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METODOLOGIA DE ATENDIMENTO ÀS
FAMÍLIAS
Belo Horizonte
2017
Governador do Estado de Minas Gerais
Fernando Damata Pimentel
Gabriella de Sá Campos
Analista Executivo de Defesa Social-Assistente Social
CSE de Pirapora
1 Introdução ........................................................................................................................... 9
1.1 Marco Conceitual ................................................................................................................... 9
2.2.1 Visita domiciliar e comunitária nos casos de adolescentes que cumprem medida fora de sua
comarca de origem ........................................................................................................................... 22
Ressalta-se que a Constituição Federal de 1988, em seu art.1º, inciso III, consagra
como fundamento da República Federativa do Brasil, o princípio da dignidade humana, que
será o fundamento para todo o ordenamento jurídico pátrio e serve como base para repensar as
relações sociais e a garantia para crianças e adolescentes a uma vida afetiva saudável. No que
se refere à responsabilidade do Estado com relação à família, o art.226 da constituição afirma:
“A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado”.
Deparamo-nos com a importância da mobilização do Estado e da Sociedade para que
os(as) adolescentes não sejam vistos de maneira desarticulada de seu contexto familiar e
comunitário. No bojo da proteção integral, o ECA marca a centralidade do papel da família na
vida da criança e do adolescente. Os (as) adolescentes são indivíduos em formação e
necessitam da plena convivência familiar e comunitária para o desenvolvimento de suas
capacidades. Assim, instituir no âmbito das medidas socioeducativas uma metodologia de
trabalho com as famílias visa delinear um trabalho consistente acerca dos vínculos familiares
e comunitários e o acompanhamento da medida.
Para construir a metodologia de trabalho com as famílias dos(as) adolescentes em
cumprimento das medidas socioeducativas de internação sanção, internação provisória,
semiliberdade e internação, partiu-se das principais normativas que orientam as medidas
socioeducativas. As orientações desta metodologia são para as medidas socioeducativas
privativas de liberdade, e quando houver especificidades em relação a cada uma delas, elas
serão descritas.
O século XXI foi inaugurado por novas concepções sobre a definição de família. As
relações sociais estão mais permeadas pela fluidez e menos pelo caráter definitivo dos
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arranjos familiares. As composições familiares contemporâneas não apresentam mais o
padrão tão claramente determinado pelos costumes e pela lei. A própria Constituição de 1988
trouxe um princípio importante para tal discussão, afirmando que não há um modelo definido
de família, ao contrário do Código Civil de 1916, que reconhecia como núcleo familiar apenas
aquele oriundo do casamento. Esta metodologia está ancorada em uma concepção estendida
de família que procura acompanhar as transformações ocorridas na sociedade ao longo do
último século e não mais a restringe ao núcleo constituído unicamente por pais e filhos.
De acordo com o artigo 25 do ECA,
“Entende-se por família natural a comunidade formada pelos pais ou qualquer deles
e seus descendentes. Entende-se por família extensa ou ampliada aquela que se
estende para além da unidade pais e filhos ou da unidade do casal, formada por
parentes próximos com os quais a criança ou adolescente convive e mantém
vínculos de afinidade e afetividade”.(BRASIL, 1993)
“A família pode ser pensada como um grupo de pessoas que são unidas por laços de
consanguinidade, de aliança e de afinidade. Esses laços são constituídos por
representações, práticas e relações que implicam obrigações mútuas. Por sua vez,
essas obrigações são organizadas de acordo com a faixa etária, as relações de
geração e de gênero, que definem o status da pessoa dentro do sistema de relações
familiares”.(BRASIL,2006)
Lima (2005) e Mioto e Nora (2006) apontam três vertentes possíveis para definições
de família: domicílio, o parentesco e o afeto. Referente ao domicílio, a família é entendida a
partir daqueles membros que vivem numa mesma residência. Quanto à definição de família
baseada no conceito de parentesco, consideram-se os laços consanguíneos ou biológicos, mas
não necessariamente a convivência desses entes na mesma moradia. Já no que tange ao
conceito que abrange as relações afetivas, define-se como grupo familiar aquele constituído
por pessoas que compartilham de relações afetivas, podendo compreender indivíduos que não
tenham laços de consanguinidade, ou que, tampouco, morem na mesma residência.
Diante disso, percebe-se que, atualmente, a família se constitui de diversas formas, que
já são, inclusive, compreendidas pela legislação brasileira e demais normativas. Esse fato nos
exige compreender o contexto familiar para além do arranjo da família natural.
A família, como espaço complexo e muitas vezes contraditório, onde a função de
cuidado e proteção e as situações de violação podem co-existir, tem sido alvo de diversas
discussões para as políticas sociais. Importa ressaltar que a execução das medidas
socioeducativas não deve ser caracterizada como uma política social estritamente. Embora
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apresente um viés social importante, que prima pela garantia de direitos, a medida
socioeducativa é uma medida judicial imposta em caráter responsabilizante, diante da prática
de ato infracional. Deste modo, nos serviremos do trabalho com as famílias já percorrido
pelas políticas sociais, advertidos de que não cabe às medidas socioedutivas substituí-las. Em
nosso caso, nos interessa trabalhar a família na sua relação com o (a) adolescente que está
cumprindo a medida socioeducativa. Assim, distinguem-se duas lógicas bem diferentes.
As políticas sociais podem ser enquadradas numa lógica de inclusão (SUAS), ou seja,
numa lógica que é para todos e deve atingir o maior número possível de cidadãos. Já as
medidas socioeducativas, por sua vez, devem estar calcadas na lógica de exceção preconizada
pelo SINASE e apenas devem ser aplicadas em caso de cometimento de ato infracional de
modo a proporcionar oportunidade para que o adolescente possa se responsabilizar. As
medidas socioeducativas não podem substituir, de modo algum, as políticas sociais básicas,
ainda que exista a previsão de que no decorrer do cumprimento da medida socioeducativa tais
políticas precisam ser acionadas para que se comprometam na garantia dos direitos dos
adolescentes e de suas famílias, sendo a medida então, o elemento articulador que
proporcionará o encontro entre as políticas públicas e o público que delas carece.
Embasados nesse contexto, para fundamentar esta metodologia, partimos de uma das
concepções proposta por Mioto (2007) para explicar a centralidade da família nas políticas
sociais. Essa vertente explica que, para as famílias desempenharem as funções que lhes são
atribuídas, é necessário que elas também tenham o direito à proteção social que deve ser
assegurado pelo Estado. Para tanto, a Política Nacional de Assistência Social- PNAS afirma
que as famílias têm direito ao acesso às condições básicas para responder ao dever de
proteção, guarda, sustento e educação de seus membros, mas para isso, devem ser apoiadas
por políticas sociais que as incluam socialmente, favorecendo a superação de suas
vulnerabilidades e visando seu empoderamento.
É importante atentarmos para o cuidado necessário à operacionalização dessa prática,
pois, de acordo com Pereira (2008), o objetivo das políticas sociais, cujo trabalho é voltado
para a família, não deve ser o de pressionar os indivíduos para que assumam
responsabilidades além de suas possibilidades, mas de oferecer-lhes alternativas para o
exercício de sua cidadania.
Assim, é a partir da concepção de matricialidade sociofamiliar, advinda das demais
políticas sociais, que esta metodologia compreende “a família como núcleo social básico de
acolhida, convívio, autonomia, sustentabilidade e protagonismo social.” (NOB SUAS, 2005)
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1.2 Marco Legal
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fortalecer os vínculos afetivos e corresponsabilizar os familiares no processo socioeducativo
dos(as) adolescentes. Para isto, a metodologia de acompanhamento às famílias baseia-se em
ações que possibilitam tanto uma melhor compreensão do contexto e das relações familiares,
como o fortalecimento e/ou a retomada dos vínculos do(a) adolescente com seu núcleo
familiar. Desta forma, a metodologia elenca como estratégias de intervenção uso dos
seguintes dispositivos: atendimento técnico, visita domiciliar, grupos e eventos, articulação da
rede social, visita do(a) adolescente à família e visita da família ao (à) adolescente na unidade.
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2.1 Atendimento Técnico
O atendimento técnico é uma intervenção direta junto à família que busca desenvolver
a reflexão da importância do papel dela na medida, bem como trabalhar sua participação,
articulando família – adolescente – instituição. Além disso, é um momento de escuta e
identificação de demandas que apontem possibilidades de intervenção tanto com a família,
quanto com o (a) adolescente. Trata-se primordialmente de um momento de escuta, visando a
construção do modo de acompanhamento a ser desenvolvido. Logo, os atendimentos têm como
ponto de partida localizar a função da presença familiar para o cumprimento de medida
socioeducativa do adolescente, subsidiando encaminhamentos e articulações necessárias e
propícias em cada caso.
O atendimento técnico é de extrema importância para a condução do acompanhamento
familiar. É neste espaço que podem ser tratados os impasses e avanços na corresponsabilização da
família pelo(a) adolescente. Trata-se, também, de um momento no qual o técnico se apropria da
história e da demanda de cada família, a fim de melhor intervir em sua realidade, bem como avaliar
e construir com os familiares os possíveis encaminhamentos à rede.
O trabalho deve, então, ser pensado a partir dos atendimentos. Assim, além de ser um
espaço de propostas e intervenções, o atendimento técnico constitui-se, também, como momento
de retorno dos efeitos da condução que tem sido realizada. Neste espaço, o técnico deve estar
atento para entender o que a família endereça à unidade e ao (à) adolescente, bem como para
perceber os efeitos do próprio atendimento e dos demais encaminhamentos sobre a família. Ou
seja, este é um momento importante de colher os “ecos” do trabalho da instituição tanto com a
família quanto com o (a) próprio(a) adolescente e, se necessário, ajustar ou redirecionar o
acompanhamento. Assim, quando pertinente, o técnico auxiliará a família a elaborar saídas para
seus impasses na relação com o (a) adolescente.
Deste modo, faz parte do atendimento à família a escuta e atenção aos sujeitos. Ao
mesmo tempo, cabe à equipe prestar informações e orientações sobre o cumprimento da
medida socioeducativa do(a) adolescente e a importância da família nesse processo. Nesse
sentido, podem ser utilizadas técnicas de caráter lúdico, formativo, informativo e de
socialização. Toda a equipe socioeducativa deve convocar a família a tomar parte do
acompanhamento do adolescente nas mais diversas áreas do atendimento. Esta participação
ativa da família em todos os âmbitos da medida traduz a corresponsabilização, essencial na
medida socioeducativa. Sendo a corresponsabilização da família um ponto de extrema
importância para o (a) adolescente em cumprimento da medida, a ação de convocar e
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sensibilizar a família não pode ser tratada como prerrogativa exclusiva de qualquer das áreas
que compõem o atendimento socioeducativo, sendo esta uma função a ser compartilhada por
toda a equipe, de modo que, de acordo com o momento do(a) adolescente na medida, pode vir
a ser necessária a intervenção mais efetiva de um profissional específico, não isentando os
demais de acompanharem e respaldarem o processo.
Cabe a toda equipe técnica realizar o acompanhamento sociofamiliar. Portanto, o
atendimento à família deve reunir elementos que possam contribuir para a responsabilização
do(a) adolescente e quando pertinente, retornar para a família os efeitos que seu modo de
organização tem para o (a) socioeducando(a) para que novas possibilidades de
posicionamento se apresentem para todos. Exemplificamente, cabe à equipe técnica perceber
como o (a) adolescente está inserido na dinâmica familiar, retomar a vida escolar do jovem e
construir perspectivas para a continuidade desta, bem como ajudar a família a compreender
melhor a relação do(a) adolescente com a escolarização, convocando-a a acompanhar suas
dificuldades e avanços, além de trabalhar o interesse dele por cursos, almejando sua
profissionalização; apresentar os aparatos da rede pertinentes ao caso; incluir a família nos
encaminhamentos realizados junto com o (a) adolescente à rede; identificar demandas
apresentadas pela família e efetuar encaminhamentos para programas sociais e a rede pública
de saúde; informar a família sobre a situação processual do(a) adolescente; buscar informação
com a família sobre a trajetória infracional do adolescente, assim como prestar
esclarecimentos sobre a mesma; orientar sobre o acesso à Defensoria Pública e acompanhar o
(a) adolescente e sua família nas audiências, quando necessário; oferecer um espaço de escuta
diferenciado para que a família possa trazer um pouco de sua história, de modo que seja
possível reconhecer o lugar que ocupa o adolescente na dinâmica familiar, ou seja,
compreender de que maneira ele pôde construir para si um lugar na família, maneira esta que
influenciará as futuras relações que ele (ela) construirá ao longo de sua vida.
Embora o arcabouço teórico desta metodologia seja fundamentado na prática do
Serviço Social, o trabalho com as famílias dos adolescentes em cumprimento de medida
socioeducativa não se constitui como trabalho exclusivo deste profissional. Ressalta-se que os
atendimentos técnicos à família, bem como as visitas domiciliares, podem ser realizados por
qualquer técnico da instituição, de acordo com o objetivo desses instrumentos e conforme a
orientação da direção.
A equipe deve priorizar a intervenção e a construção técnica no trabalho com os
familiares dos(as) adolescentes, independentemente se este familiar apresentar características
que podem vir a dificultar o vínculo com o (a) adolescente, como no caso de este estar
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envolvido com a criminalidade. Deve-se priorizar o fortalecimento das capacidades
protetivas, a participação do familiar na construção do cumprimento da medida
socioeducativa em conjunto com o (a) adolescente e com a unidade, bem como o acesso à
garantia de direitos. O trabalho com as famílias deve primar pelo trabalho técnico e não deve
ter caráter investigativo da trajetória infracional ou criminal dos familiares.
Como disposto no Regimento Único das Unidades de Execução da Medida
Socioeducativa de Semiliberdade (2016), o atendimento à família deve ser realizado, no
máximo, a cada quarenta e cinco dias, e sempre que a equipe avalie necessário.
Na medida socioeducativa de internação, o atendimento à família deve ser realizado
conforme orientações do Regimento Único dos Centros Socioeducativos do Estado Minas
Gerais (2016), e sempre que a equipe considerar necessário. O atendimento deve ser realizado
pessoalmente, mas se não for possível, este deve ser realizado por telefone, de forma que a
família tenha conhecimento sobre o andamento do cumprimento de todos os eixos da medida
pelo adolescente.
Na internação provisória e na internação sanção não há um prazo para atendimento às
famílias, mas devem ser realizadas o mais breve possível, e de preferência, pessoalmente. Os
atendimentos podem ser realizados nos dias de visitas da família ao (à) adolescente na
unidade, as quais são acompanhadas por representante da equipe técnica com objetivo de
levantar as demandas familiares, estabelecer o vínculo família-instituição e analisar os
vínculos familiares. É um momento importante para o acesso aos familiares e para verificar
quem são as pessoas de referência para o (a) adolescente, e que se tornarão referência também
para a unidade. Para tanto, a equipe técnica deve acompanhar os horários de visitação,
prontificando-se a atender as demandas dos familiares e até mesmo mediar possíveis
conflitos.
Nas medidas socioeducativas, os atendimentos técnicos à família podem ser
classificados da seguinte maneira:
Atendimento técnico
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2.1.1 - Atendimento inicial:
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familiar conhecer as oficinas, a escola e os espaços da unidade, de maneira a ampliar o
conhecimento dele sobre as atividades realizadas, sobre os profissionais que executam o
trabalho e sobre como o (a) adolescente se insere nos eixos da medida socioeducativa,
contribuindo assim, para a corresponsabilização e a participação do familiar no cumprimento
de medida do(a) adolescente. Sempre que possível e a equipe da unidade avaliar a viabilidade
disso junto à direção, o (a) adolescente deve estar presente nesta visita, inclusive como um
guia. Para isso, ele deve ser incentivado e orientado a ser um participante ativo durante a
apresentação da unidade.
Ressalta-se que o ato de acolher as famílias não é um ato presente somente no
atendimento inicial, mas deve ser uma postura ativa durante todo o trabalho realizado com as
famílias.
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sendo esta a parte conclusiva do Plano Individual de Atendimento – PIA, representa o
comprometimento do(a) adolescente com os eixos do cumprimento da medida socioeducativa
e as ações de responsabilidade da família perante o processo socioeducativo do(a)
adolescente, conforme Metodologia do PIA (SUASE, 2014).
Os atendimentos técnicos à família devem ser registrados em formulário específico
que se encontra no anexo I desta metodologia.
Visita Domiciliar
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A entrevista e a observação são técnicas necessárias para a realização da visita
domiciliar. A entrevista poderá ocorrer com perguntas abertas ou semiestruturadas
direcionadas ao objetivo da visita. Conjugada à entrevista, deve-se utilizar a técnica da
observação visando apreender o que está à volta, aquilo que não é dito e as relações entre os
sujeitos envolvidos.
A visita domiciliar poderá ser realizada, ainda, como forma de sensibilização dos
familiares, buscando implicá-los na medida socioeducativa, aproximá-los da instituição, bem
como orientá-los sobre sua condição de representantes legais dos adolescentes em
cumprimento de medida socioeducativa e, portanto, corresponsáveis por este processo. Desta
forma, orienta-se que a visita domiciliar também seja realizada nos casos de falta, omissão ou
não comparecimento da família à unidade, como uma das possibilidades de intervenção.
Outra importante função da visita domiciliar é a de buscar e detectar possíveis
referências para o (a) adolescente, em casos em que ele possua vínculos familiares
fragilizados ou inexistentes.
Esta visita deve ser efetuada por profissionais da equipe técnica, necessariamente em
dupla. A definição dos profissionais que participarão da visita domiciliar deve considerar as
especificidades do caso e os objetivos propostos para esta ação.
Faz-se necessário questionar a finalidade da realização da visita domiciliar, de modo a
orientar as ações ou intervenções a serem desenvolvidas durante a permanência da equipe no
domicílio. Para isso, Amaro (2003) contribui para o trabalho, a partir de três perguntas: “Por
que visitar? Quando visitar? Com quem visitar?”, as quais colaboram para a definição dos
objetivos da visita, o momento adequado para a realização desta e de quais os profissionais
que estarão presentes. Desta forma, durante as discussões entre a equipe técnica e o corpo
diretivo devem-se delimitar esses pontos antes da realização da visita domiciliar,
considerando as tentativas de atendimento e de abordagem às famílias já realizadas, os
alcances e impasses no trabalho com a família e as estratégias importantes de serem adotadas.
É importante que a equipe técnica comunique a família sobre a realização da visita, de
forma que os familiares possam organizar sua rotina para receber os profissionais da unidade.
Cabe ressaltar que nos casos em que não se tem contato com família ou que esta não exerce
sua função protetiva, a visita domiciliar deve ser realizada como uma das estratégias para
sensibilização e corresponsabilização da família, não sendo a impossibilidade deste contato
prévio um impedimento para a efetivação da visita.
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Uma das ações a ser realizada antes da visita é o levantamento de informações através
dos equipamentos da rede de base territorial (CRAS, escola e centro de saúde) quanto à
existência de conflitos locais na região do domicílio, os quais impossibilitam ou restringem
até mesmo a circulação das equipes destes serviços, a fim de que a equipe da unidade
socioeducativa avalie quando e qual a melhor forma de garantir a realização da visita.
Em relação à frequência para realização das visitas domiciliares, há especificidades
para cada medida socioeducativa. Como disposto no Regimento Único das Unidades de
Execução da Medida Socioeducativa de Semiliberdade (2016), a visita domiciliar deverá ser
realizada “de forma a conhecer a realidade sociofamiliar do adolescente, devendo a primeira
ser realizada em até trinta dias a contar da admissão.” As visitas domiciliares subsequentes
deverão acontecer sempre que a equipe avaliar necessário.
No que se refere à medida de internação, orienta-se que a equipe avalie a necessidade
da realização de visita domiciliar no início do cumprimento da medida, uma vez que os
familiares podem ser abordados no âmbito institucional, nas visitas dos familiares aos (às)
adolescentes, em encontros agendados com profissionais da unidade, entre outros.
Cabe ressaltar que nas medidas socioeducativas de semiliberdade e de internação, as
equipes deverão realizar ao menos uma visita domiciliar às famílias de adolescentes em
processo de desligamento, preferencialmente, antes do estudo de desligamento. Esta última
visita domiciliar é fundamental por se configurar em um fechamento do processo de
cumprimento da medida. Portanto, é um momento importante para colher os efeitos do
cumprimento da medida na família, bem como realizar uma devolutiva sobre esse período. Ou
seja, é uma ação primordial tanto para apreender a qual foi a importância e o significado desse
processo para a família, como para pontuar o que pode ser percebido pela equipe. Ademais,
podem ser identificadas questões que ainda necessitam de algum encaminhamento para a
rede, visando um desligamento cuidadoso e bem articulado.
Na medida de internação provisória não há uma obrigatoriedade quanto à
periodicidade de tal visita, não havendo temporalidade específica e nem prazo determinado
para sua realização, cabendo o questionamento do porquê, quando e com quem visitar. Nesta,
tal dispositivo torna-se imprescindível para os casos em que não foi possível o contato com a
família para informar sobre o acautelamento provisório ou nos casos em que a família não
compareceu à unidade para a visitação do(a) adolescente.
Na medida de internação-sanção, as visitas devem ser realizadas quando pertinente ao
caso e com objetivo previamente definido. Ao avaliar a necessidade da visita, deve-se
considerar a possibilidade de envolver os técnicos da medida de origem. Caso eles não
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estejam presentes, é imprescindível que as informações obtidas nas visitas domiciliares sejam
repassadas e discutidas com o técnico de referência do(a) adolescente que o acompanhará
quando terminado o prazo da sanção. É importante também que a equipe da internação-sanção
colha com a equipe da medida de origem as informações relevantes sobre os atendimentos e
visitas já realizadas.
2.2.1 Visita domiciliar e comunitária nos casos de adolescentes que cumprem medida
fora de sua comarca de origem
A [...] visita domiciliar deve ser utilizada como um recurso para o trabalho [...] com
a família, com o objetivo de levantar possíveis referências do adolescente, iniciar o
trabalho de sensibilização da família e conhecer os equipamentos da rede. (SUASE,
2017, p.33)
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atividades de integração para as famílias dos adolescentes, conforme dispõe o SINASE
(2012).
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Após a visita familiar, cabe à unidade acolher e mediar com o (a) adolescente e seus
familiares os efeitos dessa convivência para o cumprimento da medida socioeducativa. Deve
ser colhido um retorno de como foram as visitas, tanto para o adolescente, como para a sua
família, além de perceber como ela se organiza para recebê-lo e qual o lugar que ele ocupa na
mesma. Não se trata de investigar as ações do(a) adolescente em sua visita, tampouco de
acolher denúncias dos familiares, mas sim de colocar-se a trabalhar os efeitos da convivência
familiar e da saída para o cumprimento de sua medida. Assim, o acompanhamento da referida
visita possibilita que o(a) adolescente ou o seu familiar enderece à unidade seus impasses
nessa convivência, convocando a equipe a auxiliá-los na busca de possibilidades para esse
convívio. Para tanto, a unidade deve:
- Realizar contato telefônico com a família no dia útil subsequente ao retorno do
adolescente;
- Retomar a visita familiar com o (a) adolescente em atendimento;
- Retomar as visitas com a família em atendimento.
Caso haja descumprimento, por parte da família, das condições para realização dessa
visita, estando a família omissa em seu papel e distante da unidade, a equipe deve realizar
visita domiciliar, a fim de melhor entender o contexto apresentado e para convocá-la, uma vez
mais, à sua responsabilidade diante do(a) adolescente. Nos casos em que, apesar da
intervenção constante da unidade, ainda assim a família não cumprir com os requisitos para a
visita, devem ser acionados os demais órgãos de justiça competentes, na tentativa de
responsabilizar os familiares.
Quando o descumprimento for por parte do(a) adolescente, caberá à unidade reavaliar
a autorização para as visitas à família, de maneira que sua próxima visita poderá ser suspensa
até que as condições e o objetivo desta sejam retomados e trabalhados com o (a) adolescente,
de modo que ele se reposicione diante dos compromissos assumidos e, posteriormente, retome
sua circulação no ambiente familiar de maneira responsável.
As visitas domiciliares devem ser registradas em formulário específico que se encontra
no anexo II desta metodologia.
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de Execução da Medida Socioeducativa de Semiliberdade (2016). Cabe ressaltar que na
primeira visita do(a) adolescente à sua residência, o responsável legal deve busca-lo na
unidade.
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ficar claro ao familiar que não se trata de um dispositivo de mera formalidade, mas sim um
compromisso perante a unidade e o adolescente de prezar pelo conteúdo assinado.
Gomes e Pereira (2005) em Família em situação de vulnerabilidade social: uma
questão de políticas públicas explicitam alguns princípios que precisam ser considerados ao
se propor políticas de atendimento. Três destes princípios sobressaem no que concerne ao
Termo de Responsabilidade: a centralidade da família nas políticas públicas; o Estado não
vem para substituir a família; e não é possível falar em política pública sem falar em parceria
com a família.
A centralidade da família em algumas políticas públicas deve-se ao fato de que esta é
potencializadora das ações propostas pelas políticas. Em nosso caso, na execução da medida
socioeducativa, a família é um dos eixos fundamentais que devemos trabalhar, ao lado, por
exemplo, da escolarização e da profissionalização. Focamos nossa metodologia na relação
do(a) adolescente e sua família, ressaltando que nosso modo de trabalho não se iguala ao das
políticas de cunho estritamente social.
Diante disso, é necessário trabalhar com a família o instante anterior à ida do(a)
adolescente para realizar a visita à família aos finais de semana. Incluir a família no momento
preparatório à visita predispõe favoravelmente um maior envolvimento dessa família para
receber o (a) adolescente. Para tanto, é fundamental, além da formalização via Termo de
Responsabilidade, um atendimento técnico presencial da família com a equipe da unidade
para que possa ser trabalhada a importância desse momento para o (a) adolescente,
localizando qual a perspectiva da família para recebê-lo. Ademais, a assinatura do Termo de
Responsabilidade inclui a família nessa atividade e, uma vez inserida, cabe a ela potencializar
esse momento de fortalecimento dos vínculos e resgate da convivência.
Lembrar que o Estado não vem para substituir a família nos remete a pensar sobre o
desligamento do(a) adolescente: Ao fim do cumprimento da medida socioeducativa, ele
retornará integralmente para o convívio familiar e estará sob autoridade e tutela de seus
responsáveis legais. Por isso, durante o cumprimento da medida socioeducativa, a família não
pode se afastar desse dever e direito do(a) adolescente de estar presente com seus familiares.
Mais especificamente na semiliberdade, em que a tutela jurídica do(a) adolescente se reparte
entre família e Estado.
Quanto à proposta de considerar nesse trabalho a parceria com a família, não há que se
pensar de outra forma senão que é a família nossa parceira fundamental. Está posto que esse
contexto de atuação envolve como público indireto essas famílias, as quais passam por
atendimentos e encaminhamentos durante todo o percurso da medida como atores ao lado
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dos(as) adolescentes. O envolvimento da família almeja a contribuição da dinâmica familiar
no processo de integração social e em sua manutenção.
Mais que isso, garantir a visita à família durante o cumprimento da medida nos
permite trabalhar com o (a) adolescente sua posição no núcleo familiar, qual sua contribuição
naquele espaço e como ele responde ao que lhe é imposto. Além disso, propor junto com a
família a acolhida do(a) adolescente no final de semana de maneira responsável, garante à
família a oportunidade de exercer seu papel, ou seja, de responder pelas suas obrigações com
relação àquele(a) adolescente, podendo recorrer à equipe socioeducativa diante das
dificuldades que surgirem. Sendo assim, a convivência familiar possibilitada nessas visitas
deve ser ponto de trabalho da equipe com as famílias e com o(a) adolescente, visando extrair e
manejar os efeitos dessa presença.
Segundo Sarti (1996), o que define a extensão da família é a rede de obrigações que se
estabelece; aqueles, portanto, para com quem se tem obrigações. O Termo de
Responsabilidade demonstra-o claramente: o dever dos pais de receber seus filhos, garantindo
com isso seu direito ao convívio familiar e comunitário. Ao (à) adolescente é importante
proporcionar a inserção na dinâmica familiar para que possa ali desenvolver aptidões e
capacidades. Ao Estado cabe orientar e dar suporte para que as famílias possam assumir a
responsabilidade que lhe cabe. Não se trata de substituir ou destituir, muito pelo contrário, o
Estado deve subsidiar, empoderar, potencializar a atuação da família.
O Termo de Responsabilidade é uma estratégia a ser utilizada pela equipe de
atendimento para responsabilização da família do(a) adolescente quanto a sua participação no
cumprimento da medida socioeducativa e por isso deve ser estabelecido e revalidado, em
atendimento, a cada 45 dias, para a medida de semiliberdade, e para a internação, assinar um
novo termo a cada saída. Nesse trabalho é importante dar à família esse lugar privilegiado de
referência, educação e de transmissão de valores. E é preciso empoderá-las no sentido de que
é essa relação dinâmica que favorecerá o jovem a enfrentar as mudanças, elaborar o seu
projeto de vida e criar capacidades e habilidades para o enfrentamento de situações do
cotidiano.
Quanto à sua finalidade prática, a assinatura do Termo de Responsabilidade tem o
escopo de garantir ao (à) adolescente o retorno à sua casa e a convivência com seus familiares
durante o cumprimento da medida, sendo que o referido termo é o documento que formaliza o
compromisso firmado entre a unidade socioeducativa, a família e o adolescente para que tal
retorno possa ocorrer. Cabe lembrar que o trabalho de fortalecimento dos vínculos entre o (a)
adolescente e seus familiares pode se dar de formas diferentes, para além da visita à família
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no final de semana, ou seja, a visita do(a) adolescente à família não é o único modo de
trabalhar a convivência familiar.
É importante salientar que de forma alguma haverá configuração de omissão por parte
dos responsáveis legais do(a) adolescente que não assinarem o Termo de Responsabilidade
por questões de incompatibilidade do horário de trabalho ou até mesmo pelo reconhecimento
de riscos à segurança do(a) adolescente, se estes comparecem à unidade para visitar seus
filhos ou lhes proporcionam outros momentos do convívio familiar, pensados junto à unidade
socioeducativa.
Há que se ressaltar que a responsabilidade da família na medida não se atém
exclusivamente a receber o (a) adolescente em seus lares nos finais de semana. Existem
alguns casos em que isso não será possível e mesmo assim a unidade buscará estratégias para
que o vínculo familiar não se fragilize, já que o programa de atendimento deve diligenciar no
sentido do restabelecimento e da preservação dos vínculos familiares, conforme previsto no
inciso V, art. 94, do ECA.
Ademais, cabe lembrar que, na esteira da jurisprudência, o implemento da maioridade
civil não nos faz prescindir dos ditames do ECA aos autores de atos infracionais. Sendo
assim, aos jovens entre 18 e 21 anos que cumprem medida socioeducativa também é exigida a
assinatura do Termo de Responsabilidade para que lhe sejam garantidas as saídas de visita à
família. Considerando a interpretação sistêmica da legislação menorista, durante a execução
da medida deve ser considerada a idade do autor ao tempo do fato, e é isso que orienta as
singularidades da execução das medidas socioeducativas.
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Desta forma, o vínculo é considerado uma produção do encontro, de maneira que um dos
resultados esperados da realização de grupos e eventos é o estabelecimento do vínculo entre
as famílias e o fortalecimento do vínculo entre família e o (a) adolescente, e, a família com a
própria equipe socioeducativa.
2.4.1 Grupos
Segundo Pichon-Rivière (1982), grupo é todo conjunto de pessoas ligadas entre si por
constantes de tempo e espaço, e articuladas por sua mútua representação interna, que se
propõe explícita ou implicitamente uma tarefa que constitui sua finalidade. Ainda sobre o
conceito de grupos, Gomes (1996) aduz que é resultado da intersecção da história dos grupos
com a história dos seus indivíduos e seus mundos internos, suas projeções e transferências na
sociedade em que estão inseridos. A ideia é promover mudanças individuais e nas relações
grupais, de modo que há interferência na história individual de cada integrante e na história
que o grupo compartilha, posto que há um denominador comum que os unifica.
A realização de grupos com as famílias dos(as) adolescentes em cumprimento de MSE
de semiliberdade e de internação é uma estratégia da instituição que visa trabalhar o eixo
“Família” de forma dinâmica e coletiva. A realização desse trabalho por meio de grupos,
como instrumento de intervenção, somado a outros instrumentais que podem ser utilizados
nas medidas socioeducativas privativas de liberdade, constitui-se ao mesmo tempo um desafio
e uma possibilidade de produzir efeitos nas relações entre adolescente, sua família e o
território.
Com a especificidade do trabalho com grupos de famílias, no âmbito das medidas
socioeducativas, pretende-se dar um lugar de destaque ao que pode ser produzido por estas
famílias coletivamente. É possível identificar no grupo o exercício de uma função protetiva
que é recíproca e voltada para a afirmação de que são corresponsáveis no processo de
responsabilização do(a) adolescente em cumprimento de medida de semiliberdade e de
internação. O grupo também proporciona a construção, no coletivo, da afirmação de que são
corresponsáveis no processo de responsabilização do(a) adolescente em cumprimento de
medida.
Parte-se do objetivo de conhecimento e aproximação com a realidade de cada família,
bem como o fortalecimento de seus vínculos. O grupo tem uma perspectiva abrangente e ao
mesmo tempo, acolhedora, que considera as diversas características das famílias e as distintas
realidades.
29
Neste sentido, esse tipo de intervenção visa a participação efetiva dos envolvidos,
valorizando os conhecimentos e experiências prévias, a fim de que soluções para as questões
do cotidiano possam ser encontradas coletivamente.
Algumas vezes, as famílias dos adolescentes acautelados provisoriamente ou que
receberam MSE privativas de liberdade apresentam um percurso relativamente extenso pelo
sistema socioeducativo, com isto, expõem certa descrença em novas perspectivas. Assim, o
trabalho por meio de grupos pode dinamizar esse encontro dos familiares com as medidas,
diluindo o estigma de culpabilização pelos atos infracionais do adolescente e promovendo seu
encontro com outras famílias, de modo que novas possibilidades possam surgir a partir de
então.
Na perspectiva de pensar o trabalho socioeducativo com o grupo de famílias e o modo
como se dá a intervenção em grupos, importa ressaltar que o grupo de famílias na MSE
corresponde a um espaço institucional permanente, proposto pela unidade socioeducativa,
com regularidade definida, com temáticas variadas e com participação de diferentes
componentes a cada realização. Não há garantia de que o grupo permaneça o mesmo ao longo
dos encontros, devido à disponibilidade das famílias e ao fluxo de entrada e saída de
adolescentes da medida. Assim, o que a instituição deve garantir é a perenidade do grupo que
não tem uma quantidade de encontros pré-definida ou limitada.
O grupo apresenta-se como um espaço criado na instituição para acolher e trabalhar
com as famílias, aberto à participação dos membros que pode ser flutuante. Trata-se de uma
formação própria para cada um dos encontros, que pode levar-nos a caracterizar o grupo como
“de ocasião” com relação à composição de seus participantes, mas que permite um trabalho
institucional permanente a partir dos efeitos de formação de grupo que podem surgir. O
esforço é o de garantir a abertura deste espaço na instituição e fazer uso dos efeitos advindos
desses momentos de encontro. Diante do exposto, ainda que os grupos com famílias na
medida socioeducativa tenham suas especificidades, os referenciais teóricos mais gerais a
respeito deste trabalho contribuem para balizar as ações da semiliberdade e da internação para
as famílias.
Algumas referências da assistência social também podem contribuir para a orientação
desse trabalho. De acordo com o guia de orientações técnicas para o CRAS (2006), o grupo
socioeducativo para as famílias é um excelente espaço para trocas, o exercício da escuta e da
fala, da elaboração de dificuldades e de reconhecimento de potencialidades. Já o livro
“Metodologia de trabalho com famílias e grupos no eixo orientação SOSF/PBH” situa que “O
trabalho com grupos e redes sociais busca oferecer uma metodologia participativa que
30
promova os vínculos familiares e comunitários e a reflexão sobre sua organização, suas
relações internas e externas dentro de um contexto sociocultural”.(2007, p-126).
De acordo com definição apresentada por Afonso (SEDESE, 2006), no texto “O
trabalho com famílias: uma abordagem psicossocial" o conceito de grupo se refere ao:
31
- Discutir temas que perpassam a adolescência e o ato infracional por meio de uma
reflexão entre o grupo, suscitando questionamentos, dúvidas e a proposta de soluções;
- Retomar no grupo questões e orientações relativas à medida que já foram abordadas
individualmente, sem efeito até então.
Cabe ressaltar que a forma de condução do grupo, por parte da instituição, é
fundamental para alcançar os objetivos acima. A equipe técnica deve sustentar o processo
grupal, identificando o que cabe ser acolhido, em qual momento, e o que deve ser direcionado
para outros espaços. Tendo em vista que o grupo pode ser atravessado por contradições,
conflitos e tensões, é preciso que haja habilidade para garantir que a palavra circule sem
transformar o grupo em espaço de queixa ou exposição excessiva dos(as) adolescentes ou das
questões familiares.
São muitas as possibilidades de trabalho em grupo, tais como: oficinas temáticas
pertinentes e de interesse comum das famílias; encontros para repasse de informações
conforme demanda apresentada, informações sobre direitos e deveres como responsáveis
legais dos adolescentes; encontros das famílias com a presença das diversas áreas técnicas da
unidade; palestras; oficinas de reflexão; conversações, dentre outras.
Há que se considerar como pontos importantes para o planejamento dos grupos:
- Os grupos da instituição para as famílias devem acontecer pelo menos mensalmente;
- O horário escolhido para a realização dos grupos deve ser acessível e favorecer a
participação dos familiares que trabalham;
- O grupo é um espaço institucional pensado para contemplar as famílias,
pontualmente os (as) adolescentes poderão participar conjuntamente em atividade
previamente articulada;
- O convite para participação no grupo deve ser cuidadosamente pensado, com
criatividade, de modo a convocar e despertar o interesse da participação da família. Pode ser
feito por contato telefônico, confeccionado pelos(as) próprios(as) adolescentes, ser entregue
pessoalmente pela equipe na casa dos familiares, dentre outros.
2.4.2 Eventos
32
adolescentes.
Trata-se de uma estratégia para aproximar as famílias do cumprimento das medidas
socioeducativas de semiliberdade e internação, ao possibilitar uma interação mais livre entre
familiares e adolescentes.
Podem acontecer por meio de atividades recreativas, festas temáticas, datas
comemorativas, mostras ou exposições, e palestras. Esses momentos configuram-se também
enquanto um espaço de orientação e repasse de informações de maneira mais informal, mas
que também podem produzir efeitos de participação da família no processo socioeducativo e
de fortalecimento dos vínculos.
As unidades que executam as MSE em modelo de co-gestão, devem se orientar pelo
Plano de Trabalho para definir a periodicidade dos eventos, as demais, devem seguir um
cronograma próprio, considerando a importância e riqueza de proporcionar aos (às)
adolescentes momentos festivos com suas famílias.
33
(à) adolescente na unidade socioeducativa ocorre semanalmente, em dias estabelecidos na
rotina.
Deste modo, reforça-se a importância da equipe de atendimento engajar-se em garantir
ao (à) adolescente o espaço de convívio familiar, mesmo sabendo dos dificultadores com os
quais poderá se deparar, como por exemplo, falta de compatibilidade de horários dos
familiares, escassez de recursos financeiros para deslocamento até a unidade e inadaptação
dos familiares às questões de segurança das unidades. Havendo necessidade, e considerando a
disponibilidade do familiar, a equipe deve avaliar, juntamente com o corpo diretivo, a
realização da visita em dias e horários alternativos.
Vale esclarecer que a ida do familiar à unidade deve ter o objetivo de oferecer um
espaço de relacionamento entre o (a) adolescente e sua família na instituição, visando
fortalecer os vínculos e dividir responsabilidades. Prezar pelo acompanhamento do
adolescente por sua família nos remete a um trabalho dirigido ao fortalecimento dos vínculos
familiares e à potencialização do trabalho realizado. A instituição precisa de uma referência
familiar que vá além do preenchimento das formalidades legais e que se engaje junto nos
projetos do(a) adolescente.
O marco conceitual desta metodologia direciona o trabalho de acompanhamento das
famílias ao considerar a diversidade dos arranjos familiares e a existência de referências
afetivas para o (a) adolescente, como prevê o Plano Nacional de Promoção, Proteção e Defesa
do Direito de Crianças e Adolescentes à Convivência Familiar e Comunitária:
Observa-se então que pessoas do convívio do(a) adolescente, como amigos, namorados
(as) e seus familiares e vizinhos podem ser referências significativas com os quais eles
possuem vínculos representativos. Portanto, no caso de o (a) adolescente nomear
espontaneamente para a equipe técnica essas pessoas de referência para ele (ela), assim como
ele (ela) trazer a demanda destes o visitarem na unidade, a equipe técnica em conjunto com a
equipe de segurança e a direção de atendimento devem avaliar a pertinência das visitas destas
pessoas ao (à) adolescente na unidade. Para isso, a equipe técnica realizará um atendimento
com esta pessoa de referência a fim de avaliar como foi construído o vínculo entre ela e o (a)
34
adolescente e como este se apresenta no momento, além de avaliar a importância da
participação desta referência para o cumprimento da medida socioeducativa do(a) adolescente.
Orienta-se que se após a realização do atendimento e da avaliação coletiva pela equipe
socioeducativa, a unidade ainda tiver dúvidas quanto à pertinência das visitas destas pessoas
ao (à) adolescente na unidade, deve-se viabilizar a realização de uma visita assistida, a qual é
entendida como a visita ao (à) adolescente na unidade socioeducativa de uma pessoa com a
qual o (a) adolescente possui vínculos simbólicos e afetivos, acompanhada de um
representante da equipe técnica e um representante da equipe de segurança, sendo este um
recurso para atender a demanda do(a) adolescente em estreitar o vínculo com esta referência,
como também para qualificar a avaliação da equipe socioeducativa sobre a pertinência e a
importância de visitas posteriores à unidade socioeducativa.
35
considerando as especificidades do caso.
Sabe-se que são constantes as demandas por intervenções a ser realizadas pelas
equipes socioeducativas diante de situações de ameaça que envolvem adolescentes em
cumprimento de medida socioeducativa, em decorrência do envolvimento com a
criminalidade. Ameaças que, algumas vezes, estendem-se também às famílias e acabam por
colocar a equipe socioeducativa e também a rede a trabalho, com vistas a propor e concretizar
ações que busquem organizar as saídas do adolescente da unidade e o desligamento da medida
socioeducativa.
Assim sendo, alguns desafios em meio a essa conjuntura atravessam o fazer
profissional, fazendo com que a equipe construa novas estratégias para que o (a) adolescente e
a família compreendam a situação de ameaça e encontrem alternativas frente a isso.
Orienta-se que quando a equipe socioeducativa tomar ciência da existência de
possíveis situações de ameaça contra o (a) adolescente deve ser realizado atendimento à
família com os seguintes objetivos: relatar à família quanto a possível situação de ameaça;
questionar se os membros familiares possuem conhecimento da ameaça; identificar qual o
entendimento da família frente ao envolvimento do(a) adolescente no território de ameaça;
conhecer quais os motivos que podem ter levado à situação de ameaça e perguntar se a
própria família já foi ou está ameaçada.
Caso seja identificado que existem riscos contra a vida do(a) adolescente ou contra sua
integridade física, orienta-se que a equipe utilize o espaço do atendimento à família com a
finalidade de construir estratégias em prol da proteção do(a) adolescente, como, por exemplo,
a saída da família do território de ameaça ou a ida do(a) adolescente para os cuidados de
pessoas de referência que residam fora do local de ameaça, sendo claro, somente após a
autorização de seus responsáveis legais.
Existem casos nos quais as famílias não compreendem a situação de ameaça, mesmo
quando existem elementos pertinentes que façam chegar a essa avaliação. Nestes casos, o
atendimento técnico também tem a função de localizar a família sobre a sua parcela de
responsabilidade pela proteção do(a) adolescente, tanto durante, quanto após a medida
socioeducativa, como também para contribuir para a construção de possíveis soluções para a
situação de ameaça.
36
Cabe ressaltar que o adolescente deve ser incluído em algum momento nesse diálogo
da equipe socioeducativa com a família, visto que a escuta dos anseios e opiniões do(a)
adolescente devem ser consideradas na busca de sua proteção. É primordial que as decisões
relativas à vida do(a) adolescente não sejam tomadas sem a participação ou ciência dele, visto
que construções realizadas desta forma tendem a não alcançar o (a) adolescente, estando
fortemente propícias a insucessos.
Nos casos de ameaças de morte contra os (as) adolescentes em cumprimento de
medida, orienta-se que a equipe técnica articule a rede socioassistencial, conselho tutelar,
escola, unidade básica de saúde, serviços ou programas de prevenção à criminalidade ou
demais instituições presentes no caso para realização de estudo de caso com as seguintes
finalidades: informar sobre os riscos e a ameaça do(a) adolescente no território; colher
informações do território e da família com a rede e, principalmente, construir estratégias e
realizar intervenções para proteção do(a) adolescente e de sua família, se caso esta também
estiver ameaçada. Faz-se muito importante a articulação da rede nesses casos, pois se observa
que a proteção do(a) adolescente mostra-se mais eficaz quando são garantidos os seus direitos
básicos e de sua família. No que se refere exclusivamente a Internação Provisória, muitas
vezes não é possível realizar estudo de caso em decorrência da brevidade, no entanto, cabe à
equipe socioeducativa informar a situação de ameaça para a rede que acompanha o caso e
construir estratégias dentro das possibilidades do acautelamento provisório.
Nos casos em que não for possível construir estratégias para proteger o (a) adolescente
frente à situação de ameaça, mesmo após várias tentativas junto à família e após articulações
com a rede, deve-se apresentar e esclarecer à família e ao (às) adolescente em relação ao
Programa de Proteção a Criança e ao Adolescente Ameaçado de Morte (PPCAAM), por isso é
importante que a equipe adquira conhecimento sobre a metodologia deste Programa.
A DAF é referência para orientação das unidades socioeducativas nos casos de
adolescentes ameaçados de morte. Ressalta-se que as equipes devem contatar essa diretoria se
houver impasses na articulação da rede que, porventura, esteja dificultando a construção de
estratégias para a proteção do(a) adolescente.
Há casos em que os (as) adolescentes não reconhecem a situação de ameaça. Os
motivos para tal podem ser diversos, mas orienta-se que as equipes escutem dos(as)
próprios(as) adolescentes quais são seus anseios, seus interesses, suas opiniões e seus valores
relacionados a isso. É necessário que por meio desta escuta, compreendam-se quais são as
razões que levam o (a) adolescente a não reconhecer a ameaça, de forma que a equipe técnica
possa fazer esclarecimentos e construir soluções para possíveis impasses.
37
Empiricamente, observa-se que os adolescentes acreditam que a inclusão no PPCAAM
pode estender o cumprimento da medida socioeducativa e seu desligamento e que, por isso,
eles permanecerão um tempo maior nas unidades. Esse entendimento dificulta o trabalho da
equipe socioeducativa no que se refere à proteção do(a) adolescente, visto que a inclusão no
programa é voluntária. Diante disso, orienta-se que a equipe técnica busque escutar o (a)
adolescente a respeito desta visão e compreender suas razões; entender e construir soluções
junto ao (à) adolescente diante da possível situação de ameaça; como ele percebe uma
possível necessidade de sair do território de ameaça e também qual o entendimento dele(a)
quanto ao Programa de Proteção. A partir da escuta dos(as) adolescentes é possível que a
equipe faça esclarecimentos, assim como desenvolva a reflexão a respeito do assunto.
Nos atendimentos individuais também se deve esclarecer ao (à) adolescente
possivelmente ameaçado de morte que as articulações são realizadas em prol de sua proteção,
e que para isso, ele (ela) deve participar da construção de saídas possíveis para tal.
O acionamento do PPCAAM é realizado pelas equipes da internação e da
semiliberdade por meio do relatório de ameaça para o Judiciário, o qual se constitui como
uma das portas de entrada para avaliação do Programa. Na internação provisória, a situação
de ameaça deve ser informada nos relatórios enviados ao Judiciário para as audiências.
Em relação à medida socioeducativa de semiliberdade, quando houver indício de
ameaça de morte ao (à) adolescente que o impeça de circular no território, ele deve ficar
restrito na unidade até que seja esclarecida a veracidade da ameaça. Tanto a restrição como as
ações realizadas pela unidade a respeito disso devem ser informadas ao Judiciário, por meio
de relatório circunstanciado. Ressalta-se que a convivência familiar deve ser garantida pela
unidade socioeducativa, intensificando as visitas da família à unidade. Caso o indício de
ameaça seja no território do(a) adolescente, orienta-se que tanto este, como a família e a
equipe socioeducativa construam alternativas conjuntas para garantir as saídas de final de
semana em locais distantes do local de ameaça e com pessoas de referência para o (a)
adolescente, autorizadas pelos responsáveis a recebê-lo.
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apagamento de limites entre seus membros; famílias com nível de tensão
permanente, que se manifesta através da dificuldade de diálogo e descontrole da
agressividade; famílias que se encontram em situação de crise, perdas (separação do
casal, desemprego, morte, migração e outros); baixo nível de desenvolvimento da
autonomia dos membros da família; presença de um modelo familiar violento na
história de origem das pessoas envolvidas (maus-tratos, abuso na infância e
abandono); maior incidência de abuso de drogas; história de antecedentes criminais
ou uso de armas; comprometimento psicológico/psiquiátrico dos indivíduos;
dependência econômica/emocional e baixa autoestima da parte de algum(ns) de seus
membros, levando à impotência e/ou fracasso em lidar com a situação de violência.
Referentes aos pais: pais com histórico de maus-tratos, abuso sexual ou
rejeição/abandono na infância; gravidez de pais adolescentes sem suporte
psicossocial; gravidez não planejada e/ou negada; gravidez de risco; depressão na
gravidez; falta de acompanhamento pré-natal; pai/mãe com múltiplos parceiros;
expectativas demasiadamente altas em relação à criança; ausência ou pouca
manifestação positiva de afeto entre pai/mãe/filhos; delegação à criança de tarefas
domésticas ou parentais; capacidade limitada em lidar com situações de estresse
(perda fácil do autocontrole); estilo disciplinar rigoroso; pais possessivos e/ou
ciumentos em relação aos filhos. (ABREU; SIQUEIRA; BARROS; OLIVEIRA,
2011).
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socioeducativa frente aos conflitos familiares que interferem no cumprimento de medida
socioeducativa do(a) adolescente, e principalmente, no processo de responsabilização.
Ressalta-se que, caso a equipe identifique situação de complexidade que exija
estratégias e métodos específicos de intervenção, deve-se acionar a Diretoria de Abordagem
Familiar e Articulação de Rede Social para, juntos, avaliar encaminhamentos aos programas
especializados tais como o Programa de Mediação de Conflitos e Justiça Restaurativa.
Primeiramente, cabe esclarecer que, identificado o conflito, cabe à equipe
multidisciplinar acolher os envolvidos com escuta qualificada e auxiliá-los na busca de
possibilidades para resolução do conflito. Faz-se necessário propiciar e convidar os familiares
para reflexão sobre o conflito existente, como também permitir e estimular que eles
expressem seus sentimentos e razões, partindo do pressuposto de que tanto o (a) adolescente
quanto a família são responsáveis por preservar a convivência, bem como encontrar a melhor
solução para as controvérsias. As ações na unidade devem caminhar no sentido de possibilitar
a resolução dos conflitos de forma pacífica, a superação das fragilidades, a reconstrução das
redes familiares e o protagonismo do (a) adolescente e da família nas suas relações sociais.
O trabalho das equipes socioeducativas diante de conflitos familiares deve ter como
instrumento principal o diálogo. A equipe socioeducativa tem como função estimular o
diálogo entre os familiares e o (a) adolescente, para que eles próprios possam encontrar
alternativas criativas para suas relações de maneira cooperativa. Os técnicos devem auxiliar
os familiares a desenvolverem soluções conjuntas para os conflitos, por meio do incentivo à
superação de posições inflexíveis. Além disso, eles devem considerar e validar os interesses
tanto individuais como coletivos, à procura de identificar aqueles que são comuns e
compatibilizar os que são divergentes. É preciso compreender que os familiares têm
capacidades de fazer escolhas e de formular objetivos, portanto o técnico deverá estimulá-los
e não escolher ou decidir por eles. No conflito, existe um impasse entre as partes envolvidas,
por isso a equipe socioeducativa deve contribuir para que os familiares reformulem suas
questões até que eles encontrem saídas que sejam interessantes para todos envolvidos.
É comum acompanharmos casos em que a trajetória infracional torna-se, no contexto
familiar, o principal gerador de conflitos, apresentando como consequência a fragilidade dos
vínculos, e em algumas situações, o rompimento. Diante disso, a equipe socioeducativa deve
se valer de práticas sociais que ofereçam condições reais para promover a participação da
família no processo socioeducativo, por meio de ações e atividades que possibilitem trabalhar
os vínculos e a inclusão dos adolescentes no ambiente familiar e comunitário.
40
5. Considerações finais
41
6 ANEXOS
42
Anexo II: Formulário de Visita Domiciliar
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7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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políticas públicas: um olhar sobre as práticas psi. Psicol. Soc. [online]. 2005, vol.17, n.3,
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WANDERLEY, Mariangela B. (orgs.). Trabalho com famílias. São Paulo: IEE-PUC-SP,
2004. 2v.
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GOMES, Mônica Araújo e PEREIRA, Maria Lúcia Duarte. Família em situação de
vulnerabilidade social: uma questão de políticas públicas. In: Revista ciência e Saúde
coletiva, Nº 10. Vol. 2, 2005. P 357-363.
MIOTO, Regina Célia Tamaso. Perícia social: proposta de um percurso operativo. In:
Serviço Social e Sociedade, n.º 67. 2001. Sitio
em:http://mpdft.gov.br/senss/anexos/Anexo_7.6_Silvana_Doris.pdf
MIOTO, Regina Célia Tamaso. Trabalho com Famílias: um desafio para os Assistentes
Sociais. Revista Virtual Textos & Contextos, nº3, ano III, dez. 2004.
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