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Todos os direitos reservados e protegidos pela Lei 9.610 de 19/02/1998.
É proibida a reprodução desta obra, mesmo parcial, por qualquer processo, sem prévia
autorização, por escrito, do autor e da Editora.
Editor: Rubens Prates
Revisão gramatical: Marta Almeida de Sá
Capa: Victor Bittow
Editoração eletrônica: Camila Kuwabata e Carolina Kuwabata
ISBN: 978-85-7522-659-9
Histórico de edições impressas:
Outubro/2017 Quinta reimpressão
Agosto/2016 Quarta reimpressão
Fevereiro/2016 Terceira reimpressão
Fevereiro/2015 Segunda reimpressão
Junho/2014 Primeira reimpressão
Outubro/2011 Primeira edição
Novatec Editora Ltda.
Rua Luís Antônio dos Santos 110
02460-000 – São Paulo, SP – Brasil
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Para meu lho, Bernardo Bonamigo Linchen.
Newton Linchen
Agradecimentos
Prefácio
Capítulo 1 • Quem ganha quando você perde?
1.1 Topos e fundos
1.2 O case que você di cilmente verá no MBA de nanças
1.2.1 Do outro lado
1.2.2 Não há vilões e vítimas
1.3 Siga o dinheiro
1.4 O mercado é cruel?
Newton Linchen
Gostaria de agradecer a todos aqueles que tornaram possível este livro, e a
todos os que me ensinaram a ser um ponto de interrogação constante quando
se trata de investimentos, trading e mercado de capitais: Victor Niederho er,
Laurel Kenner, Larry Williams, James Altucher, Toby Crabel, Vitaly
Katsenelson, Charles Ellis, entre tantos outros que de uma forma ou de outra
acrescentaram seu conhecimento e sua experiência. Agradeço a Deus e à minha
família: Maria Luiza Linchen, minha mãe e meus irmãos Dayse, Oliver, Arthur
e Lorean, todos foram importantes no meu crescimento como pessoa e como
pro ssional. A Lavoisier Paulo Linchen, in memoriam. Um abraço especial ao
amigo Marcos Boschetti, CEO da Nelogica, por ter autorizado a reprodução de
imagens do software Pro t Chart pela enriquecedora troca de ideias sobre o
mercado ao longo dos anos. Agradeço também ao doutor José Luiz Bonamigo
Filho, que proporcionou o encontro que mais tarde resultaria neste livro.
Tarcísio Peres
A Deus, à minha família e às pessoas que nos apoiaram neste livro. À minha
esposa por seu apoio e incentivo em nossos investimentos, projetos e sonhos. À
Joana de Souza, mãe virtuosa de quem me orgulho tanto, ainda que ignore
completamente os efeitos da queda do Ibovespa, ache que Dow Jones é algum
amigo meu e que Nasdaq é algum curso que faço. Ao João Tarciso, sempre vivo
em minhas lembranças. Ao João Tarciso, sempre vivo em minhas lembranças.
Ao Mauro Péres pelo incentivo e ao Bonamigo, sem o qual este projeto não
teria começado. A todos os que leram as primeiras versões dos capítulos e
teceram suas críticas e sugestões. Em especial aos amigos: Gilmar Ferreira,
defensor entusiasta das letras do tesouro direto, Jurandir Ferreira por suas
pinceladas e discussões econômicas e Leonardo Yamamoto por suas re exões
sobre pontos importantes do texto. Ao nosso editor Rubens Prates por ter nos
guiado com paciência e agilidade no processo de edição. A Niederho er, Larry
Williams, Charles Ellis e demais autores que nos autorizaram a reproduzir
algumas citações de seus clássicos.
Prefácio
Quando você perde, ganha quem estava no outro lado da operação. Na Bolsa
existem duas polaridades envolvidas na realização de um negócio: o comprador
e o vendedor. Se houve trade é porque alguém comprou e alguém vendeu. Se
você perdeu, ganhou quem estava “contra” você.
Figura 1.8 – Cenário do período que acabou gerando o topo histórico de PETR4.
Durante os dias que se seguiram desde a publicação da notícia e o topo
histórico de PETR4, observamos as operações executadas.
Olhando no book (ou livro de ofertas, onde são colocadas todas as ofertas de
compra e de venda) e na ferramenta Times and Trades (na qual se registram os
negócios realizados), percebia-se que a corretora vendia praticamente para
todas as ofertas de compra que apareciam. Após a entrada de novas ordens de
compra no book é possível observar um fracionamento de ordens em lotes de
cem, de 200, de 300, de 500 e eventualmente até mais de mil ações que
acabaram minimizando o impacto que uma posição grande teria no mercado,
caso fosse vendida massivamente. Apenas acompanhando o book, não é
possível discernir entre operações humanas e automatizadas, mas tipicamente
algoritmos de TWAP5 e VWAP conseguem realizar operações de
fracionamento de maneira rápida e coordenada. Nesse cenário é possível
vender uma posição sem afetar a contínua alta do preço. Foi possível observar
ainda que quando havia sinal de que a liquidez estava diminuindo, apareciam
ordens cada vez menores dentro dessa escala e, como consequência, não havia
pressão de preços para baixo. Em alguns casos, a corretora gura nas duas
pontas da negociação. Novamente, não é possível discernir entre um conjunto
de operações coordenadas e operações ao acaso e coincidentes – a corretora
apresenta muitos clientes institucionais e privados –, mas o efeito disso no
book é que o preço se mantinha sem cair, estendendo assim o período propício
às vendas. Quando o uxo de ordens de compra das outras corretoras
aumentava, havia também um aumento do tamanho das ordens de venda. A
gura 1.9 exempli ca as operações executadas via corretora do Credit Suisse no
dia da notícia, e nela se observam diversos tipos de lotes negociados.
É
É assim que se vende topo.
1 Fonte: http://www.bloomberg.com/apps/news?pid=newsarchive&sid=aglER9IsisrQ
2 No jargão do mercado, “tubarão” é o grande player – indivíduo ou instituição com capital su ciente
para mover o mercado num dado contexto.
3 No jogo de pôquer, as chas azuis (blue chips) são as mais valiosas. O termo é usado no mercado
nanceiro para designar ações de empresas consideradas de primeira linha: sólidas, com comprovada
lucratividade, principalmente em longo prazo.
4 O grau de investimento é uma classi cação dada pelas agências de rating (exemplos: Fitch Ratings, a
Moody’s e a Standard & Poor’s) a países com mais possibilidades de honrar seus compromissos.
5 TWAP, VWAP – Médias de preço relacionado a tempo (TWAP) ou volume (VWAP). Negociar em
TWAP signi ca não pagar muito além do preço médio negociado naquele período (por exemplo,
durante 15 minutos). O mesmo para VWAP, só que nesse caso a grandeza de valor é o volume.
6 Conferir em: e de nitive guide to futures trading, Larry Williams.
7 Ver o livro de Noble Drakoln, Winning the trading game. Why 95% of traders lose and what you must do
to win.
8 Investidor ativo: ao contrário do investidor “passivo”, que permanece posicionado durante longo
período de tempo, este tipo de investidor é caracterizado por gerenciar suas aplicações mais
ativamente, entrando e saindo de posições a cada mês ou grupo de meses.
9 Stop-Loss ou simplesmente “stop” é um tipo de ordem utilizada para preservação do capital, não
permitindo que a posição continue negativa além de certo ponto. É um limite de perda con gurado
pelo próprio trader ou investidor. Pode ser automática (ordem de stop-loss) ou apenas uma referência
do ponto em que o trader quer encerrar a operação, caso negativa.
CAPÍTULO 2
Você já visitou a cozinha?
“Aprendam a viver com os con itos de interesses.” (Frase dos advogados do Goldman
Sachs aos sócios da empresa.)
Charles Ellis, em e Partnership: e Making of Goldman Sachs.
Desse modo, sempre que você liga para o seu corretor e pergunta “Você acha
que é um bom momento para comprar ações?”, ele pode lhe dar um panorama do
mercado ou fatos, como “a bolsa americana está caindo”, “nossa bolsa está
subindo x%”, e deixá-lo tirar suas conclusões. Se ele zer mais do que isso –
tirar qualquer conclusão dos acontecimentos correntes e administrar sua
carteira –, ele desviou-se do escopo principal de sua pro ssão que é o de ser um
mediador.
Para dar uma ideia dos prejuízos que um agente autônomo que conduz mal
sua atividade pro ssional pode causar, lê-se no relatório de 2008 do
ombudsman da Bovespa:
“Agentes Autônomos
A maioria das reclamações com pleito de ressarcimento de prejuízos teve origem na
atuação de agentes autônomos de investimento, que atuaram como
administradores de carteira, tomando decisões de operações que não foram
ordenadas pelos clientes.
Como eles são normalmente remunerados tendo por base um percentual da
corretagem gerada, a tentação de alavancar posições é muito grande, sendo muito
frequentes as situações em que os agentes tentam convencer o cliente das vantagens
dessa estratégia. Raramente dão a mesma ênfase nos riscos de prejuízo na hipótese
de queda dos preços das ações.”
Quando o cliente exige reparação do prejuízo causado pelo agente autônomo,
pode ocorrer de a própria Bolsa, na gura do seu ombudsman, intermediar o
acordo, sem que chegue às vias judiciais:
“Acordos Formais
Em 2008, os acordos formais foram em maior número e envolveram valores
superiores aos dos anos anteriores, (...).
Com uma única exceção, os prejuízos que geraram as reclamações foram
decorrentes da atuação de Agentes Autônomos de Investimento.
Foram rmados 10 acordos, no montante de R$ 1.427.000,00, sendo R$
1.112.000,00 pagos em espécie e R$ 315 mil com reposição de ações.
A maioria das reclamações que deram origem a esses acordos ocorreu no último
trimestre, o que demandou esforços redobrados do Ombudsman nessas mediações.
Algumas ainda estão em curso na data deste relatório.
Como a condição essencial para se chegar a um acordo é a transigência das partes,
houve diversos percentuais de ressarcimento de prejuízos, oscilando entre 50% e
80%.”
Somente no primeiro semestre de 2011 a CVM abriu 505 processos por
queixas de investidores. A gura 2.1 apresenta o ranking com os processos
abertos, por instituição. Estes processos foram provenientes de um total mais
de 15 mil reclamações.
O maior volume de reclamações (35,64%) trata da atuação de instituições
participantes do sistema de distribuição de valores mobiliários em operações no
mercado. Nesse grupo, 66% eram problemas na negociação de ativos,
principalmente sobre ordens não cumpridas ou alegadamente realizadas sem a
anuência de clientes. Desse percentual, em 12% ouve menção ao envolvimento de
agentes autônomos.
Valor online1
Exemplo 2
“APRECIAÇÃO DE PROPOSTA DE TERMO DE COMPROMISSO – PROC.
RJ2008/3931 – BANCO MORGAN STANLEY S.A.
Reg. nº 6106/08 Relator: SGE
O presente processo teve como origem as declarações do Sr. Carlos Guilherme
Steagall Gertsenchtein, Vice-Presidente do Banco Morgan Stanley S.A., publicadas
pela Agência de Notícias Broadcast, que faziam referências à oferta pública de
distribuição primária de ações ordinárias da Le Lis Blanc Deux Comércio e
Confecções de Roupas S.A. (“Companhia”) durante o período de silêncio
(possíveis infrações ao art. 48, IV e art. 49 da Instrução 400/03). Ressalte-se que o
Banco Morgan Stanley S.A. era um dos coordenadores da oferta pública da
Companhia. (...)
Posteriormente, o Banco Morgan Stanley S.A. apresentou proposta de Termo de
Compromisso, se comprometendo a: (i) observar as orientações emanadas da
CVM com a nalidade de assegurar a tempestiva divulgação de informações no
âmbito de eventuais ofertas públicas de valores mobiliários das quais participe ou
venha a participar, nos termos da legislação aplicável emanada da CVM; e (ii)
pagar à CVM o montante de R$ 100 mil.
Quanto à proposta apresentada, o Comitê considerou que, além de terem sido
preenchidos os requisitos legais, a proposta atende ao escopo do instituto do
Termo de Compromisso, mostrando-se conveniente e oportuna sua aceitação, por
contemplar obrigação tida como bastante para inibir práticas da mesma natureza
pelos participantes do mercado, em especial aqueles que tomam parte em uma
oferta pública. No que tange ao compromisso de observar as regras emanadas pela
CVM acerca da matéria, o Comitê entende que se a gura desnecessária, vez que se
cuida de obrigação a qual o proponente já está impelido a cumprir,
independentemente da celebração do ajuste em tela.
O Colegiado deliberou pela aceitação da proposta de celebração de Termo de
Compromisso apresentada pelo Banco Morgan Stanley S.A.”
Exemplo 3
“APRECIAÇÃO DE NOVA PROPOSTA DE TERMO DE COMPROMISSO –
PAS 22/2006 – EMBRAER
Reg. nº 6152/08 Relator: DEM
Trata-se de apreciação de nova proposta de celebração de Termo de Compromisso
apresentada por Credit Suisse International (atual denominação de Credit Suisse
First Boston International), acusado no âmbito do PAS 22/2006 de ter se utilizado
de informação relevante ainda não divulgada ao mercado (§ 4º do art. 155 da Lei
6404/76 e § 1º do art. 13 da Instrução 358/02).
Em reunião realizada em 12.08.08, o Colegiado rejeitou a proposta anteriormente
apresentada, acompanhando o parecer do Comitê de Termo de Compromisso.
Posteriormente, o proponente apresentou nova proposta em que se propõe a pagar
à CVM o valor de R$ 19,2 milhões, em duas parcelas.
Durante a discussão do assunto, a Procuradoria Federal Especializada concluiu pela
inexistência de óbice legal para análise acerca da conveniência e oportunidade na
celebração do compromisso ora proposto, nos termos do que dispõe o art. 9° da
Deliberação 390/01. Os três membros do Comitê de Termo de Compromisso
presentes à reunião, Roberto Tadeu Antunes Fernandes, Elizabeth Lopes Rios
Machado e José Carlos Bezerra da Silva, também se manifestaram pela aceitação da
nova proposta.”
Exemplo 4
“APRECIAÇÃO DE PROPOSTA DE TERMO DE COMPROMISSO – PAS
RJ2009/0485 – OGX PETRÓLEO E GÁS PARTICIPAÇÕES S.A.
Reg. nº 6693/09 Relator: SGE
Trata-se de apreciação de propostas de Termos de Compromisso apresentadas por
Eike Fuhrken Batista, Banco de Investimento Credit Suisse Brasil S.A. e José
Olympio da Veiga Pereira, no âmbito do PAS RJ2009/0485. Os proponentes
foram acusados, o primeiro na qualidade de controlador indireto e presidente do
conselho de administração da OGX Petróleo e Gás Participações S.A., o segundo
na de banco coordenador da oferta pública e o terceiro na de diretor do banco
coordenador de divulgar na mídia declarações sobre a oferta pública de
distribuição primária de ações ordinárias de emissão da OGX previamente à
publicação do Anúncio de Encerramento da Distribuição (infração ao inciso IV do
art. 48 da Instrução 400/03).
Devidamente intimados, todos os acusados apresentaram suas defesas, bem como
propostas de celebração de termos de compromisso em que, após negociações com
o Comitê, se comprometem a:
Sr. Eike Fuhrken Batista: pagar à CVM o montante de R$ 100 mil;
Banco de Investimento Credit Suisse Brasil S.A. e o Sr. José Olympio da Veiga
Pereira: pagar à CVM individualmente o montante de R$ 50 mil cada um,
totalizando R$ 100 mil.
Segundo o Comitê, a proposta apresentada pelo Sr. Eike Fuhrken Batista
contempla obrigação adequada para inibir a prática de condutas semelhantes pelo
próprio proponente e por terceiros que se encontrem em situação similar,
revelando-se conveniente e oportuna sua aceitação.
Em relação à proposta apresentada em conjunto pelo Credit Suisse e seu Diretor, o
Comitê entendeu que ela é inadequada para atender à nalidade do instituto do
Termo de Compromisso. Em sua opinião, a proposta deveria contemplar
pagamento à CVM do valor total de R$ 150 mil, sendo R$ 100 mil para o Credit
Suisse (coordenador da oferta pública) e R$ 50 mil para o Sr. José Olympio da
Veiga Pereira. Embora tenha admitido que a grande maioria de precedentes de
Termos de Compromisso envolvendo supostas infrações ao período de silêncio
aponta para o valor ora ofertado pelos proponentes (R$ 50 mil por proponente), o
Comitê ressaltou que tais precedentes se referem a fatos ocorridos em 2005 e 2006.
Segundo o Comitê, em decisão recente (termo de compromisso celebrado no
âmbito do PAS RJ2008/3931 e apreciado na reunião de 06.01.09, o Colegiado
aceitou a celebração de termo de compromisso, envolvendo infração ao inciso IV
do art. 48, que previa o pagamento de valores mais elevados, sob a motivação de
que os participantes do mercado, em especial as instituições intermediárias, já
deveriam estar mais familiarizados com a regra infringida). Na opinião do Comitê,
é esse último precedente, semelhante ao caso ora em análise, que serve de
balizamento para a apreciação da presente proposta de termo de compromisso. Por
essas razões, o Comitê entendeu que a proposta apresentada em conjunto pelo
Banco de Investimento Credit Suisse Brasil S.A. e seu Diretor José Olympio da
Veiga Pereira deveria ser rejeitada.
O Colegiado, acompanhando o entendimento consubstanciado no parecer do
Comitê, deliberou:
a rejeição da proposta apresentada em conjunto pelo Banco de Investimento
Credit Suisse Brasil S.A. e seu Diretor José Olympio da Veiga Pereira; e
a aceitação da proposta de Termo de Compromisso apresentada pelo Sr. Eike
Fuhrken Batista.
Em sua decisão, o Colegiado ressaltou que a redação do Termo de Compromisso
deverá quali car o pagamento a ser efetuado como “condição para celebração do
termo de compromisso”. O Colegiado xou, ainda, o prazo de dez dias, a contar
da publicação do Termo no Diário O cial da União, para o cumprimento da
obrigação pecuniária assumida, e o prazo de trinta dias para a assinatura do Termo,
contado da comunicação da presente decisão ao proponente. A Superintendência
Administrativo-Financeira – SAD – foi designada como responsável por atestar o
cumprimento da obrigação pecuniária assumida pelo proponente.”
Exemplo 5
“APRECIAÇÃO DE PROPOSTA DE TERMO DE COMPROMISSO – PAS
SP2008/0040 – PAX CVC LTDA. E OUTROS
Reg. nº 6769/09 Relator: SGE
Trata-se de apreciação de proposta de Termo de Compromisso apresentada por Pax
Corretora de Valores e Câmbio Ltda., Geraldo de Lima Gadelha Filho, Renda
Corretora de Mercadorias S/C Ltda., Francisco Deusmar de Queirós e Ielton
Barreto de Oliveira, no âmbito do PAS SP2008/0040.
Os proponentes foram acusados de praticar as seguintes infrações:
– Pax Corretora de Valores e Câmbio Ltda., de permitir o exercício das atividades
de mediação ou corretagem por pessoas não autorizadas pela CVM para esse m e
de ter utilizado ou contratado pessoas não integrantes do sistema de distribuição
de valores mobiliários em atividades próprias desse sistema (infração ao item II da
Deliberação 372/01, ao art. 1º da Instrução 348/01 e ao art. 13, I, “c”, da
Instrução 387/03);
– Geraldo de Lima Gadelha Filho, na qualidade de diretor responsável da Pax, de
ter negligenciado o dever de diligência (infração ao item II da Deliberação 372/01,
ao art. 1º da Instrução 348/01 e ao art. 13, I, “c”, da Instrução 387/03);
– Renda Corretora de Mercadorias S/C Ltda. e seus sócios-gerentes Francisco
Deusmar de Queirós e Ielton Barreto de Oliveira, de terem exercido atividade de
mediação ou corretagem de operações com valores mobiliários sem a autorização
prévia da CVM (infração ao art. 16, III, da Lei nº 6385/76), e ainda de terem
exercido pro ssionalmente a atividade de agente autônomo de investimento sem
prévia autorização da CVM (infração ao art. 4º da Instrução 355/01).
Devidamente intimados, todos os acusados apresentaram suas defesas, bem como
proposta conjunta de celebração de termo de compromisso. Após negociações com
o Comitê, os proponentes aditaram sua proposta no sentido de pagar à CVM, em
conjunto, a quantia de R$ 430 mil.
O Comitê observou que, não obstante a proposta diferir daquela sugerida por
ocasião da fase de negociação, sua aceitação é conveniente e oportuna, concluindo
que o montante proposto mostra-se su ciente e adequado para inibir condutas
assemelhadas, de acordo com a nalidade do instituto do termo de compromisso.”
Exemplo 6
“APRECIAÇÃO DE PROPOSTA DE TERMO DE COMPROMISSO – PAS
RJ2008/11749 – KPMG AUDITORES INDEPENDENTES
Reg. nº 6657/09 Relator: SGE
Trata-se de apreciação de proposta de celebração de Termo de Compromisso
apresentada por KPMG Auditores Independentes e seu sócio e responsável técnico
Giuseppe Masi, acusados, no âmbito do Termo de Acusação instaurado
Superintendência de Normas Contábeis e de Auditoria – SNC –, de emissão de
parecer de auditoria sem ressalva para as demonstrações contábeis especiais da
Wtorre Empreendimentos Imobiliários S/A de 31.07.06, utilizadas como base para
o registro inicial de companhia aberta (inciso I do art. 35 da instrução 308/99).
Após negociações levadas a efeito pelo Comitê, a KPMG Auditores Independentes
e o Sr. Giuseppe Masi propuseram pagar à CVM, em conjunto, o montante de R$
400 mil.
Na opinião do Comitê, a proposta é adequada para inibir a prática de condutas
assemelhadas, servindo de orientação aos demais participantes do mercado de
valores mobiliários, em especial aos auditores independentes.”
Exemplo 7
“APRECIAÇÃO DE PROPOSTA DE TERMO DE COMPROMISSO – PAS
RJ2006/6235 – BANCO SAFRA DE INVESTIMENTO S.A.
Reg. nº 5406/06 Relator: DPS
Trata-se de processo administrativo sancionador que tem por objeto a acusação de
aplicação automática de saldos de contas correntes de clientes do Banco Safra S.A.
em fundo de investimento administrado pelo Banco Safra de Investimentos S.A.,
com remuneração reduzida por cobrança de taxa de administração variável.
Os indiciados Banco Safra de Investimentos S.A., Banco Safra S.A. e seus Diretores
Ezra Safra e Luciane Ribeiro apresentaram proposta de celebração de Termo de
Compromisso em que se obrigam a pagar aos clientes cujos recursos foram
aplicados em tal fundo a remuneração média ponderada paga pelos outros fundos
de aplicação automática com características semelhantes que estavam disponíveis
no mercado no mesmo período, o que equivalerá a um pagamento de cerca de R$
28 milhões.
Além desse pagamento aos cotistas, o Banco Safra de Investimentos S.A. pagará à
CVM a quantia de R$ 1,5 milhão, tendo ainda se obrigado a não mais constituir
fundos de investimento similares no futuro.
O Diretor Pedro Marcilio a rmou que considera que a proposta atende
plenamente ao interesse público e é uma resposta adequada, por parte dos
acusados, à atuação repressora da CVM. Assim, os cotistas receberão a
remuneração que teriam em fundos similares ofertados no mercado pelo mesmo
período coberto pela acusação, e o pagamento à CVM será feito em um montante
adequado para desestimular condutas futuras da mesma natureza, seja dos próprios
acusados, seja de terceiros.”
A maioria dos investidores não sabe onde procurar informações desse tipo.
No entanto, elas estão à disposição do público no site da CVM. Quando
estiver em dúvida quanto à integridade ou conduta da sua corretora ou do seu
banco, vale a pena checar os fatos.
Além disso, a CVM constitui um canal e caz para reclamações, sugestões e
monitoramento dos participantes do mercado.
Ao estudar esses aspectos do mercado, o investidor ou trader percebe que não
se trata apenas de escolher uma ação para comprar, existe toda uma ecologia do
mercado que envolve o seu trade e pode torná-lo uma experiência desagradável
sem que se tenha um controle direto sobre tais efeitos.
1 Fonte: http://www.valor.com.br/brasil/993580/cvm-abriu-505-processos-por-queixas-de-investidores
2 Vide o endereço: http://www.cvm.gov.br/port/descol/respdecis.asp?File=7129-0.HTM
3 Vide o endereço: www.cvm.gov.br, (link “decisões do colegiado”).
4 Fonte: http://veja.abril.com.br/blog/radar-on-line/economia/credit-suisse-e-multado-em-192-milhoes-de-
reais-pela-cvm/.
5 Fonte: http://veja.abril.com.br/blog/radar-on-line/economia/cvm-multa-eike-por-falar-demais/.
CAPÍTULO 3
Se você acha o conhecimento caro, experimente a ignorância
“Não vá além da sua zona de competência porque fora desta zona você pode se tornar
emocional, e estar emocional nunca é bom para os seus investimentos.”
Charles Ellis, em Winning the loser’s game.
Caso nos fosse solicitado de nir com apenas uma palavra o melhor meio de
alcançar retornos no mercado de capitais, esta palavra seria assimetria.
A assimetria pode ser entendida como uma relação de desigualdade entre dois
polos; um lado tendo características a mais ou a menos do que o outro e essas
características correspondendo a vantagens ou desvantagens. Na Bolsa, sempre
que houver lucro, prejuízo, resultados acima ou abaixo da média,
conhecimento ou ignorância de fatores importantes, podemos a rmar que
houve assimetria.
Quando pensamos em um objeto assimétrico, logo imaginamos algo com um
lado desproporcional ao outro. Essa visualização representa bem as relações
entre os players na arena de investimentos, em que, num dado momento, um
lado efetivamente tem mais recursos do que o outro. Os principais pontos de
assimetria no mercado estão relacionados com:
• Assimetria de plataforma:
• Plataforma de dados – Software para acesso aos dados do mercado com
cotações e grá cos;
• Plataforma de negociação – Eletrônica ou via telefone;
• Serviços personalizados – Alavancagem, desconto de corretagem etc.
• Assimetria de capital:
• “Staying power” – Capacidade de executar suas estratégias com o melhor
aproveitamento em razão da maior capitalização ou do acesso a recursos.
• Assimetria de informações:
• Acesso à pesquisa sobre empresas e mercados, bem como a informações
relevantes para a estratégia operacional.
Não seria exagero a rmar que o investidor individual, seja ele iniciante ou
não, está em desvantagem em quase todos esses quesitos. Veremos, logo em
seguida, como isso contribui para seu prejuízo nas operações de
trading/investimento que ele realiza.
4.5.6 Deception
Suponha que esteja lidando com um adversário que tenha as mesmas
qualidades estratégicas que você: acesso às mesmas informações, capacidade de
análise do mercado semelhante, su ciente poder de fogo, em suma, é um
adversário à altura. Como se poderá vencê-lo?
Pelo deception, você o engana.
Tomada literalmente, deception é “engano, engodo”, mas tem qualidades
especiais. Tem a ver com camu agem, fazer o outro acreditar em algo, criar
uma realidade ilusória etc.
Niederho er nos dá o exemplo de um general da Guerra Civil Americana
que solicitava abertamente informações sobre a melhor rota para um lugar
especí co, mandava preparar mapas, começava a construção de estradas para
que as tropas pudessem se movimentar – e, quando os boatos a respeito de suas
intenções já tinham se espalhado o su ciente, ele marchava calmamente na
direção oposta.
Jesse Livermore – considerado um dos maiores traders de todos os tempos –
cita em sua biogra a o exemplo de dois traders que se conheciam e se
respeitavam mutuamente por suas diversas façanhas na especulação com ações.
Certo dia, ao encontrarem-se na rua, um deles comenta “você precisa vender as
ações da empresa X” e arremata com um piscar de olhos “certamente vão cair uns
30%!”. (Nos dias e nas semanas seguintes, o preço da ação subiu disparado.)
Ao encontrarem-se novamente, um mês depois, aquele que deu a dica tentou
atravessar a rua, ngindo não ter visto o colega. Mas ele atravessou a rua
também e o abordou:
– Queria agradecer a dica que você me deu.
O primeiro retruca:
– Dica? Que dica? Eu não lhe dei dica nenhuma!
– Deu sim, você me aconselhou a vender a ação X... Ganhei bastante
dinheiro naquela operação.
Ele cou estupefato:
– O que você fez?
– Eu comprei!
Neste ponto, o que havia dado a sugestão sorriu e disse:
– Se eu tivesse metade da sua inteligência, seria um trader muito melhor!
O mercado é cheio de ocorrências de deception, e muitas de suas fórmulas
vêm descritas no livro atribuído a Livermore. Uma das mais interessantes
armadilhas é o chamado corner, no qual um ou mais participantes do mercado
são prensados (squeezed).
“Mas o livro foi escrito em 1923! Haveria alguma utilidade nos dias de hoje?”
Você pode estar se perguntando. Se analisarmos em retrospecto, não há nada
de novo no mercado de ações... No século passado já se fazia o mesmo...
Observe o caso relativamente recente (outubro de 2008) de short squeeze que
ocorreu no mercado europeu:
“‘Eu tenho gestores de fundos hedge literalmente em lágrimas no telefone’, disse
um analista baseado em Londres ontem. Outros disseram que a revelação feita pela
Porsche foi como ‘uma bomba nuclear explodindo na nossa cara’, descrevendo as
perdas resultantes como ‘um banho de sangue’. Nós sabíamos que o preço iria
disparar, aumentando a exposição de muitos hedge funds – eles estariam
oferecendo suas lhas em troca das ações, só para sair do aperto.”
Esse é um parágrafo da matéria do Telegraph8 sobre como alguns dos maiores
hedge funds do mundo tiveram prejuízos estratosféricos em razão de posições
de venda a descoberto nas ações da Volkswagen. Eis o que ocorreu: no auge da
crise (2008), foram proibidas as vendas a descoberto em ações de bancos na
Europa – então os fundos hedge viram a oportunidade de vender as ações da
VW, que acreditavam estarem sobrevalorizadas (overvalued). Abriram posições
de venda a descoberto no valor de bilhões de euros.
Então, a Porsche, numa tarde de domingo, publicou que silenciosamente
havia aumentado sua participação na VW de 35% para um total de 75%.
Somando essa participação da Porsche com a participação do estado alemão da
Baixa Saxônia na ordem de 20% nas ações da VW, restavam apenas 5% de
ações livres (free oat), disponíveis para os hedge funds comprarem e cobrirem
sua posição de venda a descoberto, que era superior a 10% do total de ações da
VW. Em suma: eles precisavam de mais ações para cobrir sua operação do que
as que estavam disponíveis no mercado.
Então ocorreu o squeeze (literalmente: aperto). As ações da VW que, valiam
cerca de 200 euros, subiram para 1.200 euros em poucos dias... E a Porsche
lucrou alguns bilhões de euros no processo!
Quando se trata de deception, não há uma separação de nós/eles entre
tubarões e sardinhas. É literalmente cada um por si e a Bolsa por todos...
Lucro, a nal de contas, pode se soletrar:
A.S.S.I.M.E.T.R.I.A.
1 Para simpli car a explicação, não estamos computando taxa de liquidação e custódia.
2 Mais detalhes em: http://en.wikipedia.org/wiki/Black_Wednesday e
http://en.wikipedia.org/wiki/George_Soros
3 Trading for a living, de Alexander Elder (traduzido no Brasil como Como se transformar em um operador
e investidor de sucesso).
4 Estimativas de Charles Ellis, em Winning the loser’s game.
5 Por mais incrível que pareça, esta é uma história verídica. O cozinheiro Rudy Stanish cou milionário
( e partnership – e making of Goldman Sachs, Charles Ellis).
6 Fonte: Larry Williams, em e right stock at the right time – prospering in the coming good years.
7 Fonte: http://economia.estadao.com.br/noticias/negocios+setor- nanceiro,uso-de-informacao-privilegiada-
vira-alvo-central-de-investigacoes-da-cvm,33546,0.htm.
8 Fonte: http://www.telegraph.co.uk/ nance/newsbysector/transport/3281537/Porsche-and-VW-share-row-
how-Germany-got-revenge-on-the-hedge-fund-locusts.html
CAPÍTULO 5
Qual é a sua estratégia operacional?
Figura 5.1 – DJI, grá co mensal desde 1929. Fonte: Pro t Chart.
Como a abordagem preferida dos fundamentalistas é a de “comprar e
segurar”, perguntamos: você estaria confortável em investir em uma ação ou
carteira de ações... e ter de esperar 19 anos até elas darem lucro? Pois foi o que
aconteceu do período de 1962 a 1981. O índice de mercado (Dow Jones
Industrial Average) oscilando para cima e para baixo ao longo de um eixo
horizontal. Ganhava-se num período, perdia-se no seguinte, ganhava-se de
novo, perdia-se de novo... E o mercado só foi sair dessa congestão a partir de
1982, dando origem ao bull market ou mercado de alta, que durou, segundo
Katsenelson, até o ano 2000.
Situação semelhante ocorreu também de 1935 a 1949, com os preços
oscilando de forma horizontal durante 14 anos.
Vitaly tem uma visão diferente da de Victor e Laurel, e inclui o índice P/L
em seus cálculos para estimar a chegada de um range-bound market. Ele
realmente acredita que, quando as ações que compõe os índices norte-
americanos cam caras demais, o mercado tenta corrigir essa anomalia...
Oscilando sem sair do lugar durante vários anos. Talvez ambos (Vitaly e
Victor) estejam olhando para o mesmo fenômeno a partir de ângulos
diferentes.
O problema relacionado a um mercado lateral é que, além de não produzir
lucro durante um longo período de tempo, seus movimentos de queda são
fortes o su ciente para quebrar investidores individuais e fundos de
investimento. Recentemente, tivemos essa ocorrência nos anos 2000, 2001,
2002 e 2008. Isso coloca os fundamentalistas diante do problema do timing:
não basta saber onde está o valor, é preciso identi car também o momento
adequado para investir.
Uma referência interessante nesse aspecto (além do próprio Katsenelson) é a
obra do gestor (e ph.D. em economia) Martin Zweig. Seu livro Winning on
Wall Street traz elementos importantes para o investidor aprender a se
posicionar em momentos do mercado que possam conduzir ao lucro mais
rapidamente. Ele utiliza um modo próprio de gerir recursos baseado não
somente em quais empresas se deve investir (onde está o valor), mas também
buscando o contexto de mercado adequado para isso, utilizando a combinação
de indicadores monetários e de momentum, os quais ele descreve no livro.
Zweig é talvez o primeiro dos fundamentalistas que advogou a necessidade de
não lutar contra o mercado – ao invés disso, demonstrou que é preciso
aguardar o momento mais propício em que a preci cação do valor pode
ocorrer.
A questão de buscar o momento adequado para iniciar ou reforçar
investimentos deve-se ao fato de que, num período de negatividade
generalizada (como na crise de imobiliária e de crédito que eclodiu em 2008),
praticamente todas as ações do mercado caem ao mesmo tempo, mesmo que
sejam de empresas sólidas, bem administradas, com negócios gerando lucro (ou
seja, empresas de valor).
O que causa uma queda generalizada do mercado? E por que as empresas que
mantêm seu valor têm suas ações desvalorizadas juntamente com as outras?
Essas podem certamente ter sido perguntas feitas por investidores
fundamentalistas no período de junho a outubro de 2008. A questão é que o
mercado, sendo um fenômeno complexo, leva em consideração muitas outras
variáveis além da valoração das empresas. Por exemplo, atualmente os mercados
mundiais estão conectados por meio de negociação eletrônica: podemos, do
Brasil, comprar e vender ações norte-americanas, alemãs, chinesas, e nas
diferentes Bolsas de todo o mundo. O inverso também é verdadeiro: o mundo
inteiro pode negociar no nosso mercado. Dado que isso acontece, é preciso
compreender que o “grande” dinheiro está espalhado pelo mundo inteiro, ou
seja, megainvestidores ou megaespeculadores operam ao mesmo tempo nos
principais mercados do mundo. Desse modo, é praticamente a regra que um
movimento importante que comece num dado mercado se espalhe
rapidamente para os outros, às vezes com diferença de poucos minutos.
A di culdade em aplicar a análise fundamentalista sem uma referência de
timing em um período de queda da Bolsa pode ser exempli cada de forma
dramática pela trajetória do chamado “Bu ett brasileiro”. Nascido na Coreia e
naturalizado no Brasil, Mu Hak You, após ter ocupado cargos de diretoria em
diversos bancos, abriu um negócio próprio e criou uma factoring em São
Paulo. O passo seguinte foi criar a GWI, uma gestora de investimentos cujos
fundos foram sucesso absoluto durante anos seguidos... Até quebrar em 2008.
A gura 5.2 destaca uma reportagem sobre Mu Hak You e a gura 5.3 sobre o
fechamento do GWI.
Figura 5.2 – Matéria da Exame sobre Mu Hak You (4/9/2008).
Figura 5.3 – Matérias (Fazenda Net e Folha Online) sobre o fechamento do GWI
(8/10/2008).
Os fundos GWI foram reabertos após um mês de fechamento e em 2011
foram novamente fechados para resgate. Em sete dias, o prejuízo foi notável:
seu patrimônio foi reduzido de 1,87 bilhão de reais para 114 milhões de reais2.
O caso mais grave é do GWI Private, que precisa de um aporte de capital dos
investidores de R$ 27 milhões para pagar suas dívidas no mercado, em especial
com três corretoras, que assumiram os débitos nas operações do fundo, segundo
comentários de analistas (...) Até sexta-feira, os cotistas do Private não haviam
cumprido a determinação de depositar os valores adicionais para cobrir o rombo
do fundo, que está inadimplente na BM&FBovespa. Se isso não ocorrer, será a
primeira vez que os investidores de um fundo poderão ser cobrados por via judicial
pelos credores (...) Mu Hak não poderá, porém, fazer resgates expressivos, pois isso
acabaria por pressionar demais o preço das ações que estão nas outras carteiras ou
levar o BNY Mellon a fechar de novo os fundos.
Valor online3
Figura 5.7 – Ibovespa futuro com e sem média móvel aritmética de 15 períodos.
O que se observa é que imediatamente os preços caem em duas categorias:
acima da média móvel e abaixo dela. A primeira conclusão disponível é a de
que:
1. Os preços permanecem em um movimento ascendente ou de valorização
enquanto estiverem acima da média móvel;
2. Os preços permanecem em movimento descendente ou de desvalorização
enquanto permanecerem abaixo da média móvel.
O analista técnico iniciante logo imagina que, para aproveitar a valorização
dos preços e evitar ser pego por sua desvalorização, bastaria comprar quando o
preço casse acima da média móvel e vender quando ele caísse abaixo dela.
(Ah, o poder!)
E ele começa a fazer justamente isso, sem nem mesmo testar essa estratégia
nos períodos anteriores, porque a lógica é evidente.
Então, os problemas começam... Ele faz alguns trades muito bons, mas, em
seguida, o mercado entra em um novo ciclo e as próximas operações começam
a dar errado, levando embora o lucro inicial. Ele começa a ser pego em
movimentos de mercado nos quais a entrada e a saída – baseadas na média
móvel – passam a gerar um stop atrás do outro, pois a entrada acima dela e
saída abaixo passam a gerar rendimento negativo. Na gura 5.8, os retângulos
representam momentos em que operar com a média móvel levaria a entradas e
saídas malsucedidas em sequência.
Figura 5.19 – Saldo das transações em VALE5 (19 a 31 de agosto de 2010). Fonte:
Pro tChart.
Quando, em 1º de setembro, a ação começa a se recuperar (iniciando uma
alta), o BTG Pactual já não gurava mais no saldo do Times and Trades
(Figura 5.20).
Figura 5.20 – Saldo das transações em VALE5 (19 a 31 de agosto de 2010). Fonte:
Pro tChart.
Entendemos que um modo de zerar um saldo negativo (ou de venda) é
realizando a operação contrária, nesse caso, uma compra. E é exatamente isso
que observamos quando ajustamos o foco do Times and Trades para o dia 1º
de setembro, exclusivamente (ilustrado na gura 5.21). O BTG Pactual aparece
como o maior comprador do dia.
Figura 5.21 – Saldo das transações em VALE5 (1º de setembro de 2010). Fonte: Pro tChart.
Embora para os traders mais ousados possa parecer que o BTG Pactual
deveria ter recomprado a posição mais embaixo (supondo-se que se tratasse
realmente das duas pontas de um mesmo trade, e não mera coincidência), ou
nos últimos dias de agosto, em vez de tê-la recomprado mais acima,
praticamente no meio da distância entre o início e o m da queda (que ao todo
durou nove dias), convém lembrar que para operar em volume, como diz Paul
Tudor Jones, “só se consegue sair onde o mercado permite, não onde se quer”.
De qualquer modo, parece ter sido uma operação bastante lucrativa. E contra
um pivô de alta...
Figura 5.23 – PETR4 em subida forte (42%), após a mínima do ano (2008). Fonte:
Pro tChart.
Mas o timing de comprar nesse fundo não era visível com os setups
disponíveis na análise técnica.
O dia 27 de outubro de 2008 foi um dia de forte queda. O banco Merrill
Lynch começou a comprar PETR4 (168.700 ações a um preço médio de R$
16,50 signi ca uma posição de aproximadamente 2,78 milhões de reais).
No dia seguinte, sua posição se acumulou ainda mais. A gura 5.24 mostra o
saldo acumulado de Merrill Lynch em PETR4 no período de 27 a 28 de
outubro (2008).
Aqui vemos (Figura 5.24, à esquerda) que a posição de compra se elevou para
545 mil ações... A um preço médio de R$ 16,50, equivale a aproximadamente
9 milhões de reais. Para resumir a história, vamos avançar alguns dias, até o
nal do mês de outubro (Figura 5.25).
Figura 5.24 – Saldo acumulado de Merrill Lynch em PETR4. Fonte: Pro tChart.
Figura 5.25 – Saldo acumulado de Merrill Lynch em PETR4. Fonte: Pro tChart.
A posição do Merrill Lynch aumentou para 2.628.000 ações, o equivalente a
46,6 milhões de reais a um preço médio de R$ 18,50. Nos dias seguintes,
porém (de 3 a 11 de novembro), Merril Lynch vende 2.491.000 ações (Figura
5.26), se desfazendo de quase toda a sua posição!
Figura 5.26 – Saldo acumulado de Merrill Lynch em PETR4. Fonte: Pro tChart.
Certamente, deveria haver um motivo para que Merrill Lynch comprasse
uma posição tamanha naquele ponto que ainda era de queda livre. Embora
tenhamos algumas hipóteses a respeito, nenhuma delas inclui o uso de análise
técnica, em razão da ausência de qualquer sinal.
Não encontramos na teoria clássica de análise técnica nem nos seus diversos
indicadores nenhuma previsão de que o momento citado seria propício para
uma virada do mercado (além disso, a alta da Petrobras coincidiu com a de
outras ações também).
Vale sempre re etir nas sábias palavras de Niederho er:
“Você acha que o mercado é tão bonzinho a ponto de lhe dar dinheiro porque você
sabe desenhar uma linha reta?” – Victor Niederho er, em Practical speculation.
Acreditamos ter contribuído para que o leitor não que preso a uma única
forma de ver o mercado e disponha de mais elementos para conduzir sua
atuação como investidor ou trader. Ressaltamos que as opiniões contidas neste
livro são sujeitas à interpretação de cada leitor e não são, em hipótese alguma,
garantia de quaisquer resultados – a Bolsa é um fenômeno muito dinâmico
para que você possa ter lucro utilizando um único exemplo ou conceito. Você é
livre para operar ou investir como quiser, é o seu próprio gestor de carteiras e
capitão do seu barco – uma tarefa estimulante e desa adora, pela qual somente
você será responsável, sempre.
Nosso intento, ao escrever este livro, não foi criar um manual de trading ou
de investimentos, tais como os que se encontram disponíveis no mercado. A
intenção era justamente fazer o caminho inverso: ajudar o leitor a descobrir o
que não fazer na Bolsa, ou melhor, o que evitar e como tirar partido das
armadilhas do caminho.
Entendemos que esse é o passo principal, a partir do qual o resto (a de nição
de uma estratégia de trading ou investimento) é construído. Realmente, não
adianta começar escolhendo uma estratégia, por exemplo, sem ter tido acesso
às falhas que ela apresenta, e sem saber em quais momentos os grandes players
estariam operando contra ela.
Desse modo, cada ponto que abordamos se reveste de importância, pois
procurou exempli car ao leitor o modo como funciona a arena de
investimentos que é o mercado de capitais. E, numa arena, vence quem tem
mais conhecimento, força e habilidades.
Começamos indicando o fato simples, mas muito desconsiderado, de que
para que alguém ganhe na Bolsa, outro tem que perder. Desse modo, como
disse John Carter, em Mastering the trade: “Você não opera ações, você opera
outros traders.” Se um banco de investimentos está no lado contrário da sua
operação, você deveria ter dupla cautela e certi car-se de que realmente está
fazendo o trade certo. Só para garantir.
Observando os bastidores do mercado, cou claro que o interesse por trás das
ações de seus participantes (tanto agentes autônomos como analistas,
departamento de back-o ce etc.) nem sempre é isento de motivação pessoal,
de modo que a Bolsa é um dos ambientes em que o cliente deve primeiro
ponderar o que diz o especialista, e não simplesmente aceitar de imediato.
Na Bolsa, conhecimento vale dinheiro, pois é capaz de produzir dinheiro. No
entanto, ainda existem muitos pseudotraders e investidores que acham que
primeiro deveriam ganhar (bastante) dinheiro para depois procurar um
treinamento ou curso especializado. Transferindo essa mentalidade para outro
contexto – no qual ca evidente o absurdo da ideia –, é como se alguém
quisesse primeiro ganhar muito dinheiro como médico... Para então nanciar
seu estudo em uma faculdade de medicina... As consequências desse tipo de
pensamento ocorrem todos os dias na Bolsa, em casos chocantes como o do
nosso exemplo em que o indivíduo perdeu tudo o que tinha em três dias,
operando opções.
Dado que há uma disputa entre quem ganha e quem perde no mercado, salta
aos olhos a importância de se avaliar a assimetria: quem possui mais
conhecimento, você ou aquele que está no lado contrário da sua operação?
Quem possui melhor equipamento, informações, staying power? Quem é o elo
mais fraco da corrente? Vale a pena fazer esse trade nas condições atuais? Como
vimos, não basta apenas avaliar o grá co e achar que a ação vai subir...
Envolvendo todos esses conceitos, está a necessidade de utilizar uma
metodologia ou estratégia. Por exemplo, seria difícil ter uma abordagem de
investimentos consistente sem estar atento a certas fragilidades do value
investing, e não observar os momentos em que os tubarões o jogam pela janela
e lucram operando contra os demais players – ainda que a teoria estivesse
válida. Na Bolsa, não importa quem está com a razão: importa quem lucra no
processo.
Da mesma forma, é importante observar que padrões de preço muitas vezes
indicam apenas o que ocorreu no passado – pois todo negócio realizado
pertence ao passado – e não necessariamente contêm alguma indicação da
direção futura dos preços.
A necessidade de se avaliar quantitativamente uma ideia também foi
abordada, por ser a pedra fundamental da validação da estratégia, tendo-se
como premissa que o investidor e o trader realmente desejem estabelecer sua
atuação de forma pro ssional, e não como “gamblers”. Em qualquer pro ssão
ou negócio é importante ter procedimentos de avaliação e controle.
Também como foi destacado, observando as informações do livro de ofertas
não é possível discernir entre as operações de uma instituição e as operações de
múltiplos clientes da instituição (incluindo também suas operações
proprietárias) executadas de modo independente e sincronizado. A diferença
entre um conjunto de coincidências e uma ação coordenada e consistente ao
longo de um período de tempo não é algo trivial de ser identi cado. Optamos
por não realizar inferências e deixaremos a cargo do leitor avaliar cada caso e
tirar suas próprias conclusões.
As instituições, empresas e ativos que foram citados nos exemplos deste livro
tiveram apenas efeito didático, tendo sido escolhidos aleatoriamente. Isso
signi ca que não temos qualquer relação de ganho ou interesse pessoal na
citação de quaisquer deles. Com certeza, existem muitos outros exemplos
possíveis que não foram mencionados. Desse modo, ressaltamos que em
nenhum momento tivemos como objetivo recomendar ou deixar de
recomendar instituições, empresas e ativos – mesmo que indiretamente – e
tampouco induzir o leitor em sua escolha ou rejeição.
Esclarecemos que de nenhuma forma quisemos estimulá-lo a operar mais ou
desestimulá-lo para que opere menos. Entendemos que nosso papel é de
fornecer mais informações para seu aprendizado e conhecimento sobre a
dinâmica de investimentos em Bolsa e não de atuar como interferente em seu
per l de risco ou decisões de alocação de recursos. Nossa ideia foi fornecer
elementos su cientes para que você:
• Identi que alguns erros comuns cometidos no mercado;
• Preste atenção a situações-chave em que os grandes players têm
oportunidade de lucrar contra você;
• Busque evitar ter prejuízo nos dois itens anteriores, além de tentar
aproveitá-los para obter lucro;
• Conheça algumas fragilidades das formas de análise existentes, por meio de
informações nem sempre de fácil acesso para o leigo (como, por exemplo, a
de que o fundo utilizando estritamente os ensinamentos de Benjamin
Graham teve sequencialmente um desempenho inferior ao S&P 500, ou
que Warren Bu ett faz trading, sim senhor!);
• Seja capaz de juntar todas essas informações e, com base nelas, realizar um
exame de consciência para identi car seus pontos fortes e fracos como
trader ou investidor, a m de tirar maior proveito de suas qualidades,
eliminando da sua prática aquilo que não contribui para o seu sucesso.
Como bem disse nosso mentor Larry Williams: “Todo dinheiro é sempre dado
em troca de valor. No mercado, o dinheiro é dado em troca de horas de estudo.”
Seguindo essa perspectiva, desejamos que as horas investidas na leitura deste
livro se revertam em lucros para você.
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