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Cadernos PDE
I
OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE
NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
A EDUCAÇÃO HISTÓRICA E A APRENDIZAGEM DE CONCEITOS: UMA
EXPERIÊNCIA COM AULAS-OFICINA
Resumo
Para muitos alunos, as aulas de História se limitam a discutir fatos e problemas do passado. A
dificuldade de compreendê-la tira dela a sua importância. A questão é como envolver os alunos nas
aulas de História, levá-los a dar significados aos conteúdos, aprender o conteúdo e seus conceitos,
aprimorar a consciência histórica? Partindo dessas questões, verificamos a necessidade de envolver
o aluno no processo de ensino aprendizagem através de estratégias metodológicas desenvolvidas no
interior da própria sala de aula, sob orientação teórico-metodológica da Educação Histórica. Assim, o
estudante, ao identificar o significado do conteúdo e construindo o conhecimento histórico, aprimora
sua consciência histórica. De acordo com a Educação Histórica é de suma importância compreender
como o aluno pensa, fazendo uma investigação dos conceitos trazidos por ele. A sala de aula se
transforma em local de pesquisa, onde se questiona e investiga as fontes, aprimorando, assim, o
conhecimento. Para se chegar a este resultado fala-se em aulas-oficina. Esta metodologia tem o
objetivo de fazer com que o aluno construa seu conhecimento através de atividades individuais e em
duplas, que progressivamente vão dando sentido ao conteúdo estudado. Atividades essas, que
devem ser desafiadoras, e com fontes variadas.
1 Introdução
1
Professora participante do Programa de Desenvolvimento Educacional - PDE, turma 2014 -
SEED/Pr, especialista em História Política Brasileira e Neuropedagogia em Educação, Professora da
Rede Pública Estadual da cidade de Marialva-Pr. E-mail: marciafragalli@seed.pr.gov.br
2
Professora da Universidade Estadual de Maringá, Mestre em História Social pela Universidade
Estadual de Londrina.
ideia. É preciso saber os conceitos, dar significação aos fatos e relacioná-los,
identificar o espaço e o tempo em que aconteceu.
A questão é como envolver os alunos nas aulas de História, levá-los a dar
significados aos conteúdos, aprender o conteúdo, aprimorar a consciência histórica?
Partindo dessas questões verificamos, então, a necessidade de se criarem novas
metodologias para dar suporte ao trabalho docente, apontar práticas que possam
trazer melhores resultados. É envolver o aluno no processo de ensino aprendizagem
através de estratégias metodológicas desenvolvidas no interior da própria sala de
aula, sob orientação teórico-metodológica da Educação Histórica. Identificar o
significado do conteúdo para a construção do conhecimento histórico, ou seja,
aprimorar a consciência histórica dos estudantes.
O PDE (Programa de Desenvolvimento Educacional) proporcionou, através
da universidade, o aprofundamento teórico relacionado à disciplina de História,
apontando como foco o estudo da Educação Histórica.3
Longe do que se pensa sobre a disciplina de História, ela não faz parte do
passado. Seus fatos não estão tão distantes. Ela pode ser pensada como formadora
de consciência crítica individual ou coletiva, como experiências onde homens e
mulheres, personagens dessa história, agiram, pensaram, organizaram-se, lutaram,
ganharam ou perderam, mas, viveram e se tornaram, assim, os personagens
principais. A história não é feita só de heróis, existe um grande elenco de atores que
possuem igualmente a mesma importância.
Para Bittencourt (2004), os conceitos precisam estar claros para que sejam
empregados corretamente. Conceitos como revoluções, burguesia, povo, rei,
monarquia, sindicato, clero, cidade, família não existiram sempre em todo tempo e
lugar, eles fizeram parte de um contexto. “Esses conceitos e noções empregados
com frequência são evidentemente necessários para tornar o objeto histórico
inelegível. No entanto, é importante que se forneça uma descrição mais precisa
deles.” (BITTENCOURT, 2004, p. 193).
Para o ensino de história além dos conceitos, o tempo e o espaço são noções
que devem estar presentes para que a aprendizagem faça sentido. É difícil para o
aluno compreender o tempo. O que aconteceu antes e o depois. Conseguir
relacionar vários fatos que se relacionam, mas estão em espaços diferentes. Até
mesmo a noção de espaço não é muito simples, já que ele pode não estar
necessariamente ligado a um mapa geográfico.
As ações humanas precisam ser situadas no espaço, e a cartografia é um
bom instrumento para isso, porém muitos historiadores vêm estudando as diferentes
apreensões de espaço pelas diversas sociedades que podem estar ligadas a
contatos comerciais, sotaques, casamentos e outros.
Não basta que o aluno consiga datar os acontecimentos de forma
cronológica, este conhecimento deve estar acompanhado de uma reflexão sobre o
significado da datação para o entendimento dos acontecimentos históricos.
(BITTENCOURT, 2004).
A consciência histórica não é algo que os homens podem ter ou não – ela é
algo universalmente humano, dada necessariamente junto com a
intencionalidade da vida prática dos homens. A consciência histórica
enraiza-se, pois, na historicidade intrínseca à própria vida humana prática.
Essa historicidade consiste no fato de que os homens, no diálogo com a
natureza, com os demais homens e consigo mesmos, acerca do que sejam
eles próprios e seu mundo, têm metas que vão além do que é o caso.
(CERRI apud Rüsen, 2001, p. 100).
Para que o educando não tenha em vista a História como uma disciplina vazia
e atinja os objetivos do seu ensino é imprescindível que ele tenha em vista a ideia
da:
3 Estratégias de ação
4 Relato da Implementação:
Foi feito um levantamento dos conhecimentos prévios dos alunos, por meio
de questionários em relação aos conceitos em questão, em seguida houve a
exposição do conteúdo como preparação para a próxima etapa, que foram as
interpretações cruzadas de fontes variadas. Feito isso, os alunos realizaram as
tarefas. Para finalizar foi feito um feedback.
Ao final de cada item estudado, os alunos revisaram seus conceitos e
reformularam quando necessário. Tudo o que era produzido em grupo, em pares ou
individualmente era registrado e compartilhado. Concluídos esses passos,
realizamos a avaliação.
Após passar por um aprofundamento teórico e elaboração do projeto de
Intervenção Pedagógica, realizamos a produção didático-pedagógica. Esta com
carga horária de 64 horas, sendo que 32 aulas foram de trabalhos ministrados com
os alunos da 3ª série do Colégio Romário Martins, do distrito de Aquidaban,
município de Marialva.
A direção e equipe pedagógica do colégio receberam muito bem a proposta,
por perceberam a importância do projeto. Os alunos, por sua vez, foram bastante
receptivos por perceberem o quanto contribuiria para a sua formação.
A Implementação foi dividida em três partes:
A primeira foi o momento de abordagem do conteúdo “A Proclamação da
República”. Em seguida, recolheram-se as ideias prévias a partir da narrativa dos
alunos sobre o que significaria viver em um Estado Republicano e a diferença entre
uma Monarquia, Democracia e Ditadura. Nessa atividade foi constatado um
conhecimento superficial dos conceitos apresentados.
Foram apresentadas aos alunos duas fontes para estudo, o hino da
Proclamação da República e uma crônica de Lima Barreto “15 de Novembro”, onde
além de identificar as fontes e analisar cada uma individualmente, os alunos também
analisaram a república proposta no hino, os problemas apresentados na crônica e a
república em que vivemos.
Continuando o trabalho, vieram os textos historiográficos para análises, que
foram “República”, do “Dicionário de política”, de Norberto Bobbio, e um texto de
Emília Viotti da Costa, do livro “Da monarquia à república: momentos decisivos”.
Nessa atividade, os alunos fizeram a elaboração de narrativas e compartilhamento
de ideias.
Também foi realizada uma atividade na qual os alunos pesquisaram quando,
onde e por quem a república foi proclamada, os interesses da elite e da classe
média e se houve projetos políticos para os menos favorecidos daquele contexto
histórico.
Percebemos dificuldade na interpretação dos textos, comparação das fontes,
e das questões propostas, assim como na produção das narrativas históricas que
eram requisitadas nas atividades. Trabalharam bem em grupos, assim como
individualmente, porém houve dificuldade em fazê-los participar ativamente dos
debates e dos momentos de compartilhamento das respostas, uma vez que os
alunos mais tímidos sempre deixavam para os mais desinibidos falarem.
Apesar das dificuldades descritas, o feedback foi significativo, como se pode
observar no texto de uma aluna, que após conceituar Monarquia, República,
Democracia e Constituição escreve:
Após o feedback foi feita uma avaliação, na qual os alunos elaboraram uma
narrativa sobre um evento republicano da atualidade, fazendo uma crítica positiva ou
negativa e tiveram resultado regular. Por isso foi feita uma revisão e recuperação
desses conceitos, e os alunos reformularam suas respostas.
Na segunda parte, abordamos a República das Oligarquias. Nesse momento
da implementação foi constatado um conhecimento um pouco maior do que na
primeira etapa. Os alunos tinham um relativo conhecimento sobre os direitos e
conceitos presentes na Constituição brasileira.
Nessa etapa, os alunos analisaram como fonte a imagem de Alfredo Storni,
“As próximas eleições... „de cabresto‟”, e um trecho do livro de Jorge Amado
“Gabriela, cravo e canela”. Na fonte de Alfredo Storni analisou-se a critica expressa
pela imagem, assim como a consciência política do eleitor brasileiro na atualidade.
No trecho do livro “Gabriela, cravo e canela”, os alunos, além da análise da
fonte, compreenderam que obras de ficção podem ser usadas como ferramenta para
ajudar a pensar sobre a Primeira República.
Na sequência, foram utilizados vários textos historiográficos para pesquisa e
análise dos seus conceitos, indicações das problemáticas apresentadas, assim
como divergências e convergências entre os mesmos. Nessa intervenção
pedagógica estudou-se o conceito de “Oligarquia” do “Dicionário de conceitos
históricos”, de Karina Vanderlei Silva e Maciel Henrique Silva, a Primeira
Constituição Republicana de 1891, contida no livro didático, “História sociedade &
cidadania” de Alfredo Boulos Junior e um trecho do livro, “Aprendendo a votar”, de
Letícia Bicalho Cânedo.
Foram apresentados também, para análise, “Democracia na Europa”,
“Democracia no Estado Moderno e Contemporâneo” ambos do “Dicionário de
conceitos históricos”, de Karina Vanderlei Silva e Maciel Henrique Silva, e
“Democracia na Primeira República?”, do livro “Os bestializados”, de José Murilo de
Carvalho.
Nesse momento do estudo, percebemos menor dificuldade na interpretação
dos textos e das questões propostas, assim como na produção das narrativas
históricas. Os alunos demonstraram estar entendendo o processo do estudo
proposto. Como na etapa anterior, trabalharam bem em grupos, assim como
individualmente, mas as dificuldades na participação ativa nos debates e nos
compartilhamentos das respostas de todos continuaram. Essa situação não estava
no fato de não saberem se expressar, ao contrário, faziam-no muito bem, a questão
era que alguns alunos não se dispunham a compartilhar.
No feedback, muitos alunos demonstraram estar entendendo a questão do
processo eleitoral da República Velha e a importância do voto consciente como
demonstrado no texto a seguir, escrito por um aluno:
Como parte de todo este trabalho do PDE, não se pode esquecer do Grupo
de Trabalho em Rede (GTR). Foi um momento de grande troca de experiências e
partilhas das angústias e dificuldades. A participação dos professores cursistas
neste trabalho foi muito significativa, concluindo-se que os problemas apresentados
nesta produção pedagógica são encontrados em todas as realidades que se
apresentaram no curso do GTR, assim como a inquietação e procura por parte dos
professores de metodologias que apontem soluções para um ensino de História
mais significativo e formador de consciência histórica.
5 Considerações Finais
Referências.
CÂNEDO, Letícia Bicalho. Aprendendo a votar. In: PINSKY, J.; PINSKY, C. (Org.).
História da cidadania. São Paulo: Contexto, 2010.
LUCA, T. Direitos Sociais no Brasil. IN: PINSKY, J.; PINSKY, C. (Org). História da
cidadania. São Paulo: Contexto, 2010.
PRIORE, Mary Del. O livro de ouro da história do Brasil. Rio de Janeiro: Ediouro,
2001.
1. Fontes
AMADO, Jorge. Gabriela, cravo e canela. São Paulo: Livraria Martins, 1958.
AMARAL, Tarsila do. Operários. 1993. Óleo sobre tela, 150 cm x 205 cm. Acervo
do Governo do Estado de São Paulo.