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Manutençã o de crédito de IPI, fundado nos artigos 5° do Decreto-Lei 491/69 e 238 do Decreto n° 77.212/2010.

Anulaçã o indevida de créditos do contribuinte através do estorno tributá rio. Possibilidade de restauraçã o do crédito
no livro de apuraçã o.

No campo do Direito Tributá rio, o estorno nã o é prerrogativa do contribuinte, nem pode ser feito por mera
conveniência do sujeito passivo; é obrigaçã o "ex lege", que deve ser vista em harmonia com o princípio
constitucional da nã o-cumulatividade. Quando a lei ou decisã o judicial autoriza a manutençã o de crédito nã o cabe ao
fisco e nem mesmo ao contribuinte, ainda que voluntariamente, promover ó estorno sob pena de violar o princípio
constitucional da nã o-cumulatividade a que se sujeitam as relaçõ es jurídicas inerentes ao Imposto sobre Produtos
Industrializados.

1. INTRODUÇÃ O

Faz algum tempo que escrevi a primeira versã o deste texto motivado por um fato que tive a oportunidade de conhecer
em meu regular exercício da advocacia tributá ria. Um cliente promoveu o estorno de crédito extemporâ neo
decorrente do artigo 5° do Decreto-Lei nº 491/69 c/c artigo 238 do Decreto nº 7.212/2010, que autoriza a
manutençã o de créditos das operaçõ es anteriores à da exportaçã o do produto Industrializados, o que, aliá s, dadas as
controvérsias sobre o tema lhe assegurado também por devisao decisã o judicial transitada em julgado.

Em resumo, o lançamento do crédito extemporâ neo deu-se em junho de 2002 e o estorno, voluntá rio, fundado em
conveniência de momento, ocorreu em outubro de 2020, apó s anos de situaçã o estabilizada, inclusive pelo efeito
tributá rio da homologaçã o tácita.

Sempre entendi que o creditamento, assim como a anulaçã o de créditos mediante estorno, decorrem da lei tributá ria e
nã o resulta da açã o voluntá ria do sujeito passivo tributá rio, ainda que, na hipó tese, a anulaçã o voluntá ria do crédito
tributá rio tenha sido feita por conveniência da empresa contribuinte, posto que, tanto crédito quanto sua anulaçã o
tem por pressuposto e fundamento a operacionalizaçã o do princípio constitucional da nã o-cumulatividade.

Delimitando a questã o sobre o tema em comento e considerando que a legislaçã o do Imposto sobre Produtos
Industrializados (IPI) traz a possibilidade de estorno de créditos do imposto nas hipó teses de anulaçã o e outras que,
apesar de nã o previstas no Regulamento do IPI (RIPI/2010), regulamentado pelo Decreto nº 7.212/2010, sã o aceitas
pelo fisco como forma de regularizaçã o da escrituraçã o do imposto, desenvolveremos nossas ideias a partir desse
contexto.

2. DO LANÇAMENTO TRIBUTÁ RIO NA LEGISLAÇÃ O DO IPI

Primeiramente importa considerar que o objeto do estorno deverá ser um valor que foi objeto de lançamento
indevido ou ilegal, no LIVRO DE APURAÇÃ O DO IPI, em conformidade com a legislaçã o do IMPOSTO SOBRE
PRODUTOS INDUSTRIALIZADOS – IPI.

Nesse passo, nã o comporta o estorno, quando há expressa disposiçã o que assegura a manutençã o do mesmo crédito,
tal como previsto pelo ARTIGO 238 do DECRETO 7.212/2010, ou, tenha sido objeto de decisã o judicial TRANSITADA
EM JULGADO, QUE TENHA DECLADO O DIREITO A MANUTENÇÃ O DOS CRÉ DITOS DO ARTIGO 5º DO DECRETO-LE Nº
491/69, NOS TERMOS DO ARTGO 238 DO DECRETO 7.212/2010.

Algumas palavras sobre a natureza jurídica do LANÇAMENTO no DIREITO TRIBUTÁ RIO serã o fundamentais para a
melhor compreensã o da questã o.

O Có digo Tributá rio Nacional assinala uma vez constituído o crédito tributá rio, através do lançamento nã o mais
poderá modificá-lo, por força do chamado princípio da imutabilidade do lançamento tributá rio, consagrado no artigo
145 do CTN, só podendo ser alterado em situaçã o excepcional, pois, tal princípio, decorre de um princípio maior “ATO
JURÍDICO PERFEITO”, enunciado no art. 5º, XXXVI, da Constituiçã o Federal.

O lançamento tributá rio em todas as suas modalidades reporta-se à data da ocorrência do fato gerador da obrigaçã o e
regem-se pela lei entã o vigente, ainda que posteriormente modificada ou revogada, conforme texto do INCISO II DO
ARTIGO 109 DO EXTINTO DECRETO Nº 2.637/1998, antigo REGULAMENTO DO IPI, vigente ao tempo do lançamento
extemporâ neo em questã o (JULHO DE 2002).

Conceitualmente, desde o DECRETO Nº 2.637/1998, que regulamenta a cobrança do Imposto sobre Produtos
Industrializados – IPI – RIPI, tinha como certo que “Lançamento é o procedimento destinado à constituiçã o do crédito
tributá rio, que se opera de ofício, ou por homologaçã o mediante atos de iniciativa do sujeito passivo da obrigaçã o
tributá ria, com o pagamento antecipado do imposto e a devida comunicaçã o à repartiçã o da Secretaria da Receita
Federal” (DECRETO Nº 2 .637/1998 - RIPI ARTIGO 109 - Lei nº 4 .502, de 1964,
artigos 19 e 20, e Lei nº 5.172, de 1966, artigos 1 42, 1 44 e 1 50).

O LANÇAMENTO POR HOMOLOGAÇÃ O, modalidade que interessa ao caso, opera-se mediante atos de iniciativa do
sujeito passivo da obrigaçã o tributá ria, sendo efetuados, sob a sua exclusiva responsabilidade e aperfeiçoam-se com o
pagamento do imposto ou com a compensaçã o do mesmo, nos termos dos ARTIGOS. 190 e 191 se efetuados antes de
qualquer procedimento de ofício da autoridade administrativa (DECRETO Nº 2.637/1998 - RIPI ARTIGOS 110 e 111 -
Lei nº 5.172, de 1966, artigo 150 e § 1º, e Lei n º 9.430, de 1996, artigos 73 e 7 4).

A HOMOLOGAÇÃ O PODE OCORRER DE FORMA EXPRESSA OU TÁ CITA. Na primeira hipó tese pela expressa
homologaçã o pela autoridade administrativa; na segunda hipó tese, a HOMOLOGAÇÃ O TÁ CITA CONSUMA-SE APÓ S
CINCO ANOS DA DATA DA OCORRÊ NCIA DO FATO GERADOR DA OBRIGAÇÃ O TRIBUTÁ RIA, caso a autoridade
administrativa, dele ciente, nã o se tenha sobre ele pronunciado ( CTN, ARTIGO 150, § 4º C/C DECRETO Nº
2.637/1998 - RIPI ARTIGO 113 e PARÁ GRAFO Ú NICO).

A REGRA DA HOMOLOGAÇÃ O TÁ CITA FICA RESSALVADA APENAS NA COMPROVADA OCORRÊ NCIA DE DOLO,
FRAUDE OU SIMULAÇÃ O, ou inobservâ ncia das exigências do artigo 111 do indigitado regulamento.

As regras relativas ao lançamento, acima referidas e contempladas no DECRETO Nº 2.637/1998 – RIPI foram
reafirmadas no ulterior DECRETO Nº 4.544/2002, e, permanecem vigentes no DECRETO 7.212/2010 nos ARTIGOS
181 a 185, todos editados com fundamento nos ARTIGOS 99 E 150, “CAPUT” E § 4º DO CÓ DIGO TRIBUTÁ RIO
NACIONAL – CTN. O pará grafo quarto do artigo 150 do CTN conceitua a homologaçã o tá cita afirmando que “se a
lei nã o fixar prazo a homologaçã o, será ele de cinco anos, a contar da ocorrência do fato gerador; expirado esse prazo
sem que a Fazenda Pú blica se tenha pronunciado, considera-se homologado o lançamento e definitivamente
extinto o crédito, salvo se comprovada a ocorrência de dolo, fraude ou simulaçã o”.

3. PROCEDIMENTO PARA ANULAÇÃ O

Conforme o artigo 254 do RIPI/2010, para a anulaçã o dos créditos de IPI é necessá rio que se proceda o estorno
diretamente no livro Registro de Apuraçã o do IPI (RIPI), modelo 8, no quadro Demonstrativo de Débitos, na linha 10,
de “estorno de créditos”.

Nã o há necessidade de qualquer procedimento administrativo para a anulaçã o.

Porém deverã o ser observadas as regras atinentes a homologaçã o expressa ou tá cita, que implicam decadência do
direito da Fazenda quanto ao respectivo crédito.

4. HIPÓ TESES LEGAIS DE ANULAÇÃ O

O Artigo 254 do DECRETO Nº 7.212/2010 - RIPI/2010 contempla expressamente as diversas hipó teses de anulaçã o
de créditos.

5. INAPLICABILIDADE DA ANULAÇÃ O. VEDAÇÃ O AO ESTORNO

Nã o se podem anular créditos quando o dispositivo legal que traz algum benefício fiscal expressamente autorizar a
manutençã o do crédito.

Apesar de na prá tica prevalecer na relaçã o tributá ria com o contribuinte a resistência empedernida da RECEITA
FEDERAL quanto a aceitaçã o do direito a manutençã o dos créditos do ARTIGO 5º DO DECRETO-LEI Nº 491/69, a
legislaçã o já a contemplava no ARTIGO 159 DO DECRETO Nº 2.637/1998 – RIPI, ARTIGO 176 DO DECRETO Nº
4.544/2002 e no atual DECRETO Nº 7.212/2010, NO ART. 238, que diz: “É admitido o crédito do imposto relativo à s
matérias-primas, aos produtos intermediá rios e aos materiais de embalagem adquiridos para emprego na
industrializaçã o de produtos destinados à exportaçã o para o exterior, saídos com imunidade” (Decreto- Lei nº 4 91, de
1969, art. 5º, e Lei nº 8 .402, de 1992, art. 1 º, inciso I I).

Na prá tica, apenas os ó rgã os julgadores da DELEGACIA DA RECEITA FEDERAL DE JULGAMENTO, conforme exemplo
EM JUIZ DE FORA, 3º TURMA: ACÓ RDÃ O Nº 09-22338 de 29 de Janeiro de 2009 admitia a manutençã o na hipó tese
de produtos industrializados pertencentes ao campo de incidência do IPI e destinados à exportaçã o, funda-se no art.
5º do DL nº 491/69: “O direito de manutenção e utilização de tais créditos, na hipótese de produtos
industrializados pertencentes ao campo de incidência do IPI e destinados à exportação (imunes em razão da
destinação), funda-se no art. 11 da Lei nº 9.779/99 c/c o art. 5º do DL nº 491/69. Atestada, pela autoridade fiscal
encarregada da realização da diligência, a legitimidade e a materialidade dos créditos, há que ser deferido o
pedido de ressarcimento e homologada a compensação”. Período de apuraçã o: 01/01/1997 a 31/12/1998,
01/01/2000 a 30/06/2002”.

A norma expressamente determina a manutençã o e, por isso, afasta a possibilidade de anulaçã o de créditos dessa
natureza.

Em tais hipó teses nã o se podem anular créditos quando o dispositivo legal que traz o estorno de lançamento
tributá rio nã o é mera faculdade, supostamente fundada na discricionariedade do contribuinte. Nã o se trata de
campo do direito privado, mas, de fundamento do elevado nível constitucional, que assegura efetividade ao princípio
da nã o-cumulatividade e, de ordem pú blica tributá ria.

Assim, o estorno nã o é um ato discricioná rio ou voluntá rio, fundado na conveniência do contribuinte. É um dever
legal. Nã o pode anular crédito quando o dispositivo legal estabelecer a permissã o para a manutençã o.

Sendo autorizada a manutençã o de crédito está desautorizado o estorno. Tanto que "não é possível renunciar ao
lançamento do crédito do imposto, ainda quando isso lhe for conveniente", conforme STF, RE 111.757, Rel. Min.
Célio Borja, RJT 126, p. 715/721.

O Ministro LUIZ FUX, ainda no seu tempo de Colendo STJ, já decidiu no RECURSO ESPECIAL Nº 782.987 - RS:
“Percebe-se, assim, que o creditamento não é mera faculdade do contribuinte, mas dever para com o
ordenamento jurídico objetivo, não lhe sendo possível renunciar ao lançamento do crédito do imposto, mesmo
que tal prática lhe fosse conveniente. Sequer a própria lei poderia autoriza-lo a tanto, sob pena de
patenteinconstitucionalidade. Nesse diapasão, não se afigura legítima a exigência de estorno dos créditos”.

A ementa do referido julgado, a seguir:

“PROCESSO CIVIL E TRIBUTÁRIO. VIOLAÇÃO DO ART. 535 DO CPC. INOCORRÊNCIA. ICMS DESTACADO NAS NOTAS
FISCAIS EMITIDAS PELA FORNECEDORA. DIREITO AO CREDITAMENTO. PRINCÍPIO DA NÃO-CUMULATIVIDADE.
DEMANDA DECLARATÓRIA QUE RECONHECERA A NÃO INCIDÊNCIA DO ICMS SOBRE OS SERVIÇOS DE COMPOSIÇÃO
GRÁFICA NAS EMBALAGENS PERSONALIZADAS. ESTORNO DOS CRÉDITOS. IMPOSSIBILIDADE. 1. O direito de crédito
do contribuinte não decorre da regra-matriz de incidência tributária do ICMS, mas da eficácia legal da norma
constitucional que prevê o próprio direito ao abatimento (regra-matriz de direito ao crédito), formalizando-se
com os atos praticados pelo contribuinte (norma individual e concreta) e homologados tácita ou expressamente
pela autoridade fiscal. Essa norma constitucional é autônoma em relação à regra-matriz de incidência
tributária, razão pela qual o direito ao crédito nada tem a ver com o pagamento do tributo devido na operação
anterior. 2. Deveras, o direito ao creditamento do ICMS tem assento no princípio da não-cumulatividade, sendo
assegurado por expressa disposição constitucional, verbis: "Art. 155. Compete aos Estados e ao Distrito Federal instituir
impostos sobre: (...) II - operações relativas à circulação de mercadorias e sobre prestações de serviços de transporte
interestadual e intermunicipal e de comunicação, ainda que as operações e as prestações se iniciem no exterior; (omissis)
§ 2º O imposto previsto no inciso II atenderá ao seguinte: I - será não-cumulativo, compensando-se o que for devido em
cada operação relativa à circulação de mercadorias ou prestação de serviços com o montante cobrado nas anteriores
pelo mesmo ou outro Estado ou pelo Distrito Federal;" (grifo nosso) 3. O termo cobrado deve ser, então, entendido como
apurado, que não se traduz em valor em dinheiro, porquanto a compensação se dá entre operações de débito (obrigação
tributária) e crédito (direito ao crédito). Por essa razão, o direito de crédito é uma moeda escritural, cuja função
precípua é servir como moeda de pagamento parcial de impostos indiretos, orientados pelo princípio da não-
cumulatividade. 4. Destarte, o direito à compensação consubstancia um direito subjetivo do contribuinte, que
não pode ser sequer restringido, senão pela própria Constituição Federal. Evidenciado resulta que a norma
constitucional definiu integralmente a forma pela qual se daria a não-cumulatividade do ICMS, deixando
patente que somente nos casos de isenção e não-incidência não haveria crédito para compensação com o
montante devido nas operações seguintes ou exsurgiria a anulação do crédito relativo às operações anteriores
(art. 155, § 2º, II). 5. Ressoa inequívoco, portanto, que o direito de abatimento, quando presentes os requisitos
constitucionais, é norma cogente, oponível ao Estado ou ao Distrito Federal. A seu turno, os sucessivos contribuintes
devem, para efeito de calcular o imposto devido pela operação de saída da mercadoria do seu estabelecimento, abater o
que antes e, a título idêntico, dever-se-ia ter pago, a fim de evitar a oneração em cascata do objeto tributado, dando,
assim, plena eficácia à norma constitucional veiculadora do princípio da não-cumulatividade. Percebe-se, assim,
que o creditamento não é mera faculdade do contribuinte, mas dever para com o ordenamento jurídico objetivo,
não lhe sendo possível renunciar ao lançamento do crédito do imposto, mesmo que tal prática lhe fosse
conveniente. Sequer a própria lei poderia autoriza-lo a tanto, sob pena de patente inconstitucionalidade. 6. Nesse
diapasão, não se afigura legítima a exigência de estorno dos créditos de ICMS, porquanto a empresa agiu no estrito
cumprimento da regra-matriz de direito ao crédito, uma vez ter-lhe sido regularmente repassado o tributo pela empresa
fornecedora quando da aquisição das embalagens personalizadas, consoante destacado nas notas fiscais - documentos
idôneos para tanto - , gerando a presunção de incidência da exação na operação anterior. 7. Deveras, a relação fiscal se
estabelece entre o sujeito com competência tributária e o contribuinte, de sorte que o eventual crédito do fisco em
relação ao primeiro contribuinte do imposto não pode ser exigido de outrem, o qual pela lei não é seu substituto
tributário nem sucessor. In casu, a recorrida pagou o tributo e o primeiro contribuinte depositou-o, levantando-o após,
com a anuência do Estado, que não pode pretender reavê-lo de quem implementou o seu dever. 8. Recurso especial
desprovido.” (STJ - REsp: 782987 RS 2005/0156821-0, Relator: Ministro LUIZ FUX, Data de Julgamento: 13/03/2007, T1 -
PRIMEIRA TURMA, Data de Publicação: DJ 09/04/2007 p. 230)

No mesmo sentido, outros julgadados do Colendo STJ reconhecem “que o creditamento não é mera faculdade do
contribuinte, mas dever para com o ordenamento jurídico objetivo, não lhe sendo possível renunciar ao
lançamento do crédito do imposto, mesmo que tal prática lhe fosse conveniente. Sequer a própria lei poderia
autorizá-lo a tanto, sob pena de patente inconstitucionalidade” (EDcl no AgRg no RECURSO ESPECIAL Nº
1.065.234 - RS (2008/0128378-3) - RELATOR MINISTRO LUIZ FUX - Documento: 1003311 - Inteiro Teor do Acó rdã o -
Site certificado - DJe: 04/10/2010).

Também nesse passo, v. Acó rdã o “STJ - EREsp: 833980 RS 2008/0265497-0, Relator: Ministro MAURO
CAMPBELL MARQUES, Data de Publicação: DJ 03/05/2012”, idêntico ao abaixo transcrito, que cita outros
precedentes:

“5. Ressoa inequívoco, portanto, que o direito de abatimento, quando presentes os requisitos constitucionais, é norma
cogente, oponível ao Estado ou ao Distrito Federal. A seu turno, os sucessivos contribuintes devem, para efeito de calcular
o imposto devido pela operação de saída da mercadoria do seu estabelecimento, abater o que antes e, a título idêntico,
dever-se-ia ter pago, a fim de evitar a oneração em cascata do objeto tributado, dando, assim, plena eficácia à norma
constitucional veiculadora do princípio da não-cumulatividade. Percebe-se, assim, que o creditamento não é mera
faculdade do contribuinte, mas dever para com o ordenamento jurídico objetivo, não lhe sendo possível
renunciar ao lançamento do crédito do imposto, mesmo que tal prática lhe fosse conveniente. Sequer a própria lei
poderia autorizá-lo a tanto, sob pena de patente inconstitucionalidade. 6. Nesse diapasão, não se afigura legítima a
exigência de estorno dos créditos de ICMS, porquanto a empresa agiu no estrito cumprimento da regra-matriz de direito
ao crédito, uma vez ter-lhe sido regularmente repassado o tributo pela empresa fornecedora quando da aquisição das
embalagens personalizadas, consoante destacado nas notas fiscais - documentos idôneos para tanto -, gerando a
presunção de incidência da exação na operação anterior. 7. Deveras, a relação fiscal se estabelece entre o sujeito com
competência tributária e o contribuinte, de sorte que o eventual crédito do fisco em relação ao primeiro contribuinte do
imposto não pode ser exigido de outrem, o qual pela lei não é seu substituto tributário nem sucessor. In casu, a recorrida
pagou o tributo e o primeiro contribuinte depositou-o, levantando-o após, com a anuência do Estado, que não pode
pretender reavê-lo de quem implementou o seu dever (Precedente da Primeira Turma: REsp 782987/RS, Rel.
Ministro Luiz Fux, julgado em 13.03.2007, DJ 09.04.2007). 8. Recurso especial desprovido. ( REsp 833.980/RS, 1ª
Turma, Rel. Min. Luiz Fux, DJe de 15.10.2008), (REsp 772.842/RS, 1ª Turma, Rel. Min. Teori Albino Zavascki, DJe
de 15.12.2009)”. (STJ - EREsp: 1065234 RS 2011/0161486-0, Relator: Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES,
Data de Publicação: DJ 04/05/2012).

O CTE DE MINAS GERAIS adota essa orientaçã o, no V. Acó rdã o: 21.117/16,PTA/AI: 01.000252787-61, conforme
exegese “(...) pode- se concluir que não é faculdade do contribuinte o estorno dos créditos (...)”.

No mesmo sentido orienta a resposta a CONSULTA N° 005/2012, da Secretaria de Fazenda do Estado de Santa
Catarina, disponibilizado na página da SEF em 29.02.12. (Fonte:
https://legislacao.sef.sc.gov.br/html/consultas/2012/con_12_005.htm)

É o caso da previsã o do artigo 238 do Decreto nº 7.212/2010, alusivo ao benefício do artigo 5º do Decreto-lei 491/69,
reforçada pelo trâ nsito em julgado da decisã o judicial ocorrido, favorá vel à determinado contribuinte, em 2015,
albergando todos os créditos da mesma natureza -- extemporâ neos e contemporâ neos.

6. PRAZO PARA ANULAÇÃ O

A anulaçã o dos créditos deve ser processada no mesmo período de apuraçã o do imposto em que ocorrer ou se
verificar o fato determinante da anulaçã o, conforme estabelece o § 3º do artigo 254 do RIPI/2010. O decurso do prazo
do pará grafo 4º, do artigo 150 do Có digo Tributá rio Nacional – CTN.

Sempre que o estorno retardatá rio do crédito resultar em saldo devedor do imposto, a este débito será acrescido os
juros e multa de mora provenientes do atraso, conforme determinam os artigos 552 a 554 do RIPI/2010.

7. CONCLUSÃ O SOBRE O ATO CONCRETO DO ESTORNO

O Artigo 238 do Decreto nº 7.212 de 2010 - regulamento do IPI – RIPI, reafirmando disposiçõ es normativas anteriores
admite a manutençã o do crédito de IPI DO ARTIGO 5º DO DECRETO-LEI 491/69.

O Artigo 254 do mesmo regulamento, que cuida expressamente das hipó teses de anulaçã o de créditos, mediante
estorno no livro de apuraçã o do IPI, nã o contempla, nas diversas situaçõ es que prevê, o dever de estornar.

Quando a lei expressamente autorizar a manutençã o do crédito tributá rio, como oposto ló gico, veda o estorno, pois,
assim, rende- se ao princípio constitucional da nã o-cumulatividade.

“Percebe-se, assim, que o creditamento nã o é mera faculdade do contribuinte, mas dever para com o ordenamento
jurídico objetivo, nã o lhe sendo possível renunciar ao lançamento do crédito do imposto, mesmo que tal prá tica lhe
fosse conveniente. Sequer a pró pria lei poderia autoriza-lo a tanto, sob pena de patente inconstitucionalidade. Nesse
diapasã o, nã o se afigura legítima a exigência de estorno dos créditos”. (Ministro LUIZ FUX, ainda no seu tempo de
Colendo STJ, já decidiu no RECURSO ESPECIAL Nº 782.987 – RS)

O estorno é um dever inerente a obrigaçã o legal tributá ria, que independe da vontade do sujeito passivo. Quando a lei
expressamente autorizar a manutençã o de crédito de IPI no livro de apuraçã o fiscal, está, como oposto ló gico,
vedando o estorno.
Nessa hipó tese há mais que um direito, impõ e-se um dever de

manter o crédito no livro de apuraçã o, sob pena de violar o principio da nã o cumulatividade. Nã o cabe ao contribuinte
decidir estornar ainda que lhe possa ser conveniente. É violaçã o de norma de ordem pú blica tributá ria.

Pode-se concluir que o estorno de créditos lançados no livro de apuraçã o nã o é faculdade do contribuinte.

O DEVER DO ESTORNO É REGIDO PELAS NORMAS DE DIREITO PÚ BLÍCO, RELATIVAS A ORDEM TRIBUTÁ RIA. NÃ O É
POSSÍVEL RENUNCIAR AO LANÇAMENTO DO CRÉ DITO DO IMPOSTO, AINDA QUANDO ISSO LHE FOR CONVENIENTE
(STF, RE 111.757, Rel. Min. Célio Borja, RJT 126, p. 715/721).

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