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Psicologia e Aprendizagem
1. Introdução
Como aprendemos? O que é necessário para que se construa aprendizagem? Essas
são questões que instigam os seres humanos há tempos. A partir desses
questionamentos, pensadores, filósofos, as pessoas em geral foram criando formas
hipotéticas para compreender este fenômeno.
2. Teoria Inatista
Afirmações do tipo “Meu filho tem uma aptidão incrível para artes” e “Ele tem o dom
para a música” nos remetem às ideias inatistas, nas quais a hereditariedade
determina a capacidade do sujeito (FONTANA, CRUZ, 1997). Nessa perspectiva,
entende-se que a criança já nasce com características e qualidades herdadas de seus
pais. Presume-se, assim, que a inteligência, as percepções, personalidade e emoções,
são formadas antes do nascimento, ou seja, são pré-existentes e, portanto,
geneticamente herdadas, determinadas biologicamente, independente dos processos
de aprendizagem e da experiência (FONTANA, CRUZ, 1997).
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Você acredita no ditado popular que diz que “filho de peixe, peixinho é?”
Esse dito é convergente com a perspectiva inatista, pois supõe que, assim como a cor
da pele e dos olhos, as aptidões individuais são herdadas dos pais, determinadas
biologicamente desde o nascimento. A influência do meio social no desenvolvimento
do sujeito está apenas em permitir ou impedir que as aptidões inatas se manifestem
(FONTANA, CRUZ, 1997). Então, uma criança, cujos pais e tios são cantores, por
exemplo, tem facilidade para cantar, porque herdou essa aptidão, o “dom” de seus
familiares, isso não se relaciona ao fato de ter se desenvolvido em um ambiente no
qual o canto e a música fazem parte do cotidiano.
3. Aprendizagem: Definição
Mesmo não havendo um consenso na definição de aprendizagem, percebe-se que esta
se constitui enquanto elemento central que perpassa diferentes campos do
conhecimento. Aprender é algo muito importante em nossa cultura e está presente ao
longo da vida, sendo intrínseca ao processo de desenvolvimento humano (BRIDI-
FILHO, BRIDI, 2016). “Aprendemos a todo o momento em um processo de interação
com o meio, manifestando diferentes […] complexidades ao conhecimento
construído” (MATURANA e VARELA, 2005, p.10 apud BRIDI FILHO e BRIDI, 2016,
p.18).
Para saber mais sobre neurociências e aprendizagem, leia:
4. Teoria Behaviorista
Ainda que as pessoas associem aprendizagem ao contexto da escola, da sala de aula,
os psicólogos a definem de forma mais ampla, incluem a aquisição de hábitos,
preferências, habilidades. Assim, grande parte de nosso comportamento é resultado
de processos de aprendizagem (WEITEIN, 2002).
1. Maria Letícia ficou reprovada em Matemática no sétimo ano. Agora, ela está
terminando o oitavo ano, mas ainda tem sensações desagradáveis quando
pega seu livro de matemática para estudar.
2. Na sua infância, você ia frequentemente à feira para comer pastel. Hoje, a feira
já não existe, mas, toda vez que você passa na rua onde ela acontecia, é capaz
de sentir o cheiro do pastel e até mesmo salivar.
3. Em um show, uma dupla sertaneja toca uma música de seu novo repertório, a
plateia fica parada, sem reação, pois ainda não conhece a música. Quando a
dupla começa a tocar uma música de seu repertório antigo, todos vão ao
delírio, cantam juntos, dançam, aplaudem. Então, a banda mantém as músicas
antigas em seu repertório.
4. O pequeno João sempre ficava muito empolgado quando seu avô vinha visitá-
lo, isso porque o avó sempre lhe trazia algumas balas e chocolates.
O Behaviorismo teve início em 1913 com John B. Watson, que propôs uma psicologia
centrada no estudo do comportamento. Watson tinha uma forte convicção de que as
experiências determinam a ação das pessoas, seus comportamentos (BOCK,
FURTADO, TEIXEIRA, 2011; SCHULTZ, SCHULTZ, 2009, LEFRANÇOIS, 2008). As
ideias de Watson tornaram-se populares nos Estados Unidos, e trouxeram uma forte
influência nas práticas educacionais familiares e escolares. Ele ressaltava o papel da
aprendizagem da determinação do comportamento e subestimava o papel da
hereditariedade nesse processo (LEFRANÇOIS, 2008). Aqui, fica clara a oposição
entre o pensamento inatista e o Behaviorista, no que diz respeito à aprendizagem. Na
primeira, a ênfase está na hereditariedade, enquanto, na segunda, o olhar se volta
para o ambiente, o meio no qual o sujeito está inserido.
Pavlov e sua equipe utilizaram vários outros estímulos além do pêndulo do relógio e,
com o passar do tempo, o cão passava a salivar diante do estímulo condicionado,
fosse uma campainha, uma luz, ou até mesmo o arrastar do sapato do pesquisador
(LEFRANÇOIS, 2008; WEITEN, 2002). Veja o vídeo indicado:
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O cão de Pavlov:
Vale ressaltar que o condicionamento clássico, essa associação que leva um estímulo
condicionado a uma resposta condicionada, pode ser extinto. A extinção do
Um exemplo cotidiano de extinção, fora do contexto do laboratório: Laura
fica tensa quando escuta o som do motor do dentista, isso porque o som foi
associado a dor que ela sentiu em seu tratamento odontológico. Supondo que
Laura comece a trabalhar como auxiliar odontológica, ela ouvirá o som do
motor diariamente, sem experimentar dor, assim, sua resposta condicionada
(tensão) irá diminuindo gradualmente, até desaparecer. Temos aí uma
demonstração de como a extinção ocorre.
Não é possível precisar o tempo necessário para que uma resposta condicionada seja
extinta. Isso dependerá de inúmeras variáveis, principalmente da força da associação
do condicionamento (WEITEN, 2002).
Para saber mais sobre o caso do “pequeno Albert”, leia:
Para deixar esses conceitos um pouco mais claros, utilizaremos alguns termos do
senso comum, apesar de não remeterem com exatidão ao que propõe a ideia de
reforço positivo e negativo. O reforço positivo é semelhante à “recompensa”, ou seja,
envolve uma contingência positiva (LEFRANÇOIS, 2008, WEITEN, 2002). Por
exemplo: Aninha estudou para prova e, como consequência, tirou uma boa nota, o
que aumenta a probabilidade de ela estudar novamente quando vierem outras
provas. Já o reforço negativo traz uma sensação de “alívio”, pois implica em remover
uma contingência negativa. A resposta é fortalecida, porque algo aversivo,
desagradável é removido do organismo (LEFRANÇOIS, 2008, WEITEN, 2002). Por
exemplo: você se rende à opinião de seu colega, mesmo não concordando com ele,
para pôr fim a uma discussão, assim, você sente o “alívio” de retirar de seu organismo
algo desagradável. De forma semelhante, você toma um remédio para aliviar sua dor
de cabeça; se a consequência for o alívio, isso fortalece a resposta de tomar aquela
medicação diante de uma nova dor de cabeça.
Vale ressaltar que as práticas punitivas disciplinares podem não ser efetivas na
eliminação do comportamento, pois, algumas vezes, apresentam efeito temporário.
Uma pessoa que foi multada por excesso de velocidade pode voltar a trafegar em alta
velocidade, mesmo após ter sido multada (BOCK, FURTADO e TEIXEIRA, 2011).
Inclusive, há razões para crer que práticas punitivas no processo educacional,
principalmente as punições físicas, frequentemente, levam ao aumento do
comportamento agressivo. O uso da punição também pode produzir respostas
Positivo Negativo
(oferece algo ao organismo) (retira algo do organismo)
Reforço Alberto tira uma nota boa após Joana rende-se ao choro de
(aumenta a ter estudado bastante para a seu filho para se livrar do
probabilidade do prova de Português. barulho.
comportamento comportamento fortalecido comportamento fortalecido
voltar a acontecer)
Punição A mãe de Afonso grita com ele João fica sem TV após
(diminui a após ele derramar um copo de desrespeitar a regra de
probabilidade do leite sobre a mesa no café da assistir apenas 1h de
comportamento manhã. desenho por dia.
voltar a acontecer) comportamento enfraquecido comportamento
enfraquecido
Para saber mais sobre a aplicação dos princípios da análise do
comportamento à interação pais-filhos, leia:
Ao longo deste tópico, os exemplos foram uma forma de aproximar a teoria inatista e
behaviorista do cotidiano e da prática profissional.
Para saber mais sobre a aplicação dos princípios da análise aplicada do
comportamento ao Transtorno do Espectro Autista, leia:
6. Conclusão
Este tópico procurou mostrar duas perspectivas a respeito do desenvolvimento e da
Percebemos que, apesar de serem teorias divergentes, ambas perpassam nossa vida
cotidiana trazendo explicações sobre como aprendemos.
7. Referência
BECKER, Fernando. Educação e construção do conhecimento. 2ª Ed. Ver. e
ampliada. Porto Alegre: Penso, 2012.
BRIDI FILHO, César A.; BRIDI, Fabiane R. S. Sobre o aprender e suas relações:
interfaces entre neurologia, psicologia e psicopedagogia. In: ROTTA, Newra T.;
BRIDI FILHO, César A.; BRIDI, Fabiane R. S. (Org.). Neurologia e
aprendizagem: abordagem multidisciplinar. Porto Alegre: Artmed, 2016. p.17-
28.
VOLKMAR, Fred R., WIESNER, Lisa A. Autismo: Guia essencial para compreensão
WEBER, Lidia. Eduque com carinho: equilíbrio entre amor e limites. Curitiba:
Juruá, 2007.
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