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O PROCESSO DA PESQUISA HISTÓRICA,COMO PROPOSTA


METODOLÓGICA PARA O ENSINO DE HISTÓRIA, NO ENSINO MÉDIO1

Siumara Vicelli Hoffmann2

RESUMO

O presente artigo tem como objetivo apresentar uma proposta metodológica para o ensino de
História, direcionada ao Ensino Médio, a qual consiste na realização do processo da pesquisa
histórica em sala de aula, procurando transformá-la em 'laboratórios' ou 'oficinas', para que os
alunos possam 'vivenciar' a produção do conhecimento histórico. Para isso, toma-se como
parâmetro de reflexão e discussão, a experiência tida durante o 1º semestre de 2009, no
Colégio Estadual Marechal Cândido Rondon, Curitiba, Paraná (Brasil), desenvolvida durante
o Programa de Desenvolvimento Educacional-PDE.
Palavras-chave: Metodologia. Ensino de História. Pesquisa histórica.

ABSTRACT

This article aims to present a methodologic propose for History teaching, directing to high
school, which consist in making the process of Historical research in the classroom, trying to
turn it into laboratories or workshops, for the students can vivence the production of historical
knowledge. For this takes it as a parameter of reflexion and discussion, the experience has
taken during the first semester of 2009, in state College Marechal Cândido Rondon, Curitiba,
Paraná (Brasil), developed during the Educational Development Program – PDE.
Keywords: Methodology. History teaching. Historical research.

1 Artigo científico apresentado à Secretaria de Estado da Educação do Paraná (Coordenação do PDE), como
requisito para a aprovação no Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE), sob a orientação do Prof.
Dr. Sandro M. Wambier.
2 Professora de História, do Colégio Estadual Marechal Cândido Rondon E.F.M., Curitiba-Paraná; Professora
PDE-2008, graduada em História pela UFPR e com especialização em História e Geografia do Paraná pelo
Instituto Superior de Educação Padre João Bagozzi.
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1 INTRODUÇÃO

Os conteúdos do ensino de História podem ser 'transmitidos' pelo professor de várias


maneiras, valendo-se de inúmeras estratégias metodológicas e recursos didáticos, como as
novas tecnologias. Contudo, se a postura for de 'transmissão' do conhecimento histórico
dentro de uma perspectiva de 'verdade histórica', toda e qualquer ação metodológica,
inovadora ou conservadora, terá praticamente o mesmo fim. Cabe ao professor, analisar se os
procedimentos metodológicos adotados condizem com o seu conceito de História e de atuação
pedagógica, junto aos seus alunos. Percebemos que, existem muitas propostas metodológicas
ligadas ao ensino de História, mas queremos nos delimitar em uma específica, que é aquela
relacionada a prática da pesquisa histórica em sala de aula, ou seja, o aluno delineando etapas
do processo de pesquisa histórica, aproximando-se da prática de um historiador, para poder
chegar a algumas considerações sobre o tema em estudo. Neste sentido, distingui-se o papel e
objetivos de um historiador em relação ao dos desempenhados pelos alunos. O aluno não
receberá um 'pacote pronto' de conteúdo a ser transmitido pelo professor, mas será um agente
atuante no processo de produção do conhecimento. Como afirmam BENSI e SARRICCI, em
um artigo divulgado na Internet3, “...não podemos simplesmente enxergar o aluno como mero
receptor de um conhecimento pré-estabelecido, mas sim como agente atuante na formulação
de seu próprio conhecimento”.
Neste sentido, torna-se fundamental a relação pedagógica entre professor e alunos,no
ensino de história e a metodologia disponibilizada e praticada, para a discussão dos conteúdos
com os alunos. Cabe ao professor conhecer, selecionar e exercer a prática metodológica
pertinente ou condizente aos seus propósitos de educação na área de História. Refletindo
sobre isso, propomos uma prática metodológica no ensino de História, que não é original, tão
pouco apresenta um caráter definitivo, mas que pode ser uma proposta universal, uma das
possibilidades de como ensinar História.
Assim, no presente artigo será apresentado o procedimento metodológico utilizado
para o Projeto de Intervenção na Escola do Programa de Desenvolvimento Educacional-PDE
no Paraná, na cidade de Curitiba, no ano de 2009; com o objetivo de sugerir a possibilidade
de realização dessa proposta metodológica, a partir de uma reconstrução crítica dessa
experiência.

3 Este artigo científico denominado “O Ensino de História, neoliberalismo e cidadania”, de R. F. Bensi e M.


Sarricci, encontra-se na página: http://www.webartigos.com/articles/114701/o-ensino-de-
historia/pagina1.html ( acesso em 11/07/2009).
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2 PDE e o Projeto de Intervenção Pedagógica na Escola

O PDE é um programa de formação continuada do professor no estado do Paraná, o


qual possibilita a realização de diversos cursos (carga horária obrigatória), proporciona a
integração entre professores da rede estadual de ensino e os das IES (Instituições de Ensino
Superior), e também, solicita a execução de um projeto de intervenção na Escola, para um
público alvo, definido pelo professor-PDE, conjuntamente com o professor-orientador
(IES,conveniada com o Programa). O projeto de intervenção na Escola, faz parte das
atividades de integração teórico-práticas, que formam um dos 3 eixos do Plano Integrado de
Formação Continuada – 2008. Sobre este projeto, iremos enfocar a experiência tida na
Escola, refletindo e sugerindo alguns encaminhamentos metodológicos, no âmbito do ensino
de História.
O projeto de implementação na Escola foi denominado a Revolta do Comércio,
Curitiba, 1883: história e verdade e teve como objetivo principal fazer com que o aluno
refletisse, conhecesse e pudesse atuar nas etapas de produção do conhecimento histórico. Essa
proposta metodológica pretendeu despertar nos alunos o questionamento em relação aos
conteúdos das aulas de História, tidos, muitas vezes, como 'verdades históricas'; consistindo
assim, na reflexão sobre a relação do objeto de pesquisa e pesquisador, do papel do
historiador ao selecionar as fontes históricas, coletar dados e analisá-las. Gemma Tribó
Traveria (2005)4, afirma em sua introdução que para Pierre Vilar “pensar históricamente es
aprender a relacionar las diferentes variables que componen el conocimiento histórico-
sociedad, economía, política,...-: es aprender a descubrir las causas de los cambios sociales;
em definitiva , es aprender a construir conocimiento histórico”. Assim, enfatizamos a
importância da relação do pensar historicamente e da construção do conhecimento histórico.
SCHAFF (1974, p. 288), considera que “a verdade atingida no conhecimento
histórico é uma verdade objetiva relativa” e que não existe verdade absoluta, mas sim,
verdade parcial ou verdades parciais, de caráter transitório. O posicionamento sobre a
'verdade histórica' será a essência da discussão deste trabalho. O aluno ao realizar a pesquisa
científica do tema (A Revolta do Comércio, Curitiba, 1883), na chamada 'oficina' de História,
irá compreender e discutir o conceito da verdade histórica. Ocupará o papel de sujeito ativo na
produção do conhecimento, apresentando a sua visão sobre o objeto de estudo. Tendo em
vista que, segundo Adam SCHAFF, “o conhecimento é, pois um processo infinito”. Assim, “o

4 TRAVERIA, Gemma T. Enseñar a pensar historicamente: los archivos y las fuentes documentales em la
enseñanza de la historia. Barcelona: I.C.E. Universitat Barcelona/ Horsori Editorial, 2005. p. 11
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conhecimento é um processo e que, portanto, a verdade também o é”. (SCHAFF, 1974, p.90).

Neste sentido, questiona-se a ideia de conteúdos prontos, fechados e acabados em


História, enquanto uma Ciência Humana, processual, diferenciada da Matemática, exata e
formal. Além de participar de discussões sobre a teoria da História, o aluno irá produzir
conhecimento na área de História do Paraná, pensando no tema específico já citado. Trata-se
de um tema 'inédito', dificultando o simples acesso a Internet, como pacote pronto e acabado
do assunto. Assim, o aluno terá que ler, pesquisar, selecionar fontes, coletar e analisar dados,
produzir conhecimento histórico.
Este trabalho procurou contribuir para atender duas necessidades fundamentais
referentes ao ensino de História. A primeira, diz respeito à produção científica de temas
ligados a História do Paraná; o tema escolhido, é pouco conhecido e esperava-se que isso,
fosse um fator instigante, para fomentar a discussão metodológica da segunda necessidade.
Esta, trata-se de uma proposta metodológica de não levar (só) conteúdos 'prontos e acabados'
ao aluno, o qual teria um papel de sujeito na produção do conhecimento histórico, dentro de
uma perspectiva metodológica e científica. Assim, a discussão do conceito de História como
Ciência é relevante; conhecer fontes históricas, distinguindo-as e selecionando-as, conforme o
objeto de estudo; pesquisar em instituições, como arquivos, museus e bibliotecas, para coletar
dados e poder escrever um pré-projeto de pesquisa.
Justificou-se este trabalho, por duas vertentes: a contribuição aos estudos de História
do Paraná, como também, a discussão da metodologia do ensino de História, com o incentivo
de implementação de 'oficinas' nas escolas, propiciando ao aluno ser o sujeito, da relação
objeto de estudo e conhecimento.

2.1 A estrutura teórica do Projeto

A princípio estudar a Revolta do Comércio, ocorrida em Curitiba, no ano de 1883,


tinha como preocupações: contribuir para as discussões do poder político e econômico, no
final do século XIX, no Paraná; possibilitar que a História Paranaense seja enfatizada nas
produções científicas, voltadas à Educação, objetivando a qualidade de ensino regional nas
escolas públicas; incentivar a prática metodológica ligada ao ensino de História em usar
'laboratórios' ou 'oficinas', levando o aluno a discutir e vivenciar o trabalho científico do
historiador, a partir de um tema específico.
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As principais problemáticas eram as seguintes: o que foi a Revolta do Comércio, em Curitiba,


no ano de 1883, através do(s) olhar (es) feito(s) pelo(s) aluno(s), nas “oficinas” de História?
Esta situação-problema será o foco de atenção dos alunos (já mencionados como público alvo
da intervenção) a partir da visão dada pelo jornal 'Dezenove de Dezembro', nos meses de
fevereiro a Julho de 1883, em Curitiba. Qual seria a visão do aluno, ao passar por etapas de
uma pesquisa científica sobre o tema? Qual o conceito de 'verdade histórica' para o aluno?
Para poder discutir e analisar estas questões, os alunos desenvolveriam um trabalho científico
na área de História, com a distinção e seleção de fontes históricas, coleta de dados; elaboração
de um pré-projeto.
O objetivo geral do projeto de implementação era o de incentivar e executar a prática
científica no estudo de História, nas salas de aula, valendo-se de 'oficinas', nas quais o aluno
assumisse o papel de pesquisador ('historiador'), um sujeito ativo, escrevendo um pré-projeto
sobre o tema sugerido e passando por etapas metodológicas e científicas, questionando assim,
a 'verdade histórica'. Tendo em vista, para isso a distinção de um trabalho realizado pelo
historiador (ofício) e o de um aluno (escolar), mas dando oportunidades do aluno poder
vivenciar as etapas de um processo de pesquisa histórica. Para isso, a base da fundamentação
teórica deste trabalho serão especialmente as obras: 'História e Verdade', de Adam SCHAFF;
'Um Mapa da Ideologia', obra que apresenta textos de vários autores, entre os quais cita-se:
Slavoj ZIZEK; Theodor W. ADORNO; Louis ALTHUSSER; Terry EAGLETON e o jornal
'Dezenove de Dezembro', Curitiba, nos anos de 1860 (julho); 1877(maio); 1882 (dezembro), e
principalmente, 1883 (de fevereiro a julho), o qual foi a fonte principal na produção do
material didático – a Unidade Temática .

Um ponto importante afirmado por ADAM SCHAFF (1974, p. 294) é que:


não há nada de espantoso, em que os mesmo materiais, semelhantes nisto a
uma matéria-prima, a uma substância bruta, sirvam para construções
diferentes.E é aí que intervém toda a gama das manifestações do fatos
subjetivo: desde o saber efetivo do sujeito sobre a sociedade até as
determinações sociais mais diversas .

Utilizando as mesmas fontes o sujeito faz “construções diferentes”; ocorre a


“variabilidade da visão histórica”; Aliada a esta discussão está o conceito de IDEOLOGIA,
pensando no sujeito e seu objeto de estudo. Segundo ZIZEK ,
ideologia pode designar qualquer coisa, desde uma atividade contemplativa
que desconhece a sua dependência em relação à realidade social, até um
conjunto de crenças voltado para a ação, desde o meio essencial em que os
indivíduos vivenciam as suas relações com uma estrutura social até as falsas
idéias que legitimam um poder político dominante. Ela parece surgir
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exatamente quando tentamos evitá-la e deixa de aparecer onde claramente se


esperaria que existisse (1999, p. 9).

A palavra ideologia requer certos cuidados e cautela. Há uma “variedade de noções


de ideologia”. A preocupação neste trabalho não está em conceituá-la, mas percebê-la nas
ações dos sujeitos da pesquisa histórica, ou seja, a relação de visão histórica com ideologia,
verdade histórica e ideologia; como também, no objeto de estudo. Neste sentido, o caráter
ideológico pode ser percebido do ponto de vista de quem produziu determinada fonte
histórica e de quem a analisa.
O jornal “Dezenove de Dezembro”, em Curitiba, principalmente no ano de 1883,
será utilizado como ponto de partida de uma das visões históricas. Como foi mostrada a
'Revolta do Comércio' por este jornal? A realidade tal como ocorreu não será representada na
pesquisa histórica, sendo o jornal um modelo de fonte escuta com representação ideológica.
Com o desenvolvimento deste projeto de intervenção na Escola, pretende-se
contribuir para a melhoria da qualidade do ensino nas escolas públicas paranaenses. Assim
como, incentivar o uso de 'oficinas' nas salas de aula no ensino de Historia, e ser um
instrumento de incentivo às produções científicas da História Paranaense. O aluno terá a
oportunidade de realizar um trabalho cientifico, discuti a veracidade de fontes históricas, o
papel do historiador na construção do conhecimento histórico, de refletir sobre a influência
ideológica na 'realidade' estudada, como também, no âmbito da ação e produção do
pesquisador e de questionar sobre a discutível 'verdade histórica'.

3 O desenvolvimento do Projeto: a experiência metodológica com os alunos

Este projeto foi desenvolvido no Colégio Estadual Marechal Cândido Rondon,


cidade de Curitiba, durante o ano de 2009, com alunos de 1º ano, turma A (Ensino Médio);
sendo o tema de estudo a 'Revolta do Comércio', em Curitiba, ocorrida no ano de 1883,
ligado a história paranaense, pouco conhecido e estudado
O trabalho foi dividido em duas partes fundamentais: a teórica e a prática. Tal
separação foi meramente didática, pois ambas se inter-relacionam durante a realização do
projeto. A teórica, denominada primeira fase, realizada dentro da sala de aula, consistiu num
aprofundamento de conceitos da Teoria da História e da utilização do material didático,
produzido para apresentar o tema a Revolta do Comércio, em Curitiba, no ano de 1883, sob a
ótica da imprensa periódica, especificamente, o jornal 'Dezenove de Dezembro'. A prática,
denominada segunda fase, priorizou a saída dos alunos à Instituições que possuíssem fontes
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históricas, para que os alunos selecionassem fontes, coletassem dados e apresentassem um


pré-projeto de pesquisa histórica.

3.1 A experiência metodológica com os alunos

A implementação do projeto 'A Revolta do Comércio, Curitiba, 1883: história e


verdade', no Colégio Estadual Marechal Cândido Rondon iniciou-se em fevereiro de 2009,
com uma apresentação do mesmo, aos professores que lecionam neste estabelecimento, a
pedido da equipe pedagógica. Por meio dessa explanação, os professores ressaltaram a
importância do trabalho voltado à pesquisa, pensando além do ensino de história,
demonstrando assim, apoiar o desenvolvimento do projeto. Também, aproveitaram a
oportunidade para esclarecer dúvidas a respeito do PDE, seu funcionamento e organização, já
que este teve inicio em 2007. Deste modo, para muitos era algo novo a ser compreendido,
pois se trata de um programa em construção para a formação continuada de professores da
Rede Estadual de Ensino (Paraná).
Esta foi a primeira mostra e única aos professores, pois o público alvo do projeto
eram os alunos, em especial, a turma A do 1º ano do Ensino Médio, do período da manhã.
Com esse intuito, partiu-se para a apresentação do Projeto a esses alunos, os quais
demonstraram curiosidade e um certo grau de interesse pelo que estava por vir, pois consistia
numa novidade dentro da sala de aula.
Após a exposição do projeto aos alunos, definiu-se que uma aula semanal (das duas)
seria utilizada ao projeto, durante o 1º semestre de 2009. Como já afirmamos o projeto ficou
dividido em duas fases principais: teórica e prática. Na primeira fase, a teórica,de
desenvolvimento do projeto, a estratégia metodológica foi em dividir três campos de atuação:
a) explicações e discussões voltadas a temas da Teoria da História; b) utilização do material
didático específico produzido para o projeto- a Unidade Didática- 'A Revolta do Comércio,
Curitiba, 1883: história e verdade' e c) pesquisa no laboratório de informática sobre fontes
históricas e produção de slides. A seguir serão abordadas com minuciosidade cada uma.

3.1.1 A Fase Teórica


a) Fase voltada aos temas da Teoria da História
Nas aulas iniciais do 1º bimestre (2009), o projeto se concentrou em abordar
conceitos chaves para o entendimento da História enquanto Ciência. Quatro questões foram
passadas no quadro-negro, para que os alunos copiassem em seus respectivos cadernos e as
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respondessem em uma aula de 50 minutos, sem nenhuma explicação ou consulta prévia. Esta
atividade possibilitaria discutir e aprofundar o conteúdo, a partir do conhecimento dos alunos.
Não houve a preocupação em coletar esses dados nem tão pouco tabulá-los quantitativamente.
A estratégia consistiu em centralizar em discussões e despertar o interesse do aluno pelo
assunto, pois durante o projeto esse conteúdo viria à tona constantemente.

As quatro questões foram:


 1) O que é História?
 2) O que são fontes históricas? Exemplifique.
 3) Escreva sobre o tempo histórico.
 4) Como você acredita que o historiador realiza a pesquisa histórica?

Comentaremos sobre as respostas dos alunos, de uma forma geral, sem especificá-las
individualmente ou quantitativamente. A questão nº 1 foi respondida em geral relacionando o
passado e o presente, a menção de estudo de fatos, mas não aparece o conceito de Ciência,
dentre as respostas ouvidas. Os alunos não relacionavam História ao conceito de Ciência. Na
questão nº 2, os alunos conheciam exemplos de fontes históricas, contudo, tiveram
dificuldade de conceituá-las, salvo raros casos que o fizeram. A questão nº 3, causou uma
estagnação geral na turma. Os alunos pareciam perdidos sobre o que escrever em relação ao
tempo histórico. Talvez, foi a questão que mais tiveram dificuldades. Na questão nº 4,
escreveram de uma forma geral, sem mencionar as etapas de uma pesquisa histórica. Porém,
relacionaram as fontes históricas com o trabalho do historiador.
Após ouvir as respostas dos alunos sobre cada questão, a explicação, a discussão e o
aprofundamento foi feito pela professora seguindo questão por questão. Pode-se refletir sobre
o conceito de Ciência na área de História, a compreensão do conceito de Fontes Históricas e o
papel do historiador ao analisá-las, o conceito de verdade histórica, tomando como exemplo
um objeto de estudo nas Ciências Exatas, como o resultado de uma equação:x+5=2 ;
resolvendo x= 2-5; resultando: x=-3. Voltando a equação inicial, se o resultado de x for
substituído pelo valor encontrado: x+5=2 ; -3+5=2 , assim 2=2. Os alunos perceberam que
nesta equação o resultado correto só podia ser x=-3. Diferentemente das Ciências Humanas
que pode ter o mesmo objeto de estudo, o uso das mesmas fontes históricas, mas que poderá
ser diferente o resultado da pesquisa histórica, em virtude, principalmente, da visão
(ideológica) do historiador, ao coletar e analisar os dados. Outro ponto abordado foi o
conceito de presente e passado, tempo curto, médio e longo e de etapas de um projeto de
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pesquisa (histórica). Como referencial teórico dessa fase do trabalho, podemos citar a obra de
Adam Schaff, História e Verdade (1974), na qual trabalha com três principais instâncias,
divididas em partes: na primeira parte, são os pressupostos gnoseológicos; na segunda parte,
trata do condicionamento social do conhecimento histórico e na terceira, e última parte,
aborda a objetividade da verdade histórica.

b) Fase de uso do material didático


Para a implementação do projeto na Escola, houve a obrigatoriedade de produzir um
material didático. Entre os exemplificados, optou-se por uma Unidade Didática. Nela foi
tratado um tema específico, que era a Revolta do Comércio, Curitiba, 1883, segundo a visão
do jornal 'Dezenove de Dezembro', tendo-o como fonte primária.

A Unidade Didática foi estruturada da seguinte forma:


 INTRODUÇÃO
 Jornal DEZENOVE DE DEZEMBRO: história e fonte histórica
 Atividade 01
 2) Jornal DEZENOVE DE DEZEMBRO: o olhar da imprensa oficial sobre
 a Revolta do Comércio (Curitiba- 1883)
 A) O Comércio Curitibano fechou as portas.
 Atividade 02
 B) Criação e Aumento do Imposto Comercial: divergências entre comerciantes e
governo provincial
 Atividade 03
 Atividade 04
 Atividade 05
 Atividade 06
 Atividade 07
 C) O Comércio se mobiliza: as comunicações
 Atividade 08
 D) Reuniões no Salão Lindmann: “perigo à tranqüilidade pública”
 Atividade 09
 E) 28 de março de 1883: “alteração da ordem pública”
 Atividade 10
 F) Os atentados de 30 de março
 Atividade 11
 G) “Pacificada a cidade no dia 31 de março”
 H) Acusação à Comissão do Comércio: “crime de sedição qualificado
 Atividade 12
 CONSIDERAÇÕES
 REFERÊNCIAS

O trabalho realizado com esta Unidade Didática ocorreu principalmente nos meses
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de março e abril (2009), dispondo de textos, cuja fonte histórica dava o direcionamento a
discussão do tema, e seguidos de atividades elaboradas para poder enfatizar o conteúdo
abordado. O tempo e a quantidade de atividades não foram compatíveis, por isso houve a
necessidade de selecioná-las para poder cumprir a implementação dentro do prazo solicitado.
Durante uma aula semanal trabalhou-se com a Unidade Didática, o que resultou num
distanciamento grande, dificultando o desenrolar e entendimento do tema. Por ter necessidade
de recapitular algumas considerações, o tema talvez se tornou enfadonho. Acredito que não
deveria intercalar com outro conteúdo da disciplina, mas seguir apenas no desenvolvimento
do Projeto. Foi uma das dificuldades enfrentadas que podem alertar o curso de um novo
projeto do mesmo teor metodológico.
Após essa fase de leitura e discussão do tema a Revolta do Comércio, em Curitiba,
no ano de 1883, destacou-se o papel da imprensa periódica de retratar e avaliar o movimento
pelo jornal Dezenove de Dezembro, de caráter oficial. Nesse ponto, a linha norteadora da
discussão foi a fonte histórica: de um lado, enquanto produção de uma época e classe, de
outro, a sua utilização e análise crítica de dados, por parte do historiador, para reconstrução do
passado. O uso das fontes históricas em sala de aula faz parte do debate atual acadêmico e
escolar. Nossa proposta de utilização faz parte de um processo de incorporá-la enquanto
elemento fundamental à pesquisa histórica, e não, como pretensa forma de substituição do
conteudismo/verbalismo. Para entender com mais clareza essa questão, podemos citar o
exemplo de como foram tratadas -as fontes históricas- em manuais didáticos da Primeira
República, CAIMI afirma que
cumpre uma função ilustrativa,tal qual propugnava Serrano(1932), trazendo
a modesta possibilidade de ensinar pelos olhos, não só pelos ouvidos. Não
está colocada, ainda, a intenção de tomar essas fontes como objetos de
estudo, desvendando suas condições de produção, nem mesmo a
possibilidade de, por meio de seu estudo, desenvolver determinadas
competências cognitivas, como observação, investigação, compreensão,
interpretação, argumentação, análise, síntese, comparação, formulação de
hipóteses, crítica documental, etc (2008, p. 137-138).

Neste trabalho metodológico, as fontes históricas não são percebidas como


ilustrações de uma aula de História, mas como disse Adam SCHAFF (1974)
“materiais” ,“matéria-prima” 5 para que os alunos possam reconstruir o passado e construir o
conhecimento histórico. Notadamente que, tendo o cuidado em distinguir o trabalho do
historiador, daquele realizado pelo aluno. Esses trabalhos históricos têm objetivos diferentes,

5 “(...) semelhantes nisto a uma matéria-prima, a uma substância bruta, sirvam para construções diferentes”
(SCHAFF,1974, p. 294)
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como ressaltou CAIMI,

o historiador toma as fontes como matéria-prima para desenvolver o seu


ofício e, como especialista, reconhece todo o contexto de produção antes
mesmo de delimitá-las para o seu estudo,ao passo que, como afirma
BITTENCOURT (2004, p.329) , “os jovens e as crianças estão aprendendo
história e não dominam o contexto histórico em que o documento histórico
foi produzido”.Assim, ensinar o ofício do historiador consistiria em construir
com os alunos uma bagagem conceitual e metodológica que lhes permitisse
compreender ( e utilizar um certo nível de complexidade) os instrumentos e
procedimentos básicos da produção do conhecimento histórico (2008, p.
143-144),.

Os Parâmetros Curriculares Nacionais-PCNs (1998) enfatizam novas abordagens


metodológicas em relação as fontes históricas, no campo da História:

desenvolver atividades com diferentes fontes de informação (livros,


jornais,revistas, filmes, fotografias, objetos, etc.) e confrontar dados e
abordagens; trabalhar com documentos variados como sítios arqueológicos,
edificações, plantas urbanas, mapas, instrumentos de trabalho, objetos
cerimoniais e rituais, adornos, meios de comunicação, vestimentas, textos,
imagens, filmes; ensinar procedimentos de pesquisa, consulta em fontes
bibliográficas, organização das informações coletadas, como obter
informações de documentos, como proceder em visitas e estudos do meio e
como organizar resumos.(BRASIL, 1998, p.77)

Analisando o trecho acima dos PCNs destacamos dois aspectos: o ensinar


procedimentos de pesquisa e a utilização de variados tipos de fontes históricas, na sala de
aula. Tais afirmações vêm ao encontro com a nossa proposta metodológica, que não pretende
se deparar com um aluno passivo e ouvinte, mas com um estudante que possui um papel
ativo. CAIMI (2008) afirma que “quanto ao uso de tais documentos (citados nos PCNs) /
fontes em sala de aula, há importantes indicações metodológicas que preconizam o papel
ativo do estudante nos procedimentos de compreensão e interpretação“

c) Fase de pesquisa sobre fontes históricas: o uso do laboratório de informática


Os alunos trabalharam simultaneamente com a fase de uso do material didático, no
laboratório de informática, utilizando em torno de duas aulas, uma pesquisa sobre as fontes
históricas, distinguindo-as entre primárias e secundárias. O resultado foi apresentado
oralmente pelas equipes (no máximo, três alunos) que produziram slides ( gravados no
pendrive ou CD ), como recurso de apoio. Os alunos tiveram dificuldade em abrir o material,
em virtude de ser o formato incompatível com a TV Multimídia.
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3.1.2 A Fase Prática


Na fase prática os alunos foram divididos em grupos de 8 a 10 alunos. Cada grupo
foi subdividido pela metade, com o objetivo de que nos dias de visita à Documentação
Paranaense da Biblioteca Pública tivessem alunos de um mesmo grupo. Isso para facilitar a
coleta de dados, nas fontes pesquisadas.
O plano inicial era ir em algumas instituições de Curitiba que possuíssem acervo
disponível para consulta aberta ao público, como Biblioteca Pública do Paraná, Museu
Paranaense e Arquivo do Paraná. Porém, houve necessidade de mudanças táticas na
organização do trabalho prático, sendo que dois fatores foram determinantes. O primeiro, diz
respeito ao número de alunos que iriam (em torno de trinta), o qual poderia provocar
transtornos diversos no atendimento da Instituição. O segundo fator, foi o tempo disponível
para a realização da Implementação (nesse momento, tínhamos dois meses para concluir o
projeto). Neste sentido, priorizamos a saída dos alunos para uma Instituição: a Biblioteca
Pública do Paraná, a qual dispõe de um acervo significativo da História Paranaense.
Assim, de praxe foi realizado o agendamento na Instituição, mas pessoalmente, para
explicar a natureza do Projeto e visando uma melhor organização. Por sugestão do
funcionário da Divisão de Documentação Paranaense, dividimos a turma em quinze alunos,
com dois dias de visita (13 e 14 de maio/2009). Por isso, a subdivisão dos grupos, ou seja,
metade aproximada de um grupo foi no dia 13 e, a outra metade, no dia 14. Com isso, não
deixaríamos o trabalho incompleto, pois haveria uma continuidade, caso o tempo se tornasse
insuficiente.
Percebemos que a proposta inicial de buscar fontes sobre o tema proposto não
poderia ser concretizada, por se tratar de um trabalho minucioso em diversas fontes e locais.
No caso da Biblioteca Pública do Paraná teriam acesso aos jornais microfilmados e revistas
diversas, década de 50 e 60. Assim, mudamos o direcionamento do trabalho prático, os alunos
deixariam de lado o tema de estudo sobre a Revolta do Comércio pelas dificuldades
apresentadas e fariam duas tarefas práticas, uma do grupo e outra individual:

a) do grupo: com as fontes disponíveis, em especial, as revistas, após a leitura, escolheram


um tema de estudo para a elaboração de um projeto de pesquisa. Esta atividade tem como
exemplo, os projetos de aprendizagem que a partir do tema de interesse do aluno, são
formuladas as questões principais de um projeto de pesquisa ( O quê? Por quê? Como?
Quando? )
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Os alunos escolheram os seguintes temas: a construção da hidrelétrica de Itaipu


(1976), o câncer nas mulheres curitibanas (1976), o turismo no Paraná, no ano de 1965.
Iremos apresentar os projetos de pesquisa elaborados pelos alunos:

Projeto 01 – A construção da hidrelétrica de Itaipú, em 1976.


Alunos: F.T. , P.S. , P.R., C.T., K.A.,L.P. e T.S. .

Tema: O tema pesquisado é sobre a construção da hidrelétrica de Itaipu


Justificativa: Essa pesquisa relata a união dos governos do Brasil e Paraguai. E também é
um fato muito importante que ocorreu no Paraná. Trouxe mais sofisticação e tecnologia.
Objetivos:
Geral: Conhecer a aliança entre os governos do Brasil e do Paraguai: e o que mudou no
Paraná e no Brasil, após essa aliança: e como ocorreu a construção da Hidrelétrica.
Específicos:
1. Revelar o 'verdadeiro' e grande lucro que ocorreu na construção da hidrelétrica:
focalizando um investimento industrial de alta e garantida lucratividade;
2. Pesquisar nomes de arquitetos e engenheiros; para conseguir depoimentos sobre a
construção da hidrelétrica;
Metodologia: mostraremos o quanto os dois governos lucraram; quais foram as despesas e
por que os governos se tornaram prósperos economicamente( região do sul), usando como
referências a Revista Panorama de novembro de 1976 e entrevistas com operários e
engenheiros.
Cronograma:

MESES LOCAIS ASSUNTOS


Janeiro à Março BPP - Biblioteca Pública do Paraná Coleta de dado
Abril à Junho Conseguir entrevistas Tanto com Trabalhadores, quanto
governo e engenheiros.
Julho à Setembro Procurar dados curiosos Quanto eles gastaram em materiais.

Dados Curiosos:
 Concreto: a quantidade de concreto utilizado na construção da Usina
Hidrelétrica de Itaipu daria para construir 210 estádios de futebol do tamanho do
Maracanã;
 Ferro: O ferro e o aço utilizados permitiriam a construção de 380 Torres Eiffel;
 Energia: O Brasil teria que queimar 434 mil barris de petróleo por dia para gerar
em usinas termelétricas a potência de Itaipu;
 Trabalhadores: A sua construção envolveu o trabalho de 40 mil pessoas.
Referências:
Revista Panorama. Novembro de 1976, p, 31 a 38.
Entrevistas com trabalhadores e engenheiros.

Projeto 02 – Turismo
Alunos: G. F., G., C. J, C., T.Q., D., M., P.H.S. , P.H. .
Tema: Turismo
Justificativa: Escolhemos este tema, pois mostra as riquezas do Paraná e pontos turísticos,
como ferrovia que liga Curitiba a Paranaguá, Vila Velha, Jardim Botânico, as Cataratas do
Iguaçu e outros.
Objetivo: Caracterizar as riquezas do Paraná pelo turismo.
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Metodologia: Através de revistas, internet, anúncios e jornal.


Cronograma:
Janeiro a Abril - pesquisa na Biblioteca Pública do Paraná, em livros e revistas; maio a julho
– análise de dados coletados; agosto a dezembro – executar a produção escrita pela análise
de dados.
Referências:
Revista Panorama, ano XV, nº 157 e 158, Curitiba, junho e julho de 1965.

Projeto 03 – O Câncer faz mais vítimas em Curitiba (1976)


Alunos: J.A., L.M., G., J.V.C. , C. M.,L.,R. .
Tema: O tema do Projeto é sobre o Câncer faz mais vítimas no Brasil com base nas
informações e pesquisas da OMS em 1976.
Justificativa: Na pesquisa que faremos, serão demonstrados dados importantes procurando
saber se na época (1976) o câncer fazia muitas vítimas, principalmente em Curitiba.
Objetivos:
Geral: Conhecer sobre o câncer e sua frequencia, ocorrido em 1976 em Curitiba, verificando
os tipos de câncer, os mais frequentes e os que causavam mais mortes.
Específicos: verificar as causas dos diversos tipos de câncer, conhecendo se há a influência
do consumo de certas substâncias, de alguns alimentos e bebidas, da poluição e do sol;
descobrir a incidência por sexo; e ver os mais diferentes casos da doença em Curitiba.
Metodologia: Pesquisaremos sobre como ocorre a doença; sobre quem são as vítimas fatais;
o que causa tais tipos de câncer; o que fazer para preveni-las; e principalmente, o por que de
Curitiba ser considerada a cidade onde há mais casos de Câncer (dados de 1976).
Cronograma:
MESES LOCAIS ASSUNTOS
Janeiro a Abril BPP - Biblioteca Pública do Paraná Como ocorre a doença; tipos de maior
ocorrência; tratamentos.
Maio a Agosto Entrevistas com pessoas que tiveram Como são atendidos e como são os
câncer tratamentos.
Setembro a Hospitais Estrutura para o atendimento público
Dezembro

Referências:
Revista Panorama, agosto de 1976, p.28 -30.
Entrevistas
Documentos diversos nos hospitais.

b) individual: o aluno consultou jornais microfilmados 6


da data de seu aniversário,
considerando dia e/ou ano, com o objetivo de procurar acontecimentos ocorridos na data
referida. Alguns jornais não tinham os meses ou dias procurados, assim tiveram que se
aproximar da data estabelecida. Para alguns alunos o tempo não foi suficiente, no início
alguns tiveram um estranhamento ao manusear a máquina, mas logo se ambientaram e
realizaram a tarefa de pesquisa. Tal procedimento possibilitou ao aluno selecionar fatos e
temas de seu interesse. Destacaram acontecimentos 'considerados bons' (uma aluna, comentou

6 Para muitos alunos utilizar a máquina de microfilme foi uma novidade. Mesmo dominando o uso de
computadores, tiveram que se familiarizar com as máquinas de microfilme e entender a razão de sua
existência.
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que não queria selecionar acontecimentos trágicos); aniversariantes 'famosos'. Alguns alunos
fizeram a pesquisa na Internet.
Este trabalho foi apresentado oralmente e individualmente para a turma. Para isso,
fizemos um círculo e cada aluno pôde expor as informações obtidas, nessa pesquisa.

3.2 A Fase final: produção de narrativa histórica e resultados


Para fechar o projeto de Implementação na Escola, os alunos produziram uma
narrativa histórica sobre a Revolta do Comércio, enfocando dois aspectos: o que foi a Revolta
e a visão do Jornal Dezenove de Dezembro sobre a mesma.
No primeiro aspecto, não tiveram dificuldades, porém percebe-se que os alunos
ficam presos ao texto já produzido no material didático. Mas, na segunda parte, descrever e
questionar a visão apresentada pelo jornal Dezenove de Dezembro foi um ponto que 50% da
turma aproximadamente conseguiram realizar. Os demais alunos ficaram limitados e não
conseguiram abordar esse aspecto com qualidade. A seguir será citada uma das narrativas
produzida por duas alunas (C. M. S. e G. C. S.):

o governo aumentou os impostos com isso desagradou os comerciantes que


de 1% subiu para 1 ½ sobre as vendas em estabelecimentos comerciais. Com
o desagrado os comerciantes se revoltaram, desta forma mandando
telegramas para todos os comerciantes das regiões, para não irem buscar o
boletim de cobrança e fecharam as portas dos comércios do dia 28/03 a
30/03 de 1883.
O governo reagiu desta forma, os comerciantes que não pagarem os seus
boletins iriam pagar uma multa de 100$ a 400$ conforme a importância de
seu estabelecimento.
O jornal Dezenove de Dezembro era favorável aos impostos, ou seja, a favor
dos governantes, pois era um jornal que defendia os direitos dos que
governam.
Após a revolta do dia 30 de março 10 indivíduos que foram acusados de
mandar na revolta foram presos e com isso, o comércio no dia 31 após as 6
horas da tarde cedeu ao chefe da província abrindo o comércio novamente,
deixando em aberto a questão dos impostos.

Assim, o projeto de implementação na escola foi concluído dentro do prazo estipulado


pela equipe PDE, passando por determinadas alterações. Obteve-se êxito em algumas etapas e
houve o enfrentando de dificuldades, em outras, durante o processo de realização das
atividades propostas.
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4. CONCLUSÃO
Analisando o Projeto de Implementação durante a sua execução houve um
distanciamento da proposta inicial com a sua aplicação. Primeiramente, pretendia-se apenas
trabalhar com um tema específico, e a partir disso, selecionar e analisar diferentes fontes
históricas,para poder mostrar a diversidade de visões em um mesmo tema, refletindo sobre
uma suposta verdade histórica. Contudo, tornou-se difícil a busca de fontes históricas sobre
um tema pouco abordado. Para isso, necessitaríamos de mais tempo, de uma organização
específica da turma, com um número reduzido para que o trabalho de pesquisa pudesse ser de
viável e de qualidade. Tal procedimento demandaria outras pessoas a ficarem com a turma,
assim, seria difícil, pois sabemos que o professor é responsável por toda a turma e devido a
falta de recursos humanos nas Escolas, tal prática seria até utópico.
Sendo assim, buscamos uma reformulação do Projeto para que o mesmo pudesse ser
aplicado no tempo solicitado pela equipe PDE. A primeira mudança foi ter o tema da Revolta
do Comércio como um exemplo de questionamento e de posição crítica em relação ao Jornal
Dezenove de Dezembro, veículo de imprensa oficial do governo vigente no período. O aluno
teria a possibilidade de escolher outro tema para elaborar um projeto de pesquisa,
considerando o local – Biblioteca Pública do Paraná (BBP) e suas fontes disponíveis para
isso, sendo que se tratava de um grupo de aproximado de quinze pessoas, em cada visita. A
segunda mudança, se refere à seleção do local de pesquisa, restringimo-nos a BBP, devido ao
tipo de tratamento dos funcionários, ou seja, uma acessibilidade maior e por ser um local
espaçoso e de fácil acesso (centro de Curitiba). Procuramos dar um incentivo ao aluno,
despertado no interesse pela pesquisa de acontecimentos ocorridos na data do seu aniversário.
Por último, limitamos essencialmente na produção do projeto de pesquisa, elaborado pelo
grupo, produção de uma narrativa histórica feita sobre a Revolta do Comércio e apresentação
do resultado da pesquisa sobre a data do aniversário.
Assim, pudemos perceber que a ideia central se dispersou e que a escolha do tema
não favoreceu. Julgávamos que o ineditismo do tema e a sua ligação com a história do Paraná
favoreceriam, mas foi um engano. Cabe ao professor, como sugestão escolher um tema mais
conhecido, ligado a história de seu país, que talvez permita ao desenrolar do processo da
pesquisa histórica a facilidade de se encontrar diversas fontes históricas. Contudo, vale um
alerta, o aluno pode restringir a pesquisa via internet, pois este se acomodou a procurar nela
tudo e acredita ser o único caminho e fonte histórica. Deve-se estruturar e organizar cada
etapa do projeto num espaço de tempo razoável, digamos que numa previsão anual seria o
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ideal. Este projeto foi realizado em quatro meses, sendo que eram duas aulas semanais com a
turma e uma apenas destinada ao projeto. Nesse caso, o tempo foi restrito!
Tornam-se fundamentais para a viabilização desse projeto em qualquer lugar do país
ou do mundo, três aspectos: a escolha do tema; a disponibilidade de vários tipos de fontes
históricas e o embasamento teórico do professor e aluno como ferramenta de discussão e
análise do processo de pesquisa histórica. Amarrando esses elementos simultaneamente,
estruturando-os e organizando-os de forma clara, a viabilidade de aplicar esse projeto em sala
torna-se possivelmente atingível. E principalmente, de possibilitar às aulas de História um
caráter inovador, questionador e de criação de conhecimento histórico, por mais que não seja
uma novidade tal experiência metodológica.
Retomando os três itens fundamentais para a obtenção de resultados positivos do
projeto, é de extrema importância a escolha do tema, pois ele lhe dará subsídios de poder
selecionar as fontes históricas dele existente ou a ele relacionadas, sejam primárias ou
secundárias. Na experiência citada o tema inédito dificultou o andamento do processo da
pesquisa histórica, pela insuficiência de fontes históricas. Tal dificuldade levou ao extremo de
uma restruturação do projeto, que não atendeu aos objetivos geral e específicos do mesmo.
Assim, a disponibilidade de fontes históricas é outro ponto essencial: quanto maior o
número de variedades de fontes históricas e a facilidade em ter acesso as mesmas, maiores
serão as possibilidades de reflexão sobre o tema, tendo como ponto central a visão dada de
cada fonte histórica.
Por último, percebe-se a necessidade de uma preparação teórica para fundamentar as
discussões, reflexões e orientações no decorrer das etapas da pesquisa histórica, entre
professor e os alunos. Torna-se imprescindível que o aluno ao vivenciar a prática do ofício do
historiador possua conhecimentos no âmbito conceitual e metodológico, permitindo-lhe
compreender, utilizar e dominar instrumentos básicos da produção do conhecimento histórico.
Outro aspecto importante que deve-se ressaltar, está na problematização e significação dos
documentos. As fontes históricas constituem-se em marcas do passado, vestígios e indícios
que evidenciam significados ao serem trabalhados pelo historiador. É a construção do
historiador, o seu olhar que dará (re)significação às fontes históricas, conforme a sua
problematização. Isso é importante ser percebido pelos alunos, pois uma fonte histórica não
se expressa sozinha,ou seja, é a detentora da verdade, como acreditavam os historiadores
positivistas. Um dos papéis do historiador, consiste na análise crítica das fontes históricas.
Será relevante na perspectiva desse projeto o trabalho ativo e construtivo dos alunos, sendo o
professor um mediador da produção do conhecimento histórico. Serão olhares diferenciados
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que farão indagações, questionamentos e problematizações sobre determinado tema.


Esta proposta pode ser universal, contudo deve-se ter o cuidado para não recair num
caráter de ludismo do ensino de História. Como também, atentar que a realização de tal
proposta metodológica consiste numa relação de ensinar e aprender História, tendo como
parâmetro a produção do conhecimento histórico. Para tanto se torna necessário procurar
realizar opções teóricas, metodológicas e historiográficas, como também, escolher recortes
temáticos, temporais, espaciais e conceituais. Com isso, o desafio de se trabalhar com o
processo da pesquisa histórica em sala de aula está lançado! Os interessados ao realizarem
esta experiência metodológica com certeza poderão contribuir para estimular um diferencial
nas aulas de História; enquanto professores dessa disciplina, semearão e colherão resultados
que demonstrarão indícios de mudanças, nas concepções pré-estabelecidas da relação ensino-
aprendizagem, e sobretudo, permitirão ao aluno refletir sobre a 'verdade histórica'.
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REFERÊNCIAS

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Boitempo,1997.

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(org). Fontes Históricas. São Paulo: Contexto, 2006.

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20

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