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Curso Gratuito

Prática em Inventários
25 a 28 de Abril de 2022
AULA 02
QUEM TEM DIREITO A HERANÇA

INTRODUÇÃO

Inicialmente é importante salientar que a sucessão poderá se dar de


duas maneiras, quais sejam: a) sucessão legitima e; b) sucessão
testamentária.
A sucessão testamentária decorre da autonomia privada e ocorre
quando ainda em vida o de cujus fez constar sua vontade através de um
testamento.
Somente quando uma pessoa falece sem deixar testamento, será
realizada a sucessão legítima. Nesse caso a própria lei irá regular o
chamamento dos herdeiros, tendo como principal fundamento legal o art. 1829
do Código Civil. O referido artigo traz um rol de pessoas que serão chamadas a
suceder.
Vale ressaltar que a sucessão testamentária é prioritária, ou seja,
havendo testamento, ele deverá ser cumprido. Somente não havendo
manifestação de última vontade é que serão aplicadas as regras relativas à
sucessão legítima.
Quando há bens acobertados pelo testamento e bens não incluídos, as
duas modalidades de sucessão irão coexistir. Não há nenhum problema nisso!
Aqui, o que nos importa é analisar qual a ordem de vocação hereditária
prevista no art. 1.829 do CC.
Mas quem serão os herdeiros de acordo com o art. 1829? São eles:
 Descendentes
 Ascendestes
 Cônjuge /companheiro
 Colaterais (irmão, tio, sobrinho...)
Importante esclarecer que um dos motivos pelos quais as pessoas não
possuem muito interesse em realizar testamentos no Brasil se deve ao fato de
que o rol do art. 1.829 representa, na maior parte dos casos, a vontade da
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pessoa, de modo que ela acaba não encontrando vantagens em realizar um
testamento.

SUCESSÃO DOS DESCENDENTES E A POSSIBILIDADE DE


CONCORRÊNCIA COM O CÔNJUGE/COMPANHEIRO

O primeiro ponto que precisa ser mencionado, se refere a quem seriam


os descendentes que estariam aptos a receber a herança. São considerados
descendentes os filhos, netos, bisnetos, etc. Mas todos deverão ser
chamados? Não, de acordo com a regra constante do art. 1.833 do CC, na
sucessão dos descendentes, os de grau mais próximo (filho, por exemplo)
excluem os mais remotos (neto, por exemplo).
Porém, é importante lembrar que em alguns casos haverá o direito de
representação e essa regra não valerá. Exemplo: João (pai) falece e deixa 3
filhos, sendo que um deles já era falecido (pré-morto). Nessa hipótese, os filhos
do herdeiro previamente morto (que são netos de João) irão participar da
sucessão pelo direito de representação, regulado no art. 1835 do CC.
O grande problema desse inciso I, do art. 1.829, se refere à concorrência
do cônjuge com os descendentes. Por isso, é importante que façamos uma
análise detalhada das situações envolvendo a aludida regra.
O primeiro aspecto a ser destacado é que essa concorrência é
condicionada ao tipo do regime de bens do casamento. Logo, é
imprescindível verificar o regime de bens do casamento para definir se o
cônjuge poderá herdar juntamente com os descendentes.
Não haverá concorrência do cônjuge com os descendentes quando o
casamento for regido: a) pelo regime da comunhão universal de bens; b) pela
separação obrigatória; c) pela comunhão parcial de bens, sem bens
particulares.
Nesses casos, estaríamos diante do que costumo chamar de teoria do
desamparo. Isso significa que, como regra, o cônjuge não terá direito a
participação sucessória com os descendentes quando estiver amparado. Dito
de forma diversa: como regra, o cônjuge somente concorrerá com os
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descendentes quando, em razão do regime de bens, ele não tiver direito a
meação que lhe garanta amparo.
Abaixo esquematizei uma tabela que facilitará a visualização da “Teoria
do Desamparo”:
Cônjuge concorre com os Cônjuge Não concorre com os
descendentes descendentes
Separação convencional Comunhão universal
(realizada com pacto antenupcial),
Regime da participação final nos Separação obrigatória (art. 1641)
aquestos
Comunhão parcial de bens com Comunhão parcial sem bens
bens particulares particulares

Não participará da Sucessão em nenhuma hipótese:


 Cônjuge que está divorciado
 Cônjuge que está separado judicialmente
 Cônjuge separado de fato por mais de 2 anos (salvo culpa).

Na separação obrigatória, embora possa ocorrer o desamparo, como se


trata de uma sanção, não haverá direito a herança. Porém, importante ressaltar
que a Súmula 377 do STF acabou relativizando a regra, pois permite que o
cônjuge receba parte dos bens adquiridos onerosamente na constância do
casamento. Dessa forma, não estaria havendo desamparo.
No regime da comunhão parcial, sem bens particulares, todo patrimônio
do de cujus foi adquirido onerosamente na constância do casamento, o que
garante o direito a meação sobre tudo. Logo, o cônjuge não estaria
desamparado, e por isso não concorre com os descendentes.
Portanto, no regime da comunhão parcial de bens, deverá ser
questionado se os bens eram comuns ou particulares. Caso o cônjuge tenha
falecido e deixado somente os bens particulares, esses bens serão divididos
entre os descentes e o cônjuge a título de herança. Se ele deixou particulares e
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comuns, o cônjuge terá direito a meação dos comuns e herança sobre os
particulares.
Exemplo: Caso o de cujus tenha deixado bens comuns no montante de
R$ 4 milhões, e bens particulares de R$ 3 milhões, nos bens comuns o cônjuge
terá direito de meação, ou seja, o cônjuge sobrevivente terá direito a R$ 2
milhões de meação, e não concorrerá com os descendentes no remanescente
que incidiu a meação. Porém, terá direito a herança concorrendo com os
descendentes nos 3 milhões que seriam patrimônio particular.
Essa é a posição do STJ, que definiu que quando o cônjuge concorrer
com os descentes, só irá concorrer nos bens particulares, ou seja, haverá duas
massas patrimoniais. Uma massa será o patrimônio comum no qual o cônjuge
não concorrerá porque já entrou na meação e outra, dos bens particulares, que
o cônjuge irá concorrer com os descendentes. Para complementar seus
estudos, recomendo a leitura do Enunciado 270 do CJF, e o REsp
1.368.123/SP, que trata sobre o assunto.
Agora iremos analisar a concorrência em relação a divisão entre eles.
Se atente para essa regra: Quando o cônjuge concorre com até 3
filhos, a herança será dividida de forma igualitária. Todavia, quando há mais de
3 filhos, e os filhos são comuns, o cônjuge terá direito a chamada “reserva da
quarta parte” e lhe será reservado ¼ da herança. O restante será dividido
entre os herdeiros de forma igualitária. Mas lembre-se: essa regra só se
aplica se houve mais de três filhos bilaterais.
Na prática, teríamos a seguinte situação: João faleceu e deixou, além da
esposa Maria, mais 7 filhos. Suponhamos que o regime de bens do casamento
permite a concorrência do cônjuge com os descendentes. Como há mais 3
filhos, separa-se ¼ (25%) para Maria e o remanescente ficará para os filhos 1/7
para cada. Atenção, essa situação somente ocorrerá quando o cônjuge
concorre com mais de 3 filhos, sendo esses filhos comuns do casal (filhos de
João e Maria). Se há filhos apenas do falecido (unilaterais) não há essa reserva
mínima.
O legislador ao escolher beneficiar a reserva da quarta parte, ou seja,
25% da herança, para o cônjuge sobrevivente entendeu que quando da morte
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do cônjuge sobrevivente esses 25% voltariam aos seus descendentes – filhos
comuns.
Estando diante de uma filiação híbrida (filhos comuns e filhos
unilaterais), caso fosse reservado ao cônjuge sobrevivente a quarta parte, esta
reserva não voltaria para todos os filhos, haja vista que não são filhos comuns,
voltando somente aos bilaterais e não aos unilaterais, caso esse que não seria
privilegiada a igualdade entre os filhos.
Tal matéria está regulada no art. 1.832 CC. O Enunciado 527 das
Jornadas de Direito Civil, deu essa interpretação ao referido dispositivo.

SUCESSÃO DOS ASCENDENTES E A CONCORRÊNCIA COM


CÔNJUGE/COMPANHEIRO

Para os ascendentes, será a mesma regra dos descendentes, os mais


próximos excluem os mais remotos. Chamando assim os ascendentes mais
próximos, primeiro os pais. Não tendo os pais, serão chamados os avós, e não
os havendo chama-se os bisavós e assim por diante. Na diversidade de linhas,
linha materna e paterna, será divido de forma igualitária.
Exemplo: João morreu e não deixou filhos, nem cônjuge. Tinha pai e
mãe já falecidos, mas o avô paterno era vivo e a avó e o avô materno também.
O patrimônio de João será dividido 50% na linha paterna e 50% para a linha
materna, deixando 50% para o avô paterno e 25 % para a avó materna e 25%
para o avô materno.
Agora iremos tratar da concorrência do cônjuge com ascendente. A
primeira questão a ser observada é que diversamente do que ocorre na
concorrência com descendentes, com ascendentes não importa o regime de
bens.
Logo, com ascendentes, o cônjuge somente não concorrerá quando ele
estiver afastado da sucessão, nas hipóteses de: a) divórcio; b) separação de
fato por mais de 2 anos; c) separação judicialmente.
O quinhão do cônjuge nos casos de concorrência com o ascendente é
previsto no art. 1837, e seguirá as seguintes regras:
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a) João morreu e deixou os pais e esposa: cabe 1/3 do patrimônio para
cada um.
b) Se o cônjuge for concorrer somente com o pai, ou somente com a mãe,
caberá metade da herança para cada.
c) Se o cônjuge concorrer com ascendentes de 2º grau ou mais, ou seja,
avós, bisavós, etc, ele ficará com 50% da herança.

SUCESSÃO CÔNJUGE/COMPANHEIRO

Segundo a regra prevista no art. 1.829, III, se o falecido não tem


descendente ou ascendente, sua herança será destinada ao cônjuge ou
companheiro.
Observação importantíssima: quando só tem o cônjuge, no momento
que preencher a guia do ITCD, o fisco irá tentar cobrar o tributo sobre a
integralidade do patrimônio. Mas o especialista em inventário saberá que deve
ser excluída a meação. Na prática, João, que era casado com Maria, faleceu e
deixou um patrimônio de R$ 20 milhões. Retirada a meação de Maria, sobrará
o monte partível de R$ 10 milhões, incidindo imposto sobre os 10 milhões.
João era casado com a Maria, mas eles se separaram de fato havia 1
ano e 6 meses. Maria é herdeira de João? Sim, pois não estavam separados
há mais de 2 anos. Porém João estava separado de fato de Maria, mas havia 6
meses que estava convivendo como marido e mulher com Paula, deixando um
patrimônio de R$ 20 milhões, havendo uma escritura pública de união estável.
Nesse caso, há possibilidade de concorrência entre cônjuge e
companheiro? De acordo com doutrina, sim. O Enunciado 525 das Jornadas
de Direito Civil defende a possibilidade de existência de concorrência entre
companheiro e cônjuge. Nesse caso, cônjuge e companheira dividirão a
quota.
Se o de cujus não tinha descentes, ascendente, sem cônjuge e
companheiro, restará os colaterais até o quarto grau.

SUCESSÃO DOS COLATERAIS


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Os colaterais estão em 4º lugar na ordem de vocação, conforme


previsão do art. 1840: “Na sucessão entre os colaterais, os mais próximos
excluem os mais remotos, garantido o direito de representação aos filhos de
irmãos (sobrinhos)”.
Ex. de cujus deixa um irmão, dois filhos de outro irmão pré-morto, e três
filhos de outro irmão também pré-morto. Nesse caso divide-se a herança em
três partes, e os filhos dos irmãos já falecidos vão representá-lo. Agora se os
filhos dos irmãos também forem falecidos, os netos nada herdam, porque o
código só menciona o direito de representação com relação aos filhos dos
irmãos.
Outra regra importante está prevista no art. 1.841 do CC, que prevê que
se forem herdeiros irmãos bilaterais (mesmo pai e mãe) e unilaterais,
caberá aos unilaterais metade do que couber aos irmãos bilaterais. Nesse
caso, na prática, é importante que você faça a distribuição dos quinhões por
quotas, atribuindo aos bilaterais duas quotas.
Ex. João morre e deixa 3 irmãos bilaterais e 2 unilaterais. Seu patrimônio
é de 8 milhões. Para descobrir o valor das quotas, basta dividir todos os
herdeiros por quotas. Nesse caso, cada unilateral vale 1 quota e cada bilateral
duas. Assim, teríamos um total de 8 quotas (6 dos bilaterais e 2 dos
unilaterais), no valor de 1 milhão cada. Assim, os irmãos bilaterais teriam direito
a 2 quotas (2 milhões cada), e os unilaterais 1 quota (1 milhão cada).

Obs. Embora sobrinhos e tios sejam parentes em terceiro grau, a lei dá


preferência a geração mais nova. Art. 1843.

Importante registrar que os colaterais até 4º grau são herdeiros


legítimos, porém não são herdeiros necessários, podendo ser afastados por
testamento.

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