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Antes do início do casamento, o casal deve escolher o regime de bens que vigerá durante a
relação conjugal.
Se o casal permanecer inerte quanto a escolha do regime de bens, aplica-se a regra geral, qual
seja: regime de comunhão parcial de bens.
Nesse sentido, é preciso separar a meação do cônjuge sobrevivente da herança, daí dizer que a
meação não é objeto de transmissão sucessória, logo, não deve ser tributada tão pouco
utilizada para cálculo das despesas do inventário judicial ou inventário no Cartório.
O cônjuge sobrevivente não terá direito a herança na hipótese do casal estar separado
judicialmente ou separado de fato, pois há a cessação da solidariedade recíproca que justifica
a transmissão sucessória, em observância conjunta do art. 1.830 do Código Civil e
jurisprudência dos Tribunais.
No entanto, não haverá concorrência com os descendentes se o autor da herança não houver
deixado bens particulares (art. 1.829, I, Código Civil).
Nota-se que a lei privou o cônjuge sobrevivente de ser herdeiro na hipótese do patrimônio
deixado pelo falecido ser comum, ou seja, a herança é atribuída diretamente ao descendente,
restando ao cônjuge sobrevivente somente a meação.
Não havendo descendentes (filhos, netos ou bisnetos), o cônjuge sobrevivente concorre com
os ascendentes (avoengos, bisavós, trisavós, etc) (art. 1.829, II, Código Civil).
Exemplo: Marido, mulher e filha formam uma família. Marido morre, sem deixar testamento.
O patrimônio da família é composto de R$ 100.000,00 em aplicação financeira, um
apartamento no valor de R$ 500.000,00 e uma casa de R$ 250.000,00 em nome do marido,
adquirido antes do casamento, portanto, bem particular.
De acordo com a lei, 50% da aplicação financeira e do apartamento pertencerá à esposa, pois é
considerada meeira, ou seja, a esposa tem direito a metade dos bens comuns do casal.
O restante do patrimônio será objeto da herança, portanto, partilhado. Significa dizer que a
herança a ser partilhada será os outros 50% do patrimônio comum da família e 100% da casa
adquirida antes do casamento que estava em nome do marido.
• 100% da casa será repartida entre a filha e a mãe, pois ambas serão consideradas herdeiras
do bem particular do marido falecido, portanto, cada uma receberá 50%.
Exemplo: Marido e mulher formam uma família, sem filhos. A mãe do marido está viva.
Marido morre, sem deixar testamento. O patrimônio da família é composto de R$ 100.000,00
em aplicação financeira, um apartamento no valor de R$ 500.000,00 e uma casa de R$
250.000,00 em nome do marido, adquirido antes do casamento, portanto, bem particular.
• 100% da propriedade da casa será repartida entre a sogra e a esposa em igual proporção
(50% para cada uma), pois ambas serão consideradas herdeiras do bem particular do filho /
marido falecido.
Na hipótese de ambos os genitores do falecido estarem vivos, a divisão será diferente, pois o
cônjuge terá direito a 1/3 da herança, conforme também dispõe o art. 1.837 do Código Civil.
Nesse sentido, a partilha de bens será da seguinte forma:
• 1/3 da herança pertencerá a esposa e o restante será dividido entre o sogro e a sogra.
• 1/3 da propriedade da casa pertencerá a esposa e o restante será dividido entre o sogro e a
sogra.
O regime de separação total de bens quer dizer que os bens adquiridos pelo marido
permanecem com o marido e os bens adquiridos pela esposa permanecem com a esposa, ou
seja, há um óbice à comunhão de qualquer bem adquirido por cada cônjuge antes ou durante
o casamento, seja a título oneroso ou gratuito. É dizer que cada cônjuge mantém um
patrimônio particular sem qualquer comunicação com o patrimônio do outro cônjuge.
No entanto, no regime sucessório, por força do art. 1.829, I do Código Civil, existe
entendimento de que o cônjuge sobrevivente concorra com os descendentes.
Exemplo: João e Maria casados sob o regime de separação convencional de bens, possuem o
filho Pedro. João possui um apartamento em seu nome. Não há testamento. João falece.
Família recomposta é definida como a família formada por uma ou ambas as pessoas com um
ou mais filhos de relacionamentos anteriores.
Diante desse fato da vida, esta corrente doutrinaria entende que o cônjuge sobrevivente pode
ter filhos de relacionamentos familiares anteriores, dai dizer que a herança recebida pelo
cônjuge sobrevivente retira, em parte, a herança do filho do cônjuge falecido.
Exemplo: João e Maria casados sob o regime de separação convencional de bens, possuem o
filho Pedro. João possui um apartamento. Divorciam-se. João constitui nova família, casando-
se com Camila, que tem uma filha chamada Laura do casamento anterior com Paulo. O
casamento de João e Camila também é regido pelo regime de separação convencional de bens.
João falece.
De acordo com a regra do art. 1.829, I do Código Civil, a patilha do imóvel seguirá a seguinte
forma:
Portanto, segundo esta corrente de doutrinadores, não parece razoável que parte da herança
que deveria ser entregue integralmente ao descendente em razão do regime de bens
escolhido pelo casal diante da vontade estabelecida pelas partes no ato do casamento, com a
morte de um deles, possa ser ignorada de modo a direcionar o patrimônio ao cônjuge
sobrevivente e, como consequência, a terceiros estranhos à família natural da pessoa falecida
(ascendentes, descendentes ou colaterais do cônjuge sobrevivente), privando o filho titular do
patrimônio.
Outra corrente de doutrinadores sustenta que o artigo 1829, I do Código Civil reconhece o
direito do cônjuge sobrevivente a herança, mesmo na hipótese de casamento regido pelo
regime de separação convencional de bens, pois o legislador buscou salvaguardar o mínimo
necessário para o cônjuge sobrevivente, na medida que o intuito de plena comunhão de vida
entre os cônjuges (art. 1.511, Código Civil) conduziu o legislador a incluir o cônjuge
sobrevivente no rol dos herdeiros necessários, independentemente do período de duração do
casamento.
Não havendo descendentes (filhos, netos ou bisnetos), o cônjuge sobrevivente concorre com
os ascendentes (avoengos, bisavós, trisavós, etc) (art. 1.829, II, Código Civil).
Nesta hipótese de concorrência, todo patrimônio deixado pela pessoa falecida será partilhado
entre o cônjuge e os ascendentes.
Como se nota, na separação de bens obrigatória prevista no art. 1641 do Código Civil, em
razão da súmula 377 do STF, haverá comunhão dos bens adquiridos onerosamente durante o
casamento, o que permite afirmar que a separação não é total, tal como preleciona a letra fria
da lei.
O art. 1.829, I do Código Civil estabelece que a herança é atribuída integralmente aos
descendentes da pessoa falecida que foi casada sob o regime de separação obrigatória de
bens, privando, portanto, o cônjuge sobrevivente.
Nesta mesma linha, o STJ já se pronunciou sobre direitos sucessórios do cônjuge casado sob o
regime de separação total obrigatória de bens e o regime de separação convencional de bens:
Não havendo descendentes (filhos, netos ou bisnetos), o cônjuge sobrevivente concorre com
os ascendentes (avoengos, bisavós, trisavós, etc) (art. 1.829, II, Código Civil).
Nesta hipótese de concorrência, todo patrimônio deixado pela pessoa falecida será partilhado
entre o cônjuge e os ascendentes.
Previsto nos arts. 1.677 e 1.668 do Código Civil, importa na comunicação (meação) de todos os
bens móveis e imóveis, presentes e futuros. Ou seja, o patrimônio funde-se em um só,
ressalvadas as hipóteses de incomunicabilidade previstas na lei (art. 1.668, I a V). Em termos
práticos, no caso de falecimento de um dos cônjuges, a metade ideal (meação) será entregue
ao cônjuge sobrevivente, independentemente do título aquisitivo originário. O patrimônio
remanescente, ou seja, a outra metade que corresponde à integralidade da herança do
falecido, será dividida em partes iguais somente entre os filhos, por força do artigo 1.829, I, do
Código Civil.
Isso acontece porque vigora na legislação civil a máxima regra: “quem meia não herda e quem
herda não meia”. Isso significa o seguinte: se a(o) viúva(o) já recebeu a sua metade (meação)
de todo o patrimônio, inclusive eventuais bens adquiridos pelo falecido antes do casamento,
não terá direito de concorrer na herança com os descendentes.
O regime de participação final nos aquestos[10] possui uma espécie híbrida, com
características tanto do regime de separação quanto de comunhão parcial de bens[11].
Exemplo: Maria e João, casados pelo regime participação final nos aquestos, têm 2 filhos.
Antes do casamento, João adquiriu um automóvel. Na constância do matrimônio, o casal
comprou um apartamento. Passados alguns anos, João falece.
Resolução – Em relação ao apartamento, Maria será meeira (direito a 50% do bem), posto que
era um bem comum ao casal – conforme regra do regime de participação final nos aquestos. E
os outros 50% serão partilhados entre os dois filhos do casal. Ao automóvel, Maria será
herdeira, juntamente com seus dois filhos, uma vez que, por ser bem particular de João, Maria
não possui direito à meação.
*10+ A palavra “aquesto” significa acúmulo, reserva. Portanto, o regime de participação final
nos aquestos poderia ser traduzido para: regime de participação final nos bens acumulados
pelo casal.
[11] Art. 1.672 CC. No regime de participação final nos aqüestos, cada cônjuge possui
patrimônio próprio, consoante disposto no artigo seguinte, e lhe cabe, à época da dissolução
da sociedade conjugal, direito à metade dos bens adquiridos pelo casal, a título oneroso, na
constância do casamento.
[12] Art. 1.656 CC. No pacto antenupcial, que adotar o regime de participação final nos
aqüestos, poder-se-á convencionar a livre disposição dos bens imóveis, desde que particulares.
[13] Art. 1.685 CC. Na dissolução da sociedade conjugal por morte, verificar-se-á a meação do
cônjuge sobrevivente de conformidade com os artigos antecedentes, deferindo-se a herança
aos herdeiros na forma estabelecida neste Código.
De acordo com o art. 1.832 do Código Civil o cônjuge sobrevivente concorrerá com os
descendentes, de modo a obter a mesma cota destinada a cada descendente, ou seja, se a
pessoa falecida deixou 1 descendente, a partilha de bens será dividida ao meio (metade para o
descendente e a outra metade para o cônjuge sobrevivente); se a pessoa falecida deixou 2
descendentes, a partilha de bens será dividida 3 partes iguais (1 parte para um descendente, 1
parte para o outro descendente e 1 parte para o cônjuge sobrevivente) e assim por diante.
O art. 1.832 do Código Civil também atribui uma cota mínima de 25% da herança ao cônjuge
sobrevivente desde que seja ascendente dos herdeiros com que concorrer.
Isso quer dizer que se a marido falecido deixou 10 descendentes que também são filhos da
viúva, 25% da herança pertence à viúva e o restante (75%) será dividido entre os
descendentes, ou seja, cada um terá uma cota-parte equivalente a 7,5% da herança.
Se por acaso, esses descendentes não forem filhos da viúva, a divisão da partilha será feita por
11 (10 descendentes + a viúva), ou seja, cada um terá uma cota-parte equivalente a 9,09% da
herança. Nesta hipótese, a viúva não terá garantida a cota mínima de 25% da herança.
Importante destacar que no caso de uma família recomposta onde a pessoa falecida tinha
filhos de relacionamento anterior e também filhos do novo casamento, a lei civil não
estabeleceu uma regra clara para a divisão da herança.
De todo modo, é possível utilizar como norte de interpretação o enunciado 527 da Jornada de
Direito Civil:
Enunciado 527 na Jornada de Direito Civil: "na concorrência entre o
cônjuge e os herdeiros do de cujus não será reservada a quarta parte
da herança para o sobrevivente no caso de filiação híbrida.
O patrimônio da pessoa falecida pode compreender tanto bens comuns quanto bens
particulares.
Como se nota, se o cônjuge sobrevivente concorrer com os pais vivos da pessoa falecida, a
divisão será equivalente a 1/3 para cada um (1/3 para o cônjuge sobrevivente; 1/3 para o pai
da pessoa falecida e 1/3 para a mãe da pessoa falecida).