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Direito Civil – Direito das Sucessões

Professor Stanley Costa


AULA 09 – SUCESSÃO LEGÍTIMA – PARTE 01
Sumário: 1. Considerações Iniciais – 2. Premissas Básicas da Sucessão Legítima –
3. Relações de Parentesco – 4. Regime de Bens.

1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS

A sucessão legítima é aquela que acontece por presunção legal, em situações que
inexiste testamento (sucessão ab intestato), quando o testamento é parcial - em relação
aos bens não compreendidos nele (respeitando a legítima dos herdeiros necessários) –
ou, ainda, quando o testamento tiver caducado, for declarado nulo ou anulado. Em
todas essas situações, o acervo hereditário será distribuído entre os parentes, cônjuge
ou companheiro do autor da herança, conforme a ordem determinada pelo legislador,
e se não houver nenhum parente nem testamento, a herança será declarada jacente e
posteriormente vacante.

Pois bem. Conforme anteriormente anotado, a distribuição da herança ocorrerá


de acordo com uma sequência estipulada pelo legislador cível, a qual denominamos
“ordem de vocação hereditária”. O Código Civil estabelece, portanto, uma ordem de
preferência no recebimento do patrimônio do autor da herança, os familiares são
divididos em classes que, por sua vez, são classificadas hierarquicamente. Por força de
lei, alguns familiares têm prioridade sucessória em relação aos demais.

Vejamos o que estipula o artigo 1.829 do Código Civil de 2002:

Art. 1.829. A sucessão legítima defere-se na ordem seguinte:


I - Aos descendentes, em concorrência com o cônjuge sobrevivente, salvo se casado
este com o falecido no regime da comunhão universal, ou no da separação
obrigatória de bens (art. 1.640, parágrafo único); ou se, no regime da comunhão
parcial, o autor da herança não houver deixado bens particulares;
II - Aos ascendentes, em concorrência com o cônjuge;
III - Ao cônjuge sobrevivente;
IV - Aos colaterais.

Importa notar que, a existência de herdeiros de uma classe preferencial, exclui a sucessão
dos herdeiros da classe subsequente. Assim, se existem descendentes e ascendentes do autor
da herança, apenas os primeiros herdarão. Conforme o magistério de Maria Helena Diniz, “a
relação é, sem dúvida, preferencial; há uma hierarquia de classes obedecendo a uma ordem,
porque a existência de herdeiro de uma classe exclui o chamamento à sucessão dos herdeiros da
classe subsequente” (2015, p. 125).
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Cristiano Chaves e Nelson Rosenvald prelecionam1:

A sucessão legítima, também chamada de sucessão intestada ou ab intestato, tem


como base a liberdade do autor da herança, exercida por omissão, e uma
responsabilidade familiar mínima. Efetivamente, o presumido vínculo sentimental
afetivo estabelecido entre pessoas de um núcleo familiar induz ao silêncio do auctor
hereditatis, com vistas a aderir à previsão legal de transmissão patrimonial. A sua
permissão fundante é a de que o autor da herança, por ter se mantido silente,
gostaria de beneficiar os seus familiares, em ordem de proximidade, e o seu cônjuge
ou companheiro com o patrimônio que vier a deixar, quando de seu passamento .

Existe uma lógica afetiva na disposição do legislador. Por inexistir testamento (ab
intestato), faz-se uma presunção legal daqueles que, em situações comuns, seriam mais
próximos do autor da herança. Assim, primeiro são chamados os descendentes e o
cônjuge/companheiro (analisando o regime de bens), posteriormente são chamados os
ascendentes e o cônjuge/companheiro (independente do regime de bens), depois é chamado
apenas o cônjuge/companheiro e, por fim, os colaterais na sequência dos graus de parentesco.

2. PREMISSAS BÁSICAS DA SUCESSÃO LEGÍTIMA

Desde já, nos importa esclarecer alguns termos e situações que aparecerão no
desenvolvimento desta unidade, os quais podem gerar algumas complicações no entendimento
das regras subsequentes. Por isso, reservamos este capítulo para a análise de algumas premissas
básicas da sucessão legítima.

Primeiramente, importa reafirmar que os herdeiros são divididos em classes de vocação


hereditária, quais sejam: a) descendentes (filhos, netos, bisnetos e etc.); b) ascendentes (pais,
avós, bisavós e etc.); c) cônjuge/companheiro; d) colaterais (até quarto grau). Por fim, temos o
poder público, que não é herdeiro, mas receberá a herança se não existir nenhum dos
anteriores, trata-se, pois, de um sucessor irregular.

Cada uma dessas classes será chamada individualmente (exceto o cônjuge/companheiro


supérstite, que concorrerá nos dois primeiros chamamentos), sendo que a classe subsequente
somente será acionada quando não houver mais herdeiros da precedente. Além disso, dentro
de uma mesma classe, os graus mais próximos excluem os mais remotos, de modo que os netos
não serão chamados enquanto houverem filhos, exceto no caso do direito de representação.

Dentro da vocação hereditária, vale a pena reafirmar a existência de herdeiros necessários


e facultativos. Os necessários (descendente, ascendente e cônjuge/companheiro) são aqueles

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FARIAS, Cristiano Chaves, ROSENVALD, Nelson. Curso de Direito Civil – Vol. 07. Salvador: Ed.
JusPodivm, 2016, p. 253.
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protegidos pela legítima (50% do patrimônio hereditário), e os facultativos (colaterais) são
aqueles que não possuem esta proteção sucessória.

Ademais, três são os modos de suceder: a) por direito próprio; b) por representação; c)
por transmissão.

Herda por DIREITO PRÓPRIO aquele que figura no grau prioritário dentro da classe que
se está chamando. Para deixar mais claro, herda por direito próprio o filho em relação ao pai,
pois dentro da classe dos descendentes ele pertence ao primeiro grau. Igualmente, se não
houver nenhum filho, os netos são chamados a herdar por direito próprio, pois pertencem ao
segundo grau descendente.

Exemplificando: falecido o autor da herança, deixando 5 (cinco) filhos, cada um deles


receberá, se não houver testamento, quota igual na sucessão, pois herdará por direito próprio.
Igualmente, se falece sem deixar nenhum filho, mas 5 (cinco) netos, cada um receberá a mesma
quota, pois herdará por direito próprio.

Diferentemente, quando alguém de grau mais remoto é chamado a concorrer com


herdeiros de grau mais próximo ao autor da herança, seja em razão de pré-morte, deserdação
ou indignidade, falaremos então em herança por REPRESENTAÇÃO. Nessa situação, por
exemplo, se um de três filhos do autor da herança é pré-morto (morreu antes do pai), o neto
(descendente do filho pré-morto) será chamado a herdar, não por direito próprio, mas por
representação. Assim, estariam concorrendo à herança, dois filhos (1º grau descendente) do de
cujus e um neto (2º grau descendente).

Importa-nos, ainda, mencionar a herança por TRANSMISSÃO quando, depois da abertura


da sucessão e antes da partilha, falece um dos herdeiros que foram chamados. Nesta situação,
serão chamados, em substituição (não representação), os herdeiros daquele que faleceu por
último. Para fins tributários esta regra é muito importante, pois os chamados em substituição
terão que recolher novamente o imposto de transmissão causa mortis.

Para encerrar, além dos três modos de sucessão legítima, temos três formas de partilha,
quais sejam: a) por cabeça; b) por estirpe; c) por linhas.

Dá-se a PARTILHA POR CABEÇA quando os herdeiros de mesma classe recebem partes
iguais da herança, por exemplo, o autor da herança faleceu deixando três filhos que vão herdar
por direito próprio e partilharão por cabeça, na proporção de 33,3% cada um.
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Em contrapartida, dá-se a PARTILHA POR ESTIRPE quando pessoas de graus mais remotos
concorrem com outras de grau mais próximo, em sucessão por representação, por exemplo, o
autor da herança faleceu deixando dois filhos vivos, que vão herdar por direito próprio e
receberão a partilha por cabeça, mas tinha um filho que morreu antes do autor da herança, o
qual deixou dois filhos (netos do autor da herança) que herdarão por representação e receberão
a partilha por estirpe. Assim, os dois filhos do autor da herança (1º grau descendente) receberão
33,3% da herança cada um, enquanto que os netos (2º grau descendente – descendentes do
filho pré-morto) receberão 16,5% desse patrimônio.

Existe uma última forma de partilha, que ocorre por linhas quando são chamados os
ascendentes do de cujus. Assim sendo, se o autor da herança faleceu sem deixar descendentes,
contudo seus pais já eram falecidos, seus avós serão chamados por direito próprio em partilha
por linhas, na seguinte proporção, 50% para a linha materna e 50% para a linha paterna.

3. RELAÇÕES DE PARENTESCO

Antes de explicar as regras específicas de cada classe de chamamento, importa-nos


relembrar algumas regras estudadas em direito de família, especificamente aquelas
relacionadas ao parentesco.

Conceituando parentesco, Maria Helena Diniz leciona que: “O vínculo existente não só
entre pessoas que descendem umas das outras ou de um mesmo tronco comum, mas também
entre o cônjuge ou companheiro e os parentes do outro e entre adotante e adotado” (Código,
2010, p. 1.122).

A partir deste conceito e das normas estabelecidas no artigo 1.591 do Código Civil e
seguintes, podemos identificar as três modalidades de parentesco existentes em nosso direito:
a) parentesco natura ou consanguíneo – aquele existente entre pessoas que possuem vínculo
de sangue (biológico); b) parentesco civil – aquele que decorre de adoção ou outra origem
(reprodução assistida heteróloga); c) parentesco por afinidade – aquele que existe entre um
cônjuge ou companheiro e os parentes do outro cônjuge ou companheiro.

Estabelecidas as espécies de parentesco, importa-nos destacar que os parentes serão


divididos em linhas (reta e colateral) e graus. Na linha reta, conforme previsão do artigo 1.591,
são parentes as pessoas que estão umas para com as outras na relação de ascendentes e
descendentes. Vejamos como ocorre esta classificação nos quadros sinóticos abaixo:
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Subsequentemente, o artigo 1.592 determina quem são e de que forma se distribuem os


parentes colaterais, afirmando que: São parentes em linha colateral ou transversal, até o quarto
grau, as pessoas provenientes de um só tronco, sem descenderem uma da outra. Vejamos como
ocorre esta divisão nos quadros sinóticos abaixo:
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No que tange aos parentes colaterais, vale relembrar, ainda, que eles podem ser
colaterais iguais, quando a distância que os separa do tronco comum é a mesma (irmão e
primos), ou colaterais desiguais, quando a distância que os separa do tronco comum não é a
mesma (tios, tios-avôs).

Por fim, temos o parentesco por afinidade, aquele que existe na relação do companheiro
ou cônjuge com os parentes do outro companheiro ou cônjuge. Destaca-se que na linha reta
(descendente ou ascendente) ele é infinito, enquanto que na linha colateral limita-se ao irmão
do cônjuge ou companheiro. Ademais, não podemos nos esquecer que o parentesco por
afinidade em linha reta não se extingue com a dissolução do casamentou.

Assim como pontuamos nos demais casos, a previsão legal do parentesco por afinidade
encontra-se no artigo 1.595 do Código Civil, que estabelece o seguinte: cada cônjuge ou
companheiro é aliado aos parentes do outro pelo vínculo da afinidade. Mais uma vez, vejamos
como ocorre esta divisão nos quadros sinóticos abaixo:

4. REGIME DE BENS

Quanto aos regimes de bens, importa-nos também fazer algumas considerações, primeiro
para diferenciar meação de herança, e, segundo, para compreender a sucessão do cônjuge
supérstite, especialmente quando estiver concorrendo com descendentes do autor da herança.

Assim, vale dizer que meação é instituto de direito de família, que concerne à metade
ideal do patrimônio comum do casal, ao qual o cônjuge faz jus de pleno direito, em razão do
regime de bens adotado para o casamento. Os principais efeitos são produzidos, portanto, no
término do vínculo matrimonial, seja por divórcio ou por morte.
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Em sentido diverso, a herança é instituto de direito sucessório, que concerne ao
patrimônio particular do de cujus, a totalidade daquilo que era só dele, que será transmitido em
razão da morte, sem incluir a meação do cônjuge supérstite.

Desta forma, veremos que, a depender do regime de bens, o cônjuge supérstite receberá
sua meação (direito de família), mais uma parte da herança (direito sucessório). Noutras
situações, ele será só meeiro ou só herdeiro.

Exemplificativamente, observemos a situação abaixo, em que são aplicáveis as regras da


comunhão parcial de bens:

A. Bens do marido*: R$ 30.000,00 D. Meação: R$ 22.000,00 (D = C/2)


B. Bens da esposa*: R$ 25.000,00 E. Total do Marido: R$ 52.000,00 (A + D)
C. Bens comuns: R$ 44.000,00 F. Total da Esposa: R$ 47.000,00 (C + D)
* Bens incomunicáveis

Para encerrar, resumidamente esclarecemos que existem quatro regimes de bens


previstos em nossa legislação, a saber: a) comunhão parcial de bens (três blocos patrimoniais –
patrimônio particular de um, patrimônio particular do outro, e patrimônio comum); b)
comunhão universal de bens (um bloco patrimonial – patrimônio comum); c) separação de bens
(dois blocos patrimoniais – patrimônio particular de um, e patrimônio particular do outro); d)
participação final nos aquestos (separação na constância do casamente o comunhão parcial na
extinção do vínculo matrimonial).

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