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O Desenho Universal para a Aprendizagem (DUA) constitui uma abordagem de ensino sustentada
empiricamente que visa maximizar as oportunidades de aprendizagem para todos os alunos. Implica,
assim, o planeamento e gestão intencional e estratégica, assente na antecipação e valorização da
diversidade de alunos em sala de aula, com recurso a ambientes de aprendizagem flexíveis e centrados
no aluno. A adoção de um currículo flexível que integre opções variadas de ensino para todos os
alunos, mantendo o desafio e elevadas expetativas de aprendizagem, permite atender às necessidades
de todos os alunos, evitando o enfoque em adaptações específicas para alunos específicos. A
identificação e eliminação de barreiras do ambiente de aprendizagem que poderão condicionar a
participação e aprendizagem dos alunos é outro aspeto a considerar nesta abordagem.
O DUA assenta em três princípios orientadores da ação pedagógica (cf. figura 1), reconhecendo que a
criação de oportunidades para todos os alunos implica o desenvolvimento de práticas que permitam
múltiplos meios de envolvimento, de representação e de expressão. Os alunos diferem em termos de
interesses, motivação, forma como compreendem a informação e como participam nas situações de
aprendizagem. Neste sentido, o conhecimento da situação dos alunos nestes domínios serve de
suporte à organização do processo de ensino, equacionando estratégias diversificadas orientadas
pelos princípios subjacentes ao DUA.
Figura 1. Princípios subjacentes ao Desenho Universal para a Aprendizagem (adaptado de CAST, 2018)
A planificação de aulas acessíveis a todos os alunos implica considerar (Meyer, Rose, & Gordon, 2014):
1) múltiplas opções de envolvimento e motivação dos alunos (princípio 1), através da identificação de
interesses e apoio à manutenção e persistência nos objetivos e a autorregulação dos comportamentos
de aprendizagem. Por exemplo, estabelecer relações relevantes com os objetivos de aprendizagem e
experiências do quotidiano dos alunos, constituir grupos flexíveis de alunos, organizar espaços de
aprendizagem com níveis de desafio diferenciados.
2) múltiplas opções de representação (princípio 2), com recurso a meios variados de abordagem dos
conteúdos, que facilitem o acesso, a descodificação e a compreensão dos conceitos. Por exemplo,
antecipar conceitos chave para garantir conhecimentos prévios para as aprendizagens subsequentes,
explicitar previamente vocabulário relevante, disponibilizar material escrito com níveis de
complexidade variados para acomodar diferenças no domínio da competência de descodificação.
3) múltiplas opções de expressão e ação (princípio 3), que contemplem alternativas para os alunos
participarem e demonstrarem as aprendizagens realizadas. As oportunidades criadas para os alunos
expressarem as suas aprendizagens revelam-se essenciais para a monitorização dos progressos,
regulação e (re)orientação da ação pedagógica. Por exemplo, uso de listas de verificação das tarefas
para facilitar a organização e conclusão das mesmas, modelagem e instrução direta do
comportamento e desempenho esperados, feedback contínuo, específico e relevante.
A definição de objetivos da(s) aula(s) deve permitir identificar com clareza as competências a
aprender, tendo por referência o Perfil dos Alunos à Saída da Escolaridade Obrigatória, as
Aprendizagens Essenciais e outros documentos orientadores. Os objetivos traduzem de forma clara as
expetativas em relação às aprendizagens dos alunos e são orientadores das etapas subsequentes da
planificação. Tendo em vista o envolvimento dos alunos e a eliminação de barreiras à aprendizagem,
os objetivos devem ser expressos de forma flexível, considerando múltiplas opções para a sua
consecução.
Princípios orientadores da formulação de objetivos com base no DUA
1. Definição de expetativas de aprendizagem de forma abrangente e flexível, possibilitando
múltiplas opções de desempenho e expressão. Desta forma, o professor pode planear o ambiente
de aprendizagem recorrendo a métodos variados.
2. Estabelecimento de objetivos que integrem as três redes de aprendizagem (afetiva,
reconhecimento e estratégica), alinhados com as competências consignadas no Perfil dos Alunos
à Saída da Escolaridade Obrigatória.
3. Integração de desafios ajustados a todos os alunos, tendo por referência os recursos dos alunos
e exigências associadas ao cumprimento do objetivo.
4. Promoção do envolvimento ativo dos alunos no estabelecimento e monitorização dos objetivos.
(adaptado de Meyer, Rose, & Gordon, 2014)
A título de exemplo, apresentam-se duas situações, que correspondem a objetivos distintos para uma
aula da disciplina de Português do 4.º ano de escolaridade, com implicações na planificação dos
métodos, materiais e avaliação das aprendizagens.
Situação 1
Situação 2
Em ambas as situações, o objetivo final prende-se com a concretização de um resumo da obra “A Maior
Flor do Mundo”, de José Saramago. Na situação 1, o objetivo circunscreve a ação do aluno à escrita de
1
Obra recomendada para Educação Literária (Português, 4.º ano)
2
Obra recomendada para Educação Literária (Português, 4.º ano)
um resumo que lhe permita demonstrar a compreensão da obra. Se o enfoque é trabalhar
competências de escrita, então o texto produzido pelo aluno é a forma de expressar o conhecimento
traduzido neste objetivo. O professor pode recorrer a diferentes suportes e permitir ao aluno
desenvolver as suas ideias, num primeiro momento, com recurso a outros meios (e.g., imagens,
ferramentas digitais). A situação 2 traduz um objetivo que permite múltiplas opções de expressão do
conhecimento por parte do aluno. Trata-se de um objetivo eficaz quando se pretende que o aluno
demonstre a compreensão da obra estudada, através de meios variados (e.g., escrita, vídeo, imagens,
esquemas, dramatizações).
Os materiais e recursos usados na aula necessitam de ser flexíveis para oferecer alternativas variadas
e reduzir as barreiras à aprendizagem e participação. Neste sentido, a escolha dos conteúdos, a
integração de níveis diferenciados de suporte e de desafio, bem como a oferta de opções para manter
o interesse e motivação dos alunos são aspetos a considerar na seleção dos materiais. Não se trata de
escolher o “material ideal”, mas de disponibilizar várias opções que permitam atender às necessidades
de cada aluno.
CAST (2018). Universal design for learning guidelines version 2.2 [graphic organizer]. Wakefield, MA:
Author.
Meyer, A., Rose, D. H., & Gordon, D. (2014). Universal Design for Learning: theory and practice.
Wakefield, MA: CAST Professional Publishing.