos perante a regra da administração pelo próprio (1788º). Existem limites sobre a
alteração sobre as regras da administração dos bens do casal (1699º-c)). Estamos, assim
perante uma cláusula negocial que contraria uma disposição legal imperativa, o que torna a
cláusula nula (294º).
Contudo, podemos invocar a redução e proteger pelo menos a 1º cláusula pois esta
nulidade não determina a inatividade de todo o negócio quando se mostre que este não teria
sido concluído sem a parte viciada (292º)
Seguidamente, o animal de companhia nunca pode ser comunicável (1699º-d) e
1733º-h)), ou seja, estamos mais uma vez, perante uma cláusula que contraria uma disposição
legal imperativa. Podemos aqui, recorrer mais uma vez à redução (292º).
Por último, os bens adquiridos por doação dos cônjuges são bens próprios. Depois do
1º ano com a mudança do regime de bens, os nubentes introduzem uma mudança para
permitir que os bens adquiridos por doação não entrem nesse regime. Isto torna-se possível
pois existe liberdade de forma (1698º com remissão para o 1732º). Assim, esta cláusula é
válido nos termos do princípio da liberdade de convenção (1698º).

Regime de bens e administração de bens

1. Vitória e Alberto casaram em 2015, sem terem celebrado convenção antenupcial.


a) Alberto, ávido praticante de hipismo, herdara de um tio em 2016 um apartamento e
um cavalo, o Gota.
b) Em 2016, o tio de Vitória doou-lhe um vasto terreno num empreendimento algarvio,
que Vitória vendeu no mesmo ano. Com parte do produto da venda e com um montante
inferior proveniente das poupanças dos seus salários adquiriu em seguida a Quinta do Império.
c) Em 2017, Alberto venceu uma prova de saltos no Ascote-de-Baixo Champions Tour
tendo recebido um prémio, que se traduziu numa soma em dinheiro.
d) Em 2018, completou-se o prazo de usucapião de um terreno adjacente à Quinta do
Império, relativamente ao qual Vitória começou a comportar-se como proprietária.
e) em 2018, Alberto recebeu a prestação seguradora relativa à cobertura dos danos
emergentes (reembolso de despesas veterinárias) sofridos pelo seu cavalo Gota num acidente
de competição.
f) Em 2020, venderam a primeira colheita da estufa de mirtilos que Vitória instalara na
Quinta do Império.
Diga a que massa patrimonial pertencem os bens referidos.
Resposta: Como Vitória e Alberto casaram sem convenção antenupcial, estamos perante o
regime supletivo, comunhão de adquiridos (1717º); regime em que há ou pode haver bens
comuns e bens próprios de cada um dos cônjuges, contudo aqui só se torna comum aquilo que
exprime a colaboração de ambos os cônjuges no esforço patrimonial do casamento.
a) estamos perante bens adquiridos, numa data posterior ao casamento a título
gratuito por sucessão, ou seja, integram nos bens próprios de Alberto (1722º nº1-b))
b) o terreno é um bem adquirido a título gratuito por doação (1722º nº1-b)). Quando
adquire o terreno, este torna-se bem próprio; contudo esse terreno já não pertence ao
património de Vitória uma vez que foi alienado, mas sim o seu preço, esse sim pertence ao
património de bem próprio de Vitória (1723º-b)). O valor adquirido pelo terreno foi utilizado
para adquirir um novo bem, utilizando-se o regime do reemprego que constitui uma exceção
(sub-rogação real indireta) em que o bem continua a integrar o património próprio (1723º-c)).
Contudo para a aquisição da quinta foi utilizado também o salário do cônjuge; assim neste
caso como se utiliza bens comuns e bens próprios, mas como o valor utilizado dos bens
próprios foi superior aos dos bens comuns, a quinta integrará o património próprio havendo
uma compensação pela utilização dos bens comuns.
c) Esse dinheiro integra o património comum pois assemelha-se ao produto de
trabalho (1724º-a)).
d) O terreno integra o património próprio de Vitória, pois o prazo de usucapião foi
iniciado antes do casamento (1722º nº2-b))
e) Estamos aqui a falar de riscos sofridos por um bem próprio. Assim, o pagamento
dessa prestação deve sair do património próprio de Alberto uma vez que o cavalo, Gota,
também constitui um bem próprio (1733º nº1-e)).
f) A quinta do Império é um bem próprio e esta colheita é um fruto desse bem.
Contudo o 1728º nº1 com remissão para o 1733º, não considera, e ao contrario, frutos como
bens próprios. Assim, os frutos são considerados bens comuns.

g) Na sequência do acidente, o cavalo Gota deixou de poder competir, Vitória,


terapeuta, passou a utilizar o Gota, para desenvolver um programa de equoterapia com
crianças com problemas de desenvolvimento. Após o início desta prática, passou a tomar
todas as decisões quanto ao tipo de treino e cuidados do cavalo Gota. Pode fazê-lo?
Resposta: Regra geral, deveria ser o cônjuge a administrar o bem, contudo esta é uma das
exceções presente no 1678º-e) em que Vitória usa este bem exclusivamente para uso laboral.
Neste caso, a administração pertence a Vitória e esta pode fazê-lo.

h)Afastado da prática de hipismo, Alberto começa a dedicar-se à administração da


quinta de Vitória, onde organiza eventos. Num primeiro momento, Vitória alegrou-se com esta
nova atividade de Alberto. Entretanto, Alberto realiza uma série de obras. Vitória considera
que houve má administração por parte daquele e pretende responsabilizá-lo. Pode fazê-lo?
Resposta: A quinta é um bem próprio de Vitória e deveria ser ela a administrá-la (1678º nº1).
Contudo, ela não deu poderes ao marido para este administrar a quinta (alínea g); assim,
existe equiparação ao regime de mandato quando não existe mandato, mas com
conhecimento e sem oposição do outro (1681º nº3), então Alberto só responde pelos atos
praticados nos últimos 5 anos (nº2). Sendo assim, Vitória pode responsabilizá-lo.

i) Alberto aplica o dinheiro do prémio de hipismo numa conta bancária a prazo. Pode
fazê-lo?
Resposta: A regra é que seria necessário o consentimento de ambos, mas equiparamos esta
situação ao trabalho e assim este bem torna-se comum, ou seja cada um administra os seus
próprios bens (1678º-a)).

j) Neste momento, Alberto encontra-se na Índia há vários meses, numa viagem de


crescimento espiritual e sem perspetivas de voltar. Antes de partir, outorgou poderes de
representação, em procuração, ao seu primo Guilherme, para administrar os seus bens. No
mês passado, o apartamento que Alberto herdara do tio é atingido por um incêndio o seu
prédio e fica gravemente danificado. Poderá Vitória tomar providências, face à inércia do
primo?
Resposta: Estamos perante uma questão equiparada à gestão de negócios; contudo Vitória
não tem poderes e não pode atuar como cônjuge administradora pois Alberto passou uma
procuração ao primo passando-lhe a ele poderes (alínea f). Pode sim atuar como cônjuge não
administradora face ao perigo iminente (1679º).

2. Perpétua e Ricardo são casados um com o outro desde 2002 em comunhão de adquiridos.
São ambos licenciados em Farmácia e exercem funções na farmácia “Oliveira & filhos”, que
Ricardo recebeu de legado, por efeitos da morte da sua tia-avó farmacêutica, ocorrida em
2000.

a) Ricardo, em resultado do seu vício do jogo, acumulou dívidas no montante de 100.000€ e


tem sido pressionado, por um dos principais credores, a constituir hipoteca (garantia real)
sobre a farmácia “Oliveira & filhos”. Explicite se essa pretensão é admissível à luz do direito
vigente, indicando as disposições legais correspondentes.
Resposta: A farmácia constitui bem próprio de Ricardo (1722º-a)), ou seja, é o próprio que a
administra (1678º nº1). Contudo isso nada importa no caso em apreço, pois o art. 1682º-A
nº1-b) expressa a regra especial para atos de administração extraordinária que está sujeita ao
consentimento do cônjuge (Perpétua), para além disso os frutos de bem próprio são
considerados bens comuns nos termos do 1728º nº1, 1722º nº2 e 1722º nº1-c); se esse
consentimento não for obtido e proceder a esse negócio, o ato é anulável nos termos do
1687º.

b) Quem é responsável pelo pagamento da dívida contraída por Ricardo? Fundamente


normativamente a sua resposta.
Resposta: Por princípio cada um tem a responsabilidade pelas dívidas que contrai (1690º nº1
e 2), exceto disposição legal em contrário como o 1691º, 1693º e 1694º; contudo não estamos
perante esses casos.
Assim, e à luz do 1692º-a) a responsabilidade é exclusiva do Ricardo, e este responde
com os seus bens próprios e, subsidiariamente com os seus bens mencionados no nº2 do
1696º. Pode ainda, subsidiariamente responder com bens comuns, sabendo que quando isso
acontecer deve compensar com o valor utilizado (1697º nº2).
Ilegitimidades matrimoniais

1. Ana e Carlos contraíram casamento civil em 1 de setembro de 2007, sem convenção


antenupcial.
Em 2008, Ana herdou, entre outros bens, uma televisão, que colocou na sala de estar
da residência do casal, e um automóvel que passou a ser utilizado por Carlos na sua atividade
profissional.
Em 2009, Ana adquiriu, com dinheiro da herança, uma casa de praia. Carlos é médico e
aufere, em média um rendimento mensal de 5.000€.
Em junho de 2009, Carlos vendeu o automóvel sem o consentimento de Ana, com o
pretexto de comprar um modelo mais recente.
Em março de 2010, Ana vendeu aa televisão a fim de adquirir um modelo mais
sofisticado.
No mês seguinte, decidiu fazer obras de reparação na residência do casal, às quais
Carlos se opôs.
Este verão, Ana quer emprestar a casa de praia a um casal amigo. No entanto, Carlos
alega que tal ato necessita do seu consentimento.
Quid Iuris?
Resposta:

2. João e Marta casaram entre si em junho de 1970, sem convenção antenupcial. No


corrente ano, João praticou os seguintes atos sem o consentimento de Marta:
a) Vendeu o apartamento que tinha comprado com o dinheiro que trouxe para o
casamento;
b) Repudiou a herança que o tio lhe deixara.
Poderá Marta reagir contra estes atos?
Resposta:
Outros casos práticos

1. Joacine e André conhecem-se no primeiro dia do seu novo emprego. Apesar de


pouco terem em comum, apaixonam-se e decidem casar. Ambos jovens e sem filhos,
idealistas, convencionaram a comunhão geral.

- Tendo em conta que não se verifica nenhuma das circunstâncias previstas no 1720º ou no
1699º nº2, os nubentes podem a respeito do regime de bens convencionar o que lhes
aprouver, nos termos do 1698º.

- No regime da comunhão geral, é bem comum tudo o que seja por lei considerado
incomunicável, como é o caso das doações entre casados e dos bens referidos no 1733º.

Fazem uma dispendiosa festa de casamento – civil – com 500 convidados e uma banda
famosa.

- O casamento em Portugal pode ser católico, civil ou sob outra forma religiosa.

Antes de casar, André tinha uma cadelinha de estimação, mas é Joacine quem passa a
cuidar do animal.

- Este bem é incomunicável nos termos do 1733º.

André, benfiquista de gema, gasta boa parte do ordenado em bilhetes e viagens para
acompanhar o seu clube e é Joacine quem tem de sustentar as despesas da casa. Joacine não
está contente com este estado de coisas e quer obrigar André a pagar algumas despesas, mas
André insiste que faz dos seus rendimentos o que bem lhe apetecer.

- O ordenado é bem comum do casal, mas é de fato administrado por André nos termos do
1678º nº2-a). Ainda assim, André não cumpre o dever de contribuir para os encargos da vida
familiar; assim Joacine pode lançar mão do mecanismo previsto no 1676º nº4, ou seja, pode
exigir que lhe seja diretamente entregue a parte dos rendimentos que o tribunal fixar.

André era dono de uma bela vivenda na Amadora, avaliada em 300.000€, para onde o
casal vai viver.

- A vivenda comunica-se, por força do regime de bens, mas é André quem administra, ainda
que as limitações decorrentes de ser um bem imóvel, por um lado, e de ser a casa de moradia
da família, por outro.

Joacine decide converter a garagem numa sala de reuniões para um novo partido
político que resolve fundar.

- Trata-se de um ato de administração extraordinário relativo a um bem que é comum do


casal, mas que é administrado por André nos termos do 1678º nº2-c), pelo que se trata de
uma ilegitimidade conjugal, cuja consequência é a anulabilidade nos termos e prazos do 1687º.

Não paga as obras que o empreiteiro quer agora cobrar de ambos e começa por
penhorar o ordenado de Joacine.

- Sendo que qualquer um dos cônjuges pode contrair dividas sem o consentimento do outro;
por estas dívidas responde esse cônjuge com os seus bens próprios e com os bens que
administra como próprios nos termos dos 1678º nº2-a),b) e c), e 1696º, e subsidiariamente, os
restantes bens comuns do casal; sendo o ordenado de Joacine um dos bens comuns que ela
administra exclusivamente, responde em primeira linha por esta dívida. Para que o
empreiteiro pudesse responsabilizar ambos pela dívida teria de alegar – e provar – alguma das
circunstâncias previstas no 1691º nº1-b) e c).

André ficou sem carta numa noite de copos e agora só anda de Uber, pelo que é
Joacine quem passa a utilizar o BMW que era dele em solteiro para ir trabalhar.

- A administração deste bem comum passa de André para Joacine (1678º nº2-c), e)).

Joacine acha o carro demasiado vistoso e gastador; um belo dia, sem dizer nada a
André, vende-o por 10.000€ e compra com esse dinheiro duas bicicletas elétricas.

- Joacine poderia fazer isto atendendo a que tinha a administração ordinária e extraordinária
deste bem comum do casal, nos termos supra expostos conjugados com o 1682º nº2.

- Contudo não tinha a administração exclusiva do produto da venda, pelo que a aquisição pode
consubstanciar uma ilegitimidade conjugal.

- As bicicletas adquiridas são, obviamente bem comum do casal.

A mãe de Joacine doa-lhe dois apartamentos, no valor de 100.000€ cada, mas como
detesta André, impõe uma cláusula de incomunicabilidade. Joacine, sem nada dizer a André,
arrenda um deles por 500.000€, mas empresta o outro por uns meses a uma família de
refugiados sírios.

- Estes apartamentos são, portanto, incomunicáveis nos termos do 1733º nº1-a).

- Apesar de serem administrados por Joacine, na medida em que são bens próprios, atendendo
a que o regime é o de comunhão, o arrendamento, no primeiro caso, e a constituição dos
direitos pessoais de gozo resultantes do comodato, no segundo, carecem do consentimento de
André – 1682º-A.

O casal não pagou as despesas da festa de casamento; os credores querem exigir de


ambos o pagamento desta dívida e penhoram um dos apartamentos de Joacine. Joacine não se
conforma.

- As dívidas contraídas pelos dois cônjuges são comuns, mesmo quando contraídas antes da
celebração do casamento.

- O apartamento de Joacine, sendo bem próprio, só subsidiariamente responde pelas dívidas


comuns.
Exames
Exame Época Normal 2012/2013

I
Distinga o regime de comunhão geral do regime de comunhão de adquiridos.

Resposta:

II [não sai]
Diga quais os modos de estabelecimento da paternidade admitidos no nosso ordenamento
jurídico.

Resposta:

III [não sai]


Ana e Bernardo casaram catolicamente em fevereiro de 1986, e são pais de Tiago, de
20 anos, e de Sara, de 10 anos. No passado mês de julho, Bernardo deixou a casa de morada
de família e foi viver com Catarina, com quem mantinha uma relação amorosa estável há cerca
de um ano.

1. Tendo em consideração os fatos descritos:

a) Bernardo poderá pôr termo ao casamento? Por que via? Com que fundamento?

Resposta:

b) Após o divórcio, como serão exercidas as responsabilidades parentais sobre Sara?

Resposta:

2. Suponha agora que Ana e Bernardo já se encontram divorciados desde dezembro de


2012, e que, no corrente mês de janeiro de 2013, Bernardo vem a falecer.

a) Catarina beneficia da proteção concedida pela Lei 7/2001, de 11 de maio, nomeadamente


quanto à casa de morada comum, ou quanto à pensão de sobrevivência?

Resposta:

b) E como se realizará a partilha da herança de Bernardo? Tenha em conta que:


- Bernardo deixou, à data da morte, um depósito bancário de 60.000€;
- Bernardo havia doado a Tiago, há cerca de dois anos, um apartamento no valor de 60.000€;
- Tiago faleceu há 3 meses, vítima de acidente de viação, deixando dois filhos (Gustavo e
Helena).
Resposta:
Exame Época Recurso 2012/2013

I [não sai]
Pronuncie-se sobre quais as dívidas da responsabilidade de um dos cônjuges e quais as da
responsabilidade de ambos os cônjuges, e sobre os bens que respondem por umas e por
outras.

Resposta:

II [não sai]
Pronuncie-se sobre os modos de estabelecimento da maternidade admitidos no nosso
ordenamento jurídico.

Resposta:

III [não sai]


João e Luísa casaram em janeiro de 2000, no regime de comunhão geral. Em abril de
2011, João foi condenado a 5 anos de prisão por tráfico de estupefacientes. Hoje (fevereiro de
2013), Luísa ficou profundamente afetada (e envergonhada) com a descoberta da atividade
criminosa do marido e a sua condenação, mas que, apesar disso, sempre o visitou na prisão de
forma regular, pretende divorciar-se. Tendo em consideração os fatos descritos.

a) Luísa poderá pôr termo ao casamento? Por que via? Com que fundamento (s)?

Resposta:

b) Em caso de divórcio, como será feita a partilha? Tenha em conta que o património dos
cônjuges era apenas constituído por um apartamento no valor de 100.000€, que João já tinha
quando casou, e por um pequeno estabelecimento comercial, avaliado em 50.000€,
recentemente herdado por João de um seu tio.

Resposta:

IV
Mário, de 55 anos, e Natércia, 10 anos mais nova, vivem juntos há algum tempo. Mário
encontra-se gravemente doente; e, como o seu estado de saúde se agravou subitamente, ele e
Natércia decidem celebrar prontamente, em sua casa, uma cerimónia de casamento, sem a
presença de qualquer conservador do registo civil (até porque não há tempo de organizar
nada), mas chamando alguns amigos para a testemunhar.

a) Qual o valor deste casamento?


Resposta:

b) Mário faleceu uns dias após o casamento. Além da sua mulher (Natércia), deixou quatro
filhos de um anterior casamento (Orlando, Paula, Quirino e Sónia), e tem ainda a mãe viva
(Teresa). Deixou um terreno no valor de 140.000€ e um depósito bancário de 100.000€ -
depósito que deixou, em testamento, a uma “Associação de Bombeiros” local. Como deve
realizar-se a partilha? [não sai]

Resposta:
Exame Época Normal 2013/2014

I
Pronuncie-se sucintamente sobre os seguintes pontos:
a) Distinga impedimento dirimente de impedimento impediente
b) Em que consiste a presunção (de paternidade) “pater is est”?
c) O que é o casamento civil sob forma religiosa?
d) Distinga herança de legado
e) Defina “ilegitimidade conjugal”
f) Em que consiste a separação de pessoas e bens?

II
Daniel e Estrela casaram em agosto de 2013, no regime de comunhão geral. Hoje
(fevereiro de 2014), apesar do seu bom relacionamento, pretendem divorciar-se. Já acordaram
que será Estrela que ficará com o filho do casal (Francisco, nascido em outubro de 2013); mas
não estão de acordo sobre quem ficará a morar no apartamento onde viviam (que era
propriedade comum de ambos). Tendo em consideração os fatos descritos:

a) Poderão Daniel e Estrela pôr termo ao casamento? Por que via?


Resposta:

b) Em caso de divórcio, quem tomará as decisões relativas a Francisco?


Resposta:

c) Ainda em caso de divórcio, como será feita a partilha? Tenha em conta que o património dos
cônjuges era apenas constituído por um apartamento no valor de 100.000€, que Daniel já
tinha quando casou, e por um terreno agrícola, avaliado em 50.000€, comprado por Daniel há
2 meses.
Resposta:

III
Gonçalo e Helena vivem juntos há cerca de 20 anos em condições análogas às dos
cônjuges, mas não são casados. Gonçalo, que tem 60 anos, acaba de falecer.

a) Helena tem 65 anos, e nunca trabalhou nem tem sequer formação profissional. Por outro
lado, o apartamento onde viviam pertencia a Gonçalo. Agora que Gonçalo morreu, poderá
Helena passar a receber uma qualquer quantia mensal? E poderá continuar a viver no
apartamento?
Resposta:

b) Suponha que Gonçalo teve dois filhos (Inácio e João) de um anterior casamento. Inácio já
faleceu, tendo uma filha (Luísa); e João (que tem dois filhos, Maria e Nuno) estava de relações
cortadas com o pai, pelo que decide repudiar a herança deste. Gonçalo, deixou, além do
apartamento (que vale 70.000€), um depósito bancário de 20.000€. E tinha doado a Inácio, há
15 anos, uma vivenda no valor de 180.000€. Supondo que não fez testamento, como se fará a
partilha da herança de Gonçalo?
Resposta:
Exame Época Recurso 2013/2014

I
Pronuncie-se sucintamente sobre os seguintes pontos:
a) Distinga parentesco na linha colateral de afinidade
b) Em que consiste a ação de investigação da paternidade?
c) O que é o casamento urgente?
d) Em que consiste o impedimento de prazo internupcial?
e) Defina “liberalidade inoficiosa”
f) Em que consiste o princípio da imutabilidade do regime de bens?

II [não sai]
Luís e Joana casaram civilmente em 2000.
Em outubro de 2011, Luís sofreu um gravíssimo acidente de viação, permanecendo até
hoje no hospital.
Joana tem vindo a deslocar-se ao hospital, visitando regularmente o seu marido
enquanto dura o internamento.

a) Hoje (fevereiro de 2014), em face do prolongamento do estado do marido, Joana já desistiu


de esperar pela sua recuperação, e quer divorciar-se dele. Pode fazê-lo?
Resposta:

b) Suponha agora que, em março de 2013, Joana conheceu Mário, com quem passou a viver
em comunhão de leito, mesa e habitação, desde essa data. Poderá Joana pôr hoje termo ao
casamento?
Resposta:

c) Suponha que o acidente fora causado por uma manobra perigosa efetuada por Luís, tendo
resultado do acidente ferimentos graves num outro condutor, Nuno, e danos avultados no
veículo deste. A dívida desta indemnização é da responsabilidade exclusiva de Luís ou é da
responsabilidade comum de Luís e Joana? E que bens respondem por essa dívida?
Resposta:

III [não sai]


Patrícia engravidou aos 15 anos de idade. Com medo de enfrentar a reprovação social
dos vizinhos e amigos, combinou com Rita, sua irmã mais velha, também solteira, que seria
esta última a assumir a maternidade da criança que viesse a nascer.
Tiago nasceu em novembro de 2008. E, conforme o combinado, Rita dirigiu-se à
Conservatória do Registo Civil onde declarou, primeiro, o nascimento de Tiago e, em seguida,
se declarou como sua mãe.
Patrícia e Rita acordaram guardar segredo acerca da maternidade biológica do menino.
Quatro anos mais tarde, Patrícia casou-se com Vasco, pai biológico de Tiago, e, arrependida de
não ter assumido a maternidade jurídica de Tiago, quer, hoje (fevereiro de 2014), ser
reconhecida como mãe da criança.

a) Como a aconselharia?
Resposta:

b) Suponha agora que António, o avô paterno de Patrícia e Rita, acaba de falecer. Além das
duas netas (filhas de Bento, falecido há já alguns anos), tinha a sua mulher (Carla, agora viúva)
e três filhos vivos (Eduardo, Felismina e Graça). Sabendo-se que António deixou bens no valor
de 160.000€ e não fez testamento, como deve fazer-se a partilha?
Resposta:
Exame Época Normal 2014/2015

I
Pronuncie-se sucintamente sobre os seguintes pontos:
a) Defina afinidade na linha reta
b) O que é o casamento civil celebrado sob forma religiosa?
c) Distinga entre ilegitimidade conjugal e incapacidade nupcial
d) O que é a conversão da separação de pessoas e bens em divórcio?
e) Distinga entre impugnação da perfilhação e anulação de perfilhação
f) Defina responsabilidades parentais

II [não sai]
Marta e Nuno casaram catolicamente em 2000, sem convenção antenupcial.
Em setembro de 2013, na sequência de vários desentendimentos, decidiram passar a
residir em locais separados (para “repensar o seu casamento”). Em março de 2014, numa
tentativa de “salvar” o casamento, voltaram a viver juntos. Mas, como se foi agravando o
relacionamento entre os dois, voltaram a separar-se em novembro.

a) Hoje (junho de 2015) Nuno pretende divorciar-se – mas Marta não está de acordo. Poderá
Nuno pôr termo ao casamento?
Resposta:

b) Suponha agora que ambos estão de acordo em divorciar-se. Mas não chegaram a acordo
nem quanto a saber quem fica com o filho do casal (Pedro, de 11 anos), nem sobre quem fica a
morar no apartamento em que tinham vivido. Podem divorciar-se? Como?
Resposta:

c) Havendo divórcio, como se fará a partilha? Tenha em conta que o património dos cônjuges
era constituído por um apartamento que Nuno já tinha quando casou, e por uma pequena
quinta comprada em 2012 por Nuno com o dinheiro dos seus salários.
Resposta:

d) Suponha ainda que, decretado o divórcio, Marta vem a casar de novo (agora civilmente)
com Rui 3 meses depois. Qual o valor deste casamento?
Resposta?

e) E se, celebrado o casamento com Rui, Marta vier a ter um filho (Tiago) 6 meses depois,
como se estabelece a paternidade de Tiago?
Resposta:
Exame Época Recurso 2014/2015

I
Pronuncie-se sucintamente sobre os seguintes pontos:
a) Defina afinidade na linha colateral
b) O que é a união de fato?
c) Distinga entre procuração para casamento e consentimento do cônjuge (para celebração de
um contrato)
d) O que é a reconciliação dos cônjuges separados de pessoas e bens?
e) Distinga entre impugnação da perfilhação e impugnação da paternidade assumida
f) Defina inibição das responsabilidades parentais

II [não sai]
Ana e Bernardo casaram catolicamente em 2001, no regime de comunhão geral.
Em outubro de 2014, como o convívio entre eles já se encontrava deteriorado (ambos
mantinham, aliás, já há algum tempo, relacionamentos íntimos com outras pessoas), decidiram
passar a residir em locais separados. E, pouco tempo depois, passaram os dois a viver com os
seus novos companheiros.

a) Hoje (julho de 2015) Bernardo pretende divorciar-se – mas Ana não está de acordo. Poderá
Bernardo pôr termo ao casamento?
Resposta:

b) Suponha agora que ambos estão de acordo em divorciar-se. Mas não chegaram a acordo
nem quanto a saber quem fica com o filho do casal (Carlos, de 10 anos), nem sobre como
partilhar o património do casal. Podem divorciar-se? Como?
Resposta:

c) Havendo divórcio, como se fará a partilha? Tenha em conta que o património dos cônjuges
era constituído por um terreno que Bernardo herdou em 2005, e por um pequeno
apartamento comprado em 2012 por Bernardo com o dinheiro dos seus salários.
Resposta:

d) Suponha ainda que, ainda antes decretado o divórcio – mas após o requerimento de
divórcio –, Bernardo vem a casar de novo (agora civilmente) com Daniel. Qual o valor deste
casamento?
Resposta:

e) E se, 6 meses após o divórcio, Ana vier a ter um filho (Eduardo) que é efetivamente filho
biológico do seu atual companheiro (Francisco), como poderá ser estabelecida a paternidade
por forma a coincidir com a paternidade biológica?
Resposta:
Exame Época Especial 2014/2015

I
Pronuncie-se sucintamente sobre os seguintes pontos:
a) Defina afinidade na linha colateral
b) O que é o casamento civil celebrado sob forma religiosa?
c) Distinga entre procuração para casamento e consentimento do cônjuge (para a celebração
de um contrato)
d) O que é a conversão da separação de pessoas e bens em divórcio?
e) Distinga entre impugnação da perfilhação e impugnação da paternidade presumida
f) Defina responsabilidades parentais

II [não sai]
Joana e Luís casaram catolicamente em 2001, no regime de comunhão geral.
Em dezembro de 2014, como o convívio entre eles já se encontrava muito deteriorado
(ambos mantinham, aliás, já há algum tempo, relacionamentos íntimos com outras pessoas),
decidiram passar a residir em locais separados. E, pouco tempo depois, passaram os dois a
viver com os seus novos companheiros.

a) Hoje (setembro de 2015) Luís pretende divorciar-se – mas Joana não está de acordo. Poderá
Luís pôr termo ao casamento?
Resposta:

b) Suponha agora que ambos estão de acordo em divorciar-se. Mas não chegaram a acordo
nem quanto a saber quem fica com o filho do casal (Manuel, de 10 anos), nem sobre como
partilhar o património do casal. Podem divorciar-se? Como?
Resposta:

c) Havendo divórcio, como se fará a partilha? Tenha em conta que o património dos cônjuges
era constituído por um apartamento que Luís já tinha quando casou, e por uma pequena
quinta comprada em 2012 por Luís com o dinheiro dos seus salários.
Resposta:

d) Suponha ainda que, ainda antes decretado o divórcio – mas após o requerimento de
divórcio –, Luís vem a casar de novo (agora civilmente) com Nuno. Qual o valor deste
casamento?
Resposta:

e) E se, 6 meses após o divórcio, Joana vier a ter um filho (Pedro) que é efetivamente filho
biológico do seu atual companheiro (Rui), como poderá ser estabelecida a paternidade por
forma a coincidir com a paternidade biológica?
Resposta:

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