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ENSINO DE CIÊNCIA E O CURRÍCULO NA EDUCAÇÃO

INFANTIL DA CRIANÇA SURDA


Francisca Keila de Freitas Amoedo1
Gelciane da Silva Brandão2
José Camilo Ramos de Souza3

Resumo: O artigo nos permite conhecer o ensino de ciência e o currículo na educação infantil
da criança surda, tema este ainda pouco discutido. O objetivo deste artigo foi de propor uma 1
reflexão sobre o ensino de ciência na educação para crianças surdas através de levantamento
bibliográfico. A pesquisa é de cunho qualitativo e natureza explicativa, utilizando como técnica
a pesquisa de análise documental, a partir de trabalhos relacionados ao ensino de ciência e o
currículo na educação infantil da criança surda. Para compor a base teoria, recorremos aos
conceitos preestabelecidos sobre Ensino de Ciência e currículo, onde destacam-se os autores
Delizicov; Angotti (1994); Krasilchik (1987); Sá (2011), e Siqueira (2015). Contudo, a partir da
ideia dos autores, percebeu-se que cabe, principalmente, à escola abordar a Ciência de forma
sistêmica, transdisciplinar e contextualizada, a partir de um currículo integrador, promovendo
assim uma educação que possibilite a criança surda ainda na infância, conhecimentos para que
esta no futuro possa se posicionar de forma crítica.

Palavras-Chave: Ensino. Ciência. Currículo. Criança. Surdez.

Introdução
Estudos relativos ao ensino de ciência e o currículo da educação infantil da criança
surda são temas que precisam de atenção no meio acadêmico científico, sendo assim
esse fato nos desafiam a explorar referências a fim de contribuir com pesquisas na área.
Esses levantamentos envolvem especialmente a educação infantil de crianças surdas em
diversos contextos do ensino de ciência, e que estão presentes no cotidiano de
professores, alunos, da família e principalmente do olhar social diante do tema. Assim, a
pesquisa considerou estudos relativos a Educação infantil, o currículo e especialmente o
ensino de ciência para crianças com surdez. A pesquisa é de cunho qualitativo, e método

1
Graduada em Pedagogia, especialização em Psicopedagogia, educação inclusiva e
Libras. Mestranda do Programa de Pós Graduação em Educação e Ciências na
Amazônia, Professora da Universidade do Estado o Amazonas.
keilamoedo@hotmail.com
2
Especialista em Turismo e Desenvolvimento Local (UEA). Graduada em Licenciatura
em Geografia (UEA), Universidade do Estado do Amazonas (UEA), e-mail:
brandaoanny@hotmail.com.
3
Professor do Programa de Pós-graduação em Educação e Ensino de Ciências na
Amazônia, Universidade do Estado do Amazonas – UEA. E-mail:
jcamilodesouza@gmail.com
de abordagem a pesquisa explicativa através de análise documental de obras que
abordam o assunto deste artigo.
Considerando a Educação infantil uma fase essencial para a construção da criança e
independente de ser surda ou ouvinte, o ensino de ciências é importante e merece
atenção especial no currículo na infância. Apesar de ser um ramo de pesquisa com
restrições de referências que possam dar suporte ao professor e ao aluno inseridos no
processo de ensino-aprendizagem, o Ensino de Ciência para crianças surdas não é um
campo desconhecido, e nem impossível de ser transmitido. 2
O artigo encontra-se apresentado em dois temas: o primeiro aborda sobre o Ensino da
ciência e o currículo da Educação Infantil, por meio de diversas análises que classificam
o ensino de ciência relevante para o futuro, educando cidadão com posturas críticas e
que saibam se posicionar na sociedade. O segundo versa sobre o Ensino e a
aprendizagem da criança surda na Educação Infantil, através da necessidade de fazer
uma reflexão sobre a criança surda no espaço escolar, para os estudiosos se a criança
surda não possuir meios adequados para que ocorra o processo de ensino-aprendizagem,
fica mais passível ao isolamento e a um fraco desempenho.
As considerações deste artigo resultaram de análises explicativas sobre o ensino de
ciência no currículo da educação infantil de crianças surdas, unindo a análises e
buscando contribuir para novas leituras sobre a temática, buscando ainda reafirmar a
importância de discuti o tema presente em diversas escolas, tanto urbana quanto rural.

Ensino da ciência e o currículo da Educação Infantil

A Ciência já foi vista por muitas décadas como algo estático (MARTINS, 2010) e que
seria possível somente dentro de laboratórios, mas as gerações mudam e com isso o
conceito sobre Ciência também se modificou, ao ponto de chegarmos aos dias atuais a
associá-la comumente com educação. É indispensável suscitar o homem a entender e
tomar posse do ensino de ciência na educação como um campo de colaboração e buscar
explicar os agentes que proporcionaram esse conhecimento.
O conhecimento científico não é algo que podemos ver de forma estática, muito pelo
contrário, ele está em constante mudança, se apropriando de espaços, sejam eles formais
ou não, principalmente no campo da educação.
É preciso compreender o ensino de ciência de diversas formas e podemos observá-la
como um saber a partir de uma postura interdisciplinar, que significa ao mesmo tempo
rever seu objetivo na organização e reorganização do conhecimento. Para Santana et all
(2009, p. 01) “O que caracteriza a atitude interdisciplinar é a ousadia da busca, da
pesquisa, é a transformação da insegurança num exercício do pensar, no construir”. Se
tratando da Educação Infantil, essa postura nos possibilita olhar o Ensino de Ciência de
forma mais humanizada e integradora para uma sociedade em construção, a partir do
ponto de vista reflexivo de sua realidade.
Mas o que é ciência? Como ensinar ciência? Por que ensinar ciência? Essas e outras
perguntas são respondidas por autores como Delizoicov & Angotti, (1994); Krasilchik,
(1987); e Brasil, (1997), que entram em um consenso onde; o ensino de Ciências deve 3
antes de qualquer teoria romper com velhos paradigmas e partir da inserção do
conhecimento cotidiano. Uma vez que o aluno passa a interagir com sua realidade, a
motivação será o meio pelo qual será possível aprender cientificamente; no entanto,
existem algumas dificuldades de ensinar ciência.

Atualmente o aprendizado das ciências no ensino infantil e


fundamental é dificultado devido à falta de integração entre as várias
disciplinas existentes no currículo escolar, além da falta de interação
do próprio conteúdo ministrado. Essa integração depende de vários
fatores tais como: a natureza da própria disciplina, as características
dos alunos, a formação do professor e até mesmo das condições físicas
onde ocorra o processo ensino-aprendizado. (SANTANA et all 2009,
p. 01)

Essa falta de integração parte unicamente de um currículo mal planejado, sem


perspectiva de adotar uma postura crítico reflexiva, onde seja possível oferecer ao aluno
um processo de ensino onde a sua realidade seja pauta de atenção. Para Moreira e
Candau (2008) as discussões sobre o currículo nunca deixaram de ser atuais,
principalmente porque devem estar presentes em projetos políticos-pedagógicos e ter
atenção especial na capacitação docente. Nesse sentido Martins (2010, p. 23) conceitua
o termo currículo sendo:

O termo currículo, apesar de sua ampla discussão nos últimos tempos,


propicia, ainda, uma gama de entendimentos, nem sempre adequados.
Para alguns, é um rol de disciplinas oferecidas pela escola; para
outros, currículo é plano ou conteúdo programático. Por isso qualquer
análise de cunho educativo que aceita sem questionar formas de
conteúdos curriculares debatidos, pode se tornar alienante e à margem
das discussões sociais e políticas do seu entorno. O currículo não é um
elemento inocente e neutro de transmissão desinteressada do
conhecimento social; o currículo produz identidades individuais e
sociais particulares. Portanto, ele estabelece uma estreita relação com
a cultura na qual se organiza, uma vez que os conteúdos são
priorizados a partir dos interesses de cada cultura, de cada espaço
educacional.
A composição do currículo vai além de ações vistas dentro da escola. A reflexão crítica
na qual o currículo está sendo pauta, torna-se desafiadora pois esse pensamento tanto
metodológico, quanto social-político, deve entrar em sintonia com aspectos como: a
escola, seus agentes, seu espaço físico, e principalmente suas influências externas, ou
seja, observar para quem está sendo construído o currículo atual na escola, como
destaca, Pinar (apud MARTINS, 2010, p. 30):

4
[...] estudar teoria de currículo, é importante na medida em que
oferece aos professores de escolas públicas, a compreensão dos
diversos mundos em que habitamos e, especialmente a retórica
política que cerca as propostas educacionais e os conteúdos
curriculares”. Portanto, como educadores, precisamos conhecer,
entender o currículo que rege a educação nas escolas. A sala de aula é
o espaço onde se concretiza o currículo, e este processo acontece não
só por meio da transferência de conteúdos, mas, também pela
influência das diversas relações e interações que ocorrem nesse espaço
escolar.

Conhecer o currículo presente na escola a qual estamos inseridos, é um passo


importante para as primeiras reflexões sobre como estamos trabalhando por exemplo, o
ensino de ciências para crianças surdas da Educação Infantil. O comprometimento de
cada currículo escolar, depende muito do grau de importância que cada agente
pedagógico oferece, pois entre as finalidades do currículo podemos destacar que
existem condicionantes de ordem social, político e cultural, muitas vezes implícitos, e
estes interesses é que determinam que tipo de ensino será oferecido.
O reflexo de um currículo que defenda somente interesses políticos, por exemplo, pode
trazer consequências desastrosas na visão dos futuros cidadãos que queremos. Por
determinar a visão do educando e do educador, o tipo de ensino que mais nos
aproximaria de construir uma escola democrática deve depender cada vez menos de
interesses pessoais políticos e mais presença de anseios da sociedade, para que no futuro
possamos criar uma cultura de pessoas crítico-reflexivas, principalmente para a
comunidade surda, pois segundo aponta Siqueira (2015, p. 84), a população surda
ultrapassa 9 milhões de pessoas no Brasil:

Segundo censo realizado em 2010 pelo Instituto Brasileiro de


Geografia e Estatística – IBGE existem cerca de 9,7 milhões de
pessoas com surdez no Brasil, o que representa 5,1% da população
brasileira. Desse total, cerca de 2 milhões possuem 85 surdez severa
(1,7 milhões tem grande dificuldade para ouvir e 344 mil são surdos) e
7,5 milhões apresentam alguma dificuldade auditiva.
Só no Brasil mais de 28 milhões de pessoas apresentam algum problema na audição,
esses dados são da Organização Mundial da Saúde (2011), isso representa 14,8% da
população brasileira que é de 190 milhões de habitantes. Observa-se que há um elevado
número de pessoas surdas, e os que estão na escola regular merecem atenção especial,
seja dentro da sala de aula, nos espaços públicos em geral ou na construção de um
currículo.
Para Moreira e Candau (2008) o currículo também é associado a efeitos externos, estes 5
podem não estar definidos de forma clara nos planos, é apontado como um currículo
oculto, onde estão presentes as relações sociais. No currículo não vemos por exemplo
como se deve organizar as carteiras em sala de aula, como devemos cumprimentar
nossos alunos, a forma como gostamos que o aluno se dirija ao professor, enfim, esses
são alguns exemplos de currículo oculto.
No Universo da Educação Infantil no Ensino de Ciência, o currículo surge como
protagonista, principalmente pela responsabilidade que agrega. Para Castro e Silva
(2003) a Educação Infantil é a etapa número um da educação básica da criança, onde
aspectos tanto físicos, quanto psicológicos vão passar por transformações. De acordo
com Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB (2006, p. 17) art. 29 e 30 é
a fase e compreende a pré-escola com crianças até seis anos de idade.

Art. 29. A educação infantil, primeira etapa da educação básica, tem como
finalidade o desenvolvimento integral da criança até seis anos de idade, em
seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social, complementando a ação
da família e da comunidade.
Art. 30. A educação infantil será oferecida em:
I – creches, ou entidades equivalentes, para crianças de até três anos de idade;
II – pré-escolas, para as crianças de quatro a seis anos de idade.

A Educação Infantil é fase essencial para toda criança. Esse direito não pode ser
usurpado, no entanto a realidade é que ainda existem muitas crianças fora da escola, e
grande parcela que apesar de estarem dentro da escola vivem a realidade de um ensino
precário, com falta de: professor qualificado, infraestrutura, transporte, material
didático, de um currículo que comtemple sua realidade. Para Williams (2008, p. 23):

O maior objetivo da educação infantil é organizar uma gestão


democrática acessível para a escola, com materiais didático-
pedagógicos e formação do professor de modo que estes sejam fatores
determinantes para a qualidade social da educação, formando
indivíduos críticos e criativos, preparados para o pleno exercício da
cidadania.

O papel da escola democrática e do verdadeiro currículo, é contra todas as más políticas


desempenhadas até hoje na educação brasileira. Por isso discutir o currículo na
Educação Infantil, especialmente do Ensino de Ciência é fundamental para que se possa
conhecer quais das teorias atuais representam a educação. Para Lopes (2006), o
currículo é processo de conflitos culturais e não um conjunto de palavras destacadas em
um sumário, como aponta Sacristán (2000, p. 140), o currículo não é algo pronto:
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[...] o mais importante num processo de mudança curricular não é um


novo currículo materializado em papel, tabelas ou gráficos. O
currículo não se traduz em uma realidade pronta e tangível, mas na
aprendizagem permanente de seus agentes, que leva a um
aperfeiçoamento contínuo da ação educativa. [...] a reforma a que aqui
se propõe será tanto mais eficaz quanto mais provocar os sistemas,
escolas e professores para a reflexão, análise, avaliação e revisão de
suas práticas, tendo em vista encontrar respostas cada vez mais
adequadas às necessidades de aprendizagem de nossos alunos.

A base para todas as teorias do currículo é de saber a princípio qual conhecimento será
ensinado. É possível ensinar ciência no currículo da Educação Infantil? Logo não só é
possível ensinar ciência na Educação Infantil, como podemos reinventar um currículo
que esteja ultrapassado, pois os conceitos de uma teoria reorganizam a maneira como
vemos a realidade.

O Ensino e a aprendizagem da criança surda na Educação Infantil

O ramo da educação que debate como ocorre o processo de aprendizagem humana é a


psicopedagogia4; através de um caráter interdisciplinar; levando em consideração a
influência que o meio exerce na vida do homem; estes meios podem ser: a família, a
escola e também a sociedade, e a criança surda não é exterior a esse contexto.
“Acompanhando a ampliação de conhecimento, no enfoque psicopedagógico, a respeito
do ensino-aprendizagem da criança surda. A aprendizagem é, para a criança surda ou
não a tarefa central do seu desenvolvimento”, (TREVISAN, et all 2008, p. 52).
A perda auditiva tem reflexo no desenvolvimento de uma criança; para Leão (2004)
suas variáveis podem ter origens diversas como: o grau, a localização, o período que

4
A psicopedagogia, que surgiu basicamente relacionada com o mundo da educação especial, hoje
abrange novas perspectivas da prática pedagógica, contribuindo para o processo de ensino-aprendizagem
das crianças com necessidades educacionais especiais.
ocorreu e quando foi detectada. É necessário para a acriança surda no processo de
aprendizagem, que haja interações para que seja possível um desenvolvimento
neurológico harmônico, como destaca Williams (2008, p. 23):

Os processos pelos quais a criança surda aprende são alterados. Pois,


por receberem informações por meio da modalidade sensorial
cerebral, suas disfunções cerebrais impedem a organização e o uso
dessas sensações de um modo normal; elas não conseguem aprender
por modo usual. Necessitando, portanto, de provisão de recursos
suplementares.
7
Uma das maneiras pelas quais os recursos suplementares podem auxiliar no enfoque
psicopedagógico da criança surda, é por meio de construção de metodologias. Os
recursos visuais, assim como instrumentos são importantes e fazem diferença no ato
ensinar, trazendo para o alcance do olhar da criança surda o que os sinais não
conseguem explicar em sua totalidade. Para Trevisan et all (2008, p. 52):

Em relação a criança surda, os recursos visuais que lhe são oferecidos


servem para, além de fixar os conteúdos e os vocábulos novos, trazem,
por intermédio da visão, um contador com o mundo desconhecido;
consequentemente, este pode ampliar seu conhecimento de mundo.

O conceito atual de ensino-aprendizagem influencia em mudanças no âmbito da


metodologia, como maneira de melhorar esse processo para crianças surdas. Diante
dessa indagação, a desorganização do sistema de ensino e a falta de capacitação do
professor para praticar atitudes correspondentes para a criança surda passam a ser tema
para apreciação. Para Dias (2009, p. 111) existem estratégias mediadoras para contribuir
com o processo de ensino de crianças surdas incluídos em turma comum:

Quanto ao professor em relação ao aluno surdo


 Utilizar a linguagem de sinais, gestos naturais, dramatização, mímicas,
desenhos como recursos para facilitar a compreensão dos textos que estejam
sendo trabalhados em aula;
 Proferir frases completas, não exagerando na articulação das palavras nem
na velocidade da fala.
 Utilizar sempre a escrita no quadro de giz e diagramas de qualquer tipo de
material escrito, slides, desenhos, entre outros para escrever as palavras-
chave;
 Manter o rosto do professor em determinada localização de forma que fique
iluminado pela luz durante a pronúncia das palavras;
 Falar sem movimentar muito a cabeça ou o corpo para que o aluno registre
a leitura labial;
 Organizar espaços produtivos que permitam ao aluno desenvolver e
estimular a criatividade, ludicidade, autonomia, memorização, raciocínio
lógico e sociabilização, como cantinhos de jogos ou artes, espaço da leitura e
espaço da dança;
Essas estratégias podem contribuir no ensino de criança surda, é observando
atentamente os detalhes e principalmente a dificuldade do aluno, e como essas ações
podem surtir efeito positivo na formação de indivíduos criativos e participativos.
Acredita-se que assim serão rompidos velhos paradigmas de exclusão da criança com
deficiência surda, tornando essa mais presente nas atividades em sala de aula e não
somente um corpo presente. Para a criança surda, a aprendizagem varia, como destaca
Bastos apud (Sá, 2011, p. 191): 8

Para que esse processo ocorra, podemos pensar que a criança surda se
apropria da imagem, apesar da ausência desta. Citamos como
exemplo: Imaginemos um gato. A criança surda captará a imagem do
gato e logo em seguida, a sua essência. Ela poderá nomeá-lo por meio
de um sinal correspondente, que pode equivaler a um movimento do
animal ou talvez à sua cor. A criança nomeará o animal partindo dessa
característica, destacada de uma série dentre as diversas que o animal
porta. Na ausência do animal, a criança surda poderá reinvestir essa
lembrança e dela destacar o traço que lhe ficou como marca. A partir
desse destaque, a criança, sempre que quiser se referirá a esse felino,
buscará em seu arquivo mnêmico o traço referido, que
necessariamente não será o mesmo traço significante que outra
criança, também surda, elegerá.

Observa-se que a marca que a criança surda elege passa a ser sua referência, também
conhecida como referência visual. A criança surda internaliza de formas diferentes o
que aprende. Das abordagens comunicativas para ensinar a criança surda, destacam-se a
Oralista e a Gestual. A primeira se caracteriza pela leitura labial; e segunda através de
gestos, também chamada de linguagem de sinais. É necessário haver o entendimento de
tornar o surdo parte do currículo escolar, ao contrário a velha prática de pensar que isso
não é possível se perpetuará, como desta Sá (2011, p. 29):

Ora penso que não é mesmo possível a integração plena dos surdos em
classes comuns do ensino regular, principalmente porque a língua
utilizada na escola regular não é uma língua à qual os surdos têm
acesso natural, especialmente na Educação Infantil e nos anos iniciais
do Ensino Fundamental.

Evidente que a crítica de que não é possível a integração plena do surdo, se dá pela falta
de acessibilidade à linguagem utilizada nas escolas, que é muito distante da realidade da
criança surda. A valorização do ensino para o surdo nunca foi pauta de interesse de
políticas públicas.
Contudo, tornar a linguagem de sinais presente em sala de aula e dar um status de
comunicação é dar o direito de reivindicar, colocando o surdo como sujeito de destaque
social e acima de tudo consciente de seus direitos. Quando o processo de ensino-
aprendizagem é possível, resulta em conhecimento, e Sá (2006, p. 60) destaca: “o
conhecimento não pode se opor ao poder, nem é exterior a ele; o conhecimento é parte
do poder”.

Considerações Finais 9

Com base nas análises sobre o Ensino de Ciência no currículo da educação infantil de
crianças surdas, adquiridas através de diversas referências, e das principais opiniões de
diversos autores, foi possível identificar que são diversas as metodologias criadas para
se trabalhar o Ensino de Ciências em sala de aula, no entanto esbarramos ainda na falta
de estratégias para as crianças surdas que não ficam esclarecidas no currículo. Estas
parecem passar despercebidas, dessa forma fica para o professor à responsabilidade de
criar táticas de como aplicar as metodologias de ensino, de forma que as dificuldades se
encurtem.
Os fatos sobre a realidade da educação de crianças surdas ainda são pouco discutidos,
então é necessário aprofundar as discussões a apresentar propostas que possam ajudar e
estimular outras pessoas.
Contudo, a formação de posturas críticas deve ser estimulada de forma positiva na
criança, seja ela surda ou ouvinte, buscando compreender Ensino de Ciência a partir da
convivência social, onde existem símbolos que precisam ser fortalecidos e aprendidos
dentro e fora da escola. A ciência pode nos ajudar a aproximar esse pensamento no
âmbito educacional, principalmente fazendo com que os atores envolvidos na escola que
possuam contato com a criança surda, além do currículo, com objetivo de mudar a visão
de como ensinar e do que aprender em Ciências.

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