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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS


DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL
GRADUAÇÃO EM SERVIÇO SOCIAL

“Novinha é apenas uma criança”: As implicações do tráfico de


crianças e adolescentes para fins de exploração sexual no Brasil.

RECIFE
2022
Ficha de identificação da obra elaborada pelo autor,
através do programa de geração automática do SIB/UFPE

Souza, Thalyta Kelle de.


"Novinha é apenas uma criança": as implicações do tráfico de crianças e
adolescentes para fins de exploração sexual no Brasil. / Thalyta Kelle de Souza,
Vitória Antônia Ribeiro dos Santos. - Recife, 2022.
63

Orientador(a): Ana Cristina de Souza Vieira


Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) - Universidade Federal de
Pernambuco, Centro de Ciências Sociais Aplicadas, Serviço Social -
Bacharelado, 2022.

1. Tráfico de Crianças e Adolescentes . 2. Exploração Sexual. 3. Capitalismo.


4. Mercado Sexual. 5. Direitos Humanos. I. Santos, Vitória Antônia Ribeiro dos .
II. Vieira, Ana Cristina de Souza. (Orientação). III. Título.

360 CDD (22.ed.)


THALYTA KELLE DE SOUZA
VITÓRIA ANTÔNIA RIBEIRO DOS SANTOS

“Novinha é apenas uma criança”: As implicações do tráfico de


crianças e adolescentes para fins de exploração sexual no Brasil.

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à


Coordenação do Curso de Graduação em
Serviço Social da Universidade Federal de
Pernambuco, como requisito parcial para
obtenção do título de Bacharel em Serviço
Social.

Aprovado em: 08/ 11/ 2022

BANCA EXAMINADORA

________________________________________________
Profª Drª. Ana Cristina de Souza Vieira.
Professora do Departamento de Serviço Social da UFPE
(Orientadora)

___________________________________________________

Profª Drª. Valéria Nepomuceno Teles de Mendonça


Professora do Departamento de Serviço Social da UFPE
(Examinadora Interna)
AGRADECIMENTOS

Como foi árduo o caminho até aqui! Ingressamos na Universidade Federal de


Pernambuco em 2018.2, momento de intensas disputas, incertezas e apreensões; 2019 foi
marcado por excessivas ações de desvalorização das políticas sociais – como a de Educação –,
e a profissão de Serviço Social se viu atacada; em seguida, veio a pandemia, o medo
constante, o luto por milhares dos nossos, a desesperança e a reclusão; 2021 retornamos na
modalidade do temido Ensino Remoto Emergencial; e em 2022.2, já presencialmente em um
cenário ainda de muitos embates e lutas, mas também de esperança, estamos encerrando essa
jornada, vislumbrando novas oportunidades e muito mais fortes e convictas do que aquelas
duas meninas que ingressaram. Contudo, em todos os momentos difíceis desses últimos anos,
tivemos Alguém ao nosso lado que representou força, consolo e renovação: Deus, a Quem
agradecemos em primeiro lugar, pois sem o Seu amparo não terminaríamos a graduação com
saúde mental e fôlego. Em um momento em que a religião é posta como palanque de ideias
contrárias aos direitos humanos e sociais, em favor de candidatos, acreditamos que Deus nos
impulsionou a desenvolver ainda mais a nossa criticidade, a procurar ainda mais referenciais
teóricos e nos tornarmos éticas, sem fazer distinções.
Em segundo lugar, gostaríamos de agradecer àqueles que nos possibilitaram realizar
esse sonho que parecia tão distante: nossos familiares.
Para a família de Thalyta: é necessário o encerramento de ciclos, por isso não poderia
deixar de registar meu agradecimento aos meus familiares que caminharam comigo durante o
processo de formação, são eles: Maria, minha amada mãe; meu irmão Bruno; minhas queridas
tias Rosimeri e Josefa; e meus queridos primos.
Para a família de Vitória: demorou para eu chegar até aqui, não foi de primeira – nem
de segunda – mas aqui estou, graças a vocês, meus familiares, dos quais gostaria de destacar
minhas amadas e incentivadoras tias – Ana, Carla e Tânia –, meus queridos tios – Francisco e
Geraldo –, meus encorajadores irmãos – Wagner e Matheus –, meus maiores fãs (pais) –
Wagner e Perla – e meus incríveis primos – Diogo, Lara, Giovana e Nathália –; minha rede de
apoio e afeto. À minha avó, Josefa, minha pessoa, dedico o mais especial dos agradecimentos,
embora ela não consiga ler estas palavras, fez de tudo para que seus netos tivessem a
oportunidade que nunca lhe foi dada, sua força me motiva e impulsiona diariamente, obrigada
por ter me criado como uma mulher questionadora e pelo incentivo para sempre estudar, essa,
e todas as que virão, serão conquistas nossas. Nesses anos de graduação, infelizmente, perdi
alguns parentes – nenhum por COVID –, os quais sei que, onde quer que estejam, estão
vibrando por mim, assim como vibraram quando souberam da minha aprovação, com
lágrimas nos olhos, agradeço: minhas tia-avós Maria das Neves (in memoriam) e Cicera (in
memoriam); meus tios Jorge (in memoriam) e Odair (in memoriam).
Para os(as) nossos(as) amigos(as), aqueles(as) que acreditaram, incentivaram,
torceram e vibraram com nossas conquistas, os nossos mais sinceros e carinhosos
agradecimentos, e em especial a nossa querida companheira de curso Ana Beatriz, que tornou
a caminhada mais leve, a quem admiramos como pessoa e futura profissional.
Gostaríamos de dedicar um espaço especial para agradecer a todos(as) aqueles(as)
docentes que contribuíram para com a nossa construção enquanto futuras profissionais:
obrigada por despertarem a nossa criticidade e nos instigar a sermos cada vez mais
combativas, sempre, claro, amparadas em referenciais de qualidade e alinhamento com as
dimensões da categoria.
Por último, mas não menos importante, somos gratas à professora Ana Vieira, não
apenas pelas partilhas nas aulas, mas também por apadrinhar essa construção. Obrigada pela
disponibilidade, escuta, sugestões, direcionamentos, paciência e leveza, foi uma honra para
nós duas contarmos com a senhora, uma referência de profissional.

No mais, mesmo que em muitos momentos seja difícil devido à temática, esperamos
que aproveitem a leitura.
O tráfico de pessoas tem no seu lastro a questão da sub-humanidade. O mundo de
hoje opera mediante linhas abissais que dividem o mundo humano do sub-humano,
de tal forma que princípios de humanidade não são postos em causa por práticas
desumanas. Deste modo, do outro lado da linha encontramos um espaço que é um
não-território em termos jurídicos e políticos, um espaço impensável para o primado
da lei, dos direitos humanos e da democracia (Santos, 2007). Encontramos, no
fundo, pessoas que não existem, nem no plano social, nem no plano legal. São
espaços construídos nas novas formas de escravatura, no tráfico ilegal de órgãos
humanos, no trabalho infantil e na exploração da prostituição (BAGANHA;
DUARTE; GOMES; SANTOS, 2008, p. 11).
RESUMO

Crianças e adolescentes, historicamente, são vítimas das mais distintas formas de


violências, e a violência sexual é uma delas, a qual pode se expressar na forma do abuso ou da
exploração sexual. Esta última, se relaciona com os ditames do capitalismo, a partir do qual
tudo é passível de se tornar mercadoria, inclusive os corpos, o que, quando associado ao
contexto do tráfico humano, potencializa a expropriação da vida em uma escala muito mais
ampliada e letal, pois é a terceira atividade ilegal que mais cresce e lucra no mundo. Diante
disso, se constituiu enquanto objetivo do presente Trabalho de Conclusão de Curso, analisar a
problemática do tráfico de crianças e adolescentes para fins de exploração sexual no Brasil, na
tentativa de aproximar do tema profissionais e demais setores da sociedade civil que lidam
com potenciais vítimas, tema esse que é pouco difundido, assim buscando chamar atenção
para a emergência do mesmo, e como ele é legitimado pela sociedade, que hiperssexualiza e
silencia meninas e meninos vítimas da barbárie. Para tal, foi necessária uma análise crítica,
multidimensional, para além do aparente, inscrita historicamente e partindo dos direitos
humanos, a qual foi subsidiada pelo materialismo histórico e dialético, contemplando
pesquisas bibliográfica e documental. Portanto, foi possível identificar que existe uma rede
criminosa extremamente bem articulada e consolidada que permeia as mais distintas rotas
globais, e que possui um perfil bem definido de aliciadas e aliciados, o qual se favorece de
questões estruturais como classe, raça/etnia, gênero e hereditariedade, além de usufruir do
turismo, das rodovias e das redes sociais para se favorecer.

Palavras-chave:
Tráfico de crianças e adolescentes; exploração sexual; capitalismo; mercado sexual; direitos
humanos.
ABSTRACT

Children and adolescents, historically, are victims of the most different forms of violence, and
sexual violence is one of them, which can be expressed in the form of abuse or sexual
exploitation. The latter is related to the dictates of capitalism, from which everything is liable
to become a commodity, including bodies, which, when associated with the context of human
trafficking, potentiates the expropriation of life on a much broader and lethal scale. , as it is
the third fastest growing and most profitable illegal activity in the world. In view of this, it
was constituted as an objective of this Course Conclusion Work, to analyze the problem of
trafficking in children and adolescents for the purpose of sexual exploitation in Brazil, in an
attempt to bring professionals and other sectors of civil society who deal with potential
victims closer to the topic, a topic that is not very widespread, thus seeking to draw attention
to its emergence, and how it is legitimized by society, which hypersexualizes and silences
girls and boys victims of barbarism. For this, a critical, multidimensional analysis was
necessary, beyond the apparent, historically inscribed and starting from human rights, which
was subsidized by historical and dialectical materialism, contemplating bibliographic and
documentary research. Therefore, it was possible to identify that there is an extremely
well-articulated and consolidated criminal network that permeates the most distinct global
routes, and that has a well-defined profile of recruited and recruited, which favors structural
issues such as class, race/ethnicity, gender and heredity, in addition to taking advantage of
tourism, highways and social networks to favor itself.

Keywords: Trafficking in children and adolescents; sexual exploitation; capitalism; sex


market; human rights.
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

CONANDA - Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente

CFESS - Conselho Federal de Serviço Social

CTDC - Counter Trafficking Data Collaborative

DUDH - Declaração Universal dos Direitos Humanos

LOAS - Lei Orgânica da Assistência Social

MPF - Ministério Público Federal

MAPEAR - Mapeamento dos Pontos Vulneráveis à Exploração Sexual de Crianças e


Adolescentes nas Rodovias Federais Brasileiras

MMFD - Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos

ONU - Organização das Nações Unidas

ONG - Organização não Governamental

OIT - Organização Internacional do Trabalho

OMS - Organização Mundial da Saúde

PIB - Produto Interno Bruto

PNUD - Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento

SUS - Sistema Único de Saúde

SGD - Sistema de Garantia de Direitos

TCC - Trabalho de Conclusão de Curso

TJDFT - Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios

UFPE - Universidade Federal de Pernambuco

UNICEF - Fundo das Nações Unidas para a Infância

UNODC - Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime


UOL - Universo Online
SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO…………………………………………………………………….…...12
2. TRÁFICO E CAPITAL: DOS NAVIOS NEGREIROS À NAVEGAÇÃO NAS
REDES MONOPOLISTAS DE ALICIAMENTO……………………………….…...17

2.1. Delineamento e particularidades do tráfico humano……………………….…….20

2.2. Produção e reprodução de estratégias para manutenção do grande capital……...27

3. “NOVINHA!”: A indústria do sexo e o seu papel na objetificação


infanto-juvenil…………………………………………………………………………..32

3.1. Elas: a exploração sexual como um Tabu na sociedade


brasileira…………………………………………………………………….………...36

3.2. Articulação da rede do crime…………………………………………………….42

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS…………………………………………………………..47
5. REFERÊNCIAS…………………………………..…………………………………….53
12

1. INTRODUÇÃO

Considerando nossas vivências e acúmulo teórico ao longo da graduação, e nosso


mútuo interesse na área das políticas voltadas às crianças e aos adolescentes, decidimos por
focar em tal área, impulsionadas pela necessidade específica de aprofundar o estudo em torno
da temática do tráfico de crianças e adolescentes com fins à exploração sexual. Esta
aproximação germinou no segundo ano da graduação, quando escrevemos um artigo
intitulado “Tráfico de criança e adolescente para fins de exploração sexual na região
Nordeste do Brasil hoje” (2019.1), primeiro contato esse, decisivo para a ampliação do nosso
horizonte de pesquisa para além dos temas tidos como tradicionais no bojo do Serviço Social.
Posteriormente, já caminhando para o fim do curso, pagamos a disciplina Política de
Atenção à Criança e ao Adolescente, a qual nos fez, inconscientemente e constantemente,
relacionar as discussões ministradas ao tema supracitado, assim nos instigando a aprofundar,
ainda mais, a busca por referenciais teóricos. Contudo, essa escolha não se deu apenas por
nossa aproximação e identificação ao tema, esse objeto de estudo tem um grau de
importância social elevado, e que não condiz com a atual falta de artigos sobre o tema.
Tal observação por nós feita, parte do pressuposto de que o tráfico de pessoas é o
crime que mais cresce, sendo “considerada a terceira maior atividade ilícita do mundo”
(UOL, 2021), fato esse que, quando analisamos a realidade do Brasil, tem – mesmo com os
graves problemas de subnotificação (SÁ; SMITH, 2020, p. 184) – uma faixa etária bem
definida, o que se evidencia nas denúncias registradas pelo Disque 100, onde, “de janeiro de
2020 a junho de 2021, foram registrados 301 casos de tráfico de pessoas. Destes, 50,1% são
crianças e adolescentes” (MINISTÉRIO DA MULHER, DA FAMÍLIA E DOS DIREITOS
HUMANOS, 2021). Nesse sentido, há um impacto expressivo sobre o público
infanto-juvenil, prioritário em toda e qualquer política de proteção social.
Esta ocultação do tráfico humano, que impacta diretamente suas ações de erradicação,
tem intrínseca relação com a indústria que lucra com essa transação, onde tráfico de drogas,
de armas e de pessoas se correlacionam em uma tríade de escala de rede global (LUCENA,
2017, p. 88), uma trama complexa que se embebe na vulnerabilidade socioeconômica e na
condição de indivíduos em desenvolvimento.
Dessa forma, o tráfico, seja qual for sua natureza, está inscrito na dinâmica da
exploração com fins à lucratividade, onde as relações desiguais de poder exercem efetivas e
significativas mudanças na vida dos sujeitos, objetificando o ser com vistas ao mercado. É
sob essa dinâmica que se encontra o tráfico de crianças e adolescentes, sendo assim uma
13

expressão da questão social1 que chama o(a) profissional de Serviço Social a atuar “numa
perspectiva de promover a cidadania e integridade das crianças e adolescentes como sujeitos
de direitos e que detém proteção integral e sócio jurídica” (JUS, 2013), ou seja, torna-se
inerente à profissão a atuação sobre as diversas formas de prevenção a tal ato, sendo assim
estratégica no fortalecimento da proteção integral desses sujeitos, fato esse que ressalta a
importância da construção de pesquisas sobre o tema, posto que é relevante à categoria
profissional e à sociedade.
No entanto, o reconhecimento das crianças e dos adolescentes enquanto seres
humanos em processo de desenvolvimento, caracterizados como portadores da proteção
integral especial de adultos e do Estado2, demorou para ser integrado à legislação brasileira.
Tal conquista, como aponta Mendonça (2015), deu-se “graças à influência dos movimentos
internacionais pela garantia dos Direitos Humanos, [quando] nosso arcabouço legislativo
terminou por contemplar as crianças e [os] adolescentes” (MENDONÇA, 2015, p. 224, grifos
nossos).
Foi sob esse contexto de conquistas que a própria delimitação do que são crianças e
adolescentes foi firmada e validada, sendo definido, respectivamente, como aqueles com
idade entre 0 e 12 anos incompletos e de 12 a 18 anos (ESTATUTO DA CRIANÇA E DO
ADOLESCENTE, 1990)3, assim se enquadrando enquanto seres humanos em processo de
desenvolvimento físico e psicológico, acobertados de forma integral e prioritária, tendo sua
responsabilidade atribuída ao Estado, à família e à sociedade civil (BRASIL, 1988), os quais
devem proteger e dar condições para que haja o pleno desenvolvimento desses sujeitos em
formação.
É nesse sentido que se torna importante ao presente estudo especificar o que é a
violência sexual contra crianças e adolescentes, a qual é definida pela Organização Mundial
da Saúde (OMS), no Relatório Mundial Sobre Violência e Saúde, como sendo “qualquer ato
sexual, tentativa de obter um ato sexual, comentários ou investidas sexuais indesejados, ou
atos direcionados ao tráfico sexual” (2002, p. 147). Nesse sentido, o tráfico de pessoas é
identificado como uma violação dos direitos humanos.
Dessa forma, em termos de violação desses direitos outorgados, o tráfico com fins de
exploração sexual se encontra enquanto locus de infração de diferentes aspectos dos direitos
fundamentais, posto que atua enquanto uma vertente da indústria do sexo, a qual se utiliza de
1
“Síntese reflexiva do aprofundamento das desigualdades sociais, acumuladas e manifestas nas mais variadas
formas” (ARCOVERDE, 2008, p. 109).
2
Artigo 227 da Constituição Federal de 1988.
3
Lei nº 8.069/1990.
14

formas diversas de crime, provocando danos físicos, emocionais e sociais ao público


infanto-juvenil (MORESCHI, 2018, p. 41), tendo intrínseca relação com um mercado que o
coloca enquanto
vítimas de uma estrutura econômico-social de desigualdades, além de serem
consideradas como objeto de dominação dos adultos, contaminados da ideia de
fraqueza e inferioridade (MORESCHI, 2018, p. 40).

Como o Serviço Social atua sobre as expressões da questão social e como uma dessas
é o tráfico de pessoas, o qual impõe “graves violações de direitos humanos que refletem
profundas contradições históricas e sociais” (CFESS, 2011, p. 1), a profissão se inscreve de
forma estratégica na viabilização da garantia de direitos, prevenção e integração social, além
do acompanhamento às vítimas, e de participar das próprias campanhas de erradicação do
tráfico de crianças e adolescentes, em seu aspecto geral e específico, como é a finalidade de
exploração sexual.
É diante desse contexto adverso, nefasto, histórico e invisibilizado que na presente
pesquisa objetivamos analisar a problemática do tráfico de crianças e adolescentes para fins
de exploração sexual no Brasil, para tal, temos como questionamentos norteadores: como o
tráfico de crianças e adolescentes para fins de exploração sexual se desdobra no contexto
contemporâneo brasileiro? E quais são as estratégias para o aliciamento das vítimas? Para
isso, é importante identificar os interesses e relações de poder que envolvem o perfil das
vítimas do tráfico de crianças e adolescentes para fins de exploração sexual no Brasil; como
também, verificar a intrínseca relação existente entre indústria do sexo e capitalismo.
Portanto, espera-se que o presente trabalho contribua à reflexão e discussão sobre a
problemática no campo acadêmico e da sociedade civil, além de pretender estimular a criação
de novas estratégias de enfrentamento.
Tendo em vista o alcance dos objetivos presentes neste trabalho, o princípio de
totalidade, cunhado pelo materialismo histórico e dialético, foi o princípio orientativo
escolhido, o qual permitirá a aproximação sucessiva com a análise crítica da temática do
tráfico de crianças e adolescentes para fins de exploração sexual, especialmente no que tange
à realidade brasileira.
A escolha pela perspectiva dialética, ocorreu devido a sua capacidade de interpretação
dos fenômenos sociais, a qual leva
[...] o pesquisador a trabalhar sempre considerando a contradição e o conflito; o
“devir”; o movimento histórico; a totalidade e a unidade dos contrários; além de
apreender, em todo o percurso de pesquisa, as dimensões filosófica,
material/concreta e política que envolvem seu objeto de estudo (LIMA; MIOTO,
2007, p. 39).
15

Com o recurso à dialética, o materialismo histórico tem, nos meios de produção e no


curso da história, os determinantes que incidem em todos os aspectos da vida, responsáveis
pela manutenção da exploração e subordinação que atinge diretamente a classe trabalhadora.

De acordo com a concepção materialista da história, o elemento determinante final


da história é a produção e reprodução da vida. [...] As condições econômicas são a
infra-estrutura, a base, mas vários outros vetores da superestrutura [...] também
exercitam sua influência no curso das lutas históricas e, em muitos casos,
preponderam na determinação de sua forma. Há uma interação entre todos estes
vetores entre os quais há um sem número de acidentes (isto é, coisas e eventos de
conexão tão remota, ou mesmo impossível, de provar que podemos tomá-los como
não-existentes ou negligenciá-los em nossa análise), mas que o movimento
econômico se assenta finalmente como necessário (ENGELS, 1890).

Nesse sentido, para compreender o tráfico de crianças e adolescentes para fins de


exploração sexual, é necessário entendê-lo como inscrito em uma superestrutura atravessada
por relações que partem do âmago material, mas que não se esgotam nesse, se adensando em
toda a teia do real, imprimindo práticas de apropriação dos corpos, que podem ser extintas ou
reatualizadas ao longo do tempo, por meio de novas estratégias do capital e de seus
demandatários, como é o caso da modalidade de tráfico humano supracitada.
Dessa forma, ao partirmos de um método que visa romper com a análise aparente do
objeto, pretendemos aqui desenvolver um estudo objetivando servir como fomentador de um
posterior adensamento – por parte do interlocutor – a esse tema em constante transformação.
Ademais, o caráter descritivo da coleta de dados foi adotado por ter "como objetivo
primordial a descrição das características de determinada população ou fenômeno ou, então, o
estabelecimento de relações entre variáveis” (GIL, 2002, p. 42).
Para melhor compreender a estrutura do tráfico, o estudo é norteado pela pesquisa
qualitativa, visto que a dinâmica do real, sobre a presente problemática, é contemplada por
vários significados, como aponta Minayo (2002, p. 15). Além disso, em termos de
procedimentos científicos, foi utilizado o bibliográfico, por meio do qual é permitido "[...] ao
investigador a cobertura de uma gama de fenômenos muito mais ampla do que aquela que
poderia pesquisar diretamente” (GIL, 2002, p. 45), uma escolha que se fez necessária na
medida em que o tráfico de pessoas atua em redes ampliadas e de escala complexa, carecendo
assim de ampliação também do universo de pesquisa.
Outro procedimento utilizado foi o documental, o qual
apresenta uma série de vantagens. Primeiramente, há que se considerar que os
documentos constituem fonte rica e estável de dados. Como os documentos
subsistem ao longo do tempo, tornam-se a mais importante fonte de dados em
qualquer pesquisa de natureza histórica (GIL, 2002, p. 46).
16

Vantagem essa fundamental a presente pesquisa, pois o tráfico de crianças e


adolescentes para fins de exploração sexual é um tema que conta com respaldo legal tanto em
termos de Brasil, como de mundo, trazendo em si, ainda, os agravos penais da situação de
vulnerabilidade do público infanto-juvenil. Além disso, autores referência no que diz respeito
ao estudo das violações de direitos humanos desse público, são fontes seguras para uma
análise multidimensional.
Nesse sentido, foram levantadas pesquisas bibliográficas e documentais sobre a
problemática do tráfico com fins à exploração sexual, as quais possibilitaram, em um
primeiro momento, uma aproximação ao tema a partir da realização de seleção dos materiais.
Assim, analisamos documentos oficiais como o Estatuto da Criança e do Adolescente (1990);
a Constituição Federal de 1988; o Protocolo Adicional à Convenção das Nações Unidas
contra o Crime Organizado Transnacional Relativo à Prevenção, Repressão e Punição do
Tráfico de Pessoas, em Especial Mulheres e Crianças; o Código Penal; o Relatório Nacional
sobre o Tráfico de Pessoas; o Painel de Dados da Ouvidoria Nacional dos Direitos Humanos;
e o projeto Mapeamento dos Pontos Vulneráveis à Exploração Sexual de Crianças e
Adolescentes (MAPEAR) de 2019/2020, da Polícia Rodoviária Federal; além de publicações
da Organização das Nações Unidas (ONU); da Organização Mundial de Saúde (OMS); e do
Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF).
Quanto à pesquisa bibliográfica, foram utilizados(as) autores(as) referências nas
temáticas do capitalismo, das violações de direitos de crianças e adolescentes, e da temática
de gênero, classe e raça/etnia – como Fátima Lucena, Heleieth Saffioti, José Paulo Netto,
Joan Scott, Maria Lúcia Pinto Leal, Maria de Fátima Pinto Leal, Marilda Villela Iamamoto e
Vicente de Paula Faleiros. Ademais, nos serviram de subsídios reportagens, posts de blogs,
músicas e poema, além de documentários que expõem a realidade das vítimas brasileiras,
como Cinderelas, Lobos e um Príncipe Encantado (2009), e Um Crime Entre Nós (2020).
Face a tudo o que foi exposto e visando um melhor entendimento da
questão-problema, este estudo se divide da seguinte forma: Introdução, dois capítulos e
Considerações Finais. No primeiro capítulo, intitulado como Tráfico e capital: dos navios
negreiros à navegação nas redes monopolistas de aliciamento, retornamos às bases históricas
do tráfico de pessoas, analisando de forma crítica os motivos de sua perpetuação, além de ser
abordado nesta parte o delineamento e as particularidades do tráfico humano, a partir do
qual as conquistas no plano dos direitos humanos – em termos de tipificação da atividade
criminosa e proteção das vítimas – são colocadas, seguidas pelo destrinchamento da definição
17

e das finalidades do tráfico de pessoas, a partir do qual focamos na exploração sexual de


crianças e adolescentes, detalhando haver subdivisões, ainda, dentro dessa. Posteriormente, a
produção e a reprodução de estratégias para manutenção do grande capital, torna-se o foco
do estudo, partindo dos marcos legais atuais que protegem o público infanto-juvenil,
adentrando na complexidade da imbricação entre capitalismo e sub-humanidade via
exploração.
No segundo capítulo, “NOVINHA!”: a indústria do sexo e o seu papel na
objetificação infanto-juvenil, é chamada a atenção para a naturalização da hiperssexualização
de crianças e adolescentes no Brasil, o que, somado ao tabu de falar sobre sexo, sexualidade e
direitos sexuais – Elas: a exploração sexual como um tabu na sociedade brasileira –, tem
rebatimentos substanciais sobre a proteção de tal público, ao subtrair desse o direito à
informação, à identificação e consequente denúncia de possíveis violações, assim
alimentando a indústria do sexo e contribuindo para a existência de um perfil de vítimas do
tráfico humano. No tópico final – Articulação da rede do crime – buscamos identificar as
complexidades do tráfico de crianças e adolescentes com fins à exploração sexual, no tocante
ao contexto nacional e internacional, com destaque aos componentes da rede criminosa que
atuam no país, se utilizando das mídias sociais, do turismo e das rodovias para aliciar e
transportar as vítimas.

2. TRÁFICO E CAPITAL: DOS NAVIOS NEGREIROS À NAVEGAÇÃO NAS


REDES MONOPOLISTAS DE ALICIAMENTO.

“[...] Que importa do nauta o berço,

Donde é filho, qual seu lar?

Ama a cadência do verso

Que lhe ensina o velho mar!

Cantai! que a morte é divina!

Resvala o brigue à bolina

Como golfinho veloz.

Presa ao mastro da mezena

Saudosa bandeira acena

As vagas que deixa após

“[...] Senhor Deus dos desgraçados!


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Dizei-me vós, Senhor Deus,

Se eu deliro… ou se é verdade

Tanto horror perante os céus?!...

Ó mar, por que não apagas

Co’a esponja de tuas vagas

Do teu manto este borrão?

Astros! noites! tempestades!

Rolai das imensidades!

Varrei os mares, tufão!...”

(O Navio Negreiro; Castro Alves)4.

Nesta segunda estrofe, retirada da obra O Navio Negreiro, do poeta brasileiro Castro
Alves (2007, p. 10-16), o teor nefasto, angustiante e desalentador, sentido pelas vítimas do
tráfico humano no período do Brasil Colônia, se faz latente na narrativa do eu lírico.
Contudo, essa problemática antecede este período, remontando-nos à Grécia e Roma antigas,
onde os(as) escravos(as) de guerra constituíam uma classe subalternizada “por natureza”
(ARY, 2009).
Diante disso, este primeiro momento – na Antiguidade Clássica – não tinha relação
com a comercialização de pessoas, apenas com a questão migratória forçada para fins de
escravidão, sem o emprego de uma transação lucrativa entre cidadão5 e intermediador. Sendo
assim, a comercialização torna-se uma demanda incorporada ao tráfico humano a partir do
período seguinte, acima tratado, tendo, como principais vítimas, as pessoas negras do
continente africano.
Entretanto, ambas as formas de sociabilidade supracitadas, se estruturaram,
econômica e politicamente, “[...] alicerçadas na exploração dessa espécie de força de
trabalho, configurando-se condição essencial e indispensável para sua sobrevivência” (ARY,
2009, p. 23). Motivo – somado à existência de um direito legal e impositivo de propriedade
sobre os corpos das vítimas (BRASIL, 1966) – pelo qual considera-se que a escravidão, de

4
Obra completa disponível em:
https://www.coletivoleitor.com.br/wp-content/uploads/2020/03/o-navio-negreiro-classicos-saraiva.pdf.
5
“Em Atenas, principal centro político da época, somente aqueles considerados cidadãos é que poderiam
participar da vida política na polis, ou seja, apenas os homens atenienses livres e maiores de 20 anos possuíam a
cidadania ativa. Estavam excluídos os estrangeiros, os escravos, as mulheres e as crianças. [...] O homem só
existia de forma plena enquanto cidadão fazendo parte de uma comunidade política. [...] É de se salientar que os
patrícios romanos, e até mesmo os plebeus, possuíam mais direitos do que os não-cidadãos (estrangeiros e povos
dominados)” (JUS, 2005). Mais detalhes em:
https://jus.com.br/artigos/7610/da-igualdade-na-antiguidade-classica-a-igualdade-e-as-acoes-afirmativas-no-esta
do-democratico-de-direito.
19

forma clássica, não mais existe, agora sendo empregado o termo “trabalho análogo à
escravidão”, o qual engloba o emprego de “[...] punições, trabalhos forçados em
determinadas condições, [e aquelas] pessoas vistas como posse” (NÓBREGA, 2019, p. 22,
grifos nossos).
Apesar disto, é importante frisar que existe uma linha tênue entre os dois termos,
como nos aponta Nóbrega (2019):
Dentre os fatores que podem caracterizar uma situação de escravidão estão: o
trabalho forçado, o direito de propriedade sobre o escravo e a duração permanente
desta condição, que pode ou não ser baseada em descendência. Todos esses aspectos
também estão presentes em situações de tráfico: o trabalho por meio de ameaça, o
traficado como propriedade/mercadoria dos traficantes – porém, sem que se tenha
algum direito legal sobre esse –, e o tempo indeterminado da posse do traficado,
que vai depender da “dívida” do traficado e da vontade do traficante em querer
libertá-lo. Por conta das semelhanças entre ambas as situações, que termos como
“escravidão”, “trabalho escravo”, “práticas análogas à escravidão” estão presentes
nas discussões sobre tráfico de pessoas, mesmo que conceitualmente signifiquem
coisas diferentes, muitas vezes são postas como sinônimos (NÓBREGA, 2019, p.
21-22, grifos nossos).

Nesse sentido, a perpetuação destas características durante séculos e diferentes


nações, historicamente sendo atrelada a questões de cunho político e geoeconômico – a
depender das particularidades de cada sociabilidade –, intrinsecamente acompanha as
modificações das formas de produção, através das quais foi complexificando sua teia de
influência, rotas de mercantilização e estratégias de aliciamento, se fincando, desde o
princípio, nas relações antagônicas de poder, sejam essas vinculadas a etnias/raças, territórios,
religiões, gêneros/sexualidades ou classes, se atualizando e reatualizando, adaptando-se em
favor da reestruturação produtiva.
Em termos de capitalismo, toda essa movimentação fez com que o tráfico humano,
atualmente, fosse considerado uma “forma de escravidão moderna” (GAATW, 2000, p. 3),
justamente pela preservação de traços escravistas no emprego da coerção, da exploração e do
domínio de um ser sobre o outro. Diante disso, o tráfico de pessoas configura-se enquanto
“um fenômeno multidimensional, multifacetado e transnacional” (LEAL e LEAL, 2005, p.
4), operando de forma articulada com diferentes segmentos que estabelecem relações de
valores, além de distintos segmentos ilegais, visando à lucratividade, o que dificulta a sua
identificação e, consequentemente, sua erradicação.
Deste modo, torna-se necessário trazermos um delineamento sobre o que é esse
tráfico de seres humanos, para assim adentrarmos, especificamente, em sua modalidade de
exploração sexual no tocante à realidade de crianças e adolescentes – nosso objeto de estudo
no presente trabalho. Posteriormente, trataremos das normativas legais referentes ao tema,
20

abordando suas particularidades e modalidades, seguindo a perspectiva dos Direitos


Humanos aceita internacionalmente, bem como é essencial localizar essa prática no modo de
produção capitalista, dado seu aperfeiçoamento e intensificação desde sua adoção global,
pois, visando a maximização do lucro, entrelaça-se ao tráfico de drogas e armas, como será
abordado neste capítulo.

2.1. Delineamento e particularidades do tráfico humano.


Desde a Antiguidade Clássica, se reconhece que existem “direitos inerentes à própria
condição humana” (CASTILHO, 2015), entretanto, foi nos últimos quatro séculos que
germinou – mesmo sob constantes retrocessos – a pauta dos direitos humanos, em
alinhamento ao desenvolvimento e os conflitos referentes a democracia (MONDAINI, 2020,
p. 14). No pós-Segunda Guerra Mundial, este tema ganhou ainda mais força e relevância no
âmbito internacional, devido às cruéis práticas e discursos recentes, e a intensa mobilização
dos movimentos sociais, o que culminou na implementação de um “guarda-chuva de direitos”
(MONDAINI, 2020, p. 12), tendo na criação da Organização das Nações Unidas (ONU), em
1945, o estabelecimento de uma importante e estratégica forma de mediação entre os países,
atuando na promoção e defesa dos direitos humanos, além de fazer e fiscalizar ações de
prevenção à barbárie, também exercendo mediações em conflitos em diferentes territórios
pelo mundo.
Por meio da Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH), em 1948, a ONU
adotou um marco regulatório fundamental até os dias atuais, dado o fato de expor 30 artigos
que desenvolvem os princípios basilares de igualdade, liberdade e dignidade, sem qualquer
distinção entre as pessoas, tanto no ato de proteção de sua integridade, quanto de punição a
violações cometidas pelas mesmas (UNICEF, 1948). Esta conquista – adotada por diferentes
países – representou a formulação e implementação de uma definição, universal e
democrática, quanto aos direitos fundamentais, no entanto, pode-se observar que tal conquista
ainda não se consolidou ao longo da história, e que, mesmo pregando a igualdade entre
todos(as), no decorrer do texto da Declaração, ao delinear direitos específicos de públicos
constantemente violados, termina por excluir setores importantes tidos como “minorias”
sociais, como é o caso, por exemplo, das pessoas LGBTQIA+, negras, pobres e faveladas
(MONDAINI, 2020, p. 20).
Deste período em diante – devido à necessidade de adensamento em questões distintas
que envolvem diferentes públicos –, acontece uma sucessão de Convenções promovidas pela
21

ONU, para discussão e formulação de estratégias de prevenção e proteção de públicos


específicos, como foi o caso da Convenção para a Repressão do Tráfico de Pessoas e do
Lenocínio (1949). Tal Convenção foi um marco em termos de instrumentos legais sobre o
tema, pois anulou e substituiu os documentos internacionais sobre tráfico existentes até então,
ampliando a discussão para além da visão moralista da prostituição e da centralidade na
figura das mulheres brancas. Como aponta Castilho (2008, p. 3), “a Convenção de 1949 veio
valorizar a dignidade e o valor da pessoa humana, como bens afetados pelo tráfico, o qual põe
em perigo o bem-estar do indivíduo, da família e da comunidade. Vítima pode ser qualquer
pessoa, independentemente de sexo e idade”.
Entretanto, a Convenção de 1949, sobre o tráfico de pessoas, foi um marco nos dois
sentidos: superou o que foi colocado anteriormente, e foi sendo aprimorada em seguida por
formulações ainda mais robustas, dado seu foco – ainda – na prostituição e a presença de
traços de culpabilização das vítimas (CASTILHO, 2008). Em um salto temporal, vem a
Convenção das Nações Unidas contra o Crime Organizado Transnacional Relativo à
Prevenção, Repressão e Punição do Tráfico de Pessoas, em Especial Mulheres e Crianças
(UNODC), a qual tem como texto adicional o Protocolo de Palermo (2000), um documento
que define6 o tráfico de pessoas como sendo:
o recrutamento, o transporte, a transferência, o alojamento ou o acolhimento de
pessoas, recorrendo à ameaça ou uso da força ou a outras formas de coação, ao
rapto, à fraude, ao engano, ao abuso de autoridade ou à situação de vulnerabilidade
ou à entrega ou aceitação de pagamentos ou benefícios para obter o consentimento
de uma pessoa que tenha autoridade sobre outra para fins de exploração. A
exploração incluirá, no mínimo, a exploração da prostituição de outrem ou outras
formas de exploração sexual, o trabalho ou serviços forçados, escravatura ou
práticas similares à escravatura, a servidão ou a remoção de órgãos (BRASIL,
2004).

Tal definição é aceita até os dias de hoje, tipificando como vítimas do tráfico, não
mais apenas mulheres e crianças – mesmo reconhecendo que essas são as mais atingidas –, e
sim os seres humanos (CASTILHO, 2008).
Como há um caráter de traslado, no ato que antecede a finalidade de tráfico – como
posto no Protocolo –, considera-se a existência de duas formas de deslocamento: o
interno/nacional – quando a movimentação ocorre entre os estados ou distritos de um mesmo
país – e o internacional – quando acontece entre diferentes países. Esse fato expõe, mais uma
vez, a perpetuação do que foi posto por Castro Alves, especialmente na primeira estrofe da
obra O Navio Negreiro (2007) aqui selecionada, onde corpos marcados de diferentes

6
Esta definição de tráfico de pessoas é adotada tanto pela Política Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de
Pessoas (Decreto nº 5.948/2006), quanto pelo Conselho Federal de Serviço Social (CFESS; 2011).
22

nacionalidades e culturas, passam pela tormenta do deslocamento. Contudo, atualmente os


criminosos utilizam, também, uma forma – a princípio – não-forçosa e mais eficaz e
silenciosa de aliciamento às vítimas: a enganação.
Por meio de falsas promessas de melhoria de vida – oportunidade de emprego, de
ascensão em carreiras como de modelo e jogador(a) de futebol, por exemplo –, sobretudo
feitas a vítimas residentes de países e/ou regiões com elevados índices de vulnerabilidade
socioeconômica (LUCENA, 2017, p. 126), o deslocamento pode ocorrer seguindo os
parâmetros da legalidade, sendo essa uma modalidade que não exclui a existência de formas
coercitivas desde o primeiro passo rumo à finalidade de tráfico, como aponta Nóbrega (2019,
p. 20-21):
Referente ao tráfico, o deslocamento pode acontecer de forma ilegal, por meio de
documentos falsos, ou dentro da legalidade, com o uso correto dos documentos,
porém sem que as autoridades saibam a finalidade da viagem, e ocorre sempre com
o auxílio de um terceiro que irá direcionar a pessoa para o tráfico. Ocorre por meio
de engano ou pela ameaça, e quando finalizado o deslocamento, o migrante tem
seus documentos retirados, deixando de ser um migrante e passando a ser um
traficado, tornando-se mercadoria em posse dos traficantes (NÓBREGA, 2019, p.
20-21).

Diante dessa explicação quanto às formas de deslocamento que compõem a


movimentação da rede criminosa, é necessário ratificar que o tráfico de pessoas também tem
diferentes finalidades. Tendo como referência a lei que dispõe sobre o tráfico de pessoas7
(BRASIL, 2016), são determinadas cinco modalidades finais ilegais: a remoção de órgãos,
tecidos ou partes do corpo; o trabalho em condições análogas à escravidão; qualquer tipo de
servidão; a adoção ilegal; e a exploração sexual (BRASIL, 2016).
Quanto ao processo de transação, promoção ou facilitação na remoção de órgãos,
tecidos ou partes do corpo humano, visando à compra e à venda, essa prática é entendida
como sendo um crime, descrito na legislação brasileira – em seu artigo 15 da Lei nº
9.434/1997 – como passível à pena de reclusão e multa (BRASIL, 1997). Esta ilegalidade
desconsidera e desvia do Sistema Único de Saúde (SUS) – exclusivo meio de mapeamento,
remanejamento e monitoramento da fila de espera para transplante no país –, a possibilidade
de zerar ou encurtar a fila de espera, o que acarreta em uma perda grandiosa àqueles(as) que
aguardam, mesmo estes sendo amparados(as) normativamente.
Portanto, as vítimas – que muitas vezes perdem suas vidas à espera da doação legal8 –
são atravessadas pelo processo de extrema desigualdade gerado pelo sistema capitalista, posto
7
Lei nº 13.344/2016.
8
Pode ocorrer em vida (de forma voluntária) ou após a morte (mediante consentimento da família), sendo um
desejo declarado ao hospital, o qual informará ao sistema público de transplantes a existência de um(a)
doador(a), bem como a sua localização (BRASIL,1997).
23

que há uma associação entre quem pode pagar por um “corpo” humano, e quem media esse
processo ilegalmente. Nesse sentido, para Assis (2017), “[...] da comercialização da força de
trabalho à venda de partes humanas, tudo é mercadoria [no capitalismo] e perpassa os altos
lucros. Vendem-se produtos industrializados, mas também aquilo que nos é intrínseco à vida.
Coração, pulmão, fígado, rins, pâncreas, córneas, ossos, medula óssea, pele” (2017, p. 90-91,
grifos nossos).
Em relação ao trabalho em condições análogas à escravidão, pode-se verificar que, na
sociedade contemporânea, preservam-se contornos da exploração do período escravista
nesses tipos de processos de trabalho, os quais negam a condição de pessoa humana dessas
vítimas atravessadas por direitos de diferentes naturezas, dentre esses, os trabalhistas.
De acordo com a Organização Internacional do Trabalho (OIT), “entre 1995 e 2020,
mais de 55 mil pessoas foram libertadas de condições de trabalho análogas à escravidão no
Brasil” (RADAR - SIT, 2021), demonstrando a perpetuação dessa problemática ao longo do
tempo, contudo, sem a existência de um direito legal de propriedade sobre esses corpos,
outrora existente e agora tido como crime, mas que, infelizmente, não assegura sua
erradicação. Dessa forma, este crime produziu novas estratégias de coerção e cárcere ao
longo da história, mas perpetuando como vítimas da barbárie os segmentos tidos como
“minorias” da sociedade. A questão do gênero, da classe e da raça/etnia, em sua maioria, é a
mesma de séculos atrás, “mas a mentalidade escravagista, que ‘coisifica’ o ser humano e o
impossibilita de exercer sua cidadania, permanece mesmo após 500 anos de história. O
Brasil, sob esse aspecto, não abandonou por completo suas raízes” (CHEHAB, 2015, p. 16).
Já a servidão, descrita na lei supracitada sobre tráfico de pessoas, é extremamente
difícil de ser descrita, pois é constantemente trazida nas pesquisas científicas e matérias,
como sinônimo à prática de trabalho análogo à escravidão, e na lei – que não a acima
referenciada – como a tutela de imóveis em uma relação entre diferentes prédios9 (BRASIL,
2002). Entretanto, ao nos remontarmos à história, tem-se na servidão o estabelecimento de
uma relação de dependência entre dois ou mais sujeitos, onde um não tem condições de
manter-se em um lugar e/ou deve algo, e precisa ficar sob a tutela dessa outra pessoa, a
servindo em troca do atendimento de suas necessidades ou pagamento de dívida, sem receber
bonificação monetária por isso (STOODI, 2020). Consequentemente, o trabalho análogo a
escravidão é uma das formas de servidão, assim como, por exemplo, o tráfico de mulheres
quando essas são exportadas para outros países e, ao chegar lá, têm seus documentos

9
Presente no Título V do Código Civil, do artigo 1.372 ao artigo 1.389 (BRASIL, 2002). Material disponível
em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406compilada.htm.
24

apreendidos e uma imensa lista de “dívidas” com seus algozes, os quais impõem a essas
mulheres o pagamento mediante sujeição dessas às mais diversas formas de exploração
laboral.
No que se refere à adoção ilegal, tem-se que destacar seu contrassenso com a Lei nº
12.010/2009 (BRASIL, 2009) – lei de regulamentação da adoção no país –, dado que se
utiliza de mecanismos como a adoção à brasileira10 para burlar as etapas legais, as quais são
fundamentais, pois garantem que houve esforço por parte do Estado em esgotar “[...] as
possibilidades de reinserção das crianças e dos adolescentes na sua família de origem”
(BARBOSA, 2017, p. 61). Como uma das finalidades do tráfico humano, a adoção ilegal
consiste em uma criança ou adolescente sendo mediada por terceiros – criminosos sem
vínculos com as vítimas ou até mesmo parentes destes – a “candidatos a pais”. Tal transação
ocorre seguindo a dinâmica “compra e venda”, em que, clandestinamente, além do
deslocamento da criança ou adolescente, são ofertados documentos fraudados de guarda – ou
o facilitamento da prática de adoção à brasileira – ao casal ou pessoa que contratou o(a)
atravessador(a), podendo ocorrer dentro ou fora do país de origem da vítima (TATAGIBA,
2019, p. 29-30).
Em termos de exploração sexual, essa – e o próprio tráfico humano –, historicamente,
vitima mais – mas não só – mulheres, crianças e adolescentes11, tendo intrínseca relação com
a violência sexual, dado o seu caráter de imposição sobre esses corpos, como mostra a
definição adotada pela lei que cria mecanismos para reprimir as diferentes formas de
violências que sofrem as mulheres12, a qual é abordada por Melo e Silva (2017, p. 68-69):
A violência sexual consiste em uma conduta que constrange a mulher a presenciar,
manter, participar de uma relação sexual e/ou prostituição não desejada mediante
suborno, chantagem, manipulação, intimidação, coação, ameaça ou uso da força.
Consiste também em induzi-la a comercializar ou usar a sexualidade, impedi-la de
utilizar qualquer método contraceptivo, forçá-la ao matrimônio, gravidez ou aborto
ou limitar seus direitos sexuais e reprodutivos (BRASIL, 2006 apud MELO e
SILVA, 2017, p. 68-69).

10
A “adoção à brasileira” é um crime que consiste no registro de uma criança por outras pessoas, as quais não
são seus pais biológicos ou responsáveis mediante decisão judicial, mas que, nesse ato ilícito, preenchem o
campo dedicado aos pais, nos documentos da criança, com seus dados, assim não seguindo as etapas de adoção
vigentes no país, sendo considerada uma ação de falsidade ideológica. Esta prática pode ser cometida com ou
sem o consentimento dos genitores (TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO DISTRITO FEDERAL E DOS
TERRITÓRIOS, 2018).
11
Motivo pelo qual a própria convenção onde o Protocolo de Palermo foi adicionado, foi chamada de
“Convenção das Nações Unidas contra o Crime Organizado Transnacional Relativo à Prevenção, Repressão e
Punição do Tráfico de Pessoas, em Especial Mulheres e Crianças” (2003).
12
Lei nº 11.340, de agosto de 2006, disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11340.htm.
25

Entretanto, a categoria exploração sexual traz em si os marcos da mercantilização


forçada, pois terceiros lucram com a venda dos corpos dessas vítimas, mantendo uma relação
comercial em que as vítimas são os objetos, o(a) intermediador(a) é o(a) vendedor(a) e o(a)
abusador(a) é o(a) cliente/comprador.
Seguindo essa perspectiva, torna-se importante abordar e delimitar a questão da
prostituição, pois essa prática se divide em duas categorias: a prostituição voluntária e a
forçada, não podendo assim ser confundida (BAGANHA et al., 2008, p. 21-22). A primeira
ocorre mediante vontade e consentimento da mulher – ou pessoa de outra identidade de
gênero –, por razões de desejo, necessidade e/ou falta de oportunidade, mas sempre enquanto
deliberação desse sujeito, sendo assim uma vertente laboral que pode ser exercida pelas(os)
trabalhadoras(es) do sexo – aqui agentes ativas – consistindo “na troca de favores sexuais por
bens materiais ou sociais” (MENDONÇA, 1999, p. 356). A segunda, como o próprio nome já
diz, subtrai a autonomia sexual e a dignidade da – aqui sim – vítima, em que essa é coagida a
prestar serviços sexuais a terceiros mediante dinheiro subtraído por seu explorador/aliciador
(BAGANHA et al., 2008, p. 21-22). Portanto, o caso específico da prostituição forçada
enquadra-se enquanto um tipo de exploração sexual, mas a prostituição, em um todo, não
pode se resumir a essa.
Ademais, traçando um corte sobre o público infanto-juvenil – central ao presente
estudo –, é um erro comum de descaracterização da situação de crianças e adolescentes
enquanto sujeitos em situação de desenvolvimento, e detentores de proteção integral especial,
nomear os(as) que passam ou já passaram pela situação de exploração aqui tratada, como
praticantes – sujeitos ativos – da prostituição. Porém, tanto nos casos em que esses têm seus
corpos vendidos por terceiros ou o fazem eles(as) mesmos(as), permanecemos, em ambos os
momentos, diante de um ato “de exploração sexual, pois nesse [segundo] caso se confunde a
figura do abusador com a do explorador que compra os favores sexuais dessas crianças ou
adolescente, estando evidente a relação de troca de favores sexuais por dinheiro ou algum
bem material" (MENDONÇA, 2015, p. 252, grifos nossos). Dessa forma, “a prostituição [é]
uma atividade de pessoas adultas e não de crianças e adolescentes que estão em fase de
desenvolvimento, pois crianças e adolescentes não se prostituem, mas são prostituídos”
(MENDONÇA, 2015, p. 252, grifos nossos).
Ainda tratando especificamente do que tange às crianças e os adolescentes, a
violência sexual é apreendida como sendo mais do que um marcador alarmante, existindo
enquanto uma realidade presente em todas as camadas da sociedade. Tal fato se manifesta
26

quando vemos, nas 7.447 denúncias de estupro feitas ao Disque 100 nos primeiros cinco
meses de 2022, que o equivalente a, aproximadamente, 79% das queixas têm como vítimas
crianças e adolescentes, um aumento de 76% quando comparado ao mesmo período do ano
anterior (MINISTÉRIO DA MULHER, DA FAMÍLIA E DOS DIREITOS HUMANOS,
2022). A violência sexual sofrida por esse público, deve ser entendida como sendo envolvida
por relações de poder e coisificação da vítima, segundo Mendonça (2015), esta ação abrange
duas modalidades que envolvem interesses distintos: o abuso sexual e a exploração sexual.
O abuso sexual é o caso em que “o violentador está interessado apenas na [sua]
satisfação sexual” (MENDONÇA, 2015, p. 252, grifos nossos). Desse modo, partindo de uma
reflexão que os abusadores, em sua maioria, são pessoas próximas das vítimas, o Conselho de
Prevenção contra o Abuso Infantil (1999) – adotado também pelo Relatório Mundial sobre
Violência e Saúde (OMS, 2002) – atribui esse crime à imposição de relações de poder
desiguais, as quais podem ser cometidas em uma “relação” intrafamiliar – na maioria dos
casos (OMS, 2002, p. 59) –, ou sem grau de parentesco, onde são empregados mecanismos de
violação tanto físicos, quanto emocionais “[...] resultando em danos reais ou potenciais para a
saúde, sobrevivência, desenvolvimento ou dignidade da criança no contexto de uma relação
de responsabilidade, confiança ou poder" (CONSELHO DE PREVENÇÃO CONTRA O
ABUSO INFANTIL, 1999).
Já a exploração sexual sofrida por crianças e adolescentes, tem um grau mais
complexo de violação, pois há a mediação de um(a) aliciador(a) – ou rede de criminosos –
que, visando ganhos materiais, intercede na dinâmica satisfação sexual-vítima. A
movimentação para esta finalidade sexual tem, segundo Mendonça (2015, p. 252), quatro
modalidades: “a pornografia, o tráfico, o turismo sexual e quando a própria vítima negocia
seu corpo” (MENDONÇA, 2015, p. 252), fato que corrobora a perspectiva de Lucena (2017),
quando esta relaciona a exploração sexual infanto-juvenil, à submissão destes “à violência do
‘comércio do sexo/pornografia’” (LUCENA, 2017, p. 133).
No que concerne à pornografia infanto-juvenil, esta pode ser entendida como qualquer
material áudio-visual que retrate crianças e/ou adolescentes em situações de exposição de
suas genitálias, ou simule atos sexuais com os mesmos, tais materiais têm a finalidade de
servir enquanto “matéria-prima” de consumo a um mercado que procura especificamente pela
exposição dessas crianças e adolescentes, consumindo e armazenando pornografia
infanto-juvenil (MENDONÇA, 1999, p.358). Segundo o artigo 241-A da Lei nº 11.829/2008,
este tipo de crime abrange todos aqueles envolvidos em:
27

Oferecer, trocar, disponibilizar, transmitir, distribuir, publicar ou divulgar por


qualquer meio, inclusive por meio de sistema de informática ou telemático,
fotografia, vídeo ou outro registro que contenha cena de sexo explícito ou
pornográfica envolvendo criança ou adolescente (BRASIL, 2008).

Já o turismo sexual comercial, consiste em viagens turísticas para diferentes regiões


ou países, principalmente em cidades já conhecidas pelo turismo – como é o caso das regiões
litorâneas –, com o intuito de praticar relações sexuais, contando com uma rede criminosa
bem articulada que abrange, desde aliciadores, a setores da polícia e “agências ou mesmo
funcionários de hotéis [os quais] possuem álbuns fotográficos de jovens para serem
escolhidos como acompanhantes dos turistas” (CHILDHOOD BRASIL, 2020, p. 119). No
que tange à definição do tráfico – foco desta pesquisa – e de quando a própria vítima negocia
seu corpo, estes temas já foram descritos anteriormente, sendo o primeiro uma prática
criminosa complexa, multifacetada e que pode apresentar distintas finalidades, e o segundo
uma prática de exploração sexual.
Dessa forma, a exploração sexual infanto-juvenil tem como foco a relação de lucro
que se pode angariar através deste público, sendo este identificado por Lucena (2017) como,
principalmente, mas não só, marcados pela extrema vulnerabilidade social. Para essa
identificação, a autora faz referência à Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS, 1993),
associando a decorrência “[...] da pobreza, privação (ausência de renda, precário ou nulo
acesso aos serviços públicos, dentre outros) e, ou, fragilização de vínculos
afetivos-relacionais e de pertencimento social (discriminações etárias, étnicas, de gênero ou
por deficiências, dentre outras)” (LUCENA, 2017, p. 94-95), ao alto risco de aliciamento das
mais diversas naturezas, como a maior facilidade dos criminosos conseguirem enganar as
vítimas com falsas promessas de melhoria das condições de vida.

2.2. Produção e reprodução de estratégias para manutenção do grande capital.


Ao analisar o delineamento dos marcos legais e regulatórios recentes da proteção
integral especial de crianças e adolescentes no país, percebe-se que o artigo 227 da Carta
Magna – o qual aponta quem são os responsáveis pelos mesmos, seus lugares de prioridade
absoluta em termos de garantia de direitos, além “de colocá-los a salvo de toda forma de
negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão” (BRASIL, 2010) –,
e a criação do Estatuto da Criança e do Adolescente (1990) – o qual detalha os direitos do
público infanto-juvenil, sendo acompanhado por recomendações de promoção e prevenção
em termos de garantia de direitos, e ordenamento jurídico no que se trata de punição –, foram
28

importantíssimas conquistas, as quais, incontestavelmente, superaram o existente até então


quanto à defesa do público descrito.
Foi neste bojo, que o Sistema de Garantia de Direitos (SGD)13 da criança e do
adolescente foi idealizado e aplicado no Brasil, como um arcabouço que direciona e articula
os eixos e agentes de Promoção14, Defesa15 e Controle Social16, dado que estes compõem os
pilares através dos quais se materializa a cobertura dos direitos postos na Constituição e no
Estatuto supracitados. Tais eixos formam um todo indissociável, que interage entre si, sendo
não-hierárquicos e presentes nos níveis municipal, estadual e nacional. Dessa forma, o SGD é
“estratégico, transversal e intersetorial” (PINTO, 2011, p. 20), por meio do qual o projeto
político de alinhamento às diretrizes dos direitos humanos foi adotado, objetivando
“viabilizar o desenvolvimento de ações integradas” (BAPTISTA, 2012, p. 188). Diante disso,
a Secretaria Especial dos Direitos Humanos e o Conselho Nacional dos Direitos da Criança e
do Adolescente (CONANDA) determinaram como atribuições do SGD:
promover, defender e controlar a efetivação dos direitos civis, políticos,
econômicos, sociais, culturais, coletivos e difusos, em sua integralidade, em favor
de todas as crianças e adolescentes, de modo que sejam reconhecidos e respeitados
como sujeitos de direitos e pessoas em condição peculiar de desenvolvimento;
colocando‑os a salvo de ameaças e violações a quaisquer de seus direitos, e
garantindo a apuração e reparação dessas ameaças e violações (CONANDA, 2006).

No entanto, nota-se – no que tange à problemática do tráfico de crianças e


adolescentes com fins à exploração sexual, refletida neste trabalho – que a diversidade e
complexidade de implicações que compõem este objeto, abarca diferentes segmentos
criminosos e territoriais, pois o tráfico de pessoas articula-se com o tráfico de drogas e de
armas, tendo nas regiões em situação de vulnerabilidade, alvos de aliciamento, bem como
tornam-se rotas de exploração sexual especialmente aquelas que se fincam econômica e
socialmente no turismo, como ocorre nas regiões litorâneas, além daquelas com grande fluxo
e precária cobertura quanto a fiscalizações, como é o caso das rodovias. Nesse sentido, é
notória a dificuldade na efetivação da proteção do público infanto-juvenil e,
consequentemente, o enfrentamento do cerne do problema.

13
A Resolução N° 113/2006.
14
Diz respeito à promoção do “atendimento direto dos direitos coletivos e difusos da criança e do adolescente,
realizado através da política prevista no Artigo 87 do estatuto, que toca transversalmente todas as políticas
públicas” (PINTO, 2011, p. 21).
15
“[...] é acionado toda vez que a criança e o adolescente encontram-se em situação de ameaça ou violação dos
seus direitos individuais, coletivos ou difusos, seja por ação ou omissão do Estado, da sociedade e dos pais ou
responsáveis, ou mesmo em função da sua própria conduta” (PINTO, 2011, p. 24).
16
“Monitoramento/vigilância e avaliação das políticas públicas'' (PINTO, 2011, p. 22).
29

No decorrer da história, muitas foram as formas de manifestação das desigualdades.


Porém, é observável que, nas sociedades pré-capitalistas, estas manifestações eram todas
atreladas às questões da escassez e do pauperismo. Com a ascensão e consolidação do modo
de produção capitalista, houve uma mudança crucial nas estruturas e relações estabelecidas
entre empregadores e empregados, e entre esses e o produto de seu trabalho. O fator
acumulação, se tornou o limiar que divide aqueles que detêm os meios de produção, daqueles
que vendem sua força de trabalho de forma “livre” em troca de um salário (MARX, 2011, p.
453), o que, em si, é uma relação de exploração, ao passo que estes necessitam desse
montante para subsistir e, para tal, se submetem às mais diversas formas de trabalho
desprotegido, posto que existe um contingente excedente de trabalhadores(as)
desempregados(as) dispostos(as) a ocupar essas vagas, pelo mesmo motivo. Portanto, a
riqueza socialmente produzida passa a ser apropriada privadamente, e a distribuição da
mesma se concentra nos donos dos meios de produção. Cabe um repasse ínfimo do montante
arrecadado à classe trabalhadora, relação essa conhecida como Lei Geral da Acumulação
Capitalista (MARX, 2011, p. 451).
Com o germe desse processo localizado na adoção da industrialização pela Inglaterra,
no século XVIII, emerge a contradição capital-trabalho, e expressões de precariedade e
exploração em escala nunca vistas, fruto da extração da mais-valia17, culminando no conflito
entre as classes proletária e burguesa (PIMENTEL, 2017, p. 181-182). Desse modo, a questão
social18 – categoria através da qual este conflito evidencia o aprofundamento das
desigualdades sociais, geradas pelo modo de produção capitalista –, torna-se uma dimensão
inerente a essa forma produtiva, da qual é derivada, de forma mais acentuada, e por questões
de superprodução, não mais de escassez. Portanto,
o desenvolvimento capitalista produz, compulsoriamente, a “questão social” –
diferentes estágios deste desenvolvimento produzem diferentes manifestações da
“questão social”; esta não é uma seqüela adjetiva ou transitória do regime do
capital: sua existência e suas manifestações são indissociáveis da dinâmica
específica do capital tornado potência social dominante. A “questão social” é
constitutiva do capitalismo: não se suprime aquela se este se conservar (NETTO,
2010, p. 7).

17
“A produção capitalista não é apenas produção de mercadoria, mas essencialmente produção de mais-valor. O
trabalhador produz não para si, mas para o capital. Não basta, por isso, que ele produza em geral. Ele tem de
produzir mais-valor. Só é produtivo o trabalhador que produz mais-valor para o capitalista ou serve à
autovalorização do capital” (MARX, 2011, p. 382).
18
“A questão social não é senão as expressões do processo de formação e desenvolvimento da classe operária e
de seu ingresso no cenário político da sociedade, exigindo seu reconhecimento como classe por parte do
empresariado e do Estado. É a manifestação, no cotidiano da vida social, da contradição entre o proletariado e a
burguesia, a qual passa a exigir outros tipos de intervenção, mais além da caridade e repressão” (CARVALHO e
IAMAMOTO, 2004, p. 77).
30

É neste processo que, ao longo do desenvolvimento do modo de produção capitalista,


a riqueza socialmente produzida não é acessada de forma equitativa por esses trabalhadores
(ARCOVERDE e SANTOS, 2011, p. 2), contribuindo, assim, para a deflagração de diversas
expressões da questão social, as quais são reflexos cotidianos da contradição capitalista,
como é o caso do desemprego e da pobreza. Dessa forma, o tráfico humano se encontra
enquanto uma dessas expressões, dado que é uma forma de reprodução de antagonismos entre
polos desiguais, em que a questão da lucratividade torna-se um objetivo que tem na
exploração um elemento intrínseco à extração de mais-valia. Sendo assim,
a pobreza, a desigualdade, a fome, o desemprego, a precariedade, entre outras
mazelas, [os quais] são elementos estruturais do processo de acumulação do capital.
De tal maneira, esses problemas não são pontuais, eventuais ou acidentais em uma
dada sociedade capitalista, mas são produto mais ou menos direto do modo como
essa sociedade, regida pelo capital, produz e distribui sua riqueza. Assim, a
desigualdade e a pauperização são elementos constitutivos do processo de
reprodução do capital. [...] O capitalismo é um modo de produção que tende a
reproduzir, consolidar e ampliar a pauperização (ALMEIDA, 2022, p. 467, grifos
nossos).

Sob o momento atual do capitalismo, em sua fase de financeirização, modificações


profundas – não só no que diz respeito à economia, mas também as estruturas política e social
– ocorrem, potencializando as bases de contradição, exploração e alienação, próprias da
ordem burguesa.
[...] Porém, a idade do monopólio altera significativamente a dinâmica inteira da
sociedade burguesa: ao mesmo tempo em que potencia as contradições
fundamentais do capitalismo já explicitadas no estágio concorrencial e as combina
com novas contradições e antagonismos, deflagra complexos processos que jogam
no sentido de contrarrestar a ponderação dos valores negativos e críticos que
denota. Com efeito, o ingresso do capitalismo no estágio imperialista assinala uma
inflexão em que a totalidade concreta que é a sociedade burguesa ascende à sua
maturidade histórica, realizando as possibilidades de desenvolvimento que,
objetivadas, tomam mais amplos e complicados os sistemas de mediação que
garantem a sua dinâmica. Donde, simultaneamente, a contínua reafirmação das
suas tendências e regularidades imanentes (as suas “leis” de desenvolvimento
gerais, capitalistas) e a concreta alteração delas (as “leis” particulares do estágio
imperialista) (NETTO, 2011, p. 19-20, grifos nossos).

Nesta lógica de recrudescimento do capitalismo, o tráfico de crianças e adolescentes


para fins de exploração sexual se relaciona com a referenciada fala de Netto (2011), ao passo
que tal problemática representa uma contradição quando crescem os aparatos legais de
prevenção e defesa da integridade do público infanto-juvenil, e a mesma se perpetua
enquanto modalidade criminosa. Ademais, vemos uma relação no modo pelo qual o
capitalismo monopolista e neoliberal entranha-se de forma complexa em diversos continentes
– mesmo naqueles capitalistas governados por setores mais progressistas (BEHRING e
BOSCHETTI, 2011, p. 127) –, e o fato das redes de comercialização de pessoas ocorrer em
31

escala local e/ou global, sendo essas redes engrenagens ativas do capitalismo, dado ser o
tráfico de seres humanos a terceira atividade criminosa que mais cresce – e lucra – no mundo
(LEAL e LEAL, 2005, p. 3). Além destas questões, o fato da amplitude da problemática
ultrapassar barreiras continentais dificulta, na mesma proporção, as estratégias de
identificação e a punição daqueles que praticam o tráfico.
O fato de tudo e todos serem mercadorias no modo de produção capitalista, se
expressa de forma ainda mais literal e observável quando o objeto de estudo torna-se o tráfico
de crianças e adolescentes com a finalidade de exploração sexual. Isso porque se mercantiliza
jovens como objetos – ou abjetos – para serem usados até que seus corpos se tornem "velhos”
demais, “usados” de mais, e, assim, não tenham mais valor de uso, logo sendo descartados e
substituídos por “novos” e "imaculados" “produtos”, em uma lógica neoliberal de
“barbarização da vida” (BEHRING, 2017, p. 2).
Posto isso, a sub-humanidade é um fator marcadamente latente ao tráfico humano,
marcado pelo fetichismo e pela existência de um público-cliente leal e constante. Opera a
supercapitalização das vítimas, processo através do qual as etapas de produção de
mercadorias, adentram “todos os setores da vida social” (MANDEL, 1982, p. 271), ou seja,
criam-se estratégias de expropriação com vistas à valorização do capital, o que termina por
precarizar as formas de vida.
Estas vítimas, sob uma dinâmica de exploração sexual em que se tornam cativas, são
transformadas em produtos, que não vendem sua força de trabalho, mas são coagidas ao ato
criminoso em troca de favores monetários, representando um lucro ainda maior aos
traficantes, dado que o trabalho excedente e não-remunerado é por eles completamente
apropriado. O fator tempo é aquele que determina o valor da mercadoria no capitalismo, e no
que se trata da modalidade de tráfico supracitada, essa ocorre no tempo despendido pelo
traficante para a captura das vítimas, o qual é considerável, tendo em vista o deslocamento da
mesma e as táticas de aliciamento em meio ao arcabouço protetivo, o que atribui ainda mais
valor às crianças e aos adolescentes nesse mercado.
É sob todas essas implicações no bojo do modo de produção capitalista que iremos,
no tópico a seguir, tratar de forma mais aprofundada as implicações da vertente criminosa da
indústria do sexo, a qual, a partir do tráfico de crianças e adolescentes com fins à exploração
sexual, se articula em rede e fomenta um mercado diverso, clandestino e nefasto de
objetificação desse público. Para tal, torna-se imprescindível delimitar, de forma mais
contundente e específica, o perfil de vítimas mais acometidas pelo tráfico humano, no qual se
32

destacam os(as) jovens, em uma sociabilidade estruturalmente desigual e mortal a segmentos


específicos.

3. “NOVINHA!”: A indústria do sexo e o seu papel na objetificação


infanto-juvenil.

Nós gosta de novinha de blush e de franjinha

(Nós gosta de novinha - MC Sheldon).

Mas se eu mato eu vou preso

Se eu roubo eu vou preso

Se é pra pegar novinha eu vou preso satisfeito

[...]

As novinha tem um feitiço de deixar o homem estigado

Com seu estilo sapeca, com sua franja de lado

E agora o novo modelo elas pedem com carinho

Pare de beber whisky e vem logo tomar todinho

As de 14 eu tô fora

As de 15 é muito nova

A 16 já tá na hora

17 eu vou agora

Essa é a nossa pegada

No estilo modelo novo

Vem dançar com MC Sheldon

Junto com MC Boco

Eu sei que é complicado, pela lei eu tô errado

Não posso fazer nada, se o amor fala mais alto

Mas se eu mato eu vou preso

Se eu roubo eu vou preso

Se é pra pegar novinha eu vou preso satisfeito

(Se eu mato, eu vou preso - MC Sheldon e MC Boco)19.

19
Nos trechos das músicas selecionadas, foram preservadas as marcas de oralidade e tempo verbal trazidas
pelos intérpretes, como em “nós gosta”, “pra” e “tô”, motivo pelos quais se encontram grifadas.
33

“Todos confundem meninas com mulheres adultas; vulnerabilidade com provocação


sexual; virilidade com agressividade; sim com não; mulheres com seus genitais; e tanto
mulheres adultas como crianças como propriedades para posse dos homens” (BASS,
THORNTON, 1985 apud LABADESSA e ONOFRE, 2010, p. 11). O teor das músicas, acima
citadas, se relaciona diretamente com as falas de Bass e Thornton (1985), ao revelar o uso
corriqueiro, banal e naturalizado de um crime: a fetichização e objetificação infanto-juvenil
(BRASIL, 1990). Tal temática, é circundada pela dificuldade de distinguir liberdade de
expressão e violência simbólica, ou até mesmo pelo desconhecimento sobre essa fase especial
de desenvolvimento, posto que é comum estes sujeitos-agressores considerarem que não
estão fazendo algo errado na lógica do “se tiver consentimento, é pedofilia?”20, assim
mascarando o abuso com a culpabilização/responsabilização das vítimas, as colocando no
papel de “agentes sedutores” de homens já adultos, já formados física e psicologicamente.
Contudo, a “novinha” é um retrato atual de uma problemática que está presente na
sociedade há muito tempo, sendo assim a “Lolita”21 de outrora, caracterizada – pela sociedade
– pelo erotismo, por ser a fantasia que permeia o imaginário de homens adultos, como objetos
sexuais, ninfetas. Tais atribuições, comuns a essas expressões e manifestadas nas músicas
referidas, são formas simbólicas de violência culturalmente estabelecidas, reconhecidas,
disseminadas e naturalizadas (CURSINO; SANTOS; SANTOS, 2014, p. 3429), assim
refletindo questões estruturais – e estruturantes – de reprodução de um ideário patriarcal e
sexista, de supremacia masculina (hétero-cisssexual), que subjuga e hierarquiza o feminino
(CURSINO; SANTOS; SANTOS, 2014). Portanto, “novinha” é uma construção social que
subverte os nomes criança e adolescente, na perspectiva de manter distantes os direitos que
protegem, integralmente, este público, dando uma roupagem rentável/comercial que favorece
seus intérpretes, um exemplo é a quantidade de visualizações dos clipes na plataforma
20
Frase derivada de comentário na rede social Twitter, na qual um internauta fazia referência a uma adolescente
de 12 anos, participante do reality show “MasterChef Jr 2015 (Brasil)”. A mensagem em questão, que gerou
comoção em todo o país, na íntegra, foi: “Sobre essa [nome da vítima]: se tiver consenso é pedofilia?”. Esta
mensagem foi acompanhada por movimentos contra a sexualização infanto-juvenil, mas também por mensagens
de conivência e apoio como, por exemplo, “Não fica assim migo!! A culpa da pedofilia é dessa mulecada
gostosa!”.
21
Termo amplamente difundido após o lançamento de livro de mesmo nome, em 1955, pelo romancista
Vladimir Nabokov. Esta obra se destacou por abordar um assunto polêmico na modernidade: a relação
afetiva-sexual entre padrasto – de mais de 40 anos de idade – e enteada – de apenas 12 anos de idade –, sendo o
nome “Lolita” a forma como o personagem-abusador se referia à adolescente. A narrativa do personagem, traz
questões como a hipersexualização da infância e adolescência, responsabilizando a vítima por ser sedutora,
precoce, por fazer homens adultos sucumbirem ao sexo, na lógica do inexistente estupro culposo – termo usado
na absolvição do estuprador brasileiro André de Camargo Aranha, na tentativa de eximi-lo do papel consciente
que pressupõe a ação (sua vítima tinha 21 anos na época do crime, mas a fundamentação do uso desse conceito
inexistente, pode se relacionar com a problemática aqui abordada). É por esta razão dual e atual que Lolita se
tornou não só um clássico da literatura, mas um termo utilizado quando tratamos de sexualização de crianças e
adolescentes e desresponsabilização de adultos.
34

YouTube. Somente a primeira música destacada neste trabalho, “Nós gosta de novinha”, de
MC Sheldon, conta com 93 mil visualizações, e a segunda “Se eu mato, eu vou preso”, dos
MCs Sheldon e Boco, somam quase 148.500 visualizações.
É nesse sentido que, ao analisar o termo “novinha” abordado em letras de funk
carioca, Moreno (2011) ressalta a existência de divisões para além da classificação quanto ao
sexo biológico, homem e mulher:
[...] estabelece-se uma gradação entre as mulheres que se inicia com as novinhas -
as mais cobiçadas e objeto de desejo dos rapazes - seguidas por aquelas que já
possuem experiência reconhecida (embora só possa ser presumida) pelo simples
fato de serem mais velhas e aquelas que são malandras ou cachorras e que são ativas
na cena do funk ou nas conquistas dos homens. Estas afirmam uma feminilidade
autônoma, independente e uma sexualidade livre de impedimentos e compromissos
com parceiros fixos (MORENO, 2011, p. 8).

A cobiça por corpos jovens, tem intrínseca relação com a aceleração do processo de
formação de crianças e adolescentes, subtraindo esses importantes momentos de
desenvolvimento, ao impor atitudes erotizadas, comportamentos submissos e performances
próprias de mulheres adultas, porém, com a manutenção de traços que, para o violentador,
são símbolos de fetiche, como a "carinha de menina, corpo de mulher", o "ar virginal", e a
inexperiência, os quais remetem à inocência, à infância.
Tais fenômenos da adultização e hipersexualização, afetam diretamente a
subjetividade e as relações interpessoais do público infanto-juvenil, ao acelerar processos,
contribuindo, assim, para reprodução de comportamentos mimetizados de pessoas adultas.
Para Teixeira (2015), essa análise “está ligada a uma sociedade hedonista e consumista que
sobrevaloriza a imagem. Insidiosamente apoia-se em estereótipos que afetam sobretudo o
sexo feminino” (TEIXEIRA, 2015, p. 5), nesse sentido, há uma hipersexualização notória
desses sujeitos em publicidades, produtos, redes sociais, músicas, entre outras coisas, o que
termina conduzindo ao fim precoce da infância. Muitas vezes, por iniciar a vida sexual mais
cedo e não ter passado por esses processos de desenvolvimento, a criança ou o adolescente,
termina por tentar identificar no parceiro mais velho, características que faltaram na
infância22, como a figura de um homem protetor/provedor que a princípio, segundo Freud

22
Complexo de Édipo: conceito usado por Freud na construção psíquica dos indivíduos, através do qual afirma
que, na fase fálica do desenvolvimento de uma criança, essa passa a distinguir os pais, e aquelas que se
identificam com o sexo feminino, têm na figura do pai um desejo – não sexual – e necessidade de atenção, tendo
na figura da mãe uma “rival”, uma “barreira”, mas, assim que essa fase termina, essa torna-se um ideal a ser
alcançado, um espelho – o mesmo ocorre com aqueles que se identificam com o sexo masculino. “Segundo
Freud, os reflexos da idade edipiana poderão se refletir por toda a vida adulta do sujeito. Inclusive em sua vida
sexual, sua realização profissional, sua maturidade psíquica, sua capacidade de se relacionar afetivamente com
outras pessoas etc.” (PSICANÁLISE CLÍNICA, 2017). Portanto, Freud afirma que problemas
emocionais/transtornos apresentados na fase adulta são resultado de ações ocorridas na infância – transtornos
35

(1924), seria o pai, ou seja, tirar o foco da presença do pai e colocar sobre o parceiro e com o
acréscimo da sexualização, pode naturalizar questões de agressão, e desenvolver dependência
afetiva e emocional, além de implicações como a gravidez precoce e o contágio de doenças
sexualmente transmissíveis (FRANCO e VIANA, 2018, p. 2).
Perante essas questões, torna-se necessário ratificar que, mesmo com o consentimento
da criança ou do adolescente, divulgar imagens desse público, armazenar ou encaminhar, são
crimes, assim como o ato sexual, em si, é um abuso, portanto, sendo modalidades da
violência sexual qualquer forma de manipulação, incentivo, venda, intermediação e uso
desses jovens23 (BRASIL, 1990).
Nesse ínterim, perpassado pela naturalização de práticas de violência, pode-se analisar
que a adultização e a hipersexualização terminam por banalizar “a pornografia e a violência;
[...] fragilizando o equilíbrio psicoafetivo e perturbando a construção da identidade”
(TEXEIRA, 2015, p. 5, grifos nossos). Outro aspecto imposto pela naturalização da
problemática, é o aceleramento e aumento de um público consumidor – pedófilo – de
materiais que envolvem crianças e adolescentes em situações de exposição de seus corpos e
insinuações de cunho sexual.
A pedofilia é caracterizada como um transtorno adulto, marcado pela persistência de
“[...] um padrão sustentado, focado e intenso de excitação sexual – manifestado por
pensamentos, fantasias, impulsos ou comportamentos sexuais persistentes – envolvendo
crianças pré-púberes” (OMS, 2022). Por se tratar de um transtorno, o acompanhamento
desses indivíduos deve ser contínuo, contudo, para que este diagnóstico seja firmado, é
necessário que haja, por parte desses indivíduos, a aceitação dessa questão enquanto
problemática. Entretanto, mais uma vez, aqui nos deparamos com as implicações da
naturalização, dado que, numa sociedade machista – centrada nos homens –, a existência de
um padrão de relacionamentos coloca esses sujeitos acima de qualquer suspeita, como se
fosse apenas o seu tipo ideal de mulher, aquelas que são mais jovens – como nas músicas
supracitadas –, não um problema de proporções sanitárias e sociais. É importante frisar que,
caso se manifestem na prática, as ações desses indivíduos são tipificadas como crime contra

emocionais surgem na infância, evoluindo na fase adulta, se refletindo na forma de neuroses (COSTA;
OLIVEIRA, 2011, p. 5).
23
De acordo com o artigo 241-A, do Estatuto da Criança e do Adolescente, se caracteriza como crime:
“oferecer, trocar, disponibilizar, transmitir, distribuir, publicar ou divulgar por qualquer meio, inclusive por meio
de sistema de informática ou telemático, fotografia, vídeo ou outro registro que contenha cena de sexo explícito
ou pornográfica envolvendo criança ou adolescente” (BRASIL, 1990).
36

crianças ou adolescentes, não como pedofilia24 (VENTURA, 2016), todavia, por esta mesma
razão – não ser um crime, mas sim uma patologia –, muitas vezes, há a naturalização das
atitudes dos pedófilos.
Portanto, apesar do arcabouço protetor, a existência de pedófilos e a naturalização da
hipersexualização desse público, quando somadas a uma sociedade patriarcal e sexista, como
a brasileira, gera a possibilidade de comercialização infanto-juvenil para fins de satisfação
sexual, infringindo, assim, a lei. Nesse sentido, estratégias de intermediação entre vítimas e
abusadores são firmadas, devido à criação de uma demanda, um desses métodos é a
exploração sexual no contexto do tráfico humano, através da qual as relações de sexualização
de crianças e adolescentes enquanto objetos sexuais para satisfação da libido de homens
adultos, se associa à compra, especificamente, de seus corpos (NÓBREGA, 2019, p. 25) em
escala estruturalmente articulada.
É sobre esta temática específica, que relaciona tráfico humano, gênero, estratégias de
aliciamento e invisibilidade da problemática, que nos aproximaremos no presente capítulo,
perpassando por outras questões fundamentais como classe, raça/etnia, o tabu da educação
sexual, o perfil de vítimas, a rede criminosa, as rotas, a indústria do sexo e as formas de
sobrevivência infanto-juvenis; na tentativa de desvelar os interesses e relações de poder que
envolvem o perfil das vítimas do tráfico de crianças e adolescentes para fins de exploração
sexual no Brasil, bem como pretendemos nos aproximar da compreensão da dimensão de
poder exercido por esta rede multifacetada.

3.1. Elas: a exploração sexual como um tabu na sociedade brasileira.


Mesmo a sexualidade sendo parte indissociável da constituição humana, falar sobre
sexo, sexualidade ou direitos sexuais, representa um tabu na sociedade, tabu esse cravado no
início da modernidade (CARVALHO et al., 2012, p. 70-71), envolvendo, também, falar sobre
relações sem consentimento – estupro, abuso e exploração –, este fato se reflete na
persistência da falta de informação, na dificuldade de compreensão de práticas abusivas, no
medo de denunciar, de serem revitimizadas – culpadas, relegadas ao ostracismo, expulsas de
casa, mortas –, na pouca utilização de métodos contraceptivos devido ao não conhecimento,

24
“Há de se ficar bem claro que ninguém pode ser punido criminalmente por ter alguma doença, porém, quando
o pedófilo (quem tem pedofilia) exterioriza a sua patologia e sua conduta se amolda em alguma tipicidade penal,
estará caracterizado o crime (da tipicidade incorrida e não de pedofilia). Não existe cura para a pedofilia e, por
este motivo, o tratamento deve ser constante para que ela seja e se mantenha controlada. Deve-se ficar muito
bem cristalino que nem todo pedófilo é um criminoso sexual, pois, como já dito, a pedofilia é uma doença e
enquanto ela não for exteriorizada não há de se falar em crime e nem em criminoso” (JUS, 2016).
37

na gravidez na adolescência, de aborto desprotegido e de contágio de doenças sexualmente


transmissíveis. Ademais, a própria invalidação e estímulo à ocultação das identidades de
gênero, torna-se um assunto “sensível”, proibido.
Tais questões são consideradas ainda mais asfixiadas, no que tange às crianças e os
adolescentes, vistos pela sociedade enquanto sujeitos desprovidos de sexualidade, atrelando
esta questão – erroneamente – ao ato sexual, criando um paradigma da iniciação da vida
sexual com o rompimento com a inocência, com a passagem da vida infantil para a adulta
(CARVALHO et al., 2012, p. 71), assim mascarando impulsos naturais dos corpos desses
sujeitos. Neste sentido, o público infanto-juvenil é protegido apenas em termos de
criminalização de abusos sexuais, fato esse que não anula a importância da punição e a
dificuldade de aceitação no que se refere à discussão sobre o tema, mas que reduz os direitos
infanto-juvenis, ao não abordar os direitos sexuais desse público, e – se tratando de
adolescentes – também reprodutivos (ASSIS; JIMENEZ; NEVES, 2015)25.
As escolas, como um dos primeiros núcleos de sociabilidade, e devido à propagação
de conhecimentos, além do acompanhamento duradouro em diferentes etapas do
desenvolvimento, são importantes espaços de formação, porém, observamos que tornar a
educação sexual uma pauta de discussão, incorre em questões de moral, religião, cultura e
disputas, em outras palavras, em questões que podem mobilizar leituras neoconservadoras26.
Este fenômeno, que atualmente vem sendo inserido pela extrema-direita em pautas políticas,
soma-se ao neofascismo, supervalorizando práticas como a meritocracia, o preconceito, a
hierarquia, o irracionalismo, o negacionismo, a manutenção da ordem, o racismo, o sexismo,
a homofobia, o patriarcado, e a desarticulação do bem-estar público; agindo em prol de uma
legitimação social e constituindo um significativo entrave e retrocesso das pautas relativas a
temas caros aos direitos humanos (BARROCO, 2022). Em termos práticos, todo esse caldo
conjuntural contribui com a perpetuação de uma lógica excludente, hostil e estereotipada de
ensino. Nesse sentido, a pesquisadora Jane Felipe de Souza, em entrevista ao Blog das
Letrinhas, traz a reflexão que esse espaço é o lugar certo para discutir sobre direitos sexuais e
reprodutivos:
Há ainda no senso comum uma ideia muito limitada quanto ao papel que cabe à
escola desempenhar. Para uma parcela da população, a escola serve apenas para
25
Todavia, é importante ressaltar que esse direito sexual não se refere à prática sexual entre criança ou
adolescente e adulto, neste caso – como posto em outros momentos da discussão – a relação é de abuso,
violação.
26
“O neoconservadorismo consiste na junção entre os valores do conservadorismo moderno e os princípios do
neoliberalismo. Do conservadorismo clássico, preservam-se a tradição, a experiência, o preconceito, a ordem, a
hierarquia, a autoridade, valorizando-se as instituições tradicionais, como a igreja e a família patriarcal
(Barroco, 2015)” (BARROCO, 2022, p. 13).
38

ensinar a ler, escrever, contar e transmitir conteúdos específicos (física, biologia,


etc.). Esquecem que também é tarefa da escola produzir cidadãos críticos e éticos,
dentro dos princípios dos Direitos Humanos fundamentais (BLOG DAS
LETRINHAS, 2018).

Na tentativa de proteger este público, negligenciando temas como sexo, sexualidade e


direitos sexuais, a sociedade nega direitos fundamentais de – contraditoriamente – proteção e
prevenção, nega o direito ao conhecimento, à denúncia, e à existência de pluralidades para
além da lógica binária heterossexual. Os direitos sexuais são “parte intrínseca dos direitos
humanos desse grupo” (ASSIS; JIMENEZ; NEVES, p. 1102), sendo o reconhecimento da
sexualidade – como questão para além de fatores biológicos e privados – levando à garantia
política de direitos. No que tange aos direitos sexuais, Rios (2006) os define como:
Direito à liberdade sexual; direito à autonomia sexual, integridade sexual e à
segurança do corpo sexual; direito à privacidade sexual; direito ao prazer sexual;
direito à expressão sexual; direito à associação sexual; direito às escolhas
reprodutivas livres e responsáveis; direito à informação sexual livre de
discriminações. Estes são alguns dos desdobramentos mais importantes dos
princípios fundamentais da igualdade e da liberdade que regem um direito da
sexualidade. Liberdade, privacidade, autonomia e segurança, por sua vez, são
princípios fundamentais que se conectam de modo direto ao direito à vida e ao
direito a não sofrer exploração sexual (RIOS, 2006, p. 17, grifos nossos).

Diante desta colocação de Rios (2006), diferentes elementos centrais à defesa e


garantia de direitos, bem como de prevenção de violações são colocados, dentre estes
destaca-se a exploração sexual, a qual – conforme grifado – aglutina, em si, distintas práticas
abusivas, fato este que, quando somado ao tráfico humano, potencializa, ainda mais, a
objetificação das vítimas e a subjugação de seus corpos enquanto mercadorias. Devido à
complexidade do tema e o obstáculo da não discussão acerca das violações sexuais, é
observável que há um alastramento e perpetuação da problemática.
Tal falta de preparo e debate, se reflete, também, na dificuldade de identificação das
vítimas de tráfico humano, as quais, muitas vezes, são tipificadas como vítimas de outros
crimes, questão esta que se soma à subnotificação das denúncias. Entretanto, é preciso
destacar que, apesar da violência sexual atingir todos os sexos, idades e classes sociais, e da
dificuldade de documentação dos casos, o tráfico humano com a finalidade de exploração
sexual, acomete mais uma parcela específica de vítimas:
Incluem-se no perfil das vítimas traficadas para fins de exploração sexual,
preferencialmente, crianças, adolescentes, mulheres jovens, travestis e transgêneros,
por se enquadrarem como grupos vulneráveis devido às demandas de melhoria de
vida e concretização de sonhos. As idades variam entre 15 e 25 anos. As vítimas
típicas são negras, geralmente residem com familiares, têm filhos, trabalham em
atividades de pouco reconhecimento socioeconômico e já foram vítimas de algum
tipo de violência anteriormente, segundo a Secretaria Nacional de Justiça do
Ministério da Justiça, em pesquisa coordenada pelo Núcleo de Enfrentamento ao
39

Tráfico de Pessoas da Secretaria de Defesa Social do Estado de Pernambuco (2009)


(MELO e SILVA, 2017, p. 71).

Desse modo, compreendemos que as vulnerabilidades sociais se tornam fatores


centrais ao aliciamento, posto que a sobrevivência termina por expor jovens atravessados(as)
pelas mais distintas formas de expressões da questão social, as maneiras de subsistência cada
vez mais precárias e incertas. Com o aumento do custo de vida, da precarização no mundo do
trabalho, a convivência diária com a insegurança alimentar e a desresponsabilização por parte
do Estado, promessas de emprego e melhorias nas condições de vida tornam-se
possibilidades de superação de suas necessidades mais básicas, armadilha esta
frequentemente usada pelos traficantes.
Portanto, ainda analisando o perfil das vítimas, quando observamos a ordem do
capital, percebemos que os processos de crises afetam diretamente a classe desfavorecida das
riquezas socialmente produzidas, acarretando as mais extremas vulnerabilidades e
contribuindo com a desumanização dos corpos em desenvolvimento. É nesse sentido que o
tráfico de crianças e adolescentes para fins de exploração sexual, é consequência das somas
“[...] das contradições sociais, acirradas pela globalização e pela fragilidade dos Estados
Nações, aprofundando as desigualdades de gênero, raça e etnia” (LEAL e LEAL, 2005, p.
4-5).
Nesta lógica, são as desigualdades estruturais, tanto econômicas quanto sociais, a
partir das quais
as crianças, os adolescentes e as mulheres chefes de família terminam virando
presas fáceis para o mercado do crime e das redes de exploração sexual. Recrutados
e aliciados pelos exploradores, deixam-se enganar por falsas promessas de melhoria
de condições de vida submetem-se a uma ordem perversa de trabalho, geralmente
impulsionada não só pela necessidade material, mas por desejos de consumo
imputados pelos meios de comunicação e pela lógica consumista da sociedade
(LEAL e LEAL, 2002, p. 53).

Quando analisamos as privações de direitos do público infanto-juvenil no contexto do


tráfico, relacionadas à questão das desigualdades presentes nos países considerados de
economia periférica, os fatores classe, gênero e raça/etnia, acima referenciados, se tornam
impulsionadores e determinantes à delimitação do perfil de vítimas, isto porque “a pobreza
tem um rosto marcadamente feminino e o tráfico não é indiferente a esse facto”27 (SANTOS
et al., 2008, p. 29). Os corpos femininos – e também os não-binários – são historicamente
relegados a papéis de subalternidade, responsabilização e desassistência. Conforme Araújo e
Moreira (2022),

27
A grafia do texto, originalmente derivado do português de Portugal, foi mantida neste corte.
40

pode-se concluir com o desenvolvimento da investigação científica, que uma


menina, negra ou indígena, e pobre, que estruturalmente, culturalmente e
historicamente tende a ter menos acesso a direitos inerentes ao seu desenvolvimento
humano na perspectiva integral, assim como ao exercício da cidadania, possui
maiores potencialidades de ser submetida à exploração sexual comercial. Assim, as
interseccionalidades que se somam ao período geracional da infância, que são fruto
da diversidade de gênero, étnico-racial e de classe social, são fatores determinantes
para a ocorrência de violações de direitos de crianças e adolescentes na exploração
sexual comercial (ARAÚJO e MOREIRA, 2022, p. 3).

Em termos de Brasil, sua formação sócio-histórica, imbuída em violações,


explorações e preconceitos, até hoje traz implicações quanto à perpetuação de opressões,
tornando o país suscetível ao desenvolvimento e aprofundamento de desigualdades das mais
distintas naturezas, como o patriarcado. Na tentativa de melhor entender os interesses e
relações de poder que envolvem o perfil das vítimas do tráfico de crianças e adolescentes
para fins de exploração sexual no Brasil, torna-se evidente que os contornos das
desigualdades entre vítimas e rede criminosa, se solidificam nas relações antagônicas de
poder, sejam elas referentes à idade (do mais velho/adulto, sobre o mais novo/criança ou
adolescente), sexo/gênero (mulheres e pessoas LGBTQIA+, sendo subjugadas, sobretudo, por
homens hétero-cissexuais), raça/etnia (brancos sobre não-brancos), e de classe (de um lado as
pessoas em situação de pobreza ou extrema pobreza, do outro, aqueles que visam lucrar com
a intermediação da vítima, e os que as compram por disporem de meios financeiros e
predisposição ao abuso).
Neste sentido, pelo Brasil figurar como, segundo o Programa das Nações Unidas para
o Desenvolvimento (Pnud), o “87º do mundo em desenvolvimento humano entre as 191
nações analisadas” (BRASIL DE FATO, 2022), o país torna-se um local propício ao
desenvolvimento do mercado clandestino, além de ser um dos polos através dos quais o
aliciamento e transporte para o tráfico humano se estruturam. Um reflexo disto, é a colocação
do Brasil como segundo no ranking dos países que mais registram casos de exploração sexual
de crianças e adolescentes, uma colocação alarmante não só pela posição de ponta, mas por
este número corresponder a apenas 10% das denúncias, dado a estimativa de que 90% dos
casos não são denunciados, segundo estudo organizado pelo Instituto Liberta (CHILDFUND
BRASIL, 2021).
Quando analisamos a questão de gênero que acomete a maiora das vítimas de tráfico
humano, notamos, no próprio nome da convenção em que o Protocolo de Palermo – que
tipifica o tráfico humano – foi adicionado, uma preocupação com um gênero específico, o
feminino, ao se chamar Convenção das Nações Unidas contra o Crime Organizado
Transnacional Relativo à Prevenção, Repressão e Punição do Tráfico de Pessoas, em Especial
41

Mulheres e Crianças (2004). Tal preocupação, não exclui que esta problemática atinja
diferentes corpos, no entanto, quando analisamos a categoria gênero em específico, nos
deparamos com a questão desta ser considerada “um campo primário no interior do qual, ou
por meio do qual, o poder é articulado” (SCOTT, 1995, p. 88), ou seja, as relações de gênero
são uma construção histórica que formam, de maneira indissociável, hierarquizações de
poder, assim imprimindo uma estrutura de dominação, diante disso, mulheres tornam-se
vítimas desta estrutura, o que pode ser chamado de violência de gênero:
a violência de gênero consiste na violação da mulher, abrangendo ainda crianças e
adolescentes de ambos os sexos, que são vitimados pelos homens no papel de
patriarcas (aqueles que exercem o poder de pai, machista). Ainda que as vítimas não
se rebelassem contra as normas impostas pelo impositor ou pela sociedade, normas
estas que “justificassem” o ato violento, estas seriam alvo do processo de
dominação e exploração que compõe o significado do “ser homem” e da sua
autoafirmação enquanto tal, a partir da coerção (SAFFIOTI, 2004 28 apud MELO;
SILVA, 2017, p. 64).

Contudo, o perfil das vítimas da exploração sexual no país, é de meninas (75%),


sobretudo, negras (OBSERVATÓRIO DO TERCEIRO SETOR, 2021), o que implica na
necessidade de compreender, além das relações de gênero, as implicações que a temática do
racismo estrutural – e estruturante – imprime sobre as vítimas. Nesse sentido, a violência
sexual colonial estruturou
todas as hierarquias de gênero e raça presentes em nossas sociedades, [...] através da
qual, segundo Gilliam: “O papel da mulher negra é negado na formação da cultura
nacional; a desigualdade entre homens e mulheres é erotizada; e a violência sexual
contra as mulheres negras foi convertida em um romance” (CARNEIRO, 2020, p.
1).

Dessa forma, se perpetua a subalternidade das mulheres negras no imaginário social,


“com identidade de objeto” (CARNEIRO, 2020, p. 2), sendo marginalizadas, coisificadas,
desassistidas, exploradas e exportadas. Todavia, “as desigualdades de poder estão organizadas
ao longo de, no mínimo, três eixos” (SCOTT, 1995, p. 73), dois dos quais aqui já tratados –
gênero e raça/etnia. Estas mulheres negras são, também, atravessadas pelas questões de classe
social, uma divisão essencial à manutenção do sistema capitalista, através do qual são
definidas – e marcadas –, pelo nível de desigualdade em que se encontram, o qual é
determinante para o estabelecimento de lucro aos detentores dos meios de produção, dado
que, quanto maior o contingente de pessoas em busca de emprego, ou relegadas aos trabalhos
desprotegidos, maior a chance de seus empregadores imprimirem cláusulas abusivas de
trabalho.

28
SAFFIOTI, H. I. B. Gênero, patriarcado e violência. São Paulo: Fundação Perseu Abramo – Coleção Brasil
Urgente, 2004.
42

Portanto, desde a implementação do modo de produção capitalista, se desencadeou a


mais intensa inferiorização da força de trabalho feminina, mesmo em períodos em que passa
a ser a opção mais fácil de exploração máxima da mais-valia absoluta, por meio dos quais se
estabelecem as jornadas de trabalho mais extensas e o salário mais baixo, quando comparados
aos homens (SAFFIOTI, 1976, p. 21). Nesse sentido, ao analisarmos o tráfico humano,
observamos que o capitalismo se apropria das questões de raça/etnia, classe social e gênero,
para explorar ainda mais estas pessoas, e uma dessas expressões é a exploração sexual, a
qual, atrelada aos seus corpos marginalizados, historicamente, as relega à mercantilização e à
sub-humanidade nas quais se fincam o tráfico humano.

3.2. Articulação da rede do crime


Analisar o tráfico com fins à exploração sexual, é algo complexo, pois, ao
observarmos as imbricações que permeiam as redes criminosas de aliciadores e exploradores,
é notório que estas são alicerçadas na manutenção do sistema capitalista. Nesse sentido, o
tráfico humano torna-se apropriado pelo capitalismo, dado que “para Leal (1998), nas
relações capitalistas, o sexo é, ao mesmo tempo, um valor de uso e um valor de troca e passa
a ser um bem mercantilizado, um intercâmbio comercial” (LEAL, 2010, p. 186). Logo,
a exploração sexual e a econômica se combinam, ou seja, essas explorações
discriminam socialmente os sujeitos envolvidos e se articulam no processo de
mercadização e fetichismo das relações, implicadas num mercado e num processo
de relações socioeconômicas e sexual (FALEIROS, 200129, p. 51, apud LEAL,
2010, p. 186).

Portanto, o tráfico humano se desenvolveu e consolidou enquanto a terceira atividade


do crime organizado mais lucrativa em todo o mundo, com lucro anual na casa dos bilhões de
dólares (RAMINA e RAIMUNDO, 2013, p. 163), sendo assim um mercado rentável,
articulado e que reina no “mundo subterrâneo da ilegalidade” (MACÊDO, 2017, p. 49), se
alimentando da vulnerabilidade social e da manipulação das vítimas, bem como da pouca
difusão de informações acerca da problemática.
No que tange ao público infanto-juvenil, esse, historicamente, é um grupo que figura
entre aqueles que mais sofrem com os efeitos da vulnerabilidade social30, encontrando-se
enquanto categoria passível de vivenciar violações devido a sua condição especial de sujeitos
29
FALEIROS, V. e FALEIROS, E. Circuito e Curtos-Circuitos. São Paulo: Ed. Veras, 2001.
30
“Dentre as denúncias registradas no Disque Direitos Humanos em 2019, o grupo de Crianças e Adolescentes
representou 55% do total, com 86.837 denúncias [...]. Apenas dois grupos vulneráveis – Crianças e
Adolescentes e Pessoas Idosas – representam o montante de 85% do total de denúncias de violações de direitos
humanos registrados no Disque 100 [...]. Os grupos de Crianças e Adolescentes e Pessoas Idosas correspondem
a cerca de 44% da população segundo a PNAD Contínua de 2019. Conclui-se, portanto, que esses grupos se
encontram em situação de maior vulnerabilidade no país” (DISQUE DIREITOS HUMANOS, 2019, p. 25).
43

em situação de desenvolvimento e, consequentemente, dependência. Dados recentes estimam


que, de janeiro a junho de 2022, 365.890 violações contra crianças e adolescentes foram
registradas somente no Brasil (MINISTÉRIO DA MULHER, DA FAMÍLIA E DOS
DIREITOS HUMANOS, 2022), dado este que, mesmo escondendo uma subnotificação,
ilustra a dimensão da não efetivação de direitos básicos à vida, à saúde, à dignidade, ao
respeito e à liberdade (BRASIL, 1988).
Diante disso, a situação de vulnerabilidade social é o motivo predominante para a
permanência dos índices de tráfico com fins de exploração sexual, como posto no tópico
anterior, através do qual particularidades socioeconômicas e culturais se tornam
potencializadoras e impulsionadoras de uma indústria sexual (LEAL, 2009), responsável por
manter esse sistema criminoso. Nesse sentido, torna-se fundamental a definição dessa
indústria do sexo que move, objetifica e descarta vidas, a qual Lucena (2017) descreve como
sendo:
regida pelos ditames do lucro do tráfico de pessoas, envolvendo uma complexa
gama de divisão do trabalho, em escala nacional/internacional. Isto quer dizer que
há espaço aberto para mafiosos(as), proxenetas, traficantes de pessoas, de drogas, de
armas, celebridades (ou “quase celebridades”!) das artes, dos esportes, figuras
políticas, agentes da justiça, de governos e de empresas privadas, ONGs [...], etc.
[...] A lista é enorme [...]. No entanto, vale a pena citar esses exemplos com a
intenção de explicitar a complexidade das teias que envolvem a questão da
violência do tráfico que explora financeiramente seres humanos submetidos a
práticas sexuais/de fantasia/de pornografia realizadas em benefício de outrem
(LUCENA, 2017, p. 174, grifo nosso).

É dessa forma, que a multidimensionalidade do tráfico torna-se evidente, posto que,


além de ser fortalecido pelas desigualdades geradas pelo capitalismo, também se favorece da
ausência do Estado em proteger as crianças e os adolescentes (LEAL e LEAL, 2007), o que
acaba contribuindo para a não efetivação de seus direitos. Dessa forma, é traçado o cenário
ideal para a estruturação de diferentes agentes criminosos e formas de aliciamento, como
posto anteriormente, alcançando distintos segmentos, dos quais as crianças e os adolescentes
são dois dos mais atingidos, na condição de vítimas das inúmeras violências que se articulam
e se expressam de variadas formas no contexto do tráfico, além da própria finalidade de
exploração sexual.
Portanto, este público aliciado é marcado por um histórico atrelado às questões de
classe; de fluxo migratório; de trabalho infantil e/ou doméstico; muitos dos quais já tendo
vivenciado a situação de rua; sendo pais; apresentando uma diversidade sexual além da
heteronormatividade; tendo na aquisição de bens de consumo e/ou de substâncias psicoativas
impulsionadores da busca por trabalhos, muitos dos quais alicerçados em condições de
44

exploração das mais diversas naturezas; e sendo pouco acobertados pelas políticas sociais
(LEAL, 2010, p. 182).
Se apropriando das questões acima postas, o tráfico de pessoas ocorre por "uma
estrutura comercial organizada" (CARVALHO e FREITAS, 2013, p. 107), estrutura essa que
mercantiliza atividades sexuais forçadamente, seguindo uma dinâmica de coisificação dos
indivíduos. Para consolidar esse processo, a rede criminosa desenvolve estratégias rigorosas
de aliciamento, que se atualizam ao longo do tempo e se alimentam das refrações da questão
social. Dessa forma, são utilizadas estratégias para atrair o público infanto-juvenil para a
exploração sexual, que variam desde a promessa de troca dos serviços por alimentação e/ou
dinheiro, à omissão da finalidade sexual, se utilizando da enganação para atrair as vítimas ao
prometerem ofertas de trabalho, moradia, realização de sonhos ou proteção.
Dentre os meios de aliciamento, desenvolveu-se – em consonância ao avanço
capitalista via globalização – o uso das redes sociais enquanto espaços de captação de
potenciais vítimas, assim alastrando suas estratégias de forma ainda mais ampliada e rápida,
dificultando ainda mais a identificação dos traficantes e construindo, de forma mais sólida, o
imaginário de oportunidades do qual se valem seus discursos sedutores iniciais. Nesse
sentido, criam perfis, por exemplo, de agências de trabalho, turismo e modelo, para mediar
esse público a destinos nacionais ou internacionais, neste último se valendo, muitas vezes, do
romantizado discurso de melhoria das condições de vida através do sonho europeu ou
americano.
Seguindo esta perspectiva, um aliciador brasileiro que atua na fronteira da Amazônia,
em fala ao canal Metrópoles (2021), relata os processos de aliciamento e coerção das
mulheres vítimas do tráfico humano, conforme a rede criminosa que faz parte. O aliciador
começa seu relato destacando que elabora anúncios em páginas de rede social conhecidas
(como Instagram e Facebook), páginas famosas que se tornam comerciais pela situação de
vida das venezuelanas, como exemplifica, com isso eles partem dizendo que procuram
modelos. O homem diz usar uma “metodologia bem simples", dividindo as etapas de
aliciamento no que chama de “fases”. Na primeira, pedindo imagens da vítima, isso para elas
acreditarem estar se comunicando com uma agência. Na segunda fase, faz uma ligação para a
vítima dizendo que essa não tem o perfil da empresa, porém, que há uma segunda alternativa,
o garimpo, algumas desanimam, mas outras querem saber mais sobre, é nesse momento que
chegamos ao que o aliciador chama de “hora do encontro”, quando elas chegavam ao país
(geralmente clandestinamente), nesse encontro
45

já dava um choque, "é assim como funciona", a gente fala dos cuidados que tem que
ser tomados em relação a… algumas medidas de proteção [como não roubar o
“cliente”, pois já houve casos de morte por isso]. Aí quando elas chegam aqui é a
real, a real é prostituta, entendeu? É vender o corpo. A gente já bota um preço que é
pra tentador, né? Tipo fala em relação ao programa, quanto é que é. Eu busco
pessoas que tem… beleza, entende? Porque se você não levar esse tipo de garota,
que tem beleza, você vai perder, porque o que eles querem é isso. Você tem que…
tem que… criar um personagem, né? Você cria um personagem e a pessoa pensa
assim… geralmente é… é uma pessoa que vai… ter mais confiança com
homossexual, né? E aí você cria o personagem, mas quando a pessoa tá cara a cara
com você… o personagem não existe mais” (METRÓPOLES, 2021, grifos
nossos)31.

Analisando estas questões, é válido salientar, como destacam Carvalho e Freitas


(2013), que “o tráfico pode ser identificado entre cidades, nas rodovias e fronteiras, pois o
termo tráfico está direcionado a movimentação, locomoção de uma 'mercadoria' para outro
lugar” (CARVALHO e FREITAS, 2013, p. 107). Desse modo, são traçadas rotas por parte das
organizações criminosas, para que o transporte das vítimas ocorra sem chamar atenção dos
órgãos de fiscalização, assim movimentando também recursos humanos que favoreçam tal
transação.
Nesse sentido, “o 8.° levantamento do MAPEAR, realizado no biênio 2019/2020,
registrou um total de 3.651 pontos vulneráveis à exploração sexual de crianças e
adolescentes. Tal resultado aponta para o acréscimo de aproximadamente 47% dos pontos em
relação ao biênio 2017/2018” (MAPEAR, 2020, p. 23). Estes números são sinalizadores do
crescimento da problemática no país, e de que há um dissenso entre esta e as ações de
enfrentamento no território nacional. Consequentemente, o tráfico humano possui trajetos que
cortam todos os estados do país, sendo as rodovias os pontos de translado preferíveis
(DINIZO e OLIVEIRA, 2021, p. 21), contudo, os pontos mais críticos das rodovias federais
são: Bahia, Goiás, Pará, Minas Gerais e Ceará (MAPEAR, 2020), um reflexo das questões
socioespaciais e econômicas do Brasil, pois estes estados dispõem de intenso fluxo em suas
vias terrestres, além de servirem como importantes vias que ligam estados estratégicos a
interesses econômicos, Minas Gerais, por exemplo, possui a maior malha rodoviária do país
(MINAS GERAIS, 2014).
Tais rotas, também se articulam com o turismo brasileiro, uma vez que o turismo, em
cada país, é considerado um potencial para a geração de empregos e renda, sendo assim um
importante componente da economia destes locais, representando, principalmente, em países
considerados de economia periférica e com vastos atrativos naturais, como o Brasil, uma
expressiva parcela do Produto Interno Bruto (PIB). Porém, a visão estereotipada, sexualizada

31
Ao ser redigida, a fala do traficante foi preservada com vícios de oralidade.
46

e inferiorizada que se tem das brasileiras, fruto da formação sócio-histórica do país alicerçada
em relações de abuso, coisificação e fetichização, termina por criar um imaginário
internacional do Brasil enquanto paraíso do sexo, servindo como polo para entretenimento
dos turistas ou moradores locais, também no sentido de procura por relações sexuais, sendo
as rotas da exploração sexual comercial um atrativo a violadores de crianças e adolescentes.
Como destaca o documentário Cinderelas, Lobos e um Príncipe, as vítimas do tráfico
humano “alimentam uma rede de intermediário que exploram agências clandestinas de
turismo, hotéis, pousadas [...] [permitindo que] homens explorem sexualmente crianças”
(CINDERELAS, LOBOS E UM PRÍNCIPE ENCANTADO, 2009, grifos nossos).
No que tange às rotas internacionais do tráfico humano, conforme o Counter
Trafficking Data Collaborative (CTDC), em 189 países há a exploração sexual no contexto do
tráfico humano, representando 156.330 casos individuais registrados, segundo dados
fornecidos por organizações em todo o mundo (CTDC, 2020). No que tange especificamente
aos dados relativos às Américas, "mais de dois terços das vítimas traficadas [...] sofrem
exploração sexual. Mais de 80% das vítimas são do sexo feminino e quase um terço são
crianças" (CTDC, 2020), além de, no continente africano, mais da metade das vítimas serem
crianças (CTDC, 2020), questões essas que se relacionam com o fato do fluxo relatado por
Leal (2009):
[...] O tráfico de mulheres, crianças e adolescentes para fins de exploração sexual
comercial ocorre de regiões periféricas ou semi-periféricas (Ásia, África,
América do Sul e Leste Europeu) e são encaminhados preferencialmente para
países desenvolvidos (Estados Unidos, Europa Ocidental, Israel e Japão) (LEAL,
2009, p. 179).

Estas particularidades sobre as rotas do tráfico, terminam sendo determinantes para a


reprodução da indústria do sexo, posto que estabelecem um fluxo não só de transporte das
vítimas, mas também se alastram por territórios com público-consumidor e fornecedores de
diferentes esferas. Dessa forma, termina por acontecer uma naturalização das ações
criminosas dos traficantes, dado que a exploração sexual acaba por se tornar um atrativo
comercial nas regiões conhecidas pelo turismo sexual, sendo assim uma prática culturalmente
aceita nessas localidades, fato esse que desfavorece a plena efetivação das redes de proteção
(UM CRIME ENTRE NÓS, 2020). Tal cenário, consequentemente, torna-se propício para a
perpetuação do tráfico com fins à exploração sexual. Soma-se a isso, ainda,
os indicadores macro/geo/sociais, tais como os projetos de desenvolvimento
econômico, mobilidade, migração e fronteiras, [os quais] determinam as razões
sociais do fenômeno, e os indicadores culturais como: gênero, geração, raça e
etnia descortinam os valores culturais que fortalecem as relações de poder e
dominação entre mulheres e homens, ricos e pobres, adultos e crianças. E os
47

indicadores de exploração sexual comercial (turismo sexual, prostituição e


pornografia) configuram a indústria sexual, onde o tráfico se manifesta. A
inter-relação entre esses indicadores, possibilita estabelecer as razões que explicam
o fenômeno (LEAL, 2009, p. 182 e 183, grifos nossos).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao iniciar o desenvolvimento deste Trabalho de Conclusão de Curso, observou-se


que, embora as crianças e os adolescentes constituam um público prioritário na formulação e
efetivação de políticas públicas, e detenham proteção especial integral da família, do Estado e
da sociedade civil (BRASIL, 1988), ainda enfrentam os marcadores da desigualdade e a
opressão de idade que privilegiam os adultos. Tais pontos se expressam na forma de
diferentes violências, das quais a exploração sexual, no contexto do tráfico humano, é uma
das mais cruéis e danosas, ao inserir as vítimas em um cenário de destituição da liberdade, da
dignidade e da própria condição humana, ao coisificar estes sujeitos e os colocar enquanto
objetos, para a satisfação sexual de adultos.
Estes problemas, somados à dimensão nacional e transnacional do tráfico de pessoas,
à complexidade das redes criminosas, ao impacto nas vidas das vítimas, à pouca
disseminação do assunto nos meios acadêmico e social, ao entranhamento desta exploração
em países considerados de economia periférica – como o Brasil – e à apropriação do mesmo
por parte do capitalismo, culminou na constatação de que o tráfico de crianças e adolescentes
para fins de exploração sexual, deve ser mais evidenciada nas pautas de discussão,
principalmente no que tange ao Brasil, dado que fatores como a cultura, o
neoconservadorismo e os cortes das políticas sociais na agenda neoliberal, afetam
diretamente os números de casos, as denúncias, o enfrentamento e a proteção às vítimas.
Por esse motivo, o estudo teve como objetivo geral analisar a problemática do tráfico
de crianças e adolescentes para fins de exploração sexual no Brasil, o qual foi atendido, na
medida em que a pesquisa expôs, de forma crítica, particularidades da questão em território
nacional, como a cultura de proteção ao agressor, de silenciamento e omissão da vítima, de
hiperssexualização na indústria do entretenimento – como nas músicas de cantores populares
– e naturalização da disparidade etária nos relacionamentos enquanto um “tipo de mulher
ideal” daquele homem em específico, normalizando práticas de abuso, como o casamento
infantil. Ademais, foram abordadas questões atuais de aliciamento que muito se relacionam
com as questões geo-socioespaciais do país, envolvendo economia e traslado, via turismo e
rodovias.
48

Já no que tange ao primeiro objetivo específico de verificar a intrínseca relação


existente entre indústria do sexo e capitalismo, este também foi satisfeito, dado que o modo
de produção capitalista tem como estruturas a mercantilização e a exploração, em um
esquema em que tudo é passível de ser comercializado, inclusive corpos, movimento esse que
também atinge crianças e adolescentes, na busca desenfreada pelo lucro, via relações
abusivas de prazer. Segundo Leal (2009), “[...] para o tráfico ocorrer é necessário uma rede de
profissionais e condições objetivas para organizar o mercado e o comércio” (LEAL, 2009, p.
181). Nesse sentido, o presente estudo delineou tal trama que entrelaça diferentes e
complexos entes em uma divisão do trabalho que se estende a categorias e espaços distintos
em escala global, se articulando com outros segmentos criminosos como os tráficos de drogas
e de armas, assim movendo grandes quantias, e se consolidando no mercado do sexo. Por
conseguinte, esta rede destrói e desconstrói as relações de proteção e direitos integrais,
transformando os corpos de crianças e adolescentes em valor de uso e em valor de troca em
uma escala global (FALEIROS, 2010, p. 46).
Ao terem sido identificados marcadores que interrelacionam mercantilização e intensa
exploração dos corpos das vítimas, pôde-se observar a existência de interesses e relações de
poder que incidem e envolvem o perfil das vítimas do tráfico de crianças e adolescentes para
fins de exploração sexual no Brasil, como proposto no objetivo dois deste trabalho. A partir
do qual, a reflexão realizada baseada nos referenciais, foi de que a problemática não é apenas
atravessada pela questão da fome, do dinheiro ou pela ausência de uma rede articulada de
enfrentamento e proteção, mas também pelo fato das relações de exploração serem marcadas
pelas categorias de gênero, raça/etnia e classe, imbricações essas presentes desde os tempos
da colonização, e se somam, como já supracitado, com fatores culturais. Diante destas
determinações, há o favorecimento da emergência de um contexto neoconservador que
legitima discursos de naturalização desta expressão perversa da questão social, sempre
associando um “mas” nos momentos de responsabilização dos exploradores, fato este que
rebaixa, desacredita e sentencia as próprias vítimas, muitas das quais são vistas enquanto
parcialmente culpadas ou coniventes, como figuras ativas neste cenário do tráfico com fins à
exploração sexual, por “provocar” os agressores ou por simples “escolha”.
Assim, a pesquisa partiu do pressuposto de que, embora o tráfico de pessoas seja a
terceira maior atividade ilícita do mundo, e que atinja de forma gritante mulheres, crianças e
adolescentes, sobretudo com destinação à exploração sexual, as discussões acerca do tema
são insuficientes e restritas, isso porque pouco se fala do assunto, o qual é visto, atualmente,
49

como algo de “[...] caráter lendário" (ASSIS, 2017, p. 86), assim havendo um deslocamento
da problemática do universo do real, invisibilizando as vítimas, consideradas inexistentes ou
fruto da ficção, sobre um palco de falsa normalidade montado por experientes quadrilhas que
se escondem nos bastidores do anonimato, encobertas pela manipulação de diferentes setores,
e se valendo da subnotificação das denúncias e do falso moralismo, fato este que corrobora
com a conclusão precipitada da sociedade de que não existem casos de tráfico humano no
Brasil.
Tendo como base as perguntas norteadoras para o presente trabalho – como o tráfico
de crianças e adolescentes para fins de exploração sexual se desdobra no contexto
contemporâneo brasileiro? E quais são as estratégias para o aliciamento das vítimas? –, e
também perante tudo o que foi exposto, verificou-se que o turismo sexual brasileiro e as
rodovias federais, são rotas culturalmente preferíveis aos aliciadores do país, bem como
fatores socioeconômicos, etários, sexuais e de raça/etnia estruturam um perfil de
vítimas-foco, isso porque, embora a violência sexual atinja meninos e meninas de diferentes
classes sociais, no que se trata do contexto do tráfico humano, a garantia, por parte dos
criminosos, de um enfraquecido sistema de proteção e acesso à captura e punição por parte
das famílias, é algo crucial para a manutenção de suas atividades silenciosamente e letal.
Ademais, o neoconservadorismo, embrenhado em todos os setores da vida pública e privada,
torna-se um obstáculo somado a um projeto societário de destituição de direitos,
silenciamento e negação do incentivo à autoproteção, consequentemente colaborando para
com o funcionamento da indústria do sexo. Em termos de estratégias de aliciamento, foi
constatada a existência de diversas, entretanto, a globalização via tecnologias, sobretudo das
redes sociais, fez emergir uma forma ainda mais danosa de aliciamento ao serem utilizadas
indiscriminadamente no estreitamento das fronteiras de recrutamento, tendo um potencial de
alcance e proximidade das vítimas ainda maior.
Em face de tudo o que foi colocado, e fazendo um resgate daquilo que foi pretendido
na metodologia de pesquisa, em um primeiro momento, tínhamos como delimitadores
temporais de coleta de dados, os anos de 2016 a 2022, porém, no momento de seleção dos
mesmos, foi observado que seria insuficiente à construção nos limitarmos a materiais
produzidos neste período, o que comprometeria o alcance dos objetivos firmados, dado que
autoras(es) de referência no tema elaboraram materiais importantes e que se permanecem
atuais, sobretudo, no início dos anos 2000, um momento favorável às políticas sociais no
país, de adesão do Protocolo Adicional de Palermo (2004) e da Política Nacional de
50

Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas (2006). Posteriormente à seleção, foram analisados de


forma histórica, crítica e dialética, documentos e referências bibliográficas em um universo
mais ampliado de datação, que contribuíram para a definição do que se enquadra enquanto
tráfico, quais as formas de aliciamento, as principais rotas brasileiras, e demais assuntos
essenciais à obtenção de um melhor entendimento.
Contudo, outras dificuldades para além da datação, foram identificadas ao longo do
estudo. Uma delas, ainda relacionada a essa primeira, foi que o período atual fez com que o
ambiente se tornasse desfavorável à discussão e promoção da questão, devido ao desmonte
das políticas públicas, à desvalorização dos direitos humanos e da criticidade, além da
colocação de pessoas desqualificadas, descompromissadas, neoconservadoras, contraditórias,
moralizadoras, que se colocam a favor de um retorno às políticas coercitivas – sobretudo de
retorno às bases policialescas e assistencialistas no trato de crianças e adolescentes –, e
compactuam com um projeto societário contrário ao fortalecimento da classe trabalhadora;
assumiram pastas essenciais e complexas, como foi o caso da ex-ministra da Mulher, da
Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves, fundadora de uma ONG acusada pelo
Ministério Público Federal (MPF) e indígenas, em 2018, de tráfico de crianças para a
exploração sexual (CARTA CAPITAL, 2018), mesma ex-ministra essa, que demoniza
crianças não-binárias e que, em culto, afirmou saber de esquema de tráfico de crianças e
adolescentes no Pará, alegação essa que o MPF do estado desconhece, o que gerou uma
investigação, ainda em curso, devido à gravidade da questão (BRASIL DE FATO, 2022).
Ademais, foi analisado quando procuramos a temática do tráfico de crianças e
adolescentes para fins de exploração sexual em revistas de referência do Serviço Social –
profissão generalista que compõe diferentes espaços sócio-ocupacionais de atenção ao
público infanto-juvenil –, a ausência de discussões recentes sobre o tema, mesmo que esta
seja importante e necessária à profissão. Nas revistas: Serviço Social e Sociedade,
Temporalis, Ser Social, Políticas Públicas, Katálysi, Libertas, Textos e Contextos, Revista
Argumentum, e Em Pauta, referentes aos anos de 2016 a 2022, 2.016 artigos foram
publicados, nenhum dos quais tratava do tema aqui abordado.
Ademais, pesquisar e refletir criticamente sobre o tráfico humano com fins à
exploração sexual, não é algo emocionalmente fácil. Por inúmeras vezes, foi difícil ler e
assistir documentários sobre o tema, devido à crueza da realidade posta, onde o capitalismo
explora e expropria vidas da forma mais escancarada; raptando, privando, estuprando,
51

matando, silenciando, em uma teia complexa de particularidades, que tem como raiz principal
as desigualdades de diferentes naturezas.
Outra questão, ainda na esfera particular, foi a limitação de tempo de formulação do
trabalho. Com a eclosão da pandemia por COVID-19, o mundo foi solapado, e as
Universidades públicas federais também refletiram essa conjuntura. A adoção do Ensino
Remoto Emergencial aligeirou a aprendizagem ao colocar três períodos letivos em um ano,
assim reduzindo o tempo dos semestres e, consequentemente, da elaboração dos Trabalhos de
Conclusão de Curso.
Considerando o levantamento feito, e imaginando mais tempo de elaboração de
estudos futuros, nota-se a necessidade de aprofundamento quanto ao gerenciamento da
problemática no contexto contraditório do governo Bolsonaro; bem como deve ser
aprofundado o foco nas vítimas, articulando a questão a rede de proteção gestada pelo
Sistema de Garantia de Direitos de crianças e adolescentes; e outra sugestão é a análise da
divulgação do tema nas mídias.
Apesar disso – fomentar o retorno de produções científicas –, como abordado ao
longo deste material, é importante, também, um fortalecimento das estratégias de prevenção e
proteção. O foco nas vítimas e potenciais aliciados, deve ser priorizado, nesse sentido o papel
das escolas é fundamental e estratégico, por serem espaços de acompanhamento mais
próximo e contínuo de crianças e adolescentes, sendo assim necessário no processo de
apropriação de conhecimentos que visem desenvolver a autoproteção dos mesmos, como
educação a sexual, além de exercerem seu papel de instituições que podem acionar a rede de
proteção em casos de suspeita ou confirmação de incidência de violências, dentre elas a
sexual.
O fomento de ações no Dia Internacional Contra a Exploração Sexual e o Tráfico de
Mulheres e Crianças – dia 23 de setembro – nesses espaços e em entidades públicas, também
deve ser estimulado, como estratégia de integração das redes socioassistencial, de saúde,
educação e jurídica, objetivando apropriação e atualização acerca do tema, além de uma
maior eficácia frente às quadrilhas do tráfico humano, conexão esta que deve ser estendida à
sociedade civil, a qual deve se apropriar da questão e ser estimulada a denunciar episódios de
violações de direitos, sobretudo aqueles contra crianças e adolescentes, dado que estes
constituem um público prioritário, sob responsabilidade do Estado, da família e da sociedade
na totalidade. As denúncias são outro tópico que deve ser encorajado, posto que rompem
ciclos e trazem visibilidade ao tema e voz às vítimas.
52

Em termos de categoria profissional, o Serviço Social possui um papel estratégico no


fomento de discussões e ações contra-hegemônicas junto à sociedade. A defesa da vida e dos
direitos humanos constituem direitos éticos inerentes à profissão, e necessitam, na atual
conjuntura, serem ampliados. “Nesse sentido, a agenda dos direitos humanos que aponta para
as conquistas potencialmente emancipatórias deve ser apropriada como uma plataforma de
resistência ao retrocesso e de retomada lenta do acúmulo de forças, na direção de uma
sociedade emancipada e livre” (TRINDADE, 2011 apud BARROCO, 2022, p. 20).
Portanto,
o tráfico de pessoas, a mais radical negação da dignidade e da liberdade humanas,
precisa ser conhecido, desmistificado, desmascarado e enfrentado. Para tanto,
devemos encará-lo sem medo, com transparência e de forma indignada, pois a luz
do sol é o melhor detergente (palavras de um juiz italiano que enfrentou a máfia na
Itália). E a luz vem da informação que conectará na trama da rede
nacional/internacional todas e todos que têm tolerância zero em relação à barbárie
do comércio de seres humanos no século XXI” (LUCENA, 2017, p. 14).
53

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