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Com base em informações desse tipo, considerou-se que o processo de difusão dos
parques infantis no Brasil poderia ter ocorrido também com a construção de instituições com
formatos diferenciados. Em relação aos parques infantis criados no Estado de São Paulo, a
hipótese apresentada no projeto indicava que eles teriam seguido um modelo muito próximo
do município de São Paulo:
5 Os Recantos Infantis eram instituições como os Parques Infantis, situados em regiões com muitos prédios de
apartamentos. Os Recreios começaram a funcionar no final de 1954 e situavam-se em espaços mínimos (out.
1955, p.165).
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Chile, Estados Unidos, Bolívia, Uruguai. Destaca-se, em 1949, a visita de membros do “II
Congresso Panamericano de Serviço Social”, realizado no Rio de Janeiro, que estiveram no
Parque Infantil Vila Romana.
Em relação à modalidade de formação, o Boletim publicou preleções sobre temas
diversos, com referências ao seu tratamento em outros contextos, ampliando o enfoque sobre
as problemáticas vividas localmente. Esse é o caso do artigo “A delinqüência infanto-juvenil e
os trabalhos de crianças e adolescentes na rua”, de Maria Ignez Longhin, Conselheira Social
Psiquiatra da Divisão de Educação, Assistência e Recreio, publicado na Seção Higiene
Mental, em julho de 1947. Lá, a autora faz considerações sobre como a questão era
enfrentada nos Estados Unidos e na Argentina, citando artigos e legislação desses países. Ou
então o artigo “Uma arte antiga”, publicado em março de 1952, que transcreve publicação da
revista Recreation sobre as marionetes, remontando à sua origem no antigo Egito e
indicando a potencialidade da sua utilização na educação das crianças, como complemento
ilustrativo às educadoras que realizaram o Curso de Teatro de Figuras.
Mas as preleções não apenas restringiam-se a citar países e autores, há também os
textos divulgados com a chancela de serem reproduções de palestras dos conselheiros da
Divisão em eventos de caráter nacional ou internacional, ou como relatórios de viagens de
estudos, que enfrentam temas relevantes para a rede de instituições do município.
É o caso da notícia sobre a 3ª Jornada de Puericultura e Pediatria, realizada durante a
Semana da Criança, em Salvador da Bahia, publicada em novembro de 1949, informando da
participação da chefe da Seção Técnico Educacional da Divisão de Educação, Assistência e
Recreio, Noêmia Ippólito. Informa-se que o trabalho apresentado, “Os parques e recantos
infantis e centros de moças e rapazes da prefeitura de São Paulo”, foi considerado pelo
professor Arthur de Sá, da Faculdade de Medicina de Recife, como modelo a ser implantado
em todos os estados brasileiros. A palestra é publicada no Boletim em março de 1950, com o
título “A recreação como fator da formação da personalidade”. Em outubro do mesmo ano,
publica-se outro artigo de Ippólito, “Observações gerais sôbre crianças e adolescentes numa
viagem à Europa”, que reproduz palestra proferida por ela na Liga do Professorado Católico,
no mês anterior.
Em agosto de 1951, publica-se o “Relatório apresentado pela educadora musical
Adelaide Maria Caccuri sobre sua viagem de estudos à Argentina”, que tinha como objetivo
observar o que se fazia na Argentina, no setor de Parques Infantis e na parte musical e
orfeônica aplicada as crianças. O texto informa que foram conhecidos projetos da Fundação
“Eva Perón”, como a “Ciudad Infantil” e o “Hogar de Transito”.
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Em relação às atividades de formação, aparece com destaque a relação com o
Departamento de Educação Física. Em março de 1950, é publicada notícia sobre a realização
da 1ª Concentração dos Parques Infantis do Interior “na cidade vizinha de Santos, organizada
pelo Departamento de Educação Física do Estado de São Paulo, com representantes de
Piracicaba, Marilia, Campinas, Pinhal, Araraquara, Jundiaí e Santos”.
Em junho de 1951, anuncia-se a realização do Curso Técnico e Pedagógico de Educação
Física, a ser realizado em Santos e “ministrado por professores nacionais e estrangeiros de
grande renome”. Em agosto de 1952, noticia-se a realização, no período de 20 de junho a 5 de
julho, do 2° Curso de Aperfeiçoamento Técnico e Pedagógico de Educação Física, com
“professores de renome mundial”, na vizinha cidade de Santos, com a participação de 17
professores de educação física da Prefeitura Municipal de São Paulo. Em setembro do mesmo
ano, é publicado Ofício do Diretor do Departamento de Educação Física agradecendo ao
Parque Infantil “Noêmia Ippolito” pela apresentação de ginástica dos alunos, durante o
curso.
Em janeiro de 1953, Ruth Amaral Carvalho, Conselheira de Atividade Artística, publica
editorial em que comenta sobre o II Curso Intensivo de Recreação Infantil, realizado em
Santos, “mais uma das magníficas realizações do Departamento de Educação Física do
Estado”. A conselheira lamenta que apenas cinco educadoras dos Parques tivessem realizado
o curso, apesar do apoio do Departamento de Educação, Assistência e Recreio e anuncia a
publicação de texto da professora Blanche Cury Rahal, educadora jardineira do Parque
Infantil Ibirapuera, sobre a finalidade da excursão, baseado nas aulas do curso. Em fevereiro
de 1953, Blanche continua a divulgação dos trabalhos estudados do curso, focalizando as
Rodas Cantadas. Na mesma edição, Nice Ferreira, também educadora jardineira do Parque
Infantil Ibirapuera, apresenta exemplo extraído da coletânea do curso, sobre Aulas
Historiadas. Nos meses de abril, maio e junho, as mesmas professoras publicam mais
propostas apresentadas naquela atividade de formação.
As evidências apresentadas até agora mostram que as hipóteses de pesquisa
apresentadas no projeto mencionado acima (KUHLMANN JR., 2013) precisam ser mais bem
definidas, pois se torna insustentável a atribuição de uma influência unidirecional partindo
do Parque Infantil da cidade de São Paulo, que repercutiria na sua absorção pelo
Departamento de Educação Física do estado e se espraiaria pelo país. É evidente que a rede
paulistana tornou-se uma referência para esses processos de difusão da instituição. Mas, ao
mesmo tempo, essa rede se realimentava com a contribuição, seja do Departamento de
Educação Física, seja de outras experiências, nacionais e internacionais.
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O Parque Infantil e seus mitos de origem
Miranda justifica a emissão desse juízo, mesmo sem ter visitado os parques, referindo-
se à verba constante do orçamento do município de Porto Alegre, considerada “irrisória” para
“satisfazer as necessidades de um serviço ainda mesmo rudimentar”. Ao mesmo tempo,
Miranda omite, em seu texto, a informação de que os parques porto-alegrenses teriam sido
precursores em relação à experiência paulistana. A tese de Cristiane Luce Gomes (2013)
elucida aspectos importantes da constituição dos Jardins de Recreio, implantados por
Frederico Gaelzer na capital do Rio Grande do Sul, em 1926. Essa experiência é também
obscurecida na Revista Brasileira de Educação Física.
Em relação à especificidade do Parque Infantil de São Paulo, Miranda justifica por meio
do que teria sido o depoimento do Dr. Le Meé, responsável pela organização dos Parques
Infantis em Paris:
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Ao contar ao dr. Le Meé a organização dos Parques Infantis de São Paulo,
com assistência médica completa, distribuição gratuita de merenda, serviços
organizados de educação física, educação higiênica e recreação, regalos que a
Prefeitura de São Paulo faz aos pequenos munícipes dos bairros proletários,
ele nos olhava com certo espanto, como quem não pudesse acreditar que no
Brasil houvesse uma cidade com parques infantis organizados, como não vira
muitos nem mesmo nos Estados Unidos.
Não sabemos se ao receber, há três anos, uma coleção de fotografias que lhe
enviamos, o seu olhar de nobre francês teve outra expressão e os seus gestos
de fidalgo acenaram de admiração ou de entusiasmo diante de documentário
que comprovava a realização, pela cidade de São Paulo, de um ideal do qual
ele era o mais ardoroso partidário c o mais fiel apóstolo. (MIRANDA, 1941,
p.10)
Além de ser necessário considerar algum exagero no uso do adjetivo completa, para se
referir à assistência médica, bem como a necessidade de aferição do que efetivamente se
oferecia como merenda, há que se ponderar também a quantidade restrita de sete parques e
um recanto infantil na cidade de São Paulo, à época em que o trabalho foi escrito.
Outro aspecto a ressaltar, refere-se à menção aos Estados Unidos e seus playgrounds, a
quem Miranda presta o seu tributo, neste trecho e em outros mais enfaticamente, ao longo do
texto. Ao comentar sobre a proposta paulistana, Miranda afirma:
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