Você está na página 1de 14

UNIVERSIDADE CATÓLICA DE PELOTAS

CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE

CURSO DE PSICOLOGIA

PÂMELA ESPIRITO SANTO CARDOSO

THIAGO MASSAQUE TAVARES

A TEORIA PIAGETIANA

A vida e obra do educador Jean Piaget, seus principais conceitos e contribuições para a
área da psicologia e educação

Pelotas

2023
PÂMELA ESPIRITO SANTO CARDOSO

THIAGO MASSAQUE TAVARES

A TEORIA PIAGETIANA

Trabalho acerca da vida e obra de Jean Piaget, seus


principais conceitos e contribuições, realizado na
disciplina de Psicologia e Educação, ministrada pela
Professora Maria Clara Salengue, do curso de
Psicologia da Universidade Católica de Pelotas. O
principal objetivo é o entendimento da perspectiva
relacional do autor, bem como sua visão acerca do
aprendizado. Além disso, buscou-se investigar as suas
contribuições nas áreas da Psicologia e Educação.

Pelotas

2023
SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO 4
2. A TEORIA DE JEAN PIAGET E SUAS CONTRIBUIÇÕES 5
2.1 VIDA E OBRA 5
2.2 PIAGET E OS PROCESSOS DE DESENVOLVIMENTO 7
2.3 TIPOS DE MORAL 8
2.4 TIPOS DE RESPEITO 8
2.5 FASES DO DESENVOLVIMENTO DA MORALIDADE 8
2.6 TEORIA DA EQUILIBRAÇÃO 9
2.7 OUTROS CONCEITOS PIAGETIANOS 9
2.8 ESTÁGIOS DO DESENVOLVIMENTO COGNITIVO 10
2.9 FATORES QUE INFLUENCIAM O DESENVOLVIMENTO 11
3. CONCLUSÃO 13
REFERÊNCIAS 14
1. INTRODUÇÃO

No campo da Psicologia, uma das áreas de atuação do psicólogo é na educação. Para


Andaló (1984), o psicólogo escolar deve agir como agente de mudanças dentro da instituição
escolar, funcionando como um elemento que catalisa reflexões e conscientiza os professores,
alunos, funcionários e demais participantes acerca dos seus papéis representados nos grupos.
A partir disso, entende-se a importância da prática da psicologia na escola, a qual se sustenta
nas teorias da aprendizagem e desenvolvimento de autores como Jean Piaget, Lev Vygotsky,
Henri Wallon, Célestin Freinet, Bernard Charlot e Paulo Freire.

Um dos precursores dos estudos acerca do desenvolvimento infantil, que


contribuiu grandiosamente para a área da Psicologia Escolar, foi o autor Jean Piaget, citado
anteriormente. Para o autor, era muito importante estudar como aprende-se a aprender, quais
as mudanças estruturais que ocorrem no nosso aparato cerebral e como transformar o modo
de educar as crianças. Além disso, postula que o conhecimento envolve não somente a
interação sujeito-organismo ou objeto-meio, mas sim a interação entre estes dois. A
inteligência está relacionada à obtenção do conhecimento a partir da estruturação das
interações sujeito-objeto. Ele considerava que todo conhecimento partia da ação, sendo
necessária a observação da experiência do sujeito com o objeto para compreensão do
surgimento das operações intelectuais.

Partindo disso, então, entende-se a importância de investigar profundamente os


estudos de Piaget, sintetizando os seus achados científicos, tanto os seus conceitos
importantes quanto suas contribuições para a Psicologia e Educação.
2. A TEORIA DE JEAN PIAGET E SUAS CONTRIBUIÇÕES

2.1 VIDA E OBRA

Jean Piaget nasceu em 9 de agosto de 1896 em Neuchâtel, na Suíça. Seu pai dedicou a
maior parte de seus escritos à literatura medieval e à história de Neuchâtel, sendo avaliado
por Piaget como um homem de mente meticulosa e crítica, que distanciava-se de
generalizações rasas e buscava sempre a verdade como forma de obedecer tradições. O filho
reconhece o seu papel no valor que dava para o trabalho sistemático, ainda que em pequenas
coisas.

Em sua autobiografia, Jean afirma que sua mãe, por sua vez, tinha um funcionamento
bastante distinto. Segundo ele, era “inteligente, enérgica, fundamentalmente, uma pessoa
muito boa”. Todavia, a presença de um comportamento neurótico facilitou uma dinâmica
familiar um tanto quanto conturbada. Piaget afirma que adotou o trabalho sério muito cedo
em sua vida como uma forma de aproximar-se de seu pai e ao mesmo tempo distanciar-se da
mãe. Sua mãe tinha também questões de saúde mental que tendia à fuga da realidade, algo
que o teórico também buscou se afastar, aprimorando seus estudos na normalidade e nos
trabalhos do intelecto, ao invés de, por exemplo, na psicopatologia e na psicanálise (PIAGET,
1951).

Segundo Piaget (1951), ao entrar para a Latin School, aos dez anos de idade, escreveu
seu primeiro artigo. Uma página de escrito para um jornal de História Natural de Neuchâtel
sobre um pardal albino que havia avistado num parque público. Nos quatros anos seguintes,
manteve o cunho naturalista em seus trabalhos. Estes trabalhos iniciais não possuiam a
robustez dos que se seguiram, entretanto, foram de grande importância para o seu
desenvolvimento científico. Além do mais, Piaget reconheceu que estes estudos o permitiram
assimilar uma breve ideia dos princípios científicos antes que entrasse em contato com as
questões filosóficas em emergência na adolescência. Contudo, houve um momento em que as
questões filosóficas vieram à tona devido a uma série de crises, familiares e intelectuais.
Neste momento, o teórico pode colocar em prática mais uma vez o conhecimento que havia
adquirido com a experiência na ciência zoológica. Tempo depois seu padrinho, que o julgara
especializado demais, o estimulou a buscar a filosofia. A forma como o assunto fora
discutido, distante do panorama teológico que Piaget conhecia, o provocou um choque
emocional. Esse contato o permitiu identificar a explicação biológica de todas as coisas e dele
mesmo.

Depois, o choque intelectual, surgira uma nova perspectiva quanto ao problema


epistemológico e como um tópico absorvente de estudo. Nesse ponto, Piaget decidiu dedicar
sua vida à explicação biológica do conhecimento. Porém, para ele, era preciso mais do que a
filosofia para compreender a biologia e a análise do conhecimento, necessidade suprida
através dos estudos em psicologia. Durante sua formação, por falta de estrutura de
laboratórios de psicologia experimental na Universidade, seus estudos de psicologia, lógica e
metodologia científica, eram mais voltados para teoria e escrita. Piaget conta que escrevera
para si mesmo, afinal, era o seu modo de organizar o conhecimento que estava adquirindo,
mantendo a sistematização até mesmo nessa escrita mais comum. Estes estudos o levaram a
compreender que em todas as fases do desenvolvimento pode-se observar o problema de
relacionamento entre as partes e o todo.

Assim, nos anos que se seguiram, Piaget teve a oportunidade de trabalhar com testes
de raciocínio de Burt com crianças parisienses. Essa experiência o levou a observar, desde as
primeiras entrevistas, que ainda que os testes de Burt tivessem sua importância no que diz
respeito ao diagnóstico, baseado no número de sucessos e de fracassos, era mais interessante
compreender o que motivava as falhas. Piaget percebeu, surpreso, que a tarefa de raciocinar,
envolvendo a “inclusão de uma parte no todo” ou a coordenação de relações ou a
“multiplicação” de classes, era, para crianças ditas normais, difícil na idade de 11 ou 12 anos.
Essa observação o levou a manter por mais dois anos a análise do raciocínio verbal de
crianças normais, apresentando-lhes uma série de tarefas que envolviam o estabelecimento de
relações concretas simples causa e efeito (PIAGET, 1951).

Assim, Piaget (1951) encontrara o seu campo de estudo. Ali havia se tornado claro
que a teoria das relações entre o todo e a parte é possível de ser pesquisada de forma
experimental pela análise dos processos psicológicos que envolvem operações lógicas. Tal
processo marcou o fim de uma fase teórica e o início de uma era indutiva e experimental
dentro da psicologia, afinal, agora dispunha do conhecimento em relação aos recursos
possíveis de serem utilizados na investigação. A observação de que a lógica não é inata, mas
é desenvolvida pouco a pouco, estava alinhada com as ideias piagetianas em relação à
formação do equilíbrio, cuja direção tende a evolução das estruturas mentais, ou seja, de
acordo com o desenvolvimento biológico do indivíduo.
Desde o início de seu pensamento teórico, Piaget assegurava que o problema da
relação entre organismo e o meio-ambiente envolvia também o âmbito do conhecimento,
configurando-se como o problema da relação entre o sujeito agindo e pensando e os objetos
de suas experiências. Diante dessa certeza, era possível estudar esse problema em termos de
desenvolvimento psicogenético.

Dali em diante, Piaget planejou dedicar cerca de dois ou três anos mais a estudar o
pensamento da criança, para depois então retornar às origens da vida mental, ou seja,
pesquisar propriamente o surgimento da inteligência durante os primeiros dois anos. Assim,
depois de ter compreendido as estruturas fundamentais da inteligência, poderia adentrar a
questão do pensamento em geral e construir uma epistemologia psicológica e biológica. O
desenvolvimento do pensamento humano seria seu foco de interesse. Os resultados desta
pesquisa compõe parte da bibliografia do teórico e estão detalhados em seus primeiros cinco
livros sobre psicologia infantil: A linguagem e o pensamento na criança (1923), O Raciocínio
na criança (1924), A representação do mundo na criança (1926), A causalidade física na
criança (1927). O juízo moral na criança (1931).

2.2 PIAGET E OS PROCESSOS DE DESENVOLVIMENTO

Para Piaget, os indivíduos intelectualmente se adaptam e organizam o meio através de


estruturas mentais ou cognitivas. Tais estruturas, para ele, são chamadas de esquemas. À
medida em que a criança torna-se mais apta a generalizar os estímulos que recebe, ela
aprimora estes esquemas. O organismo, com sua bagagem hereditária, em contato com o
meio, perturba-se, desequilibra-se e, para superar esse desequilíbrio, ou seja, para adaptar-se,
constrói esquemas” (Oliveira, M., et al. 2016).

Já a assimilação, processo descrito por Piaget, é a incorporação de elementos do meio


externo a um esquema ou estrutura do sujeito. O indivíduo toma algo do ambiente e organiza
para si a partir das estruturas que dispõe. É uma tentativa do indivíduo de solucionar as suas
demandas a partir dos recursos que tem. É um processo contínuo na medida em que o
indivíduo está em constante atividade de interpretação da realidade na tentativa de adaptar-se
a ela (Oliveira, M., et al. 2016). E a acomodação, por sua vez, é a modificação de um
esquema ou estrutura em função das particularidades do objeto a ser assimilado. É a
capacidade de modificar a estrutura mental anterior para dar adquirir um novo conhecimento
acerca do objeto em questão (Oliveira, M., et al. 2016).

2.3 TIPOS DE MORAL

1. Moral da Coação: estática, conservadora, baseada na tradição. Há uma pressão do


grupo social sobre o indivíduo. Segundo Piaget (1994), o respeito unilateral, resultado
das relações nas quais predomina a coação, é importante no desenvolvimento moral,
pois leva a criança inicialmente a aceitar as instruções impostas pelo adulto.
2. Moral da Cooperação: dinâmica, baseada nos conceitos de autonomia. Para Piaget,
cooperação é um método construído na reciprocidade entre os indivíduos, que ocorre
pela descentração intelectual, havendo a construção não apenas de normas morais,
mas também racionais, tendo a razão como produto coletivo (PIAGET, 1994).

2.4 TIPOS DE RESPEITO

Para Piaget (1967), existem dois tipos de respeito:

1. Respeito unilateral: quando não há um sentimento moral. Há uma submissão a


regras pré-estabelecidas exterior ao sujeito.
2. Respeito Mútuo: as obrigações e ações não são impostas, mas elaboradas pelos
indivíduos.

2.5 FASES DO DESENVOLVIMENTO DA MORALIDADE

1. Anomia: não segue regras coletivas, satisfaz interesses individuais.


2. Heteronomia: interesse por atividades coletivas. As regras são imutáveis e
dependente da vontade exterior à criança (superiores).
3. Autonomia: é ser capaz de se situar competente e consciente diante de pontos de vista
e conflitos da sociedade. A autonomia não surge em atmosferas de autoridade. A
autonomia intelectual surge para o aluno quando há liberdade nas experiências,
tentativas e erros - quando ele pode projetar sua própria atividade - tomar
consciências dos seus progressos - construir significações.
2.6 TEORIA DA EQUILIBRAÇÃO

Para Piaget (1967), os sujeitos possuem a capacidade de identificar, diferenciar e


integrar ou generalizar de forma consistente e sem contradições os dados da realidade
(diferenças e semelhanças). Este processo seria a equilibração, e permite que a criança
ultrapasse um estágio inferior para chegar ao próximo imediatamente superior através de
sucessivas desequilibrações e reequilibrações.

Os desequilíbrios, por sua vez, são perturbações que resultam de conflitos


momentâneos, os quais uma vez ultrapassados ou superados conduzem a novas construções.
Já as regulações são reações às perturbações enfrentadas pelos sujeitos. Podem consistir em
reforços ou correções, e podem também não acontecer a partir de condutas de rejeição, ou
seja, o conflito pode não ser percebido e se manter levando à estagnação e a morte da
estrutura cognitiva. Por fim, as compensações são ações utilizadas para neutralizar ou anular
determinadas ações. Toda compensação se orienta em direção inversa da perturbação, e exige
uma avaliação final de seu sucesso (PIAGET, 1967).

2.7 OUTROS CONCEITOS PIAGETIANOS

1. Operação: Uma operação é uma ação que se torna reversível em pensamento. É uma
ação que pode ser internalizada ou uma ação sobre a qual a pessoa possa pensar e isto
é uma atividade mentalmente reversível - ou para ser mais preciso - é uma ação que
pode ocorrer em uma direção ou na direção inversa. Uma operação implica sempre a
noção de conservação e a relação com um sistema de operações ou uma estrutura
global. Para Piaget, as operações são o resultado, não a fonte do desenvolvimento da
inteligência" (RAMOS, 2013).
2. Cooperação: pressupõe a coordenação das operações de dois ou mais sujeitos.
Prioriza discussões, trocas, controle mútuo de argumentos.
2.8 ESTÁGIOS DO DESENVOLVIMENTO COGNITIVO

Piaget (1967) dividia o desenvolvimento cognitivo em quatro estágios, sendo eles o


estágio sensório motor ou pré-verbal, o estágio pré operatório, operatório concreto e
operatório formal.

Estágio Faixa etária aproximada

Inteligência Sensório-Motora até 2 anos de idade

Inteligência Simbólica ou Pré-Operatória de 2 a 7-8 anos

Inteligência Operatória Concreta de 7-8 anos a 11-12 anos

Inteligência Operatória Formal a partir de 12 anos

No estágio sensório-motor ou pré-verbal, segundo Piaget, a criança busca


coordenar, organizar e integrar as informações que recebe através dos sentidos e, interessada
apenas no que é real, elabora o conjunto de esquemas de assimilação a serem utilizados como
base para a construção das futuras estruturas decorrentes do estágio posterior. Essa vem a ser
uma fase de importante desenvolvimento mental. A evolução intelectual do período está
caracterizada pela construção das categorias de objeto, espaço, causalidade e tempo. Nessa
idade a criança ainda é muito egocêntrica, sendo o que Piaget chama de “narcisismo sem
Narciso”, dada a ausência da consciência (PIAGET, 1967).

No estágio pré-operatório, ocorre o surgimento do que Piaget (1967) chama de


função simbólica, ou seja, o poder de representação de objetos e acontecimentos,
possibilitando, por exemplo, a aquisição da linguagem e símbolos coletivos, transformando
os comportamentos da criança nos aspectos afetivo e intelectual. Assim, a criança desenvolve
um pensamento simbólico e, posteriormente, um pensamento intuitivo, que irá conduzir as
operações. As operações são ações internalizadas, isto é, uma ação realizada em pensamento
acerca dos objetos simbólicos, pela representação de seu possível acontecimento e aplicação
a objetos reais recordados por imagens mentais. Nessa fase a criança ainda é um pouco
egocêntrica e, devido a ausência de esquemas conceituais e de lógica, mistura a realidade
com fantasia, tornando um pensamento lúdico, porém, como já tem consciência pessoal, ela é
capaz de perceber o mundo, mas em função de si e sem fazer a diferenciação do seu ponto de
vista do dos outros, acreditando ser o centro das relações nas quais está envolvida. Segundo
Piaget, outra característica dessa fase é o animismo, ou seja, a atribuição de vida aos
fenômenos e às coisas. A criança compreende os fenômenos da natureza com base na sua
vivência corporal. O egocentrismo intelectual desse estágio é o responsável pelo pensamento
intuitivo (PIAGET, 1967).

Já no período das operações concretas, o egocentrismo social e intelectual não se


fazem mais presentes, as intuições articuladas se transformam em operações, classificação,
ordenamento e correspondência. É possível observar também o surgimento das noções de
tempo, causalidade, conservação, entre outras. Entretanto, o pensamento ainda mantém
vínculo com o mundo real, ou seja, as operações estão ligadas às experiências concretas, não
envolvendo operações de lógica de proposições. O pensamento concreto é a representação de
uma ação possível (PIAGET, 1967).

Somente na adolescência ocorre a independência do real, surgindo o período das


operações formais. Nesse estágio o modo de raciocínio deixa de estar baseado somente em
objetos ou realidades observáveis, mas também é possível pensar em hipóteses, permitindo,
desta forma, a construção de reflexões e teorias. O pensamento torna-se então
hipotético-dedutivo e ocorre a libertação do pensamento, ou seja, a realidade torna-se
secundária frente à possibilidade (PIAGET, 1967). Nesta fase, além da lógica de proposições,
operações combinatórias e de correlação também são desenvolvidas.

2.9 FATORES QUE INFLUENCIAM O DESENVOLVIMENTO

A partir dessas etapas do desenvolvimento, Piaget adentrou ao campo dos fatores que
influenciam esse processo, elementos de nível biológico e social associados à aquisição de
conhecimento. São eles: a maturação, a experiência, a transmissão social e a equilibração ou
autorregulação (PIAGET, 1967).

A maturação se refere ao amadurecimento do sistema nervoso, ou seja, é uma


continuação do processo de desenvolvimento do indivíduo, uma condição necessária. A
experiência, por sua vez, está dividida entre experiência física, que consiste no agir sobre os
objetos para abstrair suas propriedades, e a experiência lógico-matemática, voltada para a
abstração das propriedades das ações dos indivíduos em relação aos objetos. A transmissão
social é um fator necessário, pois por meio dele a criança pode receber uma grande
quantidade de informações das mais diversas fontes, principalmente contatos educacionais e
sociais. Porém, somente a transmissão social não é suficiente, afinal, a criança só assimilará
as informações que estiverem de acordo com o seu grau de maturação e capacidade de
abstração em relação às experiências, ou seja é necessário o acordo entre todo um conjunto de
estruturas associadas ao seu nível de pensamento. Um erro do modelo tradicional de ensino
seria, segundo Piaget (1982), acreditar que a criança deva somente absorver informações já
“digeridas”, como o próprio texto fala, desconsiderando o papel da assimilação-acomodação
no processo de transmissão social. O último dos fatores seria a equilibração, que traz o
caráter não-apriorístico do desenvolvimento das estruturas mentais do indivíduo,
evidenciando que a evolução, o progresso, se dá sempre na direção de um equilíbrio, de modo
a identificar, diferenciar e integrar dados do mundo externo para o mundo interno. (PIAGET,
1967).
3. CONCLUSÃO

As contribuições piagetianas para o campo da psicologia e educação são evidentes.


Piaget mobiliza reavaliações importantes nas áreas escolar e científica ao promover, através
de sua teoria construtivista, novas formas de educar e ensinar que rompem com o modelo
clássico. O teórico elucida a necessidade de estimular a aprendizagem por conflito,
fomentando assim os processos assimilação e acomodação através de metodologias ativas
que visem a descoberta e a exploração por parte dos alunos, bem como o estímulo à trocas, a
aprendizagem cooperativa. Adotar tal postura é promover a autonomia e a independência dos
indivíduos.

Além do mais, Piaget chama a atenção para as características dos estágios do


desenvolvimento, impossíveis de serem consideradas, dado que a aprendizagem é dependente
delas. Também, cabe ao educador, tendo conhecimento de tais características gerais,
identificar diferenças individuais de cada um dos envolvidos no processo de aprendizagem.
Ainda, considerar fatores construtivistas, incluindo as atividades lúdicas como fonte de
prazer, alegria, descontração, convivência agradável, beneficia o desenvolvimento integral no
processo educacional. Todo esse entendimento da compreensão humana facilita na escolha
dos melhores métodos para o desenvolvimento e aprendizagem.

Para finalizar, em relação a educação, Piaget dizia que o indivíduo deve conduzir o
seu processo educativo e o professor deve assumir o papel de incentivador:

O primeiro receio (e para alguns, a esperança) de que se anule o


papel do mestre, em tais experiências, e que, visando ao pleno êxito
das massas, seja necessário deixar os alunos totalmente livres para
trabalhar ou brincar segundo melhor lhes aprouver. Mas é evidente
que o educador continua indispensável, a título de animador, para
criar as situações e armar os dispositivos iniciais capazes de suscitar
problemas úteis à criança, e para organizar, em seguida, contra
exemplos que levem à reflexão e obriguem ao controle das situações
demasiado apressadas: o que se deseja é que o professor deixe de ser
um conferencista e que estimule a pesquisa e o esforço, ao invés de
se contentar com a transmissão de soluções já prontas (PIAGET,
1967).
REFERÊNCIAS

ANDALÓ, Carmem. O papel do psicólogo escolar. 1984. Disponível em:


https://www.scielo.br/j/pcp/a/G3tr4Kcqc8NSq3fCmnYBqYk/?lang=pt

FERRACIOLI, L. ASPECTOS DA CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO E DA


APRENDIZAGEM NA OBRA DE PIAGET. Cat.Ens.Fís., v, v. 16, n. 2, p. 180–194, 1999.

PIAGET, Jean. Autobiografia. 1951. Disponível em:


https://www.ufrgs.br/psicoeduc/piaget/autobiografia-jean-piaget-parte1/

EVANS, Richard. Jean Piaget: o homem e suas idéias. Rio de Janeiro: Forense, 1980. Pág.
125-153.

PIAGET, Jean. A formação do símbolo na criança: Imitação, jogo e sonho, imagem e


representação. 3º ed. Rio de Janeiro: LTC, 1964.

PIAGET, J. O raciocínio na criança. Trad. Valerie Rumjanek Chaves. Rio de Janeiro:


Record, 1967.

PIAGET, J.; BÄRBEL, I. A psicologia da criança. Trad. Octavio M. Cajado. São Paulo:
Difel, 1968.

OLIVEIRA, M. et al. AS CONTRIBUIÇÕES DA TEORIA PIAGETIANA PARA O


PROCESSO DE ENSINOAPRENDIZAGEM. 2016. Disponível em:
http://www.editorarealize.com.br/editora/anais/fiped/2013/Trabalho_Comunicacao_oral_idins
crito_1040_3bbe862464859de050561c8cd0efa617.pdf

RAMOS, Edla. PIAGET SÍNTESE. 2013. Disponível em:


http://www.inf.ufsc.br/~edla.ramos/infoedu/Lages/piaget.html

LEÃO, Denise. A Teoria de Piaget. Disponível em:


http://www.sabercom.furg.br/bitstream/1/1609/1/A%20Teoria%20de%20Jean%20Piaget.pdf

SOUSA, Jociélia. et al. PIAGET E VIGOTSKI E SUAS CONTRIBUIÇÕES NA


PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM. 2015. Disponível em:
https://editorarealize.com.br/editora/anais/conedu/2015/TRABALHO_EV045_MD1_SA6_ID
3528_08092015200041.pdf

Você também pode gostar