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Capítulo I – Introdução
30. Introdução
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O casamento carece de um processo preliminar – artigo 1622º. A sua inexistência
determina consequências jurídicas em sede de regime de bens: entender-se-á que o
casamento em questão será um casamento em regime de separação de bens.
Com um casamento gera-se uma família. Marido e mulher são cônjuges. Estes não
eram da família um do outro. Poderiam, contudo, sê-lo: colaterais de 4º grau ou parentes mais
afastados. No limite, tio e sobrinha. A lei não obsta aos casamentos de primos, sobrinhos e
tios, embora sejam casos muito raros. Mas a regras é as pessoas não casarem dentro da
família.
33. O parentesco
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em caraterísticas da pessoa do cônjuge da mãe pode socorrer-se de conhecimentos relativos
às invalidades do casamento.
Pais e filhos são parentes em linha reta, no grau mais próximo. Já pai e filho do filho,
neto, têm maior distanciamento. Usou-se a palavra grau. A lei diz que haverá tantos graus
quantas as gerações envolvidas, excluindo o progenitor – artigo 1581º.
António é pai de Bernardo e avô de Cidália. Pais e filhos são parentes no 1º grau da
linha reta; avós e netos no 2ºgrau da mesma linha, ascendente ou descendente que seja a
contagem.
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da dissolução do casamento. Até à sua dissolução (por morte ou divórcio) o MP
pode intentar uma ação nesse sentido.
Se A morre sem testamento, e lhe sobrevivem os colaterais no 4º grau, será por todos
eles que se dividirá a herança de António.
Segundo a lei em vigor, no plano da família, que reflete até certo ponto a relevância da
chamada à sucessão de um parente sobrevivo, caso não existam herdeiros forçados (herdeiros
que o de cujus não pode por seu alvedrio afastar da herança) os colaterais até o 4º grau são
chamados a suceder. Assim, se A morre e não tem cônjuge, nem ascendentes ou descendentes
nem irmãos, serão chamados à herança os seus colaterais no 4º grau – os primos direitos.
Os irmãos podem ter sido gerados pelo mesmo casal: tendo pai e mãe comuns, são
irmãos plenos – irmãos germanos. Podem igualmente ser filhos apenas de pai comum – irmãos
consanguíneos. Ou de mãe comum – irmãos uterinos.
39. Afinidade
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Segundo o artigo 1584º: “Afinidade é o vínculo que liga cada um dos cônjuges aos
parentes do outro”
Se A casa com B e B é filho de C, C passa a ser afim de A. Não são parentes. São
pessoas cujo relacionamento resulta do matrimónio. Por isso se compreende também que
tenda a terminar, caso este matrimónio se extinga.
Assim, se A casou com B e tem dois cunhados, o falecimento de B não altera este
vínculo de afinidade com os cunhados, nem tão pouco no caso de A contrair novas núpcias.
Por ocasião da entrada em vigor da recente lei do divórcio, entrou também em vigor a
última palavra legislativa sobre este ponto. Há cessação do vínculo de afinidade quando um
casamento se dissolve por vontade das partes, ou seja, por divórcio; e tal não acontece,
apenas, caso essa dissolução tenha tudo origem em morte de um dos cônjuges – artigo 1585º.
Vínculo estritamente legal, ou seja, sem laços e sangue, que se estabelece entre duas
pessoas, em condições e nos termos do artigo 1973º. A ordem jurídica portuguesa
contemplava duas modalidades de adoção, a saber, adoção plena e adoção restrita. Apenas aa
adoção plena conferia um estatuto jurídico ao adotado idêntico ao da filiação.
Capítulo II – Casamento
42. Preliminares
O casamento será assim um ato jurídico, por via do qual o nubente se afirma na
vontade de integrar o estado de casado. Assim, para uns, releva acima de tudo a vontade do
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Estado na celebração matrimonial e nas normas a que o casamento se sujeita; outros
sublinham a liberdade de casar.
O casamento nasce de decisões livres e supõe um projeto de vida que, através da sua
celebração, se constrói juridicamente ao serviço do desenvolvimento da vontade e da
dignidade de ambos os cônjuges.
a) Dever de coabitação
O legislador admite intervir nos casos de incumprimento deste dever. Nos casos em
que esta não coabitação seja resultante de uma falta de acordo sobre a residência comum.
Pode intervir judicialmente, não lhe competindo lesar o direito à liberdade. Resta-lhe advertir,
tentar persuadir.
b) Dever de fidelidade
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Coloca em evidência a obrigação de não manter relações sexuais com terceiros. Por
um lado, compreende-se que o dever de fidelidade não gere obrigação de indemnizar, em caso
de incumprimento. Por outro lado, tem por si a virtualidade de ser um forte indício de que a
instituição matrimonial está em situação de crise grave. De tal modo, sua prova é sobretudo
elemento essencial a atender para efeitos de possível divórcio, caso algum dos cônjuges o
reclame.
c) Dever de cooperação
d) Dever de assistência
Com a sua sede no artigo 1675º nº1, o dever de assistência tem um cunho patrimonial:
será o dever de contribuir para os encargos da vida familiar, de prestar alimentos. Mas a
violação do dever de assistência tem consequências que, sendo patrimoniais, se projetam em
toda a vida e relacionamento conjugal. A obrigação de alimentos tem uma importância social
que justifica obrigação jurídica de cumprimento.
e) Dever de respeito
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O processo preliminar tem, assim, início com a tomada oficial de conhecimento da
vontade de casar, manifestada por pessoas determinadas. Trata-se de uma verificação
circunstanciada de aspetos relativos aos esposados: ao seu estado pessoal, às relações de
parentesco ou outras, familiares, que os possam unir já, de modo a apurar se algum aspeto
fundamental de ordem pública impede a realização do casamento impedimentos
dirimentes e impedientes.
O perfil jurídico dos nubentes é sindicado nestes parâmetros, a fim de evitar que se
contraia casamento contrário à ordem pública.
Quando duas pessoas decidem casar, deverão apresentar a sua pretensão numa
conservatória e a conservatória que corresponda ao domicílio de qualquer dos nubentes.
Segue-se um prazo, durante o qual se pode sindicar a capacidade nupcial dos dois requerentes
e bem assim, a sua circunstância pessoal. Findo o mesmo prazo, e tendo verificado o
circunstancialismo que determina a possibilidade de realizar o casamento ou antes, que tal
circunstancialismo obsta ao mesmo para marcação do casamento – artigo 144º do Código de
Registo Civil. Esgotado este procedimento, poderá ter lugar a celebração, que sempre requer
duas testemunhas, caso os nubentes não apresentem meios de identificação legalmente
idóneos para o efeito.
O casamento civil está sujeito a registo. Uma vez lavrado o registo, retrotraem os
efeitos do casamento à data da sua celebração, de acordo com o artigo 1670ºCC.
Não exige as mesmas formalidades que o casamento em geral, mas nem por isso se
realizará sem um percurso legal tipificado. O CC apenas referencia os pressupostos da
celebração, a indispensabilidade de ata do mesmo casamento e a homologação obrigatória
sob pena de inexistência – artigos 1622º nº 1 e 2 e o artigo 1623º. Torna-se necessário que não
haja impedimento dirimente.
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57. Formalidades do casamento católico
58. Generalidades
Para efeito de relevância do dolo, o que importa não é o objeto do mesmo mas a
gravidade das consequências que pode assumir na vida conjugal.
61. Generalidades
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Designa-se por promessa de casamento o contrato pelo qual duas pessoas se
comprometem reciprocamente a contrair casamento. As suas disposições aplicam-se
igualmente à promessa de casamento civil e à promessa de casamento católico.
Será para os casos de incumprimento por “culpa” que a lei funda e recorta um dever
de indemnizar – artigo 1594º. Considera-se culposa a decisão de não casar motivada pela
vontade fútil de uma das partes.
Pois o comportamento culposo não pode fundamentar um divórcio. Pode dar origem a
ressarcimento, quando os deveres sejam incumpridos; e pode justificar a obrigação de
indemnizar antes do casamento.
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O casamento é um negócio jurídico assente na vontade dos nubentes. A vontade ve
ser livre, esclarecida e determinada – artigo 1619º.
A lei admite que um dos nubentes se faça representar na celebração do seu casamento
– por procuração – mediante documento público, ou mediante escrito assinado pelo
representante e com reconhecimento da assinatura – artigo 1620º.
O acordo entre duas pessoas que não obedeça a pressupostos fixados no CC não é um
casamento em sentido técnico-jurídico e merece a designação de inexistente – sanção aplicada
a certos atos jurídicos de tipo matrimonial que não tem correspondência com a lei – artigo
1628º. Também será inexistente o casamento em que os nubentes não declaram a vontade de
casar, mantendo-se em silêncio quando questionado sobre tal vontade. Era inexistente, até
2010, o casamento entre pessoas do mesmo sexo.
Há casamentos juridicamente existentes, cuja validade a lei não admite, por entender
que não são livres, ou não cumprem todos os requisitos de vontade e capacidade por parte de
algum dos nubentes ou de ambos.
Dolo? Pode suceder que um dos nubentes engane o outro acerca de aspetos da sua
personalidade ou vida pessoa, a fim de conseguir que este outro se seduza pela sua alegada
personalidade ou vivência, e case.
A lei não atribui relevância à figura do dolo nesta sede. A sedução e o desejo de
agradar compatibilizam-se com a estratégia das relações pré-nupciais. Mas já será o facto de,
com um comportamento enganador acerca de aspetos determinantes, provocar nessa pessoa
com quem se vai contrair uma relação de vida íntima, a decisão de casar baseada em
pressupostos que, falseando a verdade, desvirtuam a autenticidade da decisão.
O casamento supõe vontade livre. Não deve ser celebrado havendo coação sobre
qualquer dos nubentes. Caso tal aconteça, será anulável – artigo 1638º.
A lei requer que a vontade do nubente não se sustente em erro sobre qualidades
essenciais da pessoa do outro. A lei suscita neste ponto dificuldades de certa monta ao
intérprete. Tais dificuldades reportam-se à compreensão da expressão legal: qualidades
essenciais da pessoa do cônjuge. O conceito de essencialidade revela grande complexidade em
muitas situações. O que são qualidades essenciais? Serão aquelas que revelam aspetos muito
relevantes de circunstância pessoal e do próprio modo de ser.
Será sempre determinante para que alguém celebre casamento saber em que país
nasceu o seu nubente? Era bem mais importante saber há 60 anos se o cônjuge era europeu,
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nascido em Espanha, Portugal ou na Bélgica. Mas considerar hoje a nacionalidade um fator
determinante da razão de casar ou de não casar com A, afigura-se muito improvável.
Revela um traço de caráter, não uma qualidade essencial da pessoa. ora, o erro que
aqui importa incide sobre qualidades essenciais da pessoa, pelas repercussões que pode ter
tido na determinação da vontade de casar.
O que se entende por erro desculpável? Todo aquele em que incorre quem está sendo
vítima de astúcia, ardil tal, que uma perspicácia corrente não permitiria desfazer. Há casos em
que uma doença séria se evidencia: sintomas permanentes, desmaios, vertigens, farão
desconfiar de síndroma patológica. Noutros casos ainda, a doença tem natureza que aumenta
exponencialmente os talentos de ocultação do paciente, aqui, o nubente que oculta a verdade.
A esquizofrenia fará parte do leque.
O dolo que esconde aspetos trívias da personalidade não tem dimensão para invalidar
um casamento. Todavia, consideramos evidente que a intenção de defraudar o outro nubente
acerca de uma qualidade essencial releva. Outro problema bem distinto é o de saber o âmbito
atendível para a delimitação das qualidades pessoas relevantes para este efeito. E é nesse
ponto que a hermenêutica do artigo 1636º deve sobretudo situar-se.
Na cláusula geral que contém, a qual poderia explicitar que o erro deve ter
dimensão para tronar a vida comum incompatível
No elenco de circunstâncias para que o seu referente histórico aponta
Na própria solução dogmática, recorrendo ao crivo da não desculpa.
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Idade inferior a dezasseis anos
Impedimento por falta de idade núbil. Recentemente, a lei da união de facto, impõe a
sua relevância quando o casal de companheiros atinge os 18 anos. O menor de 16 anos,
embora podendo casar, carece do consentimento dos pais ou tutores, e, na falta deste se
houver autorização do conservador do registo civil. Mas pode, ainda assim, adquirir o estado
de casado.
Se não tiver ocorrido interdição ou inabilitação por anomalia psíquica e não ocorrer
durante o processo preliminar de casamento comunicação de que a demência notória existe, o
casamento poderá ocorrer. A demência notória é aferível socialmente. Em caso de interdição
ou inabilitação por anomalia psíquica, verifica-se impedimento dirimente, como referenciado
pelo artigo 1601º. A demência dá-se como provada quando exista atestado de médico da
especialidade.
O problema mais complexo que a existência de demência notória suscita diz respeito
àquelas patologias que são de gravidade indiscutível, mas nem sempre cognoscíveis pela
generalidade das pessoas. A notoriedade é também sinónima de gravidade
A lei procura evitar o casamento que dê origem a situação de bigamia. Até à dissolução
de casamento anterior, não pode alguém contrair novo casamento. A bigamia constitui crime,
nos termos do Código Penal – artigo 247º. Por motivos de segurança jurídica enquanto
ocorrerem diligências relativas à invalidação ou cessação do primeiro casamento, não terá
lugar o segundo.
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celebrar casamento com aqueles seus familiares ou afins na linha reta. Ou se casar com quem
tenha tido relação de responsabilidade parental, ou, por fim, como quem atentou contra a
vida do seu cônjuge.
68. Invalidades
Os casos que aqui se integram constam do artigo 1631º do CC. Também segundo a lei,
a anulabilidade não será invocável para nenhum efeito, enquanto não for reconhecida por
sentença judicial transitada em julgado e especialmente intentada para a invalidação do
casamento – artigo 1632º.
A legitimidade para intentar a ação incumbe aos cônjuges, aos seus parentes na linha
reta ou até ao quarto grau da linha colateral, bem como aos herdeiros ou adotantes, e ainda,
ao Ministério Público. Em caso de menoridade, interdição ou inabilitação por anomalia
psíquica, a mesma incumbência é também deferida ao tutor, ao curador, e ainda ao primeiro
cônjuge do bígamo, em caso de bigamia – nº 2 do artigo citado.
A lei impõe uma restrição ao Ministério Público. Este apenas poderá interpor a ação
até à dissolução do casamento.
Para os casos de vício da vontade, apenas o cônjuge que tenha sido alvo da atitude
enganadora pode intentar a ação; já podem prosseguir nela, em caso de falecimento do autor
na sua pendência, os parentes e afins na linha reta, herdeiros ou adotantes – artigo 1641º.
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quase todas estas situações. A exceção é o casamento simulado, pela sua possível repercussão
social.
No caso de erro vício caduca a ação, se não for instaurada no prazo de seis meses
subsequentes à cessação do vício – artigo 1645º.
Têm semelhança com os antes vistos num domínio bem delimitado: podem levar à não
celebração do casamento. “Obstam ao casamento” como afirma a lei. estão eles expostos no
artigo 1604º.
O menor que casa sem consentimento continuará sendo tratado como menor
quanto à administração dos bens que leve para o casal, ou que receba a título
gratuito até à maioridade, sendo os bens administrados por quem exercia a
responsabilidade sobre si – artigo 1649º nº 1 e 2; nunca respondem tais bens por
dívidas contraídas por um ou por ambos os cônjuges no mesmo período.
Tio e sobrinha (ou tia e sobrinha) que casem sem terem obtido a dispensa do
conservador, por motivos ponderosos, não podem receber doações um do outro,
nem tão pouco deixas testamentárias – artigo 1609º e artigo 1650º. A mesma
sanção vale para os casamentos referenciados nas alíneas d) e e) do artigo 1604º.
O nubente que casa violando as regras próprias do prazo internupcial sofre a sanção
que o artigo 1650º determina: privação de todos os bens que tenham recebido por doação ou
sucessão do primeiro cônjuge – artigo 1650º nº1.
A casa com o sobrinho B sem ter havido dispensa do conservador. Por morte de
qualquer dos cônjuges, não receberá o cônjuge sobrevivo uma eventual quota testamentária
que o falecido lhe tenha deixado. No entanto, o cônjuge é herdeiro legitimário, pelo que a
legítima ficará intocada. E, caso não tenha havido testamento, não sofre sanção sucessória.
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O regime da indignidade está previsto no artigo 2034º.
No caso do desrespeito pelo prazo internupcial, a sanção que o legislador aplica não
deixa transparecer outro sentido que não seja sancionar o nubente face a um comportamento
que se entende atentatório da memória ou da consideração do seu primeiro cônjuge.
Se a proibição de casar antes de ocorrido o prazo internupcial evitar que uma possível
filiação ocorra dentro desse prazo não se estabeleça corretamente, como se justifica sancionar
a mulher ou o marido que assim procedam, proibindo a perceção de benesses patrimoniais do
primeiro cônjuge? Tudo se passa como se, na mente do legislador, lesado fosse também este
cônjuge. Como se ele pudesse ser vítima de uma ofensa que suscite uma compensação
material; e tal compensação fosse atribuída através de bens de que dispusera a favor do
cônjuge “infrator” na constância do casamento ou que tivesse sido atribuído a este por sua
morte, compensando assim a descendência ou outros herdeiros.
72. Validação
Ao casamento inválido e como tal declarado não está vedado produzir efeitos. A lei
considera que, havendo boa fé por parte dos cônjuges, ou pelo menos de um deles, assim
acontece. Os negócios jurídicos em que tenha participado até à declaração judicial de
invalidade não são destruídos na sua esfera jurídica – artigo 1648º nº2.
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Há casos em que, mesmo declarada judicialmente a invalidade do casamento, o
legislador reconhece que este deve manter alguns dos efeitos dos eventos e dos
comportamentos que ocorreram durante a sua vigência.
O casamento inválido vai produzir efeitos, sim, embora se elenquem legalmente três
ordens dos mesmos. O regime está contido no nº2 do preceito. A lei atende à existência ou
não de boa fé na celebração do casamento.
Há boa fé sempre que o cônjuge ignore o vício de que o casamento padece, mas, do
mesmo passo, inclui-se no conceito qualquer situação em que o agente não tem consciência
do significado do ato inválido que pratica. Verificando-se tal boa fé, o casamento produz
efeitos em relação ao cônjuge de boa fé, ou a ambos, se a ambos os cônjuges a boa fé for
imputável.
A sede legal é o artigo 1698º de acordo com o qual os esposos podem fixar livremente,
em convenção antenupcial, o regime de bens do casamento, quer escolhendo um dos regimes
previstos neste código, quer estipulando o que lhes aprouver, dentro dos limites da lei.
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A convenção antenupcial mostra ser o negócio jurídico em que se determinam
matérias patrimoniais relativas ao futuro casamento. A lei impede que certas matérias possam
ser reguladas por convenção antenupcial. De acordo com o artigo 1699º, não poderão:
O nº2 do mesmo artigo 1699º introduz uma outra proibição relevante. Trata-se da
proibição, quem impende sobre quem tenha filhos de outrem que não o nubente, ao tempo da
celebração da convenção antenupcial de celebrar o casamento em regime de comunhão geral,
ou ainda, de admitir como bens comuns os bens que de que for titular ao tempo da celebração
do casamento, os bens adquiridos por sucessão ou doação e os direitos adquiridos na
constância do matrimónio por virtude de direito próprio anterior – ou seja, os bens enunciados
nas alíneas a), b) e c) do nº1 do artigo 1722º. O legislador tem de salvaguardar o património
destes filhos.
A proibição onera o progenitor cujos filhos não sejam também filhos do nubente. As
proibições vertidas visam proteger esses filhos anteriores ao casamento.
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As doações para casamento deverão constar da convenção antenupcial e obedecer a
requisitos de forma: declaração prestada perante funcionários ou escritura pública – artigo
1756º - para produzirem efeitos.
A lei entende que as doações para casamento podem ser feitas por um dos esposados
ao outro, pelos dois reciprocamente, ou por terceiro a um ou a ambos os esposados – artigos
1753º e 1754º. Não se contemplam no conceito as doações feitas pelos espessados a terceiros.
Suponhamos que o donatário agiu com ingratidão para com o doador. Nos termos
gerais dos contratos de doação, poderá a mesma ser revogada pelo doador, unilateralmente,
uma vez que preencha os requisitos legais da ingratidão – artigo 974º. Porém, sendo a doação
feita para casamento, não é revogável unilateralmente – alínea a) do artigo 975º.
A permissão legal das doações mortis causa justifica-se como forma de contribuir para
a estabilidade social do casamento, senão mesmo, para o encorajar. Nos termos do artigo
2028º, apenas se admitem os contratos sucessórios nos casos previstos na lei, sendo nulos
todos os demais.
O nº1 do artigo 1701º veio permitir que as disposições sejam feitas por terceiros aos
esposados. A razão de ser destes pactos sucessórios é o benefício patrimonial dos futuros
membros da comunidade conjugal. Este regime determina a aplicação às doações para
casamento mortis causa de regime idêntico ao vertido no artigo 1758º. Assim, as doações
entre os esposados não são revogáveis por mútuo consentimento. Diferentemente, as
disposições feitas aos esposados por terceiros já o poderão ser, verificando-se mútuo
consentimento: assim, o nº1 do artigo 1701º.
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A convenção antenupcial tem uma importância decisiva no domínio do regime dos
bens do casamento. Só é possível alterar o regime supletivo desde que tal ocorra no âmbito de
uma tal convenção. O efeito mais importante da convenção antenupcial reside e resulta do
artigo 1698º, na sua capacidade de determinar o regime de bens de cada casamento.
Quem não celebra convenção antenupcial não pode considerar-se casado que não seja
no regime legal supletivo, o regime de comunhão de adquiridos. Que regimes podem então ser
convencionados? Todos aqueles que a lei não imponha a situações legalmente estipuladas.
Aqueles que não infrinjam as normas do CC. Assim:
De acordo com a mesma modalidade, não impõe um regime de bens, mas fecha as
portas a um regime de bens tipificado na lei e também a algumas modalidades de regime de
bens não tipificadas. É o caso sempre que um dos nubentes tenha descendente anterior ao
casamento: casará segundo outro regime que não a comunhão geral e sem inclusão dos bens
mencionados no nº1 do artigo 1722º entre os seus bens próprios – assim decorre o artigo
1699º nº2.
Fora estes casos, o âmbito de aplicação das convenções antenupciais é vasto. Pode
assim determinar-se um regime que não o supletivo: optarem os nubentes pela comunhão
geral, pela separação de bens. Podem ainda optar por regime misto, congregando regras
vários destes regimes. Trata-se de regime atípico.
A lei não exclui a possibilidade de ambos os cônjuges optarem por regimes de bens
diferentes, em sequência temporal. Mas só admite que um regime de bens mude em razão de
verificação de condição ou termo. Assim decorre do nº1 do artigo 1713º.
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A mudança de regime de bens que ocorrer será ditada por fatores aleatórios e não
pela vontade dos cônjuges posterior ao casamento. Pois, se tal acontecer, estar-se-ia a admitir
a alteração do regime de bens por vontade das partes, a todo o momento.
Um regime misto
Assim a vigência de comunhão geral por três anos, seguida de separação, desde que
verificada uma certa álea no motivo que determina a mudança.
O sentido das restrições legislativas que dizem respeito a matérias do foro pessoal é
facilmente compreensível. Pensemos nas alterações das responsabilidades parentais e dos
deveres conjugais. Não seria possível regular contra legem, na convenção antenupcial, ou
antecipar para um momento prévio ao ocorrido um facto possível e futuro, matéria que
envolve direitos de personalidade.
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administração de bens do casal não compete às convenções antenupciais. A administração dos
bens do casal reflete o princípio da igualdade dos cônjuges.
A incomunicabilidade de bens que a lei estipula no artigo 1733º explica-se por várias
ordens de razoes: imperativo de justiça, ordem pública, imposição legítima da vontade de
terceiro. São bens próprios, mesmo em regime de comunhão geral de bens.
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Os bens comprados antes do casamento com reserva de propriedade
Os bens adquiridos no exercício do direito de preferência fundado em situação
existente à data do casamento
A lei vai mais longe, exemplificando também no artigo 1723º artigos que fazem parte
dos bens próprios:
A lei atendeu ainda à titularidade daqueles bens que, tendo sido adquiridos em parte
com bens próprios de um dos cônjuges e em parte com bens comuns, revestem a natureza da
mais valiosa das duas prestações – artigo 1726º nº1.
A lei indica nos artigos 1727º a 1729º, outras situações em que os bens são
considerados próprios de um dos cônjuges. Os casos em que o próprio doador afirma que tais
bens entram na comunhão é possível. Nesse caso, a liberalidade considera-se conjunta e os
bens são comuns – artigo 1729º.
A lei regula-o atualmente nos artigos 1732º e seguintes, estipulando que nestes casos
o património comum é constituído por todos os bens, presentes e futuros, dos cônjuges –
artigo 1732º.
É o regime imperativo para alguns casos já vistos. O artigo 1735º define o seu regime
de forma assertiva: “Se o regime de bens imposto por lei ou adotado pelos esposados for o da
separação, cada um deles conserva o domínio e fruição de todos os seus bens presentes e
futuros, podendo dispor deles livremente”.
O nº1 do artigo 1678º defere ao cônjuge a administração dos bens de que seja
proprietário. Em certas situações esta regra não se aplica:
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Se o móvel X pertence a um dos cônjuges, mas é usado como instrumento de
trabalho de outro, e sendo este cônjuge que o usa exclusivamente, é ele o cônjuge
administrador – alínea e) nº2 1678º.
Pode verificar-se a ausência ou impedimento do outro cônjuge: de novo, a
administração é deferida àquele que mostra estar em condições de administrar –
alínea f)
O próprio cônjuge administrador tenha, através de mandato revogável, incumbindo
o cônjuge não administrador de o fazer – alínea g)
Bens comuns – comunhão geral, comunhão de adquiridos e ainda nos regimes mistos –
o regime de administração sofre alterações.
Neste caso, é a regra a administração conjunta, sem prejuízo de cada cônjuge poder
praticar por si só atos de administração ordinária – nº3 do 1678º.
Há bens comuns que deverão ser administrados exclusivamente pelo cônjuge titular de
uma ligação especial com os mesmos bens – nº2 do artigo 1678º a), b), c), d), e). relembramos
que a cada cônjuge compete excecionalmente a administração – f) e g).
O nº3 – sem mandato escrito, mas com conhecimento e sem oposição expressa do
outro cônjuge, um dos cônjuges entra na administração dos bens próprios daquele ou dos
bens comuns que não administre, aplicando as regras da administração fundamentada em
mandato.
Cabe a cada cônjuge a administração dos bens de que é proprietário – nº1 do 1678º. A
administração pode ou não ser ordinária, o que tem consequências:
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A lei acautela a posição do cônjuge não administrador face aos comportamentos que
entenda não corresponderem a boa gestão: no caso de haver impossibilidade por parte do
outro cônjuge de administrar e ele não diligencie uma alternativa, como no caso de o
retardamento das providências de administração que se impõem estar a provocar prejuízos –
artigo 1679º.
Cada cônjuge pode legitimamente alienar ou onerar inter vivos os móveis próprios ou
comuns que administre, nos termos do nº1 do 1678º e das alíneas a) a f) do nº2.
Um dos cônjuges pode ser titular de bem próprio, adquirido por sucessão ou doação,
estando-lhe contudo vedado aliená-lo ou onerá-lo sem o consentimento do seu
cônjuge
A alienação, oneração ou locação de estabelecimento comercial
A lei impõe o consentimento de ambos os cônjuges, nos termos do 1682º B. A lei exige
para o consentimento a forma requerida para a procuração e admite que possa haver
suprimento judicial do consentimento, nos casos estritos em que se verifique injusta recusa.
As dívidas que aproveitam ao casal são as que interessam a ambos os cônjuges, sem
bem que possam não ocorrer a encargos da vida familiar: será o caso de um investimento em
bens artísticos ou na remodelação de um prédio: os encargos da vida familiar não foram
satisfeitos deste modo e, todavia, a dívida contraída aproveitou ao casal.
O proveito comum não se presume, exceto nos casos em que a lei o declare – nº3 do
1691º. Deverá o cônjuge que contraiu a dívida prová-lo. Outras dívidas são da
responsabilidade exclusiva de um dos cônjuges – artigo 1692º.
O artigo 1693º estipula um regime específico para as dívidas que onerem doações,
heranças ou legados: são da exclusiva responsabilidade do cônjuge aceitante, mesmo nos
casos em que a aceitação tenha sido efetuada com o consentimento do outro cônjuge – nº1
1693º.
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Apenas nos casos em que os bens em questão ingressem no património comum por
força do regime de bens a responsabilidade pelas dívidas será comum. O cônjuge do aceitante
poderá, todavia, impugnar o seu cumprimento, fundamentando a impugnação com base na
insuficiência dos bens para a satisfação dos encargos – nº2 do 1693º.
Para além dos bens próprios do cônjuge devedor, respondem certos bens comuns,
previstos no 1696º nº2.
A lei proíbe-as, desde logo, nos casos em que o regime de bens do casamento é o da
separação de bens, mas como regime imperativo. Ou seja, quando um dos cônjuges contrai
casamento a partir dos 60 anos e nos casos em que o casamento se celebrou sem que tenha
ocorrido processo preliminar – artigo 1762º.
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São doações que caducam nos casos seguintes:
Estão submetidas a forma escrita, quando o seu objeto sejam coisas imóveis. Versam
sempre sobre bens próprios do doador e não se comunicam.
O legislador teme que o cônjuge donatário pode aproveitar o seu ascendente sobre o
doador, adquirindo assim bens que, não apenas subvertem o espírito inicial do regime de bens
em que casaram, como pode prejudicar terceiros: podem desvirtuar o regime de bens
acordado e vigente. A ideia da “influência” conjugal como malefício do qual se impõe proteger
cada pessoa casada afigura-se incompatível com a liberdade de cada membro do casal, senão
mesmo, com a sua dignidade; pondera-se o prejuízo que as doações entre casados podem
causar a terceiros.
A lei aplica, nos termos do artigo 1794º, à separação judicial e bens o regime do
divórcio. Tal separação não dissolve o casamento, mas extingue os deveres conjugais,
excecionando o direito a alimentos. Só quanto aos bens se produzem os mesmos efeitos que
decorreriam de divórcio.
1795º-C – A reconciliação, que pode ter lugar a todo o tempo, deve fazer-se por
escritura pública ou por termo do processo de separação, estando sujeita a homologação
judicial.
O divórcio litigioso tem lugar quando um dos cônjuges interpõe ação contra o outro,
alegando violação culposa dos deveres conjugais. Poderá alegar violação de um ou mais
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deveres, assim como imputar ao outro cônjuge uma culpa mais ou menos intensa. A atual
ordem jurídica portuguesa baniu esta categoria, como veremos.
O divórcio por mútuo acordo, constante dos artigos 1775º e seguintes, mantém-se.
Deverá ser requerido na conservatória do registo civil e instaurado a todo o tempo, mediante
documento assinado pelos dois cônjuges ou pelos seus respetivos procuradores. Sublinha-se a
exigência de:
A mesma regra se aplica em relação aos acordos sobre alimentos e destino da casa de
morada de família.
A lei não permite o divórcio por mútuo consentimento sem acautelar interesses sociais
fundamentais, como o direito a alimentos, à casa de morada de família e, por último, embora
determinante, o interesse dos filhos.
A nova lei abole a culpa como fundamento do divórcio. Numa tentativa implícita de
evitar a conflitualidade conjugal nas fases que antecedem o termo da vida conjugal e mesmo
depois da sua cessação, o legislador decide agora que não será a violação culposa dos deveres
conjugais a fundamentar o divórcio, mas antes a “rutura do casamento”, ou seja, a verificação
de existência de fatores que determinam a insustentabilidade da vida comum.
Assim, o 1773º afirma que o divórcio poderá obter-se por mútuo consentimento ou
sem consentimento de um dos cônjuges.
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Quaisquer outros factos que, independentemente da culpa dos cônjuges, mostrem a
rutura definitiva do casamento – cláusula aberta que requer apreciação de um juiz
E divórcio pode ser requerido a todo o tempo e as exigências jurídicas mais salientes
respeitam ao divórcio requerido sem o consentimento de um dos cônjuges.
Princípio da última ratio – o juiz tenta evitar que o divórcio sem o consentimento de
um dos cônjuges corra, sem proceder a tentativa de conciliação dos cônjuges ou a
acordo para alteração para divórcio por mútuo consentimento.
Princípio da judicialidade – deve ser requerido em tribunal, naturalmente, por um dos
cônjuges contra o outro
Não é passível de suscitar a aplicação de sanções a nenhum dos cônjuges
Caso um cônjuge tenha provocado danos ao outro, estes serão apreciados em
processos autónomo à ação de divórcio
Excetuam-se apenas os casos previstos no nº1 do artigo 1792º, bem como no 1781º b).
A lei sofreu uma grande alteração no momento em que subsistiu o pressuposto da culpa pela
verificação da rutura do casamento.
A nova lei do divórcio veio impor uma regra de partilha que não deixa de causar
perplexidade e controvérsia. Determina, assim, o 1790º que nenhum dos cônjuges poderá, em
caso de divórcio, receber na partilha mais do que lhe competiria receber nos casos em que o
regime de bens estipulado seja o de comunhão de adquiridos.
Nestes outros casos, cada cônjuge seria contitular dos bens anteriores ao casamento,
tal como de todos os bens posteriores, excetuados os bens que o artigo 1699º contempla
como de natureza pessoalíssima.
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A regra aplica-se também aos casamentos entre duas pessoas, no caso de um dos
nubentes ter filho ou filhos de terceiro, anteriores ao casamento, cujo decesso se verificou,
entretanto. O artigo 1699º impede que a atribuição da qualidade de bens comuns aos bens
referidos no artigo 1722º, ou seja, a bens que o regime de comunhão de adquiridos não
integra na comunhão. Neste caso, não se justifica esta “não reversão” à comunidade de bens
de património próprio de um dos cônjuges no momento da dissolução do casamento, quando
isso correspondia à vontade dos cônjuges e a lei os furtou à comunhão no interesse dos filhos
e se trata de uma lei inspirada pela proteção destes em caso de dissolução do casamento.
100. Apreciação
O acordo dos pais será tido em conta, mas não é critério da última instância da
decisão. Já os titulares que exercem responsabilidades parentais ou que atuem sozinhos têm
agora um dever de informar o outro progenitor.
Ao artigo 1904º foi aditado o artigo 1904º-A. A lei procurou atenuar o caráter nocivo
para a criança do exercício de responsabilidades parentais por progenitor que não reúna as
condições para o efeito.
Nos termos do 1671º nº2, cabe a ambos os cônjuges acordar acerca do modo de
distribuição das funções a desempenhar por ambos em prol da vida familiar. Porém, uma vez
extinta por divórcio, a vida conjugal, vem reconhecer a importância do trabalho doméstico. E
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assim, estipula que, sempre que um dos cônjuges tivesse ficado especialmente onerado com
esta incumbência, deverá ter lugar uma compensação, devida pelo património comum ao
património próprio.
Em regime de separação de bens não se realiza partilha: poderá, sim, haver lugar a
ações de divisão de coisa comum para o caso de os cônjuges serem comproprietários – 1412º
e 1735º.
Em caso de vigorar o regime da separação de bens, quem opta por esse regime afirma
implicitamente que os efeitos patrimoniais do casamento serão muito escassos; e a opção pela
autonomia patrimonial é, à primeira vista, incompatível com o reconhecimento de uma
compensação financeira. No entanto, a ordem jurídica portuguesa não permite estipulação de
regimes de compensação em caso de divórcio. Solução: divisão de coisa comum em caso de
compropriedade, no final do casamento.
O direito de crédito atribuído ao cônjuge que mais contribuiu para a vida familiar não é
incompatível com um outro a direito a alimentos, nos termos do artigo 2016º-A.
E torna expresso, pelo nº3 do artigo 2016º-A, que não é reconhecido ao cônjuge o
padrão de vida de que beneficiava na constância do matrimónio.
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À iminência de subvalorização das despesas com a educação dos filhos, alia-se o
regime de bens ficcionado para a partilha, o de comunhão de adquiridos. Assim, a solução
legislativa não se mostra compatível com um regime verdadeiramente compensatório do
cônjuge que, no todo ou em parte, renunciou à sua carreira profissional em benefício de uma
ideia de família.
De acordo com o 2016º nº1, cada um dos cônjuges deve prover à sua subsistência
depois do divórcio, mas logo acrescentando a lei que qualquer dos cônjuges tem direito a
receber alimentos independentemente do tipo de divórcio.
103. Partilha
Os créditos de cada cônjuge sobre o outro são pagos pela meação do cônjuge devedor
no património comum. Só responderão os bens próprios do cônjuge devedor caso estes sejam
inexistentes ou insuficientes.
§19. União de facto e Medidas de proteção das pessoas que vivam em economia comum
O TEDH vem reconhecendo, em várias das suas decisões, caráter familiar às uniões de
facto, incluindo as que são constituídas por casais com a mesma orientação sexual.
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106. União de facto e família: consequências da exigência de relações análogas às dos
cônjuges
Segundo o atual nº2 do artigo 1º: a união de facto é a situação jurídica de duas pessoas
que, independentemente do sexo, vivam em condições análogas às dos cônjuges há mais de
dois anos.
Hoje apenas se admite a união de facto a partir do momento em que a união ganha
relevância jurídica.
Para a vida em condições análogas às dos cônjuges implica que não haja fundamento
para distinguir as consequências jurídicas da vida conjugal e da vida em união informal. Para
Jorge Duarte Pinheiro, a lei não prevê direitos e deveres que vinculem reciprocamente os
membros da união de facto.
Nos casos em que os companheiros iniciem vida de tipo conjugal, mas a interrompam
porque não vivem de acordo com a realidade conjugal, deverá sem dúvida dar-se por
terminada a situação que haviam iniciado. E assim, caso voltem a reatar vida em termos
análogos à vida conjugal, o prazo para que a união de facto seja juridicamente relevante inicia-
se de novo.
Nos termos do 1673º nº2 os cônjuges devem adotar a residência de família. Não viver
na residência de família não significa por si só violação dos deveres conjugais.
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Segundo o artigo 2º, impedem a atribuição de direitos ou benefícios, em vida dos
cônjuges ou por morte, fundados na união de facto:
109. União de facto constituída tendo o companheiro o estado de casado: apreciação das
consequências jurídicas
Casamento não dissolvido, salvo se tiver sido decretada a separação de pessoas e bens
Não pode deixar de reconhecer-se que o dever de alimentos não se extingue, com o
perfil de dever conjugal – artigo 1795º-A – e que a separação judicial e pessoas e bens termina
pela reconciliação dos cônjuges.
Caso alguém celebre casamento e este ainda não tenha sido dissolvido, é legítima, nos
termos da lei, a constituição de uma união de facto, desde que os cônjuges estejam separados.
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Pela vontade de qualquer deles – a dissolução é informal, diferentemente do
casamento
Com o casamento de um dos membros
A lei não adotou o regime constate do DL 349/X de 2009 da AR, que reconhecia um
direito de compensação ao membro da união de facto que tivesse contribuído de forma
particularmente intensa para os encargos da vida familiar.
A prova emitida pela junta de freguesia no caso de morte de um dos membros consta
de documento atestando a residência há mais de dois anos à data do óbito, e, igualmente, de
certidão de cópia integral do registo de nascimento, bem como de certidão de óbito do
falecido.
A união de facto não possui um regime de bens, sendo aplicáveis as regras gerais do
Direitos das Obrigações ao relacionamento patrimonial dos cônjuges entre si e com terceiros.
Podem, assim, os membros adquirir bens em compropriedade e a título pessoal. Não há bens
comuns, nem regras de administração específica para os bens.
É certo que haverá bens adquiridos em comum. Mas nem se deverá aplicar uma
presunção de compropriedade, a menos que esta conste do título de aquisição.
Em qualquer caso, o membro da união que não consta do título aquisitivo, mas
contribuiu para a aquisição de bem ou bens deverá ser protegido, através da aplicação do
regime do enriquecimento sem causa, nos termos do artigo 473º do Código Civil.
Na constância da união de facto poderão ser contraídas dívidas por qualquer um dos
membros. Sendo os contratos que se realizam no decurso da união de facto contratos
indiferenciados de quaisquer outros, vinculam as partes que nele intervêm, pelo que a
responsabilidade pelas dívidas recairá sobre o companheiro que a contraiu.
Em caso de rutura da união de facto, o membro que viva em casa arrendada pelo
outro terá direitos a optar pela transmissão do arrendamento ou pela concentração a seu
favor. O nº1 do 1105º pressupõe, para que que este direito se constitua, que o casamento
cesse por acordo. Em rigor, aplica-se apenas às uniões de facto que cessem por acordo.
No caso de a rutura da união de facto ser unilateral, caberá a tribunal decidir, tendo
em conta a necessidade de cada um, os interesses dos filhos e outros fatores relevantes. O
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último critério de ponderação judicial terá em conta a necessidade indireta do membro da
união de facto, designadamente, para efeitos de alojamento de dependentes a seu cargo.
Segundo o artigo 1793º, em caso de rutura de união de facto, pode o tribunal dar de
arrendamento a qualquer dos cônjuges a casa de morada de família, seja ela comum ou
própria do outro, considerando, nomeadamente, as suas necessidades e o interesse dos filhos.
Este arrendamento fica sujeito às regras do arrendamento para habitação, podendo, contudo,
o tribunal definir as condições do contrato, ouvindo os cônjuges. Assim diz o artigo 1793º nº2.
O prazo de cinco anos larga-se sempre que a união de facto tenha tido duração
superior a cinco anos. Nestes casos, tem duração igual à duração da união de facto – artigo 5º
nº2. Pode ainda ser prorrogado o prazo – artigo 5º nº4. Caduca, no caso de não utilização
durante um ano – artigo 5º nº5. Não vale se o companheiro sobrevivo tiver casa própria no
respetivo concelho – artigo 5º nº5. Uma vez esgotado o prazo, o companheiro sobrevivo tem o
direito de permanecer no imóvel na qualidade de arrendatário, nas condições gerais do
mercado – artigo 5º nº7. Tem direito de preferência em caso de alienação do imóvel – artigo
5º nº9 – e goza do direito vertido o artigo 1106º nº1 c) do CC – artigo 5º nº10.
118. Conceito
Capítulo IV – Filiação
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§20. Preliminares. Estabelecimento da maternidade e da paternidade. Estabelecimento
judicial da maternidade
O reconhecimento judicial da filiação consiste no recurso a uma ação judicial com vista
a obter uma sentença que constitua o vínculo de parentesco entre duas pessoas: o pai, a mãe
e o filho. Trata-se de tentar que uma sentença estabeleça a filiação, dando, desta forma,
concretização ao direito fundamental de todos os cidadãos a conhecer a sua identidade
pessoal.
Nos termos do artigo 1814º, incumbe ao filho propor a ação comum de investigação da
maternidade. Porém o legislador consagrou uma ação atípica que decorre da circunstância de
ser admitido um pedido de reconhecimento da maternidade que se apresente conexionado
com o esclarecimento judicial da paternidade do filho.
Assim, a mãe pode requerer ao tribunal que declare a maternidade, caso se trate de
filho nascido ou concebido na constância do matrimónio e exista perfilhação por pessoa que
não o marido – artigo 1824º.
Nos termos do nº1 do artigo 1819º, a ação deve ser proposta contra a pretensa mãe
ou, no caso de esta ter falecido, contra o cônjuge sobrevivo não separado judicialmente de
pessoas e bens. E também, sucessivamente, contra os descendentes, ascendentes ou irmãos.
O filho deve, assim, propor a ação contra a pretensa mãe.
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No artigo 1819º nº2 estão abrangidos, por razões de certeza e de segurança jurídica,
quaisquer herdeiros ou legatários, independentemente do seu facto designativo.
A lei remete para a regra geral de atribuição de legitimidade passiva – artigos 1818º e
1819º - no caso de falecimento do autor ou dos réus na ação de reconhecimento da
maternidade de filho nascido ou concebido na constância do matrimónio e ainda menor –
artigo 1825º.
Artigo 1817º nº1 a ação de investigação da maternidade só pode ser proposta durante
a menoridade do investigante ou nos dez anos posteriores à sua maioridade ou emancipação.
Ou seja, o direito da pessoa investigar e fixar a sua identidade pessoal tem como limite a idade
de 28 anos.
Em primeiro lugar, o caso de a maternidade já ser conhecida, mas ainda não constar
do registo de nascimento, em virtude da proibição de reconhecimento da maternidade em
contrário do que consta do registo de nascimento – artigo 1815º. O legislador permite que a
ação de reconhecimento da maternidade possa ser intentada nos três anos seguintes à
retificação, declaração de nulidade ou cancelamento do registo inibitório.
Subjetiva, pois que tais factos que justificarão a aplicação do prazo suplementar
poderão relevar de condutas da própria mãe.
A cessação de tratamento do filho como filho pela mãe não poderá ser considerada
como causa de extinção do vínculo de filiação, ou mesmo como prova negativa de
maternidade, que opere automaticamente: trata-se apenas de um indício de que a
maternidade estabelecida poderá não corresponder à verdade biológica.
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geral do nº1 do artigo 1817º, a ação não seria admissível, devendo o juiz proceder à absolvição
da instância.
Quando o filho houver sido reputado e tratado como tal pela pretensa mãe e também
pelo meio envolvente, ocorre a designada posse de estado.
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O artigo 1848º determina que não é admitido o reconhecimento em contrário da
filiação que conste do registo de nascimento enquanto este não for retificado, declarado nulo
ou cancelado – nº1; e a retificação, declaração de nulidade ou cancelamento do registo de
nascimento não invalida a perfilhação feita por testamento, por escritura pública ou por termo
lavrado em juízo – nº2. Tais regras aplicam-se quer à perfilhação, quer ao reconhecimento
judicial da paternidade.
No que respeita à legitimidade passiva, a ação deve ser proposta contra o pretenso pai
ou, se este tiver falecido, contra o cônjuge sobrevivo não separado judicialmente de pessoas e
bens e também, sucessivamente, contra os descendentes, ascendentes ou irmãos.
A mãe menor tem legitimidade para intentar a ação em representação do filho sem
necessidade de autorização dos pais, mas será sempre representada na causa por curador
especial nomeado pelo tribunal – artigo 1870º.
Numa das suas decisões mais recentes, o Supremo Tribunal decidiu que o artigo 1817º,
que estabelece um prazo de dez anos após a maioridade, é inconstitucional.
Entendemos que a melhor orientação será considerar que o prazo previsto no artigo
1817º padece de inconstitucionalidade material, por violação dos artigos 26º nº1 e 36º da CRP.
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Acima de qualquer outro argumento aduzível, ergue-se o direito fundamental,
decorrente da dignidade humana, ao conhecimento da origem genética e familiar.
130. Prova
A prova judicial que o autor tem de fazer é a dos factos que atestam o tratamento e a
reputação como filho por parte do pretenso pai (vivência com o pai, ofertas do pai,
acompanhamento à escola por parte do pai, etc.). São também de considerar as restantes
alíneas b), c), d) e e).
Nos termos do artigo 1803º, aquele que declarar o nascimento deve, sempre que
possa, identificar a mãe do registando, sendo a maternidade indicada mencionada no registo
(nº1 e 2). No caso de declaração de nascimento ocorrido há menos de um ano, a maternidade
indicada considera-se estabelecida – artigo 1804º nº1.
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Complexo é o caso de declaração de maternidade feita por terceiro, de filho nascido há
mais de um ano, ocorrendo, entretanto, o falecimento da pretensa mãe.
133. Perfilhação
A perfilhação é ato pessoal e livre, pelo qual alguém se assume como pai de outrem –
o perfilhante declara que certa pessoa é seu filho (artigo 1849º). A perfilhação pode, no
entanto, ser feita por intermédio de procurador com poderes especiais, como resulta do
mesmo preceito legal.
Têm capacidade para perfilhar as pessoas com mais de 16 anos, se não estiverem
interditas por anomalia psíquica ou não forem notoriamente dementes no momento da
perfilhação – artigo 1850º nº1.
No que respeita ao conteúdo da perfilhação, esta não pode comportar cláusulas que
limitem ou modifiquem os efeitos que lhe são atribuídos por lei, nem admite condição ou
termo. Se o perfilhante aditar cláusulas ou declarações proibidas por lei, estas não invalidam a
perfilhação, mas têm-se por não escritas – artigo 1852º nº1 e 2 – conteúdo defeso. A
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perfilhação é irrevogável e, quando feita em testamento, não é prejudicada pela revogação
deste – artigo 1858º.
No que respeita à legitimidade ativa, conclui-se que a lei é mais flexível no que
concerne à declaração de maternidade do que à perfilhação. Quem tem legitimidade
para declarar o nascimento tem legitimidade para declarar a maternidade; mas só o
próprio que se assume como pai, ou o procurador com poderes especiais, poderá
perfilhar;
Quando à capacidade, a lei é mais flexível no caso da declaração de maternidade do
que no caso de perfilhação. No primeiro, a lei não prevê qualquer regra, o que significa
que qualquer mãe se poderá declarar enquanto tal; no segundo, a lei impõe a idade de
16 anos, ou que o perfilhante não esteja interdito de anomalia psíquica ou não seja
notoriamente demente no momento da perfilhação. O legislador tem em conta o
pressuposto lógico de que todas as pessoas são geradas por uma mãe; e o nascimento
é um facto evidente, sendo fácil identificar a mãe. Esta evidência já não se verifica no
que respeita ao pai. Quanto a este, a determinação da paternidade é um facto de mais
difícil conhecimento. A lei estabelece como idade núbil os 16 anos – artigo 1601 a) – o
que significa que, antes dessa idade, o legislador presume que a mulher, por razões
físicas, psicológicas, sócio-afetivas não está preparada para constituir família.
No que respeita à forma: a declaração de maternidade é prestada perante o
funcionário do registo civil. Já a perfilhação poderá ainda ser realizada por negócio
jurídico unilateral (testamento), por escritura pública ou por termo lavrado em juízo –
a razão de ser da maior abrangência de formas admissíveis de perfilhação prende-se
com a conceção de que a declaração de maternidade está indissoluvelmente ligada ao
facto ostensivo, o nascimento.
Quanto ao prazo: a declaração de maternidade poderá ser feita a todo o tempo, com
as particularidades, já estudadas, dos artigos 1804º e 1805º, a perfilhação poderá ser
feita a todo o tempo sem qualquer restrição.
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No caso de invalidação por coação ou erro, a ação de anulação caduca no prazo de um
ano, a contar do momento em que o perfilhante teve conhecimento do erro ou em que cessou
a coação, salvo se ele for menor não emancipado ou interdito por anomalia psíquica, casos em
que a ação não caduca sem ter decorrido um ano sobre a maioridade, emancipação ou
levantamento da interdição – artigo 1860º nº3.
Se o filho nascer dentro dos 180 dias posteriores à celebração do casamento, cessa a
presunção de paternidade se a mãe ou o marido declararem no ato o registo do nascimento
que o marido não é o pai – artigo 1828º.
Só pode ser impugnada nos termos previstos entre os artigos 1838º e 1846º.
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