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Projeto de Pesquisa

Didática desenvolvimental e ensino de história

Projeto de pesquisa apresentado à


PRRPG da UNIFAL/MG. O projeto tem
por objetivo inscrever a pesquisa no
âmbito do Edital PRPPG 09/2020, de
fluxo contínuo.

ALFENAS
2022
Apresentação

A Didática desenvolvimental é o referencial teórico que nos orienta na análise sobre


como desenvolver processos de ensino que possibilitem aos estudantes as aprendizagens e a
produção do conhecimento histórico escolar. Ao considerarmos a escola como espaço de
produção de conhecimento, nos obrigamos a pesquisar sobre uma didática que possibilite essa
prática, o que implica em identificar metodologias que permitam aos estudantes desenvolver o
pensamento teórico e abstrato sobre o passado, bem como ter autonomia intelectual para
articular teoricamente passado, presente e futuro.

Nossa expectativa é de que o desenvolvimento de pesquisas sobre o ensino de história


com a utilização dos referenciais da Didática desenvolvimental nos ajude a desenvolver
alternativas didáticas, melhorando qualitativamente as práticas de ensino de história.

Compreendemos que as ações didáticas de ensino de história na escola podem


contribuir para a inserção qualitativa dos estudantes na sociedade. Isto é possível na medida em
que as aprendizagens possibilitem a análise, compreensão e elaboração de conceitos históricos
que são utilizados nos processos de produção do conhecimento. Conceitos como Estado, Nação,
Gênero, Religião, Escravidão, Trabalho, precisam ser apreendidos não apenas na sua origem,
mas na sua dinâmica histórica, haja vista que estão em constante transformação. Aqui, a
aprendizagem conceitual se consubstancia como ferramenta fundamental para o
desenvolvimento do pensamento teórico entre os estudantes das escolas básicas.

Nosso objetivo com esse projeto é consolidar pesquisas sobre ensino de história que
se inserem no campo da Didática desenvolvimental, bem como divulgar que há estratégias
didáticas para esta área que podem contribuir para a inserção dos estudantes na sociedade, pois
um ensino que seja desenvolvente possibilita a produção de conhecimento, a melhor
compreensão sobre si e sobre o contexto histórico em que vive.

Por melhores práticas de ensino-aprendizagem de história na escola

Em nossas pesquisas, temos defendido que os processos de educação escolar devem


ter como objetivo a melhoria da qualidade de vida dos estudantes. Para tanto, a escola deve ser
um espaço de convívio social e de atenção às necessidades básicas de crianças, adolescentes e
jovens, bem como possibilitar aos estudantes o desenvolvimento das funções psíquicas que são
especificamente humanas: as diversas formas de linguagem, a criatividade, a atenção

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voluntária, as variadas manifestações da memória, o pensamento teórico e abstrato, a formação
de conceitos, a percepção, a emoção e o afeto (VIGOTSKI, 2000).

Os processos educativos são fundamentais para a valorização e desenvolvimento de


nossas capacidades humanas, pois torna-se humano não é um processo natural, tampouco pode
ser naturalizado. Em ambientes familiares, os adultos têm papel fundamental no
desenvolvimento das crianças. São deles a responsabilidade de apresentar para as crianças as
formas de comunicação através das linguagens e da inserção da nova geração no contexto social
(VIGOTSKI, 2001). Ao ingressar nos processos de educação escolar, cabe à esta instituição
ampliar a inserção das crianças no mundo da cultura e das relações sociais. É na relação entre
os estudantes, e destes com as professoras que ocorrem as possibilidades de desenvolvimento
(VIGOTSKI, 2001), e este processo não é exclusivo das crianças menores. Adolescentes, jovens
e também adultos precisam de processos de ensino-aprendizagem que sejam coletivos e que
tenham a participação de docentes, pois são esses que têm mais experiência com o processo de
produção do conhecimento. É por esta razão que compreendemos que tornar-se humano é parte
de um processo social, no qual a educação escolar tem importância significativa.

Essa percepção sobre a importância da educação escolar para o desenvolvimento dos


estudantes é pouco compreendida nas práticas escolares. Pesquisas demonstram que nós ainda
convivemos com formas de pensamento pedagógico que atribuem apenas os estudantes ou seus
familiares a responsabilidade por seu desenvolvimento, seja quando os culpabilizam por seu
suposto atraso e desinteresse (ASBHAR; LOPES, 2006) ou quando tratamos as crianças como
sendo “imaturas” e afirmamos que tal imaturidade em nada se relaciona com as práticas
escolares (ASBAHR; NASCIMENTO, 2013).

Há que considerarmos que o conhecimento escolar não pode ter apenas a função de
adaptação dos estudantes à realidade social ou de inseri-los no mercado de trabalho. A
submissão das práticas escolares e curriculares às ações voltadas para o desenvolvimento de
competências e habilidades, como nos propõe a BNCC – Base Nacional Comum Curricular
(BRASIL, 2017), está na contramão das propostas pedagógicas e didáticas que valorizam o
desenvolvimento as potencialidades dos estudantes. Os conhecimentos escolares devem ter
objetivos mais amplos, como o desenvolvimento integral dos alunos. Segundo Jose Carlos
Libâneo, o conhecimento que humaniza não pode ficar restrito às elites econômicas
(LIBÂNEO, 2016). É preciso também que as escolas públicas promovam processos de
produção de conhecimento que insiram os estudantes e docentes nos processos e contextos mais
amplos de produção das ciências, das artes e das linguagens.

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O ensino de história na escola pode e deve colaborar com esse processo de
humanização, via acesso à produção do conhecimento histórico escolar (SOARES, 2021). A
finalidade da aprendizagem da história não deve ser pragmática, com vistas aos processos
seletivos, tampouco apenas social, como os valores democráticos, de cidadania ou de adaptação
ao mundo do trabalho. Aprender história é compreender-se a si mesmo no mundo, é
compreender a importância do passado como parte da melhoria da nossa qualidade de vida.
Para tanto, será necessário pesquisar e propor didáticas de ensino-aprendizagem da história
escolar que possibilitem aos estudantes as máximas capacidades humanas.

Sabemos que as pesquisas sobre o ensino de história em contextos escolares


apresentaram significativos avanços nos últimos vinte anos. Entretanto, ainda temos escassez
de pesquisas que analisam e propõem metodologias de ensino-aprendizagem a partir de
referenciais teóricos que sejam vinculados às pesquisas sobre a didática. Por exemplo: em
pesquisa de iniciação científica por nós orientada, fizemos um levantamento de 300 dissertações
defendidas no Profhistória – Programa de Mestrado Profissional em Ensino de História. Um
programa de mestrado em rede que abrange 39 IES - Instituições de Ensino Superior, e tem
como foco a formação continuada em serviço de docentes de história da educação básica.
Alguns dos dados quantitativos são preocupantes. Das trezentas dissertações defendidas desde
o início da rede, em 2016, apenas 34 delas, ou seja, pouco mais de 10% tem a expressão
“aprendizagem” entre as suas “palavras-chave”. E dentre estas, vinte e seis se referem a
“aprendizagem” como sendo “aprendizagem histórica”, um conceito específico dos estudos no
campo da historiografia.

Ao realizar buscas em bases de dados com o objetivo de identificar pesquisas sobre


ensino de história vinculadas à teoria histórico-cultural ou aos referenciais da didática
desenvolvimental, nós verificamos um número ainda menor de pesquisas realizadas. Além das
nossas publicações e de uma orientação de mestrado sob nossa orientação em andamento, nós
encontramos apenas uma dissertação de mestrado (JAKOBOWSKI, 2019) e uma tese de
doutorado (OLIVEIRA, 2020).

Com estas observações preliminares, nós definimos os objetivos mais amplos desta
pesquisa nos seguintes termos: ampliar e consolidar as pesquisas sobre ensino de história em
suas interfaces teóricas com a Didática desenvolvimental; ampliar o debate teórico no campo
do ensino de história em suas relações com as metodologias de ensino-aprendizagem; estreitar
laços de pesquisa com as didáticas específicas que se referenciam na didática desenvolvimental.

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A didática desenvolvimental como referencial teórico

No Brasil, inúmeras pesquisas em educação trouxeram para o campo da didática os


referenciais teóricos da perspectiva histórico-cultural, com destaque para contribuições
seminais de L. S. Vigotski e A. Leontiev. As primeiras traduções para o português destes
autores de referência datam do final dos anos 1970 e início dos anos 1980. No entanto, as
primeiras traduções chegaram até nós enviesadas de uma perspectiva ocidentalizante, visto que
eram traduções de segunda mão, e não dos textos originais em russo. Das consequências
negativas da ocidentalização da obra de Vigotski e Leontiev, temos as indevidas apropriações
desses autores por correntes pedagógicas de caráter construtivista e suas tentativas de afastá-
los das referências do materialismo histórico (DUARTE, 2001).

A partir dos anos 1990, começaram a chegar ao Brasil as traduções da obra de Vigotski
diretamente do russo para o espanhol. As clássicas Obras Escogidas de Vygostky, com seis
tomos, possibilitou um novo impulso nas pesquisas que se utilizam deste referencial teórico.
Concomitantemente, as traduções dos originais de Leontiev tornaram-se acessíveis no Brasil
via traduções em espanhol. Entre os anos 1990 e meados dos anos 2000, inúmeros grupos de
pesquisas, em diversos programas de pós-graduação em educação, desenvolveram pesquisas
sobre as didáticas específicas, tendo por referência os trabalhos de Leontiev e Vigotski.

Na extinta União Soviética, os trabalhos originais de V. V. Davidov, D. B. Elkonin e


V. V. Repkin, dentre outros, transformaram a obra de Leontiev e Vigotski em alicerces para a
pesquisa no campo da didática, que passou a ser divulgada e conhecida como didática
desenvolvimental. Ocorre que as pesquisas destes didatas russos tiveram início nos anos 1950,
mas a tradução de suas obras para o espanhol chegou até nós apenas nos anos 2000. A tese de
doutorado de Davidov, Tipos de generalización de la enseñansa (DAVIDOV, 1978) tornou-se
um marco nas pesquisas sobre as didáticas específicas que passaram a dialogar tanto com os
referenciais da teoria histórico-cultural quanto da didática desenvolvimental.

Atualmente, a didática desenvolvimental é o referencial de inúmeras pesquisas das


didáticas específicas, tais como ensino de matemática, de ciências, de apropriação da linguagem
escrita. No entanto, como vimos anteriormente, nas pesquisas sobre ensino de história, tal
referencial é utilizado por um quantitativo muito reduzido de pesquisadores.

Uma das principais características da Didática desenvolvimental que destacamos neste


projeto está relacionada ao processo de valorização do desenvolvimento dos estudantes. Para
Repkin (2014), o ensino desenvolvente somente pode ser assim considerado se há um processo

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de mudança nos sujeitos da aprendizagem. Essa é uma abordagem significativamente nova, se
pensarmos nas tradições didáticas e pedagógicas comumente implementadas no Brasil
contemporâneo.

Nas Didáticas da tradição escolar o processo de aprendizagem é compreendido como


satisfatório quando os estudantes conseguem manipular os objetos do conhecimento. Essa é
uma característica comum da Didática em diferentes correntes e teorias pedagógicas, de
Comenius aos construtivistas, passando pelas importantes contribuições da escola-nova: os
estudantes ouvem, interagem ou manipulam o objeto do conhecimento (Davidov, 1978). Nestas
perspectivas didáticas, as aprendizagens são compreendidas a partir das relações que os
estudantes estabelecem com os objetos: se ouviu ou leu direito, se sabe falar sobre o objeto, se
interagiu adequadamente ou se manipulou o objeto de modo a perceber como ele se transforma.
Portanto, a aprendizagem está centrada na verificação de como os estudantes se relacionam com
o objeto e não nos estudantes em seus processos de desenvolvimento.

Com Davidov, Elkonin, Repkin, dentre outros, podemos verificar que os estudantes,
ao se colocarem em atividade com o objeto de conhecimento, também se transformam. A
atividade é compreendida aqui como o movimento que estudantes e docentes devem fazer no
sentido de se apropriar e objetivar sobre o conhecimento produzido (SOARES, 2021). Deriva
desta compreensão o conceito de atividade de estudo, defendido por estes didatas. Na atividade
de estudo, os escolares devem produzir um conhecimento novo sobre o objeto, e não repetir
informações sobre o que já foi elaborado e pesquisado (REPKIN, 2014). É neste movimento,
de produzir conhecimentos a partir de dúvidas, crises e dificuldades que os estudantes se
transformam como sujeitos e se humanizam.

Nas pesquisas sobre ensino de história que analisam e propõem práticas escolares, é
possível identificar a solidez da perspectiva tradicional sobre os objetivos do ensino e o que se
espera das aprendizagens. Um exemplo desta abordagem nós encontramos nas inúmeras
pesquisas desenvolvidas após a Lei 10.639, de 9 de janeiro de 2003, e que foi complementada
pela Lei 11.645, de 10 de março de 2008. Tal legislação modifica a prescrição curricular ao
destacar a relevância do ensino de história da África, dos afro-brasileiros e da história indígena.
Em comum às pesquisas sobre ensino de história que são posteriores a esta legislação, nós temos
as justificativas sobre a importância da inserção destes conhecimentos no currículo escolar,
quais sejam: o ensino tem a função social de valorizar a história desses povos e suas tradições;
a aprendizagem destes conhecimentos poderá favorecer uma educação antirracista e de
valorização da diversidade cultural.

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Compreendemos que tais justificativas estão corretas e que a inserção destas temáticas
foram e continuam sendo fundamentais para a melhoria das práticas de ensino de história.
Entretanto, subjaz a estas justificativas a concepção da tradição escolar de que as aprendizagens
tem por objetivo ouvir, interagir ou manipular os objetos do conhecimento com vistas à um
objetivo social específico. E isto é uma secular ingenuidade da Didática tradicional: de que as
práticas de ensino se consubstanciam em aprendizagens (LEONTIEV, 2021).

Para que estas temáticas tenham o efeito desejado é preciso modificações internas aos
estudantes. Não será satisfatório mudanças no currículo escolar se não forem acompanhadas de
transformações nas metodologias de ensino-aprendizagem de tais conteúdos. Nos modelos mais
hegemônicos de ensino-aprendizagem da história escolar, é provável que tenhamos, por
exemplo, estudantes com boas “notas e médias” sobre estes conhecimentos, mas que continuam
tendo pensamentos e práticas racistas e defendendo o extermínio dos povos indígenas.

Na perspectiva da Didática desenvolvimental está pressuposto que os estudantes


devem entrar em atividade em relação a estes conhecimentos. Para tanto, será preciso ações
didáticas que provoquem perguntas e que os estudantes se interessem em buscar respostas, por
conseguinte sejam consideradas como positivas as crises nos processos de articulação de ideias
e pensamentos. Nesta perspectiva humanizadora, docentes e estudantes devem produzir
conhecimentos que tenham por objetivo a melhor qualidade de vida de toda humanidade, e é
com este objetivo que as atividades de estudos devem ser elaboradas, com perguntas e crises
previamente planejadas.

Neste projeto, nós defendemos que as práticas escolares de ensino-aprendizagem da


história devem contribuir para o desenvolvimento dos estudantes em seus processos de
humanização. Para tanto, nos propomos a pesquisar sobre as contribuições teóricas da didática
desenvolvimental em suas relações com as especificidades dos processos de ensino-
aprendizagem da história escolar.

Nossa defesa é de que as práticas de ensino de história podem e devem contribuir para
a formação integral dos estudantes. Neste sentido, as pesquisas sobre as práticas escolares de
ensino-aprendizagem de história devem desenvolver e propor práticas didáticas que valorizem
os seguintes aspectos: o desenvolvimento do pensamento teórico e abstrato sobre o passado, a
compreensão de que a historiografia elabora conceitos para analisar as fontes, o
desenvolvimento das potencialidades de criatividade, linguagens e afetos entre os estudantes.

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Abordagem metodológica

Trata-se de pesquisa de cunho teórico que objetiva apresentar propostas metodológicas


de ensino-aprendizagem da história em contexto de educação escolar.

Para a elaboração e qualificação do referencial teórico, nós iremos analisar pesquisas


realizadas no campo da Didática desenvolvimental em três vertentes: as contribuições de seus
principais proponentes que foram divulgadas inicialmente na Europa e apenas nas últimas
décadas tornarem-se objeto de reflexão nas pesquisas realizadas no Brasil; a análise de
pesquisas no campo da Didática desenvolvimental que se dedicam aos diferentes processos de
ensino-aprendizagem escolar; a análise do debate historiográfico que possa nos auxiliar na
proposição de práticas de produção do conhecimento histórico que sejam coerentes com a
Didática desenvolvimental.

Teoricamente, a pesquisa irá se desenvolver no interior da perspectiva histórico-


cultural em suas estreitas relações com os referenciais teóricos vinculados ao materialismo
histórico. Neste sentido, a Didática desenvolvimental será compreendida como referencial
teórico que explicita a síntese da proposta didática que iremos defender. Tal síntese deverá se
pautar sempre pelos princípios do desenvolvimento humano e dos processos de humanização a
serem valorizados pela educação escolar. Será em busca dessas contribuições que iremos
analisar as obras seminais dos pesquisadores vinculados ao ensino e à Didática
desenvolvimental.

No interior da Didática desenvolvimental encontramos como principal proposta


metodológica a teoria da atividade de estudo. Tal teoria é concomitantemente síntese e
totalidade, pois define propostas metodológicas nas quais todos os elementos devem convergir
para a melhoria da qualidade de vida de docentes e estudantes. A teoria da atividade de estudo
não considera divisões entre forma e conteúdo, ensino e aprendizagem, aparência e essência,
informação e formação. Nossa pesquisa bibliográfica sobre as produções que utilizam deste
referencial terá por objetivo identificar como as metodologias específicas incorporam tais
referenciais nas suas propostas didáticas.

Para a elaboração de propostas metodológicas será fundamental a pesquisa e análise


de materiais e recursos didáticos elaborados por pesquisadores que se utilizam deste referencial
teórico, ainda que não tenham o ensino de história como campo de pesquisa. Será analisado
documentos relacionados às práticas escolares de instituições como do Colégio Kepler em

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Puebla/México, e de outras experiências pontuais de docentes que foram registradas em Anais
de Congressos, artigos científicos, blogs e redes sociais.

Em busca de coerência teórica, subjaz como essencial o acompanhamento e a análise


do debate historiográfico contemporâneo, haja vista que a historiografia é a principal referência
teórica para o bom desenvolvimento de práticas de ensino-aprendizagem da história escolar.
Com a análise historiográfica podemos compreender o debate teórico sobre os conceitos
históricos em seus processos de transformação, as diversas formas de pesquisa com as fontes
históricas, as concepções sobre a temporalidade, sobre os processos históricos e sobre os “usos”
do passado.

A análise do referencial teórico, ao ser realizado de modo concomitante aos materiais


e recursos já elaborados, permitirá a elaboração e divulgação de propostas teórico-
metodológicas para os processos de ensino-aprendizagem da história nas práticas escolares.

O projeto prevê a duração de vinte e quatro meses. Espera-se que o projeto receba a
contribuição de pesquisadores em iniciação científica e que tenha diálogo com pesquisas
realizadas no interior do PPGE da UNIFAL/MG.

Ações e cronograma

O projeto está previsto para ter a duração de 24 meses. As ações a serem desenvolvidas
estão subdivididas em semestres, considerando o primeiro semestre após a aprovação do
projeto.

1º semestre: Levantamento bibliográfico das pesquisas de autores seminais da


Didática desenvolvimental publicadas nas últimas décadas. Análise do
referencial teórico. Análise do debate historiográfico contemporâneo
sobre temáticas que foram incorporadas no currículo escolar. Elaboração
de um artigo científico que trate das contribuições mais amplas deste
referencial para as pesquisas no campo do ensino de história.

2º semestre: Pesquisa em bases de dados sobre a atividade de estudo em produções


acadêmicas das didáticas específicas. Análise do debate historiográfico
contemporâneo sobre temáticas que foram incorporadas no currículo
escolar. Análise das possibilidades de incorporação destes debates nas
pesquisas sobre a relação entre a atividade de estudo e os processos de
ensino-aprendizagem da história escolar. Elaboração de um artigo
científico sobre as especificidades da atividade de estudos nos processos
de ensino-aprendizagem da história na escola.

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3º semestre: Elaboração de sínteses sobre a Didática desenvolvimental e a atividade
de estudo de história. Análise de materiais e recursos didáticos que
podem ser inseridos nas propostas didáticas a serem apresentadas.
Análise do debate historiográfico sobre as fontes históricas e como tal
debate pode contribuir para a elaboração de nossas propostas didáticas.
Elaboração de um artigo científico que trate das relações entre fontes e
recursos didáticos nas propostas de atividade de estudo de história.

4º semestre: Avaliação da pesquisa e de seus resultados, considerando meios de


divulgação de seus resultados para os profissionais da educação das
escolas básicas e para pesquisadores em educação em eventos no país de
no exterior.

Resultados esperados

Podemos projetar resultados em níveis distintos: aqueles vinculados aos processos


científicos que resultam de descobertas no campo da didática, da divulgação acadêmica e das
parcerias de pesquisa; aqueles de ordem social que podem exemplificados pela inserção dos
resultados das pesquisas nas práticas escolares. Enquanto o primeiro grupo de resultados
depende sobremaneira do coordenador do projeto e dos investimentos da universidade, o
segundo grupo depende de outro conjunto de fatores.

Academicamente projetamos estreitar laços com dois grupos de pesquisa que têm um
número maior de pesquisadores atuando no campo da Didática desenvolvimental: O GIPTHC
- Grupo Implicações Pedagógicas da Teoria Histórico-Cultural, da UNESP/Marília, e o
GEPEDI - Grupo de Estudos e Pesquisas em Didática e Desenvolvimento Profissional Docente,
da FACED/UFU. Projetamos formas de intercâmbio do Coordenador do projeto e dos futuros
estudantes de iniciação científica e de mestrado que vierem a integrar o projeto. Tal intercâmbio
poderá ser feito na forma de reuniões conjuntas com estes grupos de pesquisa e dos eventos que
eles promovem. Está previsto também a publicação de, ao menos, três artigos científicos em
revistas especializadas, além da apresentação de trabalho em Congressos.

Nossa expectativa é de que a inserção dos resultados da pesquisa nas práticas escolares
se dê a partir da divulgação dos resultados da pesquisa e de ações que caminham paralelamente
à pesquisa, como as ações de orientação de estágio e de prática de ensino nos cursos de
graduação. A expectativa de médio prazo é de que a continuidade do projeto seja realizada em
ambiente escolar, com pesquisas de campo que possam confirmar nossas hipóteses sobre a
teoria da atividade de estudo de história no contexto da Didática desenvolvimental.

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Referências

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(Impresso). V. 17, p. 53-73, 2006.
ASBAHR, Flávia da Silva Ferreira; NASCIMENTO, Carolina Picchetti. Criança não é manga,
não amadurece: conceito de maturação na teoria histórico-cultural. Psicologia: ciência e
profissão. Brasília. V. 33, n. 2. 2013.
BRASIL. Base Nacional Comum Curricular. Brasília: MEC, 2017.
DAVIDOV, Vasily V. Tipos de generalización en la enseñanza. Habana: Editorial Pueblo y
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DUARTE, Newton. Vigotski e o “aprender a aprender”: críticas às apropriações neoliberais
e pós-modernas da teoria vigotskiana. São Paulo: Autores Associados, 2001.
ILYENKOV, Evald V. Our Schools Must Teach How to Think! Journal of Russian and East
European Psychology, vol. 45, no. 4. 2007.
JAKOBOWSKI, Simão Henrique. Ensino de história e formação humana: a atividade de
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Dissertação de Mestrado em Educação. FURB/Blumenau.
LEONTIEV, A. N. Atividade, consciência e personalidade. Bauru/SO; Mireveja, 2021.
LIBÂNEO, José Carlos. Políticas educacionais no Brasil: desfiguramento da escola e do
conhecimento escolar. Cadernos de pesquisa. São Paulo; V. 46, nº 159. 2016.
LONGAREZI, Andréa M.; PUENTES, Roberto V. (orgs.). Ensino desenvolvimental.
Antologia: Livro I. Uberlândia; EDUFU, 2017.
MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. A ideologia alemã. São Paulo: Boitempo, 2007.
OLIVEIRA, Mônica do Carmo Apolinário. Apropriação do conhecimento histórico
fundamentada em atividades de estudo, mediada por tecnologias digitais de informação e
comunicação. 2020. Tese de Doutorado em Educação. UNESP/Marilia.
PUENTES, Roberto Valdés; CARDOSO, Cecília Garcia Coelho; AMORIM, Paula Alves
Prudente (Orgs.). Teoria da atividade de estudo: contribuições de D. B. Elkonin, V. V.
Davidov e V. V. Repkin – Livro I. Curitiba: CRV, 2020 - Coedição: Uberlândia, MG: EDUFU,
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REPKIN, V.V. Ensino desenvolvente e atividade de estudo. Ensino Em Re-Vista. V.21, n.1,
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SCHROEDER, Edson; JAKOBOWSKI, Simão Henrique. Ensino de história e formação
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