Você está na página 1de 54

_________________________________________________________________________

SISTEMA DE ENSINO PRESENCIAL CONECTADO


CURSO: BACHARELADO EM SERVIÇO SOCIAL

KARLA RAFAELA SILVA GALVÃO

VIOLÊNCIA DOMÉSTICA CONTRA CRIANÇAS E ADOLESCENTES NO


CONTEXTO FAMILIAR

___________________________________________________________________
São Luis - MA
2022
KARLA RAFAELA SILVA GALVÃO
VIOLÊNCIA DOMÉSTICA CONTRA CRIANÇAS E ADOLESCENTES NO
CONTEXTO FAMILIAR

Trabalho apresentado ao Curso de Serviço


Social – Universidade Anhanguera, para a
disciplina Trabalho de Conclusão de Curso II.

Professor da disciplina: Valquíria Aparecida


Dias Caprioli

São Luis - MA
2022
AGRADECIMENTOS

Nesse momento de agradecimentos após uma longa jornada existem


pessoas as quais serão citadas, pois em quase todo o percurso estiveram ao meu
lado, com palavras de apoio ou ao mostrarem que era possível persistir mesmo nos
instantes de fraqueza e dificuldades. O primeiro nome o qual deve ser mencionado é
daquele que me deu a oportunidade de existir e hoje poder contar a minha história,
obrigada Deus por me proporcionar essa vitória para que o teu nome seja mais uma
vez glorificado em minha vida com toda sua magnitude e por me possibilitar ter
pessoas que fizeram e fazem a minha caminhada ser mais leve.
Sou grata pela vida de meus pais por desde muito cedo serem meus
exemplos de integridade, principalmente minha mãe, perseverança e esforço, hoje
vocês estão colhendo os frutos de anos de lutas, amor e dedicação, obrigado por
cuidarem de mim com tanto carinho.
Agradeço a todos os meus amigos de curso que também estiveram
comigo ao longo de várias lutas, vitórias e aprendizados. Aos meus professores que
sempre estiveram dispostos a responder minhas dúvidas, inclusive a minha
orientadora e a minha supervisória, bem como aos demais profissionais que me
receberam e me auxiliaram desde o começo desta etapa de conclusão de curso.
Enfim, sou grata por cada um que contribuiu para vencer mais esta fase
na vida e por todo apoio que me proporcionaram para chegar até aqui.
“O mais difícil é tomar a decisão de agir, o
resto é mera tenacidade”. (Amelia
Earhart).

“Murar seu próprio sofrimento é arriscar


ser devorado por dentro”. (Frida Kahlo).
GALVÃO, Karla Rafaela Silva. VIOLÊNCIA DOMÉSTICA CONTRA CRIANÇAS E
ADOLESCENTES NO CONTEXTO FAMILIAR. 2022. 50 páginas. Trabalho de
Conclusão de Curso de Bacharel em Serviço Social – Universidade Anhanguera,
São Luís, 2022.

RESUMO

Este trabalho aborda a questão da violência doméstica contra crianças e


adolescentes no núcleo familiar, como violação aos seus direitos humanos. Para o
enfrentamento da violência, em especial a de natureza doméstica, faz-se necessário
envolver assuntos pertinentes acerca da família e diferentes profissionais que
interagem com a criança e adolescente. Baseado nisso, aponta-se que a violência
familiar contra esse público apresenta-se, no contexto atual, como uma das
principais expressões da questão social. Contudo, ela não representa um fenômeno
construído na época presente; esta forma de violência se revela durante toda a
história da infância e da adolescência no cenário mundial, sendo permeada por
valores culturais e estruturais que contribuem para a confirmação de ciclos de
violência que perpassam a história e se afirmam atualmente. Em suas diferentes
faces a violência física, a negligência, a violência sexual e a violência psicológica,
uma problemática que vem exigindo da sociedade, dos profissionais atuantes na
área e, de forma geral, das diversas esferas governamentais, não apenas a
afirmação de sua existência, mas, principalmente, ações que possam diminuir suas
consequências e contribuir para sua eliminação. Nesse sentido, o presente trabalho
tem como objetivo discutir a problemática da violência familiar contra crianças e
adolescentes, apontando, para tanto, conceitos que viabilizem sua compreensão, as
suas principais características e expressões, assim como contextualizar o panorama
dessa violência no contexto familiar. Nas metodologias de pesquisa foram aplicadas
no desenvolvimento da revisão literária foi a pesquisa bibliográfica e nas práticas
construtivas da temática com base em princípios de reflexão-ação, dialético, aplicou-
se a qualitativa e descritiva. Como justificativa, evidencia que abordagem sobre a
violência doméstica trata-se um assunto de suma importância para o debate social
contemporâneo, precisando ela ser trabalhada assiduamente a partir de demandas
emergentes do contexto de vida da população-alvo no intuito de fortalecer o combate
e chamar a tenção da sociedade para essa polemica berrante no que tange a
necessidade de subsidiar meios mais plausíveis para prevenção e extirpar esse tipo
de violência, bem como de outras.

Palavras-chave: Violência doméstica. Criança. Adolescente. Família. Direito


GALVÃO, Karla Rafaela Silva. DOMESTIC VIOLENCE AGAINST CHILDREN AND
ADOLESCENTS IN THE FAMILY CONTEXT. 2022. 50 words. Completion of
Bachelor's Degree in Social Works – Universidade Anhanguera, São Luís, 2022.

ABSTRACT

This work addresses the issue of domestic violence against children and adolescents
in the family nucleus, as a violation of their human rights. To deal with violence,
especially domestic violence, it is necessary to involve relevant issues about the
family and different professionals who interact with children and adolescents. Based
on this, it is pointed out that family violence against this public presents itself, in the
current context, as one of the main expressions of the social issue. However, it does
not represent a phenomenon constructed at the present time; this form of violence is
revealed throughout the history of childhood and adolescence on the world stage,
being permeated by cultural and structural values that contribute to the confirmation
of cycles of violence that permeate history and are currently asserted. In its different
faces, physical violence, neglect, sexual violence and psychological violence, a
problem that has been demanding from society, from professionals working in the
area and, in general, from the various governmental spheres, not only the affirmation
of its existence, but, mainly, actions that can reduce its consequences and contribute
to its elimination. In this sense, the present work aims to discuss the problem of
family violence against children and adolescents, pointing out, for that purpose,
concepts that facilitate its understanding, its main characteristics and expressions, as
well as contextualizing the panorama of this violence in the family context. In the
research methodologies were applied in the development of the literary review was
the bibliographic research and in the constructive practices of the theme based on
principles of reflection-action, dialectical, qualitative and descriptive was applied. As a
justification, it shows that the approach to domestic violence is a matter of paramount
importance for the contemporary social debate, and it needs to be worked
assiduously from emerging demands from the context of life of the target population
in order to strengthen the fight and call for society's attention to this blatant
controversy regarding the need to subsidize more plausible means of preventing and
rooting out this type of violence, as well as others.

Keywords: Domestic violence. Child. Adolescent. Family. Right


LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 – Maiores índices de mortes de crianças e adolescentes no Brasil...........25


Gráfico 2 - Principais violências contra crianças e
adolescentes ................................26
Gráfico 3 - Violências mais
praticadas ........................................................................27
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

BPC Benefício de prestação continuada


CONANDA Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente
CRAS Centro de Referência de Assistência Social
CREAS Centro de Referência Especializado de Assistência Social
ECA Estatuto da Criança e do Adolescente
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IPEA Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
LGBT’s Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transgênero
ODM Objetivos de Desenvolvimento do Milênio
OMS Organização Mundial de Saúde
ONGs Organizações Não Governamentais
ONU Organização das Nações Unidas
OPAS Sistema Único de Saúde Organização Pan-Americana da Saúde
PAIF Serviço de Proteção e Atendimento Integral à Família
PSE Programa Saúde na Escola
SBP Sociedade Brasileira de Pediatria
SINAN Sistema Informação de Agravos e Notificação
SGDCA Sistema de Garantia dos Direitos da Criança e do Adolescente
SUAS Sistema Único de Assistência Social
SUS Sistema Único de Saúde
TMI Tributos Municipais Inteligentes
Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a
UNESCO
Cultura
UNICEF Fundo Internacional de Emergência das Nações Unidas
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO........................................................................................................10
2 CONCEITOS DE INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA.................................................12
2.1 Infância.................................................................................................................13
2.2 Adolescência........................................................................................................15
3 ALGUNS ASPECTOS ACERCA DA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA INFANTIL........18
3.1 Contextualizando a violência doméstica no âmbito familiar................................21
4 OS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE...........................................29
4.1 Proteção dos direitos das crianças e adolescentes no Brasil..............................29
4.2 A Constituição Federal de 1988...........................................................................35
4.3 Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA)......................................................37
4.4 Dos demais mecanismos de proteção à criança e ao adolescente.....................39
5 CONCLUSÃO.........................................................................................................45
10

1 INTRODUÇÃO

No Brasil, atualmente, a violência exercida por pais ou responsáveis contra


suas crianças e adolescentes é considerada pelo Ministério da Saúde como um
problema de saúde pública de tamanha expressividade que a Política Nacional de
Redução da Morbimortalidade por Acidentes e Violências deste Ministério determina
como devem ser tratadas e notificadas as ocorrências deste fenômeno, endossando
as preocupações daqueles que, em função das atividades que exercem, deparam-se
cotidianamente com seus efeitos e consequências.(www.brasil.escola).

Na análise desse contexto, pretende-se com este trabalho abordar sobre o


enfrentamento da violência sexual contra crianças e adolescentes no contexto
familiar, pois, esse tipo de agravo acontece em todas as camadas da sociedade não
importa a classe social, a raça ou o nível de escolaridade, e, o pior, é no ambiente
que deveria ser acolhedor e protetor que acontece grande parte da violência sexual,
geralmente, provocada por pessoas do sexo masculino, como pai, padrasto, tio,
parentes ou amigos da família, como alvo preferencial as meninas.
Nessa vertente, este trabalho apresenta como tema, uma abordagem acerca
da “violência doméstica contra crianças e adolescentes no contexto familiar. A
importância deste estudo consiste em esmiuçar questões sociais, neste caso a
violência doméstica contra criança e adolescentes, sinalizando também que não
cabe apenas ao Estado enfrentar os problemas sociais relacionados a esse tipo de
violência, mas também é dever da família denunciar qualquer ato atentado contra a
criança e ao adolescente.
Como objetivo geral busca-se discutir a problemática da violência familiar
contra crianças e adolescentes, apontando, para tanto, conceitos que viabilizem sua
compreensão, as suas principais características e expressões, assim como
contextualizar o panorama dessa violência no contexto familiar. Nas metodologias de
pesquisa foram aplicadas no desenvolvimento da revisão literária foi a pesquisa
bibliográfica e nas práticas construtivas da temática com base em princípios de
reflexão-ação, dialético, aplicou-se a qualitativa e descritiva.
Salienta-se que a metodologia adotada para se alcançar o objetivo proposto
sendo de cunho qualitativo realizada com base em consultas em livros, sites de
busca na internet, revistas científicas, dissertações, artigos, teses etc. Como
11

principais teóricos norteadores aponta-se: ECA, IPEA, UNICEF, Childhood, entre


outros, além das informações contidas na Constituição Federal (1988), dentre
outros.
Para um melhor entendimento esta pesquisa está estruturada em seções.
Na primeira tem-se como tópico principal: violência doméstica familiar e seu
panorama histórico. E nos subtópicos aborda-se a respeito das políticas públicas e a
questão da violência. Na segunda seção tem-se como tópico principal uma
explanação dos conceitos de infância e adolescência, fazendo uma sucinta definição
sobre infância e Adolescência.
Na terceira seção aborda-se inicialmente sobre os direitos da criança e do
adolescente no brasil, depois apresentas algumas linhas acerca da proteção dos
direitos das crianças e adolescentes no brasil; principais legislações inerentes às
crianças e adolescentes no brasil; a constituição federal de 1988; estatuto da criança
e do adolescente (ECA) e sobre o direito à educação na prática no contexto
brasileiro atual, evidenciando algumas premissas a respeito desses assuntos.
Na quarta seção tem-se como tópico principal vem as consequências da
violência lançada na infância. E como subtópicos descreve-se alguns aspectos
acerca da violência doméstica infantil e sobre a violência contra crianças,
adolescentes e jovens brasileiros, evidenciando assim o combate à violência na
infância; a vulnerabilidade social da criança e do adolescente. Por fim, na quarta e
última seção faz-se breves considerações, enfatizando sobre os pontos mais
relevantes observados acerca da violência doméstica contra criança e adolescente.
Em suma, esta pesquisa poderá ampliar a compreensão do leitor a respeito
das transformações históricas pelas quais o conceito de infância e a forma como
lidar com a criança se modificou e como que a violência doméstica infantil contra ela
surgiu como problema a ser combatido e, ainda, como isso formou o olhar que
lançado sobre ela atualmente.
12

2 CONCEITOS DE INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA

A violência em um sentido geral corresponde a um fenômeno que se


desenvolve e dissemina nas relações sociais e interpessoais ao longo dos tempos e
vem perpassando pelas gerações de maneira cada vez mais grave. Fator histórico
que vem implicando sempre uma relação de poder que não faz parte da natureza
humana, mas que é da ordem da cultura e perpassa todas as camadas sociais de
uma forma tão profunda que, para o senso comum, passa a ser concebida e aceita
como natural a existência de um mais forte dominando um mais fraco, processo que
Vicente Faleiros (1995) descreve como a “fabricação da obediência”.
Por sua amplitude e disseminação essa prática vem, nos últimos trinta anos,
adquirindo gradativa visibilidade desde que passou a ser discutida e estudada por
diferentes setores da sociedade brasileira, preocupados em compreendê-la, em
identificar os fatores que a determinam, buscando encontrar soluções de
enfrentamento que possam reduzi-la a níveis compatíveis com a ordem social
estabelecida.
Entre as diferentes formas como a violência se apresenta, uma
particularmente vem chamando a atenção, trata-se da violência doméstica familiar,
que é praticada pelos pais ou responsáveis contra seus filhos, e sobre a qual será
abordada neste capítulo. Dito isto, considera-se importante apontar, agora, as
dificuldades encontradas pelos estudiosos do fenômeno quanto à construção de
uma terminologia padronizada para a sua conceituação, uma vez que os fatores que
o determinam são multifacetados.
Segundo Faleiros e Campos, (2000, p. 4-5) descrevem no relatório de uma
pesquisa realizada por elas sobre conceitos de violência, explicam tais dificuldades,
considerando que este é um campo, em certos quesitos, ainda novo de estudos,
apesar do fenômeno ser antigo, exigindo investigações aprofundadas e sistemáticas,
para que, compreendendo-o melhor, seja possível conceituá-lo com maior precisão.
Referem ainda que tanto a diversidade de termos conceituais, utilizados para
designar o mesmo fenômeno, quanto um mesmo termo empregado para designar
aspectos diferentes do fenômeno estudado, confundem ainda mais, tornando a
tarefa de padronização muito mais complicada. Se, tomando apenas um tipo de
manifestação do fenômeno da violência encontraram tais dificuldades, é possível
deduzir que o mesmo aconteça em relação às outras manifestações e quanto ao
13

fenômeno em si.
Assim sendo, para compreender as mudanças relativas aos direitos voltados
às crianças e aos adolescentes no contexto brasileiro, faz-se indispensável refletir os
conceitos de infância e adolescência, pontuando as especificidades inerentes a
estas fases da vida e a importância de compreendê-las, no intuito de promover a
proteção integral a estes sujeitos.

2.1 Infância

A infância, como etapa da vida humana, tem sido objeto central de diferentes
visões e pesquisas. Baseado nesse viés, vem sendo estudada e discutida em
diversas áreas do campo científico na atualidade. Além das ciências biológicas, que
determinam as fases e o estudo da vida, destacam-se, principalmente, as ciências
sociais e humanas, ao entender o ser criança como um sujeito histórico e de direitos,
partindo como eixo investigativo do registro de suas "falas”, as quais vão originar as
relações entre sociedade, infância e demais elementos fundamentais de sua
formação, que conforme Kuhlmann (2012) explica,

É preciso considerar a infância como uma condição da criança. O conjunto


das experiências vividas por elas em diferentes lugares históricos,
geográficos e sociais é muito mais do que uma representação dos adultos
sobre essa fase da vida. É preciso conhecer as representações de infância
e considerar as crianças concretas, localizá-las como produtoras da história.
(KUHLMANN, 2012, p. 30).

Diante dessa análise, segundo Corsaro (2003, citado por MAIA, 2012 )
reforça, pode-se afirmar que a busca pela interpretação das representações infantis
de mundo é um objeto de estudo relativamente novo, visando à compreensão
multifacetada do processo de construção social da infância e o papel destacado que
a escola vem desempenhando diante desta invenção da modernidade, ou seja, do
conceito de infância.
Considerando que os primeiros anos de vida de uma criança exigem
cuidados e educação de excelência, a infância não pode mais ser considerada
apenas como um período definido biologicamente como parte do início da vida, mas
sim, produto de uma construção cultural, social e histórica, distinta em períodos por
diferentes representações.
Ainda se apoiando nos estudos de Corsaro (2003), todo o cuidado
14

dispersando à infância, será decisivo para a construção de alicerces com bases


sólidas, o qual fortalecerá o desenvolvimento da criança em relação às habilidades
cognitivas, sociais, motoras, emocionais. A criança deve assim, ser protegida e
cuidada de forma integral.
Entretanto, apesar disso, a infância nem sempre foi considerada da forma
como é concebida hoje, como uma fase própria e distinta da vida. Em tempos
primórdios, a história em suas diferentes dimensões comprova que a criança não era
reconhecida por suas particularidades, mas sim, tratada como um ser invisível.
Seguindo essa vertente, Maia (2012) afirma que ao percorrer a trajetória
histórica da infância, é possível se perceber que ao longo dos tempos, das
transformações e das ressignificações que proporcionaram o reconhecimento da
criança dentro de suas especificidades, estabelecendo-a em uma fase própria da
vida, desencadeando assim, em uma maior reflexão sobre a realidade social infantil
em que ela estava inserida.
Sobre isso, sublinha-se um trecho exposto no Referencial Curricular
Nacional para a Educação Infantil, é afirmado que:

A criança, como todo ser humano, é um sujeito social e histórico e faz parte
de uma organização familiar que está inserida em uma sociedade, com uma
determinada cultura, em um determinado momento histórico. [...] As
crianças possuem uma natureza singular, que as caracteriza como seres
que sentem e pensam o mundo de um jeito muito próprio. Nas interações
que estabelecem desde cedo com as pessoas que lhe são próximas e com
o meio que as circunda, as crianças revelam seu esforço para compreender
o mundo em que vivem as relações contraditórias que presenciam e, por
meio das brincadeiras, explicitam as condições de vida a que estão
submetidas e seus anseios e desejos. (BRASIL, 1998, p. 21).

Desse modo, fica nítido que a criança é um ser humano que ainda não
chegou à fase da puberdade. É, portanto, uma pessoa em uma fase especifica,
ainda muito jovem. Em um sentido mais amplo, a infância contempla todas as idades
da criança: do bebê à pré-adolescência. O desenvolvimento da criança abrange todo
um conjunto de aprendizados que serão as chaves para compreender diferentes
contextos mais tarde, quando adulto. Portanto, a fase da infância tem como um
importante ponto a educação, concretizada tanto na família, na sociedade, como na
escola.
Durante os primeiros anos de sua vida, a criança deve desenvolver sua
curiosidade sobre o mundo, sua linguagem e depois aprender a ler e escrever
15

seguindo os ciclos da vida, coloca Maia (2012). Desse modo, com o tempo, a
educação da criança pertence não apenas aos pais, mas também à escola, onde
adquire o conhecimento que a sociedade considera essencial para o
desenvolvimento e o treinamento das pessoas. Durante esse processo educacional,
a criança assimila os valores de sua cultura e a concepção em vigor de moralidade e
ética (MAIA, 2012).
Baseado nesse contexto, compreende-se que infância é assim, uma fase
que exige proteção integral, seja, quando é apenas um bebê e depende
completamente de outro ser humano para viver. Ou quando se torna um pouco
maior quando necessita desenvolver habilidades de socialização, valores e
diferentes competências solicitadas para que exerça sua cidadania nas fases
seguintes.

2.2 Adolescência

Em relação ao conceito da adolescência, destaca-se que é tanto uma idade


da vida biologicamente definida quanto uma construção cultural e intelectual peculiar
às sociedades ocidentais modernas (OTTAVI, 2006). Etimologicamente, o termo
"adolescente" refere-se àquele que está crescendo, em oposição ao "adulto", cujo o
crescimento está completo.
Desse modo, a atenção prestada aos adolescentes varia de uma sociedade
para outra. Antropólogos e historiadores estão trabalhando em grande parte para
atualizar a contingência da noção de "adolescência", explicita Ribeiro (2011, p. 02),

A definição do conceito de adolescência é pouco consensual e muito


complexa. Sabemos que a etiologia da palavra adolescência vem de duas
raízes inter-relacionadas: do latim ad (a, para) e olescer (crescer) e também
de adolesce, origem da palavra adoecer. A adolescencia só a partir do séc.
XIX foi vista como uma etapa distinta do desenvolvimento e durante várias
décadas a adolescência, esteve associada a uma fase de tumulto, conflito e
tensão para o adolescente e todos os que com ele lidavam.

Portanto, foi com o surgimento da psicologia e da psicanálise no século XX,


que a definição de adolescência passou a vigorar de fato como um conceito. No ano
de 1904, o Granville Stanley Hall publicou nos Estados Unidos o primeiro livro da
psicologia do adolescente, onde procurou explicar de forma mais enfática a etapa da
vida correspondente a criança e adolescência.
16

Em 1928, a antropóloga americana Margaret Mead desafiou a


universalidade das especificidades da adolescência, a partir de uma pesquisa
empírica com adolescentes nas ilhas Samoa e com adolescentes norte-americanos.
Ela identificou que essa fase da vida e suas especificdades variavam de acordo com
seu contexto social, ou seja, essa etapa da vida se baseava de acordo com a
realidade desse público. (CARONI; BASTOS, 2015). Tal pesquisa conflitou-se com
os elementos que se acreditavam padronizados para essa fase da vida.
Hoje, a adolescência se refere a um período da vida conhecida por sua
crise, inaugurada pelo aparecimento dos primeiros sinais pubertários e caracterizada
através de transformações biológicas e comportamentos específicos, expões Caroni
e Bastos (2015). Em se tratando do contexto social, valores, cultura, obviamente tais
aspectos influenciaram como se dará essa etapa da vida e como se desenvolverão e
comportarão os sujeitos.
A respeito dos estudos realizados por especliastas da medicina como
Psicanalistas e neurocientistas, grifa-se que eles vinculam o processo puberal e as
especificidades comportamentais dos adolescentes de maneira diferente. Pois tanto
a psicanálise, como a psicologia e a psiquiatria explicam os comportamentos dos
adolescentes por meio da reorganização das instâncias psíquicas implícitas nas
consequências narcísicas e relacionais do processo puberal, explica os autores
acima já citados.
Vale destacar, que a puberdade refere-se à aparência dos personagens,
diferenciando os dois sexos e o acesso à sexualidade genital devido à maturação do
sistema endócrino. As transformações do corpo que gera definem uma nova
identidade, a identidade sexual, que o adolescente deve integrar e que ele busca
reorganizar a partir de seus relacionamentos. Portanto, pode-se afirmar,

Resumidamente, que a puberdade integra a adolescência, aponta as


mudanças físicas e biológicas. Já a adolescência é o tempo de subjetivação
e emancipação, que marca os dois eixos que constituem a personalidade, o
eixo do narcisismo e o eixo das relações, em um relatório paradoxal
(JEAMMET, 2009).

Na leitura desse enunciado, comenta-se que ser adolescente, é uma


passagemda vida insegura porque está se desenvolvendo, por isso precisa que os
outros os tranquilizem em muitos fatores da vida. A intensidade dessa necessidade
eleva o grau de ameaça, uma vez que, o adolescente tem medo de perder a si
17

próprio, mas ao mesmo tempo sente algo novo que se aproxima e do qual ele não
pode escapar.
A mudança para a criatividade ou destrutividade depende dos próprios
recursos narcísicos, autoestima e também a qualidade das reuniões com pessoas,
expressa Ribeiro (2011). Os efeitos do paradoxo dessa fase da vida, portanto,
variam de acordo com a confiança de que os adolescentes dão às suas capacidades
individuais e seu apoio relacional. A maioria dos adolescentes não têm motivos para
duvidar de seus pontos fortes ou da qualidade dos vínculos com seu ambiente,
sobre isso Ribeiro coloca que: o paradoxo é resolvido sem dificuldade real, graças a
comportamentos exploratórios e criativos.
Ainda, segundo algumas pesquisas, assumir riscos como fumar, fazer uso
de álcool ou de excesso de velocidade, pode acontecer como parte do
desenvolvimento normal do adolescente, que está em conflito com o crescer e
assumir responsabilidades. E apresenta-se como elemento que deve, se estiver
ocorrendo dentro do limite do salutar, passar sem maiores danos.
Diante desse entendiemnto, compreende-se que na sociedade
contemporânea é que parece oferecer um leque de possibilidades, na verdade há
uma acentuação da dificuldade das escolhas a serem feitas pelos adolescentes. E
este elemento aumenta seus momentos de dúvida, hesitação e vulnerabilidade
social.
Portanto, diante disso, o adolescente se sente, muitas vezes, confuso, e
assim, necessita de orientação e proteção de sujeitos capazes: da família, da
sociedade e do Estado. A proteção deve ser garantida à todos os seus direitos, para
que seu desenvolvimento ocorra da melhor forma possível.
18

3 ALGUNS ASPECTOS ACERCA DA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA INFANTIL

Neste capítulo apresenta-se um breve contexto acerca da violência


doméstica contra crianças e adolescentes. Assim, a partir de algumas considerações
gerais, faz-se uma abordagem nesse tocante esperando-se evidenciar informações
relevantes no envolto dessa temática. O assunto ora discorrido, consiste em leituras
e estudo de alguns artigos, que após consultados e analisados, foi possível observar
que esse tipo de acometimento sob o público infantil, é um assunto bastante
pesquisado atualmente.
Desse modo, a referida temática, tem sido um fator considerado como um
grave problema que precisa de uma maior atenção no sentido de buscar e alavancar
os meios e mecanismos no combate dessa violência. Sendo relevante, destacar
ainda, as consequências advindas como impactos psicológicos, físicos e social.
Fatores que podem gerar problemas graves como o anseio por liberdade e refúgio, e
até o desespero que leva ao pensamento de cometer suicídio como saída.
A violência no geral, tem sido um fenômeno que vem afetando um grande
contingente populacional. Ela se manifesta nos mais diversos ambientes
domésticos, social, laboral, abrangendo grupos de sociais e isso independe de cor,
classe social, religião, escolaridade ou renda e, tampouco faixa etária. São cada vez
mais são conhecidos casos de pessoas vitimadas.
Baseado nesse contexto, para iniciar a discussão acerca da temática deste
trabalho, destaca-se uma publicação no Jornal Folha de São Paulo acerca de uma
pesquisa realizada pela Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) referente aos anos
de 2010 a 2020, em que os dados:

Epidemiológicos sobre violência contra crianças e adolescentes, dados


relativos às notificações da violência contra crianças e adolescentes no
âmbito doméstico, abrangendo todas as formas do fenômeno em questão.
Enfatizando essa publicação, o Sistema Informação de Agravos e
Notificação (SINAN) registrou no ano de 2011, 39.281 atendimentos no
Sistema Único de Saúde (SUS) por violência, relativos à faixa etária de 1 a
19 anos de idade, o que corresponde a 40% do total de atendimentos nesse
sistema de 2011. (www.folha de São Paulo).

No que concerne à violência doméstica aqui explanada, cabe salientar que


durante a pandemia que vem assolando severamente a população mundial, a
ampliação deste fenômeno, sobretudo no que refere à violência que acomete
crianças e adolescentes tem crescido bastante. Essa triste realidade, trata-se de um
19

fenômeno complexo e multicausal o que implica em não ter um conceito preciso


sobre o tema (MINAYO, 2007).
Assim, se faz interessante conceituar novamente a violência doméstica
neste parágrafo, com o intuito de ressaltar que essa prática reporta-se a qualquer
ato ou omissão por pais, parentes ou responsáveis contra a criança e/ou
adolescente, que os cause danos físico, sexual e/ou psicológico. Em congruência,
Azevedo e Guerra (1995), conceituam a violência doméstica como:

[...] todo ato ou omissão praticado por pais, parentes ou responsáveis contra
crianças e/ou adolescentes que sendo capaz de causar dano físico, sexual
e/ou psicológico à vítima implica de um lado numa transgressão do
poder/dever de proteção de adulto e, de outro, numa coisificação da
infância, isto é, numa negação do direito que crianças e adolescentes têm
de ser tratados como sujeitos de direitos e pessoas em condição de
desenvolvimento (AZEVEDO e GUERRA, 1995, p. 36).

Concomitante a conceituação posta acima, Minayo (2006, p. 92) analisa a


violência também sob a perspectiva da saúde pública, considerando tal fenômeno
como um processo biopsicossocial dentro de um contexto histórico social, ou seja, a
violência manifesta-se e se desenvolve através de multicausais idades ao longo das
relações sociais. Que é justamente o que vem acontecendo na realidade de
diferentes públicos desde antigamente até o atual cenário.
Em referência à violência como um todo, segundo Minayo (1994, p. 1), "ela
representa um risco maior para a realização do processo vital humano: ameaça a
vida, altera a saúde, produz enfermidade e provoca a morte como realidade ou como
possibilidade próxima".
De acordo com Minayo e a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS -
l994, p. 09) a violência:

Pelo número de vítimas e magnitude de sequelas orgânicas e emocionais


que produz, adquiriu um caráter endêmico e se converteu num problema de
saúde pública em vários países. (...) Nesse contexto, o setor saúde passa a
constituir uma encruzilhada para onde confluem todos os corolários da
violência, pela pressão que exercem suas vítimas sobre os serviços de
urgência, de atenção especializada, de reabilitação física, psicológica e de
assistência social

Diante dessa colocação, compreende-se que de modo amplo, a violência


doméstica pode causar nas vítimas diversos traumas que podem ser tanto físicos
como psicológicos. Tal situação necessita de um olhar atento e especial por parte de
todos, inclusive os profissionais da área da saúde, que por muitas vezes são a porta
20

de entrada dessas vítimas.


No que concerne à violência doméstica, Julião e Lehfeld (2011) expressam
que são necessárias ações especificas mais acirradas que sejam capazes de
abranger com mais eficiência as vítimas que precisam de ajuda e que:

[...] ofereçam atendimento a essas famílias que produzem violência


doméstica. Essas ações devem contemplar tanto uma preocupação com a
vítima, como também com o agressor, pois, como mencionamos, é preciso
romper o ciclo da violência e esse rompimento só será possível a partir de
uma mudança na conduta do agressor (JULIAO; LEHFELD, 2011, p. 16).

A esse respeito ressalta-se que o atendimento ao fenômeno da violência


necessita ser voltado a ambas as partes: agressor e vítima. Considerando que tal
manifestação é ocasionada por diversos fatores, é necessário compreender o
contexto em que a situação ocorreu, olhar socialmente para as duas faces do
problema e perceber quais os nós críticos que embasaram o fenômeno, para assim
produzir ações voltadas ao atendimento à vítima e ao agressor.
Sobre a questão legal relacionada as medidas constitucionais, destaca a
grande protagonista nesse cenário, a Constituição Federal de 1988 associada ao
Estatuto da Criança e do Adolescente, em que ambos os mecanismos estabelecem
em seu Art. 227 que:

É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao


adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde,
à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à
dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária,
além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação,
exploração, violência, crueldade e opressão (BRASIL, 1998).

Fazendo anuência a Constituição, destaca que o ECA (1990) fala sobre a


violência infantil se reportando ao seguinte texto:

O artigo 5º do Estatuto da Criança e do Adolescente preceitua que


“Nenhuma criança ou adolescente será objeto de qualquer forma de
negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão”.
Como medida de proteção e considerando esses princípios, o ECA tenta
garantir aos menores os direitos fundamentais que todo sujeito possui: vida,
saúde, liberdade, respeito, dignidade, convivência familiar e comunitária,
educação, cultura, esporte, lazer, profissionalização e proteção no trabalho.

Na análise desses dois importantes preceitos legais voltado a proteção da


criança e do adolescente, nota-se o surgimento de cada vez mais diferentes
profissões e áreas do conhecimento têm estudado o fenômeno violência a fim de
21

construir estratégias para o seu enfrentamento.


Segundo Fonseca (2007, p. 05) é preciso alertar com mais frequência a
sociedade acerca dessa realidade que assola o público infantil, pois a “violência
intrafamiliar é uma questão de grande amplitude e complexidade cujo enfrentamento
envolve profissionais de diferentes campos de atuação”.
E suma, para que se possa realizar o enfrentamento deste fenômeno com
mais eficiência se faz necessário também que a sociedade participe de tal ação,
fique vigilante, realize denúncia pelos canais de atendimento, tal como o disque 100
e demais mecanismo de proteção à criança e ao adolescente. Lembrando ainda,
que se não há denúncia, é como se essas violências não existissem, pois há um
entendimento de que, se não denuncia não há violência e, é de extrema importância
combater este pensamento, bem como de diversos outros fatores existentes nesse
cenário que requerem grande atenção.
Nesta síntese cabe fomentar, que a infância é uma fase importante e
peculiar de formação social, cognitiva e biológica dos sujeitos, carecendo de atenção
e respeito às suas particularidades, precisando assim ser bem cuidada e melhor
assistida visando um futuro propulsor para esse público muitas vezes vulnerável.

3.1 Contextualizando a violência doméstica no âmbito familiar

Neste tópico, pode- se considerar que a manifestação da violência no meio


familiar contra crianças e adolescentes tem como determinantes mais imediatos o
abuso de poder, o autoritarismo e o pacto de silêncio. Porém, outros fatores podem
influenciar em sua configuração, pois, a violência representa uma questão de caráter
multicausal, ou seja, existe uma grande variedade de fatores que costumam interagir
na produção desse fenômeno, podendo ser a interferência da situação
socioeconômica e dos valores culturais, as características pessoais (subjetivas) e
circunstanciais dos membros da família, entre outros. (SOUZA E SILVA, 2002).
A Violência Familiar contra Crianças e Adolescentes, a família apresenta-se
como o primeiro grupo em que os seres humanos são inseridos, e, por isso,
representa o principal responsável pelo processo de socialização dos indivíduos.
Diante de tal incumbência, espera-se que nela se estabeleçam laços baseados no
amor, no carinho e na proteção. Um espaço que nutra a formação da identidade dos
indivíduos e onde esses possam ser conduzidos a trilhar seus caminhos da maneira
22

mais saudável possível. Porém, as experiências vividas pelas crianças e pelos


adolescentes nesse espaço constituem-se, em muitos casos, como o primeiro
contato que eles têm com a violência, apresentando-se como a forma mais comum e
disseminada.
A família, então, passa a se apresentar como um espaço de negação de
valores de amor, carinho, atenção e proteção. Dessa maneira, meninos e meninas
convivem com atos de violência e vivem cercados por eles, fazendo parte de um
mundo longe do ideologicamente pensado e muitas vezes negado sendo vitimizadas
por pessoas que deveriam ser responsáveis por sua educação, desenvolvimento e
socialização. A violência praticada no meio familiar é denominada, por Guerra (2001,
p. 07), como violência doméstica, representando,

[...] todo ato ou omissão praticado por pais, parentes ou responsáveis contra
crianças e/ou adolescentes que sendo capaz de causar dano físico, sexual
e/ou psicológico à vítima implica, deum lado, numa transgressão de
poder/dever de proteção do adulto e, de outro, numa coisificação da
infância, isto é, numa negação do direito que crianças e adolescentes têm
de ser tratados como sujeitos e pessoas em condição peculiar de
desenvolvimento.

A partir do exposto neste conceito, que toma-se como referência a partir


desta discussão, tem-se claro que, enquanto violência interpessoal, a violência
familiar expressa-se pela transgressão do poder do adulto sobre a criança ou o
adolescente, ou seja, esses sujeitos deixam de ser percebidos como pessoas em
desenvolvimento, possuidoras de direitos e se tornam objetos. A violência, nesses
casos, via-de-regra, surge como uma consequência do uso incorreto da autoridade,
pelos pais/responsáveis, sobre as crianças e os adolescentes.
O agressor, então, embasado nos princípios de disciplinamento e de
“dever/proteger”, utiliza-se do pressuposto de autoridade responsável que lhe é
socialmente outorgada para, na verdade, consciente ou inconscientemente, exercer
o autoritarismo sobre a criança e/ou o adolescente, que assim se tornam vitimizados
pela família. O que ocorre em geral é o exercício não devidamente refletido do
poder, uma interpretação errônea sobre a responsabilidade dos pais/responsáveis.
Em comento, pode-se destacar ainda, que o autoritarismo pode, em muitos
casos, derivar da falta de preparo dos pais para entender e trabalhar com as
mudanças durante o período de transição conforme os filhos vão crescendo e com
isso ao seu direito de voz e de participação nas decisões, haja vista que as crianças
23

e os adolescentes vivem em um mundo de adultos onde seu espaço ainda é limitado


e nitidamente violado.
Na relação autoritária, os adultos percebem o poder como forma de impor;
surge, assim, o autoritarismo como remete Azevedo e Guerra,

[...] uma forma de aprisionar a vontade e o desejo da criança, de submetê-


la, portanto, ao poder do adulto, a fim de coagi-la a satisfazer os interesses,
as expectativas ou paixões deste”. (AZEVEDO; GUERRA, 2000a, p.
35).Esta posição é legitimada pelo caráter adulto acêntrico de nossa
sociedade, onde existe, nas relações estabelecidas entre adultos e crianças,
[...] uma hierarquia, na qual o poder do adulto destina-se a socializar a
criança e transformá-la em um adulto à sua imagem e semelhança.
Trata-se do fenômeno da repetição, responsável ela transmissão dos
padrões de conduta adultos às novas gerações. (SAFFIOTI, 2000, p. 17).

A suposta condição de superioridade dos adultos no meio familiar é um


conceito que histórica e culturalmente vem sendo afirmado. Isso se deve à
dependência física e psicológica que esses sujeitos têm nessas fases da vida, e ao
fato de que eles devem se adaptar um mundo que foi construído por adultos e, por
isso, a autoridade do adulto sobre eles configura-se como uma autoridade social.
(GUERRA, 2001).
Entretanto, Guerra (2001, p. 95) alerta que esta autoridade passa a ser [...]
pensada como natural e não como social. A criança deve submeter-se ao adulto
porque ele lhe é naturalmente superior. Os pais, que assumem esta função por um
fato da natureza, têm direitos prioritários sobre a criança. Sua dependência social é
transformada em dependência natural. A obediência se torna um dever exclusivo da
criança, e sua revolta é encarada pelo adulto como uma transgressão aos próprios
direitos do adulto.
É devido aos valores culturais, que o papel designado no meio familiar à
criança e ao adolescente reflete uma posição secundária, de observador e aprendiz
tão somente, que se estabelece e fortalece a posição de superioridade e autoridade
natural dos adultos. A partir da hierarquia estabelecida no meio familiar cria-se uma
estrutura em que crianças e adolescentes ocupam, na maioria das vezes, o último
lugar. São os membros que menos podem participar das decisões familiares; suas
observações e/ou questionamentos são poucas vezes considerados, entre outros
fatos que caracterizam esta colocação, proporcionando a afirmação de um ambiente
de violência
Tomando por base as reflexões postas por Azevedo e Guerra (2002), entre
24

estes fatores, destaca-se que uma gravidez não aceita torna mais difícil o
estabelecimento de laços de afetividade entre adultos, crianças e adolescentes.
Com isso, pode surgir o isolamento familiar onde as famílias mostram-se resistentes
em inserir socialmente seus filhos, gerando assim possíveis conflitos entre o casal.
Características dessa natureza, podem interferir, muitas vezes, na unidade familiar,
passando a delinear relações familiares conflituosas, onde acriança ou o
adolescente está incluído também a falta de diálogo que fragiliza o relacionamento
entre pais/responsáveis e filhos, proporcionando brechas para a configuração do
abuso de poder e do autoritarismo, comprometendo os princípios de confiança e
segurança, necessários nessa relação.
Outros fatores que podem contribuir para a emergência da violência no meio
familiar são o desemprego, a precarização das condições de trabalho e as dívidas
constantes que trazem à tona sentimentos como frustração e angústias, e muitas
vezes, o estresse, interferindo decisivamente nas relações familiares e
proporcionando situação em que a violência pode se manifestar. Fatores que, de
maneira alguma, justificam atos dessa natureza, principalmente contra pessoas que
não podem se defender.
O estilo de vida que não leva em consideração os filhos, onde o tempo no
cuidado destes é insuficiente e onde há ausência física, moral ou simbólica dos
pais/responsáveis, podem ser apontados também como fatores no acometimentos
dessa violência. O que, por um lado, caracteriza a conjuntura neoliberal e de
globalização em que se vive, a qual exige maior disponibilidade para o trabalho e,
por outro, revela a banalização das relações interpessoais, tanto no meio familiar
quanto no meio social, e o abuso de substâncias lícitas (álcool) ou ilícitas como por
exemplo a cocaína, maconha, entre outras, que podem desencadear
comportamentos violentos, tendo em vista que abre espaço para condutas
antissociais.
Para enfrentar essas violências, se faz relevante realçar as políticas já
existentes que precisam ser urgentemente fortalecidas, para que assim se possa
construir respostas favoráveis em favor ao público infantil e que reduzam as
violências sofridas por eles, bem como aquelas que são alimentadas e praticadas no
contexto familiar de maneira frequente.
No que tange as causas, de acordo com uma publicação da Revista do
Conselho Nacional de Saúde realizada em 2020, estão em destaque as violências e
25

os acidentes como as maiores causas das mortes de crianças e adolescentes nas


faixas etárias de 1 a 18 anos no Brasil. Entre essas chamadas causas externas e
internas, neste caso a violência doméstica familiar, as agressões são as que mais
matam crianças e adolescentes, a partir dos 10 anos, e a terceira maior causa das
mortes de adolescentes entre 1 e 25 anos. Observe o gráfico 1 abaixo:

Gráfico 1 – Maiores índices de mortes de crianças e adolescentes no Brasil

Maiores indices de mortes de crianças e adolescentes no


Brasil (1 a 18 anos).

Suicidio Homicídios Agressões fisícas Outros

Fonte: Revista do Conselho Nacional de Saúde (2020).

A violência é ainda mais letal contra crianças e adolescentes do sexo


masculino, os homicídios são a causa da metade dos óbitos de rapazes de 15 a 19
anos. E ao se fazer o recorte de raça da taxa de homicídios, foi possível notar que o
extermínio da juventude negra é bastante amplo.
Diante dessas noções, se faz interessante esmiuçar um pouco a respeito
das formas de violências são mais praticadas contra esse público. A violência mais
atendida nas unidades de saúde, contra crianças e adolescentes de 0 a 12 anos, é o
estupro, que ocorre na própria casa da vítima em 58% dos casos. Os agressores
são na maior parte os próprios pais, padrastos, familiares, namorados ou pessoas
conhecidas das vítimas.
Além do abuso sexual, a violência contra crianças e adolescentes abrange
desde os maus-tratos físicos e emocionais até os casos da negligência por parte de
familiares. No mundo, e possivelmente no Brasil, há uma média de uma em cada
quatro crianças vítima de maus tratos físicos, segundo a Organização Mundial da
26

Saúde (OMS, 2016 - 2020).


Entre aqueles com 12 a 18 anos, a violência sexual é igualmente a mais
sofrida, na maioria contra as meninas, como demonstra o Gráfico 2 na sequência:
Gráfico 2 – Principais violências contra crianças e adolescentes

Principais violências e faixa etária infanto-juvenil

0 a 12 anos (estupros) 13 a 18 anos (violência sexual)

Fonte: Organização Mundial da Saúde (OMS, 2016 - 2020).

De acordo com dados mundiais assemelham-se, cerca de 90% das


adolescentes de diversas nacionalidades, vítimas de violência sexual, denunciam
que o autor da primeira violação era alguém próximo ou conhecido. Porém, apenas
1% delas procura ajuda profissional após o estupro pelo medo da rejeição social e
familiar, e pelas ameaças sofridas pelo agressor.
Com isso, esse terror aprofunda-se com a repetição do estupro em 38% dos
casos, podendo-se prorrogar por torturantes longos períodos, quando praticada por
familiares ou outros conhecidos. As consequências vão desde distúrbios
emocionais, doenças sexualmente transmissíveis, gravidez não desejada, até a
morte da adolescente, que tira sua própria vida ou falece na tentativa de um aborto
clandestino.
Mediante um levantamento de outras informações junto aos sites
consultados como IPEA, OMS e a Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar,
apresentou conforme pesquisas em escolas de ensino fundamental e médio
diversas, os seguintes resultados o referido quadro dramático, cerca de 4% de
escolares do 9º ano (entre 13 e 15 anos) responderam já terem sido forçados a ter
relação sexual. O percentual para meninos foi de 3,7% e para as meninas de 4,3%.
(IPEA, 2016/2020).
27

Ainda no tocante da fonte de pesquisa acima, do total de alunos de escolas


públicas, 4,4% são vítimas de sexo forçado, e de escolas particulares 2,0%,
demonstrando que mesmo entre famílias de classe média, mais estáveis
economicamente, a barbárie do estupro é dramaticamente frequente. Quando
questionados se violência doméstica é somente agressão física, 80% afirmaram que
violência doméstica abrange todo tipo de agressão física e psicológica; 20%
afirmaram que também é sexual, moral e patrimonial.
Questionados se já tiveram contato com algum caso de violência doméstica
100% afirmaram que sim. Vide gráfico 3.

Gráfico 3 – Violências mais praticadas

Tipos de violencias mais acometidas

agressão fisíca sexual e psicologica moral e patrimonial

Fonte: IPEA, OMS e Conselho Nacional de Saúde (2016 – 2020).

Sobre as consequências na vida das vítimas, que são ainda piores, 60%
responderam que a violência doméstica causa traumas para o resto da vida; 10%
culpa, sentimento de vingança contra o agressor, 20% depressão, agressividade,
baixa autoestima e 10%mudança de comportamento, rebeldia. (IPEA, 2020).
Segundo Encontro Nacional de Pesquisadores em Serviço Social Indagados
se acreditam que a criança ou adolescente, ao sofrerem algum tipo de violência
doméstica revelam a alguém, 60% disseram que não, pois a vítima tem medo,
vergonha, se cala, sofre ameaças do agressor e 40% responderam que sim, a vítima
conta a alguém de sua confiança. (Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar, 2020).
28

Como resultado, à medida que as crianças crescem, também se tornam


comuns a violência entre colegas e a violência nas relações íntimas bullying, brigas,
violência sexual e agressão, muitas vezes com armas de fogo e armas brancas.
Observa-se que são muitos os números do drama social que abate vidas e
trajetórias daqueles mais frágeis e vulneráveis de nossas sociedades. Justamente o
inverso daquilo que prega e estabelece a Constituição Federal, em seu artigo nº 227,
quando impõe garantir:

“É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao


adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde,
à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à
dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária,
além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação,
exploração, violência, crueldade e opressão”. (BRASIL, 1990).

Contudo, tamanha contradição social e moral, não surpreende boa parte da


sociedade, bem como dos profissionais da educação, da saúde, da assistência
social, da rede de proteção e garantia de direitos, que tentam enfrentar todos os dias
as violências trazidas das ruas, de casa, das telas, dos maus ou equivocados
serviços e dos ódios sociais.
Sentimentos como ódios e intolerâncias praticados contra meninas e
mulheres, pobres, pretos e pardos, indígenas, pessoas em situação de rua,
homossexuais e LGBTs, deficientes e contra aqueles que tenham um formato de
corpo, de pensamento, de religião, hábitos ou origem culturais diferentes são
características marcantes das intolerâncias que levam a respostas irracionais ou de
desprezo à vida.
Baseado nesses pressupostos, nota-se que esses profissionais, assim como
outros setores e profissionais, buscam oferecer novos significados às vidas
conturbadas desse público, e procuram através da ferramenta do conhecimento, dos
diálogos, do esporte, do lazer, da cultura e de afetos, romper com os altos muros
das desigualdades e preconceitos.
29

4 OS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

A partir do reconhecimento das especificidades do ser humano em


diferentes etapas da sua vida, faz-se imprescindível ao Estado desenvolver políticas
voltadas para a proteção dos sujeitos nestes diversos estágios.
Uma vez que, a criança e o adolescente, como já pontuado, estão em fase
de formação de sua personalidade, portanto, necessitam de proteção integral para o
melhor desenvolvimento possível. Havendo assim, a necessidade de criar leis
voltadas à este público, torná-las efetiva e obrigatória a cumprir, é dever Estado,
lembrando que, também estão incluidos na sua garantia a família e toda a
sociedade.

4.1 Proteç
ão dos direitos das crianças e adolescentes no Brasil

O Brasil fez um grande esforço para melhorar a proteção dos direitos das
crianças e adolescentes, com bons resultados em diferentes áreas, como educação,
mortalidade infantil e pobreza. No entanto, é importante frisar que estes resultados
podem ser revertidos com muita facilidade e é indispensável está sempre atento,
fiscalizando o que tem sido feito ou não e o que ainda pode-se melhorar.
Na enfase dessas palavras, Lister (2003, p. 34) aponta que as
particularidades culturais de uma nação e também uma variedade de divisões, como
classe, gênero e etnia são elementos importantes da cidadania vivida e do cidadão
em treinamento e devem ser levados em consideração na criação e
desenvolvimento de políticas públicas.
O Brasil avançou em suas políticas públicas voltadas para as crianças e
adolescentes a partir do proposto na Convenção Internacional sobre os Direitos da
Criança aprovado pela ONU em 1989 e assinada e retificado pelo país em 1990.
Com a promulgação do Decreto nº 99.710, consta a concepção de proteção integral
e a defesa dos princípios propostas na convenção:

Tendo em conta que, conforme assinalado na Declaração dos Direitos da


Criança, "a criança, em virtude de sua falta de maturidade física e mental,
necessita proteção e cuidados especiais, inclusive a devida proteção legal,
tanto antes quanto após seu nascimento”. (BRASIL, 1990 b).
30

Portanto, é direito da criança e do adolescente, conforme o que define o


artigo 1º da convenção, “considera-se como criança todo ser humano com menos de
dezoito anos de idade, a não ser que, em conformidade com a lei aplicável à
criança, a maioridade seja alcançada” (BRASIL, 1990), a proteção até seu pleno
desenvolvimento ou maioridade.
Observa-se que o país, apesar dos avanços, não foi capaz de reduzir a
desigualdade existente entre territórios, urbano-rural, gênero e etnia no que
concerne o direito às crianças e adolescentes, haja vista a quantidade elevada de
meninas, meninos e adolescentes excluídos do sistema de garantia de direitos.
Assim, apesar de suas especificidades, os direitos de meninas, meninos e
adolescentes expressos nas políticas públicas não apresentam diferenças
significativas, pois tratam de maneira semelhante ao direito à vida, educação, saúde,
liberdade, entre outros destinados a estes sujeitos (PEREZ; PASSONE, 2010).
Todavia, de acordo como remete Cohen (2009),

O status político da cidadania infantil, principalmente, mas também juvenil,


por meio de representação independente ou voz na política deixa muito a
desejar. As políticas públicas no Brasil não representam as especificidades
diferentes dos interesses das crianças e dos adolescentes. Além disso, a
democracia e a inclusão das demandas das crianças e dos adolescentes na
concepção essencial de proteção integral são questionadas. O Brasil fez,
então, essa representatividade na perspectiva da assistência social.

Observa-se com esse argumento que, no país, que a proteção dos direitos
de meninas, meninos e adolescentes está diretamente relacionada à ideia de
sistema. O sistema representa um conjunto interdependente de atores estatais e
sociais, entre os quais o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), que
ocupa um papel de destaque na representação e luta pela defesa dos direitos das
crianças e adolescentes. Segundo Perez e Passone (2010) um sistema de proteção
abrangente requer que esse conjunto de atores esteja articulado e interagindo na
busca pelo gerenciamento da política pública que possibilite a garantia desses
direitos.
No que se refere as conquistas com bons resultados, como já pontuado,
tem-se que na educação, o Brasil avançou na inclusão de estudantes (crianças,
adolescentes e até adultos) na educação básica. No entanto, os pobres, os afro-
descendentes e os indígenas continuam em situações de maior exclusão escolar
(PEREZ; PASSONE, 2010). Todavia, esses índices têm caido ano após ano, num
31

trabalho árduo do país em mudar essa realidade, segundo informações do UNICEF


do ano de 2015.
De acordo com Marshall (1998), no caso do Brasil, a desigualdade na
garantia do direito à educação torna a cidadania plena e responsável frágil. Em
pesquisas realizadas por esse autor, foi constatado que o abandono escolar e a falta
de escolas é maior nas áreas rurais do que nas urbanas. E isto, aponta, que
crianças e adolescentes dessas áreas são aqueles as quais esse direito básico é
mais negado. Segundo o estudo Diversidade, Equidade e Inclusão na Escola (2018,
p. 41):

Das mais de 100 mil escolas rurais que existiam no brasil em 2002, 17 mil
foram fechadas, segundo pesquisa da Universidade Federal de São Carlos
(UFSCar). enquanto isso, as matrículas no ensino médio aumentaram de
289.101 mil para 359.353 mil, segundo o censo escolar.

Em relação à mortalidade infantil, identificou-se que o Brasil é um dos países


que mais se destacou por reduzi-la, na mortalidade Lactente (até 1 ano) e infância
(até 5 anos), sendo sem dúvida um dos principais avanços na área da infância.
Buscou-se assim, exceder o objetivo de reduzir Mortalidade infantil prevista nos
estudos dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM) antes do prazo.
(UNICEF BRASIL, 2015).
No entanto, a situação não melhorou no caso de crianças indígenas, que
têm duas vezes e meia mais riscos de morrer antes de completar um ano do que as
outras crianças brasileiras (UNICEF BRASIL, 2015). E isso tem relação com a
precariedade do direito à saúde destinada a estas populações.
Há também um quadro agravado, quando a referência é feita à população
negra. Segundo Menezes (2018, p. 87):

[...] historicamente, a taxa de mortalidade infantil (TMI) tende a ser maior


nesse grupo. Segundo um artigo publicado pela Fundação Oswaldo Cruz
(Fiocruz), o falecimento de crianças declaradas pretas foi 1,8 vez superior à
média nacional.

No que concerne à violência, observa-se que o direito de nascer é


nitidamente um dos problemas mais graves no que tange os direitos das crianças e
adolescentes e que ainda não foi possível reduzir no país. Existem diversos tipos de
violência que assolam esses indivíduos: violência nas famílias, violência de gênero,
violência sexual, violência física etc.
32

Um ponto destaque e preocupante é a constatação que o assassinato de


jovens tem aumentando nos últimos anos. No cenário brasileiro, a imagem mais
trágica da violação de direitos são os assassinatos sistemáticos de adolescentes.
Somente em 2013, mais de 10.000 adolescentes foram mortos. Além disso, na
maioria dos casos, os autores dos crimes são desconhecidos, porque faltam
pesquisas, o que gera um ciclo de impunidade que alimenta uma onda crescente de
violência (UNICEF BRASIL, 2015).
Segundo a publicação do Atlas da Violênca de 2019, a morte de jovens tem
aumentado no país desde os anos 1980. Aponta-se que “a criminalidade violenta
vem sendo fortemente relacionada ao sexo masculino e ao grupo etário dos jovens
de 15 a 29 anos. [...] a taxa de homicídios por 100 mil habitantes chega a 130,4 em
2017” (IPEA, 2019, p. 27).
Ainda, que esses assassinatos tem um recorte de raça e classe, onde jovens
negros e pobres são os mais atingidos. Em coemnto, Menezes (2018) aponta que de
335 jovens assassinados na capital do Rio de Janeiro em 2016, 269 eram negros. O
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) aponta, que essa violência com
recorte de raça se dá em todos grupos etários para essa parcela da população.

Em todos os grupos etários, a taxa de homicídios da população preta ou


parda superou a da população branca, contudo, é preciso destacar a
violência letal a que os jovens pretos ou pardos de 15 a 29 anos estão
submetidos: nesse grupo, a taxa chegou a 98,5 em 2017, contra 34,0 entre
os jovens brancos. Considerando os jovens pretos ou pardos do sexo
masculino, a taxa, inclusive, chegou a atingir 185,0. (IBGE, 2019, p. 10)

Sobre a pobreza, segundo dados do Banco Mundial de 2004 a 2014,


conforme destaca Motti e Santos (2014, p. 90),

Cerca de 60% dos brasileiros aumentaram sua renda e 36 milhões de


pessoas saíram da extrema pobreza. Mas essa tendência foi revertida nos
últimos anos por causa da recessão mais difícil da história do Brasil e por
cortes nos programas de subsídios, que causaram o aumento do
quantitativo de 2,5 a 3,6 milhões de pessoas abaixo da linha da pobreza.
Estes números, possivelmente, são menores do que a realidade apresenta
e não refletem o fato de que muitos brasileiros de classe média baixa que
aumentaram sua renda durante os anos prósperos, perderam poder de
compra e estão de novo perto da pobreza na atual situação econômica do
país.

Tendo em conta a classificação de pobreza usada pelo Banco Mundial,


utilizada na pesquisa Síntese de Indicadores Sociais apresentada em 2017 pelo
33

IBGE, observa-se que aproximadamente 25,4% da população vive no nível menos


agudo de pobreza e 6,5% na pobreza extrema. A maioria são meninas e meninos
com menos de 14 anos, 42,4% da população. (IBGE, 2017).
Dados estatais apontam a desigualdade entre a maioria das regiões do país,
concernente a disparidade de renda entre os mais pobres e os mais ricos. Enquanto
a média nacional de pobreza é de 25,4% da população, em 15 dos 27 estados o
indicador excede a média, sendo todos eles nas regiões norte e nordeste. Maranhão
(52,4%), Amazonas (49,2%), Acre (46,6%), Pará (45,6%) e Ceará (44,5%) são os
estados que apresentam os maiores percentuais da população que vive na pobreza
(MOTTI; SANTOS, 2014).
Neste ponto, também destaca-se o recorte de raça e cor no que tange a
desigualdade de renda. Observa-se que:

Apesar de a população preta ou parda ser maioria no Brasil (55,8%), esse


grupo, em 2018, representou apenas 27,7% das pessoas quando se
consideram os 10% com os maiores rendimentos. Por outro lado, entre os
10% com os menores rendimentos, observa-se uma sobrerrepresentação
desse grupo, abarcando 75,2% dos indivíduos. (IBGE, 2019, p. 04)

Afetando assim, diretamente, o acesso aos direitos básicos das crianças e


adolescentes que pertecem a esse grupo populacional. O país ainda apresenta altos
índices de desigualdade e negação de direitos que não foi capaz de resolver em
todos as áreas apontadas, destacando-se os preconceitos históricos nos dados.
O Brasil deixou para trás uma lei punitiva, segregacionista e preconceituosa
para a infância, o Código de Menores de 1979, Lei nº 6. 697. Este tinha o objetivo de
manter a ordem social. Dizia que visava promover a proteção, assistência e
vigilância ao menor em “situação irregular”, mas de fato seu compromisso era
segregar jovens, pois a dita “situação irregular” podia ser a partir da própria conduta
do menor, de circunstâncias familiares ou mesmo sociais. (BRASIL, 2019).
Deste modo, apesar dessa legislação defender uma proteção, ela vinha com
uma concepção de punição e segregação de menores. Tanto que um de seus
pontos centrais foi a implantação de internatos para menores irregulares. Diante
desse aporte, é importante pontuar que o Código de Menores foi superado, todavia
ele deixou marcas na relação social com determinadores grupos de crianças e
adolescentes, pois era:
34

[...] uma lei específica destinada a crianças e adolescentes pobres, órfãos,


abandonados, desvalidos, infratores, segregava-se esse grupo populacional
sob uma doutrina que os caracterizava como pessoas em situação irregular.
A essa população era destinado o Código de Menores. A influência dessa
doutrina da situação irregular ainda pode ser percebida em conceitos,
atitudes e abordagens que veem crianças e adolescentes pobres como
incapazes e vítimas indefesas das vulnerabilidades sociais e potenciais
riscos para a harmonia social por sua possibilidade de se tornarem
infratores. Os excluídos eram então os “menores”. (UNICEF, 2015, p. 08).
Com o esgotamento e incapacidade de proteção da infância e adolescência
a partir dessas medidas moralizantes, discriminatórias e excludentes, em 1990, o
país aprovou o Estatuto da Criança e os Adolescente (ECA), uma lei que foi
atualizada para responder aos desafios da proteção emergente do direito à vida, à
saúde, à liberdade, à respeito, dignidade, vida familiar e comunitária, educação,
cultura, esportes, lazer, entre outros. O ECA assim, modificou de forma radical a
realidade em vigor “e garantiu, legalmente, os direitos a todas as crianças e todos os
adolescentes. Sem exceção” (UNICEF, 2015, p. 08).
Este quadro jurídico incorporou os princípios, já pontuados, da Convenção
sobre os Direitos da Criança de 1989 e também da Constituição Federal de 1988, e
serviu de referência para a América Latina por sua coerência com os direitos
humanos, com respeito ao desenvolvimento de meninas, meninos e adolescentes e
pelo compromisso de tratar da infância e adolescência com prioridade (MOTTI;
SANTOS, 2014).
A partir de 2004, com o campo do desenvolvimento social, da luta contra a
fome e a proteção social aceleradas e fortalecidas, com políticas públicas de
referência como a Política Nacional de Assistência Social e o Sistema Único de
Assistência Social (SUAS) já estabelecidas, os mecanismos de proteção aos direitos
das crianças e adolescentes ganharam novos apoios.
Em se tratando da assistência social, no âmbito da proteção social básica,
que é a prevenção de situações de vulnerabilidade e refere-se, especialmente, ao
confronto de situações de violação de direitos, políticas e programas passaram a ser
implementados. Mais adiante, em 2016, a Lei nº 13.257 aprovou o Marco Legal da
Primeira Infância, lei que incentiva e subside a criação de políticas públicas,
programas, serviços e iniciativas dedicados à promoção do desenvolvimento integral
de crianças desde o nascimento até seis anos de idade (MOTTI; SANTOS, 2014).
Desse modo, crianças e adolescentes passaram a ter de fato a proteção
integral garantida, por um arcabouço legal consistente e bem instrumentalizado.
Necessitando assim, de um olhar mais enfático na questão de se fazer cumprir o
35

que rege a legislação.


Explicitando melhor esse detalhe, no tópicp seguinte serão contemplados
algumas considerações acerca das principais legislações voltada as crianças e para
os adolescentes no Brasil.

4.2 A Constituição Federal de 1988

A Constituição da República Federativa do Brasil é a lei suprema da nação.


É a base e fonte da autoridade legal subjacente à existência do país e do seu
governo federal. Ela fornece a estrutura para a organização do governo brasileiro e
para o relacionamento do governo federal com os estados, muncípios e com os
cidadãos que aqui residem além dos estrangeiros e demais casos.
Esse mecanismo foi um marco na história da redemocratização do país. Ela
foi elaborada como uma reação ao período da ditadura militar e buscou garantir os
direitos individuais e restringir a capacidade do Estado de limitar a liberdade, punir
ofensas e regular a vida individual. Foi a primeira constituição a exigir severa
punição por violações de liberdades e direitos civis. Consequentemente, o Brasil
aprovou mais tarde uma lei que torna a propagação do preconceito contra qualquer
minoria ou grupo étnico crime.
Após o Brasil ter passado por um grande período de ditadura militar, que
vigorou dos anos de 1964 a 1985, o país se via em um processo de
redemocratização onde existia a necessidade de devolver ao povo todos os direitos
que haviam sido retirados deles durante o processo ditatorial (MARCOS JUNIOR,
2016).
Expõe-se que essa Constituição foi escrita em um clima de esperança de
que o documento fosse a base fundamental para a implantação da democracia no
país. A ideia central era de que, a partir de uma Constituição democrática ou
Constituição Cidadã, como também ficou conhecida, a nação desenvolvesse
instituições fortes o suficiente para sustentar o país caso fosse abalado por
momentos de crise crescentes, no entanto, a realidade foi outra. (SILVA, 2018).
Os Princípios Fundamentais da nação, segundo explicita Cunha (2018, p.
43), estão listados nos quatro primeiros artigos da Constituição. Basicamente
definem as bases políticas, sociais e jurídicas do Brasil. O país é definido como uma
República Presidencial Federal, formada por Municípios, Estados e Distrito Federal.
36

É um estado de direito democrático, dividido em três poderes: o Executivo, o


Legislativo e o Judiciário.
Os objetivos do Brasil são listados como a construção de uma sociedade
livre, justa e igualitária para qualquer pessoa. Baseado nessa colocação, aponta-se
mediante as palvrade Marcos Junior (2016), os pilares fundamentais da Constituição
Federal, que são:
Soberania; Cidadania; Dignidade do indivíduo; Valores sociais do trabalho e
livre iniciativa; Pluralismo político. A Constituição também estabeleceu
muitas formas de participação popular direta além do voto regular, como
plebiscito, referendo e a possibilidade de cidadãos comuns proporem novas
leis.

No que concerne os direitos das crianças e adolescentes, estão lançados


confrome definição da Constituição em seu art. 227 que:

É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao


adolescente e jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à
alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à
dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária,
além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação,
exploração, violência, crueldade e opressão. (BRASIL, 1988).

Nesse artigo foi definido ainda, a promoção de assistência integral à saúde;


a idade mínima de 14 anos para admissão em trabalho na condição de aprendiz; o
tratamento devido destinados à crianças e adolescentes órfãos ou em situação de
abandono. Também, estabeleceu a severidade da lei na punição de abuso, violência
e exploração sexual. E o atendimento por parte do Serviço Social destinado a estes
sujeitos entre outros pontos.
No que se refere ao sistema educacional brasileiro, essa nova Constituição
estabeleceu as metas e objetivos que deveriam aplica-se a todas as escolas. Assim,
a educação foi determinada como obrigatória para todas as crianças e adolescentes
entre as idades de seis e quatorze anos e livre em todas as instituições públicas,
incluindo instituições de adultos, para aqueles indivíduos que não tiveram acesso à
escola na idade apropriada conforme descreve Cunha (2018). Desse modo, a
legislação visava acabar com o analfabetismo no país e dá acesso a educação a
todos os indivíduos, compreendendo-a como direito básico.
Segundo o artigo 208 da Constituição, o dever do Estado com a Educação
será efetivado mediante a garantia de:
37

III: atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência,


preferencialmente na rede regular de ensino; IV: atendimento em creche e
pré-escola às crianças de 0 a 6 anos de idade. Já o artigo 213 diz que os
recursos públicos serão destinados às escolas, podendo ser dirigidos a
escolas comunitárias, confessionais ou filantrópicas, definidas em lei, que: I:
comprovem finalidade não lucrativa e apliquem seus excedentes financeiros
em educação. (BRASIL, 1990).
A educação intermediária, conhecida como ensino médio, também deveria
ser gratuita em todas as escolas públicas e embora não tenha sido colocada como
obrigatória quando a Constituição foi promulgada, passou a ser com a Emenda
Constitucional nº 59, para jovens até 17 anos. Este nível de ensino visa o pleno
desenvolvimento dos adolescentes, incluindo os elementos que compõem o objetivo
do ensino fundamental, bem como a formação profissional, dependendo da
escolha/foco específico de cada instituição de ensino. (BRASIL, 1990).
A Constituição não estabelece expressamente limites de idade. Em vez
disso, determina que a educação seja compulsória, visando fornecer a estrutura
necessária para o desenvolvimento do potencial dos estudantes como um elemento
de autorrealização, treinamento para o trabalho e exercício consciente da cidadania.

4.3 Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA)

O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), promulgado em 1990 pelo


Congresso Nacional, foi o resultado de intensa pressão por uma coalizão ampla de
organizações não governamentais (ONGs) brasileiras e ativistas em nome dos
direitos das crianças e adolescentes. O Estatuto reformulou radicalmente o status
legal das crianças e adolescentes, redefiniu as responsabilidades do Estado e da
sociedade civil e determinou a criação de conselhos participativos nos níveis federal,
estadual e municipal (PEDROSA, 2015).
Em seu art. 2º, o ECA define crianças e adolescentes: “Considera-se
criança, para os efeitos desta Lei, a pessoa até doze anos de idade incompletos, e
adolescente aquela entre doze e dezoito anos de idade” (BRASIL, 1990).
Destacando em parágrafo único, os casos excepcionais, que vão de dezoito a vinte
um anos.
Ainda, traz em seu art. 3º:

A criança e o adolescente gozam de todos os direitos fundamentais


inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata
esta Lei, assegurando-se-lhes, por lei ou por outros meios, todas as
38

oportunidades e facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico,


mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade.
(BRASIL, 1990).

Definindo assim, a proteção integral a esses sujeitos, elemento que


fundamenta a criação de políticas e a atuação de órgãos ligados a defesa e
promoção dos direito das crianças e adolescentes no país.
Além desses elementos, o Estatuto da Criança e do Adolescente postula
que:

Nenhuma criança ou adolescente deve sofrer qualquer tipo de discriminação


ou exclusão, como era anteriormente com o Código de Menores e outras
leis. Aponta que a proteção desses sujeitos é dever da família, da sociedade
e do Estado com prioridade de atenção. E define ainda, em seu art. 7º a
formulação de “políticas sociais públicas que permitam o nascimento e o
desenvolvimento sadio e harmonioso, em condições dignas de existência”
(BRASIL, 1990).

O ECA trata também, de questões ligadas a saúde neonatal, da gestante, da


criança e do adolescente. Bem como dos direitos: à Liberdade, ao Respeito e à
Dignidade; à Convivência Familiar e Comunitária; à Educação, à Cultura, ao Esporte
e ao Lazer; à Profissionalização e à Proteção no Trabalho. E também dos crimes e
das infrações administrativas no que concerne os direitos e integridade das crianças
e adolescentes, além de outros elementos. Destarte, o ECA é um marco para a
história do país, no que concerne os direitos das crianças e adolescentes.
Um ponto de extrema relevância definido no ECA se refere ao direito à
educação. De acordo com o artigo 34: “a criança e o adolescente têm direito à
educação, visando ao pleno desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o
exercício da cidadania e qualificação para o trabalho”. Nesse sentido, a lei garante:

Igualdade de condições para o acesso e permanência na escola; Direito de


ser respeitado por seus educadores; Direito de contestar critérios
avaliativos, podendo recorrer às instâncias escolares superiores; Direito de
organização e participação em entidades estudantis; Acesso a escola
pública e gratuita próxima de sua residência. (BRASIL, 1990).

Para que estes direitos sejam contemplados, segundo o artigo 54, o ECA
também estabelece os deveres do Estado, que são eles:

Garantir ensino fundamental, obrigatório e gratuito, inclusive para os que a


ele não tiveram acesso na idade própria; Segurar progressivamente a
extensão da obrigatoriedade e gratuidade ao ensino médio; Oferecer
atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência,
39

preferencialmente na rede regular de ensino; Oferecer atendimento em


creche e pré-escola às crianças de zero a seis anos de idade; Garantir
acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação
artística, segundo a capacidade de cada um; Ofertar ensino noturno regular,
adequado às condições do adolescente trabalhador; Promover atendimento
no ensino fundamental, através de programas suplementares de material
didático escolar, transporte, alimentação e assistência à saúde. (ECA,
1990).

Portanto, a educação é postulada no ECA como direito fundamental a todas


as crianças e adolescentes, visando o seu pleno desenvolvimento, promovido pelo
Estado e outros órgãos de acordo com a Constituição. Os referidos direitos entre
outros, são cruciais na prevenção e enfretamento de toda e qualquer violação
acometida contra o público infantail, inclusive e principalmente toda e qualquer tipo
de violencia lançada contra ele.

4.4 Dos demais mecanismos de proteção à criança e ao adolescente

A sociedade em busca de melhorias para uma qualidade de vida com mais


segurança e benefícios para que se possa viver de maneira mais segura e saudável,
por muito tempo vem lutando e reivindicando por meios viáveis que oportunizem
acessos a serviços essenciais ao cidadão. Em relação a segurança, este tem sido
em sua maioria, um briga acirrada em meio ao grande índice em suas mais variadas
faces e acontecimentos trágicos.
Sobre a violência ocorrida e agravada a cada dia mais no país, argumenta-
se que os casos pedem socorro, em que medidas de proteção, prevenção e atitude
são emergidas de maneira alarmantes. Medidas que sejam capazes de amenizar a
realidades em que se vive, ou pelo menos possa suprir as mais graves, uma vez que
todas são passiveis de atenção.
Baseado nesse contexto, serão esmiuçados a partir deste momento algumas
pautas a respeito dos mecanismos existentes em prol da sociedade contra a
violência, se reportando em especial ao público infantil. Em que, explana-se
inicialmente alguns pontos importantes acerca da trajetória desses meios legais de
combate surgidos e conquistados no Brasil.
A partir da década de 80 e com a ampla participação das organizações não
governamentais (ONG), universidades, governo federal, estadual e municipal,
associações de classe, associações comunitárias e comunidades, o trabalho em
40

rede, voltado à garantia de direitos, proteção e atendimento à infância e


adolescência, vem sendo desenvolvido nas diferentes regiões de maneira
abrangente, como em estados, municípios e comunidades brasileiras.
De acordo com informações encontradas no site da Childhood1 Brasil, os
principais mecanismos que compõem esse braço fazem parte:
Sistema de Garantias de Direitos os Sistemas Judiciário, Administrativo de
Atendimento e o de Políticas Setoriais, e devem encarregar-se de
institucionalizar os Conselhos de Direitos Municipais e Estaduais, assim
como os Conselhos Tutelares. No Poder Judiciário, atuam o Ministério
Público, a Defensoria Pública, o Juizado, as Varas da infância e
adolescência e as Delegacias especializadas. (Childhood. Brasil. com.br).
Como pode se observar, é bem ampla a rede que atua na proteção e
atendimentos diversos a criança e ao adolescente. Necessitando sim, de melhores
aparatos no sentido de abarcar um maior número estratégias que possam tanto
melhorar o combate, como sanar os casos presentes buscando evitar
acontecimentos futuros e medidas investigativas, vigílias assíduas que possam ir
mais além do que a espera por denúncias e evidencias físicas para descobrir
alguma violência sofrida e romper o silencio, acabar com medo e desinformação.
No segmento dos mecanismos existentes que atuam na defesa do público
infantil nas mais diversas áreas cita-se ainda:

Na área de Atendimento e de Políticas Setoriais, participam os Sistemas de


Saúde, Educação, Trabalho, Assistência Social, Lazer, Esporte, Cultura,
assim como o Sistema de Defesa á a defesa dos direitos infanto-juvenis
deve ser efetuada por órgãos, entidades, agentes e autoridades
especializadas e qualificadas para tanto, merecendo destaque, sem dúvida
alguma, o Conselho Tutelar, que possui (enquanto colegiado), o status de
autoridade pública que, em muitos aspectos, é equiparada à figura da
própria autoridade judiciária (sendo inclusive dotado, a exemplo desta, do
poder de requisição de determinados serviços públicos). (Childhood Brasil.
com.br).

No geral, existe também a Lei a Lei nº 13.431/17, a qual é regulamentada


por meio do Decreto nº 9.603/2018, e estabelece o Sistema de Garantia de Direitos
da Criança e do Adolescente e determina a implantação dos mecanismos de Escuta
Especializada e Depoimento Especial para toda criança ou adolescente
testemunhas ou vítimas de violência, principalmente a violência sexual. Todos os
municípios brasileiros devem instituir a rede de proteção especializada e integrada
estabelecida pela Lei. (Childhood Brasil. com.br).

1
é o braço nacional da World Childhood Foundation, organização criada em 1999, por S. M. Rainha
Silvia da Suécia, com o objetivo de defender os direitos da infância e promover melhores condições
de vida para crianças em situação de vulnerabilidade em todo o mundo.
41

As Leis e medidas de proteção existem e são várias, necessitando apenas,


assim acredita-se, de ajustes na questão de abrangência para as localidades mais
distantes coo acontece nos povoados municipais e serviços de atendimento 24
horas além de outras questões como divulgação de informações e um trabalho
educativos realizado na escola regularmente.
Em continuação ao disposto anteriormente, com a participação da Childhood
Brasil em sua elaboração e articulação junto ao setor público, a legislação determina
um sistema de proteção e garantia de direitos da criança e do adolescente no
momento da denúncia do crime e em todas as fases do processo judicial, prevendo
a criação dos Centros de Atendimento Integrado que são espaços multidisciplinares
e com profissionais capacitados no acolhimento das vítimas e estabelecendo a
escuta protegida na qual a criança ou o adolescente tem seu relato sobre a violência
gravado. (Childhood Brasil. com.br).
Na análise desse serviço ora citado, nota-se o objetivo minucioso que ele
possui em sua linha de trabalho, então, o que pode acontecer é a falta de uma
execução mais eficiente, pois teoricamente a Lei existe e estabelece um serviço
muito empenhado. E se este não é praticado como deve, algo está errado, a
pergunta é: o que? Difícil, questões dessa natureza geralmente surgem ficam
algumas vezes em resposta.
Esse atendimento ocorre de forma integrada e tem o objetivo de evitar o
processo de revitimização da criança ou adolescente, sobre o que acontece quando
as vítimas acabam relatando a violência que sofreram inúmeras vezes, em
diferentes serviços da rede de proteção, como Conselhos Tutelares, escolas e
espaços educacionais, rede de Assistência Psicossocial e Sistemas de Saúde, de
Segurança Pública e de Justiça. (BRASIL, 2020).
O difícil é quando, as crianças em especial, não contam ou não sabem que
estão sofrendo algum tipo de violência. O que torna mais complicado identificar se
está acontecendo a violência e qual o tipo. Exatamente em situações como essa que
a escola torna-se um meio fundamental na explicação e orientação a respeito desse
assunto para poder auxiliar no que fazer.
Aponta-se a princípio o previsto no Estatuto da Criança e do Adolescente e
na publicação intitulada “Linha de Cuidado e Atenção Integral a Crianças,
Adolescentes e Famílias em Situação de Violências”, a Rede de Proteção e Garantia
de Direitos das Crianças, Adolescentes e Jovens, a qual é composta por órgãos com
42

diferentes e complementares responsabilidades. Cada município e território, no


entanto, tem profissionais e sociedade construindo respostas mais ou menos
resolutivas. (Rede de Enfretamento, 2020).
A respeito da Educação nesse meio, reporta-se que nesse espaço se faz
precisa perceber a questão do conhecimento diverso enquanto parte da rede de
proteção social. Para tanto, é importante que estabeleça parcerias com os demais
equipamentos públicos que compõem os territórios. Esses vínculos podem fortalecer
ações preventivas e de conscientização, bem como no atendimento,
acompanhamento e encaminhamentos dos casos.
A Rede de Enfretamento e Proteção direcionada a criança e ao adolescente
se compõe ainda por vários outros setores de fundamental relevância nesse cenário,
como por exemplo:

Saúde: os profissionais de saúde da Atenção Primária, que atuam no


mesmo território em que está inserida a escola, podem criar capacitações
conjuntas com os profissionais da educação, também através do PSE, para
o conhecimento e fortalecimento da linha de cuidado e acionamento da rede
de proteção às crianças e adolescentes. Assistência Social: O Sistema
Único da Assistência Social (SUAS) oferece ações e serviços voltados para
o fortalecimento da família. Entre eles, dois são fundamentais para o
cuidado e a proteção social de crianças, adolescentes e suas famílias em
situação de violências: I) Centros de Referência de Assistência Social
(CRAS): localizado em áreas mais pobres, com maiores índices de
vulnerabilidade e risco social. Destina-se à prestação de serviços e
programas socioassistenciais como Programa de Atenção Integral as
Famílias (PAIF), ou o Benefício de Prestação Continuada (BPC) na Escola,
para o acesso de crianças e adolescentes deficientes à escola, entre outras
ações. II) Centro de Referência Especializado de Assistência Social
(CREAS): onde se oferecem serviços especializados a famílias, crianças e
adolescentes nas diversas situações de violação de direitos. Como unidade
de referência, deve promover a integração de esforços, recursos e meios
para enfrentar a dispersão dos serviços e potencializar ações para os(as)
usuários(as). (ECA, 1990).

O Conselho Tutelar é outro setor com papel importantíssimo nessa rede de


proteção, consiste no “órgão permanente e autônomo, não jurisdicional, encarregado
pela sociedade de zelar pelo cumprimento dos direitos da criança e do adolescente”
(art. 131 do ECA) e tem como atribuições, entre outras, demandar serviços públicos
nas áreas de saúde, educação, serviço social, previdência, trabalho e segurança.
(ECA, 1990).
Os Direitos Humanos é outro mecanismo que faz parte desse combate à
violência, refere-se aos seguintes elementos:
43

Política Nacional de promoção, proteção e defesa dos direitos das crianças


e adolescentes está vinculada às secretarias municipais, estaduais e
nacional de direitos humanos, responsáveis: pelo fortalecimento do sistema
e conselhos de garantia de direitos de crianças e adolescentes; pela política
nacional de convivência familiar e comunitária; pelo Sistema Nacional de
Atendimento Socioeducativo (SINASE), que interna adolescentes infratores;
pelo Programa de Proteção de Adolescentes Ameaçados de Morte; por
ações de prevenção e de enfrentamento do abuso e da exploração sexual; o
enfrentamento da violência letal contra adolescentes; a Educação sem
violência, para o cumprimento da Lei 13.010, de 26 de junho de 2014, que
reconhece o direito da criança e do adolescente de serem educados e
cuidados sem o uso de castigos físicos ou de tratamento cruel ou
degradante; e o Disque 100.

Nesse rol, aponta-se ainda como um grande aliado, o Ministério Público,


cuja Atribuições do Ministério Público estão relacionadas à garantia de direitos das
crianças e adolescentes:
I) Proteção dos direitos das crianças e adolescentes; II) Exigência dos
poderes e serviços públicos do bom cumprimento dos serviços de
relevância pública para a garantia dos direitos elencados na Constituição e
no ECA, promovendo as medidas necessárias à sua garantia; III) Proteção
do Patrimônio Público e direitos coletivos que ofereçam garantias dos
direitos; IV) E controle externo da atividade policial. (ECA, 1990).

No que tange as funções da Defensoria Pública nessa defesa, destaca-se a


de oferecer, de forma gratuita e integral, a assistência e orientação jurídica aos
cidadãos que não possuem condições de pagar as despesas de um advogado ou de
documentos pessoais. Judiciário:

O Art. 148 do ECA define as competências da Justiça da Infância e da


Juventude, que são conhecer e apurar: ato infracional atribuído a
adolescente, aplicando as medidas cabíveis; adoções; pedidos de guarda e
tutela; casos encaminhados pelo Conselho Tutelar; e aplicar penalidades
administrativas nos casos de infrações contra norma de proteção à criança
ou adolescente; entre outras ações. (BRASIL, 1990).

Por último vem a Segurança Pública, a qual atua no dever de oferecer


Delegacias Especializadas de Proteção à Criança e ao Adolescente; à Mulher; assim
como profissionais capacitados na garantia dos direitos das crianças e adolescentes,
e com capacidade técnica especializada prevenção e resolução de crimes contra
crianças e adolescentes, como a exploração sexual infantil, o tráfico humano, a
tortura, a pedofilia e os crimes pela internet. (ECA, 1990).
Dentre outros mecanismos de grande peso que podem ser incluídos na rede
de proteção conforme expostos pelo site Brasil escola (2022), dos quais citam-se:

Protagonismo Juvenil, composto por Associações, grupos ou redes de


44

crianças adolescentes e jovens que atuem na defesa e garantia de seus


direitos e de políticas sociais, agremiações estudantis, entre outras. Cultura
e Lazer: políticas de acesso à cultura, produção cultural, bibliotecas,
espaços públicos de lazer são fundamentais para a criação e valorização de
identidades, além de oferecerem diversão, reflexão e atuação social.
Desenvolvimento Econômico: o acesso ao trabalho e geração de renda
precisam caminhar aos lados das políticas de proteção às famílias e de
desenvolvimento das capacidades produtivas dos adolescentes e jovens.

As Universidades são um dos mais vigorosos parceiros dos gestores


públicos nesse viés, pois podem oferecer núcleos de pesquisa especializados que
dialoguem na construção de diagnósticos de políticas, populações específicas e
questões sociais relevantes; cursos de extensão, especialização e pós-graduação
em temáticas de enfrentamento a violências e promoção de cultura de paz. As
Organizações Não-Governamentais também desempenhar um papel essencial na
atuação em Defesa dos Direitos das Crianças e Adolescentes. Assim como as
Redes e Organismos internacionais como UNICEF e UNESCO. (www.brasil.escola),
Juntamente a esses setores, reforça-se a importância em unificar
enfrentamento e atendimento nas ações e serviços dos diferentes setores, em
especial da Assistência Social, da Justiça, da Segurança Pública e da Saúde, em
busca de uma atenção integral, de qualidade e humanizada, que propicie a proteção
de crianças e adolescentes. Acerca desse assunto na visão de Furini (2011),

Os dispositivos legais que tratam diretamente da referida proteção são os


ligados à Seguridade Social, à Educação, à Cultura, aos Desportos e à
Família, porém a maioria das intervenções sociais atua na dimensão do
enfrentamento e não da prevenção de risco ou vulnerabilidade social.

Nesse viés, cabe destacar que a proteção de crianças e adolescentes está


prevista nas diretrizes nacionais do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do
Adolescente (CONANDA), especificamente nas ações denominadas especiais, que
são voltadas para a população que teve seus direitos violados, ações estas
desenvolvidas no plano da Assistência Social. Na rede de proteção, advinda com a
criação do Sistema de Garantia dos Direitos da Criança e do Adolescente (SGDCA),
temos a integração operacional de órgãos, como: Ministério Público, Defensoria
Pública, Conselho Tutelar, Centro de Referência Especializado de Assistência
Social, dentre outros. (FURINI, 2011).
No intuito de reforçar a integração desses dispositivos e proteção se faz
necessário ainda a presença da sociedade, uma vez que as denúncias e olhares vão
45

bem além de muitos mecanismos na defesa e atendimentos, que não conseguem


chegar ao lares, as convivências em famílias, comportamentos, situações mais
peculiares.
46

5 CONCLUSÃO

Nesta etapa elucida-se as observações selecionadas neste trabalho, das


quais a princípio, se reportam acerca do tema, que ele foi escolhido na intenção de
se abordar essa temática tão importante e com isso possibilitar informações que
poderão enaltecer a atenção da sociedade para os casos de violência doméstica
contra a criança e ao adolescente no contexto familiar, buscando demonstrar os
meios existentes na defesa desse público.
No segundo momento, espera-se com este assunto poder colher dados que
poderão servir de conhecimento maior para se buscar medidas que possam
fortalecer o combate de violência acometidas contra pessoas vulneráveis menores
de 18 anos. Uma vez que, que muitos não conseguem se defender e outros não
entendem o porquê de certas situações enfrentadas decorrentes de algum tipo de
violência.
Frente aos objetivos traçados, acredita-se que eles poderão enfatizar a
necessidade de levar a sociedade não apenas um alerta, mas um pedido de socorro
para quem não pode ou não se defender sozinho. Em que as políticas públicas
associadas dos mecanismos de defesa voltado a criança e ao adolescente, assim
como os cuidados da família, possam emergir com um caráter um pouco mais
elevado e respeitado pelos praticantes desse tipo de violência.
Baseado nesses apontamentos, se faz importante destacar ainda, que o
assistente social poderá desempenhar um papel de grande relevância, pois esse
profissional atua tanto como mediador como uma ferramenta essencial na garantia
de direitos, orientações e acompanhamentos em prol do público infantil e acessos
obrigatórios dos quais estas fazem jus.
No enfrentamento da violência doméstica contra crianças e adolescentes no
ciclo familiar, como suporte teórico, merece ênfase o ECA, cuja doutrina da proteção
é integral, e assegura às crianças e aos adolescentes assistência em todos os
pontos possíveis de sua vida. Com esse mecanismo em ação talvez possam surgir
maiores possibilidades de satisfação das suas necessidades básicas, notadamente
aquelas decorrentes da peculiar condição de pessoas em desenvolvimento. No
entanto, percebe-se a necessidade de outras propostas que possam desenvolver e
ampliar significativamente, por intermédio de suas forças produtivas, uma
47

mobilização social em favor do cumprimento da Constituição Federal e do ECA,


instrumentos legais de garantia dos direitos de crianças e adolescentes.
Grifa-se também que, com o presente trabalho procurou refletir sobre ações
pertinentes entre o combate da violência doméstica contra crianças e adolescentes
no ciclo familiar, onde o foco central destacado é a necessidade da inserção de
profissionais e setores cruciais voltados diretamente nessa rede de enfrentamento.
Haja vista, o grau de importância de meios significativos no sentido de priorizar e
promover transformações, perante os crescentes acontecimentos e propagação
desse tipo de violência.
Comenta-se, que mediante o aumento da violência no Brasil nesses últimos
anos, principalmente perante esse processo acentuado de avanços e conquistas,
tal fato vem propiciando oportunidades, notadamente, às classes sociais menos
favorecidas. Por essa razão, abarca um imenso contingente da população
composta em sua grande maioria por cidadãos que viviam à margem das benesses
sociais inclusivas, marginalizados, pela ausência de políticas públicas de alcance.
Assim sendo, com essa crescente demanda que vem buscando o seu
espaço como cidadão através da superação possibilitando verificar que o processo
de prevenção e combate depende do auxílio de outros agentes cuja habilitação e
formação consista em uma especialização em trabalho coletivo que permita intervir
nas questões sociais, através da realização de políticas sociais. Deste modo, o
enfretamento da violência infantil consiste em identificar as demandas presentes
nas relações sociais existentes entre sociedade e família, partindo da necessidade
de garantir os direitos previstos constitucionalmente aos sujeitos envolvidos.
Através do estudo ora realizado, pôde-se analisar também que as realidades
vividas na sociedade por crianças e adolescentes implicam também na vida familiar
que reflete na educação desses sujeitos, tendo por consequências o baixo
rendimento nos estudos, o desinteresse, comportamento violento e a evasão
escolar, trazendo sérios problemas para o futuro.
E para defender de forma convicta, a necessidade de melhores efetivações
dos elementos que fazem parte da rede de proteção frente a violência doméstica
familiar contra crianças e adolescentes, foi imprescindível traçar um panorama que
percorresse aspectos históricos como processo estrutural, até aportar a condição
de pertinência e confluência, que mesclam esses dois processos de prevenção e
48

proteção. Onde o Serviço Social propõe a necessária função de suporte para o


enfrentamento de complexos conflitos de ordem social.
49

REFERÊNCIAS

Assembleia Geral da ONU. "Declaração Universal dos Direitos Humanos".


"Nações Unidas", 217 (III) A, 1948, Paris, art. 1.

AZEVEDO, M. A.; GUERRA, V. N. A. Infância e violência doméstica. Perguntelho


- o que os profissionais querem saber. São Paulo: Lacri. 1994.

______. Como se conceituar? In: A violência doméstica na infância e na


adolescência. (pp. 31-63) São Paulo: Robe, 1995.

BRASIL. Lei 8.069, de 13 de julho de 1990. Estatuto da Criança e do Adolescente.


Brasília: Ministério da Justiça, 1990.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Políticas de Saúde. Violência


intrafamiliar: orientações para prática em serviço. Nº 8. Brasília, 2011.

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil:


promulgada em 5 de outubro de 1988. Brasília, DF, Senado Federal, 2010.

BRASIL. Constituição Federal (1988). Constituição da República Federativa do


Brasil. Brasília, 2009.

BRASIL. Estatuto da criança e do adolescente: Lei nº. 8.069, de 13 de junho de


1990. Diário oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, 16 de julho, 1990.

BRASIL. Código de Ética do Assistente Social – Lei 8.662/93 de regulamentação


da profissão. 3ª ed. Brasília: CFESS, 1997.

BRASIL. Ministério da Saúde (2012). Doença falciforme condutas básicas para


tratamento. Brasília: Ministério da Saúde. Recuperado a partir de http://
bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/doenca_falciforme_condutas_basicas. pdf

BRASIL. Ministério da Saúde (2013). Doença falciforme: condutas básicas para


tratamento. Brasília: Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde.
Departamento de Atenção Especializada.

BRASIL. Ministério da Saúde. (2017). Manual da anemia falciforme para a


população. Brasília: Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde.
Departamento de Atenção Especializada.

CARONI MM; BASTOS, Felipe. O adolescer do prematuro: implicações da


prematuridade no fortalecimento da autonomia. [Dissertação de Mestrado] Rio de
Janeiro: Instituto Fernandes Figueira; 2015.

CHILDHOOD. Pela proteção da infância. A proteção de crianças e adolescentes


durante a o isolamento social. 2020. Disponível em:<
https://www.childhood.org.br/covid>. Acesso em 16 mai. 2021.
50

COHEN, C. O incesto. Um desejo. Casa do Psicólogo Livraria e Editora Limitada,


São Paulo. 2010.

CORSARO, W. MAIA, J. M. D. A reprodução interpretativa do brincar ao “faz de


conta” das crianças. In: Revista Educação, Sociedade e Culturas, nº 17. 2003. P.
113-114.

CUNHA, G. G. A experiência de ser mãe de crianças vítimas de abuso sexual:


uma compreensão fenomenológica. 2018. Dissertação (Mestrado em Psicologia)
– Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes, Universidade Federal do Rio Grande
do Norte, Natal, 2018-2019.

FALEIROS, V.P. O Que é Política Social? Coleção: Primeiros Passos. São Paulo:
Brasiliense, 1996.

FURINI, D. R. M.; DURAND, O. C. S.; SANTOS, P. Sujeitos da educação de


jovens e adultos, espaços e múltiplos saberes. In: LAFFIN, M. H. L. F. (Org.).
Educação de jovens e adultos e educação na diversidade. Florianópolis: NUP, 2011.
p. 138-215.

IBGE. Índice de pobreza no Brasil. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.


São Paulo, 2019. Não paginado. Disponível em <
https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencianoticias/2019-agencia-de
notícias/notícias/25882-extrema-pobreza-atinge-13-5-milhoes-depessoas-e-chega
ao-maior-nivel-em-7-anos> Acesso em: 14 de set. de 2022.

INSTITUTO DE PESQUISA ECONÔMICA APLICADA, Nota técnica- Proteção de


crianças e adolescentes no contexto da pandemia da covid-19: consequências
e medidas necessárias para o enfrentamento. Maio de 2020. Disponível em:
Acesso em: 06/10/2022.

INSTITUTO LADO A LADO PELA VIDA, saiba o que é uma pandemia. Disponível
em: Acesso em: 15/09/2022.

FALEIROS, E. T. S.; CAMPOS, J. O. Repensando os conceitos de violência,


abuso e exploração sexual de crianças e de adolescentes. Brasília:
Unicef/Cecria, 2000.

FONSECA, Claudio Duarte da. Apresentação. In: BRASIL. Ministério da Saúde.


Secretaria de Políticas de Saúde. Violência intrafamiliar: orientações para prática
em serviço. Nº 8. Brasília, 2007.

GUERRA, Viviane Nogueira de Azevedo. Violência de pais contra filhos: a


tragédia revisitada 2008. 6. ed. São Paulo: Cortez, 2001.

JEAMMET Ph., CORCOS M., (2009). Evolution des problématiques à


l’adolescence: L’émergence de la dépendance et ses aménagements. In :
Références en Psychiatrie. Paris: Doin .
51

JULIAO, C. H.; LEHFELD, N. A. de S. Crianças e Adolescentes vítimas de


violência doméstica: da indiferença à proteção integral. In: Serviço Social &
Realidade, v.10, n.2, p.16, UNESP, Franca, 2011.

KUHLMANN JÚNIOR, Moysés. Infância e educação infantil: uma abordagem


histórica. Porto Alegre: Mediação, 2012.

LISTER, Silva AA, Zanini D. Violência em contos infantis e na vida real.


Fragmentos Cult. 2003;23(3):255-67.

MAIA, J. M. D., WILLIAMS, L. C. A. Fatores de risco e de proteção ao


desenvolvimento infantil: uma revisão de área. Temas em Psicologia, v. 13, n. 2,
p. 91-103, 2012.

MARCOS JUNIOR, Marcedo. Violência contra Crianças e Adolescentes: Análise


de Cenários e Propostas de Políticas Públicas. Brasília: Ministério dos Direitos
Humanos, 2016.

MARSHALL, Yves. A violência. São Paulo: Ática, 1998

MENEZES, AJ, Sales MCV. Violência contra crianças no cenário brasileiro. Cien.
Saude Colet 2018; 21(3):871-880.

MINAYO, M.C.S. Violências e acidentes na pauta do setor saúde. In: Violência e


saúde [online]. Rio de Janeiro: Editora FIOCRUZ, 2007. Temas em Saúde collection,
pp. 44-51.

MOTTI, A.J.A e SANTOS, J.V. Redes de proteção social a crianças e ao


adolescente: limites e possibilidades. In: Associação Brasileira de Defesa da
Mulher, da Infância e da Juventude. Fortalecimento da rede de proteção e
assistência a crianças e adolescentes vítimas de violência sexual. Brasília: 2014.

OPAS (Organización Panamericana de la Salud), 1993. Resolución XIX: Violencia


y Salud. Washington, DC: Opas. (Mimeo.).

ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE (OMS). Administração da OMS. Disponível


em: Acesso em: 17. SET. 2022.

ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. Relatório Mundial sobre a Prevenção da


Violência, 2020. Disponível em:
https://nev.prp.usp.br/wp-content/uploads/2015/11/1579-VIP-Main-report-Pt-Br-26-
10-2015.pdf. Acesso em: 21 AGOSTO 2022.

OTTAVI Giuseppe. Nine Easy Pieces: Les manuscrits de Ferdinand de Saussure


à Harvard, In : Archives et manuscrits de linguistes. Ed. Valentina Chepiga e
Estanislao Sofia. Louvain-la-Neuve: L’Harmattan- Academia, 2016. p. 99-132.

PEDROSA, Mário. Alexander Calder, Escultor de Cataventos. In: ______. Arte,


necessidade vital. Rio de Janeiro: Livraria da Casa do Estudante do Brasil, 2018a.
p. 85-108.
52

PEREZ, José Roberto Rus; PASSONE, Eric Ferdinando. Políticas sociais de


atendimento às crianças e aos adolescentes no Brasil. Cadernos de Pesquisa.
São Paulo, v. 40, n. 140, p. 649-673, agosto, 2010. Disponível em:
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100157420100002000
17&lng=en&nrm=iso. Acesso em: 3 OUT. 2022.

RIBEIRO, C. R. et al. Rede de Proteção à Criança e ao Adolescente em Situação


de Risco para a Violência. Volume I – Manual de Atendimento, material não
publicado, Curitiba, 2011.

SAFFIOTI, H. I. B. No fio da navalha: violência contra crianças e adolescentes


no Brasil Atual. In: MADEIRA, F. R. Quem mandou nascer mulher? Estudos sobre
crianças e adolescentes pobres no Brasil. Rio de Janeiro: Rosa dos Tempos, 1997.
p. 135-211, 2000.

SILVA, Rosane Leal da. A proteção integral dos adolescentes internautas:


limites e possibilidades em face dos riscos no ciberespaço. Tese (Doutorado
em Direito) – Programa de Pós-Graduação em Direito pela Universidade Federal de
Santa Catarina, Florianópolis, 2018.

SOUZA, M. P. R.; TEIXEIRA, D. C. S.; SILVA, M. C. Y. G. Conselho Tutelar: um


novo instrumento social contra o fracasso escolar? Psicologia em Estudo, v. 8,
n. 2, p. 71-82, 2003.

Sites consultados:
www.brasil.escola
www.folha de São Paulo.
Revista: Proteja Brasil - Tipos de Violência (UNICEF)

UNICEF. ECA 25 anos. Estatuto da criança e do adolescente. Avanços e


desafios para a infância e a adolescência no Brasil. 40 p. 2019. Disponível em:
<www.unicef.org/brazil/pt/ECA25anosUNICEF.pdf>. Acesso em: 29 set 2022.

Você também pode gostar