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UNIVERSIDADE DE MARÍLIA - UNIMAR

ISABELA LEITE FERREIRA


JACQUELINE GREGORIO FERREIRA

A IMPORTÂNCIA DO VÍNCULO FAMILIAR NO DESENVOLVIMENTO


INFANTIL
Relato de Casos Vivenciados na Atuação como Estagiárias no Programa Criança
Feliz

MARÍLIA
2023
ISABELA LEITE FERREIRA
JACQUELINE GREGORIO FERREIRA

A IMPORTÂNCIA DO VÍNCULO FAMILIAR NO DESENVOLVIMENTO


INFANTIL
Relato de Casos Vivenciados na Atuação como Estagiárias no Programa Criança
Feliz

Trabalho de Conclusão de Curso,


apresentado a Universidade de Marília –
Unimar, como parte das exigências para a
obtenção do título de Psicólogo(a).

Orientador: Profa. Dra. Marina Coimbra


Casadei Barbosa da Silva

MARÍLIA
2023
ISABELA LEITE FERREIRA
JACQUELINE GREGORIO FERREIRA

A IMPORTÂNCIA DO VÍNCULO FAMILIAR NO DESENVOLVIMENTO


INFANTIL
Relato de Casos Vivenciados na Atuação como Estagiárias no Programa Criança
Feliz

Artigo científico, apresentado a


Universidade de Marília - Unimar, como
parte das exigências para a obtenção do
título de Psicólogo(a).

Marilia, ____ de _____________ de


_____.

BANCA EXAMINADORA

________________________________________
Prof. (Nome do orientador)
Afiliações

________________________________________
Prof. (Nome do professor avaliador)
Afiliações

________________________________________
Prof. (Nome do professor avaliador)
Afiliações
A Importância do Vínculo Familiar no Desenvolvimento Infantil: Relato de Casos
Vivenciados na Atuação como Estagiárias no Programa Criança Feliz

Autor 1 Isabela Leite Ferreira

Autor 2 Jacqueline Gregório Ferreira

Orientadora Marina Coimbra Casadei Barbosa da Silva, professora Dra. da Universidade de


Marilia

Resumo

O presente artigo teve por escopo apresentar os relatos de casos acompanhados pelas autoras
durante seus estágios básico junto ao Programa do Governo Federal Criança Feliz e a
importância dos vínculos familiares no desenvolvimento social e infantil. Assim, buscou
articular a Psicologia Social e o Programa Federal – e trouxe à reflexão a importância dos
vínculos afetivos na vida das famílias acompanhadas. Almejou demonstrar os princípios e
diretrizes básicas do programa, bem como a necessidade primordial de implementação das
políticas públicas à primeira infância, tendo em vista a importância da máxima atenção aos
primeiros anos de vida no desenvolvimento infantil do ser humano. O vínculo familiar, de
qualquer natureza, auxilia as crianças a formarem suas personalidades, tomarem consciência
do mundo e de si mesmas. A ausência de vínculo, adicionada à falta de estímulos que a
estrutura familiar da criança pode trazer - principalmente em virtude de seu contexto social –
permite que haja interferências tanto no desenvolvimento cognitivo, quanto no emocional da
criança. Para tanto, o vínculo precisa ser seguro e atenciosamente discutido, pois é um dos
pontos principais que moldará a criança, atrelado ao contexto social, cultural e econômico. A
importância dos vínculos, da família, dos cuidados, do brincar e de se oportunizar à criança,
em seus primeiros anos de vida, a possibilidade de se desenvolver em um ambiente com
segurança, vínculos e proteção são objetivos do programa em que atuaram as autoras e
acompanharam os casos ora relatados. De tal modo, foi possível analisar, pelos casos
relatados, que é da família o primeiro papel que reproduzirá a cultura que a criança
internalizou. A criança adquire socialização primária por meio da família. Logo, a construção
da sua identificação primária se dá por esse meio, que reverbera da infância à vida adulta.

Palavras-chave: criança; família; vínculo familiar; desenvolvimento infantil; estímulos.

Abstract

This article aimed to present case reports followed by the authors during their basic
internships with the Federal Government Programa Criança Feliz and the importance of
family ties in social and child development. Thus, it sought to articulate Social Psychology
and the Federal Program – and brought to reflection the importance of affective bonds in the
lives of the families monitored. It aimed to demonstrate the basic principles and guidelines of
the program, as well as the primary need to implement public policies for early childhood, in
view of the importance of maximum attention to the first years of life in the development of
human beings. The family bond, of whatever nature, helps children to form their personality,
become aware of the world and themselves. The absence of a bond, added to the lack of
stimuli that the child's family structure can bring - mainly due to its social context - allows
interference in both the child's cognitive and emotional development. Therefore, the bond
needs to be safe and carefully discussed, as it is one of the main points that will shape the
child, linked to the social, cultural and economic context. The importance of bonds, family,
care, playing and providing opportunities for children, in their first years of life, the
possibility of developing in an environment with safety, bonds and protection are objectives
of the program in which the authors worked and followed up the cases reported here. In this
way, it was possible to analyze, from the reported cases, that it is the family that reproduces
the culture that the child has internalized. The child acquires primary socialization through the
family. Therefore, the construction of their primary identification takes place through this
means, which reverberates from childhood to adult life.

Keywords: child; family; family bond; child development; stimuli

Introdução

O desenvolvimento infantil é uma importante fase de oportunidades para investir nas


potencialidades da criança. É por meio de trocas de afeto que o menor desenvolve suas
primeiras relações, aprende a se comunicar, a desenvolver empatia e a interagir (Freire, 2017).
O presente trabalho tem como intuito trazer uma reflexão sobre a falta de estímulos e vínculos
familiares em ambientes de baixa renda no desenvolvimento da primeira infância.

Estudos realizados e aqui pesquisados, como o de Troller-Renfree (2022), mostram


como a falta dos estímulos e vínculos podem prejudicar o desenvolvimento infantil, com
consequências deletérias para vida adulta. Um olhar com acuidade para essas famílias, bem
como o ambiente em que essas crianças são estimuladas, criação de sua autonomia, segurança
e desenvolvimento é imperioso.

Vale lembrar que, cada criança tem seu tempo. Entretanto não se pode olvidar que os
reflexos reverberados de acordo com os estímulos do ambiente e o vínculo familiar são
diferentes para uma criança crescer com autoconfiança. Cada etapa do crescimento possibilita
a utilização de estímulos ou atividades que as crianças podem desenvolver de acordo com a
sua faixa etária, incentivos por meio de conversas, jogos, trocas de afeto e brincadeiras (Sou
Mamãe, 2016).

Existe a importância de ter esse olhar mais cuidadoso voltado para esta fase do
desenvolvimento humano, porque muitos estudos desenvolvidos, como o de Troller-Renfree
(2022), demonstram que a falta de estímulos e de vínculo familiar podem causar o atraso no
desenvolvimento cognitivo e emocional da criança, causando déficits na aprendizagem e
consequências que são levadas para a vida adulta, como um desempenho escolar mais baixo,
uma saúde precária, rendimentos reduzidos dos adultos.

A reflexão sobre esses estudos é importante para ajudar a sociedade a proporcionar um


olhar atencioso para essas famílias que precisam de apoio e orientação para conhecerem a
importância dos estímulos e da devida atenção às crianças na primeira infância, para que no
futuro elas não sofram com as consequências psíquicas e sociais que o ambiente de baixa
renda pode trazer.

A apresentação de projetos sociais como programa “Criança Feliz”, com vistas a uma
metodologia que traz essa orientação/reflexão para as famílias, implementa políticas públicas,
promove o acompanhamento no desenvolvimento da primeira infância com visitas
domiciliares e assume a prevenção, proteção e promoção do desenvolvimento infantil:
premissas fundamentais do Estado Democrático de Direito que, inclusive confere “prioridade
absoluta” às crianças e adolescentes e delega o dever de sua proteção à família, ao Estado e à
sociedade (artigos 227 1“caput” e § 7º e 2042, Constituição Federal, 1988).

De acordo com Susanne Andrade (2005), o desenvolvimento da primeira infância se


faz predominantemente em casa, com a família, criando vínculos, cuidados com a criança e
estímulos para ajudar no crescimento. As condições socioeconômicas, psicossociais aliadas
aos aspectos físicos e socioafetivos dessas famílias interferem no desenvolvimento da criança.
Segundo o Fundo Internacional de Emergência das Nações Unidas para a Infância (UNICEF,
s/d), a interação com adultos em um ambiente acolhedor, com afeto e carinho é essencial, ao
passo que falta de: atenção, acesso à saúde, nutrição, proteção contra a violência são pontos
que podem negligenciar o desenvolvimento da criança.

A família é o primeiro contato que a criança tem com o contexto social. Logo, pode se
dizer que aquela age como primeiro educador – precedendo a escola - e que será até mesmo
ao longo da vida (Glat, 2004). Motivar o desenvolvimento da criança e facilitar todos os
fatores para que de fato isso ocorra é dever das pessoas ao seu redor.

1
Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à
alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los
a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. § 7º No atendimento dos direitos da criança e do adolescente
levar-se- á em consideração o disposto no art. 204.
2
Art. 204. As ações governamentais na área da assistência social serão realizadas com recursos do orçamento da seguridade social, previstos no art. 195, além de
outras fontes, e organizadas com base nas seguintes diretrizes: I - descentralização político-administrativa, cabendo a coordenação e as normas gerais à esfera
federal e a coordenação e a execução dos respectivos programas às esferas estadual e municipal, bem como a entidades beneficentes e de assistência social; II -
participação da população, por meio de organizações representativas, na formulação das políticas e no controle das ações em todos os níveis. Parágrafo único. É
facultado aos Estados e ao Distrito Federal vincular a programa de apoio à inclusão e promoção social até cinco décimos por cento de sua receita tributária
líquida, vedada a aplicação desses recursos no pagamento de: - despesas com pessoal e encargos sociais; II - serviço da dívida; III - qualquer outra despesa
corrente não vinculada diretamente aos investimentos ou ações apoiados.
De acordo com Mirian Lira (2020), é possível adotar as técnicas de ludoterapia, por
exemplo, uma vez que o brincar é crucial na primeira infância. As crianças precisam de
momentos de atenção para criar segurança em si mesmas, construir sua autonomia e
desenvolver a criatividade. Experiências vividas nesta fase têm reflexos na vida adulta com
envolvimento em fatores sociais, problemas de saúde, desempenho profissional e escolar.

Diversas são as formas de constituição de famílias. Exemplos: a mãe é sozinha,


trabalha, deixa os filhos na creche ou com alguém (não necessariamente uma pessoa com
vínculo consanguíneo) para cuidar; famílias vistas como carentes devido ao contexto social,
em que o cuidador pode ser usuário, o modo como essas famílias agem no dia a dia com as
crianças, também pode interferir no seu desenvolvimento.

Segundo Weitzman e Lee (2017) o contexto da comunidade, famílias numerosas,


depressão materna ou paterna, o uso de substâncias dentro da família e da casa são fatores que
devem ser observados e que podem interferir na criação de vínculo familiares e que
prejudicam o desenvolvimento infantil.

Para a realização da pesquisa foi adotada a metodologia de revisão bibliográfica e


relato de experiência. Essa metodologia consiste em acessar material já publicado, na busca
por informações fundamentadas, para isso lança mão de toda a gama de materiais impressos
como livros, revistas, jornais, teses, artigos, dissertações e anais de eventos científicos (Gil,
2009).

Novamente sobre a metodologia, para Koche (2011) a pesquisa bibliográfica é


considerada indispensável para qualquer pesquisa, por proporcionar ao pesquisador
conhecimento e capacidade analítica de abordar as principais teorias e contribuições
existentes acerca do assunto explorado. Nela, estão inseridos um conjunto de fases que
envolvem questões como análise, reflexão, interpretação, indagação e observação.

Portanto, houve o levantamento teórico na literatura sobre o desenvolvimento infantil, a falta


de estímulos e de vínculo familiar, incluindo o contexto social, sob a perspectiva da
Psicologia Social, no intuito de reinterpretar diferentes aspectos do mesmo tema de estudo.

Além disso, relatamos alguns casos de famílias que foram acompanhadas pelo
Programa Criança Feliz nas cidades de Garça e Vera Cruz, ambas do Estado de São Paulo, o
que possibilita vislumbrar diferenças significativas entre famílias e municípios, até mesmo
para possível comparação sobre os vínculos dessas famílias, as políticas públicas locais e o
desenvolvimento dos participantes.

Assim sendo, o alicerce deste artigo são os relatos de experiência e análise dos textos
publicados referentes à importância do vínculo familiar no desenvolvimento da criança em
sua primeira infância e, para complementar e reforçar o estudo teórico, acompanhar-se-á o
trabalho do Programa Social, já citado, ou seja, ao priorizar a teoria espera-se reconhecer ao
vê-la aplicada na prática.

A importância da família para o desenvolvimento psicossocial da criança

A família é a primeira estrutura social em que a criança está incluída, principalmente


nos primeiros anos de vida, tendo grande interferência em seu desenvolvimento. O ambiente
familiar e suas relações constituem a base para promover o desenvolvimento afetivo-social e
cognitivo da criança (Guimarães, 2013 apud, Silva et al, 2018).

Desse modo, a família pode atuar como estimuladora e protetora no processo de


desenvolvimento infantil, bem como pode ser um fator de risco este (Silva; Silva; Rodrigues;
Souza; Teixeira, 2018).

Segundo Calligaris (2019, p.33), “da família e dos anos de nossa criação também
derivam nossas fantasias, nossos desejos e nossas defesas contra algumas fantasias e desejos”.
Assim, a socialização primária do indivíduo usualmente se inicia com o seu grupo familiar.

A criança passou a ser vista como um ser importante, quando começou a ser estudada
e receber estímulos em todas as suas particularidades, tornando-se capaz de se relacionar,
refletir, aprender e tomar decisões.

A primeira infância (0 a 6 anos) é fundamental para o desenvolvimento da criança, a


qual formará uma base e se beneficiará por toda a sua vida (UNESCO, 2007). É nesta fase do
desenvolvimento que, segundo a Unicef (2001), a maioria das células do cérebro são
formadas, sendo responsáveis pela estruturação das relações psicossociais, da cognição e das
emoções.

Bowlby (2006 apud Rayane; Sousa 2018) ressalta que as frustrações estão
relacionadas às necessidades que as crianças têm de atenção e de amor por parte dos seus
cuidadores, exercidas durante os seus cuidados básicos - higiene, educação e a alimentação.
Por isso, a falta dessas diligências é desestabilizadora, pois estão relacionadas ao afeto
recebido durante a interação com os pais.

Diversas são as consequências causadas pela falta de vínculo na primeira infância,


principalmente em aspectos afetivos e cognitivos. O vínculo de apego seguro possibilita que a
criança se abra para o mundo com confiança e curiosidade necessárias para aprender a se
desenvolver plenamente.

Segundo Maturano e Elias (2016, apud Silva et al, 2018), quando não se possui um
ambiente que favoreça o desenvolvimento da criança, dispondo de traumas, negligência e
instabilidade, tanto afetiva como ambiental, esse período da vida pode ser construído como
um fator de risco e funcionar como ponto de gatilho para condições já existentes e
desencadear novas questões.

As primeiras vivências e sensações corporais da criança, envolvem a subjetividade em


relação a si próprias, exercendo grande alcance durante todo o desenvolvimento do indivíduo.
Dessa forma, é de extrema importância a participação da família/cuidadores, e a promoção de
um ambiente seguro e saudável que possibilita a criança a se desenvolver (Ribeiro et al., 2012
apud, Silva et al, 2018).

A importância do vínculo, de acordo com o Referencial Curricular Nacional, é que


com ele a criança recebe vários estímulos vindos do meio em que vivem, necessitando de
cuidados devido a dependência de seus pais e familiares. No ato de alimentar, trocar uma
criança, não é só o cuidado com a alimentação e higiene que estão em jogo, mas a interação
afetiva que envolve a situação. Ser carregado no colo, ter o seio ou mamadeira, é uma
experiência fundamental para o desenvolvimento do ser humano. Na relação estabelecida, por
exemplo, no momento de tomar a mamadeira, seja com a mãe ou outra pessoa, o binômio dar
e receber possibilita as crianças aprenderem sobre si mesmas e estabelecerem uma confiança
no outro e em suas próprias capacidades, elas começam a perceber que sabem lidar com a
realidade, que conseguem respostas positivas, fato que lhes dá segurança e que contribui para
a construção de sua identidade (BRASIL, 1998 apud Capelasso, 2011).

A criação de vínculo na relação entre criança e cuidador é muito importante para o


desenvolvimento infantil. A qualidade da relação de vínculo estabelecida no primeiro ano de
vida influenciará fortemente o desenvolvimento da criança, tanto nos aspectos emocionais,
como cognitivos. Uma vez estabelecida uma relação de apego segura, será possível para a
criança usar o (a) cuidador (a) como uma base protegida a partir da qual ela se sentirá
confiante para explorar o ambiente a sua volta e aumentar a qualidade da exploração e da
brincadeira (Cassidy; Shaver, 2008 apud Saur et al, 2018).

O programa Criança Feliz

O Programa Criança Feliz é um programa do governo federal, e foi instituído por meio
do Decreto n. 8.869 - consolidado pelo Decreto número 9.579 de 22 de novembro de 2018,
tendo como fundamento a Lei n. 13.257, de 8 de março de 2016, que trata do Marco Legal da
Primeira Infância.
O Criança Feliz é materializado nos territórios brasileiros, como política pública que
visa a promoção dos direitos das crianças na primeira infância, que compreende o período
gestacional até os 6 anos de idade. Para isto, o programa tem como pilares: visitas
domiciliares periódicas e ações intersetoriais das políticas públicas. Ademais o decreto
também dispõe sobre capacitação e formação continuada para profissionais que atuam no
Programa.

As visitas são realizadas por estagiárias do curso de Psicologia, Pedagogia e Serviço


Social, devidamente capacitadas e orientadas pela supervisão do Programa. Sendo assim,
todas atividades propostas são elaboradas em conjunto com a supervisora do Programa.

O público-alvo é selecionado de acordo com as famílias elegíveis através do sistema


E-PCF, do Setor do Cadastro Único e famílias encaminhadas pelos programas e serviços do
CRAS, bem como demandas espontâneas.

O público beneficiário do Programa é: gestantes, crianças de até 36 (trinta e seis)


meses e suas famílias cadastradas no CADúnico; crianças de até 72 (setenta e dois) meses e
suas famílias beneficiárias do Benefício de Prestação Continuada; crianças de até 72 (setenta e
dois) meses afastadas do convívio familiar em razão da aplicação de medida de proteção
prevista no art. 101, caput, incisos VII e VIII, da Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990, e suas
famílias; crianças de até 72 (setenta e dois) meses inseridas no Cadastro Único para
Programas Sociais do Governo Federal - CadÚnico, que perderam ao menos um de seus
responsáveis familiares, independente da causa de morte, durante o período Emergência em
Saúde Pública de Importância Nacional (ESPIN) decorrente da Covid-19.
Para seleção dos beneficiários ocorre a busca ativa através de visitas domiciliares ou
ligações telefônicas, na qual é ofertado o Programa às famílias. O programa não tem caráter
obrigatório e não possui condicionalidades ligadas a outros programas/serviços ou benefícios.
Quando a família aceita participar do programa e receber as visitas domiciliares, é realizado o
termo de aceite acompanhado da autorização de uso de imagem.

Consequentemente, é preenchido todos os diagnósticos propostos pelo Programa e,


posteriormente, a elaboração das atividades mais adequadas para a idade e demandas da
criança e sua família. A elaboração e discussão sobre cada criança/gestante é realizada em
supervisão.

As atividades realizadas seguem a metodologia e os documentos norteadores do


Programa Criança Feliz, como por exemplo: Guia de Visita Domiciliar, Manual do Visitador,
Manual da Gestante.

A principal ação são as visitas domiciliares de acompanhamento, que são realizadas


semanalmente e quinzenal aos beneficiários do programa e suas famílias, seguindo a
periodicidade estabelecida, gestante duas vezes ao mês, crianças de até 36 meses 4 vezes ao
mês e crianças (BPC) de 37 a 72 meses 2 vezes ao mês, seguindo o dia e horário determinado
entre visitador x cuidador, no intuito de atingir os objetivos propostos pelo programa. A
supervisão em grupo ocorre semanalmente e individualmente sempre que houver necessidade.

Além das visitas domiciliares, o Programa Criança Feliz, visa planejar e promover
ações de políticas públicas voltadas para as gestantes e crianças na primeira infância e suas
famílias, ampliando o trabalho em rede com ações integradas, visando o atendimento
humanizado, qualificado e integral, articulando as políticas públicas.

O Programa tem por objetivos gerais: promover o desenvolvimento humano a partir do


apoio e do acompanhamento do desenvolvimento infantil integral na primeira infância; apoiar
a gestante e a família na preparação para o nascimento e nos cuidados perinatais; colaborar no
exercício da parentalidade, fortalecendo os vínculos e o papel das famílias para o desempenho
da função de cuidado, proteção e educação de crianças na faixa etária de até seis anos de
idade; mediar o acesso da gestante, de crianças na primeira infância e de suas famílias a
políticas e serviços públicos de que necessitem; integrar, ampliar e fortalecer ações de
políticas públicas voltadas para as gestantes, crianças na primeira infância e suas famílias.
Descrição do caso 01

Este é um caso que já vem sendo acompanhado no Programa do Governo Federal


chamado Criança Feliz no município de Garça há muito tempo. Este programa consiste em
fazer visitas domiciliares com as famílias em vulnerabilidade social, trabalhando o vínculo
afetivo através de atividades lúdicas. Atende crianças de 0 a 3 anos, crianças até 6 anos que
recebam o BPC (Benefício de Prestação Continuada) e gestantes.

O caso da mãe A3 e seus 4 filhos é conhecido por vários órgãos da cidade, sendo eles a
Secretaria de Assistência e Desenvolvimento Social que é a responsável pelo programa, o
Conselho Tutelar, a creche na qual as crianças pertencem e a Unidade de Saúde da Família do
bairro.

Quando comecei a trabalhar no programa minha Supervisora relatou brevemente o


caso desta família, dizendo que, as duas crianças mais velhas já haviam sido atendidas pelo
programa e que eu atenderia então a mãe que estava gestante e o filho L que iria completar 2
anos. Ela me explicou então a situação deles, relatando que, a mãe era sozinha com os seus
filhos pois o pai era usuário de drogas e abandonou a família, e me disse também que esta
gestação dela era de outro pai e não do mesmo de seus 3 primeiros filhos, explicou também
que ela era uma mãe que parecia fazer uso de drogas inclusive durante a gestação de L e que
estava sofrendo de depressão pós-parto desde que L nasceu. Relatou que já houve situações de
negligência com as crianças, em que elas iam sujas, com piolho, fralda do dia anterior,
relatadas pela creche e comunicadas ao Conselho Tutelar também.

O Programa atende a criança e a família, como um todo, com orientações e


informações sobre as políticas públicas existentes no município. Quando comecei a fazer a
visita nesta casa, em fevereiro de 2022, logo percebi como a cuidadora estava depressiva, mal
conseguia vir abrir o portão para conversar comigo. Claro que no começo tivemos o período
de adaptação, pois como eu era uma visitadora nova, ela e a criança estavam me conhecendo
também. Foi um longo período de construção de confiança, no começo ela só relatava que
“estava tudo bem” ou que estava “tudo indo”, não conversava muito e nem me chamava para
entrar, eu atendia no portão da casa e não via nem a criança, mas sempre percebia o seu
semblante de tristeza e desânimo.

3
Todos os nomes aqui serão representados por uma inicial do nome para manter o anonimato da pessoa em
questão.
Depois de um tempo minha Supervisora me informou que a creche havia relatado algo
sobre L, dizendo que ele estava apresentando alguns comportamentos, que os professores da
creche estavam se preocupando, como o de não atender quando chamavam seu nome; tinha
dias que estava um pouco agitado, não obedecia às professoras e apresentava atraso na fala.
Com isso insisti em ver a criança para observar como ele era dentro de casa, fui então cada
vez mais conversando com A sobre a criança e entendendo melhor a rotina deles, consegui
ver L mais vezes, porém ainda ficando no colo de sua mãe.

Com o tempo eles foram adquirindo mais confiança e eu cada vez mais tentando
passar o meu papel para eles, de que estava ali apenas para ajudá-los. Durante as visitas pude
perceber o quanto a depressão da mãe afetou o comportamento da criança, tanto que eu levava
sugestões de atividades para estimular a fala de L e tinha mesmo muita dificuldade em fazer
aquilo o que era pedido, ele entendia, mas não reproduzia, se distraindo com outra
brincadeira, apenas balbuciando.

O caso foi atendido pela Rede de Apoio (UBS, Conselho Tutelar, Creche, CREAS e
Programa Criança Feliz) com reuniões de orientação à mãe e atendimentos individuais, nos
órgãos e encaminhamentos necessários, tendo total adesão da mãe.

Diante dos acontecimentos A havia melhorado, passou por atendimento psicológico,


teve sua bebê (J) e está tudo bem com ela, tendo um desenvolvimento tranquilo dentro do
esperado, J começou a ir para a creche também com 8 meses, L começou a desenvolver a fala,
A sempre me relatava que nas consultas com a T.O. L ficava agitado e nervoso, e que não
gostava muito de ficar com ela, mas que com a psicóloga ele se dava bem e não dava trabalho.

Durante toda essa convivência fui percebendo a melhora de A em relação a sua


depressão e mudando seu comportamento em relação a situação de negligência que deixava os
filhos. Ainda há comportamentos que podem ser melhorados como os gritos com as crianças,
as falas brutas e depreciativas que tem com elas, mas pelo menos quando eu estou lá na visita
A se mostra muito atenciosa e afetiva com os dois filhos mais novos L e J. L também é uma
criança muito carinhosa que gosta de abraçar e brincar com suas irmãs, tanto as mais velhas
como a mais nova. Até agora durante este um ano de acompanhamento L me abraçou apenas
uma vez, suas irmãs sempre me abraçavam; agora nos despedimos sempre fazendo um gesto
de “toca aqui” e que depois disso ele sempre bate palma para comemorar.
Observei a evolução do caso, A voltou a estreitar os vínculos afetivos com os filhos,
sempre com o apoio do Programa.

Caso 02

Trata-se de um caso de uma criança acompanhada pelo Programa Criança Feliz, criado
pelo Governo Federal. Desde o início, a genitora demonstrou interesse à adesão.
O objeto principal é o desenvolvimento integral da criança durante a primeira infância.
Logo, há uma equipe do Programa que acompanha um grupo daqueles que se encontram
obrigatoriamente no CadÚnico – as famílias de baixa renda.
O caso em questão é de uma criança que aderiu o Programa desde o início, a mãe I já
não vivia com o genitor e estava em outro relacionamento, bem como trabalhava. O contato
para as visitas domiciliares era realizado na casa da avó materna A, uma senhora com a idade
aproximadamente 55 anos.
Notei, assim que me apresentei como nova visitadora, resistência da avó nas
atividades do programa, como alertado anteriormente pela Supervisora.
A casa em que a criança residia ou ficava durante o dia, pois não frequentava a creche
era totalmente fechada, inclusive portão – sem qualquer abertura.
A diretriz era executar – observação do local em que a criança se encontrava e suas
habilidades/desenvolvimento: ações que fomentavam ainda mais seu crescimento pleno do
modo de vida.
Logo, perceptível a aversão da cuidadora, pois sempre relatava que estava tudo bem,
não era de muitas palavras e somente me atendia no portão da residência, não convidada em
nenhum momento para entrar. Dessa forma, a calçada era o “local” onde eu precisava realizar
a atividade.
Observei que aquela criança não tinha contato com o “mundo”, pois vivia trancada e
quando eu chegava no local tinha muita dificuldade em realizar qualquer atividade que
estimulasse aquilo que era necessário para seu desenvolvimento. Não havia timidez, mas ela
não falava (atraso), gesticulava muito pouco nos acenos, saudações e despedidas.
As atividades que eu entendia importantes para trabalhar o desenvolvimento da
criança sempre eram realizadas sem sucesso, pois quando o portão se abria ela conhecia o
mundo, o céu, os carros, fazia qualquer coisa, menos a atividade proposta.
Depois de várias visitas eu perguntava à avó sobre a rotina de T, a mãe pouco contato
tinha, saíam muito pouco com a criança, porque notável a dificuldade de andar daquela
senhora.
Tentaram passar por diversas vezes babás/cuidadoras para olhar a criança, mas
nenhuma dava certo.
Sempre tentei acolher e ajudar, estimular (inclusive colocar na creche) e propor
atividades daquele que se encarregava do cuidado com a criança. Contudo, sempre as
tentativas eram infrutíferas.
Inúmeras vezes não me atendiam, quando eu deixava marcada a visita. Era notório que
aquela criança necessitava de interação social, direito à cultura, promoção à cidadania e
desenvolvimento.
Nas várias tentativas de atividades das visitas, inclusive de participações em festas no
CRAS, não levavam a criança.
Acredito que a cuidadora da criança, por ser uma senhora, tinha bastante cansaço e,
ainda que quisesse, não conseguia oferecer toda atenção necessária, até porque também havia
afazeres domésticos, pois sempre estava com um pano de prato no ombro.
A genitora parecia estar em situação de negligência com T. Logo, pediram que
houvesse desligamento do Programa.

Caso 03

Este é um caso que chegou para o Programa Criança Feliz de Garça através do
Conselho Tutelar do município. É o caso da mãe L e suas filhas M e A, na época minha
supervisora me informou que o Conselho pediu a nossa observação nesta família pois uma das
crianças chegou com uma assadura muito forte no posto de saúde. Quando cheguei na casa
para oferecer o programa, explicando como ele funcionava, L relatou o episódio do posto de
saúde e explicou que o pai das crianças era usuário de drogas e quando ele estava em uma
crise forte não conseguia cuidar delas.
Acompanhei esta família por volta de 1 ano, L era uma mãe muito atenciosa, gostava
muito do programa e achava sempre importante um acompanhamento voltado para o
psicológico com as suas filhas por conta da situação do pai. M tinha quase 2 anos e A quase 1
ano quando comecei a atender, são crianças muito interativas e comunicativas, sempre faziam
a atividade de forma correta e eram carinhosas comigo.
A mãe L sempre conversava muito sobre a situação do pai das crianças, contava
quando ele tinha algum episódio forte do uso das drogas e contava como ela percebia que o
comportamento das crianças mudava quando ele estava assim, contava que elas ficavam
agitadas, que só queriam ficar com ele e se ele dormisse no chão da sala elas queriam dormir
com ele também.
L contou que M estava na fase de imitar tudo o que os outros faziam, e em um certo
momento M repetiu o comportamento de “cheirar” que o pai fazia para usar a droga, relatou
também que M fez isso na creche e a professora chamou L para conversar, L ficava brava
com o pai das crianças para ele não levar elas nesse tipo de ambiente, e para que ele parasse
de usar pelas crianças, pois elas são muito apegadas a ele, já que segunda a mãe o pai fazia
tudo o que elas queriam e não chamava a atenção delas quando necessário.
Quando o pai estava bem ele participava das atividades junto com as crianças, mas em
épocas de seus episódios a mãe relatava que só aparecia de noite, contou também em que teve
uma vez que M viu seu pai sendo preso e na delegacia L teve que levar ela junto pois não
tinha com quem deixar, e disse que foi depois disso que M ficou ainda mais apegada com o
pai.

Esta família então vivia assim com esses altos e baixou episódios em que o pai não
estava bem, percebia que L gostava muito do Programa para aconselha-la e que tinha medo do
Conselho fazer alguma coisa que envolva ela por conta da situação do pai das crianças, L
fazia alguns trabalhos para ter mais renda em casa além dos auxílios, e percebeu que
colocando as crianças na creche ajudou muito o desenvolvimento delas e foi bom para se
distanciarem um pouco desse ambiente quando o pai não estava bem.

Caso 04

Este é um caso que chegou para o Programa Criança Feliz de Garça através da busca
ativa do Município. Logo, foi ofertado à genitora o Programa, uma vez que esta já era
vinculada aos Programas Sociais locais.
A criança não frequentava a creche, a genitora precisava trabalhar e a avó ficava com
a criança. Contudo, quando iniciei o acompanhamento a idade do infante estava próxima do
desligamento. Logo, foram somente 06 meses de acompanhamento.
A residência era do bisavô do menor, de alvenaria e pude notar que a avô fazia questão
de sempre ser pontual e acompanhar todas as atividades propostas na semana pelo Programa.
Percebia-se que a criança era bastante estimulada pelo avô que, mesmo tendo que
cuidar de seu pai (acamado), e o esforço para que sempre houvesse a participação das
atividades.
Assim, via-se que a criança era atenta, esperta, comunicativa e quando precisava
realizar a atividade fazia por completo e conseguia repetir diversas vezes, mesmo tendo sido
ensinada uma única vez.
Nunca questionei a presença do pai, pois não sei se a mãe optou por ter a gestação
solo. Conheci a mãe durante suas férias do trabalho em uma oportunidade de participação da
atividade na residência.
A família, como um todo, apreciava o programa e lamentava que a idade do menor já
não seria mais contemplada dali um tempo. A avó dizia que ele gostava e sempre ficava no
portão esperando quando era o dia da visita.
Mesmo com a idade avançada a avó sempre estimulava a criança participava junto em
algumas atividades o que fustigava ainda mais o menor a querer participar.
Nesses casos, em que há efetiva atuação das pessoas que estão junto da criança é
possível notar que o Programa é importante para a família também, que sentia a acolhida e
uma resposta positiva pela forma como eles “educavam” o menor. Acredito que achavam que
estavam no caminho correto. O menor era comunicativo, interagia bem com outras pessoas e
conhecia bastantes coisas ao redor dele (nomes, cores, animais, letras).

Resultados e Discussão
Assim, resta comprovado que o Programa tem bons objetivos se aliado aos papéis dos
personagens que exercem o vínculo com a criança. Ainda possível afirmar que a forma de agir
socialmente desenvolve a consciência de toda a família.
Ao finalizar nossos estudos e observar nossas experiências, concluímos que, desde o
nascimento, as crianças estão em constante interação com os adultos, e estes buscam formas
de incorporar a esses seres sociais sua cultura e condutas, historicamente acumuladas.
Destarte, as respostas da criança ao mundo são dominadas por processos naturais.
Mas, por meio da intervenção constante com os adultos, processos psicológicos começam a
tomar forma (Luria, 1992 apud Freitas; Iglesia, 2020). Logo, o social ganha um papel
importante para a compreensão do desenvolvimento.
De acordo com Vygotsky (1896-1934, apud Freitas; Iglesia, 2020) as relações sociais
fazem parte do processo indivíduo/mundo, porquanto sempre será mediada pelo outro, no
caso do artigo em questão, o outro é a família.
Consideramos estudos com base na psicologia sócio-histórica de Vygotsky (1896-
1934), o qual, junto com a experiência, fez sentido ao evidenciar que as características
humanas nem sempre nascem com a criança, mas são ensinadas, de acordo com o meio
presente que vivem. A importância da criança dentro de uma comunidade varia conforme o
período histórico e atrelando as condições sociais (Freitas; Iglesia, 2020). A infância
caracteriza-se então como uma condição social e historicamente construída.
Essas famílias sofrem grandes transformações e criam-se necessidades sociais nas
quais a criança será valorizada, passando a ocupar um lugar central na dinâmica familiar. O
conceito de infância se evidencia pelo valor do amor familiar. Entendemos que para Vygotsky
(1896-1934, apud Freitas; Iglesia, 2020), o desenvolvimento infantil ocorre por meio de
interações sociais. Dessa forma os conceitos de cultura, desenvolvimento e aprendizagem
surgem de forma interligada.
Conforme diz Vygotsky (2007) o contexto cultural molda os comportamentos, as
transformações e as evoluções ao decorrer do desenvolvimento. No caso 3 apresentado é
possível compreender esta parte teórica quando a mãe nos relata que a criança imita os
comportamentos do pai, evidenciando assim como o vínculo leva a criança a querer
permanecer ou não perto dele. Aprendemos no contexto sócio histórico ao sermos
influenciados pela cultura.
No caso 1 apresentado podemos ver o quanto a relação com a mãe se encontrava
fragilizada no começo por conta de sua depressão, nos levando a identificar comportamentos
de negligência com as crianças e alguns atrasos no desenvolvimento com eles. Observando
isso com Vygotsky (1896-1934) a formação social é o que leva ao desenvolvimento
maturacional e emocional dos sujeitos. Levando a perceber a evolução da afetividade e do
vínculo que conseguimos trabalhar e desenvolver com a família.
Segundo Vygotsky (2007), o desenvolvimento da criança junto ao seu meio social é
um potencializador e facilitador de tarefas que, sozinha, não seria capaz de resolver.
Destarte, nota-se que por meio dos vínculos almejados pelo Programa é possível aferir
o quanto a criança é capaz de resolver uma problemática junto àquele que estreita seus
vínculos afetivos.
No caso 2, conforme a teoria de Vygotsky (2007), a zona de desenvolvimento real e a
zona de desenvolvimento potencial não conseguem se aliar, porquanto a zona de
desenvolvimento proximal se distancia dos níveis e funções psicológicas ainda não
amadurecidos. Uma vez que, sua avó não contribui para que a criança consiga ter uma visão
de mundo e sequer resolver problemáticas básicas sozinha, pois lhe falta estímulos e até
mesmo vínculos com demais pessoas.
Já no caso 4, tem-se uma visão totalmente distinta, uma vez que há vínculos afetivos,
mesmo que também seja cuidado por sua avó, denota-se que a criança é capaz de desenvolver
atividades propostas sozinha, já que seu meio social é um potencializador e facilitador de tais
tarefas, conforme avaliações das visitas realizadas, pois possível observar que o infante
solucionava as atividades apresentadas de forma esperada, com somente uma orientação da
estagiária do programa e também fustigado pela sua avó.

Considerações finais

Pode-se afirmar que a família é o teatro de formação dessas crianças acompanhadas


que, essa vivência e formato, inevitavelmente, reverbera em possíveis causas de seus
sofrimentos psíquicos na vida adulta. Infere-se pelos relatos dos casos apresentados que a
importância do vínculo familiar no desenvolvimento infantil é tão crucial que será base de sua
autonomia e sobrevivência na vida adulta.
Assim, conclui-se que a primeira infância é uma etapa importante do desenvolvimento
humano marcada por aquisições físicas, cognitivas, emocionais e sociais. É também marcada
pelo processo dinâmico de dependência e cuidado de outras pessoas em razão da imaturidade
e vulnerabilidade próprios desse estágio da vida.
As inúmeras razões – históricas e sociais – pela forma como se estabeleceram os
vínculos relatados explicam o porquê os assistidos fazem daquele modo e assim se
desenvolvem, porquanto apreenderam pelo mundo que os cercavam. Nota-se que a primeira
infância e o vínculo familiar estão atrelados à condição social e historicamente construída.
Uma vez estabelecida a relação de vínculo familiar, que pressupõe cooperação entre
aqueles que exercem esse papel, é possível que a criança se conecte ao mundo, aos outros
indivíduos, produza linguagem e pensamentos com resultados positivos a fim de que se
concretizem condições viáveis em suas relações sociais.
Nesse sentido, o intuito do Programa, é promover o conhecimento por parte da família
da importância e necessidade de construir um ambiente acolhedor, afetivo, seguro para a
criança e suas famílias. Ressaltada a importância dos vínculos, da família, dos cuidados, do
brincar e de se oportunizar à criança, em seus primeiros anos de vida, a possibilidade de se
desenvolver em um ambiente familiar com segurança, vínculos e proteção.
Por meio de um vínculo familiar que permita ao indivíduo concentrar suas atenções
nas habilidades de cada criança é possível formar a base para o desenvolvimento de suas
capacidades integrais.
Diante dos relatos, é possível afirmar que a teoria de Vygostsky vai ao encontro do
proposto pelo Programa Criança Feliz, pois nos ensinamentos do autor a aprendizagem da
criança é precoce, se inicia antes mesmo de sua entrada na escola. Portanto, a família é uma
ferramenta de reprodução social e, a escola, local privilegiado de desenvolvimento da
aprendizagem.

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