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Extinção das Obrigações Tributárias

Sabe-se que na sistemática prevista no Código Tributário Nacional,


crédito tributário é o nome que se dá à formalização da obrigação tributária - o dever
de pagar determinado tributo ou penalidade pecuniária - depois que esta é tornada
líquida, certa e exigível mediante o lançamento.

No Direito Tributário, ocorrido o fato gerador da obrigação tributária,


isto é, quando ocorre a concretização da hipótese abstrata de incidência descrita em
Lei, nasce aí a obrigação do pagamento de determinado tributo.

Importante ressaltar que esta relação jurídica que nasce entre o Estado
(sujeito ativo) e o Contribuinte (sujeito passivo) decorre da aplicação do princípio do
devido processo legal (art. 5º, LIV, CF/88), porquanto há a necessidade que a norma
legal descreva determinada situação do mundo fenomênico que enseje o surgimento
da obrigação tributária. Nesta senda, considerando-se que o crédito tributário tenha
sido regularmente constituído, faz-se o raciocínio corolário a este a ser seguido no que
concerne à extinção do crédito tributário.

Isto é o que se infere do art. 141 do CTN. In verbis:

“Art. 141, CTN/1966. O crédito tributário regularmente constituído somente


se modifica ou extingue, ou tem sua exigibilidade suspensa ou excluída, nos
casos previstos nesta Lei, fora dos quais não podem ser dispensadas, sob
pena de responsabilidade funcional na forma da lei, a sua efetivação ou as
respectivas garantias”

Quanto à matéria específica relativa à extinção do crédito tributário, as


hipóteses encontram-se descritas no art. 156, do CTN, segundo o qual:

“extinguem o crédito tributário: (i) o pagamento; (ii) a compensação; (iii) a


transação; (iv) a remissão; (v) a prescrição e a decadência; (vi) a conversão
de depósito em renda; (vii) o pagamento antecipado e a homologação do
lançamento nos termos do disposto no art. 150 e seus §§ 1º e 4º; (viii) a
consignação em pagamento, nos termos do disposto no § 2º do art. 164; (ix)
a decisão administrativa irreformável, assim entendida a definitiva na órbita
administrativa, que não mais possa ser objeto de ação anulatória; (x) a
decisão judicial passada em julgado; (xi) a dação em pagamento de bens
imóveis, na forma e condições estabelecidas em lei.”
Neste ponto, cumpre asseverar que o pagamento é o modo mais
comum de quitação do crédito tributário, podendo-se dizer, até mesmo que as demais
modalidades representam exceções.

Referente aos institutos presentes no rol do art. 156, um que merece


destaque é o da dação em pagamento de bens imóveis; modalidade extintiva do
crédito tributário instituído através da Lei Complementar 104, de 10/01/2001.

Segundo o tributarista Sabbag, temos que a dação em pagamento


representa modalidade indireta de extinção do crédito tributário, posto que é
necessária, para sua aplicação, edição de lei específica que estabeleçam forma e
condições exigidas para que créditos tributários sejam extintos pela dação em
pagamento de bens imóveis.

Seguindo o fio da dação em pagamento como modalidade de extinção


do crédito tributário, após a promulgação da referida LC 104/2001. Discutiu-se nos
Tribunais acerca da legalidade da dação em pagamento de bens móveis, tendo em
vista a ausência de lei ou mandamento explícito neste sentido.

Colacionando decisium do TRF2 acerca do tema:

“TRIBUTÁRIO. QUITAÇÃO DE DÉBITOS FISCAIS. DAÇÃO EM PAGAMENTO.


PEDRAS PRECIOSAS. IMPOSSIBILIDADE. I. O art. 156 do Código Tributário
Nacional não contempla, em seus incisos, a dação em pagamento em bens
móveis como modalidade extintiva de crédito tributário. Logo, à falta de
expressa previsão legal, é vedado ao sujeito passivo de obrigação tributária
quitar débitos fiscais com pedras preciosas. II. A dação em pagamento,
consoante o disposto no art. 995 do Código Civil, pressupõe consentimento
do credor, razão pela qual não pode a Administração ser compelida a aceitar
pedras preciosas como forma de pagamento de tributo. III. Tributo, por
definição legal, é prestação pecuniária compulsória, ou seja, há de ser
satisfeita em dinheiro. IV. Recurso desprovido. (TRF2 - Apelação Cível nº
243853-2000.02.01.049770-1, do Rel. Des. Federal Sérgio Schwaitzer,
Julgado em 08/05/2002, 6ª Turma, Publicado DJu 23/05/2002).

Em decisão do Supremo Tribunal Federal acerca da matéria, proferida


mediante julgamento do mérito o qual confirmou medida cautelar em Ação Direta de
Inconstitucionalidade (ADI) nº 1917/DF, cujo relator foi o Min. Lewandowski, temos a
seguinte ementa a ser invocada:
“AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. OFENSA AO PRINCÍPIO DA
LICITAÇÃO (CF, ART. 37, XXI). I – Lei ordinária distrital. II – Hipótese de
criação de nova causa de extinção do crédito tributário. III – Ofensa ao
princípio da licitação na aquisição de materiais pela administração pública.
IV – Confirmação do julgamento cautelar em que se declarou a
inconstitucionalidade da lei ordinária distrital 1.624/1997” (STF – ADI 1917
DF, RELATOR: Ministro Ricardo Lewandowski, Julgado em 26/04/2007).

De acordo com o Ministro Relator do julgado alhures, ao analisar Lei


Distrital que dispunha acerca de pagamento de débitos das microempresas, das
empresas de pequeno porte e das médias empresas, mediante dação em pagamento
de materiais destinados a atender a programas de Governo do Distrito Federal,
entendeu que referida lei trata-se de efetiva criação de nova modalidade de extinção
de crédito tributário, sendo que a mesma viola fatalmente o princípio da licitação,
concretizado no Art. 37, XXI, da CF regulado pela lei 8.666/93, para a aquisição de
materiais pela administração pública.

Cumpre mencionar, ainda, entendimento esposado no julgamento em


Medida Cautelar da Ação Direta de Inconstitucionalidade 2.405/RS, abaixo transcrita:

“AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE: MEDIDA CAUTELAR. L.


Estadual (RS) 11.475, de 28 de abril de 2000, que introduz alterações em leis
estaduais (6.537/73 e 9.298/91) que regulam o procedimento fiscal
administrativo do Estado e a cobrança judicial de créditos inscritos em dívida
ativa da Fazenda Pública Estadual, bem como prevê a dação em pagamento
como modalidade de extinção do crédito tributário. I – Extinção de crédito
tributário criação de nova modalidade (dação em pagamento) por lei
estadual: possibilidade do Estado-membro estabelecer regras específicas de
quitação de seus próprios créditos tributários. Alterações do entendimento
firmado na ADInMC 1917-DF, 18.12.98, Marco Aurélio. DJ 19/09/2003:
consequente ausência de plausibilidade da alegação de ofensa ao Art. 146,
III, b da Constituição Federal, que reserva à lei complementar o
estabelecimento de normas gerais reguladoras de modos de extinção e
suspensão da exigibilidade de crédito tributário [...]” (STF – MEDIDA
CAUTELAR DA ADI 2405 DF, Relator: Ministro Carlos Britto, Julgado em
06/11/2002).

De acordo com o Min. Relator do julgado acima transcrito, o rol de


institutos que ensejam extinção do crédito tributário não é taxativo, sendo que os
Entes Federativos possuem autonomia para estabelecer novas modalidades de
extinção da dívida ativa por meio de leis.

Porquanto, em análise minuciosa dos paradigmas acima transcritos,


tem-se que a inconstitucionalidade de lei estadual que criou a dação de pagamento em
bens móveis se deu especificamente em razão da ofensa ao princípio da licitação, vez
que o objeto da dação seria licitável frente a Lei 8.666/93

Assim, pode-se afirmar que existe a possibilidade de extinção da dívida


fiscal mediante dação em pagamento de bens móveis, desde que haja existência de lei
específica que assim autorize.

Destarte, verificada a análise detida da evolução jurisprudencial da


Suprema Corte a respeito da aplicação do instituto da dação em pagamento de bens
móveis, vê-se que, apesar de não previsto expressamente no rol do art. 156 do CTN,
esta modalidade de extinção do crédito tributário pode ser disciplinada e aplicada em
âmbito estadual, desde que respeitados os princípios aplicáveis às licitações.

REFERÊNCIAS.

CASSONE, Vittório. Direito tributário – 28ª Edição – São Paulo: Atlas, 2018.
SABBAG, Eduardo. Direito Tributário essencial. 7ª edição – Rio de Janeiro: Forense: São
Paulo, MÉTODO, 2020.
Manual de direito tributário / Hugo de Brito Machado Segundo. – 10. ed. rev., atual. e
ampl. – São Paulo: Atlas, 2018.

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