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EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) DOUTOR (A) JUIZ(A) DA 8ª VARA FEDERAL

CÍVEL DA SEÇÃO JUDICIÁRIA DO DISTRITO FEDERAL

PROCESSO: 1056488-69.2023.4.01.3400
AUTOR: MUNICIPIO DE NITERÓI
RÉU: CAIXA ECONÔMICA FEDERAL

CAIXA ECONÔMICA FEDERAL – CEF, instituição financeira sob a


forma de empresa pública, dotada de personalidade jurídica de direito privado,
patrimônio próprio e autonomia administrativa, vinculada ao Ministério da Fazenda,
regida pelo Decreto-Lei nº 759, de 12 de agosto de 1969, Lei nº 6.404, de 15 de
dezembro de 1976, Lei nº 13.303, de 30 de junho de 2016, Decreto nº 8.945, de 27
de dezembro de 2016, e pelo seu Estatuto arquivado perante a JCDF, com sede em
Brasília (DF), inscrita no CGC/MF sob o nº 00.360.305/0001-04, com Departamento
Jurídico na SBS QUADRA 1 BLC L, 17º Andar, Brasília-DF, local onde receberá
intimações, e-mail institucional jurirbr@caixa.gov.br, vem, mui respeitosamente,
diante de Vossa Excelência, por sua advogada signatária, apresentar sua

CONTESTAÇÃO

às alegações expostas na inicial do processo em epígrafe, pelos motivos


de fato e de direito a seguir aduzidos.

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1. PRELIMINAR DE TEMPESTIVIDADE

No que refere à tempestividade, Excelência, cumpre anotar que a intimação


se verificou aos 02/10/2023, nos termos do art. 231, V, do CPC, ou seja, mediante
transcurso de prazo para consulta ao teor da citação, procedida por meio eletrônico.
Iniciada a contagem do prazo no dia 16/10/2023, e mediante aplicação da
regra esculpida no art. 219, CPC, contados os dias úteis, protocolada até esta data, é
tempestiva a defesa, portanto.

2. SÍNTESE DOS FATOS

Trata-se ação ajuizada pelo Município de Niterói em face da União e


CAIXA, pleiteando em síntese a sustação da cobrança de valores efetivamente
devidos em decorrência do “Contrato de Confissão e Composição de Dívidas,
celebrado em 07/04/1994 entre a União e o Instituto de Benefícios e Assistência aos
Servidores Municipais-IBASM - atual Niterói-Prev, sob amparo da Lei nº 8.727/1993,
tendo como interveniente-garante o Município de Niterói, com a finalidade de
refinanciar dívidas de contratos originalmente celebrados com a Caixa Econômica
Federal - Caixa, concernentes às obrigações com vencimentos a partir da celebração
do contrato em destaque, denominadas "Dívidas Vincendas”.
O autor pediu prevenção com os Processos nos 0022734-
62.2009.4.01.0000 e 0009419-93.2002.4.01.3400, que tramitaram e foram julgados
pelo MM. Juízo da 2ª Vara Federal do Distrito Federal.
Alega a parte autora que em 19.04.23, a Secretaria do Tesouro Nacional
(“STN”) encaminhou o Ofício SEI Nº 9450/2023/MF, endereçado ao Prefeito do
MUNICÍPIO e ao Diretor Presidente da Niterói Previdência (“NIT-PREV”), versando
sobre o “Contrato de Confissão e Composição de Dívidas, celebrado em 07/04/1994
entre a União e o Instituto de Benefícios e Assistência aos Servidores Municipais-
IBASM - atual Niterói-Prev, sob amparo da Lei nº 8.727/1993, tendo como
interveniente-garante o Município de Niterói, com a finalidade de refinanciar dívidas
de contratos originalmente celebrados com a Caixa Econômica Federal - Caixa,
concernentes às obrigações com vencimentos a partir da celebração do contrato em
destaque, denominadas "Dívidas Vincendas”.

Alegou ainda que, de acordo com a Cláusula Sexta do ajuste, a UNIÃO


poderia reter os recursos provenientes de receitas próprias a que se referem os artigos
155, 157 e 159 da CRFB em caso de inadimplência por mais de 10 (dez) dias. Ou
seja, pretensamente foi dada à UNIÃO a prerrogativa de “abocanhar as receitas
constitucionalmente asseguradas ao MUNICÍPIO, que figurara como garantidor no
citado Contrato e que no referido Ofício, 30 anos depois da celebração da avença,

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a STN apontou “saldo devedor em aberto”, resultante de pretenso vencimento
antecipado do Contrato, totalizando exorbitante débito atualizado no valor de R$
285.423.383,08”.
Alegou também que a Secretaria Municipal de Fazenda (“SMF”)
encaminhou Ofícios (doc. 2), solicitando à STN e à CEF esclarecessem a composição
das rubricas que perfazem o montante cobrado, notadamente tendo em vista o
ajuizamento de duas demandas pela NITPREV questionando aspectos financeiros do
contrato (Processos nos 0022734-62.2009.4.01.0000 e 0009419- 93.2002.4.01.3400),
que tramitaram perante o TRF-1, e tiveram desfecho favorável à autarquia
municipal, já com trânsito em julgado.
Além disso, dadas as fundadas dúvidas – quer acerca da exigibilidade
da pretensão mesma, quer quanto ao quantum devido – que cercavam a vetusta e
inopinada cobrança, o MUNICÍPIO, animado do propósito de solucionar
amigavelmente a questão, propôs a instauração de mediação perante a Câmara de
Conciliação e Arbitragem da Administração Federal (“CCAF”), a fim de se lograr
acordo em torno dos valores efetivamente devidos.
Questiona os memoriais de cálculos elaborados pela CAIXA,
documentando a evolução da dívida, verifica-se que, do montante geral cobrado a
NITERÓI, nada menos do que 169 milhões de reais proviriam de supostos encargos
moratórios – ou seja, de juros e multas devidos por pretenso atraso no cumprimento
das parcelas ajustadas.
Por fim, alegando perigo da demora na cobrança, requereu que seja
concedida tutela antecipada, em caráter antecedente, para que seja provisoriamente,
até o julgamento final da futura demanda a ser proposta, determinada a sustação dos
descontos efetuados sobre as transferências constitucionais de receitas ao
MUNICÍPIO, com base nos artigos 155, 157 e 159 da Constituição Federal, bem como
determinado o imediato repasse dos valores já retidos.
Posteriormente aditou a inicial requerendo
• a reconsideração da decisão de Num. 1710846453, com vistas a
deferir a tutela cautelar,
• que seja declarado como devido, na data do protocolo do
aditamento, 17.07.23, o valor de R$ 83.255.106,26
• que seja declarado o não vencimento antecipado do Contrato,
assegurando que o saldo devedor em aberto possa ser quitado
parceladamente, conforme ajustado entre as partes;
• que seja determinada a restituição dos valores cobrados em
excesso, na hipótese de que, mantidos os descontos no FPM, as
subtrações extrapolem o montante que o MUNICÍPIO reputa
devido (R$ 83.255.106,26), conforme Nota Técnica anexa (doc.
anexo), como corolário da decisão declaratória pleiteada acima,
devidamente corrigidos e com os acréscimos legais.

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3. PRELIMINARMENTE

3.1. DA ILEGITIMIDADE PASSIVA DA CAIXA

Ressalte-se que o papel da CAIXA quando estabelecida a relação


contratual, entre o ente público municipal e a UNIÃO, tem natureza meramente
acessória.
Importante frisar que a CAIXA, na qualidade de Agente Operador do
FGTS, participa dos contratos entabulados junto ao Niterói Prev apenas como cedente
da dívida ora discutida, conforme determina a Lei nº 8727/93.
Tal situação está fundamentada nos preceitos da Lei nº 8727/93, em que
a União figuraria, após a assinatura do contrato, como cessionária das dívidas que até
então tinha como credor o FGTS.
Conforme consta no “Contrato Particular de Cessão de Crédito entre a
União, através do Banco do Brasil, na qualidade de seu Agente Financeiro, e a Caixa
Econômica Federal” para refinanciamento da dívida do IBASM (Niteroi Prev), assinado
em 07/04/1994, constam as seguintes partes interessadas:
CAIXA (FGTS): participação como cedente dos direitos creditórios em
conformidade com a Lei nº 8727/93;
UNIÃO: participação como cessionária dos direitos creditórios em
conformidade com a Lei nº 8727/93;
Ou seja, a partir da assinatura do instrumento, a Niterói Prev passa a ser
devedora da União que, por sua vez, passa a ser a devedora da CAIXA, na qualidade
de Agente Operador do FGTS.
Portanto, conforme parágrafo quinto da cláusula terceira, a CAIXA limita-
se a cobrar a dívida da União, em caso de inadimplemento das prestações:

Parágrafo Quinto – Vencidas e não pagas as prestações do contrato


de refinanciamento, e não exercido o direito, nele estabelecido, de
compensar os valores inadimplidos com recursos do MUNICÍPIO DE
NITERÓI (RJ), INTERVENIENTE-GARANTE do referido contrato, a
CESSIONÁRIA se obriga a efetuar o pagamento à CEDENTE no
prazo máximo de 90 (noventa) dias contados do vencimento da
respectiva parcela, com os acréscimos devidos.

Cabe à CAIXA, portanto, somente seguir a legislação que rege à espécie


vertente, não tendo legitimidade para figurar no polo passivo da lide, posto que é
somente o órgão operador, atuando na contratação e repasse dos recursos públicos
da UNIÃO, tendo como base as leis e normas aplicáveis à espécie.
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Por outro lado, em reforço, em 07/04/1994 foi assinado o “Contrato
Particular de Confissão e Composição de Dívidas entre a União, através do
Banco do Brasil, na qualidade de seu Agente Financeiro, e o Instituto de
Benefícios e Assistência dos Servidores Municipais – IBASM”, na forma da Lei
nº 8.727, de 05 de novembro de 1993.
Concomitante ao contrato supramencionado foi assinado o
“Contrato Particular de Cessão de Crédito entre a União, através do Banco do
Brasil S.A., na qualidade de seu Agente Financeiro, e a CAIXA Econômica
Federal para efeitos de refinanciamento da dívida do Instituto de Benefícios e
Assistência dos Servidores Municipais – IBASM, ao amparo da Lei número
8.727, de 05 de novembro de 1993”.
Portanto, a CAIXA não tem qualquer relação jurídica direta com a
Niterói Prev, seja na condição de agente financeiro, seja na condição de agente
operador do FGTS.
Ante o exposto, requer-se o reconhecimento da ilegitimidade passiva da
CAIXA.

4. DO MÉRITO

4.1. CONTEXTUALIZAÇÃO

Quanto à medida cautelar interposta pela Niterói PREV, ex-IBASM e às


questões alegadas, faz-se necessária a contextualização a seguir apresentada:
1.1 A Niterói PREV possuía 02 contratos (9957-83 e 8145-96) na
modalidade habitação, oriundos de empréstimos junto ao antigo BNH, com recursos
do FGTS.
1.2 Em 1993, foi publicada a Lei nº 8.727, que possibilitou a
renegociação em separado da dívida vencida e vincenda.
1.3 Diante disso, a Niterói PREV, por livre e espontânea vontade,
renegociou sua dívida referente as parcelas vencidas, em 240 (duzentos e quarenta)
prestações mensais consecutivas, conforme item I da Cláusula Terceira do Contrato
Particular de Confissão e Composição de Dívidas:

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1.4 A dívida vencida, resultante do somatório dos saldos devedores dos
02 contratos, foi registrada no contrato 30653-88.
1.5 A parte vincenda da dívida, permaneceu registrada nos contratos
8145-96 e 9957-83, nas mesmas condições originalmente pactuadas, conforme inciso
II da Cláusula Terceira:

1.6 Assim a renegociação foi operacionalizada no SIAPF da seguinte


forma:
Contrato original Contrato dívida vencida Contrato dívida
vincenda
9957-83 9957-83**
30653-88*
8145-96 8195-46**
**Manteve as condições originais (inciso II da cláusula terceira)

1.7 O contrato da dívida vencida nº 30653-88 foi integralmente liquidado


pelo Agente Financeiro em 01/04/2014.
1.8 Os contratos de dívida vincenda nº 8145-96 e nº 9957-83, que
tiveram mantidas as condições originais, foram encerrados por decurso de prazo, ou
seja, o prazo pactuado terminou sem que houvesse a liquidação total dos saldos
devedores.
1.9 Nessa situação, o Contrato de Renegociação previa que o saldo
devedor remanescente, após vencimento final dos contratos, seria pago em 60
(sessenta) parcelas consecutivas, Parágrafo Segundo da Cláusula Terceira:

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1.9.1 Seguindo o determinado no Contrato de Renegociação, foram
incluídos no SIAPF os contratos 288429-48 e 320062-13 em substituição aos
contratos 8195-46 e 9957-83, respectivamente, com novas condições, dentre elas o
parcelamento em 60 meses e o reajuste da prestação em PCM.
1.10 Cabe esclarecer que antes do término dos prazos dos contratos
originais, em 2002, a IBASM INST DE BENEFICIOS E ASSISTEN AOS SERV
MUNICIPAIS (atual Niterói Prev) não concordou com os valores devidos e ajuizou
ação ordinária nº 0009419-93.2002.4.01.3400, questionando a dívida existente nos
contratos 8195-46 e 9957-83.
1.11 Além disso, em 22/04/2009, foi ajuizada a medida cautelar
0022734- 62.2009.4.01.0000, dependente da ação ordinária, na qual a Niterói Prev
pleiteava a manutenção do pagamento das prestações mensais nos mesmos valores
que vinham sendo repassados a CAIXA.
1.11.1 Por força de decisão judicial do Tribunal Regional Federal da 1ª
Região, de 19 de dezembro de 2009, transcrita abaixo, o valor dos encargos dos
contratos devidos corresponderia ao mesmo valor cobrado no mês de março de 2009,
no valor de R$ 20.770,79 (vinte mil, setecentos e setenta reais e setenta e nove
centavos).

[...]
"DECISÃO
Em face do exposto, reconsidero a decisão de fls.62-65 e defiro
o pedido de liminar para determinar que as cobranças das
parcelas da dívida em referência sejam efetuadas, a partir do
mês de abril de 2009, pelo valor correspondente ao mês de
março de 2009, com correção monetária pelo índice previsto no
contrato, até o julgamento da apelação interposta no processo
principal onde se discutem os critérios de cálculo da dívida.

Publique-se. Intime-se.
Após, voltem os autos conclusos.
Brasília, 18 de dezembro de 2009.
Desembargadora Federal Maria Isabel Gallotti Rodrigues -
Relatora"
[...]
1.12 Dessa forma, em cumprimento à decisão, manteve-se o valor para
cobrança do Agente Financeiro, encaminhado mensalmente ao Banco do Brasil em
aproximadamente R$ 22 mil, valor insuficiente para o pagamento integral do encargo
mensal.
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1.12.1 Vale ressaltar que com a implantação dos contratos 288429-48 e
320062-13 e refinanciamento do saldo devedor em 60 meses, as prestações ficaram
maiores que os encargos pagos até então, passando de:

• Contrato 8195-46, prestação mensal de R$ 1.521,70, para o


valor de R$ 1.890.864,10 no contrato 288429-48;
• Contrato 9957-83, prestação mensal de R$ 19.593,71, para o
valor de R$ 973.704,46 no contrato 320062-13.

1.13 Em 23/10/17 foi publicada a decisão do Tribunal Regional Federal


(TRF), agora com trânsito julgado, que deu parcial provimento à apelação interposta
pela Niterói PREV (IBASM) no seguinte sentido:
[...]
12. Assim, concluo que na confissão de 1994, o período desde
abril/1985, data da vigência da redução dos juros, até a data do
reconhecimento do saldo devedor no instrumento de confissão,
de 1994, fls. 59 e 63, Cláusula Primeira, em 30.06.1993, os juros
serão calculados pelos respectivos índices previstos nos de
rerratificação de 1985, acrescidos de 1%, até a data em que
entregues as RCHs, como penalidade, ou seja, 6,3% a.a. para o
empréstimo de 1981, e 7,3% a.a. para o empréstimo de 1982,
fixando-se no multicitado contrato de Confissão e Composição,
a respectiva média ponderada. Pelo exposto, dou provimento
parcial à apelação e à remessa e julgo parcialmente procedente
a ação, conforme item 12 retro, quanto aos juros a incidirem
sobre o período de abril de 1985 a 30 de julho de 1993.
[...]
1.14 Em 30/10/17 também foi publicada a decisão do TRF que julgou
procedente a Medida Cautelar da Niterói PREV:
[...]
Histórico das decisões liminares anteriores constante no
Relatório: 10. A medida liminar foi inicialmente indeferida, pela
então relatora, hoje Ministra do col. Superior Tribunal de Justiça
Maria Isabel Gallotti Rodrigues, fls. 62-65, e, interposto agravo
regimental, a referida decisão foi reconsiderada e a medida de
urgência deferida, para determinar que a cobrança das parcelas
da dívida fossem efetuadas, a partir do mês de abril de 2009,
pelo valor correspondente ao mês de março de 2009, com
correção monetária pelo índice previsto no contrato, até
julgamento da apelação interposta no feito principal, fls. 1582-

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1587. Decisão: 3. Hipótese dos autos em que, julgada
parcialmente procedente a apelação e a remessa oficial e
parcialmente procedente a ação no processo principal, para que,
na confissão de 1994, o período desde abril/1985, data da
vigência da redução dos juros, até a data do reconhecimento do
saldo devedor no instrumento de confissão, de 1994, fls. 59 e
63, Cláusula Primeira, em 30.06.1993, os juros serão calculados
pelos respectivos índices previstos nos de rerratificação de
1985, acrescidos de 1%, até a data em que entregues as RCHs,
como penalidade, ou seja, 6,3% a.a. para o empréstimo de 1981,
e 7,3% a.a. para o empréstimo de 1982, fixando-se no
multicitado contrato de Confissão e Composição, a respectiva
média ponderada, deve ser confirmada a tutela cautelar
anteriormente deferida. [...]

1.15 Importante consta que o valor repassado mensalmente pela Niterói


Prev, qual seja R$ 22.515,94, foi por anos completamente desproporcional a dívida
existente e insuficiente para o pagamento dos encargos mensais

4.2. DA DÍVIDA JUNTO AO FGTS

2.1 A cobrança da dívida ora aqui discutida foi efetuada pela CAIXA
não na condição de BANCO, mas, sim na condição de representante do
CREDOR, exercendo a função de Agente Operador do FGTS.
2.2 A dívida da Niterói Prev é para com a União, relativo a valores
originários no antigo BNH, com recursos do FGTS - Fundo de Garantia do Tempo de
Serviço.
2.3 De rigor, o dinheiro do FGTS é a poupança dos trabalhadores assim,
nesse contexto, a CAIXA atua como responsável pela gestão desse patrimônio
coletivo, no papel de Agente Operador do FGTS, em cumprimento à Lei 8.036/90.
2.4 Assim, a CAIXA deve zelar para que todos os trabalhadores tenham
certeza de que seus recursos estão protegidos.
2.5 Temos então que o patrimônio da Instituição Financeira CAIXA
ECONÔMICA FEDERAL não se confunde com o PATRIMÔNIO DO FGTS - FUNDO
DE GARANTIA DO TEMPO DE SERVIÇO.

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4.3. DA LEI Nº 8.727/1993

3.1 A Lei nº 8.727, de 05 de novembro de 1993, estabelece diretrizes


para a consolidação e o reescalonamento, pela União, de dívidas internas das
administrações direta e indireta dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, e
dá outras providências.
3.2 Tal Lei permitiu o refinanciamento de modo que fosse incorporado
aos saldos a serem refinanciados o montante da dívida existente em 30 de junho de
1993, inclusive as parcelas vencidas, observado o disposto no art. 7º, de
responsabilidade das entidades de que trata o caput do art. 1º.
3.3 Dentre os credores estava a CAIXA, com relação aos financiamentos
com recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), destinados à
construção de habitações populares e a obras de saneamento e de desenvolvimento
urbano.
3.4 Ainda, de acordo com a referida Lei:
[...]
§ 3º A formalização dos contratos de refinanciamento será
precedida da assunção, pelos Estados, Distrito Federal e
municípios, das dívidas de responsabilidade de suas entidades
controladas direta ou indiretamente, salvo na hipótese do art. 5º,
e da transferência dos créditos entidades federais para a União.
[...]
3.5 Em relação a dívida da Niterói Prev, é importante frisar que fora
renegociada nos moldes da Lei nº 8727/93 e que além de outras avenças, o contrato
vinculou os recursos do FPM do município de Niteroi/RJ como garantia das
operações.

4.4. DO CONTRATO DE REFINANCIAMENTO

4.1 Em 07/04/1994 foi assinado o “Contrato Particular de Confissão e


Composição de Dívidas entre a União, através do Banco do Brasil, na qualidade de
seu Agente Financeiro, e o Instituto de Benefícios e Assistência dos Servidores
Municipais – IBASM”, na forma da Lei nº 8.727, de 05 de novembro de 1993.
4.2 Concomitante ao contrato supramencionado foi assinado o “Contrato
Particular de Cessão de Crédito entre a União, através do Banco do Brasil S.A., na
qualidade de seu Agente Financeiro, e a CAIXA Econômica Federal para efeitos de

10
refinanciamento da dívida do Instituto de Benefícios e Assistência dos Servidores
Municipais – IBASM, ao amparo da Lei número 8.727, de 05 de novembro de 1993”.
4.3 No referido contrato a CAIXA figura como OUTORGANTE CEDENTE
e a União figura como CESSIONÁRIA.
4.4 De acordo com a Cláusula Primeira do Contrato, a CAIXA cede os
direitos creditórios perante o IBASM à União.

4.5 Além disso, no contrato “Contrato Particular de Confissão e


Composição de Dívidas entre a União, através do Banco do Brasil, na qualidade de
seu Agente Financeiro, e o Instituto de Benefícios e Assistência dos Servidores
Municipais – I8BASM” consta a cláusula de garantia ao qual está vinculado o FPM,
objeto da cautelar interposta pela Niterói Prev, sendo que a execução da garantia está
devidamente amparada pelos instrumentos contratuais assinados, inclusive, pelos
representantes da prefeitura de Niterói/RJ:

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4.5. DA DECISÃO E DOS VALORES APURADOS APÓS TRÂNSITO REM
JULGADO NOS PROCESSOS 0009419-93.2002.4.01.3400 E 0022734-62.2009.
4.01.0000

5.1 Cabe consignar que em 23/10/17 foi publicada a decisão do Tribunal


Regional Federal (TRF) que deu parcial provimento à apelação interposta pela
NITEROIPREV (IBASM) no seguinte sentido:
[...]
12. Assim, concluo que na confissão de 1994, o período
desde abril/1985, data da vigência da redução dos juros, até
a data do reconhecimento do saldo devedor no instrumento
de confissão, de 1994, fls. 59 e 63, Cláusula Primeira, em
30.06.1993, os juros serão calculados pelos respectivos
índices previstos nos de rerratificação de 1985, acrescidos
de 1%, até a data em que entregues as RCHs, como
penalidade, ou seja, 6,3% a.a. para o empréstimo de 1981, e
7,3% a.a. para o empréstimo de 1982, fixando-se no
multicitado contrato de Confissão e Composição, a
respectiva média ponderada. Pelo exposto, dou provimento
parcial à apelação e à remessa e julgo parcialmente
procedente a ação, conforme item 12 retro, quanto aos juros
a incidirem sobre o período de abril de 1985 a 30 de julho de
1993. Estão isentas de custas a autora e, dos três réus, a
União. A CEF e o Banco do Brasil pagarão cada um, um
terço das custas. Os honorários periciais depositados pelo
autor serão restituídos pelos 03 (três) réus, em
solidariedade, ao autor, devidamente atualizados.
Honorários advocatícios pelos réus em quantia equivalente,
12
na sua totalidade, a 10% (dez por cento) do valor da
diferença dos juros. Prejudicada a apelação da União.
[...]

5.2 Desta decisão, houve interposição de Embargos Declaratórios, que


foram rejeitados pelo TRF no julgamento publicado no dia 20/08/2018.
5.3 A decisão transitou em julgado em 15/10/2018, tornando-se,
portanto, definitiva.
5.4 Decorrente da decisão, coube a CAIXA na qualidade de Agente
Operador do FGTS, recalcular os valores devidos pela Niterói Prev, conforme quadro
abaixo:

5.6 Ou seja, a dívida da Niterói Prev, após o recálculo determinado


pelo juiz, foi reduzida em mais de R$ 35 milhões.
5.7 Além disso, cabe reafirmar que a dívida da Niterói Prev é devida,
líquida e certa, conforme laudos da perícia constante no processo 0009419-
93.2002.4.01.3400.
5.8 Conforme trechos da perícia, (documento 1656688458) destacadas
abaixo, a dívida da Niterói Prev, posicionada em 01/12/2006, era de R$
59.773.125,72, sendo que a tendência da dívida foi somente aumentar, ano após
ano, fato esse causado, principalmente, em razão do valor completamente
desproporcional que a Niterói Prev repassava ao FGTS, conforme determinado na
medida cautelar 022734- 62.2009.4.01.0000.

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5.9 Por isso, não há o que se falar ou mesmo negar a dívida
existente, conforme tentativa do município de Niterói/RJ na medida cautelar
hora em discussão.

4.6. DAS ALEGAÇÕES DO MUNICÍPIO DE NITEROI NA PRESENTE MEDIDA


CAUTELAR

6.1 É completamente falacioso o discurso do município quanto a


exigência da dívida “[...] 30 anos depois da celebração da avença [...]” (grifo
nosso).
6.1.1 Cabe relembrar que a dívida da Niterói Prev fora objeto de
discussão desde 2002, no processo 0009419-93.2002.4.01.3400, com trânsito
em julgado em 2018, ou seja, a dívida é concreta e não fora objeto de
cobranças anteriores em razão dos processos que há anos tramitam na
justiça federal.
6.1.2 Além disso, conforme laudos periciais constantes no
processo 0009419- 93.2002.4.01.3400, a dívida foi considerada como líquida
e certa, sendo apenas determinado o recálculo da dívida em determinado
período anterior a celebração do contrato regido pela Lei nº 8727/93.
6.2 Em relação aos Juros Moratórios constantes nos cálculos da
CAIXA, na qualidade de Agente Operador do FGTS, registra-se que tal
cobrança é devida e constante no contrato entabulado junto ao Agente
Financeiro e trata-se de encargos calculados por impontualidade do Agente
Financeiro, desde o 1º dia de atraso de seus pagamentos até a data de
posição atual.
6.2.1 Tal obrigação é descrita e, inclusive, de conhecimento
tanto do Município de Niteroi/RJ quanto do Agente Financeiro Niterói Prev,
conforme cláusula Quarta do instrumento assinado em 07/04/1994.

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6.3 De acordo com a cláusula terceira, parágrafo quarto, a
ordem para pagamento da dívida é a seguinte:

6.3 De acordo com a cláusula terceira, parágrafo quarto, a


ordem para pagamento da dívida é a seguinte:
6.4 Assim, o valor repassado pela Niterói Prev mensalmente no
importe de aproximadamente R$ 22 mil desde 2009 é irrisório frente a dívida
existente, não sendo suficiente nem mesmo para assegurar o pagamento dos
juros contratuais.
6.4.2 O valor da prestação no início dos contratos 288429-48 e
320062-13, renegociados em 60 meses era de R$ 1.890.864,10 e R$
973.704,46, respectivamente, e por essa razão, a dívida da Niterói Prev
aumenta mês a mês, considerando o pagamento abaixo do valor devido em
relação ao montante da dívida.
6.5 Por fim, em relação aos valores bloqueados pelo Banco do
Brasil e repassados à CAIXA/FGTS desde maio/2023, esclarecemos que estão
sendo computados pelo FGTS na composição da dívida da Niterói Prev, sendo
utilizados para abatimento da dívida.

5. DAS ALEGAÇÕES E REQUERIMENTOS REALIZADOS NO ADITAMENTO À


INICIAL E DO CONTRATO FIRMADO ENTRE AS PARTES

De fato, o autor repete as mesmas alegações da inicial, reitera o pedido


de deferimento da tutela cautelar e questiona o valor da dívida, não havendo, portanto,
outras questões a serem debatidas

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Não restam dúvidas acerca da legalidade e correção dos cálculos
apresentados. Ademais, há expressa previsão contratual acerca dos encargos
devidos em razão da impontualidade, como se denota das cláusulas pactuadas.
Destacam-se, aqui, dois princípios básicos que constituem o alicerce de
toda a teoria contratual: o "princípio da autonomia da vontade" e o "princípio da força
vinculante do contrato ou da obrigatoriedade das convenções".
Pelo primeiro, as partes são livres para contratar o que lhes aprouver,
criando relações na órbita do direito, submetendo-se, apenas, às regras impostas pela
lei e pelo interesse geral.
Pelo segundo, expresso no secular preceito pacta sunt servanda, é
consagrada a ideia de que o contrato, uma vez obedecidos os requisitos legais, se
torna obrigatório entre as partes.
Houve a regular contratação e a esta não correspondeu o devido
adimplemento do débito, diante disso não é possível lançar mão da defesa generalista
para obter espúria mitigação ou isenção de crédito contratado, não se justificando,
assim, o pleito, sob qualquer fundamento.

6. DOS PEDIDOS

Por todo o exposto, a CAIXA vem, respeitosamente, perante V. Exa.,


apresentar sua defesa e requerer, com base nestes esclarecimentos, que:

a) seja acolhida a preliminar suscitada, a fim de excluir a CAIXA da


lide pela sua ilegitimidade para figurar no polo passivo da
presente ação;

b) requer que seja indeferida a liminar uma vez que estão ausentes
o fumus boni iuris e o perigo da demora, especialmente pela
remansosa relação jurídica existente e a recalcitrância do ente
em descumprir o contrato, sempre evitando seu fiel
cumprimento.

c) ou, caso ultrapassada a preliminar, requer que os pedidos


autorais sejam julgados improcedentes em relação a esta
empresa pública, com a condenação em custas e honorários de
sucumbência a serem fixados, nos termos do artigo 85 do CPC.

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Termos em que pede deferimento.

Brasília/DF, 07 de novembro de 2023.

MARCOS RUAN SANTOS ALMEIDA


ESTAGIÁRIO

REGYNALDO PEREIRA SILVA


PROCURADOR CAIXA
OAB/DF 15.877

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