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ISSN: 2446-7154

GRUPOS ESCOLARES NO RIO GRANDE DO NORTE: MAPEAMENTO DE


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ESTUDOS SOBRE A ESCOLA PRIMÁRIA

SCHOOL GROUPS IN RIO GRANDE DO NORTE: MAPPING STUDIES ABOUT


PRIMARY SCHOOL

GRUPOS ESCOLARES EN EL RÍO GRANDE DEL NORTE: MAPA DE ESTUDIOS


SOBRE LA ESCUELA PRIMARIA

Paula Lorena Cavalcante Albano da Cruz1

Resumo: O artigo trata-se de uma análise quantitativa e qualitativa de dissertações e teses, publicadas entre 2005
e 2017 pela UFRN, que abordam a temática dos grupos escolares norte-rio-grandenses. Pretendemos
compreender como as mesmas colaboraram para a construção de uma historiografia dessas instituições
educativas públicas do Rio Grande do Norte. A fim de compreendermos o nosso objetivo buscamos trabalhar
com a análise de conteúdo. Em meio aos resultados alcançados observamos que as produções acadêmicas em
geral estão inseridas nas abordagens da História Cultural e Social, bem como buscaram colaborar na construção
da história das instituições escolares do estado.
Palavras-chave: Grupos Escolares. Historiografia. Mapeamento.

Abstract.
Article deals with a quantitative and qualitative analysis of dissertations and theses, published between 2005 and
2018 by UFRN, which deal with theme of the North-Rio Grande school groups. We intend to understand how
they collaborated to build a historiography of these public educational institutions of Rio Grande do Norte. In
order to understand our goal we seek to work with content analysis. In the midst of the results achieved,
observed that the academic productions in general sought to collaborate in the construction of the history of the
state's educational institutions, as well as in the knowledge of education in the State.

Keywords: School Groups. Historiography. Mapping

Resumen: Artículo se trata de un análisis cuantitativo y cualitativo de disertaciones y tesis, publicadas entre
2005 a 2018 por la UFRN, que abordan temática de los grupos escolares norte-rio-grandenses. Pretendemos
comprender cómo las mismas colaboraron para la construcción de una historiografía de esas instituciones
educativas públicas de Rio Grande do Norte. A fin de comprender nuestro objetivo buscamos trabajar con el
análisis de contenido. En medio de los resultados alcanzados observamos que las producciones académicas en
general buscaron colaborar en la construcción de la historia de las instituciones escolares del estado, así como en
el conocimiento de la educación en el Estado.

Palabras-clave: Grupos Escolares. Historiografía. Mapeo.

1
Mestre em Educação (PPGED-UFRN). Graduada em História (UFRN). E-mail: paulalcac@gmail.com

Revista Hipótese, Itapetininga, v. 5, n.1, p. 1-3, p. 146-161, 2019.


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Introdução
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As mudanças ocorridas na historiografia europeia a partir dos anos 1960, trouxeram
várias novidades investigativas, possibilidades de fontes e métodos, favorecendo a ampliação
de perspectivas de pesquisa na História da Educação. Com isso, a mesma foi beneficiada,
ampliando o seu campo de atuação.
Segundo Gatti Jr. (2002), na França no final dos anos de 1970 com o surgimento da
Nova História francesa, grupos de historiadores como Anne-Marie Chartier e André Chervel
começaram a se debruçar em pesquisas constituindo um campo especializado na “História das
Disciplinas Escolares”. No mesmo período, na Inglaterra, as necessidades de saber as reais
funções da escola inglesa, fez surgir um novo campo do saber, a “Sociologia do currículo”.
Ao lado da “História das Disciplinas Escolares” surgiu a “História das Instituições
Educacionais”, a qual tem como um dos expoentes o historiador Justino Magalhães.
No Brasil, segundo Vidal e Faria Filho (2003), as pesquisas no campo da História da
educação brasileira podem ser reconhecidas através de três vertentes, a saber: a construída
pela influência do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (1870-1960), proveniente da
literatura escolar da Escola Normal (1930-1960) e produção acadêmica, que surge desde
1960.
Contudo, a partir dos anos de 1980 sob a influência das mudanças ocorridas nos
estudos da História da Educação europeia, o Brasil passou a se posicionar em suas pesquisas
no âmbito da história. Percebe-se no país um crescimento nos estudos da área em diversas
regiões brasileiras. Gatti Jr (2002), aponta que a expansão nas pesquisas no campo da História
da Educação, se deve ao afluxo de pesquisadores para as diferentes regiões brasileiras e pelo
fato desses estarem “sob o impacto das novas tendências da pesquisa histórica, nas quais as
especificidades e singularidades regionais, ou mesmo locais, passaram a ser consideradas
importantes objetos de estudo” (Gatti Jr., 2002, p. 17). Além disso, o aumento de programas
de pós-graduação e o surgimento de grupos de pesquisa na área fomentaram o crescimento
das pesquisas na área da História da Educação.

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História das Instituições Educacionais
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Juntamente com a abrangência do campo historiográfico da História da Educação,
vimos crescer estudos a acerca da História das Instituições Escolares, “como conhecimento
historiográfico em renovação no quadro da História da Educação” (Magalhães, 1996, p. 1).
O historiador Justino Magalhães trouxe contribuições relevantes na construção desse
conhecimento historiográfico, através dos seus estudos que afirmam a importância de se
historiar as instituições educativas, afirmando que:

Compreender e explicar a existência histórica de uma instituição educativa é,


sem deixar de integrá-la na realidade mais ampla que é o sistema educativo,
contextualizá-la, implicando-a no quadro de evolução de uma comunidade e
de uma região, é por fim sistematizar e (re)escrever-lhe o itinerário de vida
na sua multidimensionalidade, conferindo um sentido histórico. (Magalhães,
1996, p. 2)

Ou seja, os estudos das instituições educativas integram todo o sistema educativo, sua
contextualização, a comunidade que a envolve, as politicas educacionais, as praticas
educativas, sendo um ambiente propício, fecundo para compreender a educação, os sistemas
educacionais, bem como, a identidade de uma instituição.
Essa compreensão da História das Instituições Escolares, alcançou muitos
pesquisadores no Brasil, que nas diversas regiões do país foram se envolvendo com a temática
e desenvolvendo suas pesquisas no âmbito desse campo historiográfico.
Segundo Gatti Jr.,

ainda que com diversas dificuldades, em virtude da inexistência de


repertórios de fontes organizados, alguns historiadores e educadores têm-se
lançado à tarefa de historiar a educação escolar brasileira através da
construção de interpretações acerca das principais instituições educativas
espalhadas pelas diversas regiões brasileiras (Gatti Jr., 2002, p. 21)

No Brasil, nos anos de 1990, viu-se crescer uma grande produção acadêmica na área,
através de estudos singulares de instituições escolares que aumentam a compreensão da
história da educação no Brasil. As pesquisas resultaram em trabalhos monográficos ou de pós-
graduação, como também em livros e artigos publicados em revistas de circulação nacional e

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internacional, socializando e favorecendo a construção de uma historiografia voltada para as
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instituições educativas.
No quadro abaixo, elaborado a partir de informações obtidas pela autora Ester Buffa
(2007), podemos observar esse crescimento nas produções acadêmicas acerca da História das
Instituições dos anos de 1971 a 2005, encontrados no Banco de Teses e Dissertações da
Capes.

Gráfico 1: Estudos sobre Instituições escolares no Brasil (1971-2005)

ESTUDOS SOBRE INSTITUIÇÕES ESCOLARES NO


BRASIL (1971 - 2005)

Ensino básico (particulares) -


Laicas e Confessionais
17%
Ensino Superior - Particulares
38% e Públicas
22% Ensino profissional - Médio e
Superior
23% Escolas Normais - Públicas e
Privadas

Fonte: BUFFA (2007)

Podemos observar que a maioria das pesquisas contemplaram as instituições


particulares de ensino básico (laicas e confessionais) totalizando 48 trabalhos acadêmicos,
seguido de 23 pesquisas sobre instituições de Ensino Superior, tanto particulares como
públicas, 27 produções de Ensino Profissional Médio e Superior e por último com a menor
produção, em um total de 21 trabalhos desenvolvidos sobre as Escolas normais (públicas e
privadas).
Diante de tal análise, nos perguntamos onde se encontra os estudos sobre os grupos
escolares. A respeito desse assunto, Buffa (2007) nos explica que comparado as demais
pesquisas realizadas acima com as dos grupos escolares, esses se mostravam ainda com
pequena expressão, revelando-se como tema promissor, que teria muito o que ser estudado,

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pois por bastante tempo a história desta etapa da educação foi deixada em segundo plano,
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sendo priorizado estudos sobre o ensino secundário e superior.
Para Souza e Faria Filho (2006, p. 22),

A história dos grupos escolares emerge nos anos 90 como fruto do


movimento de renovação dos estudos em história da educação e na
confluência com duas temáticas ou eixos de investigação para os quais se
voltaram os historiadores: a história das instituições educativas e o interesse
pela cultura escolar. Pode-se dizer que essa história significou uma
redescoberta do ensino primário investigado com base em novas abordagens
e interpelações e epistemológicas e explorado numa multiplicidade de temas
e objetos.

Os autores também acrescentam que a escolha dos pesquisadores sobre o tema é


justificada pelo fato de que a escola é uma instituição feita por sujeitos históricos que
produzem cultura, a escola que produz a sociedade (Souza e Faria Filho, 2006).
Dessa forma, estudar os grupos escolares é relevante diante do papel que os mesmos
desempenharam na organização e desenvolvimento da educação primária brasileira durante a
República, visto que surgiram no país nos anos de 1890 e permaneceram como modelo
educacional até o ano de 1971, sendo substituídos pelas escolas de 1º grau, a partir da Lei
5.692/71. Assim, os Grupos Escolares passaram 80 anos como principal modelo de escola,
acolhendo cerca de duas gerações de brasileiros na educação formal e assim foi responsável
por colaborar na construção da sociedade brasileira, pois foi disseminadora das ideias que
circulavam no país nos seus diferentes períodos. Foram responsáveis por fundarem “uma
representação de ensino primário que não apenas regulou o comportamento, reencenando
cotidianamente, de professores e alunos no interior das instituições escolares, como
disseminou valores e normas sociais (e educacionais)” (Vidal, 2006, p. 9).
As pesquisas sobre os grupos escolares no Brasil trouxeram à tona a educação dada
nas várias regiões do país, com suas especificidades e semelhanças. Os trabalhos das
diferentes pós-graduações espalhadas pelas universidades brasileiras contribuíram para
estudos mais regionais, preocupados em entender a educação local com suas semelhanças
com o nacional, mas também as diferenças e as particularidades de cada estado. A princípio

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centrados em estudar os primeiros grupos escolares de cada estado, aqueles que eram
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referência para os demais que surgiriam, mas que se estenderam a outros grupos escolares
mais periféricos e que também colaboraram para o desenvolvimento educacional.

Estudos sobre Grupos Escolares no RN


No Rio Grande do Norte, não diferente de outros estados do Brasil, também
apresentava poucas expressões de pesquisa na temática dos grupos escolares. Uma das
maiores fomentadoras de produções acerca do tema é a Pós-graduação em Educação da
Universidade Federal do Rio Grande do Norte (PPGED/UFRN), a qual possui uma linha de
pesquisa intitulada na atualidade por História da Educação, práticas socioeducativas e usos
da linguagem, que se debruça, dentre outras temáticas, com a dos grupos escolares. Contudo,
corroborando com as observações feitas por Souza e Faria Filho (2006), de que o tema acima
ainda era pouco estudado dentro do universo da História das instituições escolares,
percebemos que o Rio Grande do Norte se incluía nessa perspectiva de tendência a crescer
nesse tipo de pesquisa.
Ao buscarmos mapear as obras de cunho dissertativo e as teses produzidas sobre os
grupos escolares, utilizamos o Repositório Institucional da UFRN, que é o banco de
Dissertações e Teses produzidas na universidade. Escolhemos como ponto de partida o ano de
2005 por ter sido a data mais antiga de produção sobre grupo escolar encontrada no
Repositório. Ao total, localizamos 9 trabalhos de pós-graduação stricto sensu, sendo 8
dissertações e 1 tese até os dias atuais. Ou seja, do ano de 2005 a 2017, em um período de 12
anos, foram produzidas nove produções acadêmicas no modelo stricto sensu sobre o tema.
Isso significa que houve um crescimento nos últimos anos de estudos da temática.
No quadro abaixo, podemos observar os títulos das obras, autores, ano de publicação e
o trabalho final, a fim de conhecermos as produções que serão analisadas nesse artigo.

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Quadro 1: Produções acadêmicas Stricto Sensu da UFRN sobre Grupos Escolares.
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Título Autor Ano Trabalho final
Um espaço pioneiro de modernidade educacional: Ana Zélia 2005 Dissertação
Grupo Escolar “Augusto Severo” – Natal/RN Moreira
(1908-1913).
O Grupo Escolar Modelo Augusto Severo (1908- Francinaide de 2010 Dissertação
1928): vinte anos de formação de professores. Lima Silva

Em nome da Pátria: escolas e tradições Keila Cruz 2011 Tese


modernas. Moreira
Grupo Escolar Duque de Caxias - festas Sebastião 2012 Dissertação
escolares: uma celebração de múltiplos Alves Maia
significados (1949-1952)
A educação como instrumento na construção do Paula Lorena 2014 Dissertação
imaginário republicano: Grupo Escolar Barão de C. A. da Cruz
Mipibu (1909-1920)
A presença do professor Luís Correa Soares Amanda 2015 Dissertação
Araújo no Grupo Escolar Frei Miguelinho (1912- Thaíse
1967) Emereciano
Pinto
Grupo escolar Joaquim Nabuco: história e Janaína Silva 2016 Dissertação
práticas educativas (Taipu/Rio Grande do Norte, de Morais
1919-1940)

O discurso higienista para os grupos escolares na Hannaniel de 2016 Dissertação


legislação educacional do RN (1908-1925) Souza Amorim
História da educação primária na Atenas norte- Gilson Lopes 2017 Dissertação
rio-grandense: das escolas de primeiras letras ao da Silva
Grupo Escolar Tenente Coronel José Corrêa
(1829-1929).

Fonte: Repositório institucional da UFRN (2018)

A partir do quadro 1 acima, podemos observar que surge o primeiro trabalho em


2005, porém somente cinco anos depois percebemos um crescimento na produção,
aparecendo trabalhos a cada ano ou concomitantes ou ainda com curtos espaços de
publicação. Assim, poderíamos inferir que no Rio Grande do Norte esse tipo de temática só
veio a ser notório, como objeto de pesquisa stricto sensu nos anos 2000, sendo algo recente e
ainda com diversas possiblidades de exploração.

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Além disso, os títulos nos sugerem que houve uma descentralização da pesquisa em
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torno do primeiro grupo escolar do Estado, que foi o “Augusto Severo” na capital Natal para
outras localidades mais periféricas ou até mesmo no centro das regiões do Estado. Os
primeiros trabalhos, que versam a respeito do Augusto Severo, são: Um espaço pioneiro de
modernidade educacional: Grupo Escolar “Augusto Severo” – Natal/RN (1908-1913) de Ana
Zélia Moreira (2005); O Grupo Escolar Modelo Augusto Severo (1908-1928): vinte anos de
formação de professores de autoria de Francinaide de Lima Silva (2010) e Em nome da
Pátria: escolas e tradições modernas de Keila da Cruz Moreira (2011). Os demais estudos se
deslocam para outros grupos no interior e em outro bairro de Natal como podemos observar
na imagem 1, abaixo.

Figura 1: Grupos Escolares contemplados em Dissertações e Teses do PPGEd/UFRN

Fonte: Produzido pela autora

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Os trabalhos que versam sobre o Grupo Escolar Augusto Severo apresentam o mesmo
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objeto de pesquisa, mas objetivos diferentes. A dissertação de Moreira (2005), intitulada Um
espaço pioneiro de modernidade educacional: Grupo Escolar “Augusto Severo” – Natal/RN
(1908-1913) pertencente a Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo da UFRN, buscou
compreender o espaço escolar através da arquitetura, enquanto instrumento urbano no
processo de embelezamento da cidade de Natal/RN e ainda como modelo para nova
organização da escola elementar do Rio Grande do Norte. Já o trabalho dissertativo O Grupo
Escolar Modelo Augusto Severo (1908-1928): vinte anos de formação de professores de Silva
(2010), analisou as práticas pedagógicas vivenciadas no Grupo Escolar durante os seus
primeiros 20 anos de instituição, o apresentando como modelo pedagógico para os demais
grupos do Estado. E a Tese de Moreira (2011), Em nome da Pátria: escolas e tradições
modernas, na qual a autora fez uma análise comparativa de duas instituições: o colégio
Americano de origem privada e confessional e Grupo Escolar Augusto Severo, público e
laico. Procurou analisar as duas instituições, segundo a autora porque foram as primeiras
escolas republicanas que objetivavam homogeneizar culturalmente as pessoas na perspectiva
do movimento da modernidade da época.
No ano seguinte, temos a dissertação de Maia (2012) com o trabalho Grupo Escolar
Duque de Caxias - festas escolares: uma celebração de múltiplos significados (1949-1952),
saindo do foco do primeiro grupo escolar do Estado na capital e direcionando a pesquisa para
o interior, especificadamente para a cidade de Macau/RN. O autor abordou o tema das
festividades escolares como propagação da modernidade na sociedade de Macauense. Dois
anos depois, Cruz (2014) escreveu a sua dissertação sobre o Grupo Escolar Barão de Mipibu
na cidade de São José de Mipibu/RN, intitulado A educação como instrumento na construção
do imaginário republicano: Grupo Escolar Barão de Mipibu (1909-1920), fez uma análise de
como a educação escolar contribuiu na construção do imaginário republicano da sociedade
norte-rio-grandense, a partir do grupo em estudo.
Em seguida temos três trabalhos produzidos no mesmo período entre 2015 e 2016, que
foram os de Pinto (2015) sob o título de A presença do professor Luís Correa Soares Araújo
no Grupo Escolar Frei Miguelinho (1912-1967), o qual não explorou exclusivamente o grupo
escolar Frei Miguelinho, mas a presença de um professor e diretor da escola, bem como a sua

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contribuição para aquele estabelecimento escola, porém dedica um capítulo a historiar a
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instituição. Em 2016 temos duas obras: Grupo escolar Joaquim Nabuco: história e práticas
educativas (Taipu/Rio Grande do Norte, 1919-1940) de Morais (2016), que abordou a história
da instituição e as práticas pedagógicas vivenciadas na mesma e a dissertação de Amorim
(2016), O discurso higienista para os grupos escolares na legislação educacional do RN
(1908-1925), que não trabalhou nenhum grupo escolar específico, mas abordou a
problemática do pensamento higienista na legislação educacional do período de expansão dos
grupos escolares no Rio Grande do Norte e a sua influência nos grupos. Por último, o trabalho
de Silva (2017) é o mais recente e traz o título de História da educação primária na Atenas
norte-rio-grandense: das escolas de primeiras letras ao Grupo Escolar Tenente Coronel José
Corrêa (1829-1929), no qual foram analisadas as contribuições da educação primária na
construção da identidade da cidade de Assú/RN e as influências da expansão cultural e
literária do município no processo de escolarização da época. A pesquisa de Silva (2017), se
debruçou do período das escolas de primeiras letras ainda no Império até os primeiros anos do
Grupo Escolar, já na República.
Outro aspecto importante de observar é a respeito do aporte teórico-metodológico
escolhido pelos autores. Abaixo temos um quadro apresentando cada obra com seus
principais aportes teóricos e os principais expoentes que fundamentaram as suas pesquisas.

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Quadro 2 – Aporte teórico-metodológico
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Dissertações e Aporte teórico-metodológico Principais autores


Teses
MOREIRA Espaço Escolar FRAGO E ESCOLANO
(2005) História das Instituições MAGALHÃES

SILVA (2010) História Cultural CHARTIER

MOREIRA História das Instituições MAGALHÃES


(2011) Escolares
História Cultural CHARTIER
Cultura Escolar
Invenção das Tradições DOMINIQUE JULIA
HOBSBAWM
MAIA (2012) Cultura Escolar DOMINIQUE JULIA
História social NOBERT ELIAS
História das Instituições MAGALHÃES
Escolares BUFFA E NOSELLA
Espaço Escolar FRAGO
CRUZ (2014) História do Imaginário LE GOFF
Imaginário Social CASTORIADIS
BACZKO
PINTO (2015) História Cultural CHARTIER

MORAIS História Cultural CHARTIER


(2016) História das Instituições
Escolares MAGALHÃES
Cultura Escolar
DOMINIQUE JULIA
AMORIM Análise do Discurso MICHEL FOUCAULT
(2016)
SILVA (2017) História Cultural CHARTIER
História da Alfabetização
História das Instituições FRAGO
Escolares MAGALHÂES

Fonte: Dados retirados das dissertações e tese pela autora.

Podemos observar no Quadro 2 que a maioria dos autores trabalham com a


perspectiva de Justino Magalhães acerca de instituições escolares e retiram as suas categorias
de análise, bem como as possibilidades de trabalho com fontes a partir da leitura desse autor.
A respeito das abordagens históricas, as produções versam entre a História Cultural e Social,
bem como dialogando entre elas. Contudo, é perceptível a influência da História Cultural

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francesa proposta por Roger Chartier, a partir das noções de Representações e Práticas, que
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aparecem na maioria dos trabalhos. Outro autor bastante citado nas produções, tanto de forma
central como secundária, é o Antonio Vinao Frago com a noção de espaço escolar e
Dominique Julia com o conceito de Cultura escolar.
Contudo, diante da análise das produções em estudo, percebemos que nem todas
traziam de forma clara na Introdução ou em outra seção do trabalho a opção teórico-
metodológica ou as categorias de análise, estando às vezes diluídas no corpo da obra.
Contudo, todos se inserem nas abordagens da História Cultural ou Social.
A respeito das fontes utilizadas, observamos a influência das mudanças ocorridas na
historiografia a partir do anos de 1960, principalmente da História Cultural, na diversidade do
uso dos documentos. Os autores trabalharam com documentos de cunho administrativo,
pedagógico e legislativo (no que concerne a Educação), jornais locais, fotografias, entrevistas
publicadas ou realizadas, discursos de autoridades políticas e da área, revistas pedagógicas ou
de outra ordem, planta baixa, o próprio edifício escolar, boletins pedagógicos, livros didáticos
e de literatura e atas de igrejas.
Essa diversidade de fontes permite ao historiador realizar um maior cruzamento de
informações dando-lhe maior segurança no que está sendo analisado e na história que está
sendo construída, por serem de naturezas diferentes, mas que se entrecruzam, abrangendo as
possibilidades de análise de um mesmo objeto.
No entanto, segundo os autores das dissertações e teses, o encontro dessas fontes nem
sempre foram fáceis. Muitos alegaram a dificuldade de encontrá-las, bem como o acesso as
mesmas. Abaixo encontramos um gráfico com os lugares mais visitados pelos pesquisadores
de história dos grupos escolares no Rio Grande do Norte.

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Gráfico 2: Locais de Fontes das Dissertações e Teses sobre Grupos Escolares do RN
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Locais de Fontes das Dissertações e Teses sobre


Grupos Escolares do RN

12% Arquivo do Jornal A


Repúlbica
23%
Arquivo da escola
19%
11% IHGRN

Arquivo Público do Estado do


35% RN

Fonte: gráfico criado pela autora.

Observamos que a maioria dos pesquisadores visitaram o Instituto Histórico e


Geográfico do Rio Grande do Norte (IHGRN) (35%), um local de relevante importância para
os pesquisadores do Estado, que guarda considerável volume de documentos acerca da
história estadual e em segundo lugar temos o Arquivo do Jornal A República (23%), o qual
possui um acervo documental também relevante por ter sido um jornal situacional e por
guardar impressos que circulavam no Rio Grande do Norte. Logo em seguida, encontramos o
Arquivo Público do Estado (19%), o qual se apresenta em péssimas condições de pesquisas,
com o acervo desorganizado e sem muitos funcionários para auxiliar na localização dos
documentos, mas que da mesma forma que os outros, também possuem significante
importância pela quantidade de documentos guardados. Com apenas 12%, temos a categoria
‘Outros’ que são as demais instituições, como igrejas, além de entrevistas e acervos pessoais.
Por fim, temos as visitas feitas ao arquivo da escola (11%), como lugar menos visitado, mas
isso ocorre porque muitos dos espaços escolares não existem mais, tendo sido destruído ou
perdidos diversos documento ao longo dos tempos, bem como a falta de cuidado de
preservação que também dificulta a existência de tais fontes nos seus locais de sua origem que
é a escola.

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Conclusão
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Ao realizarmos esse tipo de estudo que buscou conhecer e analisar as produções de
pós-graduação stricto sensu acerca dos Grupos Escolares no Rio Grande do Norte,
compreendemos que é um tema de pesquisa que tem crescido, pois pudemos observar que
desde de 2010 a 2017, houve uma expansão dos trabalhos publicados. No entanto, isso não
significa afirmar que só existem essas produções acadêmicas, pois outros trabalhos de cunho
monográfico já foram escritos sobre a temática por outros autores e alguns dos citados no
artigo fizeram suas monografias explorando os grupos escolares como CRUZ (2013), PINTO
(2011), MORAIS (2013), SILVA (2007) e MOREIRA (1997), bem como entre outras
produções como artigos e livros.
Porém, esse aumento nas pesquisas sobre grupos escolares no Estado, não significa
que se esgotaram as possibilidades de análise, nem mesmo a demanda de se estudar outros
grupos espalhados pelo Rio Grande do Norte. Mesmo os grupos já estudados ainda careces de
pesquisas que contemplem os anos posteriores ao seu surgimento, visto que os trabalhos
apresentados centralizam as suas análises na criação ou nos primeiros anos das instituições.
Ainda inexistem trabalhos que estudem o percurso trilhado durante os 80 anos de contribuição
na educação desse tipo de instituição e como foi o processo de transição para escola de 1º
grau, a reutilização dos edifícios depois da lei 5.692/71, entre tantas outras perspectivas de
estudo da história da escola primária pública, não obstante os desafios dos arquivos onde se
encontram as fontes para a realização de tais pesquisas.
Por fim, compreendemos que o conjunto desses trabalhos favorecem a construção e a
compreensão da educação norte-rio-grandense e brasileira durante a primeira metade do
século XX, possibilitando e fortalecendo uma historiografia dos grupos escolares, bem como
da própria História da Educação brasileira.

Referências
AMORIM, Hannaniel de Souza. O discurso higienista para os grupos escolares na legislação
educacional do RN (1908-1925). 2016. Dissertação (Mestrado em Educação) – Universidade
Federal do Rio Grande do Norte, 2016.

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In: NASCIMENTO, M.I.M.; SANDANO, W.; LOMBARDI, J.C.; SAVIANI, D. (Orgs.). Instituições 160
Escolares no Brasil: conceito e reconstrução histórica. Campinas, SP: Autores Associados:
HISTEDBR; Sorocaba, SP: UNISO; Ponta Grossa, PR: UEPG, 2007.
CRUZ, Paula Lorena C. A. da. Pátria amada Brasil: O ensino de História como instrumento de
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Universidade Federal do Rio Grande do Norte, 2013.
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Barão de Mipibu (1909-1920). 2014. Dissertação (Mestrado em Educação) Universidade Federal do
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