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Direito da Família

1ª Parte
Família artigo 1576º

Fontes das relações jurídicas familiares:

⬥ Casamento

⬥ Parentesco

⬥ Afinidade

⬥ Adoção

Derivam da geração e do casamento.

Relação matrimonial (Casamento):

Liga os cônjuges entre si. Este pode ser: Civil

Canónico

⬥ Consiste num contrato celebrado entre duas pessoas que pretendem constituir
família e viver numa plena comunhão de vida.

Caso duas pessoas celebrem o contrato ao qual chamarem casamento, mas não
pretenderam partilhar a sua vida, então este contrato não será titulado pela lei do
casamento. Ou seja, o Estado não reconhece como sendo realmente um casamento.

Evolução:

⬥ Antigamente apenas era permitido as pessoas de sexo diferente casarem.


Atualmente, é permitido o casamento e união de facto entre pessoas do mesmo sexo.

⬥ A emancipação da mulher, provocada sobretudo pela revolução industrial,


veio alterar o número de casamentos existentes. Se noutros tempos a mulher cedia a sua
liberdade em troca da segurança oferecida pelo marido, uma vez que a primeira não
detinha bens próprios ou qualquer poder económico, hoje a sua independência e
segurança financeira fez com que o número de casamentos diminui-se
significativamente e o de divórcios aumentasse.

Idade permitida para o casamento:

⬥ Não é permitido o casamento a menores de 16 anos. Com esta idade, podem


casar, desde que com autorização por parte dos pais. Esta é considerada a idade núbil,
ou seja, quando se encontra fisiologicamente apto a gerar.
Relação de parentesco:

Estabelece-se entre pessoas que têm o mesmo sangue, porque descendam umas das
outras ou porque provenham de um progenitor comum. Exemplos: relações entre pai e
filho, irmãos, primos, entre outros.

Consiste num vínculo jurídico que une duas pessoas que descendem de um progenitor
comum. A filiação ou a maternidade são consideradas as mais importantes. Desta
forma, o direito da filiação tem sido um importante objeto de estudo por parte do
Direito da Família.

⬥ Relações obrigacionais ou reais, que nascem, desenvolvem-se e podem


depender de uma relação de parentesco, sendo assim o seu regime influenciado desta
forma. Exemplo: obrigação de alimentos aos filhos menores ou maiores (art. 1878º e
2009º), entre outros exemplos.

Linha Direita

A A

B 1º 1º B C 2º

grau

C 2º D 3º

Relações de afinidade

⬥ Artigo 1583º.

Trata-se de um dos efeitos da relação matrimonial. Em consequência desta, ficam a ligar


um dos cônjuges, aos parentes do outro cônjuge, isto é, consiste num vínculo jurídico
que liga um cônjuge à família do outro cônjuge.

A B

⬥ Se o casamento terminar em divórcio, a afinidade cessa-se.

⬥ Conta-se do mesmo modo como se conta o parentesco.

⬥ O casamento entre pessoas afins em linha reta não é possível.


Relações de adoção

⬥ Artigos 1586º / 1973º e seg.

Há semelhança da filiação natural, mas independentemente dos laços de sangue,


estabelece-se uma relação entre o adotante e o adotado. Este tipo de relação sempre
existiu.

Noção jurídica de Família: grupo de pessoas, não sendo ela própria uma pessoa jurídica.
Esta abrange todas as pessoas ligadas por essas ligações, quer de sangue, quer adotivas.

⬥ O “interesse” ou “bem” da família é prosseguido, não através de um ente


jurídico ao qual se reconheça personalidade, mas através das próprias pessoas singulares
que integram o grupo familiar.

História: Sempre existiu a adoção – no Direito Romano denominava-se de


adoptio (na sociedade patriarcal romana).

⬥ Quando o pater famílias não possuía um filho barão, era através da “adoptio”
que transformava um genro ou um terceiro em filho, de forma a assumir o controlo da
família.

Adoção: consiste no vínculo jurídico que, à semelhança da filiação natural, faz com que
outra pessoa faça parte da família. Apenas agora existe a adoção plena.

CASAMENTO

Noção geral de casamento

Trata-se de um contrato celebrado entre duas pessoas que pretendem construir família
mediante uma plena comunhão de vida (artigo 1577º). Trata-se de um contrato público,
solene e formal.

⬥ É necessário o consentimento de ambas as partes.

Casamento Civil: comunhão de vida em que os cônjuges estão reciprocamente


vinculados pelos deveres de respeito, fidelidade, coabitação, cooperação e assistência
(artigo 1672º), comunhão de vida exclusiva (alínea c, artigo 1601º). A procriação não é
um fim essencial para o casamento civil, pelo que não entra para a respetiva definição.

Casamento Católico: “ato de vontade pelo qual o homem e a mulher, por pacto
irrevogável, se entregam e recebem mutuamente a fim de constituírem o matrimónio”.
Os seus fins são o bem-estar dos cônjuges e a procriação e educação da prole. Desta
forma, a consumação continua a ter, no casamento católico, um relevo que não possui
no casamento civil. Só depois de consumado é que goza de indissolubilidade.
Assim, se houver impotência de um dos cônjuges, estes à posteriori, são
dispensados e poderão voltar a casar. Pode ser nulo ou inexistente.

Capacidade matrimonial

⬥ O Casamento católico apenas pode ser celebrado a quem tiver capacidade


matrimonial exigida pela lei civil.

⬥ Essas incapacidades matrimoniais têm lugar sempre que exista um obstáculo


legal (ou seja, impedimentos matrimoniais) circunstâncias pessoais impeditivas do
casamento.

Impedimentos dirimentes (artigos 1601º e 1602º):

Absolutos – tratam-se de verdadeiras incapacidades, impedido a pessoa de casar seja


com quem for (1601º).

Relativos – tratam-se de ilegitimidades, fundadas na relação da pessoa com outras,


proibindo o casamento apenas com essa pessoa (1602º).

Impedimentos impedientes (artigo 1604º):

Circunstâncias que apenas impedem o casamento mas não o tornam anulável se ele se
chegar a celebrar. Não originam verdadeiras incapacidades mas simples proibições
legais. Limitam-se a aplicar algumas sanções sobre os cônjuges.

Absolutos – artigo 1604º, alínea a) e b);

Relativos – artigo 1604º, alíneas c), d), e) e f);

Dispensáveis e não dispensáveis – artigo 1609º.

Ambos impedem a celebração do casamento, mas no caso dos primeiros, estes podem
ainda determinar a sua anulabilidade. Os segundos apenas impedem, não dirimem.

Prazo internupcial: homem pode voltar a casar 180 dias depois do divórcio. Já a
mulher, terá de esperar 300 dias para o fazer, de forma a evitar a “turbatio sanguinis”.
Outra forma de o fazer, será então comprovar que não está grávida, passando a ser
igualmente 180 dias.

Formalidades do Casamento

Na Cerimónia devem estar presentes ambos os nubentes (podendo fazer-se um deles


representar por procurador), o Conservador do Registo Civil e duas testemunhas.

⬥ Lugar: deve ter lugar na Conservatória do Registo Civil ou em lugar público


onde se desloca o Conservador (fazendo-o constar na Ata).
⬥ O casamento só pode ser provado por certidão extraída do Registo (artigo
1669º).

Casamentos Urgentes:

⬥ Artigo 1622º

⬥ Quando haja fundado receio de morte próxima de algum dos nubentes, ou


iminência de parto.

⬥ É permitida a celebração independentemente do processo preliminar de


publicações e sem intervenção do funcionário do Registo Civil. Basta, para o efeito, a
realização de uma ata celebrada no momento de celebração do casamento.

Invalidade do casamento

Casamento católico: artigos 1625º e 1626º.

⬥ Não pode existir se o casamento civil não for possível.

⬥ Diz que o fim primacial é a procriação. Logo, se há impotência de um dos


cônjuges, estes a posteriori são dispensados, podendo voltar a casar mais tarde. Pode,
então, ser nulo e inexistente.

Casamento civil: artigo 1627º a 1646º.

Inexistente: casamentos celebrados perante quem não tinha competência


funcional para o ato (al. a) e b)) ou em que falte declaração de vontade dos nubentes ou
de um deles (al. c) e d)). Artigo 1628º a 1630º.

⬥ Regime: o casamento inexistente não tem quaisquer efeitos jurídicos, nem


mesmo putativos e esta inexistência pode ser invocada sempre e por qualquer
interessado (artigo 1630º). Ou seja, pode ser reconhecida em sentença em ação que não
seja especialmente intentada para esse fim. No entanto, muitas vezes o registo do
casamento não é inexistente (CRegCivil artigo 85º, nº1, al. a)).

Anulável: perante falta de vontade ou vontade viciada. Artigo 1631º.

Causas de anulabilidade:

a) Casamentos contraídos com algum tipo de impedimento dirimente;

b) Casamentos celebrados com falta de vontade ou com vontade viciada por


parte de um ou ambos os nubentes (artigos 1634º e 1635º);

c) Casamentos celebrados sem a presença de testemunhas quando exigidas por


lei (artigos 1631º e 1646º).
Regime de anulabilidade:

⬥ Só pode ser anulado em ação especialmente intentada a esse fim.

⬥ A ação de anulação só pode ser proposta por certas pessoas (artigo 1639º).

⬥ Dentro de certos prazos (artigos 1643º a 1646º).

Sanação: artigo 1633º.

Casamento Putativo:

Casamento que se supunha validamente celebrado mas que efetivamente o não foi e ao
são imputados os efeitos entretanto produzidos na convicção da sua validade.

Segundo o artigo 1647º:

a) Se ambos os cônjuges estiverem de boa-fé, mantém-se todos os efeitos


jurídicos do casamento até ao trânsito em julgado da respetiva sentença.

b) Se apenas um dos cônjuges se encontrar de boa-fé, apenas esse se poderá


arrogar aos benefícios do estado matrimonial.

c) Os filhos havidos são considerados havidos dentro do Casamento.

Efeitos do Registo

Efeitos Pessoais

Igualdade total dos


cônjuges;

A lei estabelece dois princípios fundamentais

Direção conjunta da
Família.

Direitos e deveres dos cônjuges:

A “plena comunhão de vida”, considerada pela lei, uma das finalidades essenciais do
Casamento, comporta certos deveres e direitos de natureza pessoal que integram a
relação conjugal.

Respeito (aceitar o outro tal como é);

Fidelidade (não podem ter relações sexuais fora do casamento);

Deveres (1672º) Coabitação (casa de morada de família);

Cooperação (socorro e auxílio mutuo);


Assistência (dever de comparticipar na vida económica da família).

O direito-dever de assistência compreende dois tipos de obrigações:

⬥ Prestação de alimentos: este dever assume autonomia quando os cônjuges se


encontram judicialmente separados.

⬥ Contribuição para os encargos da vida familiar.

Direito ao nome: cada cônjuge tem ainda direito a adotar, após a celebração do
casamento, o nome do outro cônjuge, se assim o desejar (artigos 1677º e seguintes).

Mesmo depois do divórcio, um dos cônjuges pode manter o nome do outro,


desde que com autorização para tal. No entanto, o cônjuge que adotou o nome do outro
apos a separação, pode vir a ser privado do mesmo posteriormente caso prejudique
gravemente os interesses morais do outro cônjuge. Artigos 1677º A, B e C.

Efeitos Patrimoniais

Situação jurídica dos bens que os cônjuges possuem no momento do matrimónio ou por
eles adquiridos depois da sua celebração. Ou seja, o casamento não altera apenas o
“estatuto pessoal” dos cônjuges, mas também o “estatuto patrimonial”.

Em princípio e salvo raras exceções, as partes (nubentes) podem, até à celebração do


casamento fixar as regras que devem presidir ao respetivo estatuto patrimonial. A este
conjunto de regras dá-se a designação de “regime matrimonial de bens”, impondo três
princípios fundamentais:

a) O “regime” tem de ser estabelecido pelas partes antes da celebração do


casamento, não podendo após essa celebração ser alterado enquanto o vínculo conjugal
se mantiver (exceto separação de bens) – princípio da liberdade de estipulação (artigo
1698º);

b) Na falta de estipulação pelas partes do “regime de bens” a adotar, a lei fixa a


aplicação do regime de comunhão de adquiridos (ou seja, vigora o regime supletivo
ou legal);

c) Em certos casos pode a lei condicionar a liberdade de intervenção dos


nubentes na fixação do “regime de bens”, impondo ou condicionando a adoção de
determinado regime.

Artigo 1699º, nº2

Artigo 1720º, nº1


Regimes de bens

Estatuto que regula as relações patrimoniais entre os cônjuges e entre estes e terceiros.

Legais (estabelecidos pela lei);

Regimes

Convencionais (estipulados pelas partes).

Quanto aos Regimes Legais, a lei prevê três regimes-tipo:

a) Comunhão de adquiridos (artigo 1721º);

b) Comunhão geral (artigo 1732º);

c) Separação de bens (artigo 1735º).

Os nubentes podem escolher um regime-tipo ou um regime novo (artigo 1698º).

⬥ Vigorará obrigatoriamente o regime da separação de bens, quando:

a) Quando falte o processo preliminar de casamento;

b) Quando celebrado por quem tenha 60 anos de idade.

⬥ É proibida a adoção do regime de comunhão geral quando haja filhos de casamento


anterior, ainda que maior ou emancipados, não podendo igualmente ser estipulada a
comunicabilidade dos bens que a lei considera como “bens próprios” de cada cônjuge
(artigo 1699º).

⬥ Na falta, caducidade, ineficácia ou nulidade da manifestação de vontade dos


cônjuges, vigora o regime da comunhão de adquiridos (artigo 1717º).

Convenção Antenupcial

É a partir da Convenção que se fixa o regime de bens dependente da vontade dos


cônjuges, quando o regime não seja estabelecido imperativamente.

Consiste num contrato acessório do casamento.

Princípios dominantes: liberdade de estipulação (artigo 1698º) e a imutabilidade


da convenção durante a constância do matrimónio (artigo 1714º).´

A CA não impede:

⬥ Doações entre casados (1761º);


⬥ A procuração a outro cônjuge para a administração de bens próprios ou
comuns (1678º, nº2, al. g).

São admitidas alterações ao regime de bens (1715º, nº1).

Regime de Comunhão de adquiridos

Vigora nos seguintes casos:

a) Como regime supletivo: na falta de Conv. Antenupcial ou nas hipóteses de


caducidade, invalidade ou ineficácia dessa convenção.

b) Como regime convencionado: quando estipulado pelas partes (diretamente ou


servindo de base ao regime convencionado).

Natureza jurídica:

a) Bens comuns: “massa patrimonial” dotada de “autonomia” de que são


titulares, unitariamente, os dois cônjuges.

b) Bens próprios: autonomia individualizada dentro do casal (salvas exceções).

Regime da Comunhão geral

Todos os bens do casal são, em princípio, considerados bens comuns, e como tal,
sujeitos à regulamentação legal deste tipo de bens.

Regra: este regime só vigora quando estipulado previamente.

Exceções:

⬥ Caso o casamento seja celebrado por quem já tenha filhos (ainda que maiores
ou emancipados) – 1699º, nº3.

⬥ Deve vigorar o regime da separação de bens quando:

i) o casamento seja celebrado sem precedência do processo de


publicações (casamento urgente);

ii) casamento celebrado por quem tenha 60 anos de idade (1720º).

Regime legal aplicável: são aplicáveis, com as necessárias adaptações, as disposições


relativas à comunhão de adquiridos, respeitante aos bens comuns.

Bens comuns: todos os bens presentes e futuros pertencentes aos cônjuges (1732º).
Exceções legais – 1733º.
Regime da Separação de bens

Regime de bens imposto por lei ou adotado pelos esposados, sendo que cada um dos
cônjuges conserva o domínio e fruição de todos os bens presentes e futuros, podendo
dispor deles livremente.

Vigora quando estipulado ou imposto por lei (1720º).

⬥ A alienação, oneração, arrendamento ou constituição de outros direitos


pessoais de gozo sobre a cada de “morada de família” carece sempre do consentimento
de ambos, qualquer que seja o proprietário (1682-A, nº2).

Doações

Entre casados:

Devem ser acompanhadas por documento escrito (exceto se de valor diminuto), isto
para:

⬥ que o doador pense realmente antes de o fazer;

⬥ que o donatário sinta uma certa segurança por estar a receber.

Só podem ser bens próprios do doador.

Diferenças:

Para casamento Entre casados

⬥ Feitas na Convenção; ⬥ Por documento escrito;

⬥ Irrevogáveis (apenas se for declarado ⬥ Feitas pelos nubentes entre si;


nulo ou houver divórcio);
⬥ De valor diminuto ou de grande valor;
⬥ Doações feitas por terceiros aos
nubentes, nubentes entre si ou nubentes ⬥ Livremente revogáveis (ou o doador
a terceiros. seria colocado numa situação muito
débil).

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