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Avaliação e Reabilitação Neuropsicológica: Desenvolvimento Histórico e


Perspectivas Atuais

Article  in  Interação em Psicologia · December 2011


DOI: 10.5380/psi.v15i0.25373

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3 authors:

Amer Hamdan Ana Paula Almeida de Pereira


Universidade Federal do Paraná Universidade Federal do Paraná
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Tatiana Riechi
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Interação em Psicologia, 2011, 15(n. especial), p. 47-58 47

Avaliação e Reabilitação Neuropsicológica:


Desenvolvimento Histórico e Perspectivas Atuais

Amer Cavalheiro Hamdan


Ana Paula Almeida de Pereira
Tatiana Izabele Jaworski de Sá Riechi
Universidade Federal do Paraná

RESUMO
Este artigo tem por objetivo, a partir da compreensão histórica de como o campo da Neuropsicologia
se constituiu, propor diretrizes para a pesquisa em avaliação e a reabilitação neuropsicológica no
Brasil. A história da Neuropsicologia é apresentada através de três grandes temáticas: hipótese
cardíaca versus hipótese cerebral, localizacionismo versus holismo e funcionalismo versus
cognitivismo. Estes temas influenciaram as pesquisas em Neuropsicologia e delimitaram as práticas
atuais na área. O presente artigo enfoca dois temas importantes na atualidade da Neuropsicologia,
especialmente no Brasil: primeiro, o tópico da avaliação neuropsicológica no contexto do
desenvolvimento humano e, segundo, a temática da reabilitação neuropsicológica em diversos grupos.
O estudo sobre as diferenças no funcionamento cerebral nas diferentes faixas etárias, crianças e idosos
é brevemente apresentado como campo relevante para a construção teórica e prática da
neuropsicologia. Finalmente, as dificuldades encontradas em implementar intervenções em
reabilitação no Brasil são discutidas.
Palavras-chave: neuropsicologia; avaliação neuropsicológica; reabilitação neuropsicológica.

ABSTRACT
Neuropsychological Assessment and Rehabilitation:
Historical Development and Current Perspectives
The present paper aimed to briefly present a historical view of Neuropsychology and later, to propose
research topics in Brazil. Neuropsychology history encompassed at least three major themes: the
cardiac hypothesis versus the brain hypothesis, localizationism versus holism and functionalism
versus cognitivism. These themes influenced research in neuropsychology and based current practice.
Furthermore, two important aspects of neuropsychology are discussed: neuropsychological
assessment in different age groups and neuropsychological rehabilitation. Major topics involved on
the study of the differences in brain functioning through life span are briefly presented and their role
in building evidence-based practice and in supporting theoretical models is showed. Finally, several
difficulties found in adapting neuropsychological rehabilitation to the Brazilian context are discussed.
Keywords: neuropsychology; neuropsychological assessment; neuropsychological rehabilitation.

A Neuropsicologia, num sentido lato, é o estudo Os dois principais empregos da neuropsicologia


das relações entre o cérebro e o comportamento e, são a avaliação e a reabilitação neuropsicológica. A
num sentido stricto, é o campo de atuação profissional avaliação neuropsicológica é realizada mediante a
que investiga as alterações cognitivas e comportamen- aplicação de uma bateria de testes psicométricos que
tais associadas às lesões cerebrais. Este estudo é reali- procuram identificar o rendimento cognitivo funcio-
zado mediante a aplicação dos conhecimentos advin- nal, a partir do conhecimento de suas relações com o
dos das várias disciplinas acadêmicas que configuram funcionamento cerebral. A avaliação neuropsicológica
o campo das neurociências (neuroanatomia, neurofisi- permite investigar uma determinada função cognitiva
ologia, neuroquímica e neurofarmacologia) e de atua- para observar sua integridade ou comportamento. O
ção profissional do psicólogo (psicometria, psicologia foco da investigação são as funções cognitivas, tais
clínica, psicologia experimental, psicopatologia e como: memória, atenção, linguagem, funções executi-
psicologia cognitiva). vas, raciocínio, motricidade e percepção, bem como as
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alterações afetivas e de personalidade. Os objetivos da Breve história da neuropsicologia


avaliação neuropsicológica são: (1) descrever e identi- Apesar da delimitação recente desta especialidade
ficar alterações do funcionamento psicológico; (2) do conhecimento humano, o interesse pelo estudo da
estabelecer o correlato neurobiológico com o resulta- neuropsicologia é antigo. Desde a antiguidade, o ho-
do dos testes; (3) determinar se as alterações estão mem buscou compreender as relações ente cérebro,
associadas a doenças neurológicas e/ou psiquiátricas comportamento e cognição. A história da neuropsico-
ou não; (4) avaliar as alterações através do tempo e logia pode ser dividia em três grandes períodos: hipó-
desenvolver um prognóstico; (5) oferecer orientações tese cardíaca versus hipótese cerebral, localizacionis-
para a reabilitação e o planejamento vocacional e/ou mo versus holismo e funcionalismo versus cogniti-
educacional; (6) oferecer orientações para cuidadores vismo. Esta divisão não se fundamenta nos períodos
e familiares de pacientes; (7) auxiliar no planejamento históricos clássicos, mas configura-se em torno de
e implementação do tratamento; (8) desenvolver a temas predominantes. Diversos autores têm relaciona-
pesquisa científica; e (9) elaborar documentos legais. do o desenvolvimento da neuropsicologia com os
Os exames diagnósticos podem ser empregados em períodos históricos clássicos (Kristensen, Almeida, &
situações legais, tais como: interdições, absolvição ou Gomes, 2001; Pinheiro, 2005; Toni, Romanelli, &
detenção de pessoas, admissão e afastamentos previ- Salvo, 2005), perdendo o elemento central do estudo
denciários e trabalhistas e indenizações (também co- que é o desenvolvimento das visões e concepções
nhecida como neuropsicologia forense). A avaliação acerca das relações entre cérebro, comportamento e
neuropsicológica tem sido utilizada para investigar a cognição. Estas visões não necessariamente acompa-
organização do funcionamento cerebral e sua relação nham a divisão cronológica dos períodos clássicos da
com as atividades comportamentais decorrentes de história. Cada período do desenvolvimento da história
distúrbios específicos do cérebro (Hebben & Milberg, da neuropsicologia é marcado por determinadas con-
2002; Lezak, Howieson, & Loring, 2004). trovérsias a respeito do entendimento da época sobre
A reabilitação neuropsicológica é um processo em as relações entre cérebro e comportamento.
que pessoas com lesão cerebral, em cooperação com
profissionais de saúde, familiares e membros da co- Hipótese cardíaca versus hipótese cerebral
munidade, buscam tratar ou aliviar deficiências cogni-
O mais antigo documento datado sobre a história
tivas resultantes de uma lesão neurológica. O objetivo da Neuropsicologia não foi escrito, mas é um registro
da reabilitação neuropsicológica é capacitar pacientes arqueológico. Na antiguidade, a curiosidade pelo cé-
e familiares a conviver, lidar, contornar, reduzir ou rebro justificou o uso indiscriminado da craniotomia.
superar as deficiências cognitivas resultantes de lesão Estudos arqueológicos, ao redor do mundo e em dife-
neurológica (Wilson, 2003a). rentes culturas, identificaram inúmeros crânios trepa-
Os conhecimentos produzidos pela neuropsicologia nados, cirurgias realizadas através de perfurações no
têm um amplo emprego na investigação científica e na crânio, alguns datando do período paleolítico e neolí-
aplicação destes conhecimentos no campo profissio- tico (Feinberg & Farah, 1997). Por outro lado, o mais
nal. A investigação científica auxilia na busca de ex- antigo documento escrito descrevendo a localização
plicações sobre as relações entre o cérebro e o com- das funções mentais é um papiro egípcio chamado de
portamento. Na atuação profissional, a avaliação e a Papiros de Edwin Smith (1600 a.C.), contendo a des-
reabilitação neuropsicológica contribuem para a iden- crição de 48 indivíduos com lesões traumáticas. Estes
tificação, documentação e tratamento das alterações papiros registram as primeiras tentativas de buscar a
cognitivas e comportamentais presentes em diversas localização cortical das funções mentais mediante
situações onde o sistema nervoso central é afetado. O descrições das lesões cerebrais.
papel que a neuropsicologia desempenha dentro do A antiga controvérsia a respeito da origem das fun-
contexto da psicologia, enquanto ciência e profissão, ções mentais radicava na polêmica em torno da hipó-
encontra-se vinculado a sua história. Assim, para tese cardíaca versus hipótese cerebral. Os povos da
compreender as perspectivas atuais da área, torna-se antiguidade, em geral, eram adeptos da hipótese car-
necessária uma breve revisão histórica. díaca que enfatizava que toda a expressão mental dos
Este artigo tem por objetivo, a partir da compreen- indivíduos estava localizada no coração. No período
são histórica de como o campo da neuropsicologia se grego clássico, houve as primeiras tentativas de orga-
constituiu, propor diretrizes para a pesquisa em avali- nização sistemática desses conhecimentos. Platão
ação e a reabilitação neuropsicológica no Brasil. (428-348 a.C.), filósofo grego, descreveu em detalhes
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as relações entre o corpo e a alma humana. A primeira hipótese cerebral estava plenamente estabelecida.
era a matéria, perene, mutável e, a segunda, a dimen- Porém, muitas dúvidas persistiam. Quais as estruturas
são imaterial, eterna, que nunca muda. As verdades responsáveis pela cognição? Elas atuam em conjunto
essenciais estavam localizadas na alma e eram acessí- ou de maneira independente? Este período é marcado
veis somente mediante especulações filosóficas. Aris- pela controvérsia entre localizacionismo versus ho-
tóteles (384-322 a.C.), filósofo grego e aluno de Pla- lismo.
tão, dividiu a atividade mental em certo número de O maior expoente do localizacionismo das funções
a- mentais foi o médico alemão Franz Gall (1758-1828).
ginação, etc.), cuja sede era o coração. Gall acreditava que as faculdades mentais encontra-
A hipótese cardíaca enfrentou grande resistência vam-se em estruturas cerebrais, havendo tantas estru-
dos defensores da hipótese cerebral; estes defendiam a turas cerebrais quantas faculdades ou processo men-
visão de que o cérebro era sede da mente. Entre eles, tais existissem. Para tanto, Gall correlacionou o grau
destaca-se Alcmaeon de Crotona (500 a.C.), filósofo e de desenvolvimento desses órgãos com a formação de
naturalista grego, que propôs que o cérebro seria o proeminências em partes correspondentes ao crânio,
responsável pela localização de cada tipo de sensação. criando uma nova especialidade médica a frenolo-
Outro importante opositor da hipótese cardíaca foi gia. Para Gall, por meio da palpação manual dessas
Hipócrates (460-377 a.C.), médico grego, considerado proeminências do crânio poderia se determinar a natu-
reza e as propensões futuras do indivíduo. Gall acredi-
aos cuidados da saúde. Hipócrates afirmava que o tava na existência da localização cerebral circunscrita
cérebro era o órgão responsável pelo pensamento e das funções mentais (Gall & Spurzheim, 1809).
pelas sensações. O maior opositor das ideias de Gall foi o fisiologis-
Pode-se perceber, no decorrer deste período, len- ta francês Jean Pierre Flourens (1794-1867). Flourens
tamente, que a hipótese cerebral predominou sobre a defendeu a visão holística da função mental, ou seja,
hipótese cardíaca. A concepção de Galeno (130-201 que as funções mentais não dependiam de partes par-
a.C.), médico romano, fundamentou este predomínio ticulares do cérebro, mas sim que elas atuam envol-
da hipótese cerebral. A partir de estudos sobre o cére- vendo o cérebro como um todo. Esse autor não acredi-
bro mediante a dissecação de animais (presumindo tava que o cérebro fosse uma massa homogênia, mas
sua semelhança com os seres humanos) e cadáveres que funcionava de modo integrado.
abandonados, Galeno contribuiu para a fundamenta- A controvérsia entre localizacionistas e holistas
ção da chamada Teoria Ventricular que afirmava que acirrou-se com os trabalhos de Paul Broca (1824-
a mente estava localizada nos ventrículos cerebrais. 1880), médico francês que estabeleceu as primeiras
Seus estudos apresentaram grande precisão e riqueza correlações entre lesões cerebrais circunscritas e as
de detalhes anatômico-fisiológicos. As ideias de patologias da linguagem (Feinberg & Farah, 1997).
Galeno foram muito influentes em todo o período Por meio de estudos anatômicos, Broca descobriu que
romano e boa parte da Idade Média; sua visão sobre a a expressão verbal estava associada ao terço posterior
origem da atividade mental perdurou por mais de do giro frontal inferior esquerdo. Sua descoberta foi
quinze séculos. de grande importância, pois foi a primeira evidência
No final do século XVII, René Descartes (1596- da localização de uma função mental complexa. O
1650), filósofo e matemático francês, defendeu um neuropatologista alemão Karl Wernicke (1848-1909)
ponto de vista conhecido como dualismo cartesiano, conduziu estudos de grande importância para a com-
ao estabelecer a separação entre a mente e o cérebro. preensão da afasia. Wernicke (1874) descreveu casos
Descartes escolheu a glândula pineal como a sede da em que a lesão de uma parte do cérebro, o terço poste-
alma, o lugar de encontro entre a mente e o corpo. No rior do giro temporal superior esquerdo, determinava a
final desse período, a hipótese cerebral já não encon- perda da capacidade de compreensão da linguagem,
trava opositores, sendo predominante. enquanto que a linguagem expressiva motora perma-
necia intacta. Concluiu que essa região cerebral era
Localizacionismo versus holismo responsável pela compreensão da linguagem.
O século XIX marca o nascimento da neuropsico- A controvérsia localizacionismo versus holismo
logia enquanto campo do conhecimento humano. A das funções mentais ganhou novos contornos com os
hipótese cardíaca estava totalmente desacreditada e a trabalhos pioneiros do psicólogo bielo-russo Lev

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Vygotsky (1896-1934). Vygostky apresentou uma cisamente devido à necessidade de reabilitar soldados
análise inovadora sobre o funcionamento cerebral em com traumatismos crânio-encefálicos. Neste período,
relação às visões localizacionistas e holistas, advo- foram elaborados programas de reabilitação destina-
gando que as funções das partes e do todo se encon- dos pela primeira vez às seqüelas cognitivas, que até
tram organizadas em inter-relações funcionais com- então eram direcionados de forma fisioterápica, como
plexas que variam em conformidade com os diferentes seqüelas motoras.
estágios de desenvolvimento humano (Vygostky, -se popular
1999). O neuropsicólogo soviético Alexander Luria a partir do final da década de oitenta, no século XX.
(1902-1977) desenvolveu as ideias originais de As tentativas para reabilitar pacientes com lesões ce-
Vygostsky, a partir do estudo do comportamento rebrais existiram desde a antiguidade grega e egípcia,
anormal dos pacientes com lesão cerebral (Luria, como evidenciam os Papiros de Edwin Smith. A era
1981). Demonstrou a importância dos símbolos para a moderna da reabilitação de pessoas com lesão cerebral
linguagem, afirmando que o cérebro é um sistema começou, provavelmente, na Alemanha, durante a
altamente diferenciado, cujas partes são responsáveis Primeira Guerra Mundial, como resultado da sobrevi-
por aspectos desse todo e a linguagem é um elemento vência de militares com traumatismo craniano. A rea-
importante nesse processo. bilitação cognitiva progrediu durante a Segunda Guer-
A concepção neuropsicológica de Luria afirma que ra Mundial, como desdobramento dos esforços de
o funcionamento cerebral ocorre com a participação guerra na Alemanha, Inglaterra, União Soviética e
conjunta de três blocos funcionais do cérebro. O pri- Estados Unidos (Wilson, 2003).
meiro, bloco de ativação, é responsável pelo tônus A neuropsicologia atual estuda os temas clássicos
cortical ou estado de ativação do córtex cerebral. A da psicologia atenção, aprendizagem, percepção e
formação reticular, tanto a ascendente como a descen- memória utilizando métodos da psicologia experi-
te, é a estrutura mais importante, sobretudo em suas mental e do campo da psicometria para a construção
conexões com o córtex frontal. O segundo bloco fun- dos testes. As modernas técnicas de investigação ce-
cional, o do input, é responsável pela recepção, moni- rebral (eletro encefalograma, tomografia computado-
toração e armazenamento da informação. Ocupa as rizada, ressonância magnética funcional) superaram a
regiões posteriores do córtex cerebral: lobos parietal, importância da avaliação neuropsicológica na locali-
temporal e occipital, responsável pelas respectivas zação das funções mentais. A controvérsia entre loca-
zonas táctil, cinestésica, auditiva e visual. O terceiro lizacionismo e holismo foi substituída pela discussão
bloco, chamado de bloco de programação e controle em torno de uma nova controvérsia: funcionalismo
da atividade, abarca os setores corticais situados no versus cognitivismo. Está controvérsia é essencial em
lobo frontal. Este bloco cumpre suas funções mediante relação à avaliação neuropsicológica e à construção
relações bilaterais, tanto com as regiões posteriores dos testes psicológicos (Hebben & Milberg, 2002).
(bloco do input) como com a formação reticular (blo- As técnicas tradicionais de avaliação neuropsico-
co da ativação). É o bloco responsável pelo planeja- lógica advêm da tradição funcionalista que considera
mento, programação, regulação e verificação do com- que a predição do desempenho do indivíduo é o obje-
portamento intencional. Luria estabeleceu dois objeti- tivo primário da avaliação e o construto psicológico é
vos para a neuropsicologia: (1) localizar as lesões secundário. A bateria Halstead-Reitan é um bom
cerebrais responsáveis pelos distúrbios do comporta- exemplo desta abordagem (Strauss, Sherman & Spre-
mento para um diagnóstico preciso e (2) explicar o en, 2006). Por outro lado, os testes construídos na
funcionamento das atividades psicológicas superiores tradição cognitivista enfatizam primariamente o cons-
relacionadas com as partes do cérebro. truto psicológico e a predição clínica como alvo se-
cundário da avaliação. O California Verbal Learning
Funcionalismo versus cognitivismo Test (Strauss, Sherman, & Spreen, 2006) foi criado
O século XX é marcado pela consolidação da Neu- primariamente empregando teorias da memória para
ropsicologia como especialidade do conhecimento. A investigar as alterações decorrentes de lesões cere-
neuropsicologia cresceu muito a partir do final da brais. Em outras palavras, a controvérsia atual está
primeira metade do século XX, conseguindo uma relacionada a questões metodológicas e interpretativas
posição diferenciada da neurologia, da psicologia e da resultantes dos processos de avaliação neuropsicoló-
psiquiatria. O seu desenvolvimento foi significativo gica (Hebben & Milberg, 2002).
durante os períodos da I e da II Guerra Mundiais, pre-

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A história recente da identidade profissional do características distintas em função da idade do grupo


neuropsicólogo começou a ser estabelecida nos início investigado; no entanto, tais alterações e suas relações
dos anos 1970. Em 1967, foi fundada a International decorrentes de variáveis culturais, educacionais e so-
Neuropsychological Society (INS) por um grupo de cioeconômicas ainda precisam ser melhor descritas. O
psicólogos de vários países interessados nas relações campo da intervenção neuropsicológica no contexto
entre o cérebro e o comportamento. Em 1975, um brasileiro apresenta-se também como uma área que
grupo de psicólogos americanos fundou a National necessita de pesquisas, pois a utilização de protocolos
Academy of Neuropsychology (NAN) para auxiliar na trazidos de outras realidades culturais gera problemas
prática clínica dos neuropsicólogos. Em 1980, a neu- técnicos e éticos que carecem de pesquisas que vali-
ropsicologia foi estabelecida como uma área dentro da dem tais procedimentos.
American Psychological Associacion (APA), através
da Divisão 40 (Clinical Neuropsychology). Por fim, Neuropsicologia Infantil
em 1996, a APA reconheceu a neuropsicologia como A neuropsicologia infantil tem a especificidade
uma especialidade da psicologia (Hebben & Milberg, teórica e técnica voltada para a realidade e as peculia-
2002). No Brasil, a especialidade da neuropsicologia ridades da população infantil. A atuação é interdisci-
foi estabelecida pelo Conselho Federal de Psicologia plinar, de trabalho conjunto com especialidades médi-
em 2004, quando os objetivos da área e os quesitos cas como a pediatria, neurologia, endocrinologia, in-
básicos para a formação de especialistas neste campo fectologia, fisiatria, ortopedia e psiquiatria, assim
foram delimitados. A neuropsicologia brasileira apre- como com as demais áreas da saúde como fisioterapia,
senta vários desafios tanto para os pesquisadores fonoaudióloga, serviço social, terapia ocupacional,
quanto para os profissionais da área. musicoterapia e a própria psicoterapia. Porém, a área
Em síntese, a partir da contribuição de diversos au- de trabalho da neuropsicologia infantil não é interli-
tores, podemos reconstruir o percurso histórico da gada somente à área da saúde, mas também apresenta
neuropsicologia em três diferentes períodos caracteri- interface substancial com a educação.
zados por diferentes controvérsias: hipótese cardíaca A necessidade de criar novos e específicos métodos
versus hipótese cerebral, localizacionismo versus ho- multidisciplinares voltados para a infância, tanto no
lismo e funcionalismo versus cognitivismo. A neu- campo da saúde como na educação, são justificados
ropsicologia continua a se desenvolver, aperfeiçoando mediante a diminuição significativa da mortalidade
cada vez mais os seus métodos de investigação e au- infantil em todo o mundo (World Health Organization
mentando progressivamente o conhecimento sobre o & United Nations Children s Fund, 2004). Segundo o
funcionamento cerebral e suas relações com as pato- Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (2009), a
logias do comportamento humano. A partir desta taxa de mortalidade infantil apresentou uma queda de
compreensão histórica, pode-se delinear a multiplici- 30% na última década. Referente à última Tábua
dade de temas de pesquisa de particular interesse tanto Completa de Mortalidade no país 2008/2009, os resul-
para fundamentar a prática da neuropsicologia no tados mostram que foi possível evitar cerca de 205 mil
Brasil como para subsidiar o desenvolvimento teórico óbitos de menores de um ano de idade.
da neuropsicologia a partir de estudos comparados
O aumento nos investimentos das políticas públi-
entre culturas diversas.
cas na atenção primária às gestantes, a modernização
biotecnológica das Unidades de Terapia Intensiva
Neuropsicologia na atualidade brasileira
pediátricas, os novos fármacos e a humanização hos-
O presente artigo enfoca dois temas importantes na pitalar garantem a sobrevivência de muito mais crian-
atualidade da neuropsicologia, especialmente no ças. Crianças que certamente morreriam num passado
Brasil: primeiro, o tópico da avaliação neuropsicoló- recente, hoje não só sobrevivem como têm maiores
gica no contexto do desenvolvimento humano e, se- expectativas de tempo de vida (Riechi, 2008). Com a
gundo, a temática da reabilitação neuropsicológica em diminuição da mortalidade infantil, observa-se o au-
diversos grupos. mento da morbidade. O aumento do número de seqüe-
As alterações das funções cognitivas e suas conse- las é inversamente proporcional ao numero de mortes
qüências para o comportamento humano ao longo da infantis. Esta recente condição de vida é acompanhada
vida têm sido enfocadas em diversas pesquisas com por diversas nova patologias neurológicas, psiquiátri-
populações de diferentes faixas etárias. A literatura já cas, imunológicas, endócrinas, entre outras. Isto signi-
demonstrou que o funcionamento cerebral apresenta fica dizer que a satisfação do aumento da sobrevivên-
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cia de crianças de risco é acompanhada por intensa 80 para se desenvolver como área de conhecimento
preocupação com o desenvolvimento biopsicosocial específico, diferenciando-se da própria neuropsicolo-
das mesmas, das famílias, dos profissionais e da soci- gia de adultos e idosos.
edade em geral. A prática mais frequente e também inicial da neu-
Certamente é reducionista pensar que as morbida- ropsicologia infantil é o processo de avaliação. Avali-
des são apenas orgânicas. São crianças em desenvol- ação neuropsicológica é o método de investigação
vimento que necessitam de diferentes métodos de para a análise de distúrbios cognitivos e comporta-
avaliação e diagnóstico multidisciplinares. Quadros de mentais produzidos por lesões, doenças ou desenvol-
múltiplas seqüelas, algumas vezes evidentes outras vimento anormal do cérebro (Lezak, 1995). Qualifica
bastante sutis são observados e, por vezes, transitó- e quantifica as funções mentais conservadas e com-
rios, outras vezes, precocemente limitantes. Altera- prometidas, através de situações experimentais padro-
ções de desenvolvimento que interferem na fala, na nizadas que servem de estímulo ao comportamento.
cognição, na motricidade, na afetividade e nas rela- A identificação das áreas cognitivas fortes auxilia
ções sociais e familiares. Com esta situação, os profis- na compreensão de possíveis atividades compensató-
sionais da saúde e da educação, assim como as políti- rias executadas pelo cérebro, por exemplo: crianças
cas públicas e sociais, precisam alertar para o fato de com altas habilidades mnêmicas e baixo raciocínio
que este contexto necessita de investimentos técnico- abstrato podem ter bons desempenhos em algumas
científicos e econômicos através de iniciativas que avaliações matemáticas. Assim como também facilita
reconheçam os riscos precocemente e que invistam na elaboração dos programas de reabilitação neuropsi-
em procedimentos na saúde, na educação e nas políti- cológica. É preciso se apoiar sobre as habilidades
cas sociais. Isto é garantir a cidadania a estas crianças fortes da criança para alavancar as habilidades cogni-
e, assim, concretizar a inclusão social. Desta forma, a tivas comprometidas; isto estimula a plasticidade ce-
neuropsicologia infantil investe no desenvolvimento rebral e motiva o paciente (Petermann & Lepach,
de técnicas e métodos de diagnóstico precoce e ade- 2007; Riechi & Romanelli, 1997).
quado a cada população. A antecipação na identifica- Dentro dos objetivos específicos da avaliação neu-
ção de sinais indicadores das deficiências pode garan- ropsicológica infantil (ANI) está a identificação pre-
tir diagnóstica mais precoce e, conseqüentemente, coce de transtornos cognitivos e desordens do desen-
intervenções com resultados significativamente mais volvimento e, como tal, alterações no processo de
favoráveis, pois vencer a corrida contra o tempo, para aquisição das habilidades. O termo precoce deve ser
essas crianças e suas famílias, é apenas um dos gran- entendido como o mais cedo possível na história de
des desafios futuros. Procedimentos com tais premis- vida da criança, portanto, dependerá do tipo de com-
sas, tanto na saúde como na educação, são ações in- prometimento cerebral, da idade e do próprio processo
clusivas. A inclusão social, cultural e escolar dessas de formação da função. Habilidades mentais de gran-
crianças depende de ações precoces. Assim, a atuação de requinte cognitivo, como pensamento hipotético,
da neuropsicologia caracteriza-se por mais uma ma- relações espaciais e quase-espaciais, funções percep-
neira da psicologia proporcionar ao ser humano, não to-motoras, escrita e leitura são esperadas em idades
somente, qualidade de vida como cidadania propria- mais avançadas. Desta forma, a identificação precoce
mente dita. do problema requer um tempo maior de desenvolvi-
A história da neuropsicologia infantil no Brasil mento, com maior exposição da criança ao meio. Do
confunde-se com a própria história da neurologia pe- mesmo modo, desordens nas habilidades motoras ou
diátrica. Nas décadas de 1930 e 1940, ainda não exis- de linguagem são mais rapidamente identificadas. A
tia a especialidade de neurologia pediátrica no país. A avaliação neuropsicológica infantil deve ser sensível
pediatria encontrava-se em formação e a neurologia ao conjunto dos sinais cognitivo-comportamentais
mesclava-se com a psiquiatra (Reimão, 1999). A par- demonstrados durante o desenvolvimento da criança,
tir da década de 60, a neurologia infantil ganhou um reconhecendo-o como uma desordem do processa-
modelo próprio, oportunizando a abertura dos serviços mento neuropsicológico ou não.
espalhados pelo país, em equipes multidisciplinares, Nas lesões agudas, a compreensão precoce vai de-
buscou um corpo próprio de conhecimento, destacan- pender muito do estado geral da criança, das condi-
do-se como especialidade médica da neurologia clíni- ções técnicas e, principalmente, da decisão conjunta
ca e da pediatria. Já a neuropsicologia infantil aguar- com a equipe multidisciplinar da adequação da ANI.
dou até meados da década de 70 e início da década de Nos diagnósticos diferenciais, a ANI é uma contribui-
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ção preciosa no processo conclusivo interdisciplinar, Considerando a complexidade do funcionamento


diante de tantos novos quadros psiquiátricos e neuro- cerebral, o refinamento que alcançou em tão poucas
lógicos, de diagnóstico clínico comportamental, como décadas a avaliação neuropsicológica é um fato notá-
transtorno de humor, déficit de atenção e síndromes. vel. No entanto, quando se fala em neuropsicologia
Através da análise qualitativa da resposta às ativi- pediátrica, deve-se tomar alguns cuidados que a avalia-
dades propostas pelo instrumento de avaliação, o di- ção de adultos dispensa, o que modifica a forma de
agnostico diferencial é possível. O não desempenhar manejo clínico. Consequentemente, a testagem neu-
uma tarefa ou o mau desempenho da mesma pode ser ropsicológica desenvolvida para a população de sujei-
tanto compreendido como apenas um atraso na aquisi- tos adultos pode não ser apropriada ao exame infantil
ção da habilidade, própria do tempo pessoal de cada (Lezak, 1995; Spreen & Strauss, 1998).
sujeito, como um erro propriamente dito, assim de- Visualiza-se, então, uma segunda limitação da
monstrando uma dificuldade real. ANI, que diz respeito aos instrumentos de avaliação
Avaliar é comparar. Quando se avalia uma criança específicos para a população infantil. Muitos instru-
existem duas formas de comparação. A primeira é a mentos podem ser utilizados como técnicas de levan-
comparação das suas respostas com as de outras cri- tamento das características neuropsicológicas da cri-
anças da mesma idade. Esta forma de comparação ança dentre eles, os testes e baterias neuropsicológi-
representa apenas o presente, o aqui e o agora, pare- cas. Se para a população adulta a utilização de testes
ando o desempenho do sujeito com a expectativa de já é uma questão delicada, tanto mais para a popula-
resposta que se tem para a idade ou série escolar. A ção infantil brasileira (Urbina, 2004).
segunda forma de comparação interna entre os de- Todo teste sofre influências socioculturais; por is-
sempenhos do próprio sujeito. Pareando os resultados to, a simples tradução de um material estrangeiro é
das diversas habilidades avaliadas, é possível verificar absolutamente inadequada. Palavras e imagens que
a estabilidade ou não dos resultados. O resultado da são muito claras e comuns às de outro país podem não
primeira avaliação neuropsicológica serve então, de ser familiar às crianças brasileiras. Outra dificuldade
nível de base, fundamental para a comparação do de- importante ainda pior, que merece um grande alerta, é
sempenho da mesma criança em momentos diferentes, a utilização das tabelas de normatização. A literatura
seja por follow up medicamentoso, intervenção tera- neuropsicológica está repleta de materiais que indicam
pêutica ou em neuropatias crônicas e evolutivas. testes e trazem também as tabelas normatizadas dos
A criança não é um adulto em miniatura. Este é um escores, porém para os países de origem. Como é pos-
paradigma estrutural da prática clínica infantil. O ser sível comparar uma criança brasileira, através do
criança tem características próprias que, na maioria mesmo material, com uma criança europeia? Um bom
das vezes, diferem muito do adulto. Enganam-se os material requer a normatização do instrumento para
profissionais que estendem suas práticas clínicas de no mínimo a população brasileira; ainda assim, cabe a
forma equivalente às crianças. O paciente infantil ressalva, com toda sua diversidade (Anastasi & Urbina,
requer atenção redobrada em vários aspectos, desde o 2000; Pasquali, 2001; Romanelli e cols., 1999).
local de atendimento, a forma de recepção, o material A ANI também é um importante instrumento de
utilizado e o vínculo efetuado. pesquisa que pode ser encontrada aplicada em popula-
Uma das áreas de grande domínio do neuropsicó- ções variadas. Trabalhos publicados no mundo todo
logo deve ser o neurodesenvolvimento. A construção mostram a avaliação neuropsicológica utilizada nos
de todo o sistema nervoso desde a concepção, a neu- mais diversos quadros como: lesões cerebrais agudas,
roembriogênese, o desenvolvimento cerebral nos dois HIV, epilepsia, distúrbios de aprendizagem, doenças
primeiros anos e as diversas interferências biopsicos- metabólicas, câncer, parasitose, transtornos de lingua-
sociais (Moura-Ribeiro & Gonçalves, 2006). gem, nascimento pré-termo, más formações cerebrais,
Já ao final da avaliação é imprescindível que haja síndromes, paralisia cerebral e transtorno de atenção
uma correta contextualização biopsicossocial das in- (Bender & cols, 2007; Dowell & Copeland, 1987;
formações obtidas. Os dados sobre o histórico do neu- Hessen & cols, 2007; Silver, 2000; Silver & cols.,
rodesenvolvimento, o contexto socioeconômico, cul- 2006; Tabaquim, 2002; Wachsler-Felder & Golden,
tural e educacional, as características familiares de- 2002).
vem ser associadas e integradas, como uma rede coesa Concluindo, a avaliação neuropsicológica caracte-
de conhecimento sobre o desenvolvimento geral. riza-se por ser uma das atividades da prática neuropsi-

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cológica, prática esta de fundamental importância hoje cidade de processamento de informação e os proces-
dentro das equipes interdisciplinares de saúde e edu- sos atencionais como domínios que, quando afetados,
cação. Ela não se restringe ao uso de testes, mas utili- caracterizam os problemas nas atividades diárias rela-
za também outros instrumentos de diagnóstico que tadas nos casos de patologias (Anderson, Ebert, Jen-
promovem a compreensão do funcionamento cerebral nings, Grady, Cabeza, & Graham, 2008; Siedelecki,
através da observação dirigida do comportamento. Honig & Stern, 2008).
Contudo, é importante lembrar-se da criança como Posteriormente, os estudos apontaram para alguns
uma população específica e com características e ne- domínios cognitivos que parecem declinar durante o
cessidades particulares. O erro é pensá-la como uma envelhecimento, como, por exemplo, a memória. No
extensão da população adulta; por isto, requer instru- entanto, detectou-se que funcionalmente tal domínio
mentos e atuações muitos sensíveis e especializadas à pode não ser afetado significativamente, uma vez que
infância. O cuidado com o teste e materiais escolhidos a pessoa idosa desenvolve estratégias de processamen-
para a avaliação deve contemplar as características to cognitivo (mnemônicas, por exemplo) diferentes
socioeconômicas e culturais da população alvo, a qua- daquelas observadas em adultos jovens para a execu-
lidade quanto à precisão e validade do teste e o domí- ção de atividades. Greenwood (2007) propõe que con-
nio dos paradigmas teóricos do funcionamento cere- comitantemente com as perdas estruturais observadas
bral por parte do avaliador. É na infância que a plasti- no sistema nervoso central durante o envelhecimento,
cidade neurológica tem seu período mais expressivo, ocorre uma reorganização funcional de caráter com-
por isto, a avaliação neuropsicológica infantil gera um pensatório através de alterações nas estratégias utili-
esquema de funcionamento dos sistemas cerebrais da zadas na resolução de problemas. Embora esta propo-
criança num recorte específico e limitado de tempo, sição ainda não tenha sido plenamente referendada,
vislumbrando todo um processo de desenvolvimento um número cada vez maior de evidências a apoiam.
biopsicossocial maior.
Outros estudos importantes no campo da neuropsi-
A pesquisa aplicada à área da neuropsicologia cologia do envelhecimento consistem na busca de
infantil precisa refletir as temáticas anteriormente melhor descrever o perfil cognitivo relacionado a
apontadas para subsidiar as intervenções junto a essa quadros demências de diferentes etiologias (Baddeley,
população, construir e adaptar procedimentos válidos Kopelman, & Wilson, 2002; Mathias & Burke, 2009).
e fidedignos de avaliação no contexto brasileiro e Os dados neuropsicológicos, juntamente com imagens
estabelecer as bases teóricas do desenvolvimento das e dados da história médica do cliente, subsidiam o
funções neuropsicológicas. diagnóstico de uma patologia e, portanto, a adoção de
procedimentos farmacológicos e a recomendações de
Neuropsicologia do envelhecimento intervenções comportamentais específicas encontram-
Os avanços da medicina e as melhores condições se vinculados às evidências advindas da avaliação
de vida alcançadas em diversos países levaram ao neuropsicológica. Atualmente, esforços têm sido dire-
aumento do número de pessoas idosas no mundo. cionados à validação de procedimentos de avaliação
Assim, o estudo dos fatores envolvidos no processo de que consigam detectar com maior precisão os diferen-
envelhecimento vem recebendo maior atenção dos tes déficits vinculados a cada neuropatia.
administradores públicos e dos pesquisadores de di- Uma importante derivação dessa perspectiva de
versas áreas da saúde. A neuropsicologia tem contri- pesquisa teórica que considera a relação entre a plasti-
buído de modo significativo para construir uma me- cidade neurológica/funcional e o contexto biopsicos-
lhor compreensão da cognição humana no contexto do social em que as pessoas estão inseridas constitui-se
envelhecimento normal e dos distúrbios neuropsicoló- em outra linha de pesquisa importante: a reabilitação
gicos correlacionados com esta faixa etária. neuropsicológica (Winocur e cols., 2007).
Primeiramente, as pesquisas em Neuropsicologia
na área buscaram estabelecer os critérios para diferen- Reabilitação neuropsicológica
ciar o envelhecimento cognitivo saudável das neuro- Reabilitação neuropsicológica pode ser definida
patologias prevalentes nesta faixa etária. Para tanto, como o conjunto de intervenções que objetivam me-
instrumentos de avaliação neuropsicológica que enfo- lhorar os problemas cognitivos, emocionais e sociais
cam diferentes áreas da cognição foram utilizados decorrentes de uma lesão encefálica auxiliando a pes-
(Knopman & Selnes, 2003). Os resultados até o mo- soa a alcançar maior independência e qualidade de
mento apontam para a linguagem, a memória, a velo- vida (Wilson, 2003a).
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Avaliação e Reabilitação Neuropsicológica: Desenvolvimento Histórico e Perspectivas Atuais 55

Alexander Luria foi um dos primeiros autores a re- através da comparação com resultados de outros pro-
latar seus esforços sistemáticos para reabilitação de gramas no mundo. Consequentemente, o estabeleci-
pessoas com lesão encefálica após a Segunda Guerra mento de parâmetros internacionais que priorizem
Mundial (Boake, 2003). Os trabalhos de Leonard Dil- determinados resultados comuns a todos torna-se inviá-
ler, realizados no Centro Medico da Universidade de vel muitas vezes.
Nova York, com pacientes com acidente vascular Com o intuito de amenizar estas dificuldades, des-
encefálico que apresentavam problemas com escane- de a última década do século XX, diversas iniciativas
amento visual, propiciou o desenvolvimento de pro- podem ser apontadas como tentativas de estruturar um
gramas de treinamento específicos e representam ou- corpo de conhecimento em reabilitação neuropsicoló-
tro marco na história da reabilitação neuropsicológica. gica que fundamente as intervenções na área. Cicerone
Ben-Yishay (1996) desenvolveu uma visão holística e colegas (Cicerone, Dahlberg, Kalmar, Langenbahn,
para reabilitação neuropsicológica através da realiza- Malec, Berquist & cols., 2000) realizaram uma exten-
ção de exercícios cognitivos, psicoterapia e atividades sa revisão bibliográfica e apresentaram estratégias de
terapêuticas junto a este grupo. intervenção que a literatura propõe ao reabilitar no
Segundo a Organização Mundial da Saúde (World contexto de diferentes problemas neuropsicológicos.
Health Organization, 2000), as doenças ligadas ao Vários autores publicaram obras que compilavam o
funcionamento cerebral constituem a maior causa de conhecimento cientifico na área de modo mais organi-
deficiências no mundo. A demanda por serviços de zado (Christensen & Uzzell, 2000; Eslinger, 2002;
reabilitação neuropsicológica têm crescido considera- Johnstone & Stonnington, 2001), o que facilitou tanto
velmente devido ao aumento dos recursos médicos o ensino quanto a pesquisa em reabilitação.
oferecidos à população. No Brasil, porém, diversas
Wilson (2003b) propôs algumas diretrizes para
dificuldades são observadas para que essa área se
nortear as práticas em reabilitação neuropsicológica:
desenvolva, por exemplo: as ainda poucas instituições
a) o processo de reabilitação é considerado como uma
de ensino que oferecem capacitação nesta área da
parceria entre as pessoas com lesão, suas famílias e os
neuropsicologia, as dificuldades inerentes à área para
delimitar protocolos baseados em evidências, a neces- profissionais de saúde; b) o planejamento de objetivos
sidade de adaptar as estratégias de reabilitação utiliza- tem se tornado um dos métodos mais usados para
das em outros contextos socioculturais à realidade delinear o plano de reabilitação; c) os déficits cogniti-
brasileira e, ainda, a descoberta de indicadores ade- vos, emocionais e psicossociais encontram-se conec-
quados à realidade brasileira para avaliar os progra- tados e todos devem ser considerados durante os pro-
mas de reabilitação que têm sido implantados. gramas terapêuticos; d) tecnologia representa uma
parte importante na compreensão da lesão e na com-
Wilson (1991) aponta que as dificuldades em de-
pensação das dificuldades apresentadas por este gru-
senvolver estratégias padronizadas de intervenção
po; e) reabilitação tem começado durante a terapia
para cada distúrbio neuropsicológico relacionam-se
intensiva antes mesmo da estabilização das condições
com diversos fatores. Fatores importantes como a
médicas do paciente; e f) compreende-se reabilitação
diversidade da população atingida, os diferentes tipos
cognitiva como uma área de atuação que necessita de
de lesões e as características particulares dos déficits
observados fazem com que a avaliação dos programas uma vasta base teórica que incorpore diferentes mode-
de reabilitação seja um tópico complexo. Outro fator los e metodologias derivadas de diversos campos da
relevante é o fato de que existe ainda pouco consenso psicologia e neurociências.
no âmbito da neuropsicologia quanto a teorias capazes Vários procedimentos têm sido sugeridos como
de subsidiar a compreensão de como as funções neu- eficazes na reabilitação neuropsicológica. A imagina-
ropsicológicas se desenvolvem e se organizam no ção motora, ou seja, a simulação imaginada de movi-
contexto da população geral. Assim, a criação de es- mentos e a observação de movimentos têm sido estu-
tratégias em reabilitação nem sempre estão fundamen- dadas em pacientes após acidente vascular encefálico
tadas no conhecimento teórico que se tem sobre de- (AVE) e Holmes (2007) sugere-as como possíveis
terminada função ou patologia. técnicas de reabilitação. Outro procedimento estudado
As diferenças culturais e, portanto, a diversidade baseia-se no efeito de geração que se caracteriza pelo
de demandas sociais e valores priorizados em diferen- fenômeno que os itens gerados pelos próprios indiví-
tes contextos afetam diretamente as metas estabeleci- duos são melhor recordados quando comparados com
das nos diferentes programas de reabilitação. Este fato itens fornecidos por outrem (Lengenfelder, Chiara-
dificulta a avaliação dos programas de reabilitação valloti, & DeLuca, 2007).
Interação em Psicologia, Curitiba, 2011, 15(n. especial), p. 47-58
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Uma variedade de tecnologias também é usada no Brasil traz à tona problemas teóricos e práticos na
como auxilio na reabilitação de pessoas com proble- área que ajudam a formular diretrizes para a pesquisa
mas neuropsicológicos. Por exemplo, a utilização de em neuropsicologia no Brasil.
sistemas de mensagens curtas que auxiliavam a lem- Apesar da identificação de um número crescente
brar pacientes com esquizofrenia de suas atividades e de pacientes com problemas neuropsicológicos, a
compromissos diários. Estudos utilizando-se de siste- maioria das intervenções em reabilitação neuropsico-
mas computacionais para criar realidades virtuais que lógica adotadas nos serviços de neuropsicologia no
facilitam a aprendizagem de modo seguro e incenti- Brasil baseia-se em procedimentos utilizados em paí-
vam a comunicação de pessoas com problemas de ses do primeiro mundo que ainda não foram adequa-
mobilidade também têm sido realizados. dos ao contexto brasileiro. As diferenças interculturais
No entanto, ainda encontramos pouca uniformida- têm sido extensamente discutidas enquanto importan-
de dentre os métodos de reabilitação neuropsicológica tes para subsidiar o processo decisório durante a reabi-
devido pelo menos a três fatores: as dificuldades me- litação (Niermeier & Arango-Lasprilla, 2007; Uamoto,
todológicas encontradas para verificar a eficácia dos 2005). Sendo assim, torna-se premente que o pesqui-
procedimentos adotados; a diversidade das populações sador na área da avaliação e reabilitação neuropsico-
atendidas nos programas de reabilitação e a interdisci- lógica considere estes fatores quando planeja seus
plinaridade inerente a área. Sohlberg e Mateer (1989) estudos. A adaptação dos procedimentos de avaliação
foram pioneiras ao proporem intervenções especificas e intervenção neuropsicológica para a realidade brasi-
em reabilitação neuropsicológica, porém, foram criti- leira deve ser considerada como prioridade.
cadas devido à dificuldade que tinham tanto em rela- A criação de parâmetros nacionais de avaliação de
cionar a ligação entre as intervenções práticas com programas de reabilitação neuropsicológica através do
modelos teóricos existente quanto em apresentar evi- amplo debate entre profissionais e clientes, assim
dências de resultados positivos vinculados com tais como da realização de estudos sistemáticos sobre o
intervenções. tópico também se fazem necessárias. Tais parâmetros
Em 2008, um número especial da Rehabilitation poderão subsidiar as políticas públicas de reabilitação
Psychology debateu sobre as dificuldades metodológi- e fundamentar a inserção do neuropsicólogo em equi-
cas encontradas em realizar pesquisas na área e apon- pes interdisciplinares de reabilitação, o que ampliará o
tou a necessidade em se desenvolver estudos com mercado de trabalho para o neuropsicólogo.
desenhos mais adequados para cada tipo de investiga- O estudo do desenvolvimento neuropsicológico
ção privilegiando a coerência teórica (Dunn & Elliott, normal e do perfil neuropsicológico vinculado a dife-
2008) que incluiriam tanto metodologias de análise rentes patologias deve continuar a ser aprofundado,
quantitativa como qualitativa de dados (Chwalist, uma vez que muitas questões permanecem sem res-
Shah, & Hand, 2008; DeVries & Morris, 2008). Tuc- posta e a apresentação de evidências que norteiem as
ker e Reed (2008) ressaltam que, como a intervenção condutas profissionais adotadas nestes contextos ainda
em reabilitação constitui-se apenas como uma variável é necessária.
dentre várias que influenciam o funcionamento da
Em suma, a teoria e a prática no campo da neu-
pessoa ao longo do tempo, a pesquisa em psicologia
ropsicologia brasileira se complementam ao aponta-
da reabilitação deve se expandir para incluir diversas
rem os caminhos principais que a pesquisa na área
abordagens teóricas e metodológicas. Assim, metodo-
precisa trilhar. Esforços conjuntos entre diferentes
logias tradicionais, como o desenho de grupos clínicos
centros de pesquisa que utilizem uma multiplicidade
com amostragem aleatória, estudos longitudinais (Fay,
de desenhos e métodos de pesquisa são necessários de
Yeates, Wade, Drotar, Stacin & Taylor, 2009) ou es-
serem desenvolvidos para conseguir viabilizar resul-
tudo de caso (Mateer, 2009) seriam utilizadas junta-
tados que subsidiem a prática da neuropsicologia no
mente com estudos meta analíticos (Babikian & Asar-
Brasil.
now, 2009) e pesquisas qualitativas para criar evidên-
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Sobre os autores:

Amer Cavalheiro Hamdan Psicólogo, Mestre em Educação pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, Doutor em
Psicobiologia pela Universidade Federal de São Paulo. Professor do Departamento de Psicologia da Universidade Federal do Paraná.
Ana Paula Almeida de Pereira Psicóloga, Mestre e Doutora em Psicologia da Reabilitação pela University of Wisconsin. Professora
do Departamento de Psicologia da Universidade Federal do Paraná.
Tatiana Izabele Jaworski de Sá Riechi Psicóloga, Mestre em Educação pela Universidade Federal do Paraná, Doutora em Ciências
Biomédicas pela Universidade Estadual de Campinas. Professora do Departamento de Psicologia da Universidade Federal do Paraná.
Endereço eletrônico: achamdan@ufpr.br; anapaula_depereira@yahoo.com; tatiriechi@hotmail.com

Interação em Psicologia, Curitiba, 2011, 15(n. especial), p. 47-58

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