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ALFENAS
2022
Apresentação
Nosso objetivo com esse projeto é consolidar pesquisas sobre ensino de história que
se inserem no campo da Didática desenvolvimental, bem como divulgar que há estratégias
didáticas para esta área que podem contribuir para a inserção dos estudantes na sociedade, pois
um ensino que seja desenvolvente possibilita a produção de conhecimento, a melhor
compreensão sobre si e sobre o contexto histórico em que vive.
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voluntária, as variadas manifestações da memória, o pensamento teórico e abstrato, a formação
de conceitos, a percepção, a emoção e o afeto (VIGOTSKI, 2000).
Há que considerarmos que o conhecimento escolar não pode ter apenas a função de
adaptação dos estudantes à realidade social ou de inseri-los no mercado de trabalho. A
submissão das práticas escolares e curriculares às ações voltadas para o desenvolvimento de
competências e habilidades, como nos propõe a BNCC – Base Nacional Comum Curricular
(BRASIL, 2017), está na contramão das propostas pedagógicas e didáticas que valorizam o
desenvolvimento as potencialidades dos estudantes. Os conhecimentos escolares devem ter
objetivos mais amplos, como o desenvolvimento integral dos alunos. Segundo Jose Carlos
Libâneo, o conhecimento que humaniza não pode ficar restrito às elites econômicas
(LIBÂNEO, 2016). É preciso também que as escolas públicas promovam processos de
produção de conhecimento que insiram os estudantes e docentes nos processos e contextos mais
amplos de produção das ciências, das artes e das linguagens.
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O ensino de história na escola pode e deve colaborar com esse processo de
humanização, via acesso à produção do conhecimento histórico escolar (SOARES, 2021). A
finalidade da aprendizagem da história não deve ser pragmática, com vistas aos processos
seletivos, tampouco apenas social, como os valores democráticos, de cidadania ou de adaptação
ao mundo do trabalho. Aprender história é compreender-se a si mesmo no mundo, é
compreender a importância do passado como parte da melhoria da nossa qualidade de vida.
Para tanto, será necessário pesquisar e propor didáticas de ensino-aprendizagem da história
escolar que possibilitem aos estudantes as máximas capacidades humanas.
Com estas observações preliminares, nós definimos os objetivos mais amplos desta
pesquisa nos seguintes termos: ampliar e consolidar as pesquisas sobre ensino de história em
suas interfaces teóricas com a Didática desenvolvimental; ampliar o debate teórico no campo
do ensino de história em suas relações com as metodologias de ensino-aprendizagem; estreitar
laços de pesquisa com as didáticas específicas que se referenciam na didática desenvolvimental.
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A didática desenvolvimental como referencial teórico
A partir dos anos 1990, começaram a chegar ao Brasil as traduções da obra de Vigotski
diretamente do russo para o espanhol. As clássicas Obras Escogidas de Vygostky, com seis
tomos, possibilitou um novo impulso nas pesquisas que se utilizam deste referencial teórico.
Concomitantemente, as traduções dos originais de Leontiev tornaram-se acessíveis no Brasil
via traduções em espanhol. Entre os anos 1990 e meados dos anos 2000, inúmeros grupos de
pesquisas, em diversos programas de pós-graduação em educação, desenvolveram pesquisas
sobre as didáticas específicas, tendo por referência os trabalhos de Leontiev e Vigotski.
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de mudança nos sujeitos da aprendizagem. Essa é uma abordagem significativamente nova, se
pensarmos nas tradições didáticas e pedagógicas comumente implementadas no Brasil
contemporâneo.
Com Davidov, Elkonin, Repkin, dentre outros, podemos verificar que os estudantes,
ao se colocarem em atividade com o objeto de conhecimento, também se transformam. A
atividade é compreendida aqui como o movimento que estudantes e docentes devem fazer no
sentido de se apropriar e objetivar sobre o conhecimento produzido (SOARES, 2021). Deriva
desta compreensão o conceito de atividade de estudo, defendido por estes didatas. Na atividade
de estudo, os escolares devem produzir um conhecimento novo sobre o objeto, e não repetir
informações sobre o que já foi elaborado e pesquisado (REPKIN, 2014). É neste movimento,
de produzir conhecimentos a partir de dúvidas, crises e dificuldades que os estudantes se
transformam como sujeitos e se humanizam.
Nas pesquisas sobre ensino de história que analisam e propõem práticas escolares, é
possível identificar a solidez da perspectiva tradicional sobre os objetivos do ensino e o que se
espera das aprendizagens. Um exemplo desta abordagem nós encontramos nas inúmeras
pesquisas desenvolvidas após a Lei 10.639, de 9 de janeiro de 2003, e que foi complementada
pela Lei 11.645, de 10 de março de 2008. Tal legislação modifica a prescrição curricular ao
destacar a relevância do ensino de história da África, dos afro-brasileiros e da história indígena.
Em comum às pesquisas sobre ensino de história que são posteriores a esta legislação, nós temos
as justificativas sobre a importância da inserção destes conhecimentos no currículo escolar,
quais sejam: o ensino tem a função social de valorizar a história desses povos e suas tradições;
a aprendizagem destes conhecimentos poderá favorecer uma educação antirracista e de
valorização da diversidade cultural.
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Compreendemos que tais justificativas estão corretas e que a inserção destas temáticas
foram e continuam sendo fundamentais para a melhoria das práticas de ensino de história.
Entretanto, subjaz a estas justificativas a concepção da tradição escolar de que as aprendizagens
tem por objetivo ouvir, interagir ou manipular os objetos do conhecimento com vistas à um
objetivo social específico. E isto é uma secular ingenuidade da Didática tradicional: de que as
práticas de ensino se consubstanciam em aprendizagens (LEONTIEV, 2021).
Para que estas temáticas tenham o efeito desejado é preciso modificações internas aos
estudantes. Não será satisfatório mudanças no currículo escolar se não forem acompanhadas de
transformações nas metodologias de ensino-aprendizagem de tais conteúdos. Nos modelos mais
hegemônicos de ensino-aprendizagem da história escolar, é provável que tenhamos, por
exemplo, estudantes com boas “notas e médias” sobre estes conhecimentos, mas que continuam
tendo pensamentos e práticas racistas e defendendo o extermínio dos povos indígenas.
Nossa defesa é de que as práticas de ensino de história podem e devem contribuir para
a formação integral dos estudantes. Neste sentido, as pesquisas sobre as práticas escolares de
ensino-aprendizagem de história devem desenvolver e propor práticas didáticas que valorizem
os seguintes aspectos: o desenvolvimento do pensamento teórico e abstrato sobre o passado, a
compreensão de que a historiografia elabora conceitos para analisar as fontes, o
desenvolvimento das potencialidades de criatividade, linguagens e afetos entre os estudantes.
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Abordagem metodológica
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Puebla/México, e de outras experiências pontuais de docentes que foram registradas em Anais
de Congressos, artigos científicos, blogs e redes sociais.
O projeto prevê a duração de vinte e quatro meses. Espera-se que o projeto receba a
contribuição de pesquisadores em iniciação científica e que tenha diálogo com pesquisas
realizadas no interior do PPGE da UNIFAL/MG.
Ações e cronograma
O projeto está previsto para ter a duração de 24 meses. As ações a serem desenvolvidas
estão subdivididas em semestres, considerando o primeiro semestre após a aprovação do
projeto.
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3º semestre: Elaboração de sínteses sobre a Didática desenvolvimental e a atividade
de estudo de história. Análise de materiais e recursos didáticos que
podem ser inseridos nas propostas didáticas a serem apresentadas.
Análise do debate historiográfico sobre as fontes históricas e como tal
debate pode contribuir para a elaboração de nossas propostas didáticas.
Elaboração de um artigo científico que trate das relações entre fontes e
recursos didáticos nas propostas de atividade de estudo de história.
Resultados esperados
Academicamente projetamos estreitar laços com dois grupos de pesquisa que têm um
número maior de pesquisadores atuando no campo da Didática desenvolvimental: O GIPTHC
- Grupo Implicações Pedagógicas da Teoria Histórico-Cultural, da UNESP/Marília, e o
GEPEDI - Grupo de Estudos e Pesquisas em Didática e Desenvolvimento Profissional Docente,
da FACED/UFU. Projetamos formas de intercâmbio do Coordenador do projeto e dos futuros
estudantes de iniciação científica e de mestrado que vierem a integrar o projeto. Tal intercâmbio
poderá ser feito na forma de reuniões conjuntas com estes grupos de pesquisa e dos eventos que
eles promovem. Está previsto também a publicação de, ao menos, três artigos científicos em
revistas especializadas, além da apresentação de trabalho em Congressos.
Nossa expectativa é de que a inserção dos resultados da pesquisa nas práticas escolares
se dê a partir da divulgação dos resultados da pesquisa e de ações que caminham paralelamente
à pesquisa, como as ações de orientação de estágio e de prática de ensino nos cursos de
graduação. A expectativa de médio prazo é de que a continuidade do projeto seja realizada em
ambiente escolar, com pesquisas de campo que possam confirmar nossas hipóteses sobre a
teoria da atividade de estudo de história no contexto da Didática desenvolvimental.
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Referências
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