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Tópico 02

Psicologia e Aprendizagem

Teoria Piagetiana

1. Introdução
O desenvolvimento humano é um processo contínuo de mudanças que ocorre
durante toda a vida do indivíduo (BOCK, FURTADO e TEIXEIRA, 2008). Enquanto
há vida, existe a possibilidade de mudança. Muitas teorias sobre o desenvolvimento
humano foram desenvolvidas no campo da Psicologia. No entanto, nesta lição, iremos
nos dedicar a conhecer a teoria desenvolvida pelo psicólogo e biólogo suíço Jean
Piaget e suas implicações para a compreensão dos indivíduos.

O desenvolvimento humano é um processo complexo em que ocorre a interação de


vários fatores, tais como: a hereditariedade, o crescimento orgânico, a maturação
neurofisiológica e o meio (BOCK, FURTADO e TEIXEIRA, 2008). A interação entre
esses fatores ocorre de forma dinâmica durante toda a vida do indivíduo e é
responsável por torná-lo um ser singular. Apresentaremos brevemente as descrições
de Bock, Furtado e Teixeira (2008) sobre cada aspecto.

A hereditariedade diz respeito à carga genética do indivíduo que estabelece os


potenciais que poderão ser desenvolvidos. O crescimento orgânico está
relacionado ao aspecto físico do indivíduo (por exemplo, o aumento da estatura).
A maturação neurofisiológica está relacionada ao amadurecimento biológico que
torna possíveis determinados padrões de comportamento. Por fim,
o meio representa o conjunto de estímulos ambientais e, portanto, externos ao
indivíduo, o que altera seus padrões de comportamento.

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Para você, dentre os fatores que influenciam o desenvolvimento humano, há
algum que tem uma influência predominante sobre os outros?

Atualmente, não existem pesquisas que comprovem a porcentagem de influência de


cada fator no desenvolvimento do indivíduo. O que se sabe até o momento é que os
fatores estão interligados influenciando e sendo influenciados mutuamente. A ênfase
não está no fator que sobressai, mas na compreensão de que há uma interação
dinâmica entre eles que nos faz ser quem somos.

Segundo Papalia e Feldman (2012), o desenvolvimento é estudado a partir de três


domínios: desenvolvimento físico (crescimento do corpo e do cérebro, capacidades
sensoriais e motoras), desenvolvimento cognitivo (aprendizagem, atenção, memória,
raciocínio) e desenvolvimento psicossocial (emoções, personalidade e relações
sociais). Para os autores citados, estes aspectos estão inter-relacionados, ou seja, tudo
o que acontece em um domínio afeta os outros e, consequentemente, o processo de
desenvolvimento do indivíduo.


Pensando nessa inter-relação entre os domínios (físico, cognitivo e
psicossocial) do desenvolvimento, muitas pesquisas precisarão ser realizadas
para compreender os efeitos do isolamento social em decorrência da
pandemia do COVID 19 no desenvolvimento humano!

As questões relativas ao processo de aprendizagem também precisam ser analisadas

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de forma ampliada, pois “As dificuldades socioeconômicas e afetivo-culturais podem
interferir no ato de aprender, independentemente da vontade da criança” (ROTTA,
2016, p.7).

De acordo com a teoria piagetiana, o homem participa ativamente do seu


desenvolvimento, ou seja, o desenvolvimento do indivíduo só ocorrerá na interação
com o meio. Devido a essa concepção, Piaget é considerado um teórico Interacionista.
A visão de Piaget é de que o conhecimento é construído, re-organizado, ocorrendo
apenas no processo de interação entre sujeito e objeto, o que fez com que a sua teoria
fosse chamada de construtivista (OSTI, 2009).

Para Piaget, desenvolvimento e aprendizagem estão intimamente interligados (COLL


e MARTI, 2004). Em toda a sua obra, demonstrou uma extensa preocupação em
compreender como o indivíduo constrói o conhecimento, adquirindo novas
informações e, consequentemente, novas formas de atuar no mundo, ou seja, o
indivíduo aprende sobre si e sobre o mundo para construir modos de operar em meio
à realidade que o cerca. Portanto, de acordo com os autores citados, para Piaget, a
aprendizagem ocorrerá em função do nível de desenvolvimento do indivíduo, o que
significa dizer que o desenvolvimento precede a aprendizagem. Segundo Osti (2009),
Piaget considera que o homem “[…] possui uma máquina biológica que irá
amadurecer em contato com o meio ambiente, servindo como base sobre a qual todas
as aprendizagens serão construídas” (p.110).

No próximo tópico, iremos conhecer um pouco mais acerca da biografia de Piaget e o


percurso que o levou a desenvolver uma teoria que serve de referência para todos os
estudiosos interessados nas temáticas que envolvem o desenvolvimento humano.

2. Biografia

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Jean William Fritz Piaget (1896 – 1980).

Para conversarmos um pouco sobre a vida de Jean William Fritz Piaget (mais
conhecido como Jean Piaget), iremos nos basear nos escritos de Pulaski (1986) em
seu livro “Compreendendo Piaget”. Piaget nasceu na Suíça, em 9 de agosto de 1896.
Publicou seu primeiro artigo aos 11 anos sobre um pardal albino que observou em um
parque. Diplomou-se em ciências naturais na Universidade de Neuchâtel e concluiu o
doutorado em 1918 com uma tese em malacologia (ramo da ciência que estuda os
moluscos).

Durante a adolescência, Piaget leu sobre filosofia, religião, sociologia e psicologia.


Dedicou-se ao estudo da epistemologia do conhecimento, ou seja, de como
conhecemos e daquilo que conhecemos. Piaget é considerado um interacionista, pois
considera que o conhecimento “ […] desenvolve-se durante um longo e lento processo
de relacionar novas ideias e atividades às anteriores” (PULASKI, 1986, p.16).
Denominou esse enfoque singular acerca do estudo do conhecimento

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de Epistemologia Genética.

O interesse pelo estudo do conhecimento o levou ao campo da Psicologia. Piaget


partiu, então, para Zurique, trabalhando em dois laboratórios de psicologia e na
clínica psiquiátrica de Bleuler. Em 1919, frequentou cursos de psicopatologia, lógica,
epistemologia e filosofia da ciência na Sorbonne (Paris) (PULASKI, 1986).

Piaget começou a estudar o raciocínio das crianças ao se deparar com


questionamentos sobre quais os caminhos que as crianças utilizam para chegar a suas
respostas ou quais processos de pensamento distrairiam a sua atenção ou ainda que
fatores não são considerados na busca por soluções. A partir desses questionamentos,
Piaget, com 25 anos, biólogo transformado em psicólogo, passou a desenvolver a
teoria que mais tarde transformou-se no trabalho da sua vida (PULASKI, 1986).


Com a ajuda da esposa, Piaget estudou minuciosamente o desenvolvimento
cognitivo dos seus próprios filhos (Jacqueline, Lucienne e Laurent).
Fundamentou alguns de seus livros sobre o desenvolvimento da inteligência
da primeira infância até o período em que a criança aprende a caminhar com
essas observações (PULASKI, 1986).

Piaget lecionou no Instituto e nas Universidades de Genebra, Neuchâtel, Lausanne e


na Sorbonne cursos de filosofia, psicologia e sociologia. Em 1955, organizou seu
próprio Centro Internacional de Epistemologia Genética, para onde se dirigiam
estudiosos de várias partes do mundo para discutir sobre o desenvolvimento
cognitivo. Recebeu muitos prêmios, honrarias acadêmicas e obteve de universidades
de vários países, pelo menos, 30 graus de doutoramento honorário (PULASKI, 1986).

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Em sua carreira, escreveu muitos livros e centenas de trabalhos científicos. Jean
Piaget faleceu em 1980, em Genebra, na Suíça.

A importância em conhecermos sua trajetória está em compreendermos quais foram


os caminhos trilhados por esse grande teórico que o direcionaram a produzir uma
obra de relevância mundial para aqueles que desejam conhecer mais sobre o
desenvolvimento humano e suas complexidades.

3. Piaget e o Desenvolvimento da
Inteligência

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O desenvolvimento dos aspectos cognitivos da criança ocorre por meio da participação
ativa na interação com o meio e com o outro.

Em sua teoria, Piaget esteve focado na questão da gênese do conhecimento, ou seja,


em como os indivíduos desenvolvem o raciocínio lógico e quais processos mentais são
utilizados para resolução de problemas (OSTI, 2009). Devido a essa preocupação
com a questão da gênese do conhecimento, a teoria piagetiana é também denominada
teoria psicogenética.

Para Piaget, o desenvolvimento cognitivo inicia no momento do nascimento e

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acompanha o crescimento orgânico e o processo de maturação dos órgãos (OSTI,
2009). Com relação à inteligência, na abordagem piagetiana, os atos intelectuais são
utilizados pelos indivíduos para organizar o meio e adaptar-se a ele
(WADSWORTH,1997).

Para compreender como ocorre o processo do desenvolvimento cognitivo dos


indivíduos de acordo com a teoria psicogenética, apresentaremos quatro conceitos
básicos: esquema, assimilação, acomodação e equilibração (WADSWORTH,1997).


Esquemas: são estruturas mentais (cognitivas) utilizadas pelos indivíduos
(intelectualmente) para organizar e adaptar-se ao meio. Essas estruturas se
modificam durante o desenvolvimento mental. Podem ser entendidos como
conceitos ou categorias. São construídos a partir da experiência do indivíduo.

Assimilação: constitui o processo cognitivo em que o indivíduo acrescenta


um novo dado (perceptual, motor ou conceitual) aos esquemas (padrões de
comportamento) que já existem. É um processo que ocorre continuamente e
não resulta em mudanças nos esquemas, mas apenas no crescimento deles.

Acomodação: refere-se ao processo de criação de novos esquemas


cognitivos ou da modificação dos já existentes. Essa mudança resulta em
uma modificação na estrutura cognitiva do indivíduo e, consequentemente,
no desenvolvimento.

Equilibração: processo auto regulador de passagem do estado de


desequilíbrio para o estado de equilíbrio cognitivo. Essa autorregulação
ocorre por meio dos processos de assimilação e acomodação. A assimilação é
responsável pelo crescimento quantitativo enquanto a acomodação, pela

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mudança qualitativa (desenvolvimento da estrutura mental).

(WADSWORTH,1997).

Para Piaget (1976), a equilibração consiste em conduzir de um estado a outro


qualitativamente diferente, passando por diversos desequilíbrios e reequilibrações
dos esquemas cognitivos. Esse processo ocorre por meio da acomodação e da
assimilação. Nesse interim, as perturbações (alterações no ambiente ou acesso a
novos conteúdos) constituem elementos essenciais para causar os desequilíbrios que
darão início ao processo autorregulador (equilibração), resultando no
desenvolvimento das estruturas cognitivas (esquemas) e do conhecimento. Portanto,
o aprender para Piaget é um processo constante que envolve sucessivos equilíbrios e
desequilíbrios, ocasionando a modificação de esquemas cognitivos (OSTI, 2009).

O desenvolvimento cognitivo é dividido por Piaget em 4 estágios (estádios ou


períodos) respectivamente: sensório-motor (0-2 anos), pré-operatório (2-7anos),
operatório concreto (7-11 anos) e operatório formal (a partir dos 11 ou 12 anos). Os
estágios ocorrem de forma sucessiva, sem alteração da ordem ou supressão de algum
deles. Cada indivíduo é único e possui o seu ritmo próprio de desenvolvimento.
Portanto, é importante ressaltar que as idades apresentadas em cada período não são
fixas, mas aproximadas, devido às especificidades de cada um.

No período sensório-motor (especialmente, nos 18 primeiros meses de vida), ocorre


um desenvolvimento mental rápido e importante, pois a criança organiza

“[…] o conjunto das subestruturas cognitivas, que servirão de ponto de partida


para as suas construções perceptivas e intelectuais ulteriores, assim como certo
número de reações afetivas elementares, que lhe determinarão, em parte, a
afetividade subsequente”.

PIAGET e INHELDER, 2009, p.11

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Segundo Wadsworth (1997), o conhecimento produzido no período sensório-motor é
conhecimento físico, ou seja, o desenvolvimento cognitivo ocorre a partir da
manipulação do meio. Inicialmente (nos primeiros dias de vida), as ações do bebê são
reflexas. No segundo mês, a criança já consegue fazer as primeiras diferenciações
relacionadas aos objetos do seu ambiente imediato com base no reflexo de sucção. As
primeiras coordenações entre visão e tato (pegar o que vê) ocorrem entre o quarto e o
oitavo mês. Ao final do primeiro ano, a criança começa a desenvolver a noção de
objeto permanente (aquisição mais significativa desse período – que consiste na
consciência de que os objetos continuam existindo mesmo não estando no campo de
visão) e a noção de que outros objetos (diferentes dela) também causam eventos. O
comportamento inteligente começa a se manifestar no início do segundo ano a partir
do momento em que a criança passa a utilizar a experimentação para construir novos
meios de resolver problemas (WADSWORTH, 1997).

O aparecimento da função simbólica é um marco importante do período pré-


operatório (2-7 anos), tornando possível à criança representar por meio de gestos,
palavras ou lembranças objetos ou acontecimentos (OSTI, 2009), elaborando
mentalmente as sequências de comportamentos. Segundo Wadsworth (1997), o
pensamento da criança pré-operacional representa um avanço qualitativo com
relação ao pensamento da criança que se encontra no sensório-motor, apesar de
ainda ser considerado pré-lógico (ainda não é totalmente lógico). No entanto, quando
há algum conflito entre a percepção de alguma situação e o pensamento, a criança
ainda faz seu julgamento com base na percepção (WADSWORTH, 1997). De acordo
com o autor citado, durante o início do período pré-operatório, o comportamento é
egocêntrico, ou seja, a criança não consegue perceber que existem outros pontos de
vista além do seu, estando centrada apenas nas suas percepções e pensamentos.

De acordo com Piaget (2012), o aparecimento da linguagem nesse período modifica


profundamente as condutas afetivas e intelectuais. Segundo o autor, as
consequências essenciais são: o início da socialização da ação (início das trocas entre
os indivíduos), aparição do pensamento com base na linguagem interior, no sistema

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de signos e a interiorização da ação que passa a ser reconstituída no plano das
imagens mentais.

O período operatório concreto é um estado de transição entre o estágio pré-


operatório e o operatório formal em que o indivíduo consegue utilizar “[…] operações
completamente lógicas pela primeira vez” (WADSWORTH, 1997, p.124). Segundo
Piaget (2012), com relação à inteligência, nesse período, inicia-se a construção lógica
a partir da coordenação de pontos de vista. A criança, nesse período, não é
egocêntrica em pensamento como as que estão no pré-operatório, portanto, ela pode
assumir o ponto de vista dos outros, descentrando a percepção e atentando para as
transformações que estão ocorrendo (WADSWORTH, 1997). Segundo o autor citado,
de acordo com a teoria piagetiana, a criança desenvolve a reversibilidade do
pensamento (capacidade de reverter mentalmente as operações) nesse período, além
de duas operações intelectuais importantes (seriação e classificação), que formam a
base para a aquisição do conceito de número. No entanto, nesse período, as
operações da inteligência estão relacionadas apenas aos objetos tangíveis, suscetíveis
de manipulação e que podem ser efetivamente experienciados concretamente
(PIAGET, 2012).

Com relação à criança do período operatório concreto, Piaget (2012, p.36) afirma
que:

“Em vez das condutas impulsivas da primeira infância, acompanhadas da


crença imediata e do egocentrismo intelectual, a criança, a partir de sete ou de
oito anos, pensa antes de agir, começando, assim, a conquista deste processo
difícil que é a reflexão”.

Por volta dos 11 ou 12 anos, inicia-se o período operatório formal, em que “o


raciocínio torna-se ‘independente do conteúdo’ ou ‘independente do concreto’”
(WADSWORTH, 1997, p.152). Segundo o autor, com o desenvolvimento das
operações formais, a criança torna-se capaz de lidar com o possível (hipotético) tão

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bem quanto com o real. Estruturas que emergem durante esse período: raciocínio
hipotético-dedutivo (capacidade de pensar a partir de premissas
hipotéticas); pensamento científico-indutivo (capacidade de raciocinar partindo
do específico para o geral) e abstração reflexiva (abstração de um conhecimento
novo partindo de um conhecimento que já existe – imprescindível para o raciocínio
lógico-matemático) (WADSWORTH, 1997). Piaget (2012) descreve o adolescente
como um indivíduo que constrói sistemas e teorias. Para Osti (2009, p. 112), “esse
período caracteriza-se pela capacidade de pensar sobre variáveis, dispensar o apoio
da percepção e da manipulação, formular hipóteses, examinar consequências […] é o
estado mais avançado do equilíbrio”.

Como mencionado anteriormente, não há uma idade fixa para o desenvolvimento de


cada um dos quatro períodos. As idades apresentadas são apenas aproximadas e,
portanto, o ritmo e as especificidades serão determinantes para que cada indivíduo vá
desenvolvendo as noções descritas em cada um dos estágios. É importante ressaltar
que os estágios ocorrem de forma sucessiva, sem alteração da ordem, pois cada um
depende dos aspectos desenvolvidos no estágio anterior. Finalmente, é necessário
enfatizar que o período operatório formal é o último e mais equilibrado a ser
alcançado pelo indivíduo, pois, segundo Piaget (2012), marca a “libertação do
pensamento” (p.57) possibilitando a “livre atividade da reflexão espontânea” (p.57).


Piaget desenvolveu provas para identificar algumas noções sobre aspectos do
desenvolvimento cognitivo nas crianças. Assista ao vídeo para conhecer a
prova piagetiana de conservação de peso.

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Ao longo da obra de Piaget, percebe-se a importância das atividades lúdicas,
especialmente jogos, para realização de observações acerca do processo de
desenvolvimento do indivíduo. Piaget (1978) classifica os jogos em três categorias:
exercício, símbolo e regras, que correspondem a fases relacionadas ao
desenvolvimento cognitivo.

O primeiro a aparecer é o jogo de exercício (período sensório-motor). É caracterizado


pela ausência de qualquer técnica em particular e pela repetição das ações pelo prazer
funcional a fim de testar as possibilidades do corpo e dos objetos. Neste tipo de jogo,
diversas condutas são colocadas em ação, no entanto, não há modificação das
respectivas estruturas (PIAGET, 1978).

O jogo simbólico (segunda categoria) se desenvolve a partir do segundo ano do


desenvolvimento da criança, pois, neste período do desenvolvimento, a criança tem a
capacidade de presentificar pessoas, coisas e sensações que se encontram ausentes
(PIAGET, 1978). Esse tipo de jogo pode ser denominado também como jogo de faz-
de-conta e, por meio dele, “[…] a criança constrói símbolos [que podem ser únicos]
sem constrangimento, invenções que representam qualquer coisa que ela deseja
(WADSWORTH, 1997, p.66). O jogo simbólico é uma forma utilizada pela criança
para representar as experiências vivenciadas no cotidiano.

A terceira categoria é a dos jogos com regras (a partir dos sete anos) que é

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caracterizada pela presença e utilização das regras para regulação do jogo. Segundo
Piaget (1978, p.182), “o jogo de regras é a atividade lúdica do ser socializado”, pois a
regra supõe relações sociais e uma regularidade imposta pelo grupo social.

Piaget (1978) ainda cita os jogos de construção que constituem o período de transição
entre as três outras categorias e as condutas adaptadas, no entanto, não podem ser
considerados como uma fase.


Assista ao vídeo da Nova Escola com a participação do professor Yves De La
Taille e conheça mais sobre a obra de Piaget!

4. Piaget, Afetividade e Desenvolvimento


Moral

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Para Piaget, a afetividade está relacionada à energética que impulsiona as nossas
ações.

O termo afetividade pode ser considerado de duas formas: como os sentimentos (em
particular, as emoções) e como as diversas tendências, em particular, a vontade
(PIAGET 2005). Há uma relação profunda entre afeto e cognição de modo que não há
estados afetivos sem elementos cognitivos e vice-versa. Segundo Piaget (1983, p.234),
“De fato, os mecanismos afetivos e cognitivos permanecem sempre indissociáveis
embora distintos e isso é evidente se uns dependem de uma energética e outros de
estruturas”.

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A afetividade está relacionada à energia e a cognição, às estruturas, havendo uma
relação de correspondência entre elas de tal modo que o afeto pode acelerar (por
meio do interesse e da necessidade) ou retardar o desenvolvimento de uma estrutura
cognitiva (PIAGET, 1962). Dessa forma, podemos compreender a dificuldade que
temos em estudar uma disciplina que não nos desperta interesse ou assistir a uma
aula de um professor com o qual não “simpatizamos”.

Durante todo o processo de ação, ocorre a regulação afetiva, ou seja, não há atos de
inteligência desprovidos de afeto, pois a afetividade constitui-se como energética para
o comportamento enquanto as funções cognitivas são responsáveis pela sua estrutura
(PIAGET, 2005).

Os estágios do desenvolvimento das estruturas cognitivas correspondem aos estágios


do desenvolvimento da afetividade, ou seja, não há uma fase que seja puramente
cognitiva ou puramente afetiva (inclusive na idade adulta) (PIAGET, 1962).

O afeto constitui um aspecto fundamental para o funcionamento da inteligência, pois,


sem o mesmo, não há interesse, necessidade ou motivação (PIAGET,1962). O afeto é
uma das condições para a constituição da inteligência, mas não é a única. Existe uma
relação de correspondência entre inteligência e afetividade, mas não uma relação de
causalidade.

De acordo com La Taille (1992, p.47), “[…] a moralidade humana é o palco por
excelência onde afetividade e razão se encontram”. Para compreender como ocorre o
processo de desenvolvimento do juízo moral, Piaget iniciou suas pesquisas estudando
sobre a evolução da prática e da consciência da regra (LA TAILLE,1992). O
entendimento de como ocorrem esses processos é um tema de grande relevância, pois
o indivíduo que não internaliza e pratica as regras impossibilita a convivência social.

Piaget divide a questão da evolução da prática e da consciência das regras em três


etapas (LA TAILLE,1992):

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1. Anomia (até 5-6 anos): a criança não tem consciência das regras e, portanto, não segue
as regras coletivas (LA TAILLE,1992).
2. Heteronomia (a partir de 5-6 anos): nessa etapa, a criança compreende a regra “[…]
como sagrada e intangível, de origem adulta e de essência eterna; toda modificação
proposta é considerada pela criança como transgressão” (PIAGET, 1994, p.34). Ao
mesmo tempo, ela “[…] frequentemente introduz, sem qualquer consulta prévia a seu
adversário, alguma variante que lhe possibilita ter melhor desempenho […]” (LA
TAILLE,1992, p.50). Segundo o autor citado, isso ocorre porque a criança ainda não
assimilou o sentido da existência das regras e, portanto, não as compreende necessárias
para regular as ações do grupo. Quando a criança cumpre as regras, é por perceber a
autoridade de quem propõe a regra e não pela consciência da importância da regra em
si.
3. Autonomia: para Piaget (1994, p.34), “[…] a regra é considerada como uma lei imposta
pelo consentimento mútuo, cujo respeito é obrigatório, caso se deseja ser leal”. Nessa
etapa, as regras podem ser alteradas desde que haja um acordo mútuo entre os
jogadores (LA TAILLE,1992). As regras são interiorizadas a partir do reconhecimento da
sua importância para regulação das relações entre os indivíduos, não sendo necessária a
aplicação de uma força externa para que sejam cumpridas. A idade em que isso ocorrerá
dependerá do processo de desenvolvimento de cada indivíduo.

Para Piaget, o desenvolvimento do juízo moral segue as mesmas etapas (anomia,


heteronomia e autonomia) para compreensão da prática e compreensão das regras
(LA TAILLE,1992).


Para aprofundar seus estudos acerca das relações entra afetividade e
cognição na teoria piagetiana, leia o artigo:

SOUZA, M.T.C.C de; FOLQUITTO, C.T.F.; OLIVEIRA, M.P. de; NATALO,


S.P. Relações entre aspectos afetivos e cognitivos em representações de
contos de fadas. Boletim de Psicologia, Vol. LVIII, Nº 129: 227-242,
2008.

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5. Conclusão
Este tópico teve como finalidade apresentar as principais características da
Espistemologia Genética de Jean Piaget. Para tanto, foram discutidos os principais
acontecimentos da vida de Piaget, conceitos fundamentais da sua obra, bem como os
estágios do desenvolvimento cognitivo (sensório-motor, pré-operatório, operatório
concreto e operatório formal). Finalmente, foram debatidas as relações entre
afetividade e cognição na teoria piagetiana e apresentadas as etapas do
desenvolvimento do juízo moral na criança (anomia, heteronomia e autonomia).

Os conceitos desenvolvidos por Piaget têm sido utilizados por profissionais e


pesquisadores de diversas áreas, especialmente, da Psicologia e da Educação, com o
intuito de compreender de forma mais aprofundada as especificidades das crianças e,
assim, desenvolver estratégias de intervenção mais eficazes para potencializar o
desenvolvimento e a aprendizagem em cada faixa etária.

6. Referências
BOCK, A.M.B.; FURTADO, O.; TEIXEIRA, M.deL.T. Psicologias: uma introdução
ao estudo de psicologia. 14. ed. São Paulo: Saraiva, 2008.

COLL,C.; MARTÍ, E. Aprendizagem e desenvolvimento:a concepção genético-


cognitiva da aprendizagem. In: COLL,C.; MARCHESI,Á.; PALACIOS, J. e
cols. Desenvolvimento psicológico e educação: Psicologia da educação escolar.
2.ed. vol.2, Porto Alegre: Artmed, 2004.

LA TAILLE, Y. de. Desenvolvimento do juízo moral e afetividade na teoria de Jean


Piaget. In: LA TAILLE, Y. de; OLIVEIRA, M.K.de; DANTAS, H. Piaget, Vygotsky,
Wallon: teorias psicogenéticas em discussão. 24. Ed. São Paulo: Summus, 1992.

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OSTI, A. Concepções sobre Desenvolvimento e Aprendizagem segundo a Psicogênese
Piagetiana. Revista de Educação. Vol. XII, n. 13, 2009 p.109-118.

PAPALIA, D. E.; FELDMAN, R.D. Desenvolvimento humano. 12. ed. Porto


Alegre: Artmed/McGrawHill, 2012.

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