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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA


CURSO DE DOUTORADO EM HISTÓRIA

EDUCAÇÃO FORMAL PARA OS ÍNDIOS: as escolas do Serviço de Proteção aos


Índios (SPI) nos postos indígenas em Alagoas (1926-1967)

Projeto de pesquisa apresentado por


Gilberto Geraldo Ferreira à banca de
seleção de doutorado 2011, no Programa de
Pós-Graduação em História da UFPE – linha
de pesquisa Relações de Poder, Sociedade
e Ambiente.

Recife-PE
2011
INTRODUÇÃO
O nosso contato com os povos indígenas como pesquisador ocorreu com os Kalancó
no Sertão alagoano, em abril de 2004. Na oportunidade, realizamos a pesquisa de campo para
elaboração de um Trabalho de Conclusão de Curso em História, na Universidade Federal de
Alagoas (UFAL). Em Agosto de 2004 iniciamos o Curso de Especialização em Formação
de Professores em Geo-História, no Centro de Educação/UFAL. Durante o Curso
continuamos a pesquisar os Kalancó, enfatizando a necessidade de trazer a discussão e a
temática indígena para o meio escolar, propondo o estudo por meio de projetos e visando a
construção de saberes em História resultante da integração entre os povos indígenas e as
comunidades Escolares. Em 2007 apresentamos uma proposta de pesquisa ao Programa de
Mestrado em Educação na UFAL foi aprovado e defendemos em junho de 2009, a dissertação
A Educação dos Jiripancó: uma reflexão sobre a escola diferenciada dos povos indígenas de
Alagoas. Investigamos práticas formativas histórico-culturais do povo indígena Jiripancó,
habitante em Pariconha, Alagoas, como forma de construir conhecimentos a partir das
experiências do grupo e fazendo um histórico da Educação Escolar Indígena em Alagoas,
entre 2003 e 2008.
Com o Projeto que ora apresentamos, pretendemos contribuir para o conhecimento
sobre historia indígena, utilizando como referencia prioritária a análise da atuação do Serviço
de Proteção aos Índios (SPI)1 através da instalação de escolas na Inspetoria Regional 4 (IR4)
e como essas populações se (re)constroem a partir dessas ações. Para estes fins serão
utilizadas como bases de análise uma escola que foi construída em Palmeira dos Índios para
os Xucuru-Kariri e outra em Porto Real do Colégio, destinada a assistir os Kariri-Xocó, dois
povos indígenas situados em Alagoas. Será feito um recorte temporal que indica a criação das
primeiras instituições educativas na IR4 em 1926 e finalizando em 1967 com extinção oficial
do SPI e a criação da Fundação Nacional do Índio/FUNAI. Deve-se esclarecer que o foco
central da pesquisa será as escolas instaladas em Alagoas pelo SPI e suas relações com os
indígenas, e também como os indígenas interagiram com essas escolas.
A história da educação escolar entre os povos indígenas no Brasil pode ser dividida em
quatro fases. A primeira situa-se à época do Brasil colônia, quando a escolarização dos índios
esteve a cargo exclusivo de missionários católicos, notadamente os Jesuítas. O segundo
momento, foi marcado pela criação do Serviço de Proteção aos Índios e Localização de

1
Concentra-se em estudar a primeira forma de poder estatizado e estabelecer relações de caráter puramente laico
com os indígenas, tanto no que tange aos seus quadros à sua ideologia de ação. O Serviço de Proteção aos Índios
e Localização de Trabalhadores Nacionais (SPILTN), foi criado em 1910 e a partir de 1918 foi renomeado como
SPI com suas ações dirigidas apenas aos índios (LIMA, 1995, p. 11).
3

Trabalhadores Nacionais – (SPI entre 1910-1967) e se estendeu a política de ensino da


FUNAI e a articulação com o Summer Institue of Linguistics (SIL) e outras missões
religiosas. O momento seguinte correspondente a atuação de organizações indigenistas não
governamentais (Ongs.) e a formação do chamado movimento indígena em fins da década de
1960 e nos anos de 1970, período da Ditadura Militar, marcaram a terceira fase. A quarta fase
talvez se caracterize pela iniciativa dos próprios povos indígenas, a partir da década de 1980,
que decidiram definir e autogerir os processos de educação escolar nas áreas indígenas 2.
Pesquisadores (FERREIRA, 2001; ALMEIDA, 2004) argumentam que estamos vivenciando
uma quina fase, em que há novas orientações e tendências no campo da educação escolar,
caracterizadas pela incorporação das reivindicações dos povos indígenas nas diretrizes e
princípios de legislação que norteiam a política educacional para esses povos no Brasil.
Para a pesquisa que propomos, o período de investigação será o da atuação do SPI,
criado pelo Decreto nº 8.072, de 20 de junho de 19103, subordinado ao Ministério da
Agricultura, Indústria e Comércio – MAIC -, constituído como lugar no qual se buscava
centralizar e manter o monopólio do exercício de diversos poderes sobre os povos nativos.
Sua finalidade seria implantar, gerir e reproduzir tal forma de poder de Estado, com suas
técnicas (práticas administrativas), principais normas e leis, constituídas e constituintes de um
modo de governo sobre o que seria denominado de índio (ou seu plural, índios), status que se
engendra e transforma ao engendrá-lo (LIMA, 1995).
Para organizar a atuação, o SPI foi dividido em nove Inspetorias Regionais (IR). A IR
4 que correspondia a Região Nordeste estava subdividida em doze unidades de ação ou Postos
Indígenas, coordenada por um escritório central no Recife. Nossas pesquisas se concentrarão
nesta Inspetoria Regional 4, mais especificamente em duas escolas coordenadas pelo Posto
Indígena (PI) Irineu dos Santos, no município de Palmeira dos Índios, que atendeu os índios
Xucuru-Kariri e também no PI Alfredo Damaso na cidade de Porto Real do Colégio,
destinado a assistir os índios Kariri-Xokó, ambos os postos com suas escolas situadas em
Alagoas. Vale ressaltar que, na época em Alagoas só esses dois povos indígenas eram
oficialmente reconhecidos pelo Estado brasileiro.
O campo de ação indigenista oficial criado em Palmeira dos Índios e em Porto Real do
Colégio, com a instalação de unidades administrativas das ações indigenistas, procurava

2
FERREIRA (2004).
3
Decreto nº 8.072, de 20 de Junho de 1910. Legislação Informatizada - Dados da Norma. Disponível em:
http://www2.camara.gov.br/legin/fed/decret/1910-1919/decreto-8072-20-junho-1910-504520-norma-pe.html.
Acessado em: 27/06/2011.
4

coordenar a situação local do ponto de vista do Estado, incluindo, a educação formal (SILVA
JÚNIOR, 2007).
A história da atuação oficial junto aos índios ao longo do século XX é reveladora da
tentativa de concentração de serviços em mãos de órgão públicos do governo federal, isto é,
dos dispositivos administrativos de poder destinados a anular a heterogeneidade histórico-
cultural submentendo-a a um controle com algum grau de centralização e a imagem de
homogeneidade fornecida pela ideia de uma nação (LIMA, 1995).
A Educação escolar assumia o papel, enquanto discurso, de constituir e nomear os
sujeitos ditos indígenas. As ações da parte do SPI constituíam um conjunto de práticas
chamadas de indigenismo. O indigenismo pode ser compreendido num conjunto de ideias e
práticas relativas à inserção de povos indígenas em sociedades tidas como submetidas e
submissas ao Estado nacional, com ênfase especial na formulação de métodos para o
tratamento das populações nativas, operados, em especial, segundo uma definição do que
seria índio (LIMA, 1995). Nessa perspectiva a instalação de escolas para introduzir a
educação formal pelo SPI teria como principal objetivo a integração dos índios à sociedade
nacional.
É importante pensar que a Educação formal (escolar), ao longo dos tempos, vem sendo
compreendida por grupos ou massas como autonomia, constituindo antagonismos aos anseios
das elites na busca da homogeneização ou conformação por meio dos Estados nacionais. De
fato, o “propósito central da educação permaneceria a aspiração utópica ao desenvolvimento
de personalidades autenticamente humanas”, por difícil que seja realizá-las. Assim, a “nossa
tradição cultural e intelectual” e pedagógica, no seu aspecto mais genuíno e mais alto,
continuaria a viver e a agir como paradigma de desenvolvimento da humanidade, ainda que se
adaptando a condições profundamente novas (CAMBI,1999).
O projeto educacional destinado aos indígenas implementado pelo SPI, talvez tivesse
uma proposta próxima ao que se estaria pensando no mesmo período para os trabalhadores
rurais, como previa a Constituição Federal vigente. Almeida (2009, p. 287) argumenta que a
educação rural é vista como um instrumento capaz de formar, de modelar um cidadão
adaptado ao seu meio de origem, mas lapidado pelos conhecimentos científicos endossados
pelo meio urbano.
Observam-se intenções do poder público de prover o meio rural de escolas já no
século XIX. Porém, apenas a partir de 1930 foi quando os programas de escolarização do
meio rural ganharam corpo. Talvez o forte movimento migratório ocorrido no país no período
1910/1920 como desencadeador de um olhar mais atento para a educação rural, contexto em
5

que surge o “ruralismo pedagógico”, que pretendia uma escola integrada às condições locais,
objetivando assim fixar o homem no campo. A idéia de fixação do homem ao campo exaltava
de forma romantizada uma educação voltada à “vocação” do país, entendida como agrária. Da
terra deveria o homem retirar a sua felicidade e somente nela conquistaria o enriquecimento
próprio e do grupo social do qual fazia parte. O entendimento comumente realizado parece
estar sedimentado na concepção de educação rural, como aquela que, além de ensinar a ler,
contar e escrever pode incluir técnicas agrícolas em seu currículo e assim estará contribuindo
para fixar o homem no campo4.
Para o Nordeste (NE) as escolas indígenas serviriam para incorporar os índios à massa
de trabalhadores rurais (mão-de-obra) nacionais, no grande projeto da Década de 1930
(Governo Vargas) de interiorizar o Estado. Existia ainda o medo do “perigo comunista” da
recente Década de 1920, pois a Coluna Prestes percorreu o interior do NE5. É importante
registrar que os indígenas também interagiam com essa lógica à medida que procuravam ser
assistidos por esses órgãos do Estado. A pesquisa contribuirá mostrando como os indígenas se
utilizavam dessa “assistência”.
Por intermédio do Pe. Alfredo Dâmaso, em 1944 o SPI estabeleceu um posto indígena
em Porto Real do Colégio (AL), e pela mediação de Carlos Estevão de Oliveira (1943) desde
a década de 1930, os Xucuru-Kariri passariam a ser reconhecidos em 1952 pelo mesmo órgão
(ARRUTI, 2004), ano em que se foram instaladas as escolas indígenas em Alagoas6.
A implantação das escolas pelo SPI se enquadrava nas propostas ideológicas e
pedagógicas para a educação no campo. Assim como para grande parte desses trabalhadores,
as escolas destinadas aos indígenas também teriam carências em suas instalações físicas e
aparatos mínimos para o funcionamento dos exercícios educacionais e inclusive pedagógicos.
Os vários relatórios, memorandos e ofícios solicitando materiais de uso escolar, podem
indicar algo estruturante na educação brasileira, quando se trata, da sua destinação para
grupos subalternos sejam urbanos ou rurais. Por várias vezes agentes de postos indígenas

4
ANTONIO, Clésio Acilino; LUCILINO, Marizete. Ensinar e aprender na educação do campo: Processos
históricos e pedagógicos em relação. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/ccedes/v27n72/a05v2772.pdf.
Acessado em 30/07/2011.
5
É importante registrar que os indígenas também interagiam com essa lógica à medida que procuravam ser
assistidos por esses órgãos do Estado. A pesquisa contribuirá mostrando como os indígenas se utilizavam dessa
“assistência”.
6
Relatório apresentado, por Deocleciano de Souza Nenê, em Maio de 1952, ao Sr. José Maria da Gama Malcher,
Diretor do SPI, relativo a compra da Fazenda Canto, em Palmeira dos Índios, no Estado de Alagoas. Museu do
Índio/Serviço de Documentação-SEDOC, Microfilme. 179, Fotograma 35/37 e 50.
6

faziam estas solicitações7. Até a década de 1940, o ensino primário dividiu-se, grosso modo,
entre as instituições particulares da Igreja Católica Romana e as mal equipadas escolas
públicas, 90% das quais nas áreas rurais, que constavam de uma única sala, sem instalações
sanitárias (LEVINE, 1980, p. 38).
Se a escola também fazia parte do projeto do SPI para transformar os indígenas em
trabalhadores assemelhados aos demais alagoanos no campo, talvez as práticas como tentativa
da efetivação não tenha sido tão “eficazes” do ponto de vista do Estado. As dificuldades
administrativas e de gerenciamentos se davam pela própria burocracia estatal que se constituía
como um dos principais empecilhos, ao passo que não se conseguia instrumentos físicos como
a construção de escolas e mobiliários necessários ao funcionamento com eficácia.

DISCUSSÃO HISTORIOGRÁFICA
Da produção historiográfica acerca do período do SPI no que diz respeito aos temas
Educação e povos indígenas no período proposto para estudo, destaca-se a Tese de Doutorado
em Antropologia Social (UFRJ) e publicada com o título Um grande cerco de paz: poder
tutelar, indianidade e formação do Estado no Brasil, onde o autor (LIMA, 1995) discutiu as
relações que estabelecidas entre as variadas formas de administração, instituídas desde a
chegada dos portugueses ao território do que hoje é chamado República Federativa do Brasil e
os povos nativos nesta parte do continente americano. Tendo como referencial teórico os
estudos de Foucault sobre as formas e redes discursivas do poder, o autor concentrou a análise
sobre o período do SPI enquanto parte da administração pública no Brasil e enquadrando-a na
qualidade de peça determinante na produção de sentidos generalizáveis para a
heterogeneidade da vida social brasileira.
O antropólogo João Pacheco de Oliveira (2004) organizou a coletânea A viagem da
volta: etnicidade, política e reelaboração cultural no Nordeste indígena. Os textos que
compõem a obra tratam do fenômeno de ressurgimento de identidades étnicas (indígenas) no
Nordeste. Os artigos nesse livro tratam de questões políticas e teóricas, remetendo ao
conjunto de mecanismos sociopolíticos e jurídicos pelos quais os povos indígenas nessa
Região teriam sido incorporados ao processo de construção da nação brasileira, fazendo-se
representar no período republicano pelo “indigenismo rondoniano”. Os textos põem em
discussão a representação do índio como primitivo, expressada pelo senso comum, colocando

7
Este posto necessita de ferramenta, uma máquina datilografia, móveis, material escolar, e outros objetos
necessários para uma repartição. Palmeira dos Índios, 31 de dezembro de 1953. Folha 000019, assinado pelo
agente ou responsável pelo Posto Irineu da Silva Melo. MUSEU DO ÍNDIO/Sedoc. Mic. 167, fot. 19, em
31/10/1953.
7

sob suspeita as demandas identitárias dos povos indígenas no Nordeste, ao passo que as
práticas de tutela e assistência estabelecidas no indigenismo oficial revelaram-se
‘inadequadas” para os projetos étnicos.
O pesquisador Edson Silva8 tratou das pesquisas e reflexões históricas que abordam os
povos indígenas no Nordeste, pondo em debate a necessidade de rever uma história do ponto
de vista linear, ufanista, como uma grande conquista. Nesta perspectiva a contribuição é para
compreensão das relações coloniais nas quais os indígenas foram atores/sujeitos, contribuindo
também para compreensão do processo histórico de emergência étnica na região e da
atualidade dos povos indígenas no Nordeste.
Carlos Estevão de Oliveira (1943) apresentou “algumas notícias” sobre remanescentes
indígenas do Nordeste, mais especificamente os do Sertão pernambucano, fazendo referência
também aos grupos de Alagoas.
Quanto à historiografia local que trata da história dos povos indígenas de Alagoas
existem estudos de pesquisadores como o de Abelardo Duarte9. Este fez um estudo sobre as
tribos, aldeias e missões de índios nas Alagoas, com suas considerações sobre o contingente
indígena e sistematização dos seus grupos históricos e sobreviventes. Na obra o autor trata da
história em seus diversos aspectos como a economia, política, terra, conflitos, religiosidade,
arte, sexualidade, casamento, astronomia, lendas, ervas medicinais, entre outros. Félix de
Lima Júnior (1973) tratou da participação dos indígenas em Alagoas na marinha imperial.
O antropólogo Clóvis Antunes (1984) publicou duas obras: Wakóna-Xukuru-Kariri e
também Índios de Alagoas: documentários, reiniciando as discussões sobre povos indígenas
no Estado, incluindo os Xukuru-Kariri e os Kariri-Xocó, em estudo em nosso projeto de
pesquisa. O autor reuniu como aponta o segundo título, documentos históricos que podem ser
entendidos também como registros etnográficos.
O pesquisador Luiz Barros Torres (1973) fez um histórico dos Xucuru-Kariri a partir
da oralidade e consulta documental reunindo em sua obra diversos aspectos simbólicos,
descrevendo práticas e rituais da vida indígena na interação com a sociedade envolvente.
Existem monografias e dissertações como de Sílvia Martins (1993) que descreveu dados
etnográficos sobre o grupo indígena a partir de informações que se relacionam com situações

8
SILVA, Edson H. Povos indígenas no Nordeste: contribuição a reflexão histórica sobre o processo de
emergência étnica. Revista de humanidades. Disponível em: www.cerescaico.ufrn.br/mneme. Acessado em:
17/09/2011.
9
DUARTE, Abelardo. Tribos, aldeias e missões de índios nas Alagoas: considerações sobre o
contingente indígena e sistematização dos seus grupos históricos e sobreviventes. Separata de Revista
do IHGAL. Vol. XXVIII. 1968: Maceió, 1969. Ver: DUARTE, Abelardo. Alagoas na Guerra da
independência. APA: Maceió, 1974.
8

históricas em que esses índios estão inseridos; Aldemir Barros da Silva Junior (2007; 2009)
constituiu um estudo sobre o processo de aldeamento indígena na Região Nordeste através de
Postos Indígenas, quando a política indigenista esteve sob a incumbência do Serviço de
Proteção aos Índios, enfocando o caso do aldeamento dos Xucuru-Kariri na Fazenda Canto,
com a instalação do Posto Irineu dos Santos.
O cientista social Luiz Sávio de Almeida (2005) construiu a história do grupo indígena
Kukuru-Kariri tomando como base a categoria saúde relacionando-a ao trabalho, a moradia, a
alimentação entre outras expressões que compõem, em seu sentido mais amplo, do que pode
ser entendido como Saúde indígena.
A pesquisadora Maria Ester Ferreira da Silva (2007; 2008) tratou das narrativas e a
construção territorial Xukuru-Kariri, apontando como elemento principal a figura do narrador
para possibilidades das interações entre passado e presente e na conquista dos territórios
atuais. Ivan Soares Farias (2008) discutiu a memória como elemento legal numa perspectiva
juridicoantropológica para a (re)conquista territorial dos Xukuru-Kariri.
Em parte do seu estudo dedicado aos Xucuru-Kariri, o pesquisador Adolfo Neves de
Oliveira Junior10 estabeleceu um diálogo entre as formas como antropólogos que trabalham
com grupos indígenas, em especial no Nordeste, tratam a questão da atualização da identidade
étnica.
Sobre a historiografia Kariri-Xocó existe uma publicação organizada por Luiz Sávio
de Almeida11, que enfatizou a partir da observação participativa, o diagnóstico, o tratamento e
a cura de doenças infortúnios buscando identificar qual o papel desempenhado pelos
especialistas no interior do sistema terapêutico e sua relação com o paciente. Fazendo uma
investigação da noção de doença, mal-estar e as crenças etnológicas entre o grupo,
relacionando à compreensão da cosmologia e sua interferência em suas concepções de
doença.
Com seu estudo Vera Lúcia Calheiro (1989), em linha gerais, discutiu a história dos
Kariri-Xocó e os problemas de enfrentamento com a sociedade envolvente para existirem
enquanto índios e Clarice Mota (1996) em Identidade e cultura: direito, escolha ou objeto

10
OLIVEIRA JR; Adolfo Neves de. A invisibilidade imposta e a estratégia da invisibilização
entre negros e índios: uma comparação. Disponível em:
http://vsites.unb.br/ics/dan/geri/boletim/oliveira_jr_1997.pdf. Acessado em: 09/09/2011.
11
ALMEIDA, Luiz Sávio de (Org.). Índios do Nordeste: temas e problemas vol. 5. ‘Vai-te para onde não canta
galo, nem boi urna...’ diagnóstico, tratamento e cura entre os Kariri-Xocó. Maceió, EDUFAL, 2004.
Originalmente apresentado como dissertação de Cristiano Barros Marinho da Silva (Mestrado em Antropologia)
– Universidade Federal de Pernambuco, Recife 2003, sobe o título: ‘Vai-te para onde não canta galo, nem boi
urna...’ diagnóstico, tratamento e cura entre os Kariri-Xocó (AL).
9

não-identificado? Para a autora, História, documentação, memória fazem parte de uma


estratégia de reconhecimento da tradição cultural de um grupo indígena.
Luiz Sávio de Almeida fez uma discussão teórica sobre o papel do historiador e a
escrita dos povos indígenas de Alagoas. Os povos Karapotó e os Kariri-Xocó são,
eventualmente analisados a partir de seus escritos (ALMEIDA, 2008).
Dentre os trabalhos acima relacionados, a Dissertação de Mestrado de Aldemir Barros
da Silva Junior (2007) está diretamente relacionada à temática que propomos em nosso
Projeto de pesquisa, por ter dedicado parte de um capítulo sobre a questão da escola entre os
Xucuru-Kariri no período do SPI. Em seu estudo o autor tratou do Posto Indígena em
Palmeira dos Índios e sua relação na comunidade indígena. Entre outras questões que
envolviam a vida daquele povo indígena o citado autor abordou a escola e a educação como
projeto de Estado para a inserção dos indígenas na sociedade nacional.
Duas dissertações de mestrado sobre a Educação Escolar Indígenas em Alagoas foram
defendidas nesta primeira década de 2000. Com o tema Política de assimilação: educação
escolar indígena em Alagoas a partir da constituição de 1988 (SILVA, 2008), o autor
realizou uma discussão sobre o processo de minimização da identidade indígena em Alagoas,
assim como no Estado nacional. Colocando o debate sobre a legalidade frente às questões
políticas e sociais.
A segunda Dissertação de Mestrado, mencionada na introdução desse Projeto
(FERREIRA, 2009), tratou da Educação dos Jiripancó, povo indígena habitante no Alto
Sertão alagoano, tentando compreender as experiências, o cotidiano e as práticas indígenas
como processos formativos que poderão ser visualizados pela escola na construção de
conhecimentos articulados com a tradição. Os sujeitos aparecem ao mesmo tempo como
coletivos e individuais, aprendem e ensinam, obedecem a regras, mas também transformam.
Essa dissertação procurou apontar e discutir parte dessas questões buscando responder qual
pedagogia faz parte dos processos que nomeiam aqueles indígenas no Sertão alagoano.
A partir da Constituição de 1988, que tratou das questões referentes à Educação
Escolar Indígena (EEI) como diferenciada, surgiram também interesses sobre a História da
Educação com enfoques nas áreas geográficas indígenas. Educadores, historiadores e
principalmente antropólogos tem produzido e publicado diversos trabalhos e obras sobre a
temática da Educação. Dos estudos que são do nosso conhecimento, podemos destacar uma
coletânea organizada por Aracy Silva e Mariana Ferreira com o título Antropologia História e
Educação: a questão indígena em sala de aula publicada em 2004 que reúne artigos com
diferentes abordagens de vários sobre a EEI.
10

Ao tratar de educação, seja para os indígenas ou para os não indígenas, se faz


necessário recorrer a uma concepção ou compreensão do termo. Mas, ao mesmo tempo,
qualquer tentativa de definição do termo “Educação”, por sua complexidade, implicaria na
sua minimização, tendo em vista o seu alto teor político e ideológico, se constituindo em um
paradoxo. Todavia, duas obras poderão constituir a base principal para essa pesquisa enquanto
o pensar da educação: a primeira de Franco Cambi discutiu a educação numa perspectiva da
História, desde a produção das ideias filosóficas à sua ressonância nas rotinas e no dia a dia da
escola, mas é também um trabalho que ultrapassa as práticas escolares ao questionar quais
suas aproximações e suas distâncias em relação às ideias pedagógicos de cada época.
(CAMBI, 1999). Maria Stephanou e Maria Helena C. Bastos organizaram o livro História e
memória da Educação no Brasil, no qual procuraram pluralizar as possibilidades de leituras
de experiências educativas e escolares, ancoradas em uma ampla temporalidade e, ao mesmo
tempo, inscritas em tempos específicos, que em seu conjunto não traçam uma trajetória linear,
tampouco ascendente, de uma única história da Educação.

JUSTIFICATIVA
As fontes e o referencial para análise do tema e período que propomos para estudo,
correspondem à implementação do projeto SPI com o objetivo da inserção dos indígenas a
vida nacional, enquanto sujeitos trabalhadores, embutidos nos discursos como benefícios do
Estado em transformá-los em “cidadãos”. A Inspetoria Regional, o Posto Indígena, a Escola
formam um conjunto de demarcação e estratégias do Estado para essa desejada transformação
dos índios em trabalhadores. Talvez os baixos rendimentos dos estudantes em da escola
instalada em Palmeira esteja relacionado a estratégias de resistência dos indígenas.
A história oficial aponta o surgimento do SPI a partir do debate público em torno da
proteção aos índios. A criação do SPI dentro do Ministério da Agricultura Indústria e
Comércio/MAIC foi associada ao processo de estatização de aparelhos de poder diversos e
descentralizados (expansão estatal)12.
Separado das ordens eclesiásticas, o Estado brasileiro criou o SPI como órgão gestor
da relação entre os povos indígenas e distintos grupos sociais, num período em que se criou
também a necessidade de homogeneização. Ou seja, a criação de instâncias administrativas e
a produção de discursos, em que o SPI assumiu uma suposta posição intelectual e política

12
ANTONIO; Carlos de Souza Lima. O governo dos Índios sob a gestão do SPI. Disponível em:
http://pt.shvoong.com/humanities/history/1829376-governo-dos-%C3%ADndios-sob
gest%C3%A3o/#ixzz1Q9wWT88Q. Acessado em: 23/06/2011.
11

como aliado dos povos em luta pelo resguardo de suas tradições/diferenças (LIMA, 1995)
embora enquanto povos de condições transitórias as serem incorporados “fraternalmente” a
convívio da sociedade brasileira. Numa perspectiva pedagógica poderia ser compreendida
como práticas que buscariam a homogeneidade dos sujeitos.
A proposta de analisar as escolas para indígenas, instaladas pelo SPI e administradas
pela IR4 (1926-1967) é contribuir para a historiografia indígena em Alagoas e no Nordeste.
Põe em discussão as histórias específicas, buscando compreender as relações dessas
populações com a sociedade nacional. É pertinente a historicização dos conceitos e práticas
que permearam ideias pela fixação ou mesmo por mudanças de identidades indígenas como
tentativa de assemelhar aos demais trabalhadores rurais nordestinos.
O desconhecimento sobre a situação atual dos povos indígenas no Nordeste brasileiro
pode estar associado basicamente à imagem do índio que é tradicionalmente veiculada por
parte da mídia e livros didáticos: um índio que geralmente aparece como genérico com um
biótipo formado por características correspondentes aos indivíduos de povos nativos
habitantes na Região Amazônica e no Xingu, com cabelos lisos, pinturas corporais e
abundantes adereços de penas, nus, moradores das florestas, de culturas exóticas, etc.
(SILVA, 2007). Pode-se afirmar que as escolas indígenas também procuravam fortalecer a
formação dessas imagens, atuando diretamente sobre os próprios índios.
Esta pesquisa contribuirá também com as discussões sobre a história da Educação
Escolar Indígena em Alagoas na medida em que colocará em debate os ideais, concepções e
operacionalização das escolas construídas pelo SPI. Esse estudo estará em sintonia com a
Lei 11.645/2008 que estabelece a obrigatoriedade do ensino da história e das culturas
indígenas nos currículos escolares da Educação Básica. A abordagem dessas temáticas no
ensino, malgrado a falta de investimentos oficiais, é uma considerável oportunidade de
(re)conhecer a atualidade e os diversos processos sociohistoricos vivenciados pelos povos
indígenas em Alagoas, no Brasil.

OBJETIVOS
Geral:
Analisar como os povos indígenas Xukuru-Kariri e Kariri-Xokó interagiram com as
escolas instaladas pelo SPI em Alagoas (1926-1967).

Específicos:
12

 Identificar o processo de implantação e operacionalização da escola nos postos


indígenas gerenciados pela Inspetoria Regional 4 em Alagoas;
 Investigar a participação/desenvolvimento dos indígenas aldeados com a escola;
 Investigar a construção das memórias sobre a escola dos postos indígenas Irineu dos
Santos e Alfredo Damaso, a partir de relatos dos indígenas Xukuru-Kariri e Kariri-
Xocó aldeados respectivamente nestes Postos, localizados em Alagoas.

DEFINIÇÃO DAS FONTES E METODOLOGIA


É pertinente observar Oliveira (2004, p. 19) quando afirmou que o órgão indigenista
sempre manifestou seu incômodo e hesitação em atuar junto aos “índios do Nordeste”,
justamente por seu alto grau de incorporação na economia e na sociedade regional. O padrão
habitual de ação indigenista ocorria em situações de fronteiras em expansão, no geral a
Região Norte, com povos indígenas que mantinham sob seu controle amplos espaços
territoriais (ou inversamente, ameaçavam o controle das frentes sobre estes) e que possuíam
expressões socioculturais diferente daquela dos não-índios.
Conhecer as bases sobre as quais se assentam as taxionomias geradas e sua aplicação é
conhecer os próprios contornos do modelo de governo que se lhes propõe. Ao mesmo tempo,
é ter em mente que qualquer definição extranativa do ser indígena como parte de dispositivos
de poder. Por ela se desloca o “direito à identidade” para uma forma externa de atribuição
(LIMA, 1995, p. 119). Nessa perspectiva, a escola estaria imersa como parte de projeto do
SPI para construção do ser “índio” assumindo papel central para o debate e que será analisada
como processo relacional.
Considerando-se como parte integrante da pesquisa às instituições como o SPI, a sua
4ª Inspetoria Regional (IR4), os Postos Indígenas, as escolas instaladas no período indicado
em Alagoas e os povos indígenas Xucuru-Kariri e Kariri-Xocó, o estudos serão realizados a
partir da documentação disponibilizada pelo Museu do Índio (Rio de Janeiro) e de registros
das memórias orais de pessoas que estudaram nessas instituições, possibilitando a análise e a
construção desta proposta.
As análises documentais e de relatos orais deverão seguir os pressupostos que buscam
compreender a vida em sociedade como construção, tentando se aproximar dos
agenciamentos e das redes que formam o real. E o que é o real? O real pode ser entendido
como aquilo que as redes e os agenciamentos permitem dizer sobre ele. É um olhar que eu
vejo, ou, os outros olham. É uma construção (MONTENEGRO, 2010).
13

Serão analisadas a historiografia do período que tratam das questões aqui abordadas,
mais especificamente sobre os povos indígenas Xukuru-Kariri e os Kariri-Xokó em Alagoas
como a bibliografia, as dissertações, teses. A respeito do SPI existe uma documentação da IR
4 (1910 -1967) disponibilizada pelo Museu do Índio no Rio de Janeiro, composta por
relatórios e boletins trimestrais; formulários mensais; inventários; ofícios; memorandos;
telegramas; recibos; movimento de renda, etc. Os formulários mensais são Aviso do Posto13
acompanhados pela Freqüência Escolar14. Além disso, existe uma documentação impressa da
Seção de Educação do SPI, constituída por programas e orientações que eram dirigidas as
escolas indígenas. Nesse acervo está registrada parte do cotidiano indígena nos postos
indígenas, onde encontramos ainda informações sobre uma contradição natural: a
impossibilidade de o Estado conduzir a vida de um grupo étnico impondo tipos de relações
internas e externas – a estrutura administrativa montada visava ao controle e estabelecia que o
encarregado do posto representasse o grupo, principalmente frente ao Estado.
Serão também registradas e analisadas as memórias orais de indígenas Xucuru-Kariri e
Kariri-Xokó que estudaram nas escolas instaladas pelo SPI. Os relatos orais possibilitarão
conhecer as experiências históricas, rompendo com os sentidos instituídos com base em
análises que desconstroem as condições de produção, de estratégias e ordenamentos
discursivos. Possibilitarão ainda pensar a escrita da História contemplando a pluralidade dos
sentidos aproximando-se da Micro-História, reconhecendo o plano narrativo, as múltiplas
formas de contá-la e as estratégias culturais que inscrevem os relatos nas experiências dos
atores sociais (MONTENEGRO, 2010). Os relatos/memórias de pessoas, das comunidades,
serão vistos como elementos necessários na reconstrução da escrita da história indígena. No
dizer de Silva15 (2011) as memórias relatadas são de um passado vivido, desde a infância,
portanto, unindo gerações, e em que se fundamentam as lembranças.
Serão de suma importância as análises a partir da ideia de cultura quando Thompson
(1998, p. 17) a definiu também como um conjunto de diferentes recursos, em que há sempre
uma troca entre o escrito e o oral, o dominante e o subordinado, a aldeia e a metrópole; é uma
arena de elementos conflitivos, que somente sob uma pressão imperiosa – por exemplo, o
nacionalismo, a consciência de classe ou a ortodoxia religiosa predominante – assume a forma
de um “sistema”. O cotidiano indígena junto à escola do SIP pode ser pensado como tentativa

13
O Aviso do Posto está dividido em: a) Índios Assistidos; b) Nascimentos; c) Óbitos; d) Anexos remetentes; e)
Produção; f) Benfeitorias; g) Criação; h) Plantações; e i) Outras ocorrências e Necessidades do Posto.
14
A Freqüência Escolar está dividida em: Número de Ordem; Nome; Tribo; Idade; Sexo; Comparecimento;
Faltas; Aproveitamento e Observações.
15
Ver: SILVA, Edson H. Índios Xukuru: a história a partir das memórias. Disponível em:
http://www.unisinos.br/revistas/index.php/historia/article/view/874. Acessado em: 17/09/2011.
14

de transformar os costumes, os hábitos, pois é baseado nestes que os indígenas agem no seu
dia a dia.
As análises seguirão paralelamente às aquisições dos dados, intensificandas à medida
que todo material coletado esteja organizado, sendo necessário fazer uma leitura para
construir categorias descritivas, na tentativa de estabelecer as relações entre teoria e prática,
buscando generalizações ou aproximações dessas experiências escolares, sobretudo no que se
refere ao ensino nas citadas comunidades indígenas.
Os passos seguidos serão: em um primeiro momento uma fase pré-análise para se
fazer uma organização e leitura dos dados. Em um segundo momento, realizar uma descrição
analítica garantindo um estudo aprofundado, assim como nos referenciais teóricos para fazer a
codificação, classificação e a categorização e; o terceiro e último momento será de
interpretação por meio da fundamentação teórico/metodológica já referenciada na revisão
bibliográfica.
As entrevistas com indivíduos que estudaram nas escolas anteriormente relacionadas
serão conduzidas com questões abertas. Os relatos coletados serão utilizados como forma de
complemento às informações obtidas por meio da documentação supracitada, procurando
aprofundar temas ou informações por ela não adequadamente tratados, tais como: a
determinação das diversas opiniões sobre os acontecimentos e processos, os sentidos e
possíveis condutas em situações dadas, dentre outras.

INSTITUIÇÕES DE PESQUISA E FONTES


A) FONTES ORAIS
Entrevistas com indígenas que estudaram nas escolas instaladas pelo SPI entre os Xucuru-
Kariri e nos Kariri-Xokó.
B) DOCUMENTOS IMPRESSOS
Museu do Índio no Rio de Janeiro
Documentação do Serviço de Proteção aos Índios: relatórios, fichas de dados,
freqüências escolares, memorandos, ofícios, planos de trabalho, recibos, telegramas. A maior
parte dessa documentação estar disponível em microfilmes (Mf) onde encontramos cada
documento em fotogramas (Fotog.): Mf. 167; Mf. 181; Mf. 182;

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
15

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onde não canta galo, nem boi urna...’ diagnóstico, tratamento e cura entre os Kariri-
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16

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17

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18

DOCUMENTOS
- Decreto nº 8.072, de 20 de Junho de 1910. Legislação Informatizada - Dados da Norma.
Disponível em: http://www2.camara.gov.br/legin/fed/decret/1910-1919/decreto-8072-20-
junho-1910-504520-norma-pe.html. Acessado em: 27/06/2011.
- Mf. 179 – Fg. 35/37 e 50. Serviço de Proteção aos Índios. Museu do Índio. 1952.
- Microfilme nº 167, fotograma nº 19, em 31/10/1953.

CRONOGRAMA DE ATIVIDADES
Atividade Período
1º ANO 2º ANO 3º ANO 4º ANO
Cursar disciplinas X
Pesquisa nos arquivos X X
Realização das entrevistas X X
Transcrição das Entrevistas X
Participação e apresentação X X X X
de trabalhos em eventos
científicos
Publicação de artigos X X X X
Seleção dos documentos X X
Escrita da Tese X X X
Qualificação X
Reformulações X
Defesa X

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com esse Projeto de pesquisa queremos contribuir com o debate acerca das questões
que envolvem as relações entre Estado – por meio das ações do SPI – e os povos indígenas. A
construção do como índios pode ser compreendida a partir das relações entre História, Política
e Educação (CAMBI, 1999) administrada e coordenada pelos Postos Indígenas em que as
Escolas instaladas nas áreas indígenas aparecem como parte integrante do processo na suposta
transformação dos sujeitos em “cidadãos civilizado” (SILVA JR., 2007). Acreditamos ainda
na importância da pesquisa proposta para pensar a História, os processos históricos das
19

relações entre os povos indígenas e a Educação Escolar Indígena nos dias atuais. Entendendo
que estaremos percorrendo representações de caráter universal, onde o ser próprio, porém,
encontra-se em um movimento e em relação permanente com determinações específicas; onde
a própria razão de ser se define por algo particular e próprio de aspectos específicos da
formação social sem, no entanto, perder seu elo, sua relação com plenos gerais/universais
(MONTENEGRO, 1994) quando se põe em discussão elementos do cotidiano indígena e suas
relações com as instituições do período estudado, assim, a relação com este passado é
simplesmente de experiências e aprendizado, não de repetição.
Por meio da documentação e dos relatos das memórias orais indígenas que estudaram
nas escolas do período do SPI, dos registros institucionais disponíveis no Museu do Índio
(RJ), poderemos reescrever a história de parte dos indígenas em Alagoas. A pesquisa
possibilitará conhecer as relações entre indígenas e instituições oficiais, como uma tentativa
de reconstruir situações mais aproximadas das experiências vividas por essas populações.
Será também uma forma de dar continuidade aos nossos estudos, nos quais discutimos
ao longo dos últimos oito a dez anos, tendo como fio condutor os processos das expressões
históricas/políticas/formativas dos povos indígenas no Estado de Alagoas, mais
especificamente, os localizados do Sertão alagoano, os Kalankó e os Jiripankó. As pesquisas
não serão, todavia, com esses povos, em razão de não serem reconhecidos pelo Estado no
período do SPI. A documentação disponível do SPI trata dos Xukuru-Kariri e Kariri-Xokó,
reconhecidos pelo Estado Brasileiro como indígenas.
Seguindo argumentos de Montenegro (1994, p.10), a história escrita, documentada,
distingue-se do acontecido; é uma representação. E nesse hiato entre o acontecido e o narrado
localiza-se o fazer do historiador. Portanto, a nossa contribuição também será nesse sentido, à
medida que os indígenas ou parte de suas histórias serão representadas pelas nossas escritas.

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