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Avaliação e Reabilitação

Neuropsicológica:
Desenvolvimento Histórico e
Perspectivas Atuais

Amer Cavalheiro Hamdan


Ana Paula Almeida de Pereira
Tatiana Izabele Jaworski de Sá Riechi
Interação em Psicologia, 2011

AULA 02
DEFINIÇÃO

 A Neuropsicologia, num sentido lato, é o estudo das relações entre o

cérebro e o comportamento e, num sentido stricto, é o campo de

atuação profissional que investiga as alterações cognitivas e

comportamentais associadas às lesões cerebrais.

 Este estudo é realizado mediante a aplicação dos conhecimentos

advindos das várias disciplinas acadêmicas que configuram o campo

das neurociências (neuroanatomia, neurofisiologia, neuroquímica e

neurofarmacologia) e de atuação profissional do psicólogo

(psicometria, psicologia clínica, psicologia experimental,

psicopatologia e psicologia cognitiva).


FOCO DE ATUAÇÃO
 Os dois principais empregos da neuropsicologia são a avaliação
e a reabilitação neuropsicológica.
 A avaliação neuropsicológica é realizada mediante a aplicação
de uma bateria de testes psicométricos que procuram
identificar o rendimento cognitivo funcional, a partir do
conhecimento de suas relações com o funcionamento cerebral.
 A avaliação neuropsicológica permite investigar uma
determinada função cognitiva para observar sua integridade ou
comportamento.
REABILITAÇÃO NEUROPSICOLÓGICA

 Reabilitação neuropsicológica pode ser


definida como o conjunto de intervenções
que objetivam melhorar os problemas
cognitivos, emocionais e sociais
decorrentes de uma lesão (alteração)
encefálica auxiliando a pessoa a alcançar
maior independência e qualidade de vida
(Wilson, 2003a).
FOCO DE ATUAÇÃO

 Como funções cognitivas, entendemos: memória, atenção,

linguagem, funções executivas, raciocínio, orientação, motricidade e

percepção, bem como as alterações afetivas e de personalidade.

 Em outras palavras, avaliação neuropsicológica é o método de


investigação para a análise de distúrbios cognitivos e
comportamentais produzidos por lesões, doenças ou
desenvolvimento anormal do cérebro (Lezak, 1995).

 Qualifica e quantifica as funções mentais conservadas e


comprometidas,
comprometidas através de situações experimentais padronizadas
que servem de estímulo ao comportamento.
Objetivos da avaliação
neuropsicológica

 Auxílio diagnóstico
 Estabelecimento de prognóstico
 Orientação de tratamento
 Auxílio para planejar a reabilitação
 Pesquisa
 Perícia
Auxílio diagnóstico

 Etiologia, natureza, dinâmica da condição em estudo.


 Descrever e identificar alterações do funcionamento psicológico;
 Estabelecer o correlato neurobiológico com o resultado dos testes;
 Determinar se as alterações estão associadas a doenças
neurológicas e/ou psiquiátricas ou não;
 Qual é o problema e como ele se apresenta (implicam em
diagnóstico diferencial, por ex.: depressão/demência; distúrbio de
aprendizagem/retardo mental.
Perfil Cognitivo

 Determinar o perfil cognitivo


(quantificar e qualificar o déficit) em
caso de diagnóstico conhecido.
 EX: escala CDR – Clinical Dementia
Rating
Prognóstico

 Curso da evolução e alteração do


comportamento: o impacto a longo prazo
 Depende da patologia, localização e
extensão da lesão, idade e escolaridade,
suporte familiar e social, reabilitação.
 Quanto mais rápida a instalação, mais
amplos e severos serão os déficits.
Orientação para o tratamento

 A avaliação neuropsicológica estabelece


hierarquia nas disfunções, descreve a dinâmica
das desordens e estabelece a relação entre o
comportamento e o substrato cerebral,
contribuindo para:
 Escolha e mudança de medicamentos.
 Verificar a eficácia do tratamento:
medicamentoso, cirúrgico, psicoterápico.
Orientação para o tratamento

 Monitorar a evolução do quadro.

 Monitorar a qualidade de vida do


paciente.
Orientação para o tratamento

 O levantamento dos recursos e fraquezas


cognitivas e emocionais, dos mecanismos
adaptativos e das condições familiares permitirá a
mobilização, articulação e ampliação destes
recursos e do suporte ambiental.
 Oferecer orientações para cuidadores e familiares
de pacientes;
Orientação para reabilitação

 Estabelece as forças e fraquezas cognitivas.


 Evidencia o núcleo principal do distúrbio e as
alterações secundárias.
 Provê reforço nas funções prejudicadas.
 Traça metas e técnicas de reabilitação
 Orienta mudanças profissionais, acadêmicas e
familiares.
Orientação para o tratamento
cirúrgico

 Em epilepsia:
 determina o hemisfério da linguagem
 Avalia função: já prejudicada ou possíveis
prejuízos (prevê evolução pós-cirúrgica).
Seleção de pacientes para
técnicas especiais
 Transplante
 Drogas experimentais
 Estimulação Transcraniana
Pesquisa

 Testar hipóteses, aferir tratamentos, medir


mudanças comportamentais.

 Ampliar modelos conhecidos da relação


cérebro/comportamento.
Perícia

 Investigar matéria psicológica em


interface com o Direito e a Medicina Legal.

 Subsidiar os julgadores sobre aspectos


neuropsicológicos.
HISTÓRIA DA NEUROPSICOLOGIA
 Saber que os comportamentos
podem estar ligados a disfunções
neurológicas, é uma idéia bastante
recente!
HISTÓRIA DA NEUROPSICOLOGIA

 Hipótese cardíaca versus hipótese cerebral:


 Os povos da antiguidade, em geral, eram adeptos da hipótese cardíaca
que enfatizava que toda a expressão mental dos indivíduos estava
localizada no coração. Platão e Aristóteles (faculdades mentais com
sede no coração).
 Hipócrates:
Hipócrates cérebro era o órgão responsável pelo pensamento e pelas
sensações.
 Galeno:
Galeno Teoria Ventricular: a mente estava localizada nos ventrículos
cerebrais.
 Descartes:
Descartes mente X corpo: glândula pineal como a sede da alma, o
lugar de encontro entre a mente e o corpo.
HISTÓRIA DA NEUROPSICOLOGIA
 As evidências sobre a importância do cérebro
foi aumentando cada vez mais, tanto no
ponto de vista anatômico, quanto clínico.
 A partir do momento que o cérebro se
consolidou como o órgão responsável pelos
processos mentais e pelo comportamento,
surgiu o problema:

AS FUNÇÕES PODERIAM SER DERCORRENTES


DO FUNCIONAMENTO DE DIFERENTES
ÁREAS DA SUA ANATOMIA?
Holistas x localizacionistas
 Holistas: NÃO há especificidade de áreas
no cérebro, ou seja, o cérebro atuaria
como um todo controlando o
comportamento.
 Localizacionistas: acreditavam que o
cérebro atuava de forma fragmentada,
ou seja, cada parte do cérebro era
responsável por um determinado
comportamento ou função mental.
EX: Frenologia (teoria de Gall)
HISTÓRIA DA
NEUROPSICOLOGIA
 Localizacionismo versus holismo
 Franz Gall: acreditava que as faculdades mentais
encontravam-se em estruturas cerebrais, havendo tantas
estruturas cerebrais quantas faculdades ou processo
mentais existissem.Frenologia
 Broca e Wernicke
 Vygostki e Luria:
Luria funções das partes e do todo se encontram
organizadas em inter-relações funcionais complexas que
variam em conformidade com os diferentes estágios de
desenvolvimento humano.
Frenologia
Pressupostos básicos:
1. Cada região – responsável por uma função
mental;
2. Cada região – molda a superfície craniana;
3. Região bem desenvolvida – aumento de
volume.

A partir disso, o autor inferiu que ao estudar o


volume do crânio era possível saber se uma
determinada função mental era bem
desenvolvida ou não.
Entretanto, devido a falhas metodológicas, essa
teoria entrou em decadência.
HISTÓRIA DA NEUROPSICOLOGIA
 No séc. XX – começaram a surgir as primeiras ideias do que
nós sabemos hoje sobre a neuropsicologia.
 Foi proposto então, que as atividades dependiam de uma
organização cerebral, ou seja, as atividades mais complexas
dependem de um numero maior de estruturas que irão
intervir no processo.
 Ou seja, processos mentais, como a memória ou
aprendizagem, dependiam da integração de centros nervosos
e de suas conexões.
 Isso é comprovado hoje pelos exames de neuroimagem.
HISTÓRIA DA
NEUROPSICOLOGIA
 A concepção neuropsicológica de Luria afirma que o funcionamento cerebral ocorre
com a participação conjunta de três blocos funcionais do cérebro.
 O primeiro, bloco de ativação, é responsável pelo tônus cortical ou estado de
ativação do córtex cerebral. A formação reticular, tanto a ascendente como a
descente, é a estrutura mais importante, sobretudo em suas conexões com o
córtex frontal.
 O segundo bloco funcional, o do input, é responsável pela recepção, monitoração
e armazenamento da informação. Ocupa as regiões posteriores do córtex cerebral:
lobos parietal, temporal e occipital, responsável pelas respectivas zonas táctil,
cinestésica, auditiva e visual.
 O terceiro bloco, chamado de bloco de programação e controle da atividade,
abarca os setores corticais situados no lobo frontal. Este bloco cumpre suas
funções mediante relações bilaterais, tanto com as regiões posteriores (bloco do
input) como com a formação reticular (bloco da ativação). É o bloco responsável
pelo planejamento, programação, regulação e verificação do comportamento
SISTEMAS DE LURIA
I Unidade
 Regular tônus cortical
ou vigília (estado de
consciência).
 II Unidade
 Obter, processar e
armazenar informações.
 III Unidade
 Programar, regular e
verificar a atividade
cerebral.
HISTÓRIA DA
NEUROPSICOLOGIA

 Funcionalismo versus cognitivismo.


 Século XX: Pós-guerra: reabilitação
cognitiva de soldados com TCE
 Funcionamento da pessoa X função
cognitiva
 https://www.cerebromente.org.br/n01/ar
quitet/cortex.htm
Atualmente
 Essa função de localização é feita
através de exames de neuroimagem
(tomografia e ressonância, por
exemplo).
 Função da neuropsicologia:
verificar o impacto das lesões ou
disfunções cerebrais na área
cognitiva e comportamental de cada
sujeito.
UMA ESPECIALIDADE

 No Brasil, a especialidade da
neuropsicologia foi estabelecida pelo
Conselho Federal de Psicologia em 2004,
quando os objetivos da área e os
quesitos básicos para a formação de
especialistas neste campo foram
delimitados.
 www.pol.org.br
Reabilitação cognitiva
 Minimizar os danos;
 Adaptação do sujeito ao ambiente;
 Orientação familiar;
TÉCNICAS DE REABILITAÇÃO
 Imaginação motora
 Geração espontânea
 Uso de mensagens curtas
 Uso do computador
 Dificuldades metodológicas: uso em
outros países, carência de
uniformidade.

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