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DIREITO DE FAMÍLIA · DIREITO DAS SUCESSÕES

Da ordem de vocação hereditária no Código Civil de 2002 - Áurea Maria Ferraz de Sousa

jusbrasil.com.br
24 de Março de 2023

Da ordem de vocação hereditária


no Código Civil de 2002 - Áurea
Maria Ferraz de Sousa
Publicado por Rede de Ensino Luiz Flávio Gomes há 12 anos  155,2K visualizações

Direito das sucessões é o conjunto de regras e princípios que re-


gulamentam a transmissão do patrimônio de alguém que fale-
ceu aos seus sucessores. Nas lições de VENOSA, o direito das
sucessões disciplina a projeção das situações jurídicas existen-
tes, no momento da morte, da desaparição física da pessoa, a
seus sucessores ( Direito civil: direito das sucessões . 10 ed. São
Paulo: Atlas, 2010. p. 4).

A ordem de vocação hereditária, por sua vez, vem a ser a ordem


sucessória, ou seja, o rol das pessoas que podem suceder.

No Código Civil de 1916, aberta a sucessão eram chamados a su-


ceder os descendentes, os ascendentes, o cônjuge supérstite ou o
companheiro, os colaterais até o quarto grau e, por último, a Fa-
zenda Pública. Era um rol taxativo e preferencial, previsto no
artigo 1.603, que assim dispunha:

Art. 1.603. A sucessão legítima defere-se na ordem seguinte:

I - aos descendentes ;

 CURTIRII - aos ascendentes ;


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III - ao cônjuge sobrevivente;
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IV - aos colaterais;

V - aos Municípios, ao Distrito Federal ou à União.

De se notar que o cônjuge somente era beneficiado na ausência


de descendentes ou ascendentes. Nesta época, ao cônjuge era
dado o direito real de usufruto vidual (Art. 1.611, 2º, CC/16: Ao
cônjuge sobrevivente, casado sob regime de comunhão univer-
sal, enquanto viver e permanecer viúvo, será assegurado, sem
prejuízo da participação que lhe caiba na herança, o direito
real de habitação relativamente ao imóvel destinado à residên-
cia da família, desde que seja o único bem daquela natureza a
inventariar ).

Com o advento do Novo Código Civil, em 2002, no entanto, os


chamados a suceder são:

Art. 1.829. A sucessão legítima defere-se na ordem seguinte:

I - aos descendentes, em concorrência com o cônjuge sobrevi-


vente, salvo se casado este com o falecido no regime da comu-
nhão universal, ou no da separação obrigatória de bens (art.
1.640, parágrafo único); ou se, no regime da comunhão parcial,
o autor da herança não houver deixado bens particulares;

II - aos ascendentes, em concorrência com o cônjuge ;

III - ao cônjuge sobrevivente;

IV - aos colaterais.
A nova ordem de vocação hereditária, portanto, prevê a concor-
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hereditária no Códigoe Civil
descendentes dosde 2002 - Áurea Maria
ascendentes com oFerraz de Sousa
cônjuge, esta-
belecendo o seguinte: descendentes e cônjuge ou companheiro,
ascendentes e cônjuge ou companheiro, cônjuge sozinho, colate-
rais até o quarto grau e companheiro e, por fim, o companheiro
sozinho.

O NCC passa então a estabelecer as seguintes regras:

1. Na sucessão dos descendentes existem duas regras a se-


rem observadas, quais sejam: a) a igualdade entre os descen-
dentes (até 1988 o filho adotivo não herdava e o filho tido fora
do casamento tinha direito à metade dos bem que os demais fi-
lhos herdavam), e b) o mais próximo sempre afasta o mais
remoto.

Há, contudo, três hipóteses em que diferentes graus de descen-


dência sucedem ao mesmo tempo: indignidade, deserdação e
pré-morte.

2. Na sucessão dos ascendentes aplicam-se as mesmas re-


gras acima mencionadas, acrescidas de uma terceira: a sucessão
do ascendente é a única que se organiza em duas linhas, que são
a paterna e a materna. No caso de herdarem um avô paterno e
dois avôs maternos, o avô paterno receberá metade da herança,
sendo a outra metade dividida entre os avôs maternos. Não ha-
vendo avô paterno, mas apenas dois avôs maternos estes rece-
bem a totalidade da herança, ainda que haja bisavôs.

3. Na sucessão do cônjuge há que se observar que ele além


de meeiro é também herdeiro, concorrendo nesta hipótese com
descendentes e ascendentes. O cônjuge em verdade dispõe de
meação, de herança (a depender do regime) e também de direito
real de habitação (Art. 1.831, NCC: Ao cônjuge sobrevivente,
qualquer que seja o regime de bens, será assegurado, sem pre-
juízo da participação que lhe caiba na herança, o direito real
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Da ordem dede
vocação hereditária
habitação no Código Civilao
relativamente de 2002 - Áurea
imóvel Maria Ferraz
destinado de Sousa
à residência
da família, desde que seja o único daquela natureza a inventa-
riar ).

Vale dizer, que de acordo com o mesmo Código Civil, somente é


reconhecido direito sucessório ao cônjuge sobrevivente se, ao
tempo da morte do outro, não estavam separados judicialmente,
nem separados de fato há mais de dois anos; esta regra está
prescrita no artigo 1.830.

Na sucessão do cônjuge há, ainda, algumas regras específicas.


Vejamos.

Quando o cônjuge concorre com o descendente, esta sucessão


depende do regime de bens adotado, sendo possível que não
haja direito de sucessão do cônjuge em três hipóteses. São elas:
a) adotado o regime da comunhão universal (o cônjuge não
herda, pois tem direito à meação de tudo), b) adotado o regime
da comunhão parcial de bens, sem a existência de bens particu-
lares (o cônjuge também não herda, pois na prática há uma co-
munhão universal) e c) adotado o regime da separação obrigató-
ria (quando o cônjuge sofre uma exclusão legal, logo também
não pode herdar).

Deve ser frisado que a concorrência entre o cônjuge e os descen-


dentes incide somente sobre os bens particulares, pois sobre os
bens comuns o cônjuge já tem direito à meação. Nesta concor-
rência, no que diz respeito ao quinhão, o Código Civil impõe a
observância da seguinte regra:

Art. 1.832. Em concorrência com os descendentes (art. 1.829,


inciso I) caberá ao cônjuge quinhão igual ao dos que sucederem
por cabeça, não podendo a sua quota ser inferior à quarta parte
da herança, se for ascendente dos herdeiros com que concorrer.
Assim, se o cônjuge for ascendente de quem com ele concorre
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Da ordem dena
vocação hereditária
sucessão fará no
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herança. Ferraz de Sousa de
hipótese
concorrer, por exemplo, com apenas um filho terá direito à me-
tade dos bem particulares do autor da herança, mas se concor-
rer com seis filhos comuns terá direito a um quarto da herança e
os outros três quartos serão divididos entre os seis filhos.

Por outro lado, quando o cônjuge concorre com o ascendente a


regra é a seguinte:

Art. 1.837. Concorrendo com ascendente em primeiro grau, ao


cônjuge tocará um terço da herança; caber-lhe-á a metade desta
se houver um só ascendente, ou se maior for aquele grau.

Na sucessão do cônjuge em concorrência com ascendentes inde-


pende a opção feita no regime de bens. Aqui qualquer que seja o
regime adotado o cônjuge tem direito à meação e à herança.

4. Com relação à sucessão do companheiro há algumas re-


gras específicas, já que este terá direito sucessório somente so-
bre os bens adquiridos a título oneroso na constância da união
estável. O Código Civil dispôs da seguinte maneira sobre a su-
cessão do companheiro:

Art. 1.790. A companheira ou o companheiro participará da


sucessão do outro, quanto aos bens adquiridos onerosamente na
vigência da união estável, nas condições seguintes: I - se concor-
rer com filhos comuns, terá direito a uma quota equivalente à
que por lei for atribuída ao filho; II - se concorrer com descen-
dentes só do autor da herança, tocar-lhe-á a metade do que cou-
ber a cada um daqueles;

III - se concorrer com outros parentes sucessíveis, terá direito a


um terço da herança;
IV - não havendo parentes sucessíveis, terá direito à totalidade
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Da ordem deda
vocação hereditária no Código Civil de 2002 - Áurea Maria Ferraz de Sousa
herança.

Basicamente, é possível concluir-se que o Novo Código Civil es-


tabeleceu que cônjuge e companheiro são herdeiros em concor-
rência com descendentes ou ascendentes, quebrando com a pa-
ridade entre cônjuge e companheiro, uma vez que prevê regras
distintas. E, ainda, beneficiou o cônjuge e o companheiro em
face dos ascendentes e descendentes, pois estes perderam pela
subtração de parte da herança. Além disso, a Fazenda Pública
deixou de ser herdeira.

Disponível em: https://lfg.jusbrasil.com.br/noticias/2599418/da-ordem-de-vocacao-hereditaria-


no-codigo-civil-de-2002-aurea-maria-ferraz-de-sousa

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