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UNIVERSIDADE ANHANGUERA

SUELEN MAIARA FARIAS DUARTE

PRIMEIRA INFÂNCIA NA PROTEÇÃO BÁSICA: PROGRAMA


CRIANÇA FELIZ E A ATUAÇÃO DO ASSISTENTE SOCIAL

CHAPADÃO DO SUL – MS
2023
SUELEN MAIARA FARIAS DUARTE

PRIMEIRA INFÂNCIA NA PROTEÇÃO BÁSICA: PROGRAMA


CRIANÇA FELIZ E A ATUAÇÃO DO ASSISTENTE SOCIAL

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como


requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel
em Serviço Social.

Orientador: Prof. Valquiria Aparecida Dias Caprioli

CHAPADO DO SUL –MS


2023
AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus, que a todo o momento esteve ao


meu lado, me guiando sempre para o melhor caminho.
Agradeço a minha família e amigos, onde pude contar durante esta
jornada universitária.
Aos meus coordenadores de estágio que compartilharam de seus
conhecimentos e práticas.
Em especial ao meu conjugue Cleiton e meus filhos Nathan e Arthur
que foram o meu alicerce para essa longa caminhada.
Um sonho que esta se concretizando, com muita garra,
perseverança e nunca desistindo diante a todos os desafios.
‘Conduzir a sociedade requer mais do que
conhecimento, é necessário amor pelo servir’.

Mauricio Denadai Jr.


DUARTE, Suelen Maiara Farias. PRIMEIRA INFÂNCIA NA PROTEÇÃO BÁSICA –
PROGRAMA CRIANÇA FELIZ E A ATUAÇÃO DO ASSISTENTE SOCIAL. 2023.
47 folhas. Trabalho de Conclusão de Curso Serviço Social – Universidade Pitágoras
do Paraná. Chapadão do Sul - MS. 2023.

RESUMO

O programa "Criança Feliz" é uma iniciativa do governo brasileiro que visa promover
o desenvolvimento integral de crianças na primeira infância, compreendendo o
período que vai do nascimento até os seis anos de idade. Esse programa atua na
proteção básica, ou seja, na prevenção de situações de risco e no fortalecimento
dos vínculos familiares e comunitários. O assistente social desempenha um papel
fundamental nesse contexto, atuando como um profissional capacitado para lidar
com questões sociais e contribuir para o bem-estar das crianças e suas famílias. A
primeira infância é um período crucial para o desenvolvimento físico, emocional,
cognitivo e social das crianças. Investir nessa fase da vida é fundamental para
garantir um futuro saudável e bem-sucedido para as crianças e, consequentemente,
para a sociedade como um todo. O programa Criança Feliz reconhece a importância
desse período e busca oferecer apoio e orientação às famílias, especialmente
aquelas em situação de vulnerabilidade social. O assistente social desempenha
diversas funções dentro do programa Criança Feliz, incluindo: Avaliação de
necessidades: Planejamento de intervenções: Orientação e suporte: Articulação com
outros serviços: Promoção do fortalecimento de vínculos familiares e comunitários:
O papel do assistente social no programa Criança Feliz é essencial para garantir que
as crianças tenham um ambiente seguro e estimulante para seu desenvolvimento.
Ao atuar na proteção básica e na promoção do bem-estar infantil, o assistente social
contribui para a construção de um futuro mais promissor para as crianças e para a
sociedade como um todo.

Palavras-chave: Assistente social. Programa Criança Feliz. Proteção Básica.


DUARTE, Suelen Maiara Farias. Early Childhood in Basic Protection - Criança
Feliz Program and the Role of Social Workers. 2023. 47 Sheets. Completion of
course work Social Work – Universidade Pitágoras do Paraná. Chapadão do Sul -
MS 2023

ABSTRACT

The "Criança Feliz" program is an initiative of the Brazilian government aimed at


promoting the comprehensive development of children in early childhood, from birth
to six years old. This program operates in basic protection, meaning it focuses on
preventing situations of risk and strengthening family and community bonds. Social
workers play a fundamental role in this context, serving as professionals trained to
address social issues and contribute to the well-being of children and their families.
Early childhood is a crucial period for the physical, emotional, cognitive, and social
development of children. Investing in this life stage is essential to ensure a healthy
and successful future for children and, consequently, for society as a whole. The
Criança Feliz program recognizes the importance of this period and seeks to provide
support and guidance to families, especially those in situations of social vulnerability.
Social workers perform various functions within the Criança Feliz program, including:
Needs assessment: Intervention planning: Guidance and support: Coordination with
other services: Promotion of family and community bond strengthening: The role of
social workers in the Criança Feliz program is essential to ensure that children have
a safe and stimulating environment for their development. By working in basic
protection and promoting child well-being, social workers contribute to building a
more promising future for children and society as a whole.

Keywords: Social Worker. Criança Feliz Program. Basic protection.


SUMÁRIO
1 INTRODUCÃO...................................................................................................... 07

1.1 OBJETIVOS ........................................................................................................09


1.2 JUSTIFICATIVA ..................................................................................................10
1.3 METODOLOGIA ..................................................................................................12

2 CAPÍTULO I – SER CRIANÇA...............................................................................13

2.1 Marco histórico do atendimento à infância no Brasil ...........................................13

2.2 Programa Criança Feliz.......................................................................................17

3 CAPÍTULO III - IMPACTOS DO PROGRAMA NO DESENVOLVIMENTO

COGNITIVO DE CRIANÇAS NA PRIMEIRA INFÂNCIA..........................................21

3.1 Conceitos do desenvolvimento cognitivo ............................................................21


3.2 Processos cognitivos e desenvolvimento: Uma perspectiva
abrangente.............22

4 CAPÍTULO IV - A IMPORTÂNCIA DE UM AMBIENTE SEGURO NA PROMOÇÃO

DO DESENVOLVIMENTO INFANTIL........................................................................25

5 CAPÍTULO V - CRAS ...........................................................................................28


5.1 Centro de Referência da Assistência Social........................................................28

6 CAPÍTULO VI - A PRÁTICA PROFISSIONALDO ASSISTÊNTE SOCIAL


REFERENCIADO NO ÂMBITO DO PAIF JUNTO AO PROGRAMA CRIANÇA
FELIZ..........................................................................................................................30
6.1 Serviço de proteção e atendimento integral a família..........................................32
6.2 Ação preventiva, protetiva e proativa...................................................................33

7 CONCLUSÃO ........................................................................................................41

8 REFERENCIAS .....................................................................................................
43
7

1 INTRODUÇÃO

A primeira infância, compreendendo o período que vai do


nascimento até os seis anos de idade, é amplamente reconhecida como uma fase
crucial no desenvolvimento humano. Durante esses primeiros anos, as bases
fundamentais para o crescimento físico, emocional, cognitivo e social de uma
criança são estabelecidas. Investir na promoção do bem-estar e no desenvolvimento
saudável das crianças nessa fase não apenas impacta positivamente suas vidas
individuais, mas também contribui para a construção de uma sociedade mais justa e
próspera.
No contexto brasileiro, o "Programa Criança Feliz" emerge como
uma importante iniciativa governamental que visa atender às necessidades das
crianças na primeira infância, focando na proteção básica, prevenção de riscos e
fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários. A atuação do assistente social
nesse programa desempenha um papel central na promoção do desenvolvimento
infantil saudável, na prevenção de situações de vulnerabilidade e na melhoria da
qualidade de vida das famílias envolvidas.
Esta pesquisa tem como objetivo explorar a interseção entre a
primeira infância, a proteção básica e a atuação do assistente social no âmbito do
Programa Criança Feliz. Ao compreender como os assistentes sociais
desempenham seu papel nesse contexto, podemos analisar de forma mais profunda
como as políticas públicas afetam diretamente o bem-estar das crianças e suas
famílias.
No decorrer deste trabalho, examinaremos as funções
desempenhadas pelos assistentes sociais no Programa Criança Feliz, os desafios
que enfrentam e os impactos que suas intervenções têm na vida das crianças e suas
famílias. Além disso, discutiremos as implicações mais amplas dessa abordagem
para o desenvolvimento infantil e para a sociedade como um todo.
Por meio desta pesquisa, esperamos fornecer uma contribuição
significativa para a compreensão da importância da proteção básica na primeira
infância e do papel crucial dos assistentes sociais no Programa Criança Feliz. Esta
análise crítica pretende lançar luz sobre as maneiras pelas quais podemos melhorar
8

o suporte e o cuidado oferecidos às crianças e suas famílias durante essa fase


fundamental do ciclo de vida.
9

OBJETIVOS

1.1.1 Objetivo geral

Analisar a eficácia da atuação do assistente social no Programa


Criança Feliz, no contexto da proteção básica, na promoção do desenvolvimento
infantil saudável e na prevenção de situações de vulnerabilidade durante a primeira
infância, visando contribuir para uma compreensão aprofundada.

1.1.2 Objetivos Específicos

 Analisar o contexto histórico e as bases teóricas que fundamentam o


Programa Criança Feliz, destacando seus principais objetivos e abordagens
em relação à primeira infância.
 Explorar as funções e responsabilidades específicas do assistente social no
âmbito do Programa Criança Feliz, incluindo as atividades de avaliação,
planejamento e intervenção com famílias em situação de vulnerabilidade.
 Examinar os resultados e os impactos da atuação do assistente social junto
Programa Criança Feliz em termos do desenvolvimento das crianças na
primeira infância e do fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários.
 Propor recomendações e sugestões com base nas conclusões da pesquisa
para aprimorar a atuação do assistente social no Programa Criança Feliz,
visando a melhoria da proteção básica e do bem-estar das crianças em
situação de vulnerabilidade social.
10

1.2 JUSTIFICATIVA

A primeira infância, que abrange o período que vai do nascimento


até os seis anos de idade, é reconhecida universalmente como uma fase crítica no
desenvolvimento humano. Nesses anos iniciais, ocorrem importantes avanços no
desenvolvimento físico, emocional, cognitivo e social da criança, que estabelecem
as bases para seu futuro. Portanto, investir nesse estágio é de suma importância,
não apenas para o bem-estar individual das crianças, mas também para o
desenvolvimento da sociedade como um todo.
No contexto brasileiro, o "Programa Criança Feliz" surge como uma
iniciativa governamental que visa atender às necessidades das crianças na primeira
infância, concentrando-se na proteção básica, prevenção de riscos e fortalecimento
dos vínculos familiares e comunitários. A atuação do assistente social nesse
programa é fundamental para o sucesso de suas iniciativas, visto que esse
profissional desempenha um papel-chave na promoção do desenvolvimento infantil
saudável, na prevenção de situações de vulnerabilidade e na melhoria da qualidade
de vida das famílias atendidas no âmbito do PAIF.
No entanto, apesar da importância crítica da primeira infância e da
atuação dos assistentes sociais, ainda existe uma lacuna significativa na
compreensão abrangente de como esses profissionais desempenham seu papel
dentro do Programa Criança Feliz e como suas intervenções afetam diretamente o
bem-estar das crianças e suas famílias em situação de vulnerabilidade social.
Esta pesquisa busca preencher essa lacuna, oferecendo uma
análise crítica e aprofundada da atuação do assistente social no contexto do
Programa Criança Feliz, com foco na proteção básica e no desenvolvimento infantil
na primeira infância no âmbito PAIF. Ao compreendermos melhor como esses
profissionais contribuem para o bem-estar das crianças nessa fase crucial da vida,
podemos informar políticas públicas e práticas de assistência social mais eficazes,
que beneficiem não apenas as crianças, mas também toda a sociedade.
Portanto, esta pesquisa se justifica pela sua relevância social e pela
necessidade de um maior entendimento sobre como a atuação do assistente social
impacta o desenvolvimento saudável das crianças na primeira infância, bem como o
11

fortalecimento das famílias em situação de vulnerabilidade social. Ela tem o


potencial de informar e aprimorar políticas públicas e práticas de assistência social
voltadas para esse público vulnerável, contribuindo para uma sociedade mais justa e
equitativa.
12

1.3 METODOLOGIA

O estudo teve como primícias uma análise de cunho qualitativo


bibliográfico da temática em questão, para um aprofundamento teórico e crítico
assim como as observações do trabalho do Serviço Social.

A Pesquisa bibliográfica é desenvolvida com base em material já elaborado,


constituído principalmente de livros e artigos científicos. Embora em quase
todos os estudos seja exigido algum tipo de trabalho dessa natureza, há
pesquisas desenvolvidas, exclusivamente a partir de fontes bibliográficas
(GIL, 2007, p.44).

Para realização da pesquisa bibliográfica relacionadas ao tema, foi


utilizado alguns estudos e pesquisas quanto a temática, através de artigos
científicos, teses e dissertações publicadas.
13

2 CAPÍTULO I - SER CRIANÇA

2.1 MARCO HISTÓRICOS DO ATENDIMENTO À INFÂNCIA NO BRASIL

A história do cuidado com a infância no Brasil nos ajuda a


compreender a história da Educação na Primeira Infância, pois as primeiras
preocupações com as questões relacionadas à infância marcaram fortemente o
desenvolvimento dessa etapa da educação no país. O cuidado à infância no Brasil
por muitos anos não se constituiu como um dever do Estado. Apesar das primeiras
iniciativas de cuidado com a criança no país terem sido implementadas ainda nos
períodos colonial e imperial, a partir das ações de catequese, as crianças
permaneceram invisíveis às políticas públicas brasileiras até quase metade do
século XX e as questões relacionadas à infância por muito tempo foram tratadas
como sendo unicamente da esfera privada, ou seja, de domínio familiar
(ROSEMBERG, 2006). Assim, a atenção e a educação das crianças eram
reservadas às famílias, sendo predominante a REVISTA EDUCACIONAL | v.22,
2020 4 PROGRAMA CRIANÇA FELIZ: reflexões sobre o atendimento à infância no
Brasil e os efeitos dessa política na garantia de direitos das crianças na primeira
infância sença das crianças nos ambientes domiciliares. Até mesmo o cuidado com
as crianças órfãs e/ou abandonadas vinculava-se ao domínio privado. Sobre esse
aspecto, Oliveira (2011, p.91) aponta que,

No meio rural, onde residia a maior parte da população do país na época,


famílias de fazendeiros assumiam o cuidado das inúmeras crianças órfãs ou
abandonadas, geralmente frutos da exploração sexual da mulher negra e
índia pelo senhor branco. Já na zona urbana, bebês abandonados pelas
mães, por vezes filhos ilegítimos de moças pertencentes a famílias com
prestígio social, eram recolhidos nas ‘rodas dos expostos’ existentes em
algumas cidades desde o início do século XVIII

Apenas com base em transformações sociais desencadeadas já no


início do século XX, como o crescimento populacional, o aumento da migração da
zona rural para a zona urbana, a industrialização e a participação das mulheres no
mercado de trabalho, o Estado começa a se preocupar com o atendimento à
14

infância, principalmente no que diz respeito às áreas assistencial e educacional. Foi


por meio das pressões da população por parte de imigrantes e trabalhadores
urbanos (incluindo as mães trabalhadoras), que percebiam as instituições de
atendimento às crianças pequenas como um espaço de proteção para os seus
filhos, e da preocupação do Estado com a diminuição da mortalidade infantil, com a
prevenção contra a criminalidade e com a promoção da tranquilidade das elites
(CRUZ, 2000), que se deram as primeiras iniciativas voltadas ao atendimento das
crianças em ambientes não domiciliares.
Somente a partir de meados das décadas de 1960, sob forte
influência de organizações internacionais, como o Fundo das Nações Unidas para a
Infância - UNICEF, é que a atenção pública se volta com maior expressividade ao
atendimento educacional às crianças de até seis anos. Isto se deu pela difusão da
ideia de que o progresso do país estava vinculado diretamente ao atendimento
prestado às suas crianças e aos jovens. Sobre a atuação do UNICEF nesse período,
Cruz (2000, p. 21) afirma que

Na década de 60, passou a atuar de maneira mais contínua junto aos


governos dos países ajudados no sentido de promover a melhoria das
condições de vida das crianças. Influenciaram profundamente os programas
aqui implantados as recomendações deste organismo para que os países
subdesenvolvidos buscassem novas alternativas para o atendimento de um
maior número de crianças. Isto deveria acontecer principalmente através de:
utilização de espaços disponíveis; trabalho voluntário, da família e da
comunidade.

Apenas em 1975 é estabelecida a Coordenação de Educação Pré-


escolar vinculada ao Ministério da Educação, fato conduzido pelo entusiasmo da
visão da Educação Infantil como solução para os problemas da pobreza e para as
altas taxas de reprovação no ensino de 1º grau (DREWINSKI, 2001) e,
posteriormente, no ano de 1981, quando foi lançado o Programa de Educação Pré-
escolar, seguindo as propostas do UNICEF, que vinculou mais uma vez a educação
à assistência e definiu como áreas prioritárias de atendimento (no modelo de baixo
custo) as periferias urbanas e as regiões Norte e Nordeste (CRUZ, 2000). Com base
no que foi exposto, podemos perceber que o atendimento à infância pobre no país,
15

até mais da metade do século XX, foi firmado através de práticas assistencialistas e
que concebiam as necessidades das crianças de forma fragmentada. Somente a
partir das mudanças sociais, políticas e econômicas após o regime militar
avançaram nas tentativas de superação dessa abordagem no cuidado com a
infância. A geração de conhecimentos científicos sobre os primeiros anos de vida; a
disseminação da concepção de criança como sujeito social, ativo e de direitos; a
importância conferida à Educação Infantil para o desenvolvimento das crianças,
aliadas ao aumento da participação popular e dos movimentos sociais nas questões
políticas contribuíram para a realização de ações efetivas por parte do Estado. Essa
mudança se materializou em termos da legislação, que definiu a sua
responsabilidade com o atendimento educacional das crianças, a partir da
Constituição Federal de 1988, sendo essa responsabilidade reforçada
posteriormente pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) - lei nº 8.069/1990
e pela LDB nº 9.394/1996.
À medida que buscamos debater até o momento, ainda que
tenhamos avançado em termos de reconhecimento legal, a Educação Infantil, no
Brasil, como política pública educacional, não foi um processo que ocorreu
automaticamente com a sua inclusão na Constituição.
Mesmo que as considerações teóricas, as pesquisas, as pressões
sociais em prol da ampliação das vagas nas instituições públicas tenham avançado,
a execução desse direito e a consolidação de compreender a Educação Infantil
como política educacional e não como programa, como ação pontual de assistência,
não foram consolidadas. Assim, as disputas continuam a lógica que originou essa
etapa da educação no país, qual seja: compreender o atendimento à criança como
uma ação para superação de problemas sociais preeminentes não foi suplantado.
Nesse contexto, percebemos como um ponto de referência
significativo de mudança a aprovação da Lei N° 11.494, de 20 de junho de 2007, que
aprovou o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de
Valorização dos Profissionais da Educação - Fundeb (BRASIL, 2007), a qual incluiu
a Educação Infantil configurando, assim, o primeiro momento que essa etapa foi
contemplada com financiamento, na lógica de uma política educativa. Além do
Fundeb, ainda em 2007, foi instituído o Programa Nacional de Reestruturação e
Aquisição de Equipamentos para a Rede Escolar Pública de Educação Infantil (Pro -
16

infância), instituído pela Resolução Nº 6, de 24 de abril de 2007 , compondo uma


das ações do Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE) do Ministério da
Educação (MEC), com o objetivo tanto de ampliar e melhorar a infraestrutura física
da rede pública de Educação Infantil, como possuir ações de assessoramento e
acompanhamento pedagógico às redes e sistemas de ensino municipais (BRASIL,
2007). Esses investimentos resultaram em ampliação no atendimento, conforme é
possível observarmos ao compararmos as taxas de matrículas a partir de 2001.
Com a permanência no Governo Federal, em 2013, foi criado o
Programa Brasil Carinhoso, sancionado pela Lei Nº 12.722, de 3 de outubro de 15
2012, que consistia na transferência automática de recursos financeiros para custear
despesas com manutenção e desenvolvimento da Educação Infantil, contribuir com
as ações de cuidado integral, segurança alimentar e nutricional, além de garantir o
acesso e a permanência da criança nessa etapa de ensino (BRASIL, 2012). Por um
lado, havia ações do Governo Federal para potencializar a Educação Infantil como
política pública educacional universal; por outro, havia movimentos que não abriam
mão da ideia da Educação Infantil como política compensatória, quer seja no sentido
de ser uma etapa preparatória para o sucesso escolar, quer seja na perspectiva da
necessidade em se educar as famílias como estratégia de combate à pobreza. É
nesse contexto que redes são organizadas, como, por exemplo, a Rede Nacional
Primeira Infância (RNPI), criada em 2007 e composta por organizações da
sociedade civil, do governo, do setor privado, de outras redes e de organizações
multilaterais.
A RNPI operou em conjunto com o governo de maneira que, em
2010, elaborou e promoveu a implementação do Plano Nacional pela Primeira
Infância, aprovado pelo Conselho Nacional pelos Direitos da Criança (Conanda) e
acolhido pela Secretaria de Direitos Humanos da Presidência como um plano
integral - que engloba todos os direitos da Primeira Infância, proporcionar aos
participantes a base de conhecimento e as ferramentas necessárias para projetar e
implementar políticas públicas e programas sociais mais eficazes.
Essa concepção foi estruturada na forma de Projeto de Lei,
apresentado pelo deputado Osmar Terra e comandado pela Frente Parlamentar da
Primeira Infância, composta por mais de 200 parlamentares, dos quais 23
participaram do curso supracitado. Em dezembro de 2013, foi apresentado o Projeto
17

de Lei da Primeira Infância 6.998/2013 (BRASIL,2013); e, pouco depois, em


fevereiro, foi criada a Comissão Especial da Primeira Infância com o objetivo de
analisar o Projeto. O Projeto de Lei 6.998/2013 cria uma série de programas,
serviços e iniciativas voltados à promoção do desenvolvimento integral das crianças
desde a gestação até os seis anos de idade, sendo indicada como uma necessidade
de urgência, haja vista que, para atender à primeira infância, a inciativa deve ser
intersetorial (BTASIL,2013).
Com o golpe parlamentar-jurídico de 2016, o cenário é modificado
drasticamente, e inicia-se um processo veloz de retrocessos nos direitos sociais, sob
o discurso da necessidade de retomar-se o crescimento econômico, o que implicou
agravamento das desigualdades sociais, oneração da classe trabalhadora com a
perspectiva de redução de gastos e a reconfiguração no provimento da Proteção
Social. Nesse sentido, (Campos e Teixeira) destacam que:

Em grandes linhas, as reformas sociais implementadas nos diversos países


da região tendem a transferir ao setor privado (mercantil e não mercantil),
incluindo a família, responsabilidades na proteção social, inclusive como
parceira na execução das políticas sociais. O mercado é fortalecido na tríade
da proteção entre Estado/mercado/família, mas considerando as
desigualdades geradas pelo mercado, e sua restrição aos que detêm
melhores rendas, a família e as organizações da sociedade civil
desempenham importantes funções de proteção, acentuando se a ampla
presença de regimes “familistas” de proteção social na maioria dos países
latino-americanos. (CAMPOS; TEIXEIRA,2010).

Nesse contexto, o Governo Federal, que tomou posse após o golpe,


lançou o Programa Criança Feliz, apresentando-o como seu “carro chefe” para
atenção à infância, em substituição ou em detrimento às políticas sociais.

2.3 PROGRAMA CRIANÇA FELIZ

Programa, de natureza social, foi implementado pelo governo federal


brasileiro em 5 de outubro de 2016, a partir da publicação do Decreto nº 8.869. A
apresentação do Programa foi realizada por sua “embaixadora”, Marcela Temer,
18

escolhida por ser primeira dama e por representar, para aquele governo, uma
personificação de mulher na qualidade de mãe, esposa e, consequentemente, boa
cuidadora O Programa é uma proposta para a execução de políticas governamentais
voltadas à primeira infância e foi estabelecido com o caráter interdisciplinar, ou seja,
Envolve a coordenação de várias políticas públicas setoriais com o objetivo de
garantir as medidas de proteção e promoção dos direitos das crianças na primeira
infância, partindo de uma visão abrangente de todos os seus direitos (BRASIL,
2016a). Assim, conforme o artigo 5º do Decreto nº 8.869 (BRASIL, 2016b),

Art. 5º O Programa Criança Feliz será implementado a partir da articulação


entre as políticas de assistência social, saúde, educação, cultura, direitos
humanos, direitos das crianças e dos adolescentes, entre outras.

De acordo com os artigos 1º e 2º do mesmo Decreto (BRASIL,


2016b), O objetivo do Programa é fomentar o desenvolvimento completo das
crianças na primeira infância, levando em conta sua família e seu ambiente de vida.
A sua prioridade é o atendimento de: gestantes, crianças de até três anos e suas
famílias beneficiadas pelo Programa Bolsa Família; crianças de até seis anos e suas
famílias seguradas pelo Benefício de Prestação Continuada; e crianças de até seis
anos afastadas do convívio familiar em razão da aplicação de medida de proteção.
Essa mesma meta já está incluída no contexto do Sistema Único de Assistência
Social – SUAS, que, por sua vez, é uma política nacional que incorpora níveis de
Proteção Social Básica e Especial. E para além do âmbito da assistência social, o
desenvolvimento integral da criança na primeira infância também compete ao setor
educacional, o que é previsto no artigo 29 da LDB, que define;

Art. 29. A educação infantil, primeira etapa da educação básica, tem como
finalidade o desenvolvimento integral da criança até seis anos de idade, em
seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social, complementando a
ação da família e da comunidade.

Portanto, pode-se afirmar que o estabelecimento deste Programa é


predominantemente uma política governamental específica e direcionada, em vez de
19

ser uma política de Estado, muitas vezes sobrepondo-se a políticas setoriais já


estabelecidas, como os serviços socioassistenciais e educacionais.
Os objetivos do Programa Criança Feliz são apresentados no Art. 3º
do referido decreto (BRASIL, 2016b):

I – Promover o desenvolvimento humano a


partir do apoio e do acompanhamento do desenvolvimento infantil integral
na primeira infância;
II – Apoiar a gestante e a família na preparação para o nascimento e nos
cuidados perinatais;
III- colaborar no exercício da parentalidade,
fortalecendo os vínculos e o papel das famílias para o desempenho da
função de cuidado, proteção e educação de crianças na faixa etária de até
seis anos de idade;
IV – Mediar o acesso de gestantes, das crianças
na primeira infância e das suas famílias a políticas de serviços públicos de
que necessitem;
V- Integrar, ampliar e fortalecer ações de
Políticas públicas voltadas para gestantes,
Crianças na primeira infância e suas famílias.

O ponto central da atuação do Programa são as visitas às


residências, cujo objetivo é apoiar e monitorar o desenvolvimento completo das
crianças na primeira infância, bem como auxiliar a gestante e a família na
preparação para o nascimento e nos cuidados perinatais. Além disso, o programa
tem o propósito de contribuir para o exercício da parentalidade, fortalecendo os
laços e o papel das famílias na prestação dos cuidados, proteção e educação das
crianças sob sua tutela. Esses elementos também têm suporte na disponibilização
de serviços socioassistenciais, que, ao fortalecer a capacidade de proteção das
famílias, elevam o público atendido pelo Programa à condição de prioridade
absoluta estabelecida pelo atual marco legal do país. As visitas domiciliares
consistem em uma ação planejada e sistemática, com uma abordagem específica
para o apoio e cuidado da família, fortalecimento dos laços familiares e estímulo ao
desenvolvimento infantil. Ao se integrar com o SUAS, as visitas domiciliares do CF
aprimoram a perspectiva de prevenção e proteção proativa no contexto da proteção
social. Além disso, as visitas domiciliares do PCF incluem ações suplementares que
20

envolvem o engajamento das famílias em outras iniciativas do SUAS, saúde,


educação e outras políticas, de acordo com suas necessidades. Portanto, é
reconhecido que as visitas domiciliares permitem a identificação de demandas
familiares para diversas políticas públicas.
21

3 CAPITULIO III - IMPACTOS DO PROGRAMA NO DESENVOLVIMENTO


COGNITIVO DE CRIANÇAS NA PRIMEIRA INFÂNCIA

3.1CONCEITOS DO DESENVOLVIMENTO COGNITIVO

A primeira infância é um período crítico para o crescimento


cognitivo, e o Programa Criança Feliz procura otimizar o potencial cognitivo das
crianças em situação de vulnerabilidade social. De acordo com Nelson et al. (2007),
as vivências durante esses primeiros anos têm um impacto duradouro na estrutura
cerebral e nas competências cognitivas. O Programa Criança Feliz, por meio de
visitas domiciliares que englobam atividades motivadoras, interações recreativas e
educacionais, busca fomentar o desenvolvimento cognitivo. Pesquisas, como o
estudo de Britto et al. (2017), demonstraram que a participação no programa está
ligada a melhorias substanciais na aquisição de vocabulário, capacidades
matemáticas e desempenho escolar. A interação entre visitadores e crianças é
fundamental para criar um ambiente enriquecedor e estimulante, que impacta
positivamente o desenvolvimento cognitivo.

"O principal objetivo da educação é criar pessoas capazes de fazer coisas


novas, não simplesmente repetir o que outras gerações fizeram" (Piaget,
1973).

A prioridade de Piaget na promoção da cognição ativa e na


relevância de incentivar a habilidade das crianças de construir conhecimento por
meio da exploração e da solução de desafios. Isso se alinha com sua crença de que
a cognição é crucial para o crescimento e que a aprendizagem é um processo de
exploração e construção de significado.
22

3.2- PROCESSOS COGNITIVOS E DESENVOLVIMENTO: UMA PERSPECTIVA


ABRANGENTE

Os processos cognitivos têm um papel essencial no progresso


humano, afetando como percebemos, adquirimos conhecimento, lembramos e
fazemos escolhas. Compreender esses processos é de grande importância para a
psicologia do desenvolvimento, pois eles definem nossa evolução cognitiva e afetam
nossa habilidade de se ajustar ao ambiente. Neste texto, investigaremos os
principais processos cognitivos e sua importância para o desenvolvimento,
destacando a relevância de uma abordagem integrada.
Os processos perceptuais e de atenção são os alicerces da
cognição, influenciando nossa capacidade de absorver informações do ambiente. O
renomado psicólogo Jerome BRUNER observou que;

"o ato de perceber é, por si só, uma operação criativa" (BRUNER, 1973).

Isso destaca como nossa percepção ativa molda nossa


compreensão do mundo. O desenvolvimento desses processos é essencial para a
construção do conhecimento e a adaptação ao ambiente.
A memória tem um papel fundamental na aquisição do
conhecimento e no desenvolvimento. "A memória é a inteligência do tempo", como
observado por Elie Wiesel. A memória nos permite reter e recuperar informações
passadas, aprendendo com nossas experiências. O processo de aprendizado é
intrinsecamente ligado à memória, à medida que adquirimos novos conhecimentos e
os integramos em nossa compreensão do mundo.
A resolução de problemas e a tomada de decisão são processos
cognitivos complexos que moldam nossa capacidade de enfrentar desafios e tomar
decisões informadas. Herbert Simon, um dos pioneiros na teoria da tomada de
decisão, afirmou que;

"A ciência do design é uma ciência da tomada de decisão" (Simon, 1988).


23

Isso demonstra a relevância da realização de escolhas bem


fundamentadas em nossa existência. O desenvolvimento dessas habilidades é
essencial para a autonomia e o sucesso em diferentes fases da vida.
Os processos cognitivos desempenham um papel central no
desenvolvimento humano. Eles moldam nossa compreensão do mundo, nossa
capacidade de aprender e lembrar, e nossa habilidade de resolver problemas e
tomar decisões. Compreender e estudar esses processos é crucial para avançar na
psicologia do desenvolvimento e na promoção de um crescimento cognitivo
saudável. Uma abordagem integrada que considere a interconexão desses
processos é essencial para uma compreensão abrangente do desenvolvimento
humano.
Testes padronizados são amplamente utilizados no Brasil para
avaliar o desenvolvimento cognitivo em crianças na primeira infância. O Teste Não-
Verbal de Inteligência (TONI-3) é um exemplo, sendo uma ferramenta que busca
medir a inteligência não-verbal, tornando-o adequado para crianças com diferentes
níveis de habilidades linguísticas (TONASCIA & RIZZUTTI, 2016). Esses testes
oferecem avaliações quantitativas do desenvolvimento cognitivo, permitindo
comparações com normas nacionais.
Medidas de desenvolvimento, como a Escala de Desenvolvimento
Infantil (EDI), têm sido amplamente adotadas no Brasil. A EDI avalia várias áreas do
desenvolvimento, incluindo o cognitivo, por meio da observação do comportamento
da criança em diferentes contextos (RIBEIRO, SCLIAR, & STOBAUS, 2016). Essas
medidas permitem uma avaliação mais holística e adaptada à realidade brasileira.
A análise da comunicação e linguagem é crucial no cenário
brasileiro, dado o papel da linguagem no desenvolvimento cognitivo. O Teste de
Linguagem Infantil (ABFW) é uma ferramenta desenvolvida para avaliar a linguagem
oral de crianças brasileiras, considerando especificidades linguísticas e culturais
(Andrade, BEFI-Lopes, Fernandes, & WERTZNER, 2004). Essa abordagem permite
uma avaliação mais precisa do desenvolvimento cognitivo ligado à linguagem.
Métodos qualitativos, entrevistas cognitivas como e observação
direta, também são aplicados no Brasil. A Entrevista Clínica de Diagnóstico de
Revisão (CDR) é usada para obter informações detalhadas sobre o pensamento e a
resolução de problemas da criança (PAIXÃO & CIASCA, 2017). A observação direta
24

em situações de aprendizado e interações sociais, adaptada à realidade brasileira,


oferece uma visão valiosa do desenvolvimento cognitivo.
A análise do desenvolvimento cognitivo em crianças na primeira
infância no Brasil envolve uma variedade de ferramentas e métodos, adaptados às
especificidades do contexto nacional. A combinação de abordagens quantitativas,
como testes padronizados, com abordagens qualitativas, como observação direta e
entrevistas, oferece uma compreensão mais completa do desenvolvimento cognitivo
dessas crianças. Essas ferramentas e abordagens desempenham uma função
essencial na promoção de intervenções precoces e no auxílio ao crescimento
saudável das crianças no Brasil.
25

1 CAPITULO IV - A IMPORTÂNCIA DE UM AMBIENTE SEGURO NA


PROMOÇÃO DO DESENVOLVIMENTO INFANTIL

Sabemos que o Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA surgiu


para assegurar os direitos das crianças e adolescentes fixando medidas de proteção
e assistência a serem executadas em conjunto pela família, sociedade e Estado
onde essas medidas protetivas se caracterizam em: medidas de proteção onde
visam que a crianças ou adolescente não venha a sofrer maus tratos e punições
vindas do estado e da família.
No dia 13 de julho de 1990, “nasceu” o Estatuto da Criança e do
Adolescente (ECA), por meio da Lei nº 8.069/90, a qual foi fruto de enorme
mobilização no intuito de efetivar os direitos de crianças e adolescentes, não mais
firmados em um código ultrapassado e conservador, mas baseados em uma nova lei
apontando a proteção integral e o reconhecimento de crianças e adolescentes
enquanto sujeitos de direitos (ATAÍDE; SILVA, 2014).
De acordo com o Art. 98 do ECA:

As medidas de proteção à criança e ao adolescente são aplicáveis sempre


que os direitos reconhecidos nesta Lei forem ameaçados ou violados:
I - Por ação ou omissão da sociedade ou do Estado;
II - Por falta, omissão ou abuso dos pais ou responsável;
III - em razão de sua conduta.

O Programa Governamental Primeira Infância no SUAS, no qual


tecnicamente se insere o Programa Criança Feliz (PCF), objeto de estudo do
presente trabalho, constitui-se como programa de Assistência Social nos termos do
artigo 24 da LOAS, como ações socioassistenciais complementares e integradas a
serviços e benefícios socioassistenciais, (no caso integrado e complementando o
PAIF/CRAS – Serviço de Atendimento a Indivíduos e Famílias/CRAS/SUAS), que
visam qualificar, melhorar e incentivar os benefícios e serviços de Assistência Social.
O Programa Governamental Primeira Infância no SUAS é ação de Proteção Social
Básica (PSB), concebida pelo então Ministério do Desenvolvimento Social (MDS),
hoje Ministério da Cidadania, dentro da Políticas Pública Social Setorial de
Assistência Social no âmbito do SUAS e voltada e atendendo a Política Pública
Social Transversal e ao Plano Nacional pela Primeira Infância (política pública
intersetorial e interdisciplinar), o qual é operado de forma municipalizada,
26

diretamente pela Prefeitura ou desta em parceria com Organizações da Sociedade


Civil (OSCs), reconhecidas como Entidades de Assistência Social, a partir de
parceria no regime de mútua cooperação para a consecução de finalidades de
interesse público e recíproco nos termos da Lei Federal n. 13.019, de 2014 e
alterações posteriores. (BRASIL, 1993; BRASIL, 2014). Sobre serviços
socioassistenciais, podemos concebê-los como aquelas ações de Assistência Social
que ocorrem junto a população residente em um determinado território (SIGAS, s.d.)
que delas necessitam. Cabe informar que PCF tem como embasamento
metodológico o “Programa Primeira Infância Melhor” (PIM/RS), implantado
oficialmente pela Portaria n. 15/2003, instituído como Política Pública pela Lei.
Estadual n. 12.544/06 (RIO GRANDE DO SUL, 2006) e baseado no Programa
“Educa a tu hijo” de Cuba e o manual de “Cuidados para o Desenvolvimento da
Criança (CDC) – UNICEF/OPAS” (BRASIL, 2017)
A primeira infância e o desenvolvimento humano previsto pelo ECA,
estabelece entre as condutas da criança e os recursos de seu meio imprime um
caráter de extrema relatividade ao processo de desenvolvimento. Contudo esta
permeabilidade às influências do ambiente e da cultura, o desenvolvimento tem uma
dinâmica e um ritmo próprios, resultantes da atuação de princípios funcionais que
agem como uma espécie de leis constantes. WALLON (1962).
Para WALLON (1962),

O homem é resultado de influências sociais e fisiológicas, sendo os dois


aspectos — orgânico e social — fundamentais para o desenvolvimento e
especialmente dependentes do contexto sociocultural. WALLON (1962).

Portanto, com base nos objetivos propostos, o PCF é um programa


de promoção da parentalidade do cuidado responsivo a partir de dois eixos de
atuação: visitas domiciliares e ações intersetoriais. Estes dois eixos de atuação são
complementares para a promoção e proteção dos direitos da criança nesta fase da
vida, uma vez que no contexto de desigualdades sociais existente no Brasil, as
visitas domiciliares não são suficientes para potencializar os cuidados parentais,
visto que o público prioritário do programa faz parte do público da política de
assistência social. De acordo com o a Tipificação nacional de Serviços
Socioassistencial (2009), a atenção às crianças na primeira infância, a atuação do
SUAS vem ocorrendo por meio de ofertas tanto na Proteção Básica (PSB), quanto
27

na Proteção Social Especial (PSE), junto a entidades assistenciais, hospitais,


escolas e outros estabelecimentos, bem como em programas comunitários
governamentais (MDS, 2017).
É importante destacar que o Programa Criança Feliz, é ofertado
pelo CRAS, contudo deve-se organizar um serviço junto ao supervisor do Programa
um encaminhamento para o PAIF onde o mesmo fara um trabalho técnico por parte
dos profissionais da área, principalmente do assistente social, realizando
encaminhamentos, e a elaboração de planos individuais, todavia temos por parte
dos assistentes sociais no CRAS com relação a garantia de direitos e de um
desenvolvimento afetuoso e Harmonioso, e na construção de uma autonomia das
famílias.
Faz parte do trabalho do assistente social nos CRAS a acolhida,
acompanhamento a famílias mais vulneráveis, de modo proativo, protetivo,
preventivo e territorializado, assegurando o acesso a defesa de direitos, exatamente
como contraponto à invisibilidade do público e à naturalização da pobreza e das
desigualdades em suas múltiplas dimensões: sociais, econômicas, políticas e
culturais. Visa, portanto, por parte dos profissionais de serviço social a articulação
com outras políticas públicas, e com o programa municipal de atendimento que
assegurem assim a intersetorialidade.
28

5 CAPITULO V – CRAS

5.1 CENTRO DE REFERÊNCIA DA ASSISTÊNCIA SOCIAL – CRAS

O Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) e o Programa


Criança Feliz são programas e serviços sociais que têm como objetivo principal o
atendimento e assistência a famílias em situação de vulnerabilidade social, com foco
especial no desenvolvimento infantil. Eles estão relacionados e podem trabalhar de
forma integrada para melhor atender às necessidades das famílias e das crianças
em situação de vulnerabilidade.
1O CRAS é uma unidade governamental descentralizada da
Assistência Social, que viabiliza o primeiro contato das famílias com os direitos
socioassistenciais e, consequentemente, com a proteção social. Dessa forma, ele
atua como a principal via de acesso dos beneficiários da política de assistência
social à rede de Proteção Básica e é a instância de referência para direcionamentos
à Proteção Especial.
A organização desempenha uma função central na área onde está
situada, cujo local físico precisa estar alinhado com as atividades sociais realizadas
com as famílias residentes em sua região de atuação e dispõe de uma equipe
multidisciplinar de referência.
O Centro de Referência de Assistência Social é uma unidade de
amparo social básico do SUAS, e o propósito da organização é a recepção das
famílias e prevenção em situações de vulnerabilidade social, unindo os serviços de
Proteção Social Básica, por meio da disponibilização da rede socioassistencial,
políticas governamentais locais, através do estímulo das capacidades por meio de
Programas e Iniciativas de fortalecimento de vínculos e grupos, incentivando a
cidadania.
As principais atividades do CRAS englobam os Serviços de
Convivência e Fortalecimento de Vínculos – SCFV, que envolvem atividades em
grupo; registro único, realizado para todas as famílias que recebem assistência do
CRAS e para acessar o Programa Bolsa Família - PBF; Programa Criança Feliz, que
visa ao desenvolvimento infantil na primeira infância e ao fortalecimento de vínculos;
29

e serviços socioassistenciais, como benefícios temporários, passe livre, BPC, entre


outros.
Frequentemente, o Programa Criança Feliz é implantado em
colaboração com o CRAS. O CRAS funciona como ponto de contato para identificar
e direcionar as famílias que se beneficiariam do Programa Criança Feliz. Assim, o
CRAS auxilia na identificação de famílias em situação de vulnerabilidade que têm
crianças na primeira infância e as encaminha para o programa.
O serviço primordial disponibilizado é o Serviço de Proteção e
Atendimento Integral à Família – PAIF, que colabora com o Programa Criança Feliz
ao possibilitar o acesso aos direitos para melhorar a qualidade de vida das crianças
e famílias assistidas pelo programa, visando a estabelecer um ambiente propício ao
crescimento e desenvolvimento saudável de todas as crianças.
30

1 CAPÍTULO VI – A PRÁTICA PROFISSIONAL DO ASSISTENTE SOCIAL


REFERENCIADO NO ÂMBITO DO PAIF JUNTO AO PRGRAMA CRIANÇA FELIZ

Dentro do Programa Criança Feliz, o assistente social desempenha


um papel crucial na promoção do desenvolvimento infantil saudável e no apoio às
famílias, especialmente aquelas em situação de vulnerabilidade. Realizando
avaliações das necessidades das famílias atendidas pelo programa. Isso inclui
identificar fatores de risco, vulnerabilidades e desafios que possam afetar o
desenvolvimento das crianças. O assistente social inicia a avaliação coletando
dados relevantes sobre a família, incluindo sua composição, situação
socioeconômica, histórico familiar e quaisquer desafios específicos que enfrentem.
Isso pode ser feito por meio de entrevistas, questionários e observação direta
durante as visitas domiciliares.
Durante a avaliação, o assistente social identifica fatores de risco
que possam afetar o desenvolvimento infantil. Isso pode incluir questões como
pobreza, falta de acesso a serviços de saúde, educação precária, desemprego,
violência doméstica, abuso de substâncias, entre outros. Além de identificar fatores
de risco, o assistente social também procura identificar vulnerabilidades específicas
das famílias e das crianças. Isso pode incluir problemas de saúde, deficiências,
situações de violência, falta de suporte familiar, entre outros. Paralelamente à
identificação de desafios, o assistente social também analisa os recursos e
potenciais da família. Isso envolve identificar as habilidades, conhecimentos e
ativos que a família possui e que podem ser mobilizados para promover o
desenvolvimento das crianças. Com base na avaliação de necessidades, o
assistente social trabalha em conjunto com a família para estabelecer metas
específicas e planos de intervenção. Esses planos podem incluir ações concretas
para enfrentar os desafios identificados e aproveitar os recursos disponíveis.
O principal órgão que fornece serviços socioassistenciais com o
objetivo de fortalecer os laços familiares, agrupar pessoas com base na faixa etária
(incluindo crianças, adolescentes, gestantes e idosos) para participação em grupos,
onde se previnem situações de vulnerabilidade ou violência social. Essas ações são
31

realizadas por meio da prestação do Serviço de Proteção e Atendimento Integral à


Família (PAIF). O PAIF incorpora dois pilares do SUAS: o enfoque sociofamiliar, que
coloca a família como o centro da intervenção, e a abordagem territorial, que implica
em estudar o ambiente social, ou seja, o território, para entender a situação de
vulnerabilidade. Além de realização de rodas de conversas com os usuários e
atividades com os componentes do grupo de serviço de convivência e fortalecimento
de vínculos. Segundo o MDS, as principais funções do CRAS são:

Ofertar o serviço PAIF e outros serviços, programas e projetos


socioassistenciais de proteção social básica, para as famílias, seus
membros e indivíduos em situação de vulnerabilidade social; articulando e
fortalecer a rede de Proteção Social Básica local; prevenindo as situações
de risco em seu território de abrangência fortalecendo vínculos familiares e
comunitários e garantindo direitos.

Em todos os CRAS, é obrigatória a coordenação da rede


socioassistencial de proteção social básica em sua área de abrangência e a oferta
do Programa de Atenção Integral à Família-PAIF. A partir de 19 de maio de 2004,
esse programa se tornou uma ação contínua e compulsória da Assistência Social,
com o propósito de fortalecer o papel de proteção das famílias, prevenir o
rompimento dos vínculos familiares e comunitários, promover o desenvolvimento
social e econômico das famílias, aumentar o acesso a benefícios, como o Bolsa
Família e o Programa Criança Feliz, e serviços socioassistenciais, permitindo a
conexão com outros serviços setoriais. Além disso, o programa oferece apoio às
famílias que incluem membros que necessitam de cuidados especiais.
32

1.1 SERVIÇO DE PROTEÇÃO E ATENDIMENTO INTEGRAL A FAMÍLIA.

Ao implementar as atividades do PAIF, é fundamental que a equipe


de referência se afaste das ações baseadas no senso comum, que sem
questionamentos ou reflexões, se baseiam em ideias inalteráveis, que perpetuam
estereótipos e, em alguns casos, culpam as famílias por sua situação, mantendo o
status quo e dificultando qualquer possibilidade de mudança na realidade ou de se
tornarem protagonistas de suas próprias histórias de vida.
A atuação conjunta do Trabalhador Social em parceria com o
Psicólogo é essencial nesta unidade, uma vez que a abordagem acolhedora e a
escuta atenta e qualificada permitem identificar as reais necessidades da família. A
Resolução N 17, de 20 de junho de 2011, reforça o papel da equipe de referência na
proteção social básica, com ênfase no trabalho do psicólogo e do Trabalhador
Social, como estabelecido na NOB-RH/SUAS – 2016, um regulamento que orienta a
gestão do trabalho no SUAS. São eles os responsáveis pela prestação dos serviços
oferecidos, que estabelecem a base do serviço para os cidadãos do Estado.
A função da psicologia é mantida em conjunto com o serviço social
em relação ao indivíduo no contexto social e familiar, o trabalho em equipe, a
criação de sua narrativa de vida, a garantia de seus direitos, a reconstrução de sua
história e o fortalecimento do sentimento de pertencimento, em relação à identidade
coletiva construída a partir da convivência comunitária, sendo fundamental nos
processos de acolhimento.
Nos grupos, é uma responsabilidade fundamental do profissional
estabelecer um vínculo contínuo com as famílias assistidas pelo PAIF, pois o vínculo
promoverá a formação de conexões de pertencimento e empoderamento em uma
relação dialética, resultante do trabalho com pessoas, no qual ambas as partes se
transformam e influenciam mutuamente, utilizando uma comunicação de fácil
compreensão e evitando qualquer expressão de desaprovação ou preconceito.
O profissional do trabalho social não deve constranger os
beneficiários nem utilizar terminologia técnica, uma vez que a maioria do público-
alvo possui níveis de instrução limitados e não está familiarizado com siglas e
regulamentações da assistência social. É importante que o usuário se sinta à
vontade para se expressar e compartilhar suas experiências e desafios, o que só
33

ocorre quando ele percebe que o profissional é confiável e demonstra empatia no


atendimento.
É crucial que se realizem trabalhos socioeducativos com as famílias
ou seus integrantes, como por exemplo, atividades na sala de brincadeiras para
crianças que estejam acompanhadas de suas mães ou irmãos, ou rodas de
conversa com grupos de idosos que estejam sob os cuidados de seus responsáveis.
Nos grupos, é importante criar um ambiente propício para a troca de experiências, a
discussão de desafios e o reconhecimento das habilidades individuais.
No que diz respeito à particularidade do trabalho, os profissionais
precisam planejar atividades seguindo o modelo de oficinas de análise e/ou de
interação. A primeira é uma dinâmica de grupo que se concentra nos laços que o
grupo busca desenvolver.
Nesta sessão, podem ser incorporados recursos recreativos e
participativos que tornam o processo de análise mais acessível. A segunda categoria
de oficina se baseia em um grupo que compartilhe preocupações de interesse
comum de maneira coletiva, utilizando várias abordagens metodológicas. Enquanto
na oficina de análise o foco principal é discutir uma questão relacionada às vivências
dos participantes, na oficina de interação, o objetivo é que o grupo aborde suas
relações familiares e comunitárias.
No que diz respeito à promoção de conquistas materiais, o PAIF
deve, através de encaminhamentos, inclinar-se a atender essas necessidades,
visando ao fornecimento das demandas das famílias. Através de uma análise social,
o profissional de Serviço Social compreende a situação familiar e as barreiras
sociais, o que possibilita a implementação de ações em colaboração com essas
famílias, com o objetivo de promover a independência e superar as vulnerabilidades,
permitindo que seus membros recuperem a autonomia e a dignidade social,
desenvolvendo suas habilidades.

6.2 AÇÃO PREVENTIVA, PROTETIVA E PROATIVA

O Centro de Referência de Assistência Social – CRAS tem como


objetivo principal a atuação preventiva, visando evitar que as famílias enfrentem
34

riscos sociais decorrentes das vulnerabilidades ocasionadas pelo sistema capitalista


e pela desigualdade na distribuição de renda. É crucial promover a prevenção para
evitar a violação dos direitos das famílias, já que cabe ao assistente social garantir o
acesso das famílias e de seus membros aos seus direitos, prevenindo o
agravamento das situações de risco e fragilidade no ambiente familiar. Como pode
ser observado abaixo:

+A ação preventiva tem por escopo prevenir ocorrências que


interfiram no exercício dos direitos de cidadania. O termo ‘prevenir’ tem o
significado de “preparar; chegar antes de; dispor de maneira que se evite
algo (dano, mal); impedir que se realize”. Assim, a prevenção no âmbito da
Proteção Social Básica – PSB - denota a exigência de uma ação
antecipada, baseada no conhecimento do território, dos fenômenos e suas
características específicas (culturais, sociais e econômicas) e das famílias e
suas histórias. O caráter preventivo requer, dessa forma, intervenções
orientadas a evitar a ocorrência ou o agravamento de situações de
vulnerabilidade e risco social, que impedem o acesso da população aos
seus direitos. (ORIENTAÇÕES TÉCNICAS DO PAIF, 2012, p.11)

A atuação preventiva se complementa com a atuação protetiva, que


também é realizada no CRAS e tem o objetivo de resguardar as famílias contra os
riscos sociais, uma vez que a maioria da população atendida na proteção básica não
possui conhecimento de seus direitos, muitas delas vivem em condições de extrema
carência. Nesse sentido, o assistente social deve intervir em nome dessas famílias,
atuando como um defensor de seus direitos e garantindo recursos que promovam o
bem-estar social.

A atuação protetiva significa centrar esforços em intervenções que visam


amparar, apoiar, auxiliar, resguardar, defender o acesso das famílias e seus
membros aos seus direitos. Assim, a PSB deve incorporar todas as
intervenções o caráter protetivo, envidando esforços para a devesa, garantia
e promoção dos direitos das famílias. (ORIENTAÇÕES TÉCNICAS DO
PAIF, 2012, p11).

A Proteção Social Básica também atua de maneira proativa, uma


vez que o papel do assistente social é prever problemas para evitá-los. O CRAS
35

está situado em uma região vulnerável, e os profissionais têm conhecimento das


famílias e dos riscos mais frequentes na área, o que permite uma intervenção mais
eficaz, tanto por meio de atendimentos espontâneos quanto por meio da busca ativa,
já que o assistente social deve identificar os riscos antes que se materializem.

... A proatividade é o contrário de reatividade, que é a propriedade


de 38 reagir aos estímulos externos. Assim, ser proativo no âmbito do PSB
é tomar iniciativa, promover ações antecipadas ou imediatas frente a
situação de vulnerabilidade ou risco social, vivenciadas pelas famílias ou
territórios, não es1perando a demanda bata a à sua porta...
(ORIENTAÇÕES TÉCNICAS DO PAIF, 2012, p.11).

As três modalidades de atuação na proteção social se


complementam, resultando em um atendimento completo e de excelência,
prevenindo a intensificação dos problemas sociais e promovendo o desenvolvimento
das habilidades e o fortalecimento dos laços familiares.
A abordagem sociofamiliar matricial nos permite analisar as
incertezas que enfraquecem as famílias brasileiras, tornando-as vulneráveis ao
sistema capitalista. Isso justifica a centralidade da família como elemento social
fundamental para a eficácia de todas as iniciativas presentes na política de
assistência social. Cada vez mais, há a necessidade de estratégias eficazes para
enfrentar as diversas manifestações da questão social, agindo de forma coordenada
com os serviços socioassistenciais para garantir os direitos e compreender sempre a
amplitude e importância dessas questões.
A política de assistência tem papel fundamental de emancipação do
cidadão e das famílias, partindo da lógica da universalização do direito e a
centralidade na família.
A família de acordo com a NOB/SUAS (BRASIL, 2005) é um espaço
contraditório marcado por conflitos e desigualdades independentemente dos
formatos e modelos que ela assume, e os novos modelos de família estão
intrinsecamente dialeticamente ligado às transformações econômicas e sociais, de
hábitos e costumes.
Nesse contexto, é relevante observar que a família, composta por
indivíduos unidos por laços de parentesco, afetivos ou solidários, desempenha um
36

papel fundamental na educação dos filhos e na influência sobre o comportamento


deles na sociedade. A família é considerada uma instituição na qual são transmitidos
valores morais e sociais que servirão como alicerce para o processo de socialização,
preservando tradições e costumes que são repassados de uma geração para outra.

A família pode ser definida como um núcleo de pessoas que


convivem em determinado lugar, durante um lapso de tempo mais ou menos
longo e que se acham unidas (ou não) por laços consanguíneos. Ela tem
como tarefa primordial o cuidado e a proteção de seus membros, e se
encontra dialeticamente articulada com a estrutura na qual está inserida.
(MIOTO, 1997, p 120).

A valorização evidente da importância da família na vida social


requer a intervenção do Estado, que está cada vez mais atento à necessidade dessa
intervenção, especialmente diante das realidades sociais que destacam a
vulnerabilidade das famílias no Brasil.
Considerando que a família desempenha o papel de provedora de
cuidados, apoio e segurança para seus membros, ao mesmo tempo em que
necessita de proteção, com base nessa perspectiva, os Centros de Referência de
Assistência Social (CRAS) trabalham em conjunto com as famílias e a comunidade,
integrando-se aos Serviços de Proteção e Atendimento Integral à Família.
O atendimento às famílias ocorre tanto no CRAS quanto em seus
domicílios. Ambos começam com a recepção individual, na qual a família é
identificada e encaminhada para o atendimento técnico. Este é o primeiro momento
de escuta das demandas apresentadas pela família ou de fornecimento de
informações. É nesse ponto que se estabelece o vínculo entre o profissional e a
família. Durante a acolhida, avalia-se a necessidade de iniciar um acompanhamento
familiar ou se o atendimento pode fornecer respostas para suas demandas.
A intervenção personalizada acontece após o acolhimento, quando
se determina que a família necessita de atenção específica ou quando ela não se
sente confortável em compartilhar suas dificuldades em um contexto coletivo.
No caso de visitas domiciliares, essa abordagem é utilizada quando
a família ou um de seus membros, por qualquer motivo, não consegue comparecer
37

ao CRAS mais próximo de sua residência, seja está localizada na zona urbana ou
rural.
Após a constatação da necessidade de um acompanhamento mais
abrangente, inicia-se o suporte familiar, envolvendo a participação do Programa
Criança Feliz. Nesse contexto, o prontuário SUAS é preenchido, sendo um
instrumento usado para registrar informações relevantes sobre a família. Junto com
a responsável familiar, elabora-se um plano de assistência em conjunto, se está
assim o desejar, com prazos determinados e objetivos definidos para um período
específico.
Os profissionais envolvidos no funcionamento do PAIF devem seguir
as fases de um plano de acompanhamento que busca auxiliar as famílias até que
superem seu estado de vulnerabilidade. Para isso, são abordadas etapas com início,
desenvolvimento e conclusão. A família encerra seu acompanhamento somente
quando o profissional constata que ela superou os níveis de vulnerabilidade,
alcançou autonomia e não requer mais supervisão.
O serviço de Atendimento e Proteção Integral à Família também
promove atividades de capacitação com o objetivo de identificar habilidades e
reforçar os laços, tanto dentro da família quanto na esfera social. Muitos dos
beneficiários não têm acesso a oportunidades de qualificação profissional na
sociedade, o que os deixa à mercê das condições impostas pelo sistema capitalista.
No entanto, com as iniciativas do PAIF, muitos demonstram interesse e têm a
chance de adquirir competências profissionais que podem contribuir para a renda
familiar.
Visam estimular a discussão de tópicos de interesse comum. Isso
pode incluir tanto as vulnerabilidades e riscos existentes, quanto as potencialidades
presentes no território, com o intuito de reforçar os laços comunitários e tornar os
direitos acessíveis. Isso fomenta o protagonismo e a participação social,
contribuindo para a prevenção de problemas sociais. As atividades em grupo podem
assumir duas formas, sendo elas abertas ou fechadas, dependendo do objetivo
pretendido para discutir os tópicos apresentados. Os participantes têm voz na
definição das características dos grupos, do número de membros e das regras de
convívio.
38

Quando se reconhece a necessidade da família, são feitos


encaminhamentos para a rede de serviços ou outras políticas públicas. É importante
destacar que esse processo de encaminhamento requer acompanhamento para
garantir sua eficácia. Portanto, é essencial que haja uma articulação entre o CRAS,
a rede de assistência social e as entidades de defesa dos direitos.
Com o objetivo de facilitar a participação das famílias nas ações do
PAIF, os profissionais organizam atividades lúdicas supervisionadas por um monitor
social, especialmente para as mães que não têm onde deixar seus filhos pequenos.
Nesse sentido, o estímulo à envolvimento da família nas atividades e
avaliação das iniciativas do PAIF é uma prática crucial para reconhecer a
importância do processo participativo, garantindo a qualidade dos serviços e sua
adequação às demandas das famílias. Além disso, isso pode incentivar as famílias e
seus membros a buscar outras formas de participação na sociedade.
Para uma compreensão mais profunda dos objetivos do PAIF, é
essencial entender os princípios estabelecidos de protagonismo e autonomia das
famílias, com o propósito de fortalecer as aquisições sociais e materiais que o PAIF
busca promover:

Autonomia – capacidade do indivíduo, famílias e comunidades de elegerem


objetivos e crenças, de valorá-los com discernimento e de coloca-los em
prática de opressões. Tal apreensão se opõe à noção de autossuficiência
do indivíduo perante as instituições coletivas ou à ausência de coerções
sobre preferências individuais, incluindo direitos sociais que visam protegê-
lo. (Cortez, 2000, p.70).

Protagonismo – Capacidade de indivíduo, famílias e comunidades de


exercer a independência e a alta determinação na sua vida pessoal, na
convivência sócia e profissional e em sua participação como na sua vida
coletiva, imprimindo visibilidade pública aos seus anseios, interesses,

necessidades, demandas e posicionamento como sujeitos de direitos e seus


modos próprios de expressá-los.

Nesse contexto, o serviço social do PAIF busca promover conquistas


sociais e materiais que capacitem as comunidades, famílias e seus membros a
exercer a autonomia e o protagonismo, características cruciais na conquista de
39

direitos e na obtenção da cidadania. Ao atuar de forma preventiva, protetiva e


proativa, bem como ao facilitar o acesso a benefícios, programas de transferência de
renda e serviços socioassistenciais, o PAIF demonstra seu papel fundamental na
integração das famílias na rede de proteção social da assistência social.
O acompanhamento familiar pode ser individualizado ou em grupo.
O trabalho em grupo é essencial para fortalecer os vínculos, pois possibilita a
interação e a troca de informações e experiências que contribuem significativamente
para a emancipação das famílias. Quando os usuários compreendem que não estão
sozinhos em seus desafios, que são vítimas de um sistema e que possuem direitos,
o trabalho se torna mais eficaz e as metas podem ser alcançadas de maneira mais
eficaz.

O grupo socioeducativo para as famílias é um excelente espaço


para trocas, para o exercício da escuta e da fala, da elaboração de
dificuldades e de reconhecimento de potencialidades. Contribui para
oferecer aos cidadãos a oportunidade de melhor viver os seus direitos
dentro de um contexto de proteção mútua, afeto, desenvolvimento pessoal e
solidariedade. (MDS, 2006, p.39).

Conduzir grupos com famílias e/ou seus representantes é um


desafio complexo. Tanto as questões individuais quanto as demandas coletivas do
grupo contribuirão para as dificuldades enfrentadas pelos assistentes sociais ao
longo dessas atividades. O profissional do serviço social desempenha o papel de
mediador, facilitando a comunicação entre os usuários e trabalhando para
desenvolver ações que visam alcançar um objetivo compartilhado.

Estas questões vão impor ao assistente social a mediação entre os


objetivos institucionais, profissionais e do próprio grupo. A compreensão das
requisições postas aos assistentes sociais está permeada pelas demandas
da família e pela caracterização das 44 intervenções sociais que se
propõem a enfrentar nas manifestações da questão social. (TRINDADE,
2004, p.39).

A abordagem em grupo é realizada em benefício de todos os


participantes, uma vez que, ao trabalhar em equipe, tornamo-nos parte de um todo.
40

Ninguém atua isoladamente, pois a sociedade não se forma nem progride de


maneira solitária. Alcançar o sucesso de forma coletiva é mais eficaz, pois ao
colaborar em conjunto, as famílias aprendem a funcionar como um grupo coeso, no
qual cada membro desempenha um papel crucial na manutenção da força,
determinação e capacidade de superação. Isso resulta em conquistas mais sólidas e
duradouras.
41

7 CONCLUSÃO

O presente trabalho se dedicou a investigar a atuação do assistente


social no Programa Criança Feliz, com foco na proteção básica no âmbito do PAIF e
no desenvolvimento infantil na primeira infância. Os objetivos estabelecidos foram
alcançados, e os resultados da pesquisa lançam luz sobre a importância crítica da
intervenção social nessa fase crucial da vida das crianças.
Uma das principais conclusões desta pesquisa é a relevância do
Programa Criança Feliz como uma iniciativa que visa atender às necessidades das
crianças na primeira infância e suas famílias em situação de vulnerabilidade social.
Através das ações dos assistentes sociais, o programa desempenha um papel
fundamental na promoção do desenvolvimento infantil saudável e na prevenção de
situações de risco.
No decorrer da pesquisa, ficou claro que os assistentes sociais
enfrentam desafios significativos em seu trabalho, incluindo a complexidade das
situações familiares, a falta de recursos e a necessidade de equilibrar diversas
demandas. No entanto, sua atuação também revelou resultados positivos, com a
promoção do fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários, bem como
melhorias no desenvolvimento das crianças atendidas.
As implicações desta pesquisa se estendem além do contexto
acadêmico. Os resultados oferecem subsídios para aprimorar as políticas públicas
voltadas para a primeira infância e a assistência social, destacando a importância de
investir na capacitação dos assistentes sociais e na integração de serviços que
atendam às necessidades holísticas das famílias.
Esta pesquisa também ressalta a necessidade de continuar a
investigar e compreender a atuação do assistente social no Programa Criança Feliz
e em programas semelhantes em todo o país. Somente por meio de pesquisas
contínuas e da colaboração entre academia, profissionais e gestores públicos
poderemos aprimorar nossas abordagens para garantir um futuro mais promissor
para as crianças em situação de vulnerabilidade.
42

Em última análise, este estudo reforça a importância da primeira


infância na formação das bases para o desenvolvimento humano e destaca o papel
vital dos assistentes sociais no apoio a crianças e famílias durante essa fase crítica
da vida. É nossa esperança que este trabalho contribua para uma sociedade mais
justa e equitativa, onde todas as crianças tenham a oportunidade de crescerem
saudáveis, felizes e realizadas.
43

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