Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
1
Case apresentado à disciplina Direito das Sucessões na Unidade de Ensino Superior Dom Bosco – UNDB.
² Alunas do 7º período do curso de Direito, UNDB.
³ Professora, orientadora.
instestato, isto é, sem deixar por testamento suas declarações de última vontade. Não obstante
isso, importa ressaltar que a sucessão legítima e a testamentária poderão existir
simultaneamente (TAVARES; SOUZA, 2017), como é o caso em questão, visto que, em maio
de 2008, Gildônio/Tarsila produziu um testamento público deixando um bem a um legatário
de sua escolha.
O Código Civil regula sobre as relações familiares, e suas particularidades, como
quem são os herdeiros em caso de sucessão legítima. Dessa forma, considera-se herdeiro
legítimo o sucessor do de cujus que tenha sido indicado pela lei através da ordem de vocação
hereditária disposta no artigo 1.829 do Código Civil, que seria: descendentes, ascendentes,
cônjuge e colateral até o quarto grau (BRASIL, 2002).
O cônjuge, no código de 1916, não era visto como herdeiro, não cabendo a ele
partes da herança. O Código Civil de 2002, trouxe a figura do cônjuge para a linha sucessória,
concorrendo com ascendentes e descendentes do de cujus (MENIN, 2014).
Além disso, para abertura da sucessão legítima faz-se necessário saber o regime
de partilha dos bens. No caso exposto, trata-se de comunhão parcial de bens, aplicada como a
regra geral quando os cônjuges não deliberam sobre o assunto (BRASIL, 2002).
Assim sendo, incorre a meação dos bens comuns dos cônjuges, visto que a partir
do casamento, pelo regime de bens adotado, todos os bens adquiridos são bens comuns.
Ao falar de meação, entende-se por sendo partilha entre duas pessoas, na qual
cada indivíduo sairia com metade do todo. O caso apresentado traz uma nova constituição de
família entre três “cônjuges”, o poliamor, diante disso, surge o silogismo “triação”, que se
refere a divisão dos bens para os três, igualmente, em respeito ao princípio da igualdade,
previsto na Constituição Federal/1988 (CARVALHO, 2018).
A partir disso, em que temos um único núcleo familiar, divide-se pelo número de
pessoas o referido patrimônio. Portanto, na dissolução da união estável poliafetiva, constituída
por três ou mais pessoas, o retirante leva a sua cota parte, dividida entre as pessoas que
constituem este núcleo familiar, evidentemente a partir da constituição do poliamorismo, eis
que o advento de outras pessoas pode ocorrer quando já constituída a família poliafetiva
(CARVALHO, 2018).
Sendo assim, por serem bens adquiridos na constância do casamento entre
Gildônio/Tarsila e Romilda, o apartamento (R$ 1.000.000,00) e o sítio (R$ 300.000,00)
pertencem a meação do casal. Já a loja comercial (R$ 100.000,00), comprada na vigência do
poliamor, em 2018, entre Gildônio/Tarsila, Romilda e Rochieeny, será remetida à triação.
No entanto, Gildônio/Tarsila fez um testamento público antes de casar-se com
Romilda, deixando um sítio para sua legatária Rochieeny. Tal sítio veio a ser adquirido após
do casamento com Romilda, configurando, com isso, legado de coisa comum.
O legado de coisa comum trata-se da hipótese de disposição de última vontade
sobre bem em que há coproprietário, disposto no artigo 1.914, Código Civil: “se tão-somente
em parte a coisa legada pertencer ao testador, ou, no caso do artigo antecedente, ao herdeiro
ou ao legatário, só quanto a essa parte valerá o legado”, ou seja, é possível que a coisa legada
seja comum, desde que o legante detenha a sua cota sobre o bem a que se refere, sendo a parte
remanescente coisa de outrem (no caso em questão pertencente à Romilda) (BRASIL, 2002).
Ainda que tal bem só tenha sido adquirido posteriormente a criação o
testamento, o legado é válido, uma vez que consta a existência do bem no momento da
abertura testamentária. E, o legatário, ou seja, Rochieeny, receberá o equivalente à cota de
Gildônio/Tarsila sobre aquele bem. Então, a divisão do sítio será da seguinte forma: ½ para
Romilda e ½ para Gildônio/Tarsila (sendo esse o legado deixado à Rochieeny).
Se tal bem foi legado, em testamento válido, não há de incluí-lo na sucessão
legítima: configura-se sucessão testamentária, a qual, segundo Gomes, 2016:
É aquela em que a transmissão hereditária se opera por ato de última vontade,
revestido de solenidade requerida por lei. O autor da herança pode dispor de seu
patrimônio alterando a ordem de vocação hereditária prevista em lei, desde que
respeitados os direitos dos herdeiros necessários, ou seja, que resguarde a legítima
dos herdeiros (2016).
Visto isso, cabe analisar quem são e qual a cota sucessória dos herdeiros do de
cujus. Conforme o caso mostra, o autor da herança não possuia bens exclusivos, apenas bens
comuns, por isso, as esposas só recebem as suas partes individuais da meação/triação, pois
nessas circunstâncias não é possível que estas recebam também a parte referente à meação do
de cujus, ao passo que tornaria a sucessão injusta.
Os herdeiros de Gildônio/Tarsila seriam os seus filhos Mikaeliany – a qual teve
relações sexuais com um dos cônjuges do autor da herança, sendo esta causa de deserdação,
mas que não houve qualquer manifestação expressa - Astrogildo, e por fim, Spetânia
Aparecida.
Com isso, faz-se a meação referindo-se ao apartamento, uma vez que este é bem
comum do de cujus apenas com Romilda, de modo que a parte de Gildônio/Tarsila será
dividida na sucessão legítima, concorrendo a cônjuge (Rochieeny) e os filhos, de modo igual
(divisão “por cabeça”). Dessa forma, a divisão será ¼ para cada herdeiro de metade dos bens
da meação. Vale ressaltar que não entra, nesse caso, a parte de Gildônio/Tarsila sobre o sítio,
visto que o mesmo é um legado.
HERDEIROS MEAÇÃO
ROMILDA -
ASTROGILDO 1/4 de 1/2
MIKAELIANY 1/4 de 1/2
ROCHIEENY 1/4 de 1/2
SPETÂNIA APARECIDA 1/4 de 1/2
Na triação apenas os filhos são herdeiros sob o bem comum entre os três
cônjuges, a loja comercial. Assim, a divisão será 1/3 para cada herdeiro de 1/3 do bem.
HERDEIROS TRIAÇÃO
ROMILDA -
ASTROGILDO 1/3 de 1/3
MIKAELIANY 1/3 de 1/3
ROCHIEENY -
SPETÂNIA APARECIDA 1/3 de 1/3
CRITÉRIOS E VALORES