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Instrução Normativa RFB n.° 2.

110/2022

Em 19 de outubro foi publicada a Instrução Normativa RFB n.° 2.110/2022, que revoga a Instrução
Normativa RFB n. 971/2009 e trata de normas gerais de tributação previdenciária e de arrecadação das
contribuições sociais destinadas à Previdência Social e das contribuições devidas a terceiros,
administradas pela Receita Federal.

A Instrução Normativa RFB n.° 2.110/2022 integra o “Projeto Consolidação” e reúne regras gerais
editadas pela antiga Secretaria da Receita Previdenciária e da Receita Federal, reduzindo a
complexidade da legislação tributária e aumentando a segurança jurídica em relação aos tributos
destinados à Previdência Social.

Apresentamos a seguir algumas alterações insertas pela Instrução Normativa RFB n.° 2.110/2022 que
merecem destaque, haja vista que recentemente foram objeto de Soluções de Consultas e Pareceres
da Receita Federal, ou já se encontravam pacificadas na jurisprudência do Supremo Tribunal Federal ou
do Superior Tribunal de Justiça, e foram positivadas no art. 34 da referida norma, segundo o qual não
integram a base de cálculo das contribuições previdenciárias:

(i) Os benefícios da Previdência Social, nos termos e limites legais, salvo o salário-maternidade
no caso da contribuição a cargo das seguradas (art. 34, I);
O tema já havia sido objeto de apreciação pelo Supremo Tribunal Federal em sede de
repercussão geral no julgamento do RE n.° 576.967/PR (Tema n. 72), oportunidade em que
foi reconhecida a inconstitucionalidade da incidência da contribuição previdenciária
patronal sobre o salário-maternidade, entendimento ratificado pela Receita Federal,
conforme Solução de Consulta COSIT n. 127/2021.

(ii) O auxílio-alimentação, inclusive na forma de tíquetes ou congêneres, mesmo antes do


advento do § 2º do art. 457 da CLT, vedado seu pagamento em dinheiro (art. 34, III);
Com as alterações promovidas pela Reforma Trabalhista em 2017 apenas o pagamento do
auxílio-alimentação na forma de pecúnia passou a integrar a base de cálculo da contribuição
previdenciária. Entretanto, conforme entendimento da Advocacia-Geral da União -
expresso no Parecer nº 1/2022/CONSUNIAO/CGU/AGU – e aprovado pelo Presidente da
República para fins de vinculação à Administra Federal (art. 40, § 1º, da Lei Complementar
n.° 73/1993), os valores referentes ao auxílio-alimentação prestados por ticket também se
assemelham ao benefício in natura.

(iii) A parcela recebida a título de vale-transporte, ainda que paga em dinheiro, limitada ao valor
equivalente ao necessário para o custeio do deslocamento em transporte coletivo de
passageiro (art. 34, VI);
O Supremo Tribunal Federal já havia declarado a inconstitucionalidade da cobrança de
contribuição previdenciária sobre o valor pago, em dinheiro, a título de vale-transporte, no
julgamento do RE 478.410/SP e, conforme Solução de Consulta COSIT n.° 58/2020, a Receita
Federal já adotava o entendimento agora consolidado na Instrução Normativa RFB n.
2.110/2022.

(iv) O valor despendido por entidade religiosa ou instituição de ensino vocacional com ministro
de confissão religiosa, membro de instituto de vida consagrada, de congregação ou de ordem
religiosa em face do seu mister religioso ou para sua subsistência, desde que fornecido em
condições que independam da natureza e da quantidade do trabalho executado, observado
o disposto no § 3º (art. 34, XXV);
Conforme Solução de Consulta COSIT n.° 130/2021, a Receita Federal já adotava o
entendimento inserto na Instrução Normativa RFB n. 2.110/2022.
(v) O aviso prévio indenizado, inclusive para fins da contribuição para o financiamento de
aposentadoria especial e benefícios concedidos em razão do grau de incidência de
incapacidade laborativa decorrente dos riscos ambientais do trabalho, de seu adicional e das
devidas a terceiros, exceto seu reflexo na gratificação natalina (art. 34, XXXII);
Além de existirem precedentes do STJ, o entendimento firmado no inciso XXXII, do art. 34,
já havia sido estabelecido por meio do Despacho PGFN/ME n.° 42/2021 que aprovou os
Pareceres PGFN/CRJ/COJUD SEI n.° 15.147/2020/ME e n.° 1.626/2021/ME.

(vi) A remuneração paga pelo empregador ao empregado nos 15 (quinze) primeiros dias que
antecedem o auxílio por incapacidade temporária (art. 34, XXXIII);
O tema já havia sido apreciado pelo Superior Tribunal de Justiça, que firmou o
entendimento de que não deve incidir contribuição previdenciária sobre a remuneração
paga pelo empregador am empregado durante os primeiros 15 dias de afastamento do
trabalho por motivo de incapacidade, uma vez que tal verba não possui natureza salarial
(cf. REsp. 1.617.820/PR).

Ainda no tocante à base de cálculo das contribuições previdenciárias, o art. 120 da Instrução Normativa
RFB n°. 2.110/2022 reforçou o entendimento adotado pela Receita Federal na Solução de Consulta
COSIT n.° 245/2019, ao prever que o montante referente ao fornecimento de vale-transporte poderá
ser deduzido da base de cálculo dos tributos em questões:

Art. 120. Poderão ser deduzidas da base de cálculo da retenção de que trata o art. 110 as
parcelas que estiverem discriminadas na nota fiscal ou fatura, que correspondam:
I - ao custo da alimentação in natura fornecida pela contratada e, a partir de 11 de
novembro de 2017, ao custo do auxílio alimentação, desde que este não seja pago em
dinheiro; e
II - ao fornecimento de vale-transporte, ainda que pago em dinheiro, limitado ao valor
equivalente ao necessário para o custeio do deslocamento em transporte coletivo de
passageiros.
§ 1º O valor relativo à taxa de administração ou de agenciamento não poderá ser deduzido
da base de cálculo da retenção, inclusive no caso de serviços prestados por trabalhadores
temporários, ainda que o valor seja discriminado no documento ou seja objeto de nota
fiscal ou fatura específica.
§ 2º A fiscalização da RFB poderá exigir da contratada a comprovação das deduções
previstas neste artigo.

Outro relevante ponto veiculado na Instrução Normativa RFB n.° 2.110/2022 trata da cessão de mão de
obra. Conforme art. 108, § 2º, a caracterização da cessão de mão de obra independe da existência de
poder de gerência ou direção do tomador do serviço sobre os trabalhadores colocados à sua disposição,
ratificando o posicionamento apresentada pela Receita Federal por meio da Solução de Consulta
Internet COSIT n. 4/2021, a seguir ipsis letteris:

Solução de Consulta Internet COSIT n.° 4/2021


Com base no exposto, conclui-se que a expressão “colocação à disposição” prevista na Lei
nº 8.212, de 1991, art. 31, § 3º, denota a condição de disponibilidade da mão de obra, ou
seja, a mão de obra estará disponível, respeitados os limites do contrato. A única potestade
implícita nessa partícula é que o tomador terá ao seu dispor a mão de obra conforme
contratado, o que poderá ser constatado pelo poder de requisitá-la, pelo cumprimento de
jornadas, cumprimento de metas ou por outros eventos que, como esses, consubstanciem
a disponibilidade da mão de obra. Portanto, não é necessário qualquer poder de
gerência/direção do tomador do serviço sobre os trabalhadores que executam a tarefa
prestada com cessão de mão de obra para sua caracterização, muito embora a existência
de poder dessa natureza seja elemento indiciário de que há cessão de mão de obra,
podendo, assim, ser levado em consideração para a aferição de sua ocorrência.

Por fim, a Instrução Normativa RFB n.° 2.110/2022 prevê nos arts. 186 e seguintes os requisitos para
que entidades beneficentes possam usufruir da imunidade tributária no tocante às contribuições
sociais, previstas no art. 195, § 7º da Constituição Federal e regulamentadas pela Lei Complementar n.
187/2021.

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