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Produção científica brasileira em neuropsicologia:

análise de artigos publicados de 1930 a 1999

RESUMO ABSTRACT

O presente artigo se propõe a apresentar This article presents the pointers related
os indicadores quanto a produção científica to scientific production in neuropsychological
na avaliação neuropsicológica no Brasil, des- assessment in Brazil, since its first registers
de os seus primeiros registros em periódicos in medical periodics in order to identify and
médicos, a fim de identificar e caracterizar characterize the main points of interest of this
os principais pontos de interesse. São de- area. The study demonstrates the main steps
monstrados as principais etapas do processo of the process of investigation related to the
de investigação quanto à consolidação da consolidation of the neuropsychology in
neuropsicologia no país, os principais ins- Brazil, the main psychological instruments
trumentos psicológicos utilizados, bem como used and a variety of thematic investigation.
a variedade quanto à temática investigada. It´s possible to verify the expressiveness that
Torna-se possível verificar a expressividade the neuropsychology acquired along the last
que a neuropsicologia adquiriu ao longo das three decades and the researchers´approach.
últimas três décadas e o enfoque de atenção
por parte dos pesquisadores.

Palavras-chave: avaliação neuroipsicológica, instrumentos de avaliação psicológica, pro-


dução científica.

Key-words: neuropsychological assessment, instrument of psychological assessment,


scientific production.

históricos relacionando o cérebro e fun-


INTRODUÇÃO ções motoras foram encontrados nos
séculos XVI e XVII a.C. no Egito. To-
Para Lezak (1995) a neuropsicologia davia, somente com os grandes avanços
é a ciência voltada para a expressão do científicos observados em meados do sé-
comportamento por meio das disfunções culo XIX, tanto na medicina quanto em
cerebrais e ampara-se na avaliação a emergente ciência psicológica, é que
neuropsicológica, entendida como um se criaram as condições de complemen-
conjunto de métodos destinados à inves- tariedade no estudo do comportamento
tigação do funcionamento cerebral. humano (Mäder, 1996).
Proposta como uma disciplina por Por um lado, a medicina era alimen-
Osler no início do século, a neuropsi- tada pelos constantes desenvolvimentos
cologia tem sua história imbricada na da fisiologia e da fisiopatologia na com-
medicina desde a antiguidade; registros preensão dos diversos quadros nosoló-

Endereço para correspondência: R: Lobo da Costa, 291/302


Cep: 90050110 – Porto Alegre, RS – jcalchieri@brturbo.com

6 – PSIC - Revista de Psicologia da Vetor Editora, Vol. 4, nº.1, 2003, pp. 6-13
João Carlos Alchieri
Centro de Ciências da Saúde, Universidade do Vale do Rio dos Sinos (RS)
Laboratório de Instrumentos de Avaliação Psicológica (LIAP)

gicos, especialmente na neurologia, e sua da psicologia, testes psicológicos, para


atenção dirigia-se mais para o estudo dos ampliar e aprimorar suas avaliações. Por
aspectos patológicos das desordens, tan- sua vez a psicologia adquiriu em pouco
to na diagnose quanto na terapêutica do tempo um conjunto metodológico de co-
que propriamente os mecanismos funcio- nhecimentos que impulsionaram sobre-
nais normais relegados à fisiologia. maneira o desenvolvimento da prática
A psicologia que almejava seu status avaliativa, principalmente com a sua
de ciência desde sua origem voltava-se utilização requisitada nos EUA (Boring,
às dimensões da fronteira fisiológica, 1995).
especificamente na psicofísica, para
compreender as determinações do com-
portamento por meio de suas proprieda- DESENVOLVIMENTO
des reacionais aos estímulos do meio. A
proximidade das investigações no cam- Avaliação neuropsicológica
po fisiológico e psicofísico permitiu o Inicialmente cabe considerar o papel
desenvolvimento paralelo de métodos e que os testes psicológicos tiveram no
técnicas destinados ao estudo das mani- âmbito da avaliação psicológica e neu-
festações comportamentais utilizadas por ropsicológica a ponto de serem entendi-
ambas especialidades. Um outro ponto dos como sendo a própria avaliação,
de confluência dessa relação foi o desen- contudo essa visão foi aprimorada e hoje
volvimento dos instrumentos psicomé- os testes são vistos como parte do pro-
tricos, os precursores dos atuais testes cesso, não o processo em si (Cunha,
psicológicos, originários de uma verten- 2000). Mesmo assim é importante des-
te psiquiátrica, pelos estudos de Galton, crevê-los e caracterizá-los em sua com-
Cattel, Binet e Pearson, bem como de seu posição e finalidade de modo a esclarecer
franco desenvolvimento em solo ameri- seus objetivos e sua operacionalização.
cano desde então amparados pela escola Na avaliação neuropsicológica, os tes-
funcionalista. tes são instrumentos objetivos e padroni-
Assim, desenvolvia-se a medicina zados de investigação do comportamento,
com a neurologia no início do século que informam sobre a organização nor-
passado, sendo uma nova fronteira para mal dos comportamentos desencadeados
desbravar e compreender, mas cujos mé- pelos testes (por figuras, sons, formas
todos de investigação disponíveis como espaciais, etc.) ou de perturbações em
raios-X, punções e exames físicos eram condições patológicas. Visam assim a
rudimentares e invasivos, o que dificul- avaliar e quantificar comportamentos
tava as avaliações e não permitia confir- observáveis, por meio de técnicas e me-
mar os estudos realizados por alguns todologias específicas, embasadas cien-
pesquisadores da época. A necessidade tificamente em constructos teóricos que
levou alguns médicos como Kraepelin, norteiam a análise de seus resultados
Ebbinghaus e Wernicke a proporem em (Aiken, 1996).
seus estudos a utilização de ferramentas Objetivamente na avaliação psicoló-

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gica e na neuropsicológica os testes psi- pecíficos para investigação de uma po-
cológicos possibilitam: pulação particularmente determinada,
1. investigar a expressão do nível inte- como as Baterias de Halstead-Reitam e
lectual; de Luria-Nebraska; as Baterias Flexíveis:
2. investigar lesões ou transtornos neu- apropriadas para a investigação clínica,
rológicos do SNC; por estarem mais voltadas para as difi-
3. avaliar a expressão das diversas fun- culdades específicas do paciente. A au-
ções cognitivas; tora cita de sua experiência uma bateria
4. elaborar um diagnóstico diferencial; básica, composta por 11 instrumentos
5. classificar o rendimento e os recursos administrados individualmente sendo
obtidos; seis do gênero lápis e papel.
6. promover auto-entendimento; Entretanto, outros autores, como Walsh
7. avaliar na investigação científica como (citado por Märder, 1996), não conside-
instrumentos. ram a existência de uma especificidade
de instrumentos a ponto de serem deno-
A investigação do comportamento minados de neuropsicológicos, mas
por meio dos testes se dá com a aplica- como um método de elaboração neuropsi-
ção de diversas técnicas, apoiadas no tipo cológico decorrente das inferências dos
de avaliação que se pretende fazer, ou resultados dos testes.
seja, no que se pretende investigar. Cada
teste tem uma descrição metodológica es- Aspectos iniciais da abordagem
pecífica, com a finalidade de controlar e neuropsicológica no Brasil
excluir quaisquer variáveis que venham Para considerarmos o campo que se
a interferir no processo e nos resultados fez presente na integração entre a medi-
destes para que se obtenha um resultado cina por meio da neurologia e da psico-
preciso das reais condições do avaliado. logia é importante analisarmos o zeitgeist
São diversos os métodos de expres- compreendido a partir do primeiro quar-
são e de administração dos testes. Para to do século XX, no Brasil. Nesse as-
se ter uma idéia do número de instrumen- pecto a tradição empiricista da avaliação
tos a disposição da comunidade interna- psicológica por muito tempo ficou dis-
cional, Lezak (1995) aponta como tante dos tradicionais instrumentos mé-
recursos, na última edição de seu livro, dicos, devido à imprecisão dos primeiros
435 técnicas e/ou instrumentos destina- testes psicológicos, especialmente os que
dos à avaliação neuropsicológica. Sua se propunham a avaliar os padrões de
utilização na avaliação neuropsicológi- conduta denominados de personalidade.
ca clínica dá-se por meio de uma com- Os testes cujo foco centravam-se na ava-
posição de testes de orientação, atenção, liação da personalidade tinham a marca-
percepção, inteligência geral, raciocínio, da influência dinâmica da psicanálise e
memória verbal e visual, de curto e lon- nesse sentido não possuíam as condições
go prazo, testes de flexibilidade mental, de padronização e precisão necessárias
linguagem e organização viso-espacial, para garantir uma aplicação consistente,
dentre outros. principalmente na clínica médica (Anas-
Entende Lezak (1995), quanto à uti- tasi & Urbina, 2000).
lização dos testes na avaliação, que sua Também sua orientação teórica não era
composição pode ser realizada com ba- promissora na estimulação de abordagens
terias (vários instrumentos reunidos) e exploratórias voltadas aos aspectos or-
apresenta duas distinções a estas: as Ba- gânicos que não a psique. Contudo, os
terias Fixas aplicáveis em investigações testes psicológicos destinados à avalia-
e pesquisas, por meio de protocolos es- ção de habilidades motoras, de memó-

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ria, percepção e discriminação de estí- relacionando conceitos e constructos
mulos apresentavam em sua operacio- neurofisiológicos de caráter mais inves-
nalização não invasiva o diferencial que tigativo com modelos e teorias integra-
se tornou indispensável à avaliação do doras e associativas. Paralelamente na
comportamento patológico, do qual a ciência em geral, o desenvolvimento da
neurologia em muito estava interessada. fisiologia, da tecnologia representada na
O progresso da estruturação de baterias diagnose não invasiva, aliada ao cresci-
voltadas às habilidades e às suas dife- mento do conhecimento médico e bioló-
renciações caracterizadas nos diversos gico do funcionamento do SNC e das
quadros patológicos impulsionou a ex- áreas cognitivas teve uma repercussão
ploração de uma área cuja gênese há que ainda nos dias atuais se mostra com
muito havia sido despertada pela psico- intensidade.
fisiologia. Centrando o foco desta análise nos
Se por um lado a medicina por meio trabalhos cujo interesse se fez presente
da neurologia obteve ganhos com a na avaliação psicológica pelo uso de
aproximação com a psicologia, e estes instrumentais psicológicos, observa-se
podiam ser expressos no entendimento no Brasil que o trabalho de Cavalcanti
do comportamento normal e patológico, (1936) pode ser apontado como um dos
precursores dessa abordagem neuropsi-
identificando e caracterizando a tênue
cológica, mesmo que a vertente possa ser
distinção que os separa em determina-
considerada dentro da psiquiatria, seu
dos quadros nosológicos, a psicologia
caráter técnico investigativo na asso-
também teve lucros com essa união. A
ciação da abordagem psicológica e psi-
abordagem dinâmica, oriunda da Euro-
quiátrica confere esse entendimento.
pa, e que direcionou inflexivelmente a
psicologia desde o inicio do século pas-
Indicadores da produção em avaliação
sado, começava a ter sua força diminuí-
neuropsicológica no Brasil
da devido às limitações em avaliar, Para identificar e caracterizar os tra-
diagnosticar e principalmente tratar de balhos iniciais de avaliação neuropsico-
quadros de origem marcadamente orgâ- lógica e assim rastrear seus precursores
nica. Na psicologia americana, os mo- e os conteúdos de seus estudos elabo-
delos teóricos comportamentais, que rou-se um procedimento de análise de
marcaram as primeiras três décadas do palavras-chave, indicadores e de instru-
século passado, começaram a dar lugar mentos utilizados em uma base de da-
a abordagens mais flexíveis e integrati- dos sobre avaliação psicológica no
vas voltadas à compreensão do funcio- Brasil. Dessa forma, o presente trabalho
namento mental – caixa preta – em lugar tem como objetivo documentar e resga-
do comportamento. Cabe salientar que a tar a produção científica brasileira, pu-
psicologia de influência comportamen- blicada em periódicos nacionais na área
talista tinha como objeto de investiga- de avaliação psicológica, especialmente
ção o modelo animal e a limitação de relacionada à construção, à adaptação e
generalizações quanto ao uso deste, aos estudos de instrumentos utilizados
principalmente quanto à relação aos as- em neuropsicologia. Este trabalho origi-
pectos fisiológicos era notoriamente re- nário de um projeto de ensino e desen-
conhecida. volvido ao longo de dois anos de
Por outro lado o interesse voltado aos atividades, identifica a produção publi-
aspectos cognitivos começou a mostrar- cada na forma de artigos em periódicos
se mais específico em matéria de ca- indexados ou não (Alchieri & Scheffel,
racterização do funcionamento mental, 2000).

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O presente estudo enfoca a área de ou mais instrumentos de avaliação psico-
avaliação neuropsicológica cujos traba- lógica, cuja finalidade estava dirigida à
lhos direta ou indiretamente abordam a avaliação neuropsicológica.
construção, o desenvolvimento e a utiliza- Dos artigos encontrados e tabulados
ção em pesquisas e/ou estudos de casos de até o momento sobre o tema de avaliação
instrumentos e técnicas psicológicas para psicológica, construção de instrumentos
essa finalidade. psicológicos (escalas, questionários e tes-
O levantamento dos dados possuiu um tes) e resenhas de trabalhos sobre o tema,
caráter censitário, abrangendo aproxima- 123 (9,85 %) artigos versavam sobre ava-
damente 1299 títulos de periódicos brasi- liação neuropsicológica e/ou de instru-
leiros, indexados e não indexados, datados mentos em psicodiagnóstico voltados à
e identificados no período compreendido área. Uma vez identificados, os artigos
entre 1918 a 1999 em publicações cientí- foram relacionados por instrumentos e se-
ficas brasileiras (Alchieri, 2000). Estabe- parados em períodos de seis décadas de
leceu-se para critério de inclusão os 1930 a 1999, os dados permitiram obser-
trabalhos publicados em periódicos na- var a distribuição do número de artigos
cionais de psicologia e áreas afins, que por instrumentos nesse período conforme
utilizavam ou revisavam resultados de um a demonstração na Tabela 1.

Tabela 1

Avaliação/Período 1910 1920 1930 1940 1950 1960 1970 1980 1990 Total
Personalidade 0 0 3 2 11 9 3 10 8 46
Habilidade 0 0 0 0 3 8 1 3 4 19
Intelectuais 1 0 0 0 2 3 1 5 11 23
Diversos 0 0 0 3 4 3 2 5 10 27
Indefinidos 0 0 0 1 2 1 2 2 8
Total 1 0 3 6 22 23 8 25 35 123

Na tabela 2, os artigos foram subdi- tos, testes psicológicos tiveram nos arti-
vididos por finalidade de aplicação, ou gos sobre avaliação neuropsicológica
seja, conforme a necessidade de avalia- pode ser mais bem visualizada nos grá-
ção, e distribuídos em três áreas, a sa- ficos 1 e 2, nos quais, respectivamente,
ber: de personalidade, de avaliação a finalidade e os testes mais freqüente-
intelectual e de habilidades ou aptidão. mente citados nos artigos podem ser
A representação que alguns instrumen- observados.

Tabela 2
Finalidade Testes Total
Rorschach 20
PMK 12
Presonalidade
Desenhos 8
Pirâmides coloridas 3
Escalas Weschler 12
Intelectuais
Raven 3
Benton 2
Habilidades Memória diversos 4
Bender 7

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Gráfico 1

Percebe-se a forte tradição exercida de 40 e 50, deslocando-se posteriormen-


pela psiquiatria quanto ao número de te para as avaliações de habilidades
artigos apresentados em seu conteúdo posteriormente. Um outro aspecto a
orientado na avaliação destinada aos es- considerar diz respeito à avaliação de
tudos da personalidade, especialmente características intelectuais e cognitivas
caracterizada no diagnóstico diferencial representadas nos conteúdos de aquisi-
de quadros psicopatológicos. Essa forte ção da própria manifestação da inteli-
tradição foi muito presente nas décadas gência.

Gráfico 2

Pode-se verificar que dentre os ins- mais utilizado e mais citado em artigos
trumentos mais citados quanto ao empre- sobre avaliação psicológica (Hutz &
go em avaliação neuropsicológica, o Bandeira, 1993). Segue em segundo lu-
Psicodiagnóstico de Rorschach é o que gar o Psicodiagnóstico Miocinético de
representou um maior número de cita- Mira y Lopez, o PMK, teste que durante
ções. Essa elevada freqüência também é quase 40 anos foi muito conhecido e uti-
constatada nas demais áreas da avalia- lizado no Brasil graças à influência de
ção psicológica ao longo dos 60 anos des- seu idealizador, o psicólogo espanhol
de que o teste foi introduzido no Brasil Emílio Mira y Lopez. Infelizmente sua
por Lopes e Rabello em 1932. Com uma ampla divulgação no país não foi acom-
forte tradição psiquiátrica européia, o panhada de uma produção científica como
Rorschach é desde o final da década de o Rorschach e foi assim relegado ao es-
20, um dos instrumentos mundialmente quecimento sem que houvesse uma úni-

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ca publicação no meio científico interna- especial em diferenciar, na ausência das
cional desde então. crises epilépticas, uma descrição da per-
Analisando as palavras-chave ou ex- sonalidade do paciente, ou de formular
pressões mais comuns na introdução, seu diagnóstico precocemente.
quando as primeiras estavam ausentes, Paulatinamente o interesse desloca-
evidenciou-se ao longo das décadas a ex- va-se para o uso de novos recursos na
pressão de interesses voltados para ques- avaliação e aspectos da aprendizagem
tões específicas. Os artigos das primeiras infantil, representando assim uma mu-
décadas, nos anos trinta e quarenta, de- dança do estritamente patológico para
monstravam um forte apelo às descrições o evolutivo. Conforme se verifica na
psicopatológicas e de personalidade, em tabela 3, nas décadas seguintes, espe-
que mais podiam ser entendidos como cialmente a partir de 1950, especifica-
de diagnose diferencial de transtornos se mais a avaliação neuropsicológica ao
como a epilepsia. Essa patologia pelo seu centrarem-se nas funções cognitivas
pronunciado quadro neurológico, na épo- como aprendizagem, memória e atenção
ca com poucas possibilidades de cura, para culminar nas demências, já nos
tinha na psicologia um interesse todo anos 90.

Tabela 3
Período Conteúdo
Psicopatologia, epilepsia e personalidade, estatística e estudos
1930
epidemiológicos.
Instrumentos, terapêutica, funcionamento, diagnóstico. Epilepsia e personalidade,
1940
estatística e estudos epidemiológicos.
Instrumentos, terapêutica, psicopatologia funcionamento diagnóstico, crianças,
1950 aprendizagem, dislexia. Diagnose, epilepsia, intoxicações, distúrbios
neuropsicológicos e crianças.
Instrumentos, psicopatologia terapêutica, diagnóstico. Influência de substâncias,
1960
cognição, diagnose, imaturidade, disritmia, lesões cerebrais.
Deficiência mental, aspectos evolutivos, psicopatologia (diversas), demências,
1970
alcoolismo, funções cognitivas, memória, sintomatologia e aprendizagem.
Aspectos evolutivos, psicopatologia (diversas), demências, alcoolismo, funções
1980 cognitivas, memória personalidade, deficiência mental, cognição e funções
cognitivas.
Aspectos evolutivos, psicopatologia (diversas), demências, alcoolismo, funções
1990 cognitivas, memória, funções cognitivas, construção de instrumentos, influência
de substâncias, avaliação neuropsicológica de desordens.

Cabe salientar um aspecto importante testes disponíveis, não somente os indi-


quanto ao uso no Brasil de instrumentos cados para a avaliação neuropsicológica.
psicológicos ou neuropsicológicos na ava- Mas o problema não se restringe somente
liação e refere-se à disponibilidade de ins- ao número de instrumentos e, sim, à sua
trumentais e testes. O número de testes qualidade; a grande maioria dos nossos
no Brasil é infinitamente menor se com- instrumentos não é revisada, nem tampou-
parado ao mercado americano, diferença co possui um padrão de qualidade similar
que pode ser facilmente visualizada na ao do mercado editorial internacional.
obra de Lezak (1995), na qual se encon- Assim, não somente as normas são ine-
tram aproximadamente 345 instrumentos xistentes ou no máximo desatualizadas,
e/ou técnicas relacionados, ao passo que como também não dispomos de uma re-
no Brasil esse número é de apenas 178 ferência quanto a um padrão de qualida-
testes comercializados, incluindo todos os de para seu consumo.

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um caráter fisiológico imprescindível à
CONCLUSÃO exploração do cérebro e seus padrões de
funcionamento de um reduto hermético
Pode-se constatar na analise de perió- que ainda hoje nega, muito mais que per-
dicos brasileiros da década de 30-40, mite, seu desvelamento.
especificamente na Neurobiologia a preo- Verificou-se também que a produção
cupação de uma área da medicina em re- identificada até o presente momento
lacionar os achados psicopatológicos de reflete o desenvolvimento científico,
doenças como epilepsia e um interesse representado em seis décadas, em que de-
voltado à exploração do funcional da terminados instrumentos apresentam um
personalidade ou normalidade. Nessa número considerável de citações por
interface encontramos o solo fértil para mais de 30 anos, ao passo que outros
o nascimento de uma interdisciplinari- estão há muito esquecidos sem novos
dade denominada de neuropsicologia, artigos.
que como a psicologia, nasceu da con- Este trabalho é parte de um processo
fluência de estudos psicopatológicos, de identificação da produção psicológi-
cujo interesse primeiramente dirigia-se ca brasileira, em avaliação psicológica
à anormalidade para a partir dela ca- que segue agora na elaboração de uma
racterizar o modus operandis da norma- base informatizada de dados, acrescen-
lidade. Os resultados de provas, exames tando livros, trabalhos apresentados em
que a tecnologia apresentava, conferiam congressos, dissertações e teses.

Encaminhado em 31/10/02
Aceito em 08/07/03

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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