Você está na página 1de 59

SISTEMA DE ENSINO PRESENCIAL CONECTADO

SERVIÇO SOCIAL

MARIA JOSIVANIA DOS SANTOS MARCOLINO

A IMPORTÂNCIA DA FAMILIA NO DESENVOLVIMENTO DA


CRIANÇA E DO ADOLESCENTE: UM VÍNCULO NECESSÁRIO

São José do Belmonte


2021
MARIA JOSIVANIA DOS SANTOS MARCOLINO

A IMPORTÂNCIA DA FAMILIA NO DESENVOLVIMENTO DA


CRIANÇA E DO ADOLESCENTE: UM VÍNCULO NECESSÁRIO

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à


Universidade Norte do Paraná - UNOPAR, como
requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel
em Serviço Social.

Orientador: Prof. Maria Ângela Santini

São José do Belmonte


2021
A IMPORTÂNCIA DA FAMILIA NO DESENVOLVIMENTO DA
CRIANÇA E DO ADOLESCENTE: UM VÍNCULO NECESSÁRIO

Trabalho de Conclusão de Curso, apresentado à UNOPAR – Universidade Pitágoras


Unopar, no Centro de Ciências Sociais, como requisito parcial para a obtenção do

título de Serviço Social, com nota final igual a _______, conferida pela Banca
Examinadora formada pelos professores:

______________________________________
Prof. Orientador -
Universidade Pitágoras Unopar

______________________________________
Prof. Universidade Pitágoras Unopar

______________________________________
Prof. Universidade Pitágoras Unopar

São José do Belmonte 202


Dedico este trabalho...
A minha família, base da minha vida;
E aos verdadeiros amigos que estiveram ao meu lado
nessa caminhada.
AGRADECIMENTOS

A Deus, pela minha vida e por me ajudar a superar os obstáculos


encontrados ao longo do curso.
Ao meu esposo e família por me motivar todos os dias a seguir até o fim.
A professora Daiana por toda sua disponibilidade em me ajudar e a todos que
direta ou indiretamente contribuíram para essa realização
Muito obrigada.
Dedico este trabalho a Deus, ao meu esposo e família.
“Conheça todas as teorias, domine todas as técnicas, mas ao encontrar
uma alma humana seja apenas outra alma humana”

Carl Jung
MARCOLINO. Maria Josivania dos Santos. A importância da Família no
desenvolvimento da Criança e do Adolescente: um vínculo necessário. 2021.
43 folhas. Trabalho de Conclusão de Curso – Graduação em Serviço Social,
Universidade Pitágoras Unopar, São José do Belmonte, 2021.

RESUMO

O presente trabalho de conclusão de curso visa a analise da importância da Família


no desenvolvimento da Criança e do Adolescente. Compreender essa relação foi o
principal objetivo. A relação da Família sempre teve grande importância no
desenvolvimento da sociedade. O núcleo familiar, pais e filhos, são responsáveis
pela forma como veremos o mundo no futuro. É no seio familiar, que vamos adquirir
os valores que vão nos acompanhar por toda vida. Entender as relações afetivas
que acontecem na primeira fase de vida do ser humano torna-se fundamental para a
experiência das relações que ocorrem para/com o outro durante toda a vida. Ao
nascer toda criança tem o direito de ser amparada pelo leito familiar e nele encontrar
os ensinamentos devidos à sua convivência com os demais grupos dos quais fará
parte em sua trajetória de vida. Esses mesmos ensinamentos são de fundamental
importância e devem ser propagados de forma a contemplar os princípios do
respeito e da solidariedade como norteadores para uma convivência harmônica. A
família possui papel ímpar nessa questão, pois é considerada a mais importante
células de todos os grupos sociais, pois é através dela que aprendemos a perceber
o mundo e a nos situarmos nele. É através da família que formamos nossa entidade
social, a base do processo da socialização. A ausência familiar gera graves
conseqüências na formação, alimentando valores egocêntricos, que levam os mais
jovens ao mundo do vício e das futilidades. A Família atua como mediadora dos
padrões, modelos e influências; se define em um conjunto de normas, práticas e
valores que têm seu lugar, seu tempo e uma história.

Palavras-chave: Família. Criança. Adolescente. Direitos. Assistência Social.


MARCOLINO. Maria Josivania dos Santos. The importance of the family in the
development of Children and Adolescents: a bond required. 2021. 43 folhas.
Trabalho de Conclusão de Curso – Graduação em Serviço Social, Universidade
Pitágoras Unopar, São José do Belmonte, 2021.

ABSTRACT

This course conclusion work aims to analyze the importance of family in child and
adolescent development. Understanding this relationship was the main goal. The
family relationship has always been important in the development of society. The
nuclear family, parents and children, are responsible for how we see the world in the
future. It is within the family, we will get the values that will accompany us throughout
life. Understanding the emotional relationships that take place in the first phase of
human life is fundamental to the experience of relationships that occur to / with each
other throughout their lives. At birth every child has the right to be supported by the
family bed and find him the teachings due to its coexistence with other groups that
will take part in his life story. These same teachings are of fundamental importance
and must be propagated to take account of the principles of respect and solidarity as
guiding for a harmonious coexistence. The family has unique role in this issue as it is
considered the most important cells of all social groups, because it is through her that
we learn to perceive the world and situate ourselves in it. It is through the family that
we form our social entity, the basis of the socialization process. Family absence
creates serious consequences for the training, nurturing self-centered values, which
lead the young to the world of addiction and peddling. The family acts as mediator of
standards, models and influences; is defined in a set of norms, practices and values
that have their place, their time and history.

Key-words: Family. Child. Teenager. Rights. Social assistance.


LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

BPC Beneficio de Prestação Continuada

CCAS Centros da Criança e Adolescente

CEDECA Centro de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente

CF Constituição Federal

CF/88 Constituição da Republica Federativa do Brasil( 1988)

CMDCA Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do adolescente

CONANDA Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do adolescente

CRAS Centros de Referência da Assistência Social

ECA Estatuto da Criança e do Adolescente

LOAS Lei Orgânica da Assistência Social

MDS Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome

ONGS Organizações não governamentais

PAIF Programa de Atenção Integral à Família

PBF Programa Bolsa Família

PNAIF Plano Nacional de Atendimento Integrado à Família

PNAS Política Nacional de Assistência Social

SGD Sistema de Garantias de Direito

SUAS Sistema Único de Assistência Social


SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO........................................................................................................10

2 DESENVOLVIMENTO............................................................................................13

2.1 CAPÍTULO I: O CONTEXTO HISTÓRICO DA FAMÍLIA......................................13


2.1.1 A importância da família para a criança e o adolescente..................................17
2.1.2 O papel da família no desenvolvimento social da criança e do adolescente..19
2.1.3 A participação da família na educação escolar.................................................22
2.1.4 O afeto como principal vinculo familiar..............................................................25
2.1.5 Os impactos negativos da ausência familiar.....................................................27

2.2. CAPÍTULO II: O SISTEMA DE GARANTIAS DE DIREITOS DA CRIANÇA E DO


ADOLESCENTE.........................................................................................................30
2.2.1 Crianças e adolescentes: sujeitos de direitos...................................................33
2.2.2 Crianças e adolescentes em fase de desenvolvimento....................................37

2.3 CAPÍTULO III: A FUNÇÃO PROTETIVA DA POLÍTICA NACIONAL DE


ASSISTÊNCIA SOCIAL .............................................................................................40
2.3.1 O trabalho social com as famílias e o ciclo de vida...........................................45

3 CONCLUSÃO.........................................................................................................50

REFERÊNCIAS..........................................................................................................54
10

1 INTRODUÇÃO

Pensar no futuro das crianças e dos adolescentes é pensar no papel


da família. Toda e qualquer iniciativa que venha a contemplá-la, dando-lhe
assistência, apoio e orientação, traduz numa forma de se buscar o desenvolvimento
das crianças e dos adolescentes.
A família, como co-responsável pela efetivação dos direitos
fundamentais das crianças e dos adolescentes, também é chamada para assumir o
seu relevante papel neste mundo globalizado, numa perspectiva de um futuro
melhor para os filhos.
A família sempre foi objeto de múltiplas mutações. Inúmeras
décadas se passaram e a presença da família no contexto global enquanto
instituição normativa dos valores iniciais a toda vida humana, parece imprescindível.
São inúmeros os desafios que permeiam a vida familiar contemporânea, e no
decorrer da historia foi sofrendo transformações em seus modelos vividos.
Considerada uma das instituições mais antigas na história da humanidade, a família
é um dos pilares de sustentação da sociedade. É no núcleo familiar que a criança
vai aprender a conviver e a interagir com as demais pessoas.
A família se modifica através dos tempos, mas em termos
conceituais, é um sistema de vinculo afetivo onde deverá ocorrer o processo de
humanização. A transformação histórica do contexto sociocultural resulta de um
processo em constante evolução ao qual a estrutura familiar vai se moldando. No
entanto, é importante considerar que por maiores que sejam as modificações na
configuração familiar, essa instituição permanece como unidade básica de
crescimento e experiência.
Apresenta-se neste trabalho de conclusão de curso apontamentos e
reflexões pertinentes à temática: “A importância da Família no desenvolvimento da
Criança e do Adolescente: um vínculo necessário”. Cujos objetivos são: Refletir
sobre a importância do vinculo familiar na vida da Criança e do Adolescente;
Relacionar o papel da família no desenvolvimento social de crianças e adolescentes;
Problematizar o Sistema de Garantias de Direitos da Criança e do Adolescente
como também Analisar o Centro de Referencia de Assistência Social, a proteção
social básica e os serviços ofertados ponderando as intervenções necessárias para
a proteção de crianças e adolescentes em situação de violência.
11

O trabalho está fundamentado na abordagem de pesquisa


bibliográfica realizada por livros e artigos a partir de embasamento de autores
acerca do assunto tratado. Divide-se em três momentos.
O primeiro capítulo aborda a contextualização histórica da Família,
suas transformações na sociedade, trazendo sua importância uma vez que está
desenvolve a função de proteção para a criança e do adolescente e exerce um papel
no desenvolvimento social. Também discutirá sobre os impactos negativos no
processo de abandono e não compromisso da família e a importância da família
frente ao apóio escolar.
O segundo capítulo fala sobre o (SGD) Sistema de Garantias de
Direitos e construção dos Direitos da Criança e do Adolescente a partir das primeiras
leis na área da infância e juventude, quando o estado passou a responsabilizar-se e
elaborar políticas de atendimento a esta população. Destaca-se o processo de
mudanças que passam das abordagens correcionais repressivas e assistencialistas
para a perspectiva de Criança e Adolescente como sujeito de direitos. Aborda-se o
Estatuto da Criança e do Adolescente que preconiza princípios e medidas com o
objetivo da emancipação e das garantias dos direitos da criança e do adolescente,
entendendo-se cada fase como precondição absoluta a respeito as suas
necessidades enquanto pessoas em desenvolvimento.
O terceiro capítulo aborda a Política Nacional de Assistência Social
como uma função protetiva. A importância dos serviços em fornecer uma
intervenção eficaz e comprometida em prevenir as vulnerabilidades sociais que
geram danos ao núcleo familiar, que só poderão ser supridas, por meios de ações
pautadas na proteção e manutenção da Família. Traz também a perspectiva do
Serviço Social em relação ao seu trabalho com as Famílias, visando o resgate dos
vínculos, para concretizar o que determina o marco legal e possibilitar a essas
Famílias orientação, informação, encaminhamentos. Dentre as ações do Serviço
Social destaca-se a articulação com as redes sociais de atendimento, bem como
manter contatos com programas sociais que atendam as Crianças e os
Adolescentes.
Para todos os fins, e todas as possíveis interpretações, é importante
registrar que a família é um sistema muito complexo, passando por vários ciclos de
desenvolvimento ao longo da história.
12

Viemos mostrar que com o presente TCC é possível afirmar que, a


vertente psicológica e que as primeiras relações afetivas desenvolvidas no seio da
família de uma criança poderão servir de base para toda a sua vida e para as suas
relações futuras, sendo, pois, fundamental que o lar seja um lugar de afeto, de
carinho, de pertencimento e de respeito para que essas crianças sintam-se amadas
e acolhidas.
13

2 DESENVOLVIMENTO

2.1 CAPÍTULO I: O CONTEXTO HISTÓRICO DA FAMÍLIA

A contextualização da família na sociedade possui arcabouço


diversificado de conceitos. A concepção de família que historicamente foi sendo
construída é fruto da trajetória de sua existência na sociedade. Em cada momento
histórico, em cada contexto histórico, a família vem sendo construída e possui
mobilidade, e por estar sempre e movimento, tal como a sociedade, fica complicado
tecer uma única concepção de família, pois depende do contexto no qual a família
esta inserida.
Pode-se afirmar que a família ao longo dos séculos passa por
profundas transformações, tanto internamente, no que diz respeito a sua
composição e as relações estabelecidas entre seus componentes, quanto às normas
de sociabilidade externas existentes. Tais transformações afetaram de forma
grandiosa o sentido e objetividade da família na atual contemporaneidade.
Muitas foram às situações que a família brasileira se viu atropelada
pelas constantes mudanças paradigmáticas. A maior delas foi à mudança histórica.
Assim sendo, as transformações históricas oriundas da forma de ver as coisas em
cada momento histórico, proporcionou alterações fulminantes na concepção do
sentido de família.
Foi na Antiga Roma que sistematizou normas severas que fizeram
da família uma sociedade patriarcal. A família tinha, portanto, seu próprio culto, sua
justiça, seus costumes e tradições. A família romana era organizada
preponderantemente, no poder e na posição do pai, chefe da comunidade. O pátrio
poder tinha caráter unitário exercido pelo pai. Este era uma pessoa que chefiava
todo o resto da família que vivia sobre seu comando, constituía na submissão do
homem sobre a mulher.

Em Roma, a família era definida como o conjunto de pessoas que


estavam sob a pátria protestas do ascendente comum vivo mais
velho. O conceito de família independia assim da consangüinidade.
O pater famílias exercia a sua autoridade sobre todos os seus
descendentes não emancipados, sobre a sua esposa e sobre as
mulheres casadas com manus com os seus descendentes. (WALD,
2000, p. 09).
14

A partir do século V, com decorrente desaparecimento de uma


ordem estável que se manteve durante séculos, houve um deslocamento do poder
de Roma para as mãos do chefe da igreja católica romana, o conceito de família
passa pela forte determinação e influencia da igreja. Neste sentido é o texto a
seguir:

O que unia os membros da família antiga era algo mais poderoso


que o nascimento, o sentimento ou a força física: e esse poder
encontra-se na religião do lar e dos antepassados. A religião fez com
que a família formasse um só corpo nesta e na outra vida.
(COULANGES, 2005, p. 45).

O crescimento da religião cristão veio a influenciar diversos sistemas


jurídicos que estavam se desenvolvendo e aprimorando nessa época.
No século XX, simultaneamente ao distanciamento do Estado em
relação à Igreja, chamado laicização, novos fenômenos surgiram. A família moderna
adquiriu um novo paradigma, acolhido por sua nova identidade, cujos valores se
modificaram. A liberação dos costumes, a revolução feminina, fruto do movimento
feminista e do aparecimento dos métodos contraceptivos, e a evolução da genética,
que possibilitou novas formas de reprodução, foram fatores que contribuíram para
redimensionar o conceito de família.
A realidade das famílias modernas esboçou uma revolução em sua
organização, enfraqueceu o autoritarismo do pai ao tempo que a mãe deixou o fogão
para concorrer com os homens no mercado de trabalho. Assim, a sociedade
transformou-se novamente, posto que a mulher com sua habilidade influenciou
positivamente o mercado de trabalho, a política, a educação e o próprio homem.
Porém, com essa metamorfose familiar, advieram crises de valores culturais e
éticos. Em face da concepção inadequada de liberdade, a moral familiar entrou em
choque com a moral universalizada – fabricada.
À luz do direito contemporâneo, baseado em princípios democráticos
de aperfeiçoamento e de dignidade da pessoa, consagrados na maior parte das
constituições modernas, não mais se pode considerar como família apenas a
relação entre um homem e uma mulher, ungidos pelos laços do matrimônio. Assim,
rompidos os paradigmas identificadores da família, que antes se assentavam na
tríade casamento/sexo/reprodução, necessário se faz buscar um novo conceito de
família.
15

A partir da Carta Magna de 1988 quando se estuda do Direito de


família no Brasil, a família recebeu novos contornos, vislumbrando princípios e
direitos conquistados pela sociedade. Diversos fatores concorreram para essas
mudanças, como o processo de urbanização e industrialização, o avanço
tecnológico, a maior participação da mulher no mercado de trabalho, a diminuição de
mortalidade infantil e de natalidade, as novas concepções em relação ao casamento,
as alterações na dinâmica dos papeis parentais e de gênero. Estes fatores tiveram
um impacto direto no âmbito familiar, contribuindo para o surgimento de novos
arranjos.
Tais transformações levaram ao surgimento de configurações da
organização familiar diferentes do modelo anterior, nascendo uma nova concepção
de família, denominada “família igualitária”. Nessa nova estruturação homens e
mulheres estão atuando em condições mais ou menos semelhante na distribuição
dos papeis e obrigações que se ajustam para a satisfação de interesse de toda
família, buscando a convivência familiar sincera e pacifica.
Diante da nova perspectiva da família, o modelo de família
tradicional passou a ser mais uma forma de constituir um núcleo familiar, que em
conformidade com o artigo 266 passa a ser uma comunidade fundada na igualdade
e no afeto.

Art. 226. A família, base da sociedade, tem especial proteção do


Estado.
§1º O casamento é civil e gratuita a celebração.
§2º O casamento religioso tem efeito civil, nos termos da lei.
§ 3º Para efeito da proteção do Estado, é reconhecida a união
estável entre o homem e a mulher como entidade familiar, devendo a
lei facilitar sua conversão em casamento.
§ 4º Entende-se, também, como entidade familiar a comunidade
formada por qualquer dos pais e seus descendentes.
§ 5º Os direitos e deveres referentes à sociedade conjugal são
exercidos igualmente pelo homem e pela mulher.
§ 6º O casamento civil pode ser dissolvido pelo divórcio, após prévia
separação judicial por mais de um ano nos casos expressos em lei,
ou comprovada separação de fato por mais de dois anos.
§ 7º Fundado nos princípios da dignidade da pessoa humana e da
16

paternidade responsável, o planejamento familiar é livre decisão do


casal, competindo ao Estado propiciar recursos educacionais e
científicos para o exercício desse direito, vedada qualquer forma
coercitiva por parte de instituições oficiais ou privadas.
§ 8º - O Estado assegurará a assistência à família na pessoa de
cada um dos que a integram, criando mecanismos para coibir a
violência no âmbito de suas relações. (BRASIL, 1988)

A Constituição Federal de 1988 propiciou uma profunda mutação na


estrutura social e familiar, por isso foi denominada como “Constituição Cidadã”. Uma
nova base jurídica foi lançada visando auferir o respeito aos princípios
constitucionais, tais como a igualdade, liberdade, e acima de tudo o respeito ao
princípio da dignidade da pessoa humana.
Vários princípios constitucionais foram adotados pelo Direito de
Família e a partir deles foi transformado o conceito de família, passando esta a ser
considerada uma união fundada no amor recíproco.

Nesse sentido, Figueira (1987) aponta que estes rápidos processos


de mudanças ocorridas nas relações e nos valores familiares
levaram à inexistência de referenciais pessoais claros para a
orientação da conduta dos indivíduos. Assim, determinados
comportamentos que até há alguns anos atrás eram considerados
como culturalmente aceitáveis, e até mesmo, esperados, como é o
caso da utilização da força física na educação da criança, seja pelos
pais, seja pelos cuidadores, atualmente são criticados e coibidos
pelos direitos constitucionais (Cecconello, De Antoni & Koller, 2003).

A família ainda tem de passar pela adaptação constante da situação


socioeconômica, mantendo-se como uma instituição reconhecida e altamente
valorizada, uma vez que prossegue exercendo funções capitais durante todo o
processo de desenvolvimento de seus membros.

Assim, frente a tais alterações, a tendência atual da família moderna


é ser cada vez mais simétrica na distribuição de papeis e obrigações,
ou seja, uma família, marcada pela divisão entre os membros do
casal referente as tarefas domesticas , aos cuidados dos filhos e as
atribuições externas , sujeitas a transformações constantes, devendo
ser, portanto, flexível para poder enfrentar e se adaptar as rápidas
mudanças sociais ( Amazonas & cols., 2003) inerentes ao momento
histórico em que vivemos.
17

Apesar da forma de organização da família ter mudado sua


importância e significação na vida dos indivíduos permanece intacta. Esta instituição
aparece como berço de proteção e afetividade, por meio do qual os sujeitos buscam
apoio e acolhida.
Pode-se concluir que a família evoluiu e continua evoluindo sob a
conquista do amor e afeto. Este só sendo possível se manifestar com a eliminação
do elemento despótico no seio familiar. Hoje não há mais espaço para a família
patriarcal, com abuso de poder, hierarquia, autoritarismo e predomínio do interesse
patrimonial. Na trajetória da história familiar, viajamos do poder absoluto
do paterfamilias romano, que incluía o direito de vida e de morte sobre seus filhos,
para o conceito atual de autoridade parental, que é mais dever do que poder diante
da filiação.

2.1.1 A importância da família para a criança e o adolescente

A família é uma parte essencial das nossas vidas. Em momentos


difíceis ou importantes, ela sempre está presente. Às vezes não a todo o tempo,
mas sempre que necessário pelo menos. É nela que encontramos o apoio que
precisamos para aprender sobre vários aspectos da vida. É o que nos faz ser quem
somos como pessoa.
Analisar a situação da criança e do adolescente na sociedade e no
mundo exige, antes de tudo, observar a situação destes na família, ou seja, a
influência que esta exerce no desenvolvimento do caráter desses menores.
Indiscutível é a importância da família na vida de uma criança e de
um adolescente, uma vez que está desenvolve a função precípua de ser a base não
apenas da sociedade, mas de uma pessoa. É através da família que o indivíduo é
preparado para conviver no meio social. A família é o primeiro grupo de referência, é
um fenômeno importante para a construção do ser humano e á manutenção da
sociedade, ela constitui como uma das formas mais importantes de tratamento e
prevenção em relação aos seus filhos, com a finalidade de protegê-los.

É preciso compreender a família como um fenômeno historicamente


situado, sujeito a alterações, de acordo com as mudanças das
relações de produção estabelecidas entre os homens [...] É evidente
18

que as funções da família vão depender do lugar que ela ocupa na


organização social e na economia. (ARANHA, 1989, p. 75).

O futuro das crianças e dos adolescentes da nossa Nação, e


conseqüentemente o futuro do nosso país, depende tão somente da forma com que
esses menores estão sendo criados e educados. Se desenvolvermos crianças
saudáveis, amadas, seguras e determinadas, teremos uma nação forte e
desenvolvida. Do contrário, representaremos mais um país fracassado, sem
esperanças.
A convivência familiar é, portanto, um direito natural que as normas
do direito positivo devem preservar da melhor maneira possível. É por intermédio
dos valores éticos e morais oferecidos por essa entidade familiar aos seus partícipes
que contribuirão de forma significativa para a formação do indivíduo.
Portanto, além de trazer boas recordações, a vida social em família
é fundamental para um bom desenvolvimento da personalidade da criança e,
principalmente, para a sua forma de encarar o mundo.
E quando falo em convívio não me refiro apenas mãe e pai, mas
toda a família, tios, tias, irmãos, avós, primos, cada um com sua personalidade tem
um pouco a acrescentar na vida de uma criança, seja com um conselho, um afeto,
até mesmo uma crítica construtiva, tem valor no desenvolvimento e auto-estima da
mesma, pois eles são o combustível para seguir em frente.

Para Hutz (2002), a família é responsável pelo processo de


socialização da criança, por meio do qual elas adquirem
comportamentos, habilidades e valores apropriados e desejáveis em
sua cultura.

A criança é socializada mais efetivamente por seus cuidadores que,


com objetivos claros, devem fazer cumprir as regras e transmitem suas mensagens
de forma mais simples e consistente. A família pode ser mencionada tanto como um
fator protetivo, mas também como um fator de risco. Essa ambigüidade justifica-se
ao considerar que a família é o grupo social básico do individuo e determinante em
seu desenvolvimento. A família vem trazida como célula primordial na observância e
no cumprimento do mesmo, firmando-se assim como instituição como maior
responsabilidade na formação e desenvolvimento da criança e adolescente no seu
conviveu social.
19

As primeiras relações afetivas desenvolvidas no seio da família


poderão servir de base para toda a vida e para as relações futuras, sendo, pois
fundamental que o lar seja um lugar de afeto, de carinho, de pertencimento e de
respeito.
Tal fato evidencia a importância de se garantir à criança e ao
adolescente o direito à convivência familiar sadia e de se compreender que a
entidade familiar precisa estar apta a entender e a respeitar a singularidade de cada
filho, em cada fase da vida. É assim que a percepção de cada integrante da família e
do seu papel na dinâmica familiar passa a ser fundamental para o desenvolvimento
saudável das crianças, dos adolescentes e, em última análise, da própria família.
A família assim compreendida é capaz de intervir, decisivamente, na
formação psicossocial de crianças e adolescentes, evitando ou pelo menos
minimizando eventuais prejuízos que possam vir a aparecer em seu
desenvolvimento.

A constituição Brasileira reconhece expressamente, no caput. do


artigo 226, a família como base da sociedade, conferindo-lhe
especial proteção por parte do estado, não deixando duvidas da
importância desta primeira unidade social com a qual crianças e
adolescentes tem contato ao nascer. (BRASIL, 1988)

A legislação brasileira vigente reconhece e preconiza a família,


enquanto estrutura vital, lugar essencial a humanização e a
socialização da criança e do adolescente, espaço ideal e privilegiado
para o desenvolvimento integral dos indivíduos. (BRASIL, 1988)

Nenhum lugar é melhor para qualquer criança ou adolescente do


que no seio de sua família, desde que esta seja capaz de suprir as necessidades
básicas dos mesmos, para o desenvolvimento digno, no sentido de efetivar a
proteção, prevenir abusos, abandono, exploração e violência.
Por fim percebe-se que a família é parte importante do processo de
aprendizagem de comportamentos da criança, sejam eles adequados ou não. De
forma direta e indireta, a família pode interferir nas condutas dos filhos. A
transmissão de características hereditárias não pode ser escolhida pelos pais. Mas
os hábitos ensinados, os modelos passados e as conseqüências dadas diante de
certas condutas são de responsabilidade da família e podem determinar muitas das
atitudes dos filhos.
Sendo assim, verificamos que a família é o elo mais importante que
20

essas crianças têm para se tornarem adultos responsáveis, afetuosos e


compromissados com o seu futuro.

2.1.2 O papel da família no desenvolvimento social da criança e do adolescente

A relação da família sempre teve grande importância no


desenvolvimento social da criança e do adolescente. O núcleo familiar, pais e filhos,
são responsáveis pela forma como veremos o mundo no futuro. A escola tem o
objetivo de difundir conhecimento e não de educar, dar limites ou moralidade.
A função paterna e materna são essências e complementares para a
formação do sujeito. Entre inúmeros deveres da família, é de extrema importância
que os pais tenham a companhia de seus filhos, dando a eles a direção, criação e
educação. Devemos sempre pensar no seu atendimento humano integral, por meio
de políticas publicas articuladas com vistas a plena garantias dos diretos e ao
verdadeiro desenvolvimento social.

A família não é o único canal pelo qual se pode tratar a questão da


socialização, mas é, sem dúvida, um âmbito privilegiado, uma vez
que este tende a ser o primeiro grupo responsável pela tarefa
socializadora. A família constitui uma das mediações entre o homem
e a sociedade. Sob este prisma, a família não só interioriza aspectos
ideológicos dominantes na sociedade, como projeta, ainda, em
outros grupos os modelos de relação criados e recriados dentro do
próprio grupo. (CARVALHO, M. B., 2006, p. 90).

As experiências vivenciadas pelo jovem, tanto no contexto familiar


quanto nos outros ambientes nos quais está inserido, contribuem diretamente para a
sua formação enquanto adulto, sendo que, no âmbito familiar, o individuo vai passar
por uma serie de experiências genuínas em termos de afeto, dor, medo, raiva e
inúmeras outras emoções, que possibilitarão um aprendizado essencial para a sua
atuação futura.
Os papeis sócias exercidos no contexto familiar por seus membros
foram se reconfigurando pelo processo de reestruturação produtiva do mercado e
dos sucessivos momentos de crise. É na família que se compartilha um cotidiano,
planeja-se, formam-se crianças e adolescentes, acontece a transmissão e o projeto
de vida em comum.
Os pais possuem inúmeros encargos quanto à pessoa do filho, o
21

artigo 1634 do CC/02 elenca uma série de obrigações (rol exemplificativo).


Art. 1.634. Compete a ambos os pais, qualquer que seja a sua
situação conjugal, o pleno exercício do poder familiar, que consiste em, quanto aos
filhos: (Redação dada pela Lei nº 13.058, de 2014)

I - dirigir-lhes a criação e educação;


II - tê-los em sua companhia e guarda;
III - conceder-lhes ou negar-lhes consentimento para casarem;
IV - nomear-lhes tutor por testamento ou documento autêntico, se o
outro dos pais não lhe sobreviver, ou o sobrevivo não puder exercer
o poder familiar;
V - representá-los, até aos dezesseis anos, nos atos da vida civil, e
assisti-los, após essa idade, nos atos em que forem partes, suprindo-
lhes o consentimento;
VI - reclamá-los de quem ilegalmente os detenha;
VII - exigir que lhes prestem obediência, respeito e os serviços
próprios de sua idade e condição.

Através dos incisos do artigo 1.634 do código civil de 2002, entende-


se que a incumbência de criar e educar os filhos é importante para definir
futuramente o sucesso ou insucesso deles. É essencial mostrar que a capacidade
da família para desempenhar plenamente suas responsabilidades e funções afetivas
e socializadoras é fortemente interligada ao acesso aos diretos universais.
De todos os grupos que o indivíduo poderá participar no decorrer de
sua vida, a família institui-se como veículo primário de informação e iniciação,
mostrando-se como agente de influência imensurável e indispensável na formação
dos sujeitos.

A família se constitui em uma instituição privilegiada por possibilitar


os primeiros processos socializadores a que o indivíduo fica sujeito,
razão pela qual adquire uma relevância social e histórica
necessitando de uma maior reflexão sobre a mesma. Maciel (2002)

Do mesmo modo que o adolescente passa por uma série de


transformações, a família também sofre mudanças.
22

“enquanto ele passa por uma adaptação para fase adulta, seus pais
vivem a ruptura do equilíbrio do desempenho do papel de pais de
criança, para adquirirem, também, com mais ou menos esforço e
sofrimento, um novo papel, o de pais de adolescentes” [...]. Losacco
(2010, p. 690)

Apesar da dificuldade dos pais em lhe darem com os filhos durante a


adolescência, é necessário que o jovem encontre na família um ambiente
harmonioso e no qual este se sinta importante e valorizado, reconhecendo-se como
parte integrante desse núcleo. Sendo que, as relações de afeto entre a família e do
adolescente são fundamentais para a construção da identidade e autoconfiança dos
membros que a compõem, o que reforça sua importância na formação social dos
sujeitos. Tal afirmação avigora a necessidade do acompanhamento dessa instituição
na formação social de suas crianças, uma vez que deixar de participar das etapas
importantes da vida destas pode levar a fragilização das relações familiares e à sua
desestruturação, podendo ocasionar o rompimento de vínculos afetivos nesse
núcleo.
A interação com adultos e outras crianças e o brincar, também
contribuirão para o processo de socialização, ajudando a perceber os papeis
familiares e sociais e as diferenças de gênero, a compreender e aceitar regras, a
cooperar, a competir e compartilhar, dentre outras habilidades importantes para o
convívio social.
A harmonia, a qualidade do relacionamento familiar e a qualidade do
relacionamento conjugal são aspectos importantes que exercem influencia direta no
desenvolvimento social da criança e do adolescente.
Independentemente das estruturas familiares e das suas funções
sociais, esta assumi o papel de mediadora entre os sujeitos e o coletivo. É possível
afirmar que a família é a principal instituição que o ser humano tem acesso e é onde
inicia seu processo educativo através dos valores morais, por tais motivos, é que se
tem a expectativa de que ela prepare seus membros para a convivência em
sociedade.
Sendo assim, não podemos permitir que o valor da família na
sociedade seja desvalorizada, ela é quem define nossos princípios, o que
entendemos por certo e errado e, principalmente, como nos relacionaremos com os
integrantes de outras famílias. É a partir da família que aprendemos como
administrar os nossos sentimentos e tudo isso contribui completamente como será o
23

comportamento da sociedade futuramente.

2.1.3 A participação da família na educação escolar

A participação da família na vida escolar dos filhos é um fator


determinante para o desempenho do aluno na escola, tornando a família a
instituição importante no processo ensino-aprendizagem.
A junção entre familiares e as instituições de ensino seja a educação
formal ou a técnica, é selada quando ambos estão unidos em um único objetivo,
formar cidadãos conscientes da sociedade em que habitam, com valores éticos e
morais e com uma perspectiva de um futuro promissor.
Porém a família exerce o principal papel na modificação da conduta
dos filhos no meio social. É nela que a criança adquire conhecimentos para se
adaptar em diferentes meios, independentemente da cultura e das regras impostas,
pois a família é responsável por educar os indivíduos para viver em sociedade.

A família representa um ambiente extremamente importante para o


desenvolvimento da criança, porque é o primeiro sistema em que o
ser humano se insere na sociedade, por meio do qual começa a
estabelecer seu vínculo com o mundo. Guzzo e Tizzei (2007, p. 42),

Contudo, família e escola devem educar como equipe para propiciar


ao sujeito em desenvolvimento maior segurança para enfrentar as dificuldades que
são impostas pela sociedade. Desta maneira, entende-se que tanto o
acompanhamento familiar interfere no desempenho da criança no contexto escolar
como a participação da escola é de fundamental importância para formar o cidadão.

Conforme Rubinstein (2003, pg. 51-71), a aprendizagem


proporcionada pela escola não compreende apenas o conhecimento
social, mas também valores e ideais. A escola é o lugar onde ocorre
a continuidade dos princípios familiares. Assim, a escola permanece
encarregada de receber e orientar o aluno em complementação à
educação da família, para que possa se acomodar no meio, da
melhor forma possível.

Em outras palavras está se vivendo em um pequeno intervalo de


24

tempo, um período de grandes transformações muitas delas difíceis de serem


aceitas ou compreendidas. E dentro dessa conjuntura está a família e a escola, a
família deve se esforçar em estar presente em todos os momentos da vida de seus
filhos, presença que implica envolvimento, comprometimento e colaboração, deve
atentar para as dificuldades não só cognitivas, mas também comportamentais.

Segundo Anastácio (2009), a família é a principal referência da


criança, e que de fato a casa e a vida familiar, proporcionam, por
meio do ambiente físico e social, condições imprescindíveis para o
desenvolvimento da personalidade da criança e de seus
aprendizados. Percebe-se que escola e família, como instituições
sociais, têm a função de promover e tornar o ser humano apto para
as necessidades encontradas do cotidiano.

Todavia uma boa relação entre família e escola deve fazer parte de
qualquer trabalho educativo que tem como foco a criança. Além disso, a escola
também exerce uma função educativa junto aos pais, discutindo, informando,
aconselhando, encaminhando os mais diversos assuntos, para que família e escola,
em colaboração mútua, possam promover uma educação integral da criança. Uma
relação baseada na divisão do trabalho de educação de crianças e jovens,
envolvendo expectativas recíprocas.
Em relação às perspectivas da família com relação à escola com
seus filhos encontram-se várias idéias de que a instituição escolar “eduque” o filho
naquilo que a família não se julga capaz e que ele seja preparado para obter êxito
profissional e financeiro. A família não é o único canal pelo qual se pode tratar a
questão da socialização, mas é, sem dúvida, um âmbito privilegiado, uma vez que
este tende a ser o primeiro grupo responsável pela tarefa socializadora.
(CARVALHO, 2006).
Devido aos fatos mencionados somos levados a acreditar que, o
desempenho das crianças na escola depende em grande parte da união entre
família e escola, mas não exclusivamente, da participação e colaboração dos pais.
Portanto as escolas devem buscar formas de parcerias com as famílias de seus
alunos, para que juntos possam desenvolver uma educação proveitosa e de
qualidade.
A importância da família é fundamental na vida escolar de seus
25

filhos, orientando, incentivando, apoiando e lhe mostrando os caminhos a serem


seguidos, muitas vezes não é fácil, pois em todo ambiente sócio cultural há também
más influencias e os pais em parceria com a escola devem estar atentos as atitudes
dessas crianças para que não se iludam e se desviem dos caminhos ensinados por
eles.
Basta considerar que a família educa e que cabe a escola ensinar,
ou seja, a família transmite os valores éticos e morais necessários para que a
criança possa ser instruída na escola. No entanto, quando a família também
participa ou acompanha a aprendizagem escolar, com certeza esta assegurando aos
filhos um futuro repleto de vitórias e méritos.

2.1.4 O afeto como principal vinculo familiar

Além do apoio dos pais na vida escolar dos filhos, o afeto e o amor
que os mesmos proporcionam aos seus filhos, é essencial para o futuro dessas
crianças.
Segundo Wallon (apud DANTAS,1992), a afetividade é anterior ao
desenvolvimento, e as emoções têm papel predominante no desenvolvimento da
pessoa, é por meio delas que o aluno exterioriza seus desejos e suas vontades. As
transformações fisiológicas de uma criança revelam traços importantes de caráter e
personalidade. A raiva, a alegria, o medo, a tristeza têm funções importantes na
relação da criança com o meio, a emoção causa impacto no outro e tende a se
propagar no meio social, pois é altamente orgânica. Desta forma, nessa teoria,
acredita-se que a afetividade é um ponto de partida para o desenvolvimento do
indivíduo.
Um vínculo afetivo real não pode se dar de forma vaga, como algo
breve, ele exige tempo, doação e muitas vezes traz consigo muitas dificuldades, e
também conflitos que sempre poderão ocorrer, mas tudo isso é um caminho para um
progresso, para uma evolução.
A realidade é que muitas crianças não vivenciam este afeto dentro
de suas casas, e assim acabam chegando na escola agressivas, fechadas para as
relações, o educador então não pode julgá-la por seus modos agressivos, ele deve
sim tentar entender o que se passa no ambiente familiar, deve tentar encontrar o
porque da agressividade, afinal a criança não é assim porque que ela quer, sempre
26

haverá um motivo para cada atitude, e se a criança não tem felicidade em casa,
devemos ter em mente que a escola é o melhor lugar para mostrar a ela que a
felicidade existe para quem acredita nela.
O fator família é a base de tudo na vida do ser humano, isso é fato, e
é na família que aprendemos as primeiras noções da vida em sociedade, os
primeiros conceitos de cultura, de afeto, de carinho, de exemplos. Assim a
afetividade exerce um papel decisivo na vida das pessoas e forma um elo
fundamental na relação Pais-Filhos, as crianças precisam sentir-se amadas pelos
pais, pela família, pois o amor lhes dá segurança, e essa segurança faz com que as
crianças tenham mais vontade de participar e explorar o mundo que as cerca.
A presença dos pais mostrando que se interessam pelos filhos, pelo
que estão aprendendo, pela escola, enfim por tudo que fazem e também pelo que
deixam de fazer, os progressos, as necessidades, as crianças ao se sentirem
importantes, ao verem que os pais se preocupam pelo que se passa com elas, se
sentem muito mais motivadas para aprender, pois quando os pais se orgulham do
que elas fazem, elas se orgulham também, pois de que valeria qualquer feito, se os
pais não se sentissem orgulhosos, para a criança perderia o valor.

As relações afetivas, principalmente as que ocorrem através da


família, são relevantes também para o Direito considerando que são
essas relações que fundamentam as ações e decisões feitas pelos
indivíduos em sociedade. Funda-se em elementos princípios de
direito natural, na necessidade de cultivar o afeto, de firmar os
vínculos familiares à subsistência real, efetiva e eficaz. (GRISARD
FILHO, 2000, apud DIAS, 2006).

O vinculo afetivo permeia tudo aquilo que o ser humano vive desde o
seu nascimento até a sua vida adulta. A partir dele é que se definem as relações
familiares, as amizades que serão feitas, as decisões tomadas.

Segundo Valle (2005), o afeto é um termo geral utilizado para


exprimir os fenômenos da afetividade, incluindo as nuances do
desejo, do prazer e da dor, presentes na experiência sob a forma de
sentimentos vitais, humor e emoções.

Citaremos aqui também o vinculo família escola, pois essa parceria


e imprescindível para a boa formação das crianças instruindo a ser uma pessoa de
bem, pensadores e formadores de opinião, afinal ambas se necessitam, elas têm
27

trabalhos diferentes, mas que se complementam, sendo que nem uma e nem outra
podem suprir todas as necessidades infantis sozinhas, é preciso haver uma parceria,
e é de extrema importância ressaltar que o sucesso ou o fracasso no
desenvolvimento escolar da criança é influenciado por diversos fatores, sendo o
envolvimento da família com essas crianças o fator principal.
Por fim podemos perceber a partir de tudo que foi dito anteriormente,
criar vínculos é um exercício muito importante e fundamental tanto na relação
professor e aluno, quanto na relação pais e filhos, afinal o vinculo é o primeiro laço
que vai dar a segurança, o impulso para todas as etapas do desenvolvimento da
criança.

2.1.5 Os impactos negativos da ausência familiar

De acordo com o parágrafo anterior vemos a importância do afeto e


dos cuidados que os pais necessitam ter para uma orientação adequada na vida
escolar de seus filhos, sabemos que nem sempre a família consegue participar
ativamente da vida dessas crianças e adolescentes, devido estar focada em outros
horizontes, como a busca por recursos financeiros que possibilitem a manutenção
do lar e acaba transferindo a responsabilidade de cuidado e educação para as
instituições secundárias em que seus filhos estão inseridos. A respeito disso:

É relevante assinalar que, hoje o tempo destinado à convivência


familiar é mais escasso, seja pela maior jornada de trabalho em
razão das necessidades econômicas, seja por solicitação de
atividades externas exercidas individualmente ou com grupos extras
familiares. Esse processo favorece, freqüentemente, o
enfraquecimento da coesão familiar. (LOSA CCO, 2010, p. 66)

Esse processo de abandono e não compromisso da família afeta no


desenvolvimento social das crianças e dos adolescentes, isso porque, com a
“autonomia” no seio familiar passam a substituir a casa pela rua, a vivenciar a
marginalidade social, resultando disso a extrema violência e morte. A ausência da
família, a carência de amor e de afeto compromete o desenvolvimento da criança e
do adolescente.
28

Todavia, quando a família negligencia sua função, os jovens acabam


por recorrer a outros meios que possam suprir sua carência
(OUTEIRAL apud NEUMANN; HABIGZANG, 2012).

A alarmante condição de crianças e adolescentes vivendo em


situação de rua viola todo o ideal de dignidade humana. É desumana e cruel a
situação de meninos e meninas que tem nas ruas o espaço de trabalho, vivência e
desenvolvimento. É levando em consideração o direito prioritário das crianças e
adolescentes a uma estruturada e harmoniosa vida familiar, à educação, à plena
formação social e ao livre exercício de usufruir a juventude, que podemos atribuir a
toda sociedade o dever de zelar por aqueles que ainda não completaram seu
desenvolvimento psíquico, cultural, emocional e físico. Em especial quando tais
jovens encontram-se em situação de abandono, exploração e perigo.
Alguns autores ( Bowlby, 1988; Dolto , 1991; Nogueira, 2004; Pereira
, 2003; Spitz, 2000; Winnicott, 1999) são unanimes em afirmar que a separação da
criança e do adolescente do convívio com a família , seguida de institucionalização ,
pode repercutir negativamente sobre seu desenvolvimento , sobretudo quando não
for acompanhada de cuidados adequados , administrados por um adulto com qual
possam estabelecer uma relação afetiva estável, ate que a integração ao convívio
familiar seja viabilizada novamente.
Normalmente partem para a criminalidade meninos de rua,
abandonados pelos pais, de famílias mono parentais, do desmembramento familiar,
do baixo nível de educação, da instabilidade familiar e residencial, ou seja, com um
sistema familiar totalmente desestruturado.

Sobre isso, Pelt discorre:


(...) os tempos mudaram, mas não as relações humanas que
constituem as raízes da formação do caráter. Os filhos ainda
precisam dos pais, porque as relações afetivas que mantêm com
eles desde o nascimento permitem que adquiram padrões que os
tornarão seres normais. As crianças precisam de direção, disciplina,
apoio e ânimo para crescer, amadurecer e tornarem-se pessoas
independentes da família, adultos autônomos. (2006, p. 8)

Encontram-se de maneira trágicos outros dois fatores. De um lado,


as situações estressantes que podem contribuir para a negligência ou os maus –
tratos contra crianças e adolescentes. De outro lado, os valores de uma sociedade
onde a violência se banalizou e onde ainda a cultura admite a existência de
29

agressão física como forma de disciplina e socialização. Entre as famílias mais


desprovidas de condições para elaborar e superar estas condições, sejam estas
condições matérias ou simbólicas, a violação de direitos de criança e adolescente se
torna uma triste realidade.
A desorganização do grupo familiar tem conseqüências graves no
nível das relações humanas. Portanto, por trás de cada criança desajustada
devemos procurar uma família.
Um dos fatores que mais prejudicam as crianças é o fato de mães
de famílias terem conquistado uma posição na vida profissional e terem que deixar
seus filhos nas mãos de babás, creche tempo integral ou na mão de algum vizinho,
esse impacto na vida de uma criança gera sensação de abandono, pois é o
momento em que ela está se estruturando, criando laços afetivos, se educando,
tomando ela como exemplo para a vida adulta e a presença da mãe é indispensável
nesse momento.
Outro fator que agrava a situação é está sendo criado por pessoas é
que ao invés de ensinar, de educar, de dar carinho, atenção, essas pessoas o
machucam verbalmente, fisicamente e muitas vezes levando a óbito.
Outro impacto negativo é a ausência dos pais na vida escolar dos
filhos alguns autores defendem a idéia de que a família precisa dar início ao
processo educacional logo nos primeiros anos de vida em casa e no decorrer do
processo continuar com postura firme incentivando e moldando seu filho.
Dessa forma, é com os pais e demais integrantes da família,
sejam eles adultos ou crianças, que ela vai interagir, iniciando seus processos de
socialização e construindo suas primeiras representações sobre o mundo. A família
constitui-se, assim, na primeira fonte de informações sobre o mundo e referência de
socialização.
A ausência de pais na vida de seus filhos seja ela social afetiva e
educacional quando não acontece gera crianças agressivas, desobedientes, sem
educação, sem afeto, sem respeito, pois, o principal exemplo a quem eles devem
tomar não estão próximos para ensinar correndo o risco de chegar à fase adulta
pessoas que não conseguem interagir com o outro e nem criar vínculos amorosos.
Outro fato que me chama muito a atenção é a ausência dos pais
mesmo estando presente em casa, pois muitas vezes deixam de dar a devida
atenção a seus filhos, devido a problemas no trabalho, a atenção excessiva as redes
30

sociais, a programas de TV, fazeres domésticos e não tira sequer um momento


único de atenção exclusiva a criança.
Por essas e outras que o Sistema de Garantias de Direitos da
Criança e do Adolescente, veio de encontro a subsidiar tais direitos, para que essas
crianças possam ter o mínimo de seus direitos assegurados por lei, e caso necessite
em algum momento de ajuda desses tais órgãos possam estar amparados por tal
Sistema.
31

2.2 CAPÍTULO II: O SISTEMA DE GARANTIAS DE DIREITOS DA CRIANÇA E DO


ADOLESCENTE

As crianças e os adolescentes são protegidos por uma serie de


regras e leis estabelecidas pelo país. Após anos de debates e mobilização, chegou-
se ao consenso de que a infância e a adolescência devem ser protegidas por toda a
sociedade das diferentes formas de violências. Também se acordou que todos são
responsáveis por garantir o desenvolvimento integral desse grupo. As mudanças
ocorridas na legislação pertinente aos direitos de crianças e adolescentes trouxeram
avanços no que diz respeito ao direito desses indivíduos de forma geral.
Uma superação mais efetiva das questões postas acima tem sido
pensada tomando por base a construção de um projeto político amplo que
possibilitaria a estruturação de um sistema de garantias, cujo objetivo seria viabilizar
o desenvolvimento de ações integradas.
O sistema de garantia de direitos (SGD) são propiciadores da
criação e desenvolvimento dos instrumentos e mecanismos efetivos aptos à sua
aplicação prática. Concebido pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), cujo
modelo representa a articulação e a integração de varias instancias do poder
publico ou da sociedade civil na aplicação de mecanismos de promoção, proteção ,
defesa e controle para a efetivação dos direitos humanos voltados para o universo
da infância e da adolescência, nas esferas Federal, Estadual e Municipal. É a
atuação do SGD que materializa as políticas publicas, como direitos fundamentais, e
atua diante da violação de direitos.

Art. 86. A política de atendimento dos direitos da criança e do


adolescente far-se-á através de um conjunto articulado de ações
governamentais e não-governamentais, da União, dos estados, do
Distrito Federal e dos municípios.- ( BRASIL, 1990)

O SGD lhes confere igual responsabilidade na apuração e integral


solução dos problemas existentes tanto no plano individual quanto no coletivo e
pressupõe o trabalho em rede das instituições e dos atores envolvidos na proteção
da criança e do adolescente.
Quanto às expectativas relacionadas aos trabalhos desenvolvido em
rede, necessário se faz destacá-los. Assim, entre os resultados esperados, estão os
32

seguintes: atendimento de qualidade em qualquer situação; descentralização e a


regionalização do atendimento, com o fim de viabilizar que a criança e o adolescente
sejam atendidos o mais próximo possível de suas residências; proteção imediata às
crianças e aos adolescentes em situação de ameaça ou violação de seus direitos,
bem como a de suas famílias; imediato afastamento da situação de ameaça ou
violência.
Os gerenciamentos do Sistema de Garantias dos Direitos
compreendem prioritariamente três eixos estratégicos, definidos pelo Guia de
Atendimento de direitos de crianças e adolescentes do CEDECA/Ceará- Centro de
Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente (CALS, 2007, pgs.12-13), a saber:
Eixo de Promoção de direitos: se dá por meio do desenvolvimento
da política de atendimento dos direitos de crianças e adolescentes, integrante da
política de promoção dos direitos humanos. Essa política deve-se dar de modo
transversal, articulando todas as políticas públicas. Nele estão os serviços e
programas de políticas públicas de atendimento dos direitos humanos de crianças e
adolescentes, de execução de medidas de proteção de direitos e de execução de
medidas socioeducativas. Os principais atores responsáveis pela promoção desses
direitos são as instâncias governamentais e da sociedade civil que se dedicam ao
atendimento direto de direitos, prestando serviços públicos e/ou de relevância
pública, como ministérios do governo federal, secretarias estaduais ou municipais,
fundações, ONGs, etc. Exemplo: Conselhos de Direitos, incluídos toda área da
assistência social, educação e saúde.
Eixo de Defesa: tem a atribuição de fazer cessar as violações de
direitos e responsabilizar o autor da violência. Tem entre os principais atores, os
Conselhos Tutelares, Ministério Público Estadual e Federal (centros de apoio
operacionais, promotorias especializadas), Judiciário (Juizado da Infância e
Juventude, Varas criminais especializadas, comissões judiciais de adoções)
Defensoria Pública do Estado e da União, e órgãos da Segurança Pública, como
Polícia civil, militar, federal e rodoviária, guarda municipal, ouvidorias, corregedorias
e Centros de defesa de direitos, etc.
Eixo de Controle Social: é responsável pelo acompanhamento,
avaliação e monitoramento das ações de promoção e defesa dos direitos humanos
de crianças e adolescentes, bem como, dos demais eixos do sistema de garantia
dos direitos. O controle se dá primordialmente pela sociedade civil organizada e por
33

meio de instâncias públicas colegiadas, a exemplo dos conselhos. (CALS, 2007, pg.
12-13).
Podemos notar que o controle social é exercido de forma soberana
pela sociedade civil, através das suas organizações e articulações representativas, a
exemplo dos conselhos dos direitos da criança e do adolescente, CONANDA
(Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do adolescente), CEDECA (Centro de
defesa da Criança e do Adolescente) e CMDCA (Conselho Municipal dos Direitos da
Criança e do adolescente) e dos conselhos setoriais de formulação e controle
políticas publicas.
Os Conselhos são frutos do avanço do processo de democratização
da vida política nacional. Que foi conquistado por milhares de mãos que, em todo o
país, redigiram, num esforço conjunto e articulado.
Instrumento de cidadania, os conselhos proporcionam a ação
integrada entre Estado e Sociedade Civil, na formulação e execução das políticas
públicas dirigidas para o atendimento dos direitos sociais das crianças e
adolescentes. Constitui uma instância valiosa de participação popular na esfera das
decisões do Estado. Todo cidadão tem o direito de procurar o Conselho de direito
para buscar informações, esclarecimentos e orientação técnica, para
questionamentos relacionados com irregularidades cometidas por entidades sociais
de atendimento à criança e ao adolescente, sejam elas públicas ou privadas.
Além de traçar as diretrizes das políticas voltadas a crianças e
adolescentes, cabe aos conselheiros de direito, acompanhar e avaliar programas
socioeducativos e de proteção de meninos e meninas.

Os conselhos devem interferir sempre que identificarem desvios,


abusos e omissões nas entidades, governamentais ou não, que
atuam na área da infância e juventude. (ANDRADE, 2005, p.55).

Paralelamente, são também muito importantes os órgãos e os


poderes de controle interno e externo definidos na Constituição Federal, como o
Conselho Tutelar, o Ministério Público, as Varas de Infância e Juventude, as
políticas e centros de Assistência Social, como os Centros de Referência da
Assistência Social (CRAS), os Centros da Criança e Adolescente (CCAs), escolas e
as secretarias municipais, estaduais e federais de Educação, Assistência Social,
Saúde e Direitos Humanos.
34

Assim, vê-se que no trato de crianças e adolescentes é


imprescindível à participação e ao comprometimento de todos os atores sociais
envolvidos, sem o que nenhuma política pública logrará êxito. Por imposição do bom
senso, há de se consignar aqui que tal débito não deve ser atribuído tão-somente ao
Poder Público. Família, instituições e entidades voltadas a crianças e adolescentes,
organizações não governamentais e a sociedade em geral têm sua parcela, pois
cada um desses atores deve assumir o seu papel de responsabilidade social na
preservação e operacionalização dos direitos a esses indivíduos.
As mudanças ocorridas na legislação pertinente aos direitos de
crianças e adolescentes trouxeram avanços no que diz respeito ao direito desses
indivíduos de forma geral, o que não chega a atender as suas necessidades que
possa refletir na sociedade.
A partir desta reflexão sobre o Sistema de Garantia de Direitos,
tendo por referência os processos permanentes de mudança que incidem sobre as
relações de sociedade, pode-se perceber que são muitos os espaços que precisam
ser engajados para a garantia de direitos. Nesse sentido, percebe-se também que
os eixos a ser articulados devem ir além daqueles propostos; há necessidade de
contemplar também os eixos específicos de instituição do direito e de sua
disseminação.
Para que o sistema funcione como mecanismo fluido e permanente,
é preciso que estes componentes (sociedade civil e governos) estejam articulados e
integrados, compartilhando responsabilidades e atuando a partir de suas raízes de
atuação para um fim comum.
Por fim conscientizo que tudo isso só será possível se houver uma
junção escola, família, professor, conselho tutelar e demais órgãos competentes
envolvidos direta ou indiretamente na vida de uma criança.

2.2.1 Crianças e adolescentes: sujeitos de direitos

Tornar essas crianças protagonistas no espaço em que vivem não é


uma tarefa fácil, exige a contribuição de cada órgão envolvido, escola, família,
incentivo, explicações e o mais importante acompanhamento dos pais na vida
dessas crianças.
Atribuir à pobreza das crianças e adolescentes ou a violação de
35

seus direitos as mudanças ocorridas na estrutura familiar é incorrer em um seria


distorção da historia da infância e da adolescência no país. Pois justamente
considerando a historia que podemos perceber a persistência das desigualdades e
das injustiças apontando para um complexo de fatores econômicos, sociais e
culturais.
A história do direito da criança e do adolescente no Brasil foi
marcada por um sem numero de tragédias, sofrimentos e humilhações, onde
meninas e meninos atem praticamente a promulgação da Constituição da republica
federativa do Brasil foram considerados meros objetos de fácil manipulação na
sociedade.
O aprofundamento das desigualdades sociais, com todas as suas
conseqüências, principalmente para as condições de vida da criança e dos
adolescentes, levou a revisão dos paradigmas assistenciais cristalizados na
sociedade. O olhar multidisciplinar e intersetorial iluminaram a complexidade e
multiplicidade dos vínculos familiares. O coroamento destas mudanças aconteceu
com a promulgação da Constituição Federal, em 1990, da Lei Orgânica da
Assistência Social (LOAS), em 1993 e com a ratificação da convenção sobre os
direitos da Criança em 1990, provocando rupturas em relação às concepções e
praticas assistencialista e institucionalizantes.
Trata-se da mudança do olhar e do fazer, não apenas das políticas
publicas focalizadas na infância, na adolescência e na juventude, mas expressivos
aos demais atores sociais do chamado Sistema de Garantias de Direitos, implicando
a capacidade de ver essas crianças e adolescentes como sujeitos de direitos e de
maneira indissociável do seu contexto sócio familiar e comunitário. Antônio Carlos
Gomes Costa, citado por Abreu, nos ensina:

Ate o surgimento do Estatuto da Criança e do Adolescente em 1990,


as legislações menoristas latino americanas, inclusive brasileiras,
eram baseadas na doutrina da situação irregular. Assim foi com os
Códigos de Menores existentes em toda América Latina. Hoje, com
O Estatuto da Criança e do Adolescente, a tendência é a doutrina de
proteção integral. A primeira manifesta a negação formal e
substancial da criança e do adolescente e a segunda respeita-os
como sujeitos de direitos. (ABREU, online)

O reconhecimento da criança e do adolescente como sujeitos de


direitos é resultado de um processo historicamente construído, marcado por
36

transformações ocorridas no Estado, na sociedade e na família. Proteger a criança e


o adolescente propiciar-lhes as condições para o seu pleno desenvolvimento.
O arcabouço legal brasileiro traz vários instrumentos que designam
os direitos das crianças e adolescentes e asseguram as suas proteções. Antes da
Constituição Federal e da ECA, vigorada, por lei (Código de Menores), a doutrina da
situação irregular. Crianças e adolescentes só apareciam para o Estado quando
estava, em situação de risco social (situação de rua , de abandono , de péssimas
condições sociais). O tipo de intervenção que recebiam não respeitava a dignidade
humana, pautava-se pelo mero assistencialismo.
A partir da Convenção Internacional dos Direitos da criança e do
adolescente de 1980, uma nova doutrina surgiu. Trata-se da doutrina da Proteção
Integral que foi adotada pela Constituição Federal e ,de forma mais detalhada , pelo
Estatuto da criança e do adolescente, ( ECA), onde reestruturaram todo o tratamento
jurídico, político e social destinado a infância e a juventude .

Tavares (2010) chama atenção para o fato de que a Constituição


Brasileira abarcou ai a doutrina da proteção integral, destacando que
crianças e adolescentes são sujeitos de direitos, dignos de proteção
especial, por causa da sua condição de desenvolvimento.

Crianças e adolescentes passam a serem titulares de direitos, com


prioridade absoluta, por estarem numa condição peculiar de desenvolvimento
biopsicossocial. Cujo texto reproduzido abaixo, de forma muito assertiva:

Art: 227 da constituição Federal. “É dever da família, da sociedade e


do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta
prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao
lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à
liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a
salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração,
violência, crueldade e opressão”. (BRASIL, 1988)

A riqueza deste artigo traz muitas possibilidades de reflexão. Ele


sinaliza, claramente, a responsabilidade da família, da sociedade e do Estado, como
as três instâncias reais e formais de garantia dos direitos elencados na Constituição
e nas leis.
Não por acaso o citado dispositivo constitucional reafirma o principio
da dignidade da pessoa humana, repetindo o artigo primeiro da carta, que o traz
37

como um dos fundamentos do Estado brasileiro. Referido principio é, antes,


fundamento basilar do Estado de Direito, e não realizará se não forem garantidos
com primazia a criança e o adolescente.
Os direitos a liberdade, ao respeito e a dignidade são direitos
fundamentais e inerentes à criança e o adolescente, como também aos seres
humanos em geral. Quanto aos direitos a convivência familiar e comunitária, a este
está à idéia de que é fundamental para o desenvolvimento da criança e do
adolescente, os quais não podem ser concebidos de modo dissociado de sua
família, do contexto sócio-cultural e de todo o seu contexto de vida.

A importância da preservação do direito à convivência familiar e


comunitária é pontuada no Estatuto, quando este estabelece que, na
aplicação de uma das medidas de proteção à criança e ao
adolescente vitimizados, deve se priorizar o fortalecimento dos
vínculos familiares e comunitários. (BRASIL, 2010, Art. 100)

O papel desempenhado pela família e pelo contexto sócio-


comunitário no crescimento e formação dos indivíduos justifica plenamente o
reconhecimento da convivência familiar e comunitária. Crianças e adolescentes tem
direito a uma família, cujos vínculos devem ser protegidos pela sociedade e pelo
estado. Nas situações de risco e enfraquecimento desses vínculos familiares, as
estratégias de atendimento deverão esgotar as possibilidades de preservação dos
mesmos, aliando o apoio sócio-econômico a elaboração de novas formas de
interação e referencias afetivas no grupo familiar. Em seu art. 4º. do ECA preconiza
que:

É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do


poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos
direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao
esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao
respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária. (BRASIL,
1990)

Todas essas medidas de proteção, previstas no Estatuto da Criança


e do Adolescente, apoiam-se em procedimentos metodológicos interdisciplinares,
pautados no caráter emancipado de todas as ações a serem empreendidas no
processo educativo das crianças e adolescentes, para que lhes sejam propiciadas
condições básicas de suporte para atingirem uma etapa de autonomia na condição
38

da própria existência. Maria Berenice entende:

O estatuto da criança e do adolescente, acompanhado a evolução


das relações familiares, mudou substancialmente o instituto. Deixou
de ser um sentido de dominação para torná-los sinônimos de
proteção, com mais características de deveres e obrigações dos pais
para com os filhos do que de direitos em relação a eles. (DIAS, 2009,
PA. 383).

É notório o reconhecimento de que o Estatuto da Criança e do


Adolescente é um instrumento de importante transformação na construção de uma
nova concepção de criança e adolescente e de gestão das políticas voltadas para a
infância e adolescência. A concepção histórica de “menor” abandonado e
delinqüente é questionada e este passa a condição de criança e o adolescente,
considerado sujeitos de direitos - visto que vivem em um Estado Democrático de
Direitos. Da mesma forma, o Estatuto também propõe mudanças no modelo
gestionário das decisões acerca da política voltada para esse segmento
populacional.
Diante de uma ampla visão acerca da criança e do adolescente,
torna-se o mesmo centro das atenções para ações que venham a proporciona-lhes
condições de liberdade e dignidade. Comparando a atuação legislação, verifica-se
que se rompeu com um passado marcado pela discriminação e violência, colocando
a criança e o adolescente no lugar que merecem, ou seja, como prioridade absoluta,
para o governo, para a família e para a sociedade em geral.

2.2.2 Crianças e adolescentes em fase de desenvolvimento

Quando falamos em criança devemos ter em mente que elas são


seres vulnerais que necessitam de uma proteção especial ante sua fragilidade à
sociedade, é um ser que tem uma ampla necessidade de proteção.
O que devemos observar, na verdade, nada mais é do que a
proteção dos interesses do menor, os quais deverão sobrepor-se a qualquer outro
bem ou interesse juridicamente tutelado, levando em conta a destinação social da lei
e o respeito à condição peculiar da criança e do adolescente. Por certo que essa
proteção integral depreende-se do fato de estarmos lidando com uma pessoa ainda
imatura, em fase de desenvolvimento, e por esta razão, todos os cuidados devem
39

ser tomados visando a melhor aplicação do direito. Cury, Garrido e Maçura dizem:

A proteção integral tem como fundamento a concepção de que a


criança e adolescente são sujeitos de direitos, frente a família, a
sociedade e ao estado. Rompe com a idéia de que sejam simples
objetos de intervenção no mundo adulto, colocando-os como titulares
de direitos comuns a toda e qualquer pessoa, bem como os direitos
especiais decorrentes da condição peculiar de pessoa em processo
de desenvolvimento. (CURRY, GARRIDO & MARÇURA, 2002, p.
21).

Conforme se observa, os adolescentes, sendo seres em


desenvolvimento, merecem ser protegidos e ter seus direitos resguardados; sendo
protegidos integralmente, ou seja, diante de qualquer situação seus interesses
devem ser levados em consideração.
É necessário que a família esteja presente durante todos os eventos
que compõe a vida dos seus integrantes, sendo que, adolescência requer atenção e
cuidado redobrado por se tratar de um momento de descobertas e muitas duvidas
para os adolescentes.
O processo de desenvolvimento, não afeta apenas os indivíduos que
estão passando por este período, mas, também as pessoas que convivem
diretamente com os mesmos, principalmente a família, sendo um sistema formado
pelo conjunto de relações interdependentes no qual a modificação de um elemento
induz o restante, transformando todo o sistema, que passa de um estado para outro.
O desenvolvimento da criança, e, mais tarde do adolescente,
caracteriza-se por intrincados processos biológicos, psicoativos, cognitivos e sociais
que exigem do ambiente que os cerca, do ponto de vista material e humano, uma
serie de condições, respostas e contrapartidas para realiza-se a contento. O
Estatuto da criança e do adolescente dispõe:

Art. 6º Na interpretação desta Lei levar-se-ão em conta os fins


sociais a que ela se dirige, as exigências do bem comum, os direitos
e deveres individuais e coletivos, e a condição peculiar da criança e
do adolescente como pessoas em desenvolvimento. (BRASIL, 1990)

Art.15. A criança e o adolescente têm direito à liberdade, ao respeito


e à dignidade como pessoas humanas em processo de
desenvolvimento e como sujeitos de direitos civis, humanos e sociais
garantidos na Constituição e nas leis. (BRASIL, 1990)

A compreensão de que a expressão de todo o seu potencial quando


40

pessoas adultas, maduras, têm como precondição absoluta a respeito as suas


necessidades enquanto pessoa em desenvolvimento, Pois não completaram a sua
formação, não atingiram a maturidade dos das suas funções. Portanto, necessitam
de tempo, de oportunidade e de adequada estimulação o para efetivar tais tarefas.
Enquanto isso precisa de proteção afeição e cuidados especiais.
Do mesmo modo que o adolescente passa por uma série de
transformações, a família também sofre mudanças, pois não está totalmente
preparada para lhe dar com os filhos durante a adolescência.

Assim, Losacco (2010, p. 690) enfatiza que enquanto ele passa por
uma adaptação para fase adulta, seus pais vivem a ruptura do
equilíbrio do desempenho do papel de pais de criança, para
adquirirem, também, com mais ou menos esforço e sofrimento, um
novo papel, o de pais de adolescentes [...]

De acordo com os parágrafos acima não é uma tarefa fácil essa


transição para os pais, mas como educadores primordiais na educação de seus
filhos a única maneira é se estruturar, dialogar e acompanhar essa mudança de
perto, sempre com atenção, carinho e respeito mútuo, sem ultrapassar barreiras e
tentar ao máximo instruir uma educação de qualidade na cabeça dessas crianças.
41

2.3 CAPÍTULO III: A FUNÇÃO PROTETIVA DA POLÍTICA NACIONAL DE


ASSISTÊNCIA SOCIAL

De acordo com o capítulo anterior, fizemos um apanhado sobre o


Sistema de Garantias da criança e do adolescente e como os pais devem
acompanhar essa transição de fase na vida de seus filhos, gerindo de maneira
adulta e tentando sempre estabelecer um dialogo aberto entre ambas às partes.
Falamos a seguir sobre a Política Nacional de Assistência Social.
A concepção da política de assistência social é fruto de uma
construção histórica e está diretamente relacionada às transformações societárias
contemporâneas na economia e da própria política social. A história da política social
é marcada pela focalização, fragmentação, descontinuidade e insuficiência.
Em 1988, com a promulgação da Constituição Federal no Brasil (CF
88), a assistência social adquiriu estatuto de direito a ser efetivado mediante
políticas públicas, ganhando assim, legitimidade como um dos tripés da política de
seguridade social, juntamente com a saúde e a previdência social. Tal fato foi um
marco para a história da assistência que se tornaria em breve uma política pública
social.
Logo depois em 1993, é sancionada a Lei Orgânica da Assistência
Social (LOAS), Lei 8.742/93 que dispõe sobre os objetivos, princípios e diretrizes, a
organização e gestão, as prestações e o financiamento da assistência social, ou
seja, iniciava-se então um processo de construção da gestão pública e participativa
da assistência social. A (LOAS) concretizam a assistência social da CF 88,
definindo-a como direito do cidadão e dever do Estado.
Em 2004, na IV Conferência de Assistência Social é verificada a
necessidade de uma política de assistência social que abrangesse todo o país com
a formação de um sistema integrado de serviços sócio-assistenciais, então firmou-se
aí a criação de uma rede de serviços de assistência, o Sistema Único de Assistência
Social (SUAS) e da PNAS (2004, p. 13), “que busca incorporar as demandas
presentes na sociedade brasileira no que tange às responsabilidades políticas,
objetivando tornar claras suas diretrizes na efetivação da assistência social como
direito de cidadania e responsabilidade do Estado.
Dentro desse campo de conquistas, a Assistência Social passa a ser
pensada como política de direito, como estratégia de enfretamento à questão social.
42

De acordo com o Art. 1º da Lei Orgânica da Assistência Social – LOAS, a


Assistência Social é:

Direito do cidadão e dever do Estado, é Política de Seguridade Social


não contributiva, que provê os mínimos sociais, realizada através de
um conjunto integrado de iniciativa pública e da sociedade, para
garantir o atendimento às necessidades básicas (BRASIL, 1993).

É incontestável que PNAS avança no sentido de organizar,


racionalizar e regulamentar a relação público/privado com o intuito de evitar
sobreposições de ações e o desperdício de recursos.
A assistência social enquanto política social pública tem conquistado
um espaço de legitimação e reconhecimento, pois se encarrega de atender as
demandas da população que por algum motivo sofre a possibilidade de violação de
direitos ou já sofreu. Para que os usuários possam ter acesso aos serviços sócio-
assistenciais, é necessário que se encaixem em critérios que fazem com que a
política de assistência social esteja a disposição a quem dela necessitar.
Baseadas na Constituição Federal de 1988 e na (LOAS), a
organização da Assistência Social tem as seguintes diretrizes:

I - Descentralização político-administrativa, cabendo a coordenação e


as normas gerais à esfera federal e a coordenação e execução dos
respectivos programas às esferas estaduais e municipais, bem como
a entidades beneficentes e de assistência social, garantindo o
comando único das ações em cada esfera de governo, respeitando-
se as diferenças e as características sócio-territoriais locais;
II – Participação da população, por meio de organizações
representativas, na formulação das políticas e no controle das ações
em todos os níveis;
III – Primazia da responsabilidade do Estado na condução da Política
de Assistência Social em cada esfera de governo;
IV - Centralidade na família para concepção e implementação dos
benefícios, serviços, programas e projetos (BRASIL, 1988 e 1993).

A política de Assistência Social deve ter como princípios a


supremacia das necessidades sociais sobre a rentabilidade econômica; a
43

universalidade dos direitos sociais; o respeito à dignidade, autonomia e direito do


cidadão, vedando-se qualquer comprovação vexatória de necessidade; a igualdade
de direitos no acesso ao atendimento e divulgação ampla dos benefícios e serviços.
De acordo com o texto da PNAS/2004, a Assistência Social deve dar
primazia à atenção às famílias e seus membros, a partir do seu território de vivência,
com prioridade àqueles com registros de fragilidades, vulnerabilidades e presença
de vitimização entre seus membros.

Os objetivos da Assistência Social são: proteção à família, à


maternidade, à infância, à adolescência e à velhice; o amparo às
crianças e adolescentes carentes; a promoção da integração ao
mercado de trabalho; a habilitação e reabilitação das pessoas
portadoras de deficiências e a promoção de sua integração à vida
comunitária; e a garantia de 1 (um) salário mínimo de benefício
mensal à pessoa idosa e ao portador de deficiência (BRASIL, art. 2º,
LOAS, 1993).

A proteção social de assistência social é hierarquizada em básica e


especial levando em consideração o grau de impacto dos riscos e vulnerabilidades
sociais sobre os indivíduos e suas famílias.
Destacando-se a proteção social básica, esta é destinada à
prevenção de riscos sociais e pessoais entre famílias e indivíduos, cujos direitos
estejam ameaçados. Visa o fortalecimento de vínculos familiares e comunitários e a
promoção do acesso a serviços, benefícios, projetos e programas sociais de
enfrentamento às situações de risco e vulnerabilidade social.
Os serviços de proteção social básica são executados de forma
direta nos Centros de Referência da Assistência Social – CRAS e através de outras
unidades básicas e públicas de assistência social e/ou entidades e organizações de
assistência social da área de abrangência dos CRAS. Verifica-se um impulso na
assistência, de estratégias que preconizam o estabelecimento de parcerias visando
à organização da rede sócia assistencial.
Os profissionais que atuam no (SUAS) são levados a pensar e
reproduzir o discurso que há uma grande transformação através desse princípio,
uma vez que anteriormente as problemáticas do idoso, da mulher, da criança, e do
adolescente, eram abordadas de maneira isolada. É preciso, porém, atentar para o
fato de que as problemáticas que se refletem diretamente nos vários “arranjos
familiares” são resultados das determinações sócios econômicos, culturais
44

estruturais, e conjunturais próprias da sociabilidade capitalista.


Os Centros de Referência da Assistência Social – CRAS são,
prioritariamente, os responsáveis pela execução dos serviços, programas, projetos e
benefícios de proteção social básica, além da organização e coordenação da rede
de serviços sócios assistenciais locais. Constituem-se uma unidade pública estatal
de base territorial, que se localizam nas áreas de “vulnerabilidade social” delimitadas
em cada município. (LEI Nº 12.435, DE 6 DE JULHO DE 2011.)
De acordo com o preconizado pelo (SUAS), os CRAS devem prestar
informação e orientação para a população de sua área de abrangência, bem como
se articular com a rede de proteção social local no que se refere aos direitos de
cidadania, mantendo ativo um serviço de vigilância da exclusão social na produção,
sistematização e divulgação de indicadores da área de abrangência do CRAS, em
conexão com outros territórios. Devem também realizar, sob orientação do gestor
municipal de Assistência Social, o mapeamento e a organização da rede sócia
assistencial de proteção básica e promover a inserção das famílias nos serviços de
assistência social local, através do encaminhamento da população local para as
demais políticas públicas.
Necessariamente são ofertados nos CRAS os serviços e ações do
Programa de Atenção Integral à Família – PAIF. Este programa é uma estratégia do
SUAS num intento de integração dos serviços sócio assistenciais e dos programas
de transferência de renda. Foi criado pelo Ministério do Desenvolvimento Social e
Combate à Fome – MDS, em 18 de abril de 2004 (Portaria nº 78), como parte da
proposta do Plano Nacional de Atendimento Integrado à Família – PNAIF,
implantado pelo Governo Federal no ano de 2003. Em 19 de maio de 2004, tornou-
se ação continuada da Assistência Social, passando a integrar a rede de serviços de
ação continuada da Assistência Social financiada pelo Governo Federal, através do
Decreto 5.085/2004.
Cabe aos CRAS à produção e sistematização de informações que
possibilitem a construção de indicadores e de índices territorializados das situações
de vulnerabilidades e riscos que incidem sobre as famílias referenciadas nos
respectivos Centros. O princípio da territorialização significa o reconhecimento da
presença de múltiplos fatores sociais e econômicos, que levam o indivíduo e a
família a uma situação de vulnerabilidade, risco pessoal e social. A partir desse
princípio as ações de assistência social são planejadas considerando a localização
45

da rede de serviços e os territórios de maior incidência de vulnerabilidade e riscos de


um determinado município. (NOB/05, p. 13-14)
Ainda que não possamos e não devamos desconsiderar as
possibilidades contidas no trabalho com famílias desenvolvido nos CRAS, é
importante destacar a necessidade de uma formação profissional consistente e
permanente para lidar com este contexto. Além disso, é preciso ter clareza do que
significa atuar com essas famílias, ou seja, perceber que o trabalho profissional não
pode se limitar a oferecer informações aos núcleos familiares ou a inseri-los nas
atividades e nos cursos disponíveis. As dificuldades são, também, estruturais, isto é,
vão muito além dos limites da profissão envolvendo questões complexas que
remetem à tensa relação capital e de trabalho no mundo contemporâneo. Neste
sentido, Mota faz a seguinte observação na direção de evitar novas formas de
messianismo (no campo profissional) em relação à atual Política de Assistência
Social:

[...] o que chama atenção é a capacidade que tiveram as classes


dominantes em capitalizar politicamente a Assistência Social,
transformando-a no principal instrumento de enfrentamento da
crescente pauperização relativa, ampliando o exército industrial de
reserva no seio das classes trabalhadoras. Mota (2008, p. 140)

O que a autora ressalta é que as classes dominantes invocam a


política de Assistência Social como solução para o combate à pobreza e nela
imprimem o selo do enfrentamento da desigualdade. Tempos atrás, a centralidade
da seguridade social girava em torno da previdência social, e agora, a tendência é
que a assistência assuma a condição de política estruturadora, e não como
mediadora do acesso a outras políticas e a outros direitos, como é o caso da política
de trabalho e renda.

O Código de Ética nos indica um rumo ético-político, um horizonte


para o exercício profissional. O desafio é a materialização dos
princípios éticos na cotidianidade do trabalho, evitando que se
transformem em indicativos abstratos, deslocados do processo
social. Afirma, como valor ético central, o compromisso com a
parceria inseparável, a liberdade. Implica a autonomia, emancipação
e a plena expansão dos indivíduos sociais, o que tem repercussões
efetivas nas formas de realização do trabalho profissional e nos
rumos a ele impressos (IAMAMOTO, 2008, p. 77)

O Código de Ética dos Assistentes Sociais é direção para profissão.


46

Nele encontram-se princípios fundamentais que devem nortear as práticas destes


profissionais. São princípios que dão suporte para vencer os desafios do cotidiano.
Além dos citados por Iamamoto (2008) acima, alguns deles são:

• Defesa intransigente dos direitos humanos e recusa do arbítrio e do autoritarismo;


• Ampliação e consolidação da cidadania, considerada tarefa primordial de
toda sociedade, com vistas à garantia dos direitos civis e sociais e políticos das
classes trabalhadoras;
• Posicionamento em favor da eqüidade e justiça social, que assegure
universalidade de acesso a bens e serviços relativos aos programas e políticas
sociais, bem como a gestão democrática.
• Empenho na eliminação de todas as formas de preconceito, incentivando o
respeito à diversidade, à participação de grupos socialmente discriminados e à
discussão das diferenças;
• Opção por um projeto profissional vinculado ao processo de construção de
uma nova ordem societária, sem dominação exploração de classe, etnia e gênero;
• Exercício do Serviço Social sem ser discriminado, nem discriminar, por
questões de inserção de classe social, gênero, etnia, religião, nacionalidade,
opção sexual, idade e condição física. (CRESS, 2005, p. 20-21)

Neste sentido, revela-se um profissional diferente, que nada contra a


correnteza. Que em meio a tantas desigualdades e explorações é ousado em lutar
por justiça social. E ainda ousa mais, pois opta “por um projeto profissional vinculado
a construção de uma nova ordem social” (CRESS, 2005, p. 20).
Contudo, encerro esse capítulo afirmando que são inúmeras
possibilidades que existe para esses profissionais: orientando a população sobre
seus direitos, lutando para uma sociedade mais justa, longe das mazelas e
desigualdade social, fazendo com que a ação do Assistente Social promova a
mudança e assim se materialize em “uma nova ordem social” contrária as
desigualdades e explorações, cuja ação é pautada na emancipação humana.

2.3.1 O trabalho social com as famílias e o ciclo de vida


47

De acordo com o capítulo anterior o papel do Assistente Social é de


fundamental intermediação para as famílias carente de informações e acolhimento
social. A família passa por pressões causadas pelo processo de exclusão
sociocultural, aumentando as suas contradições e assim a família que é provedora
de cuidados, apoio e proteção de seus membros também precisa ser cuidada e
protegida. Para que isto ocorra à família terá que ser acompanhada na busca de
uma metodologia eficiente, com um principio básico de elevar a elas condições de
parceria dos programas sociais, afim de que contribuam para a inclusão e o
exercício pleno de processos de autonomia.
Compreender a pluralidade da família, suas formas de organização e
as particularidades que emergem da condição de classe social, bem como da
singularidade relativa a questões étnicas e culturais, são aspectos predominantes
para lidar com o trabalho social. Podendo-se, a partir dai favorecer a formulação de
programas eficazes.

Necessário se faz examinar as particularidades de cada família em


termos de tempo e espaços sociais, principalmente no que se refere
a sua configuração e organização, ao seu percurso transgeracional e
a sua localização territorial. (GUEIROS, 2007).

Um trabalho que abarque esse processo conjunto com a família


deve estar diretamente associado às necessidades apresentadas por ela, mas, via
de regra, é importante que se realizem, além de sua inclusão em políticas de
proteção social, diferentes modalidades de atendimento, algumas de caráter
individualizado e outras de caráter coletivo. Esse cuidado é necessário porque um
indivíduo, ou uma família, pode melhor se expressar em uma determinada
modalidade do que em outra e, assim, ampliam-se as possibilidades de identificação
de suas questões e de suas potencialidades.
A atenção individualizada visa abordar as questões que são
singulares àquela família, sobretudo as relativas às vicissitudes de seu percurso de
vida, ao convívio de seus vários membros e ao processo sócio educacional de
crianças e adolescentes. Os procedimentos de caráter coletivo envolvem diversas
famílias e têm o objetivo de trabalhar as particularidades daquele conjunto de
sujeitos e de estimular a articulação entre eles, inclusive em prol da reivindicação de
seus direitos sociais.
48

Em relação às diferentes fases da vida humana, considerado ciclo


de vida é necessário manter serviços às crianças, aos adolescentes, aos jovens, aos
idosos, e às famílias, garantindo o reconhecimento peculiar de cada faixa etária.
Torna-se imprescindível a organização da rede de serviços dentro
de um determinado território, que inclui as diferentes organizações, na perspectiva
de evitar lacunas nas ações. Uma eficiente organização da rede de serviços
proporciona um melhor atendimento as necessidades apresentadas a pela família.

É o que diz Siqueira ((2013), p. 141) As redes de proteção social são


indispensáveis em programas de superação de pobreza e se
comportam com flexibilidade e alta variabilidade para assegurar
proteção efetiva.

Tendo sempre presente à importância de coletivamente


mobilizarem-se forças em prol do enfrentamento das causas estruturais da
pauperização, no planejamento e na execução de um trabalho social, há de se
direcionarem esforços para a articulação entre bens e serviços públicos como forma
de assegurar os direitos individuais e sociais à família. Desse modo, torna-se
imprescindível a organização da rede de serviços do território, que inclui o constante
diálogo entre as diferentes organizações, na perspectiva de evitar descontinuidades,
lacunas ou sobreposições de ações.
Essa rede de sérvios tem a responsabilidade de assegurar
condições protetivas às famílias, na perspectiva da efetivação de direitos e de
fomentação de processos emancipatórios, com vistas a promover a justiça social.
Deve contemplar igualmente a interdisciplinaridade e
intersetorialidade (articulação das políticas de saúde, educação, assistência e
habitação, entre outras) e zelar pela permanência a médio e longo prazo dos
programas e serviços oferecidos, posto que as famílias já vivem múltiplas
instabilidades (de trabalho, de domicílio, da rede de suas relações sociais primárias,
por exemplo) e não podem ser submetidas também a projetos que não se
constituam em políticas de longo alcance, em termos dos recursos necessários e de
um tempo viável ao processo de autonomia e de emancipação da família.
Existe a necessidade de permanente avaliação e monitoramento do
trabalho social como forma de torná-lo condizente com as demandas da população
em foco, eficaz em suas ações e efetivo em seus objetivos. Nessa perspectiva, um
49

aspecto que pode e deve ser contemplado é a reflexão, e redefinição se for o caso,
de conceitos que orientem os gestores e profissionais no planejamento e execução
do trabalho, com vistas a implementar as premissas conceituais e legais das
questões em foco, fazer a devida articulação das condições vividas pela população
com as relações sociais mais amplas e a defesa intransigente da garantia dos
direitos fundamentais dos sujeitos em prol de sua autonomia e cidadania.
O trabalho social com famílias constitui-se um desafio para os
profissionais que atuam nessa área. Vale dizer que, os profissionais devem atuar
nas demandas providenciando respostas para as necessidades da família. Dessa
forma, para atingir seus objetivos é necessário incorporar o compromisso ético e
político com a população demandataria dos serviços com intuito da transformação
social e garantias de diretos. Compreendendo a demanda em sua totalidade e suas
contradições, os profissionais ao realizarem trabalho social com famílias devem
articular e criar meios para cumprir a sua função social e atingir seus objetivos.
Nesse sentido, a intervenção no âmbito do Serviço Social deve
resultar em uma analise criteriosa das demandas e do percurso de vida dos sujeitos
ou das famílias a quem está direcionada a ação profissional, inclusive para obter
uma compreensão mais apurada das estratégias de enfrentamento das
vulnerabilidades sociais da população alvo, tendo sempre em vista as causas
estruturais de sua pauperização e de seu desenraizamento social. Os processos de
atenção às famílias fazem parte da história da profissão.

Os assistentes sociais são os únicos profissionais que têm a família


como objeto privilegiado de intervenção durante toda sua trajetória
histórica, ao contrário de outras profissões que a privilegiam em
alguns momentos e, em outros, a tiram de cena. (NEDER, 1996)

Em prol da efetividade e eficácia do trabalho social, certas


demandas precisam ser respondidas com a maior brevidade possível, inclusive
porque disso depende o não agravamento da questão em foco. Se esse aspecto não
for considerado, o que emergiu como sendo de média complexidade pode se
transformar em situação de alta complexidade e, por conseguinte, exigir mais tempo
e recursos para seu equacionamento, além de ocasionar maior sofrimento e até
danos à pessoa ou à família.
Portanto, esperamos ter contribuído para uma compreensão, ainda
50

que superficial, da importância da família para o desenvolvimento da criança e do


adolescente, esse vínculo tão necessário e importante, pois as mesmas terão um
alicerce como base para desencadear um futuro promissor. Sem contar com o papel
do Assistente Social um profissional a serviço dos direitos, da cidadania e da justiça
social, que surgiu a partir das demandas sociais e permanece consciente de que é
referendado pelas classes menos favorecidas socialmente, porém com outra ótica: a
do compromisso com essa parcela da sociedade, em busca da transformação de
suas realidades, e tendo como parceiros outros profissionais e os usuários.
51

3 CONCLUSÃO

Apresenta-se a importância da família, pois é este o lócus


privilegiado e primeiro a proporcionar a garantia de socialização, proteção e
cuidados. Viver em família, além de direito, é condição fundamental para o
desenvolvimento infantil, para a criação de vínculos afetivos e a construção de
identidade social, indispensável para a formação da pessoa humana.
Diante do reconhecimento da importância da família, pode-se
compreender como algo que se define por uma historia que se conta aos indivíduos,
dede que nascem, por palavras, gestos, atitudes ou silêncios e que será por eles
reproduzido. Todas as transformações ocorridas no interior das famílias originam-se
do conjunto das mudanças sociais no decorrer dos tempos.
Na formação educacional, a escola sempre teve um papel
fundamental, e hoje alem de ensinar para a cidadania e para o trabalho, tem
também a responsabilidade de passar os valores fundamentais para a vida do
individuo, sendo que esse papel deveria ser uma iniciativa da família que muitas
vezes não estão integrados na aprendizagem e formação de seus filhos, o apoio da
família aos trabalhos desenvolvidos com os alunos seria um aliado importante para o
bom êxito na construção do saber.
O papel da família se volta para o bem-estar do grupo familiar, em
termos de crescimento, desenvolvimento, progresso e realização de seus ideais,
através do apoio e flexibilidade nos padrões de conduta moral e social. Pode ser
fundamentado na prática do cuidado, aproveitando as possibilidades de cada
membro, conforme suas crenças e seus valores. O desafio dos pais está na
qualidade dessa convivência deixando claro aos filhos limites, valores, evitando que
os jovens procurem outros exemplos fora da estrutura familiar, que muitas vezes
cheios de carências, poderá apresentar comportamentos negativos como os vícios e
o individualismo, a acomodação e no aspecto socioeconômico, a falta das
necessidades básica para sobreviver.
Sabemos que o problema da criança e do adolescente, antes de
estar centradas neles, encontra-se centrado nas famílias. A família deve ser
fortalecida, assim os seus menores não serão privados da assistência que lhes é
devida. Considerada a responsável pela proteção e cuidado de seus membros,
atualmente, a família é chamada para desempenhar papel central na execução das
52

políticas sociais, sem considerar as suas fragilidades para tal desafio.


A defesa dos direitos e a universalização dos acessos devem
articular a proteção social das crianças e adolescente, as políticas de apoio as suas
famílias. Em suma, políticas sociais devem apoiar as famílias no cumprimento de
suas funções de cuidado e socialização de seus filhos, buscando promover a
inclusão social e buscar a superação das vulnerabilidades, sendo também
necessárias políticas e ações voltadas para proteger as crianças e adolescentes
quando os seus vínculos familiares estão fragilizados ou rompidos, oferecendo
atenção especializada e acompanhamento sistemático em programas de orientação,
apoio e proteção no contexto social.
O direito a convivência familiar e comunitária deve ser buscado por
toda rede de proteção de crianças e adolescentes criando condições para que haja
um desenvolvimento digno e sadio, permitindo que se formem como verdadeiros

cidadãos. Comungamos a idéia de que a convivência familiar é essencial para o


desenvolvimento de crianças e adolescentes, além de um direito inalienável, e que a
promoção e o apoio àquelas mais vulneráveis é fator fundamental para que a

prevenção da apartação social de crianças, adolescentes e suas famílias não


aconteçam pela via da institucionalização imotivada.
Todavia, se necessária à ruptura desses vínculos, caberá ao estado
a proteção dessas crianças e desses adolescentes, através do envolvimento de
programas, projetos e estratégias que possam levar a constituição de novos
vínculos, para possibilitar a adoção das medidas cabíveis aptas a garantir o direito
fundamental a convivência familiar e comunitária. Tendo-se convicção todo trabalho
deve ser guiado por esse norte.
De tudo que ate aqui foi apresentado, pode-se constatar que este é
um contexto inquietante a todos os que de preocupa com a construção de uma
sociedade mais humana. . Devemos buscar constantemente possibilidades e o
protagonismo dessas famílias, enfatizando aspectos preventivos, com atendimentos
e orientações. Essas mudanças dependem fundamentalmente de ações articuladas
a outras políticas.
Inserir essas famílias em sua integridade, pois a centralidade de
proteção social a família e seus membros vêm do reconhecimento dos efeitos que o
processo de desigualdade e exclusão social gera nas famílias, expondo-as a riscos
53

e violações de/e em seus direitos.


É preciso que os órgãos competentes trabalhem para detecção
precoce, onde possam reduzir as importantes seqüelas decorrentes, e que utilizem
atividades que resultem em proteção, assistência e habitação da criança e do
adolescente.
Com referencia para a construção dessas políticas, sobressai à
necessidade de se dar apoio às famílias, para que tenham uma vida digna e possam
construir os alicerces para o exercício da orientação e proteção de seus filhos. Isso
exige decisão ética e investimento político, aliados ao conhecimento teórico para um
efetivo trabalho que enfrente as múltiplas expressões da questão social que grande
parte das famílias vivencia.
É necessário investir nas famílias, seja por meio de programas de
renda e de trabalho, sejam pelo incremento da rede de creches, escolas, centros de
juventude e atendimento psicossocial. Por vezes, a ausência ou ineficiência de
serviços que atendam essas famílias resulta na falta de alternativas para a
manutenção e educação dos filhos. Fica evidente que o essencial é que o Estado
criasse formas de atender as necessidades econômicas e sociais das famílias para
que elas consigam efetivar a proteção integral e acompanhar o desenvolvimento de
suas crianças e adolescentes.

Segundo Acosta e Vitale (2010, p. 1340, Há hoje uma tendência


consolidada apontando a necessidade de se conhecer e criarem
ações para intervir nas contradições e hiatos sociais da sociedade
brasileira.

Reconhecer a criança e o adolescente como sujeitos de diretos, em


condição de pessoa em desenvolvimento, passando para a família, a sociedade e o
estado, a responsabilidade pela garantia e atendimento de todas suas
necessidades. Observa-se que foi só com o advento do estatuto da criança e do
adolescente que passou a ser observada a doutrina de proteção integral a crianças
e adolescentes; vez que, frise-se apesar de adotada tal teoria essa doutrina de
proteção integral tem de ficar além de escritos, devendo ser exercido pela sociedade
e estatais como um todo. Ainda se tem pela frente um longo caminho na garantia
dos direitos da criança e do adolescente.
O serviço social nesta perspectiva trabalha para que a medida seja
54

aplicada com caráter excepcional e provisório, na busca pela consolidação da


cidadania e garantias de direitos. Desse modo, consideramos imprescindível que os
assistentes sociais gestores ou executores de projetos sociais avaliem
constantemente se as ações em curso estão trazendo algum impacto para a
superação das vulnerabilidades sociais e em prol do processo de emancipação e de
cidadania daqueles indivíduos e famílias.
Estabelecer um Sistema de garantias de direitos com todos os
integrantes da rede, no enfrentamento dos problemas locais, com responsabilidade
publica e políticas definidas. Assim, a medida que todos os atores envolvidos no
planejamento das políticas publicas esteja, fortalecidos em seus papeis e funções ,
devera ocorrer uma melhoria no atendimento a infância e adolescência.
É possível afirmar que embora haja uma maior veiculação de
informações, num mundo tão globalizado e tecnológico, ainda há muito que se lutar
em defesa da família para que a criança tenha os seus direitos preservados. E haja
uma mudança de olhar da própria sociedade frente às novas formações familiares
que hoje se apresentam, sem discriminações e preconceitos pré-estabelecidos.
55

REFERÊNCIAS

ABREU, Waldir Ferreira de. A história da construção do estatuto da criança e do


adolescente e a política de atendimento: reflexões para o debate. On-line.
Disponível em http://www.ufpa.br/nupe/artigo11.htm.

ACOSTA, Ana Rojas; VITALE, Maria Amalia Faller. Família: Redes, Laços e
Políticas Públicas. (Org.). 5. ed. São Paulo: Cortez, 2010.

ALMEIDA, Ana Rita Silva. O que é Afetividade? Reflexões para um conceito. s.d.
Disponível em: http://www.educacaoonline.pro.br/o_que_e_afetividade.asp. Acesso
em 05 de abril de 2012.

ANASTÁCIO, A. H. A. K. A participação da família no contexto escolar da


educação infantil em uma escola privada de Sinop. 2009. Disponível em:
<http://www.unemat-net.br/prof/foto_p_downloads/fot_1565micuosoft_woud_-
_anne_kelly(1)_pdf.pdf >. Acesso em: 17 mar. 2012.

ANDRADE, Patrícia. Infância e Parlamento: Guia para Formação de Frentes


Parlamentares da Criança e do Adolescente. Brasília: Senado Federal,
Gabinete da Sen. Patrícia Saboya Gomes, 2005.

Amazonas, M. CL. Damasceno, P.R.,Terto, L.M.&Silva, R.R. (2003). Arranjos


familiares de crias de camadas populares. Psicologia em Estudo, 8(nº.esp.),201-
208.

ARANHA, M.L. DE A. Filosofia da Educação. São Paulo: Moderna, 1989. 

BATTAGLIA, Maria do Céu Lamarão. Terapia de família centrada no sistema. Rio


de Janeiro, 2002. Disponível em: www.rogeriana.com/battaglia/mestrado/tese02.htm,
acessado em 17 de fevereiro 2010.

BOWLBY. Cuidados Maternos e Saúde Mental. Porto Alegre: Artes Médicas, 1998
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da Republica Federativa do Brasil. São
Paulo. Saraiva, 2010.

BRASIL. Lei n º 8.069, de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da


Criança e do Adolescente e dá outras providencias. Diário Oficial [da] União,
Poder Executivo, Brasília, DF, 16 DE JUL. 1990.

BRASIL. Política Nacional de Assistência Social (PNAS). Brasília: Ministério do


Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS), 2004.

BRASIL, Política Nacional de Assistência Social. MDS/PNAS, Brasília, 2004

CALS, Carlos Roberto; GIRÃO, Ivna; MOREIRA; Márcio Alan. Direitos de Crianças
e Adolescentes: Guia de Atendimento. Fortaleza, 2007.
56

CARVALHO, M.E.P de. Modos de educação, gênero e relações escola-família.


[S.l.:s.n.],2006.

Cecconello, A. M., De Antoni, C. & Koller, S. H. (2003). Práticas educativas, estilos


parentais e abuso físico no contexto familiar. Psicologia em Estudo, 8(nº esp.),
45-54.

COULANGES, Fustelde. A cidade Antiga. São Paulo: Editora Martin Claret, 2005.

CRESS, (Conselho Regional de Serviço Social 6ª Região) Código de ética


Profissional dos Assistentes Sociais. In: Coletânea de Leis- Belo Horizonte:
CRESS, 2005.

CURY, Munir; PAULA, Paulo Afonso Garrido de; MARÇURA, Jurandir Norberto.
Estatuto da criança e do adolescente anotado. 3ª ed., rev. E atual. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 2002.

DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. 5. ed. São Paulo: Revista
dos Tribunais, 2009.

DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito das Famílias. 3. Ed. São Paulo: Editora
Revista dos Tribunais, 2006.

DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro. Volume 5.  Direito de
Família. 24ª edição. Editora Saraiva. 2009.

DOLTON, F. Quando os pais se separam. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor,


1991.

Figueira, S. (1987). O "moderno" e o "arcaico" na nova família brasileira: notas


sobre a dimensão invisível do social. Em S. Figueira (Org.), Uma nova família (pp.
11-30). Rio de Janeiro: Jorge Zahar. 

GUEIROS, D. Adoção consentida: do desenraizamento social da família à


prática de adoção aberta. São Paulo: Cortez, 2007

GUZZO, R. S. L; TIZZEI, R. P. Olhar sobre a criança: perspectiva de pais sobre o


desenvolvimento. In: GUZZO R. S.L, et al. Desenvolvimento infantil: família,
proteção e risco. Campinas, SP:  Alínea, 2007.p.35-57.

HOUAISS - Dicionário eletrônico da Língua Portuguesa. São Paulo: Objetiva,


2001.

HUTZ.C.S. Situações de Risco e Vulnerabilidade na Infância e Adolescência:


Aspectos Teóricos e Estratégias de Intevenção. Casa do Psicólogo, São Paulo,
2002.

IAMAMOTO, Marilda Vilela. O Serviço Social na contemporaneidade: trabalho e


formação profissional. 14. ed. – São Paulo: Cortez, 2008.
57

______. Lei Orgânica da assistência Social (LOAS). Lei nº 8.742, de7 de


dezembro de 1993. Brasília: Conselho nacional de Assistência Social (CNAS), 2011.

LOSACCO, Silvia. O jovem e o contexto familiar. In: ACOSTA, A. R.; VITALE, M.


A. F. (Org.). Família: redes, laços e políticas públicas. 5. ed. São Paulo: Cortez,
2010.

MACIEL, Carlos Alberto Batista. A família na Amazônia: desafios para a


assistência social. In: Revista Serviço Social e Sociedade. São Paulo: Cortez, ano
XIII, n.71, set. 2002. Edição Especial Famílias.

MOTA, Ana Elizabete (Org). O mito da assistência social: ensaios e Estado,


política e sociedade. 2.ed.rev. e ampl. São Paulo:Cortez, 2008.

NEDER, G. Trajetórias Familiares. Florianópolis, Mimeo, 1996.

NEUMANN, Patrícia Ana. HABIGZANG, Luísa Fernanda. In: Adolescentes em


conflito: violência, funcionamento anti-social e traços de psicopatia. São Paulo:
Casa do Psicólogo, 2012.

NOGUEIRA, P.C, A criança em situação de abrigamento: reparação ou re-


abandono. 2004. Dissertação (Dissertação de Mestrado) – Universidade de Brasília,
Brasília, 2004.

PELT, Nancy Van. Como formar filhos vencedores – Desenvolvendo o caráter a


personalidade. São Paulo: Casa Publicadora Brasileira, 2006.

PEREIRA, J.M.F. A adoção tardia frente aos desafios na garantia do direito a


conivência familiar. 2003. Dissertação ( Dissertação de Mestrado)- Universidade
de Brasília , Brasília, 2003.

PEREIRA, P. A. P. Mudanças estruturais, política social e papel da família:


crítica ao pluralismo de bem-estar. In: Política Social, Família e Juventude: uma
questão de direitos. São Paulo: Cortez, 2006.

PIAGET, VYGOTSKY, WALLON. Teorias psicogenéticas em discussão. Yves de


La Taille, Martha Kohl de Oliveira, Heloysa Dantas. 14º ed.- São Paulo: Summus,
1992.

SIQUEIRA, Luana. Pobreza e serviço social: diferentes concepções e


compromissos políticos. 1. ed. São Paulo: Cortez, 2013.

SPITZ, R. A . O primeiro ano de vida. São Paulo: Martins Fontes, 2000.

RUBINSTEIN, E. R. A queixa escolar na atualidade In: RUBINSTEIN,E. R. O


estilo de aprendizagem e a queixa escolar: Entre o saber e o conhecer. Casa do
Psicólogo, 2003.  p. 51-71.
58

TAVARES, Patrícia Silveira. A política de atendimento. In: MACIEL, Katia Regina


Ferreira Lobo Andrade (Coord.). Curso de direito da criança e do adolescente:
aspectos teóricos e práticos- Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2010. P. 297-351.

VALLE, Ângela da Rocha.Psicol. Am. Lat.. México, n. 3, fev 2005. Disponível em


http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1870-
350X2005000100004&lng=pt&nrm=iso.

WALD,Arnoldo.Direitodefamília.13.ed.,rev.,apl.eatual.SãoPaulo:RevistadosTribunai
s,2000.

WINNICOTT, D. Privação e delinqüência. São Paulo: Martins Fontes, 1999.

Disponível em: <http://www.jusbrasil.com.br/busca?q=Art.+1634+do+C


%C3%B3digo+Civil>.

Você também pode gostar