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A) Histórico/Conceito

Conceito: no direito atual, Maria Helena Diniz leciona: Parentesco é a relação


vinculatória existente não só entre pessoas que descendem umas das outras ou de um
mesmo tronco comum, mas também entre o cônjuge ou convivente e os parentes do
outro, entre o adotante e o adotado e entre pai institucional e filho socioafetivo.

→Como os vínculos familiares dispõem de diversas origens, vários critérios classificatórios são
utilizados, a depender da identificação que se queira estabelecer entre duas pessoas. O parentesco admite
variadas classificações e decorre das relações conjugais, de companheirismo e de afinidade, podendo ser
natural, biológico ou consanguíneo, civil, adotivo, por afinidade ou socioafetivo.

→ O parentesco pode ser em linha reta ou colateral; maternal ou paternal.

→ Código Civil/2002 – Subtítulo II - Das Relações de Parentesco - capítulo I - Disposições Gerais:


Art. 1.591 e seguintes.

B) Espécies:

→ Parentesco natural ou consanguíneo ou biológico; afinidade e civil.

1) Parentesco natural ou consanguíneo ou biológico (art. 1.593, CC):


Vínculo entre pessoas que descendem de um mesmo tronco ancestral, sendo ligadas pelo mesmo
sangue (ex:. avô e filho, pai e filho, irmãos, primos...)
 Esse parentesco existe tanto na linha reta como na colateral ou transversal.
 Linha Reta – provindos de um tronco comum e descendem uns dos outros (vínculo de
ascendência – bisavô, avô, pai .... e, descendência – bisneto, neto, filho)
 Linha Colateral ou Transversal – provindos de um tronco comum, mas não descendem uns
dos outros (irmãos, tios, sobrinhos e primos – até o 4 grau).
→ Parentesco matrimonial (casamento)
→ Parentesco extramatrimonial (união estável; relações sexuais eventuais ou concubinato impuro)

- Parentesco duplo: irmão germanos – mesmo pai e mesma mãe.


- Parentesco simples: uterinos – mesma mãe e pai diversos ou, consanguíneos – mesmo pai e mãe
diversas.

2) Parentesco por afinidade (arts. 1.595, §§ 1º. e 2º; 1.521, II):


Vínculo que se estabelece entre uma pessoa e os parentes de seu cônjuge ou companheiro por
determinação expressa da lei
 O parentesco por afinidade existe tanto na linha reta como na colateral.
Parentes consanguíneos do homem (ou da mulher) = filhos, avôs, pais, irmãos.
→Os cônjuges e os conviventes não são parentes, ainda que integrem a família e mantenham
vínculos de afinidade com os parentes do par.
→ Projeto CC/1916 – Clóvis Beviláqua já previa.
→Legislação estrangeira [...]
→Exceto a expressa inclusão da união estável como geradora do parentesco por afinidade e, por
consequência, esse como efeito daquela; da exclusão da espécie de afinidade denominada ilegítima e da
alteração trazida pela Lei n. 11.924/2009, não é possível perceber junto à legislação vigente e à doutrina
majoritária diferenças consideráveis em comparação com os períodos anteriores para apreender o
parentesco por afinidade. Isso se dá porque:
- a afinidade permanece mantendo certa simetria com o parentesco consanguíneo no que diz
respeito às linhas e aos graus;
- as relações entre as pessoas e os parentes afins continuam sendo mais restritas que no parentesco
consanguíneo ou natural, pois este produz maior número de efeitos civis que aquele;
- o parentesco na linha reta é perpétuo e infinito, ou ilimitado e na colateral, é limitado aos
cunhados e continua desaparecendo com o desfazimento do vínculo que a originou; - a afinidade não gera
afinidade: os parentes consanguíneos de um dos cônjuges ou conviventes, embora sejam afins do outro,
não são parentes entre si, os sogros ou cunhados não são afins entre si; os afins de um dos cônjuges ou
conviventes não são do outro, as esposas de dois irmãos não são, como usualmente se diz, cunhadas entre
si;
- o parentesco por afinidade continua se constituindo por determinação legal e não pelo sangue;
- não se estabelecendo nem antes da realização do matrimônio ou da constituição da união estável
nem após a dissolução desses; no entanto, depois da dissolução permanece o impedimento para fins de
união, em linha reta;
- tendo por fundamento a moral;
- não gerando direito a sucessão ab intestato;
- não abrigando, segundo a maioria dos autores consultados, o direito a alimentos e direito
sucessórios;
- embora o parentesco por afinidade não se confunda, não seja igual e não possa ser comparado, ele
é tratado em conjunto, com as demais espécies de parentescos, pelo legislador.
Os vínculos de afinidade serão reconhecidos mesmo “sucedendo a nulidade ou a anulação do
casamento putativo” (Rof Madaleno), casos em que o impedimento decorrente da afinidade não se
extingue (Diniz). Assim, em casos de casamento nulo ou anulável; putativo ou não; a afinidade
permanece, por exemplo, para impedir que o homem se case ou constitua união estável com a filha
daquela que foi sua esposa.

A afinidade resultante de filiação poderá, se for o caso, provar-se, inclusive, “por confissão
espontânea dos ascendentes se da filiação não existir a prova prescrita no art. 1.609, I a IV, e que já
constava do art. 1º da Lei n. 8.560, de 29 de dezembro de 1992”.
Quanto às relações de afinidade, entre os cônjuges ou os conviventes, prevalece a tese da
inexistência de parentesco.

3) Parentesco civil: adoção; inseminação artificial heteróloga ou socioafetivo.

→ Primeiras considerações: Quanto ao parentesco civil, o legislador parece ter ampliado o


parentesco civil, tradicionalmente compreendido somente sob o âmbito da adoção, para o parentesco de
outras origens.
• Tartuce (2022, p. 364): “diante dos progressos científicos e da valorização dos vínculos afetivos
de cunho social, devem ser reconhecidas outras formas de parentesco civil”. Enunciados 103 e 256 do
CJF/STJ:
a) - decorrente de técnicas de reprodução assistida (inseminação artificial heteróloga – com
material genético de terceiro) e,
b) parentalidade socioafetiva.

3.1) Adoção: será objeto de estudo em instituto próprio.

3.2) Inseminação artificial: homologa e heteróloga


Embora só a inseminação heteróloga estabeleça o parentesco civil vamos verificar as duas.

Não há legislação específica. Para regular os procedimentos, atualmente, encontra-se em vigor a


Resolução CFM nº 2.294, de 27.05.2021, a qual: Adota as normas éticas para a utilização das técnicas de
reprodução assistida - sempre em defesa do aperfeiçoamento das práticas e da observância aos princípios
éticos e bioéticos que ajudam a trazer maior segurança e eficácia a tratamentos e procedimentos médicos,
tornando-se o dispositivo deontológico a ser seguido pelos médicos brasileiros e revogando a Resolução
CFM nº 2.168, publicada no DOU de 10 de novembro de 2017.

Ter-se-á inseminação (reprodução) artificial qdo o casal não puder procriar, por qquer motivo:
esterilidade, deficiência na ejaculação, malformação congênita, obstrução do colo uterino, doença
hereditária etc.

- casais homossexuais podem utilizar a técnica mesmo que não exista infertilidade.

→ Registro: a) União estável - antes só o pai


- hoje pai e mãe

b) Inseminação artificial – automático em nome da mãe

→ Dois métodos de reprodução assistida

→ Filiação:

a) Fecundação artificial homóloga = material genético utilizado é pertencente aos cônjuges.


→ Filiação consanguínea para ambos os pais.
b) Fecundação artificial heteróloga = material genético utilizado é pertencente a terceiros.
Na fecundação/reprodução heteróloga, o parentesco deve ser observado isoladamente para cada um
dos pais, pois poderá ocorrer que o vínculo seja:
→ 1. consanguíneo para a mãe e civil para o pai (doação de sêmen por terceiro) ou,
→ 2. consanguíneo para o pai e civil para a mãe (doação de óvulo de terceira, inseminado pelo
marido), ou,
→ 3. civil para ambos (óvulo e sêmen de terceiros).

3.3) Socioafetiva

• João Baptista Villela: cuja tese da “desbiologização da paternidade”, deu origem a parentalidade
socioafetiva, a qual tem relação com a posse de estado de filho.
→Essa espécie de parentesco (paternidade/maternidade/filiação) constitui-se pela manifestação de
afeto e cuidados próprios das demais espécies de filiação entre aquele que sabidamente não é genitor ou
genitora e pessoa tratada como se fosse seu filho.
→Princípios: dignidade da pessoa humana, convivência e solidariedade familiar e afetividade
• Maria H. Diniz: “O parentesco civil abrange o socioafetivo (CC arts. 1.593 e 1.597, V)”.

• Maria B. Dias: A filiação socioafetiva pode resultar da posse do estado de filho e constitui
modalidade de parentesco civil de “outra origem” isso é de origem afetiva ou da convivência afetiva. (art.
1.593, CC).
• ___: “Toda paternidade é necessariamente socioafetiva podendo ter origem biológica ou não”.

• Leila Donizetti (2007, p. 15): “Pai não é somente aquele ligado por laço biológico. Pai é muito
mais. Pai é aquele ligado pelos intensos e inesgotáveis laços de afeto. Aquele que cuida, protege,
alimenta, educa, que participa intensamente do crescimento físico, intelectual e moral da criança, dando-
lhe o suporte necessário para que se desenvolva como ser humano”.
• Giselda Hironaka: essa relação não se encontra estabelecida em lei. São os "filhos de criação" -
pessoas abrigadas no nosso ambiente familiar não vinculadas a nós pelos laços de sangue ou pela adoção,
mas a quem queremos bem e protegemos. Damos juridicamente a essa condição de "estado de filho". O
reconhecimento, para surtir efeitos jurídicos, tem que ser judicial e o magistrado tem que determinar a
inserção do nome do pai [ou da mãe] socioafetivo no registro de nascimento - já que, segundo o comando
constitucional, todos os filhos tem iguais direitos independente de sua origem, os filhos socioafetivos tem
os mesmos direitos, inclusive sucessórios.
• Paulo Lôbo: o CC/2002 faz referência a paternidade socioafetiva em vários artigos: 1.593; 1.596;
1.597,V e 1.605
• José Fernando Simão:
→ a) O vínculo de parentesco por afinidade não se confunde com o de filiação socioafetiva;
→ b) No embate entre a parentalidade biológica (DNA) e a socioafetiva (Afeto) Simão analisa 03
hipóteses:

1) Parentalidade socioafetiva e adoção a brasileira, em que um homem registra, como seu filho,
quem sabe ser biologicamente de terceiro.
•No STJ prevaleceu a ideia de que a parentalidade voluntariamente reconhecida não permite seu
posterior desfazimento. O afeto venceu o DNA: a realidade afetiva prevalece sobre a biológica.

2) Parentes biológicos do falecido que propõem ação negatória de paternidade, visando à exclusão
do filho socioafetivo da sucessão do falecido. Em outras situações, o cônjuge ou companheiro do falecido
propõe a ação contra o filho socioafetivo.
•Tb as decisões do STJ são no sentido de que o afeto vence nas decisões em questão.

3) Pai socioafetivo cuja parentalidade foi constituída a base de erro. Trata-se de erro como vício do
consentimento que revela falsa noção da realidade. Se o declarante soubesse que não era pai biológico,
não teria se tornado pai registral.
• Nesse caso o STJ além da possibilidade de negar a paternidade, os tribunais têm fixado dano
moral em favor do pai enganado, vence o DNA.

Filho: se houver reconhecimento voluntário de sua parte, o pai não poderá negar a paternidade, sob
pena de agredir a boa-fé objetiva, como norma ética de conduta.

 Tese da Multiparentalidade
→ verdade registral (biológica) → socioafetiva → Duplo parentesco ou multiparentalidade – 2 pais
ou 2 mães – biológico e socioafetiva.

 STF – set/2016 determinou que o parentesco socioafetivo passa a ter posição de igualdade
diante do parentesco biológico ou natural
Paulo Lôbo (Revista Ibdefam n. 22): Do núcleo do Tema 622 resultam as seguintes conclusões:
- o reconhecimento jurídico da parentalidade socioafetiva;
- a inexistência de primazia entre as paternidades biológica ou socioafetiva;
- a admissão da mutiparentalidade;
- a parentalidade socioafetiva restringe-se a posse de estado de filho, excluindo-se a adoção, a
filiação oriunda da inseminação artificial heteróloga e a afinidade (EXISTEM POSICIONAMENTOS
CONTRÁRIOS – Pablo e Pamplona Filho, 2018, p. 1.392).

→ Em relação aos efeitos:


- autoridade parental dos pais;
- guarda compartilhada dos pais;
- alimentos (dos pais e avós);
- sucessão dos pais.

→Por tratar-se de relações de família os efeitos alcançarão os casos julgados definitivamente, pois
há largo entendimento sobre a relativização da coisa julgada nas relações de família e em matéria de
estado civil, que operaria segundo a regra rebus sic stantibus
- É possível reconhecer duplo vínculo mesmo contra a vontade das partes envolvidas. (Paulo Lobo)

C) Contagem dos graus:

1)  Direito Romano e Direito Brasileiro

→ Contagem de Graus: distância que vai de uma geração a outra; número de gerações entre os
parentes.

a)  Parentesco natural ou consanguíneo ou biológico:


1) Linha Reta (arts. 1.591 e 1.594, 1ª parte, CC).
Ex:. Bisavô-bisneto = 3º. grau; avô-neto = 2º. grau; pai-filho = 1º grau.
Gráfico:.

2) Linha colateral ou transversal (até 4º grau) (art. 1.592 e 1.594, 2ª parte, CC).

→ Na linha colateral tb se conta pelo número de gerações, subindo-se de um parente até o


ascendente comum e, descendo depois até encontrar o outro parente.
Gráfico:.

→ Na linha colateral não há parentesco em 1º grau, pq se conta subindo até ao antepassado comum
e descendo até ao parente.
Entre irmão germano ou unilateral o parentesco é colateral de 2º grau.
Gráfico:.

→ Na linha colateral o tio e o sobrinha são parentes em 3º. grau. Impedimento previsto em lei em
relação ao colateral de segundo grau (art. 1.521, IV), quanto ao impedimento em relação ao colateral de
terceiro grau aplica-se o Decreto-lei n. 3.200, de 19 de abril de 1941, que permite o casamento de
colaterais de terceiro grau.
Gráfico:.

→ Na linha colateral primos são parentes em 4º. grau.


Gráfico:.

→ Na linha colateral o tio-avô e a sobrinha-neta são parentes em 4º. grau.


Gráfico:.

→ O parentesco colateral ou transversal pode ser:


- igual = qdo entre o antepassado comum e os parentes considerados a distância entre as gerações
for à mesma. Ex:. irmãos:
- desigual = se a distância for a mesma. Ex:. tio e sobrinho
- dúplice = 2 irmãos se casam com 2 irmãs. Os filhos são duplamente primos.

b)  Parentesco por afinidade:

1) Linha Reta. 1º. grau. Ex:. sogro-nora, sogra-genro, padrasto-enteada, madrasta-enteado.


Na linha reta o vínculo não se extingue com a dissolução do casamento ou da união estável (art.
1.595, parágrafo 2º, CC), por isso há impedimento matrimonial (art. 1.521, II, CC).

2) Linha Colateral ou transversal. o parentesco vai até o 2º. grau, existindo somente entre o irmão
dos cônjuges ou dos companheiros, ou seja, entre os cunhados (art. 1.595, parágrafo 1º, 2ª parte, CC).
- A dissolução do casamento ou da união estável extingue o parentesco por afinidade na linha
colateral, por isso deixam de ser cunhados e podem se casar.
Gráfico:.

2)  Direito Canônico

1) Linha Reta - Coincide com o Direito Romano e brasileiro


2) Linha colateral ou transversal
→ No Direito Canônico, por influência germânica, contavam-se, na linha colateral, os graus pelo
tronco. Parentesco corrido e não pelo número de gerações. Conta-se por um só dos lados se eles são
iguais.

Gráficos:.
→ irmãos são parentes em 1º grau:
→ filhos de irmãos (primos) são parentes em 2º grau:
→ tio e sobrinha são parentes em 2º grau:

Exercícios:
1. (OAB-MT/2003) Maria casou-se com João. Desse matrimonio foram gerados 4 filhos. Caio,
Marcos, Roberto e Cecília. Caio e Marcos faleceram qdo jovens. Roberto casou-se com Vanda. Cecília
casou-se com Marcos Antonio. Do matrimônio entre Roberto e Vanda nasceram 2 filhos – Lucas e Maria.
Do matrimônio entre Cecília e Marcos Antonio nasceu César.
Da estória narrada podemos afirmar que entre César e Lucas e entre Roberto e Cecília, há
respectivamente: Apresente o gráfico.
2. Em um só gráfico estabeleça o parentesco por consanguinidade e afinidade, na linha reta e na
colateral e conte os graus de parentesco entre você e seus pais, avós, irmãos, primos(as), tios (as), seus
filhos(as) e sobrinhos(as), sogro(a) e cunhados(as).
3. Estabeleça o parentesco entre o padrasto e a enteada. Apresente o gráfico, conte os graus e
explique a espécie de parentesco.
4. Quem são os parentes na linha reta?
5. Para fins jurídicos são considerados parentes na linha colateral até qual grau?
6. O irmão é parentes em qual grau?
7. Qual o vínculo que liga cada cônjuge ou companheiro e os parentes do outro?
8. Até qual grau, para fins jurídicos, são considerados os parentes consanguíneos na
linha colateral? Quem são os parentes na linha colateral por consanguinidade?
9. Para fins jurídicos, quem são os parentes na linha reta por consanguinidade? Até qual
grau é contado o parentesco por consanguinidade e afinidade na linha reta?
10. Para fins jurídicos, quem são os parentes por afinidade na linha reta e colateral?

FILIAÇÃO

1) Conceito: É o vínculo existente entre pais e filhos.

É a relação de parentesco consanguíneo em linha reta de primeiro grau entre uma pessoa e aqueles
que lhe deram a vida, ou relação socioafetiva, ou em razão de adoção.
→ O reconhecimento do estado de filiação constitui direito - personalíssimo - indisponível -
imprescritível - que pode ser exercido em face dos pais e seus herdeiros.

A filiação pode ser matrimonial ou não matrimonial e biológica ou não biológica.

Princípios: Igualdade dos filhos, respeito à dignidade da pessoa humana, convivência e


solidariedade familiar, afetividade e melhor interesse da criança/adolescente

→ Igualdade dos filhos: juridicamente, não há de se fazer distinção entre filiação matrimonial ou
não – pois os filhos havidos ou não do matrimônio, têm os mesmos direitos e qualificações, sendo
proibidas quaisquer designações discriminatórias. (arts. 227, § 6º, CF/88; 1.596, CC/02 e 20, ECA)

• Zeno Veloso: as denominações discriminatórias relativas à filiação não podem mais ser utilizadas.
Filho, de qualquer origem ou procedência, qualquer que seja a natureza da filiação, é filho, simplesmente
filho, e basta, com os mesmos direitos e deveres de qualquer outro filho.

2) Classificação – matrimonial e não matrimonial

► A filiação pode ser matrimonial ou não. O reconhecimento:


Filiação matrimonial é automático e,
Filiação não matrimonial pode ser automático ou voluntário ou perfilhação ou judicial ou forçado.

2.1) Filiação matrimonial: presunção da paternidade do marido da mãe, pater is est quem justae
nuptiae demonstrant – presunção da maternidade pelo parto, aleitamento etc.
→É a que se origina na constância do casamento dos pais, ainda que nulo ou anulado ( Lei n.
6.515/77, art. 14, parágrafo único; CC, arts. 1.561, 1.597, I a V, 1.617), ou seja, é a filiação oriunda da
união de pessoas ligadas por casamento válido ou anulável ou nulo estando ou não de boa-fé os consortes
(CC, arts. 1.561, parágrafos 1º e 2º, 1.617 e 1609, I), ou decorrentes de pessoas que, após o nascimento
do filho, vieram a se casar.

2.1.1) Reconhecimento – o reconhecimento do filho é automático. A presunção legal da


paternidade é relativa, pois cessará mediante prova em contrário.

► Presume-se que foram concebidos na constância do casamento (CC art. 1.597, I a V):

I - Se os filhos nasceram 180 dias (6 meses), pelo menos, depois de estabelecida à convivência
conjugal ;
II - Se os filhos nasceram dentro dos 300 dias (10 meses). subsequentes à dissolução da sociedade
conjugal por morte, separação judicial, nulidade e anulação do casamento.
III - Se foram havidos por fecundação artificial homologa, mesmo que falecido o marido;
IV - Se os filhos forem havidos, a qualquer tempo, sendo embriões excedentários, decorrentes de
fecundação artificial homóloga;
V - Se os filhos advierem de inseminação artificial heteróloga, desde que com anuência prévia do
marido.

→ Presunção de concepção de filho


- antes – só casamento - pai era aquele que as núpcias demonstravam - só a mãe casada poderia
registrar o filho sem a presença do pai – a mãe que vivia em união estável não

- hoje – é extensivo à união estável (STJ 06.11.2012 e Tartuce, 2021).


a) Lei n. 13.112, 30.03.2015 – altera os itens 1º e 2º do art. 52, da Lei n. 6.515/1973: “o pai ou a
mãe isoladamente poderão proceder ao registro de nascimento do filho”.
b) Provimento Conselho Nacional de Justiça n. 52 de 15.03.2016 – autoriza o registro do filho
havido por reprodução assistida, diretamente no Cartório.

►AÇÃO NEGATÓRIA

►Ação negatória da paternidade e da maternidade. Negar a filiação.

O direito de propor ação negatória é imprescritível.

- Ação para negar a filiação - compete ao pai ou seus herdeiros – busca desconstituir o registro pelo
pai registral, pq foi realizado, por ex:. mediante erro.

Proposta pelo marido contra o filho (CC, art. 1.601 e parágrafo único) e, se este falecer na
pendência da lide, seus herdeiros poderão continuá-la, tendo por fim contestar paternidade.
Se o filho for menor ou o pai interditado após a propositura da ação será nomeado um curador.

Ex:. Fundamentos para contestar a ação:

Em relação ao marido:
 Infidelidade conjugal: se havia coabitação entre os cônjuges é preciso provar por meio do exame
de DNA.
 Impossibilidade de inseminação artificial pq não doou o sêmen, é estéril ou fez vasectomia – ou
heterologa pq não deu autorização. (art. 1.597, CC)
 Doença grave que impede as relações – impotência coeundi absoluta (impossibilidade física) e
impotência generandi absoluta (esterilidade, pela lei só a última ilide a presunção da paternidade). (art.
1.599, CC)

Em relação à esposa:
 Falsidade de registro
- falsidade material ou falsidade das declarações, essa última caracteriza a falsidade ideológica.
 Filho trocado na maternidade
 Não ter ocorrido o parto
 Troca de embrião na fertilização assistida

A sentença proferida deverá ser averbada à margem do registro de nascimento (Lei n. 6.015/73, art.
29, 1º, b).
→ não basta para excluir a paternidade: - adultério da esposa (art. 1.600) e - confissão materna (art.
1.602).

►Prova da condição de filho:


Ação para provar a filiação compete ao filho e aos pais biológicos. O direito de ação é
imprescritível.
a) Pela certidão do termo de nascimento, inscrito no Registro Civil (CC, arts. 1.603 e 1.604; Lei n.
6015/73, art. 50);
b) Por qualquer modo admissível em direito, se o registro faltar, desde que (CC, art. 1.605, I e II),
haja começo de prova por escrito, proveniente dos pais, conjunta ou separadamente, onde registram que
em certa época lhes nasceu um filho e existam presunções resultantes de fatos já certos;
c) Tb faz prova juris tantum da filiação a Posse de estado de filho.
Posse de estado de filho: Se existir veementes presunções, por ex:., criança ou adolescente que vive
na companhia de um casal há muito tempo e tido como filho, sendo notório que houve casa/ e nasceu o
filho.

• Lafayette Rodrigues Pereira (1918) afirma que a posse do estado de filho é principalmente
constituida por tres factos:
Nominatio: quando o filho tem o appellido do pae;
Tractatus: quando é tratado de filho pelo pae e pela mãe e por elles educado;
Reputatio: quando é tido e havido por filho na familia e pelos vizinhos.
Tb faz prova juris tantum da filiação.

2.2) Filiação não-matrimonial ou extramatrimonial: não há casamento. Provinda de pessoas que


estão impedidas ou não querem contrair casamento. Nesse caso, os filhos havidos fora do casamento
podem ser reconhecidos por seus pais, conjunta ou separadamente. (arts. 227, § 6º CF, 1.607, CC, 26,
ECA).

2.2.1) Reconhecimento – é o ato que declara a filiação fora do casamento na filiação não
matrimonial o reconhecimento é automático, voluntário ou judicial.
a) Definição de reconhecimento - É o ato que declara a filiação, estabelecendo juridicamente o
parentesco entre pai e mãe e seu filho.

b) Natureza jurídica do reconhecimento - É o ato declaratório, pois apenas declara um fato do qual o
direito tira consequências, sem criar a paternidade.
c) Possibilidade de reconhecimento de filho - Lei n. 8.069/90, art. 26; Lei n. 8.560/92; CF/88, art.
227, 6º.
d) Modos de reconhecimento do filho – O reconhecimento é ato personalíssimo, indisponível,
imprescritível, solene e irrevogável.
Reconhecimento de filhos falecidos, somente qdo deixa descendente (Diniz, 2018); art. 27, ECA.

→ Há três formas de reconhecimento:


1) automático
2) reconhecimento voluntário ou perfilhação e,
3) reconhecimento judicial ou forçado.

2.2.1.1) Reconhecimento voluntário ou perfilhação (art. 1.609, CC):


Antonio Chaves - é o meio legal do pai, da mãe ou de ambos revelarem
espontaneamente o vínculo que os liga ao filho, outorgando-lhe, por essa forma, o status
correspondente (CC, art. 1.607).

Art. 1.609. O reconhecimento dos filhos havidos fora do casamento é irrevogável e será feito: I - no
registro do nascimento; II - por escritura pública ou escrito particular, a ser arquivado em cartório; III -
por testamento (tb codicilo e legado), ainda que incidentalmente manifestado; IV - por manifestação
direta e expressa perante o juiz, ainda que o reconhecimento não haja sido o objeto único e principal do
ato que o contém. § único. O reconhecimento pode preceder o nascimento do filho ou ser posterior ao seu
falecimento, se ele deixar descendentes.

Art. 1.610. O reconhecimento não pode ser revogado, nem mesmo quando feito em testamento. A
revogação do testamento, não revoga o reconhecimento.

Diniz (2018) uma vez declarada a vontade de reconhecer o ato passa a ser irrevogável e irretratável
– inclusive em testamento – mas pode ser ANULADO, se inquinado de vícios de vontade (erro, dolo ou
coação) ou não observou os requisitos legais.

2.2.1.2) Reconhecimento judicial ou forçado ou coativo – nas hipóteses em que não há o


reconhecimento voluntário, o mesmo deve ocorrer de forma coativa, por meio da ação de investigação de
paternidade ou de maternidade.

Conceito – É o que resulta de sentença proferida em ação intentada para esse fim, pelo filho (CC,
art. 1.606) e pode ser contestada por qquer pessoa que tenha interesse econômico ou moral. Tb pode ser
proposta post mortem.

►AÇÃO INVESTIGATÓRIA

- Ação para provar a filiação – compete ao filho ou seus herdeiros.


Ação de investigação de paternidade – A ação de investigação de paternidade permite ao filho
havido fora do casamento obter a declaração de seu respectivo status familie.

Ação de investigação de maternidade – É a ação promovida contra a mãe, não mais sendo proibido
se atribuir prole não-matrimonial a mulher casada ou prole incestuosa a mulher solteira.

 Principais aspectos

→Procedimento comum CPC/2015 (antes ordinário)

→Prazo Por ser de natureza declaratória e envolver estado de pessoas e dignidade humana, a ação
não esta sujeita a qualquer prazo, sendo imprescritível.

→ Foro é ação pessoal, regra domicílio do réu (Vara da Família).


Exceções:
- se cumulada com alimentos → residência ou domicílio do alimentando (Ação de investigação de
paternidade cumulada com Alimentos)
- se cumulada com petição de herança → juízo do inventário (antes da partilha) e foro do domicílio
de qualquer herdeiro (após a partilha)
- ação de petição de herança dependendo de julgamento da ação de investigação de paternidade →
mesma Vara que segue a demanda declaratória (domicílio do réu)
- ação de petição de herança cumulada com alimentos → residência ou domicilio do alimentando.

→ Legitimidade ativa para propor ação


- regra – direito personalíssimo do filho (investigante) - se menor representado ou assistido.
- MP tb pode agir como susbstituto processual, tendo legitimação extraordinária
- filho maior e nascituro tb.
- pode ser proposta contra os avós (Pablo e Pamplona, 2018, p. 1.832)

→ Legitimidade passiva
- contra o pai/mãe, seus herdeiros e avós

→ Provas - Exames: semelhança odontológico, DNA, exame do grupo sanguíneo poderá excluir a
paternidade/maternidade. O juiz poderá determinar a prova que entender necessária à elucidação da
verdade.

→ Contestação – qualquer pessoa que tenha justo interesse (cônjuge ou companheiro do suposto
pai e seus herdeiros)

→ Alimentos na ação investigatória – a partir da citação

→ Parentalidade socioafetiva na ação investigatória – pai quem registrou (socioafetivo) e pai


biológico (multiparentalidade)

→ relativização da coisa – a jurisprudência superior tem relativizado a coisa julgada em casos de


ações investigatórias julgadas improcedentes por ausência de provas em momento que não existia o DNA.
Lei n. 8.560, de 29.12.92 – Regula a investigação de paternidade dos filhos havidos fora do
casamento e dá outras providencias. Investigação oficiosa – Súmula 301 – STJ – presunção da
paternidade qdo há recusa para realizar o exame.
Lei n. 12.004, de 29 de julho, 2009 – altera a Lei n. 8.560/1992, para acrescentar o art. 2º A: “Na
ação de investigação de paternidade, todos os meios legais, bem como os moralmente legítimos, serão
hábeis para provar a verdade dos fatos. § único. A recusa do réu em se submeter ao exame do código
genético – DNA gerará presunção da paternidade, a ser apreciada em conjunto com o contexto
probatório”.

Lei n. 14.138, de 16.04.2021 – Art. 1º O art. 2º-A da Lei nº 8.560, de 29 de dezembro de 1992,
passa a vigorar acrescido do seguinte § 2º: Se o suposto pai houver falecido ou não existir notícia de seu
paradeiro, o juiz determinará, a expensas do autor da ação, a realização do exame de pareamento do
código genético (DNA) em parentes consanguíneos, preferindo-se os de grau mais próximo aos mais
distantes, importando a recusa em presunção da paternidade, a ser apreciada em conjunto com o contexto
probatório.”

► Consequências do reconhecimento do filho:


- Efeitos ex tunc – retroage a data do nascimento ou da concepção;
- Estabelecer liame de parentesco entre o filho e seus pais;
- Impedir que o filho, reconhecido por um dos cônjuges, resida no lar conjugal sem anuência do
outro ( CC, art. 1.611);
- Conceder direito à prestação alimentícia tanto ao genitor que reconhece como ao filho reconhecido
(CC, art. 1.694) e direito à assistência;
- Equiparar, para efeitos sucessórios, os filhos de qualquer natureza;
- Autorizar o filho reconhecido a propor ação de petição de herança e a nulidade de partilha, devido
a sua condição de herdeiro;
- Equipara a prole reconhecida, tanto para efeito de legítima (CC, art. 1.848) como para o de
indignidade (CC, art. 1.814) ou deserdação (CC, art. 1.962), ao descendente havido em casamento.
Importância de adquirir a condição jurídica de filho
- direito ao nome;
- educação e criação de acordo com o nível socioeconômico;
- Sujeitar o filho reconhecido, se menor, ao poder familiar - companhia dos genitores, obediência e
respeito e os serviços próprios da sua idade ou condição;
- Tutela etc.

Exercício: Escolha uma das Ementas abaixo e comente de acordo com a matéria
estudada.

1) APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DECLARATÓRIA DE FILIAÇÃO SOCIOAFETIVA


C/C PETIÇÃO DE HERANÇA E NULIDADE DE PARTILHA.
RECONHECIMENTO DO ESTADO DE FILIAÇÃO. DIREITO PERSONALÍSSIMO.
GENITORES QUE NÃO INTENTARAM, EM VIDA, O RECONHECIMENTO DA
SUPOSTA RELAÇÃO SOCIOAFETIVA. ILEGITIMIDADE ATIVA DO FILHO E
NETAS DO DE CUJUS PARA PROPOSITURA DA AÇÃO. SENTENÇA
CASSADA. PROCESSO EXTINTO. I - O reconhecimento do estado de filiação é
direito personalíssimo e indisponível, podendo ser exercitado pelo pai, pela mãe ou pelo
filho que conteste o vínculo biológico a qualquer tempo e sem restrição. Na hipótese
vertente, o pedido de reconhecimento do vínculo parental deu-se pelo filho e netas da
pessoa a ser reconhecida como filho socioafetivo, contudo, vê-se, nos autos, pelas
provas trazidas, a inexistência da intenção dos envolvidos, já falecidos, quanto a este
reconhecimento, mormente porque tinham conhecimento jurídico suficiente para
postularem o direito ao vínculo parental, em vida, e não o fizeram. II - Nos termos do
artigo 17 do CPC, os apelantes não têm legitimidade ativa ad causam para buscar o
reconhecimento da filiação socioafetiva. Sentença cassada, de ofício, e julgado extinto o
processo, sem resolução do mérito, nos termos do artigo 485, VI, do CPC.RECURSO
CONHECIDO PARA, DE OFÍCIO, CASSAR A SENTENÇA E JULGAR EXTINTO
O PROCESSO.
(TJ-GO - Apelação (CPC): 03978669220188090129, Relator: LEOBINO VALENTE
CHAVES, Data de Julgamento: 25/07/2019, 2ª Câmara Cível, Data de Publicação: DJ
de 25/07/2019)

2) APELAÇÃO CÍVEL. RELAÇÃO DE PARENTESCO. INVESTIGAÇÃO DE


PATERNIDADE CUMULADA COM RETIFICAÇÃO DE REGISTRO CIVIL E
ALIMENTOS. 1. RECONHECIMENTO DO VÍNCULO BIOLÓGICO.
PATERNIDADE SOCIOAFETIVA CONCOMITANTEMENTE AO
RECONHECIMENTO DO VÍNCULO BIOLÓGICO PARA TODOS OS EFEITOS.
CABIMENTO. DIREITO INDISPONÍVEL DO AUTOR. EXAME GENÉTICO
(DNA). RECONHECIMENTO DA FILIAÇÃO E SEUS REFLEXOS QUE SE
IMPÕEM INDEPENDENTEMENTE DE PERQUIRIÇÕES ACERCA DA
EXISTÊNCIA DE VÍNCULO SOCIOAFETIVO COM O PAI REGISTRAL. TESE DE
REPERCUSSÃO GERAL FIXADA PELO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL NO
JULGAMENTO DO RE Nº 898.060. 2. ALIMENTOS. FILHA MENOR DE IDADE
AO TEMPO DO AJUIZAMENTO DA AÇÃO. PRESUNÇÃO DAS
NECESSIDADES. AFERIÇÃO DO BINÔMIO ALIMENTAR. AUSÊNCIA DE
PROVAS CONCRETAS DAS POSSIBILIDADES DO ALIMENTANTE. FIXAÇÃO
DOS ALIMENTOS CONFORME VALOR OFERTADO EM CONTESTAÇÃO.
SENTENÇA REFORMADA. 1. A investigação de paternidade pelos filhos em relação
aos pais biológicos é direito personalíssimo, indisponível e imprescritível, sendo
bastante para o julgamento de procedência da pretensão, incluindo reflexos
patrimoniais, a prova genética que atesta a veracidade da alegação inicial,
independentemente de qualquer perquirição acerca do desenvolvimento de vínculo
socioafetivo com o pai registral. Tema julgado no Plenário do... Supremo Tribunal
Federal STF com repercussão geral reconhecida, à conclusão de que a existência de
paternidade socioafetiva não exime de responsabilidade o pai biológico. Assentou o
Supremo Tribunal Federal, em repercussão geral, que a paternidade socioafetiva,
declarada ou não em registro público, não impede o reconhecimento do vínculo de
filiação concomitante baseado na origem biológica, com os efeitos jurídicos próprios
(RE nº 898.060, Min. LUIZ FUX, julgado em 21/09/2016, Tribunal Pleno). 2. Nada
obstante tenha a alimentanda implementado a maioridade no curso da demanda, certo
que é faz jus ao pensionamento desde a citação, momento em que suas necessidades
ainda eram presumidas, motivo por que devem ser fixados os alimentos. A obrigação
alimentar deve ser fixada na proporção das necessidades do reclamante e dos recursos
da pessoa obrigada, o que significa dizer, por outras palavras, que os alimentos devem
ser fixados observando-se o binômio necessidade (do alimentando) - possibilidade (do
alimentante), visando à satisfação das necessidades básicas dos filhos sem onerar,
excessivamente, os genitores. Hipótese em que inexiste prova das reais necessidades da
alimentanda e das condições financeiras do alimentante, o que leva à fixação dos
alimentos tendo como... referência o salário mínimo e o valor ofertado pelo genitor para
o caso de procedência do pedido. APELAÇAO PROVIDA. (Apelação Cível Nº
70078738317, Sétima Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Sandra
Brisolara Medeiros, Julgado em 26/09/2018).
(TJ-RS - AC: 70078738317 RS, Relator: Sandra Brisolara Medeiros, Data de
Julgamento: 26/09/2018, Sétima Câmara Cível, Data de Publicação: Diário da Justiça
do dia 28/09/2018.

3) RECURSO ESPECIAL. DIREITO DE FAMÍLIA. FILIAÇÃO. IGUALDADE


ENTRE FILHOS. ART. 227, § 6º, DA CF/1988. AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO DE
PATERNIDADE. PATERNIDADE SOCIOAFETIVA. VÍNCULO BIOLÓGICO.
COEXISTÊNCIA. DESCOBERTA POSTERIOR. EXAME DE DNA.
ANCESTRALIDADE. DIREITOS SUCESSÓRIOS. GARANTIA. REPERCUSSÃO
GERAL. STF. 1. No que se refere ao Direito de Família, a Carta Constitucional de 1988
inovou ao permitir a igualdade de filiação, afastando a odiosa distinção até então
existente entre filhos legítimos, legitimados e ilegítimos (art. 227, § 6º, da Constituição
Federal). 2. O Supremo Tribunal Federal, ao julgar o Recurso Extraordinário nº
898.060, com repercussão geral reconhecida, admitiu a coexistência entre as
paternidades biológica e a socioafetiva, afastando qualquer interpretação apta a ensejar a
hierarquização dos vínculos. 3. A existência de vínculo com o pai registral não é
obstáculo ao exercício do direito de busca da origem genética ou de reconhecimento de
paternidade biológica. Os direitos à ancestralidade, à origem genética e ao afeto são,
portanto, compatíveis. 4. O reconhecimento do estado de filiação configura direito
personalíssimo, indisponível e imprescritível, que pode ser exercitado, portanto, sem
nenhuma restrição, contra os pais ou seus herdeiros. 5. Diversas responsabilidades, de
ordem moral ou patrimonial, são inerentes à paternidade, devendo ser assegurados os
direitos hereditários decorrentes da comprovação do estado de filiação. 6. Recurso
especial provido.
(STJ - REsp: 1618230 RS 2016/0204124-4, Relator: Ministro RICARDO VILLAS
BÔAS CUEVA, Data de Julgamento: 28/03/2017, T3 - TERCEIRA TURMA, Data de
Publicação: DJe 10/05/2017)

4) RECURSO ESPECIAL. DIREITO DE FAMÍLIA E PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO


NEGATÓRIA DE PATERNIDADE. PRETENSÃO DE RELATIVIZAÇÃO DA
COISA JULGADA FORMADA EM ANTERIOR AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO DE
PATERNIDADE. IMPOSSIBILIDADE NA ESPÉCIE. DISSÍDIO
JURISPRUDENCIAL. AUSÊNCIA DE DEVIDA DEMONSTRAÇÃO. NEGATIVA
DE PRESTAÇÃO JURISDICIONAL. INOCORRÊNCIA. 1. O Supremo Tribunal
Federal, ao apreciar o RE 363.889/DF, com repercussão geral reconhecida, permitiu, em
caráter excepcional, a relativização da coisa julgada formada em ação de investigação
julgada improcedente por ausência de provas, quando não tenha sido oportunizada a
realização de exame pericial acerca da origem biológica do investigando por
circunstâncias alheias à vontade das partes. 2. Hipótese distinta do caso concreto em que
a ação de investigação de paternidade foi julgada procedente com base na prova
testemunhal, e, especialmente, diante da reiterada recusa dos herdeiros do investigado
em proceder ao exame genético, que, chamados à coleta do material por sete vezes,
deixaram de atender a qualquer deles. 3. Configura conduta manifestamente contrária à
boa-fé objetiva, a ser observada também em sede processual, a reiterada negativa, por
parte da recorrente, de produzir a prova que traria certeza à controvérsia estabelecida
nos autos da anterior ação de investigação de paternidade para, transitada em julgado a
decisão que lhe é desfavorável, ajuizar ação negatória de paternidade agora visando à
realização do exame de DNA que se negara a realizar anteriormente. 4. Intolerável o
comportamento contraditório da parte, beirando os limites da litigância de má-fé. 5.
RECURSO ESPECIAL PARCIALMENTE CONHECIDO E DESPROVIDO.
(STJ - REsp: 1562239 MS 2015/0261655-2, Relator: Ministro PAULO DE TARSO
SANSEVERINO, Data de Julgamento: 09/05/2017, T3 - TERCEIRA TURMA, Data de
Publicação: DJe 16/05/2017)

5) Direito processual civel. Apelação cível. Ação negatória de paternidade.ausência de


provas. Necessidade da realização do exame de dna. 1. O Requerimento de produção
de provas feito na petição inicial, deve ser considerado em face da necessidade da busca
da verdade real acerca do direito fundamental. 2. Recurso conhecido e provido. (TJPA,
AC Nº 2017.03258365-91, 178.699, Rel. JOSE MARIA TEIXEIRA DO ROSARIO,
Órgão Julgador 2ª TURMA DE DIREITO PRIVADO, Julgado em 2017-07-18,
Publicado em 2017-08-02)

6) Apelação. Ação negatória de paternidade. Exame hematológico conclusivo a excluir


a paternidade. Ausência de parecer de mérito do Ministério Público. Em conformidade
com os princípios do Código Civil da Constituição Federal, a procedência em ação
negatória de paternidade depende, além da inexistência de origem biológica, também de
evidência de que não constituído o estado de filiação, marcado pelas relações
socioafetivas na convivência familiar. Falta de oitiva de testemunhas e de estudos
sociais e psicológicos. Sentença anulada, determinando a reabertura da fase instrutória.
Recurso provido. (TJSP, AC Nº 0001578-21.2014.8.26.0062, Relator: J. B. Paula
Lima, 10ª Câmara de Direito Privado, J. 13/12/2016).

7) (…) “A omissão do legislador brasileiro quanto ao reconhecimento dos mais diversos


arranjos familiares não pode servir de escusa para a negativa de proteção a situações de
pluriparentalidade. É imperioso o reconhecimento, para todos os fins de direito, dos
vínculos parentais de origem afetiva e biológica, a fim de prover a mais completa e
adequada tutela aos sujeitos envolvidos. Na doutrina brasileira, encontra-se a valiosa
conclusão de Maria Berenice Dias, in verbis: 'não mais se pode dizer que alguém só
pode ter um pai e uma mãe. Agora é possível que pessoas tenham vários pais.
Identificada a pluriparentalidade, é necessário reconhecer a existência de múltiplos
vínculos de filiação'.” (…) Recurso Extraordinário a que se nega provimento, fixando-se
a seguinte tese jurídica para aplicação a casos semelhantes: “A paternidade socioafetiva,
declarada ou não em registro público, não impede o reconhecimento do vínculo de
filiação concomitante baseado na origem biológica, com todas as suas consequências
patrimoniais e extrapatrimoniais”. (STF, RE nº 898.060, Relator: Ministro Luiz Fux, J.
21/09/2016).

8) DIREITO CIVIL. FAMÍLIA. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO NEGATÓRIA DE


PATERNIDADE C/C ANULAÇÃO DE REGISTRO DE NASCIMENTO. AUSÊNCIA
DE VÍCIO DE CONSENTIMENTO. RELAÇÃO SOCIOAFETIVA. EXISTÊNCIA.
JULGAMENTO: CPC/2015. 1. Ação negatória de paternidade cumulada com anulação
de registro de nascimento ajuizada em 02/09/2017, da qual foi extraído o presente
recurso especial interposto em 01/03/2019 e atribuído ao gabinete em 31/05/2019. 2. O
propósito recursal é definir se é possível a declaração de nulidade do registro de
nascimento do menor em razão de alegada ocorrência de erro e de ausência de vínculo
biológico com o registrado. 3. O art. 1604 do CC/02 dispõe que "ninguém pode vindicar
estado contrário ao que resulta do registro de nascimento, salvo provando-se erro ou
falsidade do registro". Vale dizer, não é possível negar a paternidade registral, salvo se
consistentes as provas do erro ou da falsidade. 4. Esta Corte consolidou orientação no
sentido de que para ser possível a anulação do registro de nascimento, é imprescindível
a presença de dois requisitos, a saber: (i) prova robusta no sentido de que o pai foi de
fato induzido a erro, ou ainda, que tenha sido coagido a tanto e (ii) inexistência de
relação socioafetiva entre pai e filho. Assim, a divergência entre a paternidade biológica
e a declarada no registro de nascimento não é apta, por si só, para anular o registro.
Precedentes. 5. Na hipótese, apesar da inexistência de vínculo biológico entre a criança
e o pai registral, o recorrente não se desincumbiu do ônus de comprovar a existência de
erro ou de outra espécie de vício de consentimento a justificar a retificação do registro
de nascimento do menor. Ademais, o quadro fático-probatório destacado pelo Tribunal
local revela a existência de nítida relação socioafetiva entre o recorrente e a criança.
Nesse cenário, permitir a desconstituição do reconhecimento de paternidade amparado
em relação de afeto teria o condão de extirpar da criança preponderante fator de
construção de sua identidade e de definição de sua personalidade. 6. Recurso especial
conhecido e desprovido.(STJ - REsp: 1814330 SP 2019/0133138-0, Relator: Ministra
NANCY ANDRIGHI, Data de Julgamento: 14/09/2021, T3 - TERCEIRA TURMA,
Data de Publicação: DJe 28/09/2021)

Exercícios
Marque as assertivas (V) para verdadeira e (F) para falsa. Indique os artigos do CC/2002
correspondentes.

( ) O reconhecimento do filho pode ser revogado, quando feito por testamento.


( ) O reconhecimento do filho pode ser feito apenas durante a vida do filho.
( ) O reconhecimento do filho depende de consentimento do filho, quando este for maior.
( ) O reconhecimento do filho não pode ser impugnado pelo filho, quando este for menor.
( ) O reconhecimento do filho havido fora do casamento permite que ele resida no lar conjugal,
independentemente do consentimento do outro cônjuge.
( ) Se o filho morrer antes de iniciada a ação de investigação de paternidade, seus herdeiros ficarão
inibidos para o ajuizamento, salvo se ele morrer menor ou incapaz.
( ) Se o filho, de maior ou menor idade, falecer após ajuizada a ação de investigação de
paternidade, seus herdeiros poderão dar-lhe prosseguimento, salvo se julgado extinto o processor.
( ) Se o suposto pai já for falecido, a ação de investigação de paternidade deverá ser dirigida
contra o respectivo espólio.
( ) Em ação investigatória, a recusa do suposto pai de submeter-se ao exame de DNA induz
presunção juris tantum de paternidade.
( ) É proibido reconhecer o filho na ata do casamento, para evitar referência a sua origem
extramatrimonial.
( ) Falecido o autor no curso da ação de prova de filiação, os herdeiros poderão continua-la, salvo
se julgado extinto o processo.
( ) O reconhecimento voluntário do filho havido fora do casamento pode se fazer por manifestação
direta e expressa perante o juiz, desde que esse reconhecimento seja o objeto único e principal do ato que
o contém.
( ) Presumem-se concebidos na constância do casamento os filhos havidos por fecundação
artificial heteróloga, desde que tenha prévia autorização do marido.
( ) A relação jurídica de filiação, decorrente do reconhecimento, só pode ser impugnada pelo
próprio perfilhado, no prazo decadencial de quatro anos, após atingir a maioridade.

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