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PARECER JURÍDICO Nº 001/2022

Requerente: Renato Teixeira

Assunto: Sucessão Testamentária.

EMENTA: DIREITO SUCESSÓRIO – SUCESSÃO TESTAMENTÁRIA – UNIÃO


ESTÁVEL – MEAÇÃO – REGIME DE BENS – LEGÍTIMA – DISPOSIÇÃO DE
ÚLTIMA VONTADE SOBRE A INTEGRALIDADE DOS BENS DO TESTADOR –
INDIGNIDADE – EXISTÊNCIA DE HERDEIROS NECESSÁRIOS – DOAÇÃO –
POSSIBILIDADE

Parecer:

Trata-se de parecer técnico acerca de direito sucessório no sentido de atender consulta


indagatória sobre a forma como que o testador pretende dispor do seu patrimônio, bem
como o quantitativo que ficará para cada herdeiro.

O requerente é viúvo, tem dois filhos do casamento com a falecida. Coabita com a
namorada há mais de 5 (cinco) anos e estão esperando um filho. Tem também, um filho
legítimo de um relacionamento paralelo e deseja que este receba bem mais que os
demais. Ademais, deseja deixar 10% (dez por cento) de todo seu patrimônio para a
igreja. Cabe destacar que um dos filhos atentou contra a vida do requerente.

Primeiramente, é fundamental esclarecer quem são os herdeiros deste patrimônio.


Assim, preceitua o art. 1.829 do Código Civil, que são os herdeiros legítimos do
requerente na seguinte ordem:
I – os descendentes (filhos e netos), em concorrência com o cônjuge sobrevivente,
salvo nos casos previstos em lei;
II – os ascendentes (pai, mãe, avós e bisavós), em concorrência com o cônjuge
sobrevivente;
III – o cônjuge sobrevivente;
IV – os colaterais (irmãos, tios, sobrinhos, primos).

Logo, a princípio, podemos notar que no caso em tela, temos a presença de 4 (quatro)
descendentes, sendo estes: dois filhos com a falecida; um filho em gestação da atual
companheira, pois, conforme art. 1.798 CC. legitimam-se a suceder as pessoas nascidas
ou já concebidas no momento da abertura da sucessão; e um filho de um
relacionamento paralelo.

Num segundo momento, é preciso aclarar qual o regime de casamento se enquadra no


caso em tela. Considerando que o Sr. Renato convive maritalmente com a namorada
por mais de 5 anos e considerando ainda que estão esperando um filho, ou seja,
claramente a intenção de formar família, essa relação se enquadra nos moldes da união
estável, conforme preceitua o artigo 1.723 do Código Civil.
Art. 1.723. É reconhecida como entidade familiar a união estável entre o homem e a
mulher, configurada na convivência pública, contínua e duradoura e estabelecida com o
objetivo de constituição de família.
Conforme podemos notar, o artigo 1.725 do mesmo instituto, dispõe que será o regime
de comunhão parcial de bens, o regime legal aplicado na ausência de outro
devidamente expresso. Nesse caso, comunicam-se os bens adquiridos na constância do
casamento, isto é, o cônjuge sobrevivente será meeiro dos bens adquiridos
conjuntamente, além disso, na comunhão parcial, será herdeiro dos bens particulares
adquiridos antes do casamento, tão somente pelo requerente.
Assim, temos que a namorada só será considerada herdeira se houver bens particulares
do requerente, isto é, adquiridos apenas por esse, antes do início do matrimônio, do
contrário será somente meeira.

Cabe destacar a notícia de tentativa de homicídio de um dos filhos em relação ao


requerente, sendo assim a medida que se impõe é a exclusão da sucessão, pela
declaração de indignidade do mesmo, por força do artigo 1.814, inciso I, do Código
Civil.
Art. 1.814. São excluídos da sucessão os herdeiros ou legatários:
I - que houverem sido autores, co-autores ou partícipes de homicídio doloso, ou
tentativa deste, contra a pessoa de cuja sucessão se tratar, seu cônjuge, companheiro,
ascendente ou descendente;

Desta forma, restando como herdeiros legítimos apenas 3 (três) descendentes, sendo:
um dos filhos com a esposa falecida, um filho de um relacionamento paralelo e um filho
em gestação da atual companheira. Mais a esposa, como meeira, no caso de bens
adquiridos na constância do casamento, e/ou herdeira, no caso de o requerente possuir
bens adquiridos por ele antes do início do relacionamento.

Esclarecidos os herdeiros, passamos ao testamento, sendo a declaração de última


vontade que o filho do relacionamento paralelo fique, além do quinhão da legítima, com
“bem mais” que os outros irmãos. Ademais, deseja o requerente deixar 10% de todo seu
patrimônio para a igreja.

Conforme preconiza o artigo 1.857 do Código Civil, toda pessoa capaz pode dispor, por
testamento, da totalidade dos seus bens, ou de parte deles, para depois de sua morte.
Excluindo, no entanto, a legítima que por lei, deverá ser dividida entre os herdeiros
legítimos já definidos anteriormente.

Sendo a vontade do requerente em deixar “bem mais” para o filho oriundo da relação
paralela, orientamos que isso seja feito através de Testamento Público, aquele realizado
através de Escritura Pública perante tabelião, nos temos do artigo 1.864 do Código
Civil.

Nesse diapasão, restará assim dividido o patrimônio, segundo os casos abaixo:

Caso 1 – Considerando que o requerente só possui bens adquiridos na constância do


relacionamento com a namorada.

Patrimônio total – 100%


Meação – 50% (metade do patrimônio total)
Legítima – 25% - dividido por 3 (três) herdeiros, sendo 8,33% para cada filho, sendo
eles: (filho 1, filho em gestação e filho do relacionamento paralelo)
Testamento – 25% - sendo divididos da seguinte forma: 10% para a igreja (2,5%) e 90%
para o filho oriundo de relacionamento paralelo (22,5%).

Caso 2 – Considerando que o requerente somente possua bens adquiridos por ele antes
do início do relacionamento com a namorada.
Patrimônio total – 100%
Herança – 50% - dividido por 4 (quatro) herdeiros, sendo 12,50% para cada herdeiro,
sendo eles: descendentes: filho 1, filho em gestação e filho do relacionamento paralelo;
cônjuge sobrevivente.
Testamento – 50% sendo dividido da seguinte forma: 5% para a igreja, isto representa
10% do total do patrimônio que pode ser testado e 45% para o filho do relacionamento
paralelo por ser essa a vontade do requerente, percentual que represente 90% do
patrimônio que pode ser levado a testamento.

Observação: Caso o requerente possua bens adquiridos tanto antes do relacionamento,


como na constância do relacionamento, a namorada passa a ser meeira (dos bens
adquiridos na constância do relacionamento) e herdeira legítima (dos bens adquiridos
pelo requerente antes do relacionamento).

O herdeiro considerado indigno não recebe nada.

Considerando também que não restou identificado a igreja, será o montante (10%)
dividido entre todas as igrejas da localidade.

É o parecer.

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