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GÊNERO E PARENTESCO

CONCEITO
SOCIOLOGIA - SLIDE 031
PRIMEIRO ANO DO ENSINO MÉDIO
GÊNERO E PARENTESCO

O parentesco, tema fundamental para o pensamento


antropológico, sofreu transformações ao longo do tempo
e hoje é influenciado pela discussão feminista. O
parentesco remete a universos da vida privada. Aquilo
que entendemos como família é uma forma de
parentesco. A vida privada é uma questão central nas
reflexões sobre gênero, pois é nesse universo que nascem
muitos aspectos da discriminação da mulher. Assim, o
parentesco passou a ser analisado também a partir da
crítica feminista.
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Já na primeira metade do século XX, a antropóloga


norte-americana Margaret Mead demonstrava que
“homem” e “mulher” são categorias culturais, e que cada
cultura define a seu modo essas categorias. O conceito
de gênero se refere ao modo como cada sociedade
define homem e mulher e de que maneira, numa mesma
sociedade, essas definições mudam ao longo do tempo.
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Gênero, portanto, é uma questão cultural, e não natural.


Essa definição de gênero como ideia construída deixou
claro que a maioria das sociedades constrói hierarquias
que desfavorecem as mulheres, seja qual for a definição
social da mulher em cada sociedade. Autoras como Gayle
Rubin (1949-) e Sherry Ortner (1941-) estudaram esse tema, a
partir dos anos 1970. As duas antropólogas norte-
americanas explicaram essas diferenças pelo fato de, em
geral, as mulheres ficarem mais segregadas ao mundo
doméstico enquanto os homens circulam na esfera pública.
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Existe também uma tendência (muito presente em nossa


sociedade) de relacionar a mulher à natureza e o homem
à cultura: às mulheres cabem o parto, a maternidade, a
amamentação, enquanto aos homens cabem a
produção, a transformação do mundo. Essa associação
leva a uma discriminação da mulher, já que, na oposição
natureza/cultura, o polo cultura é sempre mais valorizado.
De fato, nas sociedades ocidentais há uma
predominância da oposição natureza/cultura, ligada à
ideia de que a natureza deve ser dominada.
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Essa “conquista da natureza” pela cultura pode ser vista


como parte da ideologia ocidental capitalista, que levou a
uma opressão das mulheres, associadas à natureza
conquistada. Os estudos de gênero passaram a pensar em
masculinidades e feminilidades como modos de construir
diferenças sociais. A associação entre masculinidade e
prestígio, por exemplo, é extremamente difundida. As
intelectuais feministas se empenharam em dissolver tais
oposições com base na tese de que elas não são naturais,
mas sim construídas por um sistema que beneficia homens.
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Ao evidenciar a opressão da mulher, o tema do


parentesco ganhou destaque. O parentesco lida com
fatos naturais, como parto e reprodução, com o mundo
privado (criação dos filhos) e com o mundo público
(quando organiza a vida de muitas sociedades). A própria
relação de parentesco é um híbrido de natureza e cultura,
tratando da produção de relações sociais que também
oprimem as mulheres. Assim, muitos antropólogos
passaram a pensar o parentesco através da questão do
gênero.
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Em 1968, David Schneider publicou American Kinship,


importante livro sobre as relações de parentesco nos
Estados Unidos. Schneider demonstrou que a noção norte-
americana de parentesco era construída a partir de uma
oposição entre natureza e cultura, pressupondo a
reprodução de uma série de sentimentos relacionados aos
parentes consanguíneos. David Schneider concluiu que
muito daquilo que os antropólogos acreditavam ser
parentesco era apenas uma projeção dos valores do
sistema de parentesco do qual eles mesmos faziam parte.
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Essas conclusões aparentemente simples levaram a


grandes transfor mações. Antropólogas feministas
perceberam que, se a teoria do parentesco não era
necessariamente sobre reprodução biológica, mas sim
sobre a produção de relações, não haveria uma verdade
natural/biológica no papel atribuído às mulheres. Essa
reflexão levou à construção de um campo de
pensamento chamado “parentesco construtivista”, ou
seja, a ideia de que o parentesco é sempre construído.
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Estudiosos da homossexualidade passaram a defender


que o parentesco homoafetivo é tão legítimo quanto o
parentesco “tradicional”. A ideia de uma desconexão do
parentesco em relação à biologia deu margem tanto à
luta contra a opressão da mulher — e contra a ideia de
que cuidar dos filhos e se responsabilizar pelo mundo
doméstico é um destino natural — como à luta pelo direito
de homossexuais formarem famílias reconhecidas pelo
Estado.
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Autoras contemporâneas como Marilyn Strathern se


aproveitaram dessa “desbiologização” do parentesco e
avançaram em análises sobre as relações de gênero em
vários contextos, desde sociedades na Nova Guiné até
relações de parentesco desafiadas pelas novas tecnologias
reprodutivas. “Uma mulher solteira pode recorrer a um banco
de esperma para gerar um filho?” Se a resposta for afirmativa,
teríamos uma situação em que o filho, legal e juridicamente,
não teria pai. Essas situações foram estudadas por Strathern
para explicar o impacto das mudanças tecnológicas naquilo
que consideramos relações de parentesco.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

BOMENY, Helena [et.al]. Tempos Modernos, tempos de sociologia.


Volume Único. São Paulo: Editora Brasil, 2013.
MACHADO, Igor José [et.al] Sociologia hoje. Volume Único. São Paulo:
Editora Ática, 2013.

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