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DIREITO DA FAMÍLIA
2022/2023
Matilde Diogo Alves
Relações Jurídico-Familiares
As fontes das relações jurídico-familiares encontram-se previstas no artigo 1576.º,
segundo o qual são fontes das relações jurídico-familiares o casamento, o parentesco, a
afinidade e a adoção. Uma crítica a esta conceção é que é certo que o casamento e a
adoção são atos jurídicos e, por isso, efetivas fontes de relações jurídico-familiares, mas
o parentesco e a afinidade são verdadeiras e efetivas relações jurídico-familiares efetivas.
A noção de fonte de relações jurídico-familiares prende-se com ser algo que gera deveres
e obrigações. Ainda que o casamento e a adoção sejam constituídas por contrato e
sentença judicial, respetivamente, e criem direitos e obrigações, o parentesco e a afinidade
são verdadeiras relações e não fonte de relações.
O que está na base do parentesco é uma relação de consanguinidade – verdadeira relação
jurídico-familiar, não uma fonte. O mesmo sucede com a afinidade, relação que tem na
base o casamento e o parentesco – relação entre cônjuge e os parentes do outro cônjuge.
Assim, só o casamento e a adoção são verdadeiras fontes.
O casamento dá origem a uma relação jurídica matrimonial, que consiste na relação que
liga duas pessoas que pretendem ter uma plena comunhão de vida entre si, de forma
perpétua, ao abrigo do artigo 1577.º. Distingue-se das demais relações jurídicas, já que
estas ligam várias pessoas em simultâneo.
O parentesco é uma relação jurídico-familiar estabelecida através de laços de sangue,
seja porque descendem uma da outra, seja porque descendem de um progenitor comum
(1578.º). O parentesco determina-se pelas gerações que vinculam os parentes um ao
outro: cada geração forma um grau e a série de graus constitui a linha de parentesco –
artigo 1579.º do Código Civil:
• Parentes em linha reta: Casos de pessoas que sejam descendentes uma da outra.
A linha reta pode ser descendente ou ascendente, em função da posição em que
nos colocamos para contar (1580.º/2);
• Parentes em linha colateral: Quando os parentes não são descendentes, mas têm
um progenitor comum.
Na linha reta há tantos graus quantas pessoas que formam a linha de parentesco, excluindo
o progenitor – artigo 1581.º. Na linha colateral, os graus contam-se pela mesma forma,
subindo por um dos ramos e descendo por outro, mas sem contar o progenitor comum.
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Os efeitos do parentesco produzem-se em qualquer grau na linha reta até ao sexo grau da
linha colateral – artigo 1582.º, limites do parentesco. Nota: Excetua-se o direito de
representação no âmbito sucessório (2042.º).
Efeitos do Parentesco:
• Efeitos sucessórios: Os parentes podem ser sucessores uns dos outros, seja na
sucessão legítima, seja na sucessão legitimária – herdeiros obrigatórios, que não
podem ser afastados pelo autor da sucessão. A respeito da sucessão legítima, as
primeiras três classes de sucessíveis na ordem correspondem aos descendentes,
ascendentes, irmãos e seus descendentes e outros colaterais até ao 4.º grau;
• Direito a Alimentos (art. 2009.º): Encontramos relações de parentesco nas alíneas
b) a e), tratando-se este de um direito economicamente relevante no quadro da
família familiar. O direito a alimentos é um direito que um sujeito recebe por dele
carecer para substituir e porque o obrigado a prestar tem condições económicas
para o prestar (alimentos = habitação, comida, vestuário, educação, etc.) e implica
a necessidade do beneficiário e a capacidade económica do obrigado;
• Impedimentos Matrimoniais: De acordo com o artigo 1600.º, estão impedidos
parentes em linha reta e parentes em segundo grau da linha colateral (irmãos).
A afinidade é o vínculo que liga cada um dos cônjuges aos parentes do outro, de acordo
com o artigo 1584.º do Código Civil. A fonte da afinidade é, assim, o casamento.
A relação de afinidade não cessa com a dissolução do casamento por mote (art. 1585.º),
mas cessa com o divórcio: nas palavras do professor Guilherme de Oliveira, a cessação
justifica-se, pois, “na generalidade dos casos, as relações de afinidade deixam de ter
relevância social, mal se justificando, por isso, que mantenham a sua relevância jurídica”.
O cômputo dos graus, em sede de afinidade, faz-se da mesma forma que no parentesco.
Efeitos da Afinidade:
A adoção tem uma relação em tudo semelhante à filiação natural, sem que se verifiquem
laços de sangue entre adotado e adotante, estendendo-se, de seguida, aos demais membros
da família. Será o parentesco uma consequência da adoção?
De acordo com a professora Madalena, o parentesco não é apenas um vínculo biológico,
mas um vínculo que une a descendência. A lei não refere a consanguinidade como
requisito e, por isso, a professora entende que de tal não se tratará. Pela interpretação do
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artigo 1578.º e 1986.º, defende que a adoção forma parentesco: tem como fonte a sentença
judicial que decreta a adoção, mas não deixa de ser parentesco. Para além disso, como
seria admissível argumentar no sentido de existir um impedimento matrimonial para
pessoas que crescem como irmãos se não se estabelecesse o parentesco?
A professora Rossana Martinho Cruz considera que o casamento não se confunde com a
afinidade ou a adoção. Entende que a adoção também é fonte de relação jurídico-familiar
e, por isso, apesar da equiparação que existe entre a filiação por parentesco e por adoção,
sem genética, defende que não existe parentesco.
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Conceções de Família
Antes, vigorava um conceito alargado de família. Hoje em dia, vigora um conceito de
família nuclear, que se mantém muito depois da maioridade. A evolução tem dado origem
ao conceito da família mosaico ou reconstituída (“os meus, os teus e os nossos”).
As famílias monoparentais podem sê-lo ab initio ou por superveniência do facto: no caso
da viuvez, p.e., uma família inicialmente nuclear passa a ser monoparental por força da
morte de uma das figuras parentais e no caso das PMA, p.e., existe uma família
monoparental ab initio.
A família está centrada no fator da intimidade, sendo visto como um centro de interesses
regulado. Fruto das Revoluções Liberais da segunda metade do século XX, o Código
Civil sofreu uma reforma muito importante, a de 1977. No plano do Direito da Família,
isto institui uma grande revolução. Os principais fatores revolucionários foram a
igualdade entre o marido e a mulher e o princípio da direção conjunta da família.
Nota: Proibição da bigamia porque se considera que o casamento é a partilha de mesa,
leito e habitação entre duas pessoas, não entre mais. Não significa isto que casamentos
polígamos admitidos ao abrigo de outras leis não possam ser reconhecidos em Portugal,
para alguns efeitos.
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o Até 1975, o casamento católico seria para toda a vida, não sendo o divórcio
admitido. Fruto da evolução operária de 25 de abril, surgiu um decreto, e
1975, onde se veio a abolir esta proibição.
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o Direito dos cônjuges a um regime igualitário (art. 36.o, n.o 3 CRP): os cônjuges
tem iguais direitos e deveres quanto à capacidade civil e política e à manutenção
e educação dos filhos.
• cada um dos cônjuges desenvolve a vida fora da família + ambos
contribuem para os encargos – não é uma lógica de igualdade estrita no
que diz respeito à contribuição financeira
• Decorrência logica do princípio da igualdade (art. 13.o CRP).
• “manutenção e educação dos filhos” – no que diz respeito ao exercício
das responsabilidades parenteais incumbem a ambos da mesma forma na
constância do casamento. exigem comum acordo por ambos – acordo este
que se presume. NAS QUESTÕES DE PARRICULAR IMPORTÂNCIA
O CONSENTIMENTO NÃO SE PREUSME (p.e. saúde – sujeição a
transfusão de sangue + viagens para o estrangeiro + educação)
• a igualdade dos pais na manutenção dos filhos é visível na ação de
impugnação da paternidade presumida (1839/1) – pode haver impugnação
pelo marido, pela mãe ou pelo filho!
o Direito dos filhos a um regime igualitário (art. 36.o, n.o 4 CRP): os filhos
nascidos fora do casamento não podem, por esse motivo, ser objeto de qualquer
discriminação.
• O artigo 123.o CRC veio permitir, posteriormente à entrada em vigor da
Constituição, a eliminação das certidões de registo de todas os elementos
discriminatórios
• O tratamento igualitário tem igualmente implicações do ponto de vista
sucessório.
o Direito de pedir o divórcio (art. 36.o, n.o 2 CRP in fine): este direito é
reconhecido independentemente da natureza do casamento (civil ou católico);
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o Direito de inseparabilidade dos filhos junto dos pais (art. 36.o, n.o 6 CRP): os
filhos não podem ser separados dos pais, salvo quando estes não cumpram os seus
deveres fundamentais para com eles e sempre mediante decisão judicial
• o lugar natural e próprio das crianças é com os seus pais e só em situações
excecionais e graves podem ser afastadas dos seus pais (quando
ponham as crianças em perigo e valores fundamentais como o livre
desenvolvimento, integridade física e moral + saúde)
• podem gerar inibições de exercício de responsabilidades parentais
• no limite – processo de adoção ou apadrinhamento civil
O artigo 36.o CRP deverá ser conjugado com o artigo 67.o CRP, que consagra a proteção
da família enquanto grupo de pessoas pelo legislador; com o artigo 68.o CRP, que
consagra a proteção da paternidade; e com o artigo 69.o CRP, consagrando a proteção das
crianças da sociedade e do Estado, com vista ao seu desenvolvimento integral. o artigo
67º e seguintes não gozam da mesma força jurídica.
Professora considera que estes deveres podem ser reduzidos a 3 porque não concorda que
a família tenha de ter filhos, sobretudo a família assente no casamento.
D OUTRINA
o Rita Lobo Xavier: “a família entrou na CRP para que a CRP entrasse na família”
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NOTAS:
o o fator do desejo de perpetuar cadeia de DNA própria deve ser tida em conta no
que diz respeito ao direito da família – é diferente adotar e reproduzir (mesmo que
PMA)
o refere-se numa lei “dignidade humana” e não “dignidade da pessoa humana” para
acautelar os nascituros
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RELAÇÃO MATRIMONIAL
Constituição da Relação Matrimonial
Conceito e Caracteres Gerais do Casamento
O Código Civil consagra uma definição de casamento, o que constitui uma inovação face
aos outros sistemas, onde não surge definido o casamento. De acordo com o artigo 1577.º,
o casamento é o contrato celebrado entre duas pessoas que pretendem constituir família
mediante uma plena comunhão de vida, nos termos das disposições do Código Civil.
A plena comunhão de vida concretiza-se nos deveres conjugais, quando praticados em
igualdade. A plena comunhão de vida já não se entende como procriação, já não se
tratando este de um fim essencial, nem sequer entrando na definição de casamento civil.
Ainda assim, quando são tratadas questões como a proteção da família e da casa de
morada da família, surgem referidos, desde logo, o valor e os direitos dos “filhos” – assim,
a família com filhos é o paradigma. No casamento canónico, ainda que não seja um
requisito, é dada maior relevância ao intuito de procriação.
Assim, este conceito é entendido como um interesse fundamental de vinculação dos
cônjuges a um conjunto de deveres emergentes da exclusividade e da tendencial
perpetuidade do casamento. Surgem, assim, deveres pessoais aos quais estão as pessoas
vinculares: respeito, fidelidade, cooperação, coabitação e assistência, de acordo com o
artigo 1672.º do Código Civil.
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Assim,
O contrato de casamento é um negócio pessoal que diz respeito às pessoas dos cônjuges,
apesar de ser admitido o casamento por procuração. É também um negócio solene, por
existir todo um formalismo que se observa para garantir que as pessoas estão convictas
quanto à sua vontade. Não é livremente dissolúvel, tendo de existir uma causa para que
haja uma dissolução do contrato:
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cônjuges. Será que podemos dizer que exerço o meu dever de fidelidade e o meu direito
de exigir fidelidade no interesse de outrem? A professora Rosa Matias entende que estão
em causa direitos subjetivos que estão subordinados à comunhão de vida existente entre
duas pessoas casadas.
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gerar direitos e deveres familiares é através dos específicos negócios ou atos familiares –
casamento, adoção, perfilhação, declaração de maternidade, etc. O objetivo é evitar que
haja interesses patrimoniais implicados.
Os direitos familiares são relativos, ou seja, só produzem efeitos entre as partes, não sendo
oponíveis erga omnes. Pese embora o facto de haver quem considera o contrário (João
Duarte Pinheiro), ao defender que o dever de fidelidade é um dever absoluto, podendo
ser oponível erga omnes.
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• Celebração de um contrato;
• Entre pessoas de sexo diferente;
• Que pretendem constituir família;
• Mediante uma plena comunhão de vida.
Para quem considera que o casamento tem como fim a procriação, não contemplar a
distinção de sexos seria uma descaracterização do instituto. De acordo com a professora
Madalena, a distinção de sexos não é um elemento essencial porque, nesse caso, pessoas
que tivessem problemas de infertilidade, que quisessem recorrer à técnicas de PMA ou
que tivesse atingido a meno ou a andropausa, não poderiam casar.
Pelo facto de esta discussão quanto às características essenciais do casamento ter existido
e nunca se ter colocado em causa o dever de fidelidade, conclui-se que a exclusividade é
uma característica fundamental.
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Realidades parafamiliares são relações que, mesmo não sendo identificadas como
familiares ou equivalentes, são similares, como, p.e., o apadrinhamento civil.
Conceito de casamento
o Casamento civil
o Casamento católico
o Casamento civil sob forma religiosa
o o casamento é um contrato pelo que exige capacidade
• enquanto estado
▪ plena comunhão de vida vai ter determinados efeitos
▪ comunhão de vida exclusiva (não se admite a poligamia) e que não
é livremente dissolúvel
• enquanto ato – acordo visto como contrato entre duas pessoas feito de
acrodo com a lei (determinações da lei) e dirigido ao estabelecimento de
uma plena comunhão de vida
▪ contrato dirigido ao estabenecido dirigido à pelna comunhão de
vida
o o que se entende por “plena comunhão de vida”
• hoje afasta-se a interpretação desta expressão no sentida da procriação
(ainda que se refira em muitas normas a proteção dos filhos, interpretando-
se antes como um interesse fundamental de vinculação dos cônjuges a um
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Casamento Civil
o pode suceder que durante a vida do casamento haja um facto que leve ao divórcio
(dissolução da vida em comum)
• ab initio, pode haver vícios como invalidade, anulação ou declaração de
nulidade
• mais tarde, pode dar-se por divórcio ou morte
• a dissolução sucede por facto durante a pendencia do casamento enquanto
as primeiras dizem respeito à génese do ato (o próprio ato)
o requisitos: consentimento e capacidade
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▪
se os nubentes mostrarem querer excluir alguns destes deveres, os
canonistas consideram que está em causa um casamento
desfigurado ou descaracterizado e por isso se trata de uma
simulação. tratando-se de uma simulação, pode ser declarado nulo
▪ se forem ambos a querer afastar, simulação na mesma
▪ quanto a este tema, se no direito civil os nubentes quiserem um
regime diferente, fazem uma reserva ao contrato e está tudo bem
o o casamento católico também tem efeitos pessoais, mas para a igreja católica são
efeitos meres civiles e por isso são regulados pela lei do estado
• a igreja só quer regular a questão da génese do contrato de casamento
(capacidade e consentimento), deixando a regulamentação dos efeitos à lei
civil
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• Alínea a): Parentes em linha reta. Ideia é proteger, razoes de ordem ética e
eugénica, e proibir o incesto. Evitar situações em que há parentes de proximidade
sanguínea tal que, em sede geracional, poderão provocar deformações congénitas
nas crianças. Por este motivo, veio-se prever como impedimento o parentesco na
linha reta e no segundo grau da linha colateral – pais quanto aos filhos, avós
quanto aos netos, etc. Apenas estes estão alicerçados em razões de ordem
eugénica, porque na afinidade já não há proximidade sanguínea, nem há relação
anterior de responsabilidades parentais.
De acordo com o artigo 1603.º, 1986.º e 1987.º, é possível fazer prova da maternidade e
paternidade ainda que esta não esteja estabelecida – é possível provar que A e B são
irmãos apesar de não terem um registo das mesmas pessoas como progenitor, p.e. A tem
no registo mãe incógnita e B pai incógnito. Aí, é possível provar que são irmãos – parentes
do segundo grau da linha colateral –, sem que se estabeleça obrigatoriamente a filiação.
A prova pode fazer-se no processo preliminar de casamento ou se o casamento já se tiver
celebrado, em ação de declaração de nulidade ou de anulação do casamento.
Podem intentar ou prosseguir na ação de anulação os cônjuges ou qualquer parente deles
na linha reta ou até ao quarto grau da linha colateral, os herdeiros adotantes dos cônjuges
e o Ministério Público – art. 1639.º, número 1. O prazo é seis meses após a dissolução do
casamento – artigo 1643.º, número 1, alínea c).
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Consequências:
O conservador do Registo Civil vai obstar, não autorizando o casamento e arquivando o
processo preliminar por falta de capacidade.
Se o conservador não detetar estes impedimentos, a consequência é a anulabilidade do
casamento – o casamento é inválido por padecer de anulabilidade (1627.º), estando o
procedimento previsto no artigo 1632.º.
Qual o fundamento para que seja aplicada a anulabilidade e não a nulidade? O
fundamento é a garantia da estabilidade do casamento – casamento será estável até haver
prova.
Quem tem legitimidade para anular? De acordo com o artigo 1639.º, têm legitimidade
para intentar a ação os cônjuges ou qualquer parente deles, na linha reta ou até ao 4.º grau
da linha colateral (irmãos, tios e primos), além do Ministério Público. Assim, exige-se a
ação de declaração, mas admite-se que o Ministério Público requeira.
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Há ainda outras pessoas que podem intentar a ação – legitimidade ativa – no que respeita
à ação de anulação: acompanhante, tutor e o primeiro cônjuge do infrator em caso de
bigamia (fazer remissão).
Os prazos para tal estão previstos no artigo 1633.º.
Os artigos relevantes são os artigos 1632.º, 1639.º e 1643.º.
• O nubente continua a ser considerado menor quanto à administração dos bens que
tenha levado para o casal ou que lhe advenham gratuitamente até à maioridade;
• A administração destes bens caberá aos pais, tutor ou administrador legal, não ao
outro cônjuge, como seria nos termos gerais (art. 1678.º, n1, alínea f)):
o Os rendimentos desses bens não respondem pelas dívidas contraídas pelos
cônjuges ou por qualquer um deles durante a menoridade;
o Dos rendimentos destes bens serão arbitrados ao menor os alimentos
necessários ao seu estado.
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Este impedimento pode ser dispensado, à luz do artigo 1609.º, número 1, alínea a). A
consequência disto é que o tio/tia não poderá receber qualquer benefício por doação ou
testamento do seu consorte, de acordo com o art. 1650.º, número 2.
Consequências:
À partida, as consequências serão as mesmas dos impedimentos dirimentes. O
conservador deverá obstar à celebração do casamento por parte dos nubentes por entender
que estes não têm capacidade – arquivo do processo por falta de capacidade matrimonial.
O casamento não será anulável, mas alvo de uma sanção pecuniária – 1649.º e 1650.º.
Os pais continuarão a administrar os bens do menor autorizado até à sua maioridade. Tem-
se entendido que isto abarca, também, situações mais gravosas de alienação e oneração
dos mesmos, por maioria de razão.
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O artigo 1649.º terá de ser compatibilizado com o artigo 133.º que diz que haverá
emancipação pelo casamento mesmos nos casos em que se casa sem autorização e sem
suprimento – regime de emancipação restrita.
Nota: Uma vez emitida a declaração de capacidade, o prazo para casar é de seis meses.
Sempre que os nubentes forem casar catolicamente ou sob forma religiosa, o conservador
vai emitir um certificado que pretende atestar que a pessoa tem capacidade e as pessoas
casam tendo em conta a existência ou inexistência de capacidade.
CONSENTIMENTO
O contrato de casamento pressupõe que haja uma vontade de cada um dos seus
contraentes, pelo que os nubentes terão de declarar pretender aquele casamento, sendo
que essa declaração de vontade, sempre que exista, presume-se validamente efetuada, à
luz do artigo 1624.º.
O casamento é um contrato solene pelas exigências de forma exigidas, mas, também, pelo
facto de estarmos perante um contrato verbal – os cônjuges terão de enunciar
determinadas palavras. Só se admite a manifestação de vontade por outra via no caso de
pessoas surdas, mudas ou surdas-mudas ou pessoas que não conheçam a língua.
• Ato pessoal (1619.º e 1620.º): Não pode haver substituição da vontade, salvo por
procuração. Cabe aos nubentes a decisão de contrair matrimónio; significa isto
que, p.e., no exercício das responsabilidades parentais, não pode o pai substituir a
vontade do filho.
o Pode haver casamento por procuração (1621.º), situação em que apenas
um dos nubentes se faz representar por procuração, sendo necessário, de
acordo com o artigo 44.º/1 do Código do Registo Civil que um deles esteja
presente;
o A procuração deve, de acordo com o art. 1620.º/2, conter a menção
especial de se dar poderes para celebração do matrimónio e a designação
expressa do outro nubente, além da referência de que casamento, com
quem e sob que modalidades;
o Surge uma grande discussão: será o procurador um núncio ou um
procurador? Limita-se a declarar ou tem poderes de decisão? Conclui-se
que é um procurador com diminutos poderes e atua de forma mais próxima
a um núncio.
• Ato atual, prestado no momento do matrimónio, aferido no momento da
cerimónia;
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• Erro
Deverá recair sobre a pessoa com quem se realiza o casamento e versar sobre uma
qualidade essencial da pessoa: qualidades naturais (físicas, morais ou intelectuais) ou
jurídicas (identidade física do cônjuge ou estado civil).
Pressuposto de erro em relação ao casamento:
1. Erro deverá cair sobre as qualidades essenciais do cônjuge;
O que são qualidades essenciais? São qualidades não transitórias e acessórias e que, em
abstrato, sejam idóneas a determinar a decisão de casar, p.e., doenças infeciosas ou
transmissíveis, deformidades físicas graves, impotência, falta de um dos membros, facto
de já ter sido declarado sobre crime infamante, profissão desonrosa ou qualidades
jurídicas como o facto da pessoa já ser casada. Será irrelevante o erro sobre parentes do
cônjuge, como, p.e., o pai ser um assassino em série.
2. O erro deverá ser próprio, segundo RM, GOM e PC
O erro não deverá incidir sobre qualquer requisito legal de existência ou validade do
casamento, como, p.e., um impedimento dirimente à celebração porque, nesse caso, a
consequência será a anulabilidade e o casamento deverá ser anulado com base nisso. A
professora Madalena entende que tal não está previsto na lei, não fazendo sentido, por
isso, que não se possa recorrer a este regime, que é diferente da anulabilidade (p.e., A é
menor de 16 anos e se B soubesse, nunca teria casado com A).
3. O erro será desculpável (desculpabilidade)
Exige isto que não se trate de um erro grosseiro – erro de que uma pessoa normal se
aperceberia. Assim, é válido o erro sobre a impotência.
4. Essencialidade objetiva e subjetiva do erro
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A circunstância sobre a qual recai o erro deve ter sido essencial para o nubente em causa
– e razoavelmente justificável em face nas circunstâncias do caso – essencialidade
objetiva – e à luz da consciência social dominante – essencialidade subjetiva.
• Legitimidade e prazo: A ação só pode ser intentada pelo cônjuge coato dentro dos
6 meses subsequentes à cessação do vício – art. 1645.º. Podem prosseguir na ação
os seus parentes, afins em linha reta, herdeiros ou adotantes, se o autor falecer na
pendência da causa – art. 1641.º;
• Sanável mediante confirmação, expressa ou tácita – art. 288.º;
• Convalidação objetiva com a caducidade do direito previsto no art. 1645.º.
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O artigo 1671.º enuncia os dois princípios fundamentais por que se rege a matéria dos
efeitos pessoais do casamento:
1. Formalidades Preliminares
A declaração tem de ter os elementos essenciais para identificação dos nubentes e ato do
casamento. Quem pretenda contrair casamento deve declará-lo pessoalmente ou por
intermédio de procurador numa conservatória de registo civil e requerer a instauração do
processo de casamento. O processo preliminar de casamento é público – a publicidade é
assegurada pelo direito à obtenção de cópia da declaração de casamento.
O funcionário do registo civil vai verificar a identidade e capacidade matrimonial dos
nubentes, podendo colher informação junto de autoridades, exigir prova testemunhar e
documental complementar e convocar os nubentes ou os seus representantes legais
quando tal se demonstrar necessário. Depois disto, profere um despacho a autorizar os
nubentes a celebrar o casamento ou a mandar arquivar o processo.
Incidentes que podem ocorrer:
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• Pode haver processo de dispensa dos impedimentos que autorizem, podendo ser
pedido em qualquer conservatória, mediante alegação dos motivos;
• Podem ser denunciados impedimentos, p.e., pelos pais ou familiares. Nesse caso,
a declaração faz com que o conservador suspenda o processo preliminar e, se o
impedimento for dispensado, prossegue o casamento; se não, este não poderá ser
celebrado.
2. Fase de Celebração
Se o parecer for favorável, o casamento deve celebrar-se dentro dos 6 meses seguintes.
Na celebração do casamento, devem estar os nubentes – podendo um deles estar
representado –, o conservador e duas testemunhas quando a identidade de um dos
nubentes ou do conservado não possa ser confirmada.
O casamento celebrado sem a presença de testemunhas, quando exigida, é anulável –
artigo 1631.º, alínea c) do Código Civil –, mas a ação de anulação só pode ser proposta
pelo Ministério Público (1642.º), dentro do ano posterior à celebração do casamento
(1646.º).
Em caso de cerimónia pública, o conservador tem de identificar os nubentes. Se o
casamento for de um menor de idade, deve-se averiguar se os pais prestam ou não
autorização. Para além disso, são interpeladas as pessoas presentes para declarem se
conhecem algum impedimento à realização do casamento (alínea c). não sendo declarado
impedimento, depois de referir os direitos e deveres dos cônjuges previstos no art. 1672.º,
pergunta a cada um dos nubentes se aceita o outro por consorte.
3. Fase de Registo
Para uma questão de prova, o registo civil é obrigatório. Esta é a única prova legalmente
admitida – sem registo de casamento, a lei não deixa que se prove o casamento de outro
modo, já que o registo faz prova plena de todos os factos aí enunciados.
O registo pode ser lavrado por meio de assento, averbamento, inscrição ou transcrição. O
casamento, enquanto não for registado, não pode ser invocado. O registo do casamento,
como qualquer outro, também pode ser declarado inexistente ou nulo, designadamente
por falsidade, podendo, também, ser cancelado.
Os efeitos do registo não se produzem só ex nunc, mas ex tunc, desde a celebração do ato.
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• Casamentos celebrados perante quem não tinha competência funcional para o ato;
• Casamentos urgentes não homologados;
• Casamentos celebrados em que falte a declaração de vontade dos nubentes ou de
um deles;
• Vícios da procuração.
Nota: Não é inexistente nem anulável o casamento celebrado perante funcionário de
facto, mas tem como consequência a nulidade do respetivo registo – art. 1629.º + 369.º/2.
Não cabe aqui o ato celebrado por um simples particular que não exerça publicamente a
função de oficial público.
A inexistência não produz efeitos, nem mesmo putativos. Pode ser invocada a todo o
tempo e por qualquer interessado, independentemente da declaração judicial – artigo
1630.º. Atenção que o registo não será inexistente, podendo ser necessária uma ação para
ilidir a prova resultante do registo.
B. Anulabilidade do Casamento – artigos 1631.º e 1632.º
De acordo com o artigo 1627.º, sempre que a lei não estabeleça anulabilidade ou
inexistência, o casamento será válido. São anuláveis:
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Casamento Putativo
Declarado nulo ou anulado o casamento, os efeitos que este produziu até à data da
declaração de nulidade ou de anulação podem manter-se quando se verifiquem certos
pressupostos; é o que se chama casamento putativo – artigo 1647.º. Assim, um casamento
putativo é um casamento que os cônjuges julgavam ter contraído validamente.
No ordenamento jurídico português, vai-se transcender este âmbito porque a presunção
pater ist est vai operar, na medida em que os filhos de casamento nulo ou anulado, mesmo
no caso de má-fé dos seus progenitores (1827.º) se presumem filhos do marido da mãe
(1826.º, número 1).
Em virtude do princípio da retroatividade da declaração de nulidade ou anulação – artigo
289.º –, a um casamento declarado nulo ou anulado não se deveriam atribuir nenhuns
efeitos. Neste caso, o casamento seria visto como união de facto e os efeitos sucessórios
os respetivos; os filhos nascidos do casamento ter-se-iam como nascidos fora dele, pelo
que não lhes aplicaria a presunção de paternidade do art. 1826.º/1; e as convenções
antinupciais, assim como as doações si nuptiae sequantur feitas pelos conjugues ou
terceiros, caducariam. Tudo isto seriam consequências desvantajosas para os filhos, para
os cônjuges e para terceiros.
Assim, em face da união conjugal que interessa à sociedade fazer cessar, basta que ela
cesse, não sendo necessário apagar os efeitos jurídicos que produziu.
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3. Boa-fé dos cônjuges ou de algum deles; esta boa-fé é necessária para que o
casamento produza efeitos em relação aos cônjuges ou efeitos favoráveis ao
cônjuge de boa-fé e, reflexamente, em relação a terceiros. A eficácia putativa em
relação aos filhos não depende da boa-fé dos cônjuges (1827.º).
A boa-fé presume-se, de acordo com o artigo 1648.º, número 3 – consiste na ignorância
desculpável do vício causador da nulidade ou anulabilidade da parte do cônjuge cujo
consentimento tenha sido extorquido por coação, devendo existir no momento da
celebração do casamento.
Nota: Uma vez declarada a nulidade do casamento católico por um tribunal eclesiástico,
regular os efeitos da nulidade e eventual aplicação do instituto do casamento putativo é
da exclusiva competência dos tribunais do estado o conhecimento judicial da boa-fé
(1648.º, número 2).
Efeitos do casamento putativo
Mantêm-se para o futuro, até à data do trânsito em julgado da sentença de anulação do
conhecimento civil – art. 1647.º, número 1 – ou até à do averbamento da sentença do
tribunal eclesiástico que declarou a nulidade do casamento católico – artigo 1647.º,
número 3 – os efeitos do casamento já produzidos, mas não se produzem novos efeitos, à
semelhança do que acontece em caso de divórcio.
De acordo com o artigo 2017.º, aplica-se mesmo que a necessidade de alimentos surja
depois da declaração de nulidade ou anulação do casamento.
• Se ambos estavam de má fé, o casamento não tem eficácia putativa entre eles.
• Em relação aos filhos, mesmo que estes tenham contraído o casamento de má-fé,
a presunção pater is est aplica-se aos filhos nascidos do casamento, nos termos do
artigo 1827.º;
• Em relação a terceiros;
o Proteção lateral e reflexa
▪ Se ambos os cônjuges estavam de boa-fé, o casamento inválido
produz todos os seus efeitos, também em relação a terceiros, até ao
trânsito em julgado da sentença de anulação (1647.º/ 1 e 3);
▪ Se só um estava de boa-fé,
• Tratando-se de relações que, estabelecendo-se entre os
próprios cônjuges, vão afetar terceiros nos seus interesses,
p.e., alienação de imóveis feita por um dos cônjuges sem o
consentimento do outro – os efeitos produzem-se ou não,
conforme sejam favoráveis ao cônjuge de boa-fé;
• Se se tratar de relações que se estabelecem diretamente
entre cada um dos cônjuges e terceiros que estejam
dependentes do estado pessoal de casado, como no caso de
uma relação de afinidade e uma doação para casamento
feita por terceiro a um dos esposados, o terceiro não merece
maior ou menor proteção consoante esteja de boa ou má-fé
o cônjuge com quem contratou e o casamento não produz
qualquer efeito.
Nota:
Fragilidade da Garantia
Antigamente, vigorava a tese da fragilidade da garantia que, hoje em dia, continua a ser
defendida por muitos autores, mas não por Rita Lobo Xavier ou RM. Atualmente, diz-se
que se pode recorrer a responsabilidade civil extraobrigacional sempre que a violação
determinasse a violação de um dever absoluto (dever de respeito). Os novos autores vêm
chamar o artigo 1792.º para defender a possibilidade de uma ação por violação de um
dever absoluto.
Nota: A doutrina tradicional defende a fragilidade da garantia porque a “responsabilidade
nos termos gerais” é entendida como responsabilidade civil extraobrigacional.
A previsão de uma obrigação de indemnizar assente nos princípios gerais da
responsabilidade civil por violação de deveres conjugais era tradicionalmente afastada no
nosso ordenamento jurídico, prevalecendo a teoria da fragilidade da garantia. Os deveres
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familiares pessoais (arts. 1672.º e ss.) não estariam sujeitos à tutela mais consistente dos
deveres jurídicos, que é a possibilidade de o credor exigir do devedor o seu cumprimento
e/ou obter deste uma indemnização – tratar-se-ia de deveres e de relações de caráter tão
íntimo e tão privado que seria impossível forçar, externamente, a sua observância. Assim,
a única possibilidade que assistia ao lesado era a dissolução do vínculo – tutela jurídica
exclusivamente familiar. Depois, a Lei n.º 61/2008 entrou em vigor e deu nova redação
ao art. 1792.º.
O cônjuge lesado pode optar por responsabilidade civil obrigacional/contratual ou
responsabilidade civil extraobrigacional. Por um lado, sempre que se verifica a violação
de um dever absoluto, tem de haver responsabilidade extraobrigacional. Estamos perante
deveres conjugais e, por isso, faz todo o sentido que se possa pedir responsabilidade
contratual, porque o casamento é um contrato. A professora Madalena defende que o
artigo 1792.º estabelece que é possível que haja responsabilidade civil extraobrigacional
ou responsabilidade civil contratual.
Entende-se que o direito a ser ressarcido pelos danos causados só pode ser efetivado uma
vez dissolvido o casamento.
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• MPA não concorda, devido à existência do artigo 1672.º, mas enuncia que, de
facto, o caráter sancionatório desapareceu;
• Francisco Pinto Coelho defende que só haverá responsabilidade se paralelamente
houver violação de um direito de personalidade do cônjuge – assim, remete para
responsabilidade civil extraobrigacional quando há violação de um direito
absoluto;
• GO defende, também, a responsabilidade civil extraobrigacional, perante a
ausência de menção expressa da lei;
• Cristina Dias enuncia que a eliminação da violação culposa dos deveres conjugais
com fundamento no divórcio não afeta a juricidade dos deveres conjugais. Assim,
a professora concorda com a ideia de que se poderá recorrer à via contratual e
conclui que, apesar da controvérsia doutrinal e da possibilidade de interpretação
restritiva, se pode recorrer às regras de responsabilidade civil contratual
independentemente da violação de outros deveres absolutos.
Verifica-se uma época de alargamento da ideia e cada vez mais autores consideram que
pode haver responsabilidade contratual.
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Para que surja a obrigação, tem sempre de ser verificado o binómio. Para se averiguar a
necessidade, atende-se à insuficiência de meios para a vida condigna. Nunca poderá ser
ultrapassado este equilíbrio entre a vantagem e o sacrifício.
A obrigação de alimentos vai, por regra, beneficiar os grupos sociais com menores
capacidades económicas.
De acordo com o artigo 2005.º, os alimentos devem ser fixados em prestações pecuniárias
mensais (2005.º/1), salvo se houver acordo ou disposição legal em contrário, ou se
ocorrem motivos que justifiquem medidas de exceção. De acordo com o número 2, se,
porém, o obrigado aos alimentos mostrar que não os pode prestar como pensão, mas tão-
só em sua casa e companhia, assim poderão ser decretados.
De acordo com o artigo 2006.º, os alimentos constituídos por facto não negocial são
devidos desde a propositura da ação ou desde o momento em que o devedor se constitui
em mora. Nos termos do artigo 2007.º, como prelimitar ou incidente, podem ser
concedidos alimentos provisórios que serão fixados segundo o arbítrio do tribunal.
Pluralidade de Vinculados – Artigo 2010.º
Sendo várias as pessoas vinculadas à prestação de alimentos, respondem todas na
proporção das suas quotas como herdeiros legítimos do alimentando. Se alguma das
pessoas assim oneradas não puder satisfazer a parte que lhe cabe, o encargo recai sobre
as restantes.
Exemplo: H tem três filhos e a cada um destes filhos incumbe a prestação de 1/3.
Imaginando que um dos filhos não tem meios económicos suficientes para satisfazer a
sua parte. Sendo a ponderação do binómio possibilidade e necessidade obrigatória, esse
obrigado não é onerado pela prestação de alimentos. Assim, os outros filhos terão de a
suportar, metade cada um.
Cada um dos deveres só responde na medida das suas possibilidades e, se todos tiverem
possibilidade, o máximo que cada um deve prestar não pode ultrapassar a sua quota como
herdeiro legítimo. Assim, não é uma obrigação solidária (512.º).
Também não é um regime de responsabilidade parciária porque cada um dos
deveres corre o risco de ter de pagar uma quota-parte superior àquela que lhe
compete como herdeiro legitimário.
Será que os alimentos são ónus da sucessão legal? Tratar-se-á a obrigação de alimentos
de uma contrapartida do direito a suceder? O prof. Guilherme de Oliveira defende que
não, já que, se é nas famílias que menos bens têm que encontramos acrescidos de sustento,
então tal não faria sentido. Cada instituto tem as suas regras e fundamentos: desde logo,
há diferença entre os sucessíveis e os obrigados a alimentos, como o ex-cônjuge, a
madrasta e o padrasto.
A obrigação de alimentos tem caráter indisponível, de acordo com o artigo 2008.º, sendo,
assim, irrenunciável, impenhorável e não sujeito a compensação ou outra forma de
disposição do crédito como doação ou cessão. Não pode ser renunciado ou cedido porque
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visa satisfazer necessidades, não estando em causa um mero interesse da parte, mas um
verdadeiro propósito público. Tem, assim, uma função assistencial.
Diz o professor Antunes Varela que temos de aplicar o artigo 738.º na sua totalidade e,
neste caso, estamos perante uma norma especial que diz que, se o crédito alimentar for
referente à subsistência ???
No âmbito do regime geral, o crédito é, na sua globalidade, impenhorável, de acordo com
o artigo 738.º, número 1 (é mesmo este o artigo?)
No âmbito do divórcio, quando existe a obrigação entre ex-cônjuges, se entendermos que
a medida dos alimentos entre ex-cônjuges pode ser um pouco mais folgada do que o
“indispensável” – art. 2003.º – para garantir um mínimo de existência condigna, então
certas restrições e proteções mencionadas talvez só mereçam aplicar-se à parte do crédito
que for estritamente indispensável a sobrevivência do credor e o excedente será
penhorável (artigo???).
Admitem-se renúncias tácitas à obrigação de alimentos, mas não futuras. Havendo
renúncia tácita, conclui-se que não há necessidade e, por isso também, não há obrigação.
no entanto, a admissão de renúncia tácita é discutível.
Se, depois de fixados os alimentos pelo tribunal ou por acordo dos interessados, as
circunstâncias determinantes da sua fixação se modificarem, podem os alimentos taxados
ser reduzidos ou aumentados, conforme os casos, ou podem outras pessoas ser obrigadas
a prestá-los – artigo 2012.º. É permitida a inserção de cláusula de atualização no acordo?
O Supremo Tribunal de Justiça determinou que não, porque o valor poderia acabar por
ser elevado acima das possibilidades do devedor. Guilherme Oliveira afirma que os
resultados injustos podem ser corrigidos por nova aplicação da cláusula entre as partes ou
em relação ao tribunal e que, por isso, isto não faz sentido.
O artigo 2013.º trata a cessação da obrigação alimentar:
• Artigo 705.º, alínea d) – Hipoteca legal: Garantia que confere ao credor o direito
de ser pago pelo valor da coisas imóveis ou equiparadas com preferência sobre os
demais credores que não tenham privilégio especial ou registo prévio;
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A separação de facto está prevista no artigo 1675.º do Código Civil e consiste numa
modificação da relação jurídica matrimonial, que se verifica mediante dois requisitos:
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vida conjugal normal. Justifica-se por manutenção da comunhão de vida em que viveram
e deve atender-se aos custos acrescidos a que o outro cônjuge também terá de ter por viver
sozinho, p.e.
Nota: Poderá o tribunal, excecionalmente e por motivos de equidade, negar os alimentos.
Divórcio
O divórcio vem extinguir a relação matrimonial, mas a relação entre os ex-cônjuges
continua a ter relevância jurídica. Assim que se dá o divórcio, extingue-se a relação
matrimonial e os direitos e deveres associados, mas exceciona a obrigação de alimentos
entre ex-cônjuges como corolário e eficácia póstuma do dever de assistência.
De acordo com o artigo 2016.º, cada cônjuge deve provar à sua subsistência depois do
divórcio, sendo este um princípio geral de autorresponsabilidade. Exceções a este
princípio atendem a uma questão de justiça e ao reconhecimento que o legislador vem
fazer da solidariedade conjugal e a sua eficácia póstuma.
Qualquer um dos cônjuges tem direito a alimentos, independentemente do tipo de
divórcio, mas, por razões manifestas de equidade, o direito a alimentos pode ser negado,
mesmo que se verifique o binómio necessidade/possibilidade – perante esta situação,
vamos averiguar quais as pessoas obrigadas a alimentos.
Se havia uma obrigação convencional, mas o obrigado, por razões de equidade, não deve
prestar, se a outra pessoa não estiver numa situação de necessidade, não há obrigação. Por
regra, as obrigações entre ex-cônjuges são convencionais, por não existir um necessitado.
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Isto é aplicável, também, ao caso de ter sido decretada a separação judicial de pessoas e
bens, à qual se pode chegar através de acordo ou não.
De acordo com o art. 2016.º - A, o alimentado não tem o direito de exigir a manutenção
do padrão de vida de que beneficiou na constância do matrimónio – critério intermédio.
Critérios para a Fixação do Montante
Os critérios para a fixação do montante são, primeiramente, a necessidade e a
possibilidade, sendo irrelevante que o casal tenha vivido muito acima deste limiar – artigo
2003.º, número 1.
Enuncia o artigo 2016.º-A, número 1, que, na fixação do montante dos alimentos, deve o
tribunal tomar em conta todas as circunstâncias que incluam sobre as necessidades do
cônjuge que recebe os alimentos e as possibilidades do que os presta; como
supramencionado, podem estes ser recusados por manifestas razões de equidade.
Menciona o artigo a “colaboração prestada à economia do casal” – E quando há excesso
manifesto de uma contribuição sobre a outra? Segundo o texto do art. 1676.º, número 2,
haverá excesso manifesto quando “um cônjuge renunciou de forma excessiva à satisfação
dos seus interesses em favor da vida em comum, designadamente à sua vida profissional,
com prejuízos patrimoniais importantes”. Haverá um crédito de compensação quando um
cônjuge excedeu manifestamente o seu investimento na vida em comum, quando
desinvestiu na sua vida pessoal em favor do casamento, mais do que seria exigível – caso
do cônjuge que não acabou os estudos, não fez cursos de formação profissional,
abandonou o emprego, etc.
Se contribuiu com muito mais do que as suas possibilidades, excedeu o seu dever de
assistência e, por isso, deverá ser-lhe aplicado o regime do enriquecimento sem causa,
tendo este direito a um valor que compense esse prejuízo e favoreça o padrão de vida que
poderia ter tido.
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• Quando o credor viole gravemente os seus deveres para com o obrigado – aqui,
não fará sentido falar de deveres conjugais, porque estes já cessaram. De acordo
com o número 2, a morte do obrigado ou a impossibilidade de este continuar a
prestar alimentos não priva o alimentado de exercer o seu direito em relação a
outros, igual ou sucessivamente onerados.
• Proventos do trabalho;
• Direitos de autor (patrimoniais porque os outros são, desde logo, incomunicáveis);
• Bens comuns que levou para o casal ou adquiriu depois do casamento a título
gratuito e dos sub-rogados em lugar deles (alínea c), p.e., um automóvel e o ato
de o levar à inspeção; parece razoável incluir os rendimentos destes bens com base
em maioria de razão quando é referido, no art. 1696.º/2/a), que manda responder
os rendimentos ao lado dos bens levados para o casal ou posteriormente
adquiridos a título gratuito, por dívidas da exclusiva responsabilidade do seu
titular;
• Bens doados ou deixados a ambos com exclusão da administração do outro; isto
é diferente de uma cláusula de incomunicabilidade: aqui, o bem até pode ser
comum, mas a única pessoa com poderes de administração será a pessoa cuja
administração não foi excluída;
• Bens móveis comuns por ele exclusivamente utilizados como instrumento de
trabalho: nestes casos, pode tomar sozinho decisões que podem ser de
administração extraordinária ou disposição, p.e., A compra um computador antes
da celebração do casamento e, depois deste, o computador é usado exclusivamente
por B – os poderes de administração são de B.
Nota: Um cônjuge não pode fazer de um bem comum um bem próprio da atividade, tal
requer acordo.
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• Todos os bens do casal ou parte deles se o outro cônjuge conferir, por mandato
revogável esse poder; norma trata só bens próprios, mas, por maioria de razão,
devem ser incluídos os bens comuns.
Não se admite a cedência por convenção, somente por mandato. Pode o mandato ser
oneroso? Por regra, pode, mas o art. 1714.º, número 2, proíbe a compra e venda entre
cônjuges e, por interpretação analógica, todos os negócios jurídicos onerosos entre
cônjuge.
Os poderes do cônjuge administrador vão para além da mera administração, como
demonstrado pelo art. 1682.º, número 2, abrangendo poderes de disposição dos móveis
comuns ou próprios do cônjuge administrador.
No que toca à responsabilidade pelo exercício da administração (????):
Quando o cônjuge tem o poder, por força da lei, de administrar bens que não são seus, o
administrador não é obrigado a prestar contas da sua administração e só responde pelos
atos intencionalmente praticados em prejuízo do casal ou do outro cônjuge, assim, com
dolo, à luz do artigo 1681.º, número 1, com o objetivo de evitar litigiosidade. No entanto,
quando se tratar de administração por mandato, não é preciso que haja dolo.
De um modo geral, pode dizer-se que o administrador de bens comuns ou de bens próprios
do outro cônjuge é obrigado a prestar contas da sua administração, por aplicação das
regras do mandato – artigo 1681.º, números 2 e 3, e artigo 1161.º, alínea d). A única
diferença que a lei estabeleceu resulta da parte final do número 2 do art. 1681.º: o
administrador só é obrigado a prestar contas e a entregar o saldo dos últimos cinco anos,
por não ter contabilidade organizada.
Assim, responde pelos atos e omissões nos termos em que um mandatário responde:
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Ilegitimidades Conjugais
Cada um dos cônjuges não pode, sem o consentimento do outro:
1. Alienar bens imóveis, próprios ou comuns – art. 1682.º/1/a)
Tem sido entendido que o contrato-promessa de alienação não carece de consentimento
de ambos os cônjuges – o contrato-promessa celebrado por um só cônjuge só o vincula a
ele e por isso o cônjuge jamais estará obrigado a ressarcir danos.
2. Oneração de bens imoveis, próprios ou comuns, através da constituição de direitos
reais de gozo ou de garantia, e ainda de dar arrendamento a esses bens ou
constituir sobre eles outros direitos pessoais de gozo – art. 1682.º-A/1/a)
Isto pode significar perda de valor do bem por restrição das faculdades do direito e a
constituição de direitos reais de garantia pode culminar com a perda do bem. Além disso,
o exercício dos direitos do arrendatário também provoca a privação das faculdades do
proprietário e direitos pessoais de gozo. O prof. Antunes Varela considera que a
estabilidade do arrendamento faz com que se justifique a sua presença na norma.
Pode haver hipoteca judicial sobre um bem próprio para garantia de pagamento de uma
dívida desse cônjuge. Também pode haver hipoteca judicial sobre bem comum, mas deve
recair sobre um dos bens comuns que respondam pela dívida ao mesmo tempo que os
bens próprios.
3. Alienar o estabelecimento comercial, próprio ou comum – art. 1682.º-A/1/b)
A circunstância de se tratar de um bem móvel podia integrá-lo no grupo de bens alienáveis
pelo cônjuge administrador, sem o consentimento do outro. Mas a sua importância é de
tal avulto que pareceu razoável exigir-se, para a sua alienação, o consentimento dos dois
cônjuges, quer o bem seja comum, quer seja próprio de algum deles.
4. Onerar ou locar o estabelecimento comercial próprio ou comum – art. 1682.º-
A/1/b)
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Pelas mesmas razões, mas fazer nota de que não se proíbe a constituição de outros direitos
pessoais sobre o estabelecimento.
5. Alienar a casa de morada de família – art. 1682.º-A/2
O fundamento disto é a defesa da estabilidade da habitação familiar no interesse dos
cônjuges e, eventualmente, dos filhos, no decurso da vida conjugal. Segundo as regras
comuns, sendo os cônjuges casados no regime de separação, o cônjuge proprietário da
casa de morada de família podia livremente vendê-la, doá-la, etc., sem o consentimento
do outro cônjuge e com prejuízo do interesse deste e, eventualmente, dos filhos.
Restringe-se isto à residência principal da família ou, também, à habitação secundária? A
defesa do quadro de vida da família contra a decisão unilateral de um dos cônjuges levará
a estender o regime à residência secundária que o agregado utilize regularmente.
Por outro lado, a natureza de restrição do direito comum e das faculdades normais do
proprietário que este este regime significa, pode levar a reduzi-lo ao mínimo, isto é, a
aplicá-lo apenas à residência principal da família.
Deverá entender-se que a “casa de morada de família” manterá esta qualificação se for e
enquanto for “residência de família”, fixada nos termos do art. 1673.º. Só o deixará de ser
se os cônjuges acordarem, expressa ou tacitamente, na alteração da sua residência ou se
o tribunal fixar uma nova residência a requerimento de algum. Também deixará de existir
casa de morada da família, manifestamente, se os cônjuges resolverem separar-se e
abandonarem um e outro a casa onde moravam. Também é óbvio o desaparecimento da
casa de família na hipótese de separação de pessoas e bens.
Se houver separação de facto, se um dos cônjuges reside na casa, o direito de habitação
continua a ser seu.
6. Onerar a casa de família através da constituição de direitos reais de gozo ou de
garantia e ainda a dar de arrendamento ou constituir sobre ela outros direitos
pessoais de gozo;
A casa de família não está protegida contra penhora e grande influência do direito
constitucional à habitação – art. 65.º da Constituição.
7. Dispor do direito ao arrendamento da casa de morada de família – artigo 1682.º-
B
Assim, não é livre o ato individual de resolução ou denúncia, de revogação por mútuo
consentimento, de cessação da posição de arrendatário, de subarrendamento ou
empréstimo.
8. Alienar os móveis, próprios ou comuns, utilizados conjuntamente pelos cônjuges
na vida do lar – artigo 1682.º, número 3, alínea a)
Tanto a utilização indispensável como a útil ou supérflua é proibida. O conceito de recheio
da casa está previsto no art. 2103.º e pretende proteger a integridade do recheio.
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Nota: A menção à utilização conjunta por ambos os cônjuges não pretendeu, certamente,
excluir os bens móveis utilizados exclusivamente pelos filhos ou por outros familiares
que os cônjuges tenham a seu cargo – camas, mesas de estudo, etc. Não tem de estar em
causa, também, uma utilização estritamente conjunta. Importa somente que esses bens
pertençam ao quadro normal da vida familiar.
9. Alienar os móveis, próprios ou comuns, utilizados conjuntamente pelos cônjuges
como instrumento comum de trabalho – artigo 1682.º, número 3, alínea a)
No entendimento dos profs. Antunes Varela e Pires de Lima, deixa de existir razão para
aplicação desta norma quando os bens se inutilizarem e deixarem de ser aptos para o fim
ao qual se destinavam.
10. Alienar os seus bens móveis e os bens imóveis comuns, se não for ele a
administrá-los – art. 1682.º, números 2 e 3, alínea b)
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O suprimento do consentimento não serve quando o cônjuge que pretenda atuar possa
praticar validamente o ato que esteja em causa, embora com efeitos jurídicos diferentes
dos que o ato teria se fosse praticado por ambos. Também não atende aos cônjuges que
queiram praticar atos que não lhes dizem respeito, como alienar um bem do outro cônjuge.
É admitido no caso de impossibilidade ou injusta recusa, cabendo ao autor não só a prova
da recusa ou da impossibilidade, mas também a da vantagem ou da necessidade da
realização do ato.
Os atos feridos de anulabilidade levam à anulabilidade: como anuláveis, deverão
considerar-se igualmente as alienações de móveis comuns feitas ao cônjuge não
administrador, mas nunca depois de decorridos 3 anos desde a celebração do negócio. É
admitida a confirmação nos termos gerais.
Em casos de atos ilegítimos sobre móveis não sujeitos a registo, vigora uma tutela
semelhante à que protege o adquirente de boa-fé em caso de ato nulo. Diz Antunes Varela
que, aqui, se sacrificam os interesses do cônjuge alienante em face dos interesses do
adquirente.
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Direito da Família Matilde Diogo Alves
O artigo 1723.º prevê o caso de sub-rogação de bens que vêm ocupar o lugar dos bens
próprios que são também bens próprios, seja por troca direta, p.e., um T2 trocado por
outro T2, seja por aplicação do preço dos bens alienados (al. c)).
Neste artigo, surge enunciado que conservam a qualidade de bens próprios os adquiridos
com valores próprios desde que a proveniência esteja devidamente comprovada no
documento de aquisição com intervenção de ambos os cônjuges. O Supremo Tribunal de
Justiça veio pronunciar-se sobre o primeiro pressuposto, tendo dito que, sempre que
estejam em causa interesses apenas do cônjuge, é possível fazer prova da titularidade e,
desta forma, fazer ingressar o bem na esfera da titularidade do cônjuge e não da
comunhão, mesmo que tal não conste no título de aquisição, isto porque a rácio do
preceito seria a tutela dos interesses de terceiros. Antunes Varela, Pires Lima, Rita Lobo
Xavier e Cristina Dias consideram a interpretação literal.
Exemplo: A adquiriu, por doação, um imóvel. Vendeu esse imóvel e comprou um novo
imóvel. Este bem é próprio ou comum?
Se o adquiriu por doação durante o casamento, é, à luz do art. 1722.º, alínea b), um bem
próprio. Antes do casamento, também – alínea a). Importa determinar se, depois do
investimento, o bem é próprio – só se fizer constar a proveniência do dinheiro no
documento de aquisição e com intervenção de ambos os cônjuges – art. 1723.º, alínea c).
O Supremo Tribunal de Justiça diz que é possível provar a proveniência do dinheiro se
aquela decisão respeitar única e exclusivamente aos cônjuges e não tiver efeitos em
relação a terceiros. Nas relações entre cônjuges, é possível provar que a titularidade do
dinheiro é um bem próprio, diferente do que estabelece a alínea, que determinaria isto
como um bem comum.
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Direito da Família Matilde Diogo Alves
De acordo com o artigo 1726.º, serão bens próprios os que sejam adquiridos em parte com
valores próprios e em parte com valores comuns, desde que o valor dos bens próprios seja
superior. O bem adquire a natureza da maior prestação.
Dita o artigo 1727.º que são também bens próprios os bens indivisos adquiridos, em parte,
por um dos cônjuges, quando já detinha outra parte. Mesmo adquirida na constância do
matrimónio, considerar-se-á bem próprio do cônjuge adquirente a parte adquirida, como
acontece, p.e., com a herança indivisa.
São, de acordo com o art. 1728.º, também, bens próprios, os adquiridos por virtude da
titularidade de bens próprios e que não possam considerar-se frutos destes – porquanto,
os frutos serão bens comuns.
São bens próprios os bens incomunicáveis no âmbito da comunhão geral, ao abrigo do
artigo 1733.º. Embora não esteja previsto na comunhão de adquiridos, entende-se de
forma unanime que isto se aplica na comunhão de adquiridos. Os argumentos para defesa
de tal são dois:
COMUNHÃO GERAL
Dita a comunhão geral de que são comuns os bens presentes e futuros dos cônjuges que
não forem excetuados por lei – comunicabilidade. Assim, serão bens comuns todos os que
não forem excluídos por lei. Isto exige escolha, através de convenção antenupcial. Serão,
assim, comuns todos os bens dos cônjuges, salvo aqueles que, pela sua natureza, o
legislador conferiu o estatuto de bens incomunicáveis.
Para fazer valer a sua vontade em comunhão geral, os cônjuges terão de optar, em
convenção antenupcial, pelo regime da comunhão geral de bens.
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Nota: Esta comunhão está vedada a quem já tenha filhos de relações anteriores, ao abrigo
do artigo 1699.º/2 – ideia é de proteger a legítima expectativa de filhos que nasceram de
relações anteriores, sendo proibida a comunicabilidade do art. 1722.º. Surge a discussão:
e se os filhos forem de ambos os cônjuges? A alínea está claramente pensada para filhos
de casamentos anteriores, tendo-se vindo a excluir a aplicação da alínea quando os filhos
sejam de ambos os cônjuges nubentes.
Sendo os bens incomunicáveis, a comunhão está vedada e a cláusula através da qual se
escolha comunhão geral é nula. Todos os casamentos que ocorreram até 31 de maio de
1967 foram celebrados ao abrigo da comunhão geral de bens, já que esse era o regime
supletivo, só depois passando a ser a comunhão de adquiridos.
São aplicadas a este regime as regras da comunhão de adquiridos que não o contrariem,
como, p.e., as normas sobre sub-rogação e aquisição com bens próprios e bens comuns.
Quais os bens comuns?
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dado que se destinam a substituir o salário que deixou de ser auferido. Na comunhão
geral, o salário é um bem comum.
Nota: O artigo 1722.º não é aplicável na comunhão geral de bens porque, em sede de
comunhão geral, querem-se incluir mais coisas.
CASAMENTO CATÓLICO
o a dispensa do casamento rato e não consumado no direito canónico
• casamento entre batizados e entre parte batizada e não batizada: podem ser
dissolvidos pelo Romano Pontífice por justa causa, a pedido de ambas as
partes ou de só uma delas, mesmo contra a vontade da outra
• é indiferente a causa da não consumação (impotência, pacto contra bonum
prlis)
• a consunção presume-se até prova em contrário se, celebrado o
casamento, os cônjuges tiverem coabitado
• têm sido invocadas como justas causas de dispensa a impotência
superveniente ou uma doença que não consinta cópula ou a aversão entre
cônjuges ou a circunstância de um dos cônjuges ter contraído casamento
civil com outra pessoa
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• Dita o artigo 1690.º que todos têm legitimidade para contrair dívidas sem
consentimento;
• É a dívida comunicável? Artigos 1691.º e 1692.º;
o Mesmo em regime de separação de bens, se ambos os cônjuges
derem consentimento ou a dívida for em proveito do casal;
o A norma do artigo 1691.º, alínea d), é a única regra que depende
do regime de administração, distinguindo em face do regime de
casamento.
• Quais os bens que respondem? Artigos 1695.º e 1696.º;
• Se tiverem respondido bens que não deviam responder, há lugar a compensações?
Artigo 1697.º.
As normas de responsabilidade por dívidas não podem ser afastadas pelos cônjuges. Não
se poderá, por convenção antenupcial, alterar as regras das dívidas. Tem-se entendido que
as regras sobre alienação ou oneração, bem como sobre responsabilidade por dívidas, não
podem ser alteradas pelos cônjuges, em virtude do art. 1699.º, alínea c), embora este não
o exprima expressamente.
Não se podem alterar estas normas porque não estão em causa apenas interesses das
partes, mas também dos credores.
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Artigo 1697.º
Se por dívidas da responsabilidade de ambos responderem bens de um, este torna-se
credor o outro. O crédito só é exigível no momento da partilha, ou seja, após o divórcio,
a não ser que vigore o regime da separação de bens. Se um bem comum do casal responder
por uma dívida incomunicável, a respetiva importância é elevada a crédito do património
comum no momento da partilha.
DIVÓRCIO
As únicas duas causas de dissolução do casamento são o divórcio e a morte – a separação
de pessoas e bens não dissolve o casamento, apenas o altera.
O divórcio está previsto nos artigos 1773.º e ss. e consiste num direito potestativo, por
não se traduzir no poder de exigir qualquer prestação ou comportamento de outrem, mas
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Efeitos do Divórcio:
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Crises Matrimoniais
Separação de facto
o Causa objetiva
• elemento objetivo: falta de coabitação
• subjetivo: propósito de não o voltar a restabelecer
▪ NOTA: os cônjuges podem ter residências separadas, mas manter
uma autêntica comunhão de vida p.e. emigrantes ou prisão
▪ é preciso que isto se verifique desde que a separação de facto teve
início e não apenas quando se propõe a ação.
o prazo de 1 ano consecutivo
• quando esta lei foi alterada, abrangeu as próprias relações já constituídas
porque dispôs diretamente sobre o conteúdo de uma relação jurídica,
abstraindo do facto que lhe deu origem
• não se admite interrupção – se tentam novamente estabelecer a relação
matrimonial e voltam a separar-se, o prazo corre de novo
o a separação de facto é uma causa bilateral e pode ser invocada por qualquer um
dos cônjuges – mesmo pelo culpado
• não tem de haver acordo ou conformação com o pedido
o afastamento um do outro, em termos fáticos p.e. sair de casa ou nem isso. prova
que pode ser difícil se nenhum deles sai de casa. p.e. o cônjuge que permaneceu
em casa serve para provar necessidade e por isso terá uma vantagem aquando da
partilha. aquele que saiu de casa vai ter mais dificuldade em provar que tem de
necessidade
• a maior parte das legislações admite como causa, embora o prazo varie
o não há nenhuma norma no código que refira a separação de facto, mas há
relevância porque decorrido determinado prazo, a esperança de reconciliação
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torna-se remota e a lei acha socialmente mais vantajosa a situação dos cônjuges
divorciados do que a dos cônjuges separados de facto.
• como causa de divórcio – 1781º a) e 1782º que refere que há separação
de facto quando não existe comunhão de vida entre os cônjuges
(elemento objetivo) e não há o propósito de a restabelecer p.e. se alguém
está preso ou a cumprir uma missão militar não há separação de facto
porque têm o propósito de vir a restabelecer a comunhão de vida!
• 1789/2 – se a separação for provada no divórcio qualquer um deles pode
exigir que os efeitos retroajam!
• artigo 1909º – regulação das responsabilidades parentais. no contexto da
separação de facto, podem ser reguladas as responsabilidades parentais
dos filhos do casal
• 1675º - dever de assistência
▪ obrigação de alimentos e contribuir para os encargos da vida
familiar
▪ no divórcio há autonomização
• o dever de assistência mantém-se durante a separação de facto, MAS
sob que forma? autonomiza-se ou está dentro da obrigação de contribuir
para os encargos?
o cabe ao que pede o divórcio a prova dos elementos objetivo e subjetivo
A professora Rita Lobo Xavier defende que o terceiro número do art. 1675.º desapareceu
porque tal decorre das alterações de 2008, como a lei do divórcio veio acabar com a ideia
de que se tem de averiguar a culpa e que, durante a separação de facto, continua a haver
dever de contribuir para os encargos da vida familiar, por haver apenas modificação.
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