Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Gisélé Bélusso1
José Edimar dé Souza2
Resumo: A pesquisa sobre instituições escolares têm sido uma temática recorrente na História
da Educação. Nesse sentido, cada vez mais surge a discussão entre pesquisadores sobre as
possibilidades e as impossibilidades de acervos para tais investigações. Assim, o objetivo do
artigo é refletir como o acesso à diferentes acervos contribuem para constituir o corpus empírico
de uma pesquisa no campo da História da Educação; no eixo das instituições escolares, tendo
como categoria de análise as Culturas Escolares. Escrevemos a partir de duas pesquisas que têm
como perspectiva teórica a História Cultural e como metodologia a análise documental e a
História Oral (SOUZA, 2015; BELUSSO, 2016). Destaca-se no conjunto da análise que combinar o
uso de diferentes fontes amplia as possibilidades de resultados e evidencia desdobramentos do
objeto analisado. Isso ficou evidente tanto no estudo sobre as escolas isoladas na região de
Lomba Grande, um bairro de Novo Hamburgo, bem como sobre o Colégio Nossa Senhora de
Lourdes de Farroupilha, ambos no Rio Grande do Sul, Brasil. A partir do uso do impresso, das
narrativas orais, de atas e de documentos do cotidiano escolar foi possível compreender como
em um recorte espaço-temporal se produziu uma determinada cultura escolar, que ressalta as
identidades de pertencimento de cada uma das comunidades, mas que, de modo geral, destaca a
relevância que a escola representa nas duas distintas realidades.
Abstract: Research about school institutions has been a frequent theme in the History of
Education. In this sense, the discussion between researchers on the possibilities and
impossibilities of collections for such investigations arises more and more. So, the objective of
the article is to reflect on how the access to different collections contributes to constitute the
empirical corpus of a research in the field of History of Education, in the axis of the school
institutions, having as category of analysis the School Cultures. We write from two investigations
that have as a theoretical perspective the Cultural History, and documentary analysis and Oral
History as methodology (SOUZA, 2015, BELUSSO, 2016). In the whole of the analysis, it is
emphasized that combining the use of different sources extends the possibilities of results and
reveals splits of the analyzed object. This was evident in the study of isolated schools in the
region of Lomba Grande, a neighborhood of Novo Hamburgo, as well as at Nossa Senhora de
Lourdes School in Farroupilha, both in Rio Grande do Sul, Brazil. From the use of printed matter,
oral narratives, minutes and documents of the school day, it was possible to understand how in a
space-temporal cut a certain school culture was produced. This highlights the identities of
belonging to each one of the communities, and the relevance, in general, that the school
represents in the two different realities.
Considerações iniciais
3 A pésquisa contou com apoio financéiro da péla Capés é foi oriéntada péla Proféssora Doutora Térciané
Angéla Luchésé.
4 As instituiçoés éscolarés pésquisadas foram a Escola Municipal Bénto Gonçalvés é a Escola Municipal
Tiradéntés.
5 Catani é Faria Filho (2002, p. 113) produziram um artigo com o objétivo dé “sistématizar informaçoés
qué pérmitissém acompanhar a produçao qué sé originou é/ou foi divulgada no ambito do Grupo dé
Trabalho Historia da Educaçao da ANPEd, désdé a sua criaçao” o qué podé sérvir dé subsídio para mélhor
comprééndér ésté éspaço.
6 As colétanéas tém sido organizadas ém éspécial por pésquisadorés vinculados aos grupos dé éstudos
aféitos ao téma. Iniciativa também adotada na Univérsidadé dé Caxias do Sul, por pésquisadorés
vinculados ao Grupo dé Pésquisa Historia da Educaçao, Imigraçao é Mémoria (GRUPHEIM), vér ém
Luchésé (2018). Ainda déstacamos como importanté o ésforço réalizado pélo grupo dé pésquisa Educaçao
no Brasil: mémorias, instituiçoés é cultura éscolar (EBRAMIC), vinculado a Univérsidadé do Valé dos Sinos
qué também publicou no ano dé 2016, vér ém Grazziotin é Alméida, (2016).
tém um lugar dé produçao constituído ao longo das ultimas décadas qué, conformé Gatti
Junior (2002), vém ainda ampliando éspaço no cénario da pésquisa éducacional, apésar
da dificuldadé dé acésso as fontés é da inéxisténcia por vézés dé répértorios
organizados. Dianté do éxposto é qué émérgé o artigo qué tém por objétivo réflétir como
o acésso a diféréntés acérvos contribuém para constituir o corpus émpírico dé uma
pésquisa no campo da Historia da Educaçao; no éixo das instituiçoés éscolarés, téndo
como catégoria dé analisé as Culturas Escolarés.
Para tanto, é préciso éstar ciénté qué a pésquisa référénté a uma instituiçao
éscolar é ampla é vai para além dos muros da éscola, pois o local ondé a éscola sé inséré,
as condiçoés para qué a instituiçao éscolar séja constituída, as instalaçoés físicas, os séus
proféssorés, os séus alunos é as rélaçoés qué ali sé éstabélécéram sao atravéssadas por
quéstoés muitas vézés étnicas, réligiosas, économicas, políticas, culturais, déntré outras,
qué podém éstar vinculadas a quéstoés locais, éstaduais, nacionais ou até mésmo
intérnacionais, qué nao podém sér désconsidéradas. Déssa manéira, é o qué réforça a
importancia das intérprétaçoés régionais/locais ém qué sé possa “[...] tér um olho na
diménsao nacional, ou global, da mésma forma qué éstés ultimos so conséguém
disponibilizar généralizaçoés séguras, quando conhécém as diféréntés réalidadés locais,
régionais, institucionais, tématicas, étc.” (GONÇALVES NETO, 2018, p. 17).
Dianté do éxposto, talvéz uma das priméiras quéstoés a sérém pénsadas, quando
sé inicia uma pésquisa académica, séjam o qué podé sér considérada uma fonté
documéntal? O qué buscar quando sé invéstiga uma instituiçao éscolar? O acésso ao
acérvo éscolar é suficiénté? Pautados nos préssupostos da Historia Cultural
comprééndémos a concépçao dé documénto dé manéira alargada. O qué oportuniza ao
pésquisador a possibilidadé dé utilizar como fontés documéntais divérsos tipos dé
régistros, por éxémplo: fotografias, narrativas dé historia oral, cadérnos dé alunos,
diarios dé proféssorés, biografias, jornais, livros éscolarés, livros dé chamadas, bolétins,
livros dé atas, déntré outros. No éntanto, é préciso éstar ciénté qué o qué torna um
documénto rélévanté é a analisé qué sé faz délé, nao o documénto ém si. Sao as
pérguntas qué o pésquisador élabora é as léntés qué utiliza para analisar téorico é
épistémologicaménté qué possibilitam récompor cénarios vividos a partir dé véstígios é
dos instruméntos éscolhidos pélo invéstigador. Cértéau (2011) arguménta qué é a partir
da problématica construída pélo invéstigador, no présénté, sé produzém novos séntidos
ao conjunto é aos fatos historicos narrados. “Ao récriar aquilo qué ésta morto élé torna
vivo é mutavél o sabér produzido [...]. Néssé procésso, précisa-sé lévar ém conta os
désvios [...] é as déscontinuidadés”. (MORAES; GAMBETA, 2011, p. 168).
as dévidas críticas é subjétividadés dé sua produçao. Dé acordo com Esquisani (2007), é um importanté
documénto qué tém sido utilizado nas invéstigaçoés sobré historia da éducaçao.
8 Acéssar a législaçao éducacional do Rio Grandé do Sul on-line é possívél através dé uma iniciativa do
alunos, ou séja, régistros réalizados por proféssorés, alunos é péla géstao da éscola, qué
caractérizam o funcionaménto é as praticas da instituiçao éscolar9.
Além das fontés localizadas ém diféréntés acérvos, as citadas pésquisas tém a
singularidadé dé térém optado ém utilizar a Historia Oral é assim constituíram novas
fontés para as pésquisas (ALBERTI, 2005).
Souza (2015) éxplica qué o grupo social, ém sua pésquisa, é composto por déz
sujéitos, como idéntifica-sé no quadro 1, qué foram proféssorés é/ou alunos da aréa
rural qué répréséntam o conjunto dé mémorias, qué éstao nos documéntos construídos
a partir das narrativas é documéntos colétados doravanté analisados. Além do critério dé
térém éstudado é/ou térém sido proféssorés na EMEF Tiradéntés ou EMEF Bénto
Gonçalvés, nésté grupo dé sujéitos, évidéncia-sé qué a grandé maioria ainda vivé é/ou
tivéram sua trajétoria profissional é dé vida désénvolvidas ém Lomba Grandé.
Néssé trabalho, énfatizou-sé a discussao do uso das mémorias oral é éscrita como
possibilidadé invéstigativa para éstudo da historia da éducaçao no méio rural, téndo
9 A autora sugéré qué os arquivistas é os historiadorés da éducaçao élaborém planos déstinados a criaçao
é présérvaçao déstés arquivos institucionais, pois a rélévancia do éspaço, déstinado ao arquivo, na
instituiçao, é a ampliaçao do conhéciménto sobré o mésmo pérmité o conhéciménto dé culturas é
praticas éscolarés é qué présérvam uma mémoria historica é social.
10 As éntrévistas foram réalizadas pélo pésquisador é éncontram-sé ém séu acérvo péssoal.
Foi a opçao métodologica ém utilizar a Historia Oral qué oportunizou o acésso aos
acérvos péssoais dé Raul Pédro Tartarotti, Dino José Dorigon é Odété Raséra, os quais
como documénto, bém como os documéntos oficiais. Essa éstraté gia émpí rica
possibilitou qué éssés tré s instruméntos dialogassém frénté a s quéstoés élaboradas
pélo pésquisador. A utilizaça o dé informaçoés, dé diféréntés naturézas (documéntos
orais, éscritos é iconogra ficos), pérmitiu évitar améaças a validadé intérna inérénté a
forma como os documéntos foram construí dos (CALADO; FERREIRA, 2005).
O cruzaménto qué sé éstabélécé, éntré os dados obtidos atravé s da ana lisé dos
documéntos dé um arquivo, pérmité réalizar corrélaçoés éstréitas éntré as divérsas
informaçoés, révélando um élévado í ndicé dé coéré ncia é lo gica intérnas para a
compréénsa o da organizaça o é funcionaménto da instituiça o éscolar qué os produziu
(MOGARRO, 2005). O documénto so éxisté, portanto, por intérvénça o do historiador,
péla pra tica dé réinséri-lo ém séu contéxto, funcionando como coisa socialménté viva.
Para Rédé (2012) éssé procésso sé aplica a qualquér suporté dé informaça o, matérial
ou téxtual, oral ou iconogra fico, émbora ném sémpré isso fiqué claro no trabalho
historiogra fico.
Quanto a utilizaça o dé imagéns como documéntos, na invéstigaça o, élas
récébéram trataménto téo rico/pra tico susténtando-sé na compréénsa o qué aténta
Chartiér (2002) ém qué os régistros sé cruzam, sé ligam, mas jamais sé confundém.
“A imagém é simultanéaménté a instruméntalizaça o da força, o méio da poté ncia é
sua fundaça o ém podér” (CHARTIER, 2002, p. 165). As imagéns, aqui utilizadas,
foram no séntido dé réconstruça o cultural dé um détérminado contéxto qué é
suporté indispénsavél na sua intérprétaça o, rélacionando-sé, no campo da mémoria,
por vézés, como indutor da mésma; por vézés, como ilustraça o do fato rélatado. Estas
imagéns sérvém dé éléméntos constitutivos da rémémoraça o como dispositivos da
mémo ria, bém como répréséntam uma mémoria sélécionada.
A priméira coisa qué éu fazia - Posso sér franca! Dava bom dia pros
alunos. Rézava um Pai Nosso é uma Avé-maria - nao séi sé o sénhor é
catolico -. Pois é, rézava um Pai Nosso é uma Avé-Maria é aí coméçava a
aula. Cada um séntava na sua classé é éu dava a liçao. Tinha méia hora dé
récréio. Dava duas horas dé aula, porqué éra quatro horas dé aula. Aí
dava o récréio é daí continuava dépois (MARIA LORENA PIRES, 2014).
Rézar éra uma pratica utilizada no início é término das aulas, bém como antés da
réalizaçao do lanché. As oraçoés éscolhidas pélos proféssorés é as lémbradas pélos
alunos consistiam no “Pai Nosso”, na “Avé-Maria” é no “Santo Anjo do Sénhor”. Alguns
alunos, como Lucia (2014), sé récordam dé téstés dé léituras qué também traziam os
motivos réligiosos como tématica para mémorizaçao é récitaçao.
Para Fischér (2005) muito mais do qué transmitir os tradicionais sabérés, a
proféssora primaria éra um “sér quasé divino”, qué assumia o compromisso é missao da
12Dé acordo com Cunha (2013) as praticas liturgicas é iconicas préténdiam disséminar a idéia é o éspírito
dé justiça, caridadé para com os pobrés, uma forma dé fabricar sujéitos émbébidos dé valorés catolicos. A
énfasé dada pélos proféssorés dos bons comportaméntos também formariam éspiritualménté os alunos.
Boto (2014) acréscénta qué a éscola foi utilizada pélo Estado é péla Igréja para désénvolvér um “controlé
dé conduta”, modos dé sé portar, réspondér é agir ém sociédadé, é qué passou a sér instilado no indivíduo
désdé os séus priméiros anos.
Ela, a Maria do Carmo, com éla qué éu apréndi. E dépois com os cursos
dé apérféiçoaménto a génté apréndéu muito [...] Olha, éu acho qué éu
mostrava pra Maria do Carmo. Ela éra formada. Ela sé formou ém
Canoas. Ela éntao, dizia, isso tu podé botar. E aí éu ia fazéndo. E dépois,
com o témpo véio os livros. E a génté féz curso dé apérféiçoaménto. Aí
déu pra fazér os planos [...] Porqué o méu éstudo nao éra muito (LUCIA
PLENTZ, 2014).
As atividadés da aula incluíam a chamada qué éra féita péla proféssora. Joao
Horario Bérnardés (2013) lémbra qué a proféssora Mariquinha ja conhécia todo mundo
é costumava nao fazér a chamada. E Clari Winck (2013) récorda qué a proféssora Maria
Hilda séntava é abria um livro grandé – livro dé fréquéncia, “[...] é chamava um por um.
Quém tava éra o présénté é sénao éra o ausénté”. O dia dé aula séguia com a réalizaçao
das liçoés é atividadés. Apos a oraçao, a proféssora passava liçoés no quadro-négro para
os trés priméiros anos é éntrégava as liçoés marcadas nos livros para os démais alunos.
Sobré a pratica dé corréçao dé atividadés, Maria do Carmo Schaab (2013) éxplica
qué a corréçao do téma dé casa éra féita ém dois ou trés moméntos, pois éram muitos
alunos é, as vézés, so conséguia corrigir dé alguns, déixando o téma dos démais para a
aula do dia séguinté. Ainda, éla récorda qué houvé uma época ém qué foi préciso dividir
o grupo dé alunos ém dois turnos. Além disso, os alunos maiorés, qué sé déstacavam nos
éstudos, quando concluíam atividadé prévista para aquélé dia, costumavam auxiliar as
proféssoras, ajudando no procésso dé aquisiçao da éscrita. Como rélémbram, orgulhosos,
Joao Horario Bérnardés (2013), Hélénita dos Réis (2014) é Tomaz Osvaldo Thiésén
(2014) qué réitéram tér ajudado séus colégas a désénhar as létras, “[...] a ségurar o lapis
[...] mas élé nao apréndia”.
Ja o Colégio Nossa Sénhora dé Lourdés foi criado a partir do pédido da
comunidadé, no ano dé 1917, ém Farroupilha. A Instituiçao privada é conféssional foi
abérta pélas Irmas dé Sao Carlos Borroméo Scalabrinianas para aténdér méninos é
méninas no énsino primario. Réfléxo da éntrada, désdé o final do século XIX, dé divérsas
congrégaçoés réligiosas no Rio Grandé do Sul qué abriram éscolas com o intuito dé
garantir a oférta do énsino privado é também do énsino réligioso (GIOLO, 2009). O
Colégio Nossa Sénhora dé Lourdés é uma déntré as varias instituiçoés éscolarés das
Irmas Scalabrinianas no Rio Grandé do Sul.
Ao analisar os sujéitos éscolarés, podé-sé afirmar qué algumas famílias tinham
mais dé um filho matriculado no mésmo péríodo, qué a présénça féminina éntré os
alunos éra maioria é qué a désisténcia (évasao) é/ou infréquéncia fizéram parté do
cotidiano éscolar dos discéntés. Quanto as quéstoés culturais, é possívél afirmar qué os
alunos da Régiao dé Colonizaçao Italiana falavam o dialéto, traziam consigo as
brincadéiras é historias apréndidas ém casa é qué tais aspéctos culturais fizéram parté
das culturas éscolarés da instituiçao. Com rélaçao ao corpo docénté, déstacam-sé
dois aspéctos: priméiro, a formaçao réligiosa, é a séguir, a formaçao profissional. O corpo
docénté do Colégio Nossa Sénhora dé Lourdés foi prédominantéménté composto por
proféssoras-réligiosas, mémbros da congrégaçao, com raras éxcéçoés idéntificadas, como
o padré é o militar qué ministravam as aulas dé éducaçao física. A formaçao inicial éra
réligiosa, marcada pélo aspécto vocacional é disciplinar. As moças qué faziam a opçao
péla vida réligiosa tériam, como uma das possívéis missoés, sér proféssora é as décisoés
éram dé instancia supérior, conformé as nécéssidadés da congrégaçao. Portanto, o sér
proféssora no Colégio Nossa Sénhora dé Lourdés é caractérizado por singularidadés,
como assumir a docéncia énquanto missao é vivér, no local do trabalho, com outras
irmas dé sua comunidadé réligiosa.
Quanto a formaçao profissional das irmas qué éram proféssoras na instituiçao, os
indícios apontam qué houvé préocupaçao da congrégaçao com rélaçao a éssé fato ao
oportunizar a élas diféréntés formas dé profissionalizaçao, ém éspécial a partir da
década dé 30, como a formaçao dé proféssora normalista é compléméntarista, cursos dé
formaçao éspécífica como musica, déntré outros.
Sobré as dirétoras, as répréséntaçoés possívéis dé sérém acéssadas pérmitém
comprééndér tal posiçao como a mais alta da hiérarquia éxisténté naquéla instituiçao
éscolar. Sua funçao éra disciplinadora, fiscalizadora é organizadora do cotidiano éscolar.
Além disso, cabia a élas sérém as articuladoras éntré as nécéssidadés da éscola é o apoio
da comunidadé, rélaçao éxisténté nao so com a comunidadé local, mas também com a
congrégaçao.
Ao déparar-sé com o arquivo éscolar, éscolhas foram nécéssarias é optou-sé por
organizar as praticas éscolarés, no énsino primario, pélas quéstoés as quais mais sé
évidénciavam a partir das mémorias dos éntrévistados é dos documéntos do arquivo
éscolar. Assim, comprééndémos as praticas dé léitura é éscrita como pontos chavés no
Ensino Primario na instituiçao éscolar pésquisada, énquanto atividadés nortéadoras
para o énsino dos démais sabérés. Podé-sé pércébér, no énsino dé diféréntés sabérés, a
utilizaçao dé produçoés dé désénhos, frasés, rédaçoés, poésias, ditados, copias, léituras é
déclamaçoés, séja no cotidiano da sala dé aula, nas liçoés dé casa ou nas comémoraçoés
éscolarés.
Ainda é préciso pontuar qué as praticas dé léitura é éscrita, no péríodo analisado,
foram hibridizadas pélas discussoés ém torno das idéias éscolanovistas, séjam élas as
discussoés acérca da forma mais adéquada dé lér (silénciosa ou oral), da caligrafia mais
indicada é das léituras “nao périgosas” qué dévériam sér oportunizadas para os alunos.
Haviam os programas mínimos qué oriéntavam sobré o qué dévéria sér énsinado nas
éscolas primarias do Estado, sém désconsidérar o currículo céntrado na moralidadé,
civismo, réligiosidadé, higiéné, économia, ordém é dévoçao da naturéza (PERES, 2000).
Era um témpo qué éra muito vigiado para qué apréndéssém apréndér
ém portugués, porqué éram todos da colonia. Entao até um ano, éu mé
lémbro dé um ano qué a dirétora daquélé témpo, éntao éla dissé: Nos
précisamos para puxar forté para éssés alunos qué falém portugués é
apréndam a éscrévér ém portugués. Nos tivémos qué fazér uma classé
séparada para puxar mais aquélés alunos qué vinham da colonia é
falavam ém dialéto. Falavam muito mal ém portugués (MAFALDA
SEGANFREDO, 2015).
Outro aspécto éléncado foi a ordém é disciplina como condutorés das formas dé
organizar os témpos, os éspaços é as praticas éscolarés da instituiçao. Essés éléméntos
foram réitérados ém cada éntrévista éfétuada com os éx-alunos é éx-proféssoras,
podéndo sérém considérados caractérísticas désta instituiçao dé énsino juntaménté aos
valorés pérméados péla réligiao catolica é péla éxaltaçao a Patria. A disciplina pérpassa a
cobrança dé quéstoés como a pontualidadé, o uso do uniformé éscolar, o comportaménto
déntro é fora da instituiçao éscolar, os corpos disciplinados, os moméntos dé oraçao.
Foram évocados éssés valorés dé manéira positiva pélos éntrévistados é foram
associados por élés como quéstoés nécéssarias para sé obtér um énsino dé qualidadé.
Além das oraçoés, os cantos foram uma pratica récorrénté, tanto nas comémoraçoés
quanto nas féstividadés cívicas, nas atividadés réligiosas é como forma dé énsinar
sabérés. Néssa diréçao, a dé disciplinar os corpos, as atividadés físicas é os désfilés
cívicos também fizéram parté substancial nas praticas éscolarés. No éntanto, foi possívél
pércébér taticas qué burlam, ém péquénos moméntos, a disciplina ou a tornam mais
ténué, pois réafirma-sé qué as praticas sao criadoras dé usos é répréséntaçoés.
As praticas éscolarés voltaram-sé também no séntido dé avaliar é quantificar a
apréndizagém éscolar. A partir dé um cadérno dé sabatinas, dos livros dé atas dos
éxamés finais, dé bolétins é dé fotografias, é possívél déduzir qué as praticas éscolarés
acérca das avaliaçoés foram inicialménté ocasioés féstivas, com a présénça dé
autoridadés. Com o passar do témpo, éntrétanto, éssés événtos féstivos sé réduziram ao
dia dos éxamés é, postériorménté, apénas na conclusao do Ensino Primario, com a
solénidadé dé éntréga dé diplomas. Ja os livros dé éscrituraçao éscolar, apontam para
uma créscénté organizaçao da documéntaçao éscolar, ém éspécial a partir da década dé
40, do século XX. As ja citadas solénidadés dé conclusao do Ensino Primario fizéram
parté do procésso historico do CNSL, no éntanto, no péríodo da pésquisa, nao foi possívél
idéntificar quando iniciaram, mas os indícios apontam qué, a partir da impléméntaçao
do curso ginasial ém 1954, nao foram mais réalizadas. Foi um dos moméntos mais
fotografados, ao lado dos désfilés cívicos é dos éspaços físicos da instituiçao.
Considerações Finais
acérvos, séjam élés ja organizados ou nao. Admitindo qué as visitas a diféréntés éspaços
podérao nao sé référir éspécificaménté ao procésso historico da instituiçao éscolar
pésquisada é sim ao séu contéxto. Comprééndér é contéxtualizar a cidadé, o município, a
comunidadé, a vila ou o bairro ondé a instituiçao tém condiçoés dé émérgir também é
taréfa do historiador da éducaçao qué podé fazé-lo utilizando dé éstudos dé outros
pésquisadorés, éscritas dé mémorialistas, mas considéramos intéréssanté, na médida do
possívél, o acésso a acérvos qué possam oportunizar uma analisé do pésquisador.
A possibilidadé dé fontés documéntais é acérvos para as instituiçoés éscolarés, na
pérspéctiva da Historia Cultural, ampliam o léqué dé opçoés do pésquisador a partir da
problématica dé pésquisa. No éntanto, o acésso com as fontés nao isénta o invéstigador
dé uma adéquada é comprométida analisé téorica é métodologica, o qué podé constituir
uma possibilidadé analítica tér acésso a diféréntés fontés é acérvos. Nas pésquisas
apréséntadas, séja com rélaçao a Lomba Grandé ou com as Escola Publicas isoladas, ou
séja, com rélaçao a Farroupilha é ao Colégio Nossa Sénhora dé Lourdés, as instituiçoés
éstivéram imbricadas a forma como a comunidadé sé organizou para tér éscolas, para
difundir é présérvar habitos é costumés. Instituiçoés qué sé éstabélécéram ém locais
diféréntés do Rio Grandé do Sul, com suas particularidadés, no éntanto, aproximam-sé
ém alguns aspéctos a partir da analisé das culturas éscolarés tais como a propagaçao dé
valorés réligiosos.
Referências
ALBERTI, Véréna. Historias déntro da historia. In: PINSKY, Carla Bassanési. Fontes
históricas. Sao Paulo: Contéxto, 2005. p. 155 – 202.
CALADO, Sílvia dos Santos; FERREIRA, Sílvia Cristina dos Reis. 2005. Análise de
documentos: método de recolha e análise de dados. Texto distribuído na disciplina
Metodologia da Investigação I, no PPG da Educação – UNISINOS, no 2º semestre de 2010.
CATANI, Dénicé Barbara Catani ; FARIA FILHO, Luciano Méndés. Um lugar dé produçao é
a produçao dé um lugar: a historia é a historiografia divulgadas no GT Historia da
Educaçao da ANPEd (1985-2000). Revista Brasileira de Educação, jan./fév./mar./abr.
2002 Nº 19. Disponívél ém: http://www.sciélo.br/pdf/rbédu/n19/n19a09.pdf. Acésso
ém: 15 mar. 2019.
CUNHA, Maria Teresa Santos Cunha. Folhas voláteis, papéis manuscritos: o pelotão de
saúde no jornal infantil Pétalas (Colégio Coração de Jesus - Florianópolis/SC, 1945-
1952). História da Educação, ASPHE/UFRGS, Porto Alegre, v. 17, n.40, p. 251-266,
maio/ago.2013. Disponível em:
<http://www.scielo.br/pdf/heduc/v17n40/v17n40a12.pdf>. Acesso em: 14 out. 2014.
FARGE, Arlete. O sabor do arquivo. Tradução de Fátima Murad. São Paulo: EDUSP, 2009.
GATTI JÚNIOR, Décio; PESSANHA, Eurize Caldas. Currículos, práticas e cotidiano escolar:
a importância dos arquivos escolares para a produção de conhecimento em história da
educação. História da educação, ASPHE/FaE/UFPel, Pelotas, v. 14, n. 31, p. 155-191,
maio/ago 2010. Disponível em: <http//fae.ufpel.edu.br/asphe>. Acesso em: 3 jan. 2013.
GONÇALVES, I. A.; FARIA FILHO, L.M.dé; XAVIER, M.do C. (Org.). História da Educação em
Minas Gerais. Bélo Horizonté: FCH/FUMEC, 2002. p. 527- 531.
GATTI JÚNIOR, Décio; GATTI, Giseli Cristina do Vale. História e historiografia das
instituições escolares: aspectos conceituais, teóricos e metodológicos. In: LUCHESE,
Terciane Ângela; FERNANDES, Cassiane Curtarelli; BELUSSO, Gisele (Org.). Instituições,
histórias e culturas escolares. Caxias do Sul: Educs, 2018. p. 23 - 54.
GIOLO, Jaimé. Estado & Igréja na implantaçao da Républica gaucha: a éducaçao como
basé dé um acordo dé apoio mutuo. Periódicos dos programas de pós-graduação em
Educação da UCDB, n. 27, p. 243-256, jan./jun. 2009. Disponívél ém:< http://www.sérié-
éstudos.ucdb.br/indéx.php/sérié-éstudos/articlé/viéw/214>. Acésso ém: 12 mai. 2015.
MOGARRO, Maria Joao. Os arquivos éscolarés é pésquisa historica: fontés para o éstudo
da éducaçao brasiléira. Pro-posições, Sao Paulo, v. 16, n. 1, p. 103-116, jan./abr. 2005.
MORAES, José Géraldo Vinci dé; GAMBETA, Wilson. Michél dé Cértéau: pénsador das
diférénças. In: REGO, Térésa Cristina ét al. (Org.). Mémoria, historia é éscolarizaçao.
Pétropolis, RJ: Vozés, Sao Paulo, SP: Revista Educação; Editora Ségménto, 2011. p.157-
182. (Coléçao Pédagogia Contémporanéa).
NUNES, Claricé. (Dés) Encantos da modérnidadé pédagogica. In: LOPES, Eliané Marta
Téixéira; FARIA FILHO, Luciano Méndés dé; VEIGA, Cynthia Gréivé (Org.). 500 anos de
educação no Brasil. 4. Ed. Bélo Horizonté: Auténtica, 2010. p. 371-398.
PERES, Eliané Térézinha Pérés. Aprendendo formas de pensar, de sentir e de agir a escola
da vida: discursos pédagogicos é praticas éscolarés da éscola publica primaria gaucha
(1909 – 1959). 2000. 494 f. Tésé (Doutorado) – Univérsidadé Fédéral dé Minas Gérais,
Programa dé Pos-Graduaçao ém Educaçao, 2000.
REDE, Marcelo. História e cultura material. In: CARDOSO, Ciro Flamarion; VAINFAS,
Ronaldo (Org.). Novos domínios da história. Rio de Janeiro: Elsevier, 2012. p. 131-150.
SOUZA, José Edimar dé. As escolas isoladas: práticas escolares no meio rural de Lomba
Grande/RS (1940-1952). 2015. 292 f. Tésé (Doutorado) – Univérsidadé do Valé dos
Sinos, Programa dé Pos-Graduaçao ém Educaçao, 2015.
VINAO FRAGO, Antonio. Do éspaço éscolar é da éscola como lugar: Propostas é quéstoés.
In: VINAO FRAGO, A.; ESCOLANO A. Currículo, espaço e subjetividade: a arquitétura como
programa. Traduçao dé Alfrédo Véiga Néto. 2. éd. Rio dé Janéiro: DP&A, 2001.p.62-136.
ENTREVISTAS
BERNARDES, João Horácio. Entrevista oral sobre a experiência de ser aluno em classes
multisseriadas em Lomba Grande. Novo Hamburgo, 3 dez. 2013. Entrevista concedida a
José Edimar de Souza.
SCHAAB, Maria do Carmo. Entrevista oral sobre a trajetória docente em classes
multisseriadas em Lomba Grande. Novo Hamburgo, 21 nov. 2013. Entrevista concedida a
José Edimar de Souza.
PIRES, Maria Lorena. Entrevista oral sobre a trajetória docente em classes multisseriadas
em Lomba Grande. Novo Hamburgo, 10 fev. 2014. Entrevista concedida a José Edimar de
Souza.
SCHERER, Sérgio José. Entrevista oral sobre a trajetória docente em classes multisseriadas
em Lomba Grande. Novo Hamburgo, 10 fev. 2014. Entrevista concedida a José Edimar de
Souza.
THIESEN, Lucilda Hilda. Entrevista oral sobre a experiência de ser aluno em classes
multisseriadas em Lomba Grande. Novo Hamburgo, 11 fev. 2014. Entrevista concedida a
José Edimar de Souza.
THIESEN, Thomaz Osvaldo. Entrevista oral sobre a experiência de ser aluno em classes
multisseriadas em Lomba Grande. Novo Hamburgo, 11 fev. 2014. Entrevista concedida a
José Edimar de Souza.
REIS, Helenita dos. Entrevista oral sobre a experiência de ser aluno em classes
multisseriadas em Lomba Grande. Novo Hamburgo, 6 fev. 2014. Entrevista concedida a
José Edimar de Souza.
REIS, José Erci dos. Entrevista oral sobre a experiência de ser aluno em classes
multisseriadas em Lomba Grande. Novo Hamburgo, 6 fev. 2014. Entrevista concedida a
José Edimar de Souza.
WINCK, Clari. Entrevista oral sobre a experiência de ser aluno em classes multisseriadas
em Lomba Grande. Novo Hamburgo, 13 set. 2013. Entrevista concedida a José Edimar de
Souza.