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FONTANA
2 'charel e licenciada em Pedagogia pela UNICAMP
'estre em Psicologia Educacional pela UNICAMP
^Jcente de Prática de Ensino na Escola de 1? grau na
Faculdade de Educação da UNICAMP
PEMtÍGKO
© Roseli A. C. Fontana
Maria Nazaré da Cruz
Copyright desta edição:
ATUAL EDITORA LTDA.. São Paulo. 1997.
/ Todos os direitos reservados.
Catalogação na fonte do
Departam ento Nacional do Livro
F679p
Fontana. Roseli
Psicologia e trabalho pedagógico / Roseli Fontana. Maria Nazaré
da Cruz. — São Paulo : Atual. 1997.
240p. cm. — (Formação do educador).
ISBN 85-7056-902-5
Suplementado por manual do professor.
Inclui bibliografia.
1. Psicologia educacional. 2. Psicologia da aprendizagem. I. Cruz.
Maria Nazaré da. II. Título. III. Série.
CDD-370.15
K
Capítulo 2
A abordagem
inatista-maturacionista
Por que as pessoas são diferentes umas das outras? Por que algu
mas crianças parecem mais inclinadas para atividades artísticas, en
quanto outras se saem melhor com os nú
meros? Foram perguntas desse tipo que
orientaram, no começo do século, as pri
meiras investigações psicológicas sobre o
problema da natureza hereditária das apti
dões e da inteligência.
Interessados em saber por qué uma pes
soa é diferente da outra — quanto a traços de
personalidade, de habilidades, de desempe
nho intelectual, etc. —■. pesquisadores pro
curaram obter dados que permitissem esta
belecer comparações entre pessoas.
Eles constataram, então, que pessoas
com uma aptidão especial (um artista, por
exemplo) normalmente tinham familiares
que apresentavam o mesmo tipo de aptidão.
Ou. ainda, que gêmeos idênticos apresenta
vam aptidões e nível intelectual com um
grau de semelhança maior do que o encon
trado entre irmãos não gêmeos. Por outro
lado, identificaram diferenças de aptidões e
de traços mentais entre homens e mulheres
ou entre raças diferentes.
Essas constatações foram interpretadas como indicadoras de que os
(iê n ic o s : centro
th interesse nos
fatores inatos são mais poderosos na determinação das aptidões indivi
i \tinlo\ \ohre duais e do grau em que estas podem se desenvolver do que a experiên
hcictlU tirietltule cia. o meio social e a educação. O papel do meio social, segundo essa
perspectiva inatista. se restringe a impedir ou a permitir que essas apti-
dões se manifestem.
Assim, uma criança — filha, neta ou sobrinha de músicos — apre
senta inclinação e facilidade para aprender música porque herdou de
seus familiares a aptidão, o "dom" para a música, e não porque foi
12 educada num ambiente em que. provavelmente, a música é valorizada e
ensinada. Do mesmo modo, crianças brancas e negras apresentam dife
renças no desempenho de determinadas tarefas em razão da herança ge
nética de suas raças, e não de diferenças culturais ou de oportunidades.
Foi nessa linha da preocupação com as diferenças individuais que
se desenvolveram os primeiros estudos psicológicos com o objetivo de
avaliar a inteligência. Um dos pioneiros desses estudos, o pesquisador
francês Alfred Binet, interessou-se especialmente pela mensuração da
inteligência através de testes.
Binet concebia a inteligência como uma aptidão geral que não de
pende das informações ou das experiências adquiridas no decorrer da
vida do indivíduo. Segundo ele, as principais características da inteli
gência seriam as capacidades de atenção, de julgamento e de adaptação
do comportamento a objetivos:
Mas, se as pessoas são diferentes umas das outras nas suas apti
dões, traços de personalidade ou de inteligência, existem também mui
tas semelhanças entre elas. A maioria dos bebês, por exemplo, torna-se
capaz de se sentar antes que possa se arrastar, engatinhar e depois andar.
Do mesmo modo, quando começa a falar, a criança primeiro diz apenas
palavras isoladas, e só depois junta duas ou mais palavras, formando
frases. Ou. então, antes de desenhar casas, animais ou carros, a criança
rabisca traços e círculos.
Essas seqüências parecem se repetir sempre em relação à maioria
das crianças, o que sugere a existência de certo padrão de desenvolvi
mento humano. Esse fato tem chamado a atenção de muitos pesquisa
dores desde as primeiras décadas deste século. Um dos primeiros psicó
logos a se interessarem por essa questão foi Arnold Gesell. nos Estados
Unidos. Ele se preocupou com a evolução da criança, do nascimento
aos 16 anos. e estudou as formas que seu comportamento vai tomando
14 no decorrer dessa evolução.
Quem fo i Gesell?
Pesquisador norte-americano que viveu entre 1880 e 1961,
Gesell foi o principal expoente das teorias do desenvolvimento
que dão maior ênfase ao papel da maturação. Desde
muito cedo, logo que formado na Escola Normal (Ma
gistério), dedicou-se à carreira de professor. Foi dire
tor de colégio e escreveu sua primeira tese sobre um
assunto ligado à pedagogia. Depois de doutorar-se
em psicologia, Gesell retomou o seu trabalho como
professor em uma escola primária. Alguns anos de
pois, decidiu-se por fazer o curso de Medicina e assim
que o concluiu fo i nomeado professor de Higiene da
Criança na Escola de Medicina de Yale, cargo que
ocupou até a sua aposentadoria.
Em 1915, Gesell passou a empregar a psicologia
com vistas em proporcionar ajuda pedagógica às
crianças desadaptadas. Ele é, por isso, considerado o
primeiro psicólogo escolar norte-americano.
Preocupado com a criação de uma ciência do desenvolvimento
humano que integrasse todos os recursos da psicologia experimen
tal, da biologia evolutiva e da neurofisiologia, de 1920 a 1961 Gesell
dedicou-se à pesquisa científica e à publicação de livros e artigos.
Pode-se dizer que Gesel 1foi o primeiro teórico da maturação, uma vez
que defendia a prioridade dos fatores de maturação sobre os fatores de
aprendizagem, ou de experiência, na evolução do comportamento da
criança. Para ele. o que explica a existência de um padrão de desenvolvi
mento comum à maioria das crianças é o processo de maturação biológica
inerente às transformações por que passa o comportamento da criança.
Assim, a evolução psicológica da criança seria determinada biolo
gicamente, do mesmo modo que o crescimento do feto no útero mater
no. Seus comportamentos e formas de pensar tomam-se mais comple
xos à medida que ela cresce, que seu sistema nervoso, sua estrutura
muscular, etc. se desenvolvem. O ambiente social e as influências exter
nas. de modo geral, limitam-se a facilitar ou dificultar o processo de
maturação. Por exemplo, uma criança que raramente é tirada do berço e
deixada à vontade no chão. certamente vai demorar mais para enga
tinhar ou andar. Em condições adequadas, seu desenvolvimento se pro
cessaria no ritmo e na seqüência determinados pela maturação. '
Tanto Binet quanto Gesell. acreditando que a inteligência e o desenvolvi
mento psíquico da criança são biologicamente determinados, preocuparam-
se em descrev er comportamentos e habilidades típicos de cada faixa etária.
Binet estava interessado, como já dissemos, em medir e comparar a
inteligência das pessoas. Mas. se podemos medir a altura ou o tamanho
do dedo de uma criança simplesmente usando uma fita métrica, medir a
inteligência é bem mais complicado. Enquanto aptidão geral do indiví 15
duo. a inteligência não pode ser medida diretamente, mas apenas atra-
ves de algumas de suas realizações. Por isso, para construir um teste de
inteligência, Binet precisava conhecer o que crianças são capazes de
fazer cm cada idade.
Essa também foi uma necessidade experimentada por Gesell. Preo
cupado em compreender a evolução da criança, ele procurou estabele
cer escalas de desenvolvimento que permitissem comparar os compor
tamentos de uma criança com aqueles que eram esperados, ou conside
rados “normais”, para sua faixa etária.
Mas como foram criados cs testes de inteligência e estabelecidas as
escalas de desenvolvimento?
Essa é uma pergunta importante, porque sua resposta nos mostra um
pouco como o conhecimento é produzido na área da psicologia. Partindo
do princípio de que a hereditariedade e a maturação são os fatores mais
decisivos na determinação da inteligência e na evolução do comporta
mento da criança, tanto Binet quanto Gesell dedicaram-se a pesquisas.
I .ui/ Tniz/i/Angulnr
h n ^ iiiin h a r e a n d a r s o z in h o : está g io s
diferentes d o d esen vo lvim e n to infantil.
Primeiros 4
semanas de vida: Entre 4 e 6
o dorso do bebê semanas o bebê
é imiformemente tem o dorso
arredondado, arredondado e a
havendo falta de cabeça c erguida
controle da por alguns
cabeça. momentos.
21
> Sugestão de atividades
>
> Organizando as informações do texto
• inteligência;
• desenvolvimento.
Trabalho de campo
1. Para realizar esta pesquisa, cada aluno deverá entrevistar uma pessoa
que tenha filhos (mãe ou pai) e uma professora (de pré-escola ou de
I“a 4“ série). Explique à pessoa que você está realizando um trabalho
escolar e precisa da ajuda dela.
• Pergunte à mãe (ou ao pai) sobre o que se lembra a respeito do
desenvolvimento dos filhos. O que mais lhe chamou a atenção
nesse processo? O que foi motivo de encantamento e o que foi
# - 22 motivo de preocupação? Por quê? Registre ou grave as respostas
#
obtidas. Caso a pessoa queira lhe mostrar fotos da criança ou ano
tações sobre ela, observe-as atentamente e sintetize as informa
ções proporcionadas por esses materiais.
• Pergunte à professora quais são as situações a que ela presta aten
ção para analisar o desenvolvimento de seus alunos. Procure saber
o que a encanta e o que a preocupa em seus alunos. Peça a ela que
descreva algumas situações ou experiências que foram marcantes
em seu trabalho com as crianças. Registre as respostas obtidas.
Exercitando a análise
Sugestão de leituras
23
TEXTO 3
Capítulo 3
A abordagem
comportamentalista
ft
psicologia como um behaviorista a vê", considera
do o lançamento oficial da escola behaviorista.
O fato de incluir a psicologia entre as ciências naturais deve-se à
crença na existência de uma continuidade entre o animal e o homem.
Ou seja, para os comportamentalistas, embora o comportamento do ho
mem difira do dos animais em razão de um maior refinamento e com
plexidade, ambos podem ser explicados pelos mesmos princípios. Des
.
se modo, o comportamento humano não é privilegiado como objeto de
pesquisa: no comportamentalismo, estudam-se tanto o comportamento
humano quanto o comportamento animal.
k
Como explicar o medo de tanta coisa que muitas crianças mais ve
lhas e até mesmo adultos sentem? Watson afirma que medo de cachor
ro, de escuridão, de insetos, e outros tipos de medo, é um sentimento
aprendido através de condicionamento. Ele resolveu verificar se era
possível produzir, em laboratório, uma reação de medo.
O sujeito da experiência foi uma criança de 11 meses que original
mente não demonstrava medo a animais peludos, como o coelho e o
rato branco. Quando, no laboratório, era apresentado à criança um rato
branco e ela o tocava, um ruído forte — de uma barra de aço golpeada
com um martelo — era produzido. A criança manifestava então reações
de medo: estremecia e começava a chorar.
Após várias repetições desse procedimento, a criança passou a
apresentar reações de medo diante do rato branco quando este lhe era
apresentado sozinho (sem o ruído). Watson verificou, ainda, que tal rea
ção estendia-se a outros animais ou objetos que lembravam o rato bran
co: um coelho, um cão, um casaco de peles ou um chumaço de algodão.
Você pode reconhecer nessa experiência uma situação experimen
tal de aprendizagem por condicionamento clássico. Um estímulo que
originalmente não provocava a resposta de medo (o rato branco) foi
associado a outro que naturalmente a provocava (um ruído forte), tor
nando-se, assim, um estímulo condicionado. A reação de medo a ani
mais peludos foi, portanto, aprendida pela criança.
Com esse experimento, Watson procurava comprovar a sua tese de
que a maioria das reações emocionais das pessoas é aprendida a partir da
influência do ambiente. Procurava também explicar “como as pessoas
aprendem”, explicitando os princípios do condicionamento clássico.