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UNIVERSIDADE NORTE DO PARANÁ

SISTEMA DE ENSINO PRESENCIAL CONECTADO


CURSO DE GRADUAÇÃO EM SERVIÇO SOCIAL

POLLINE BRAGA DOS SANTOS XAVIER

SERVIÇO DE CONVIVÊNCIA E FORTALECIMENTO DE VÍNCULOS-


PROJOVEM ADOLESCENTE: Potencialidades e fragilidades

CAMPINA GRANDE- PB
2017
POLLINE BRAGA DOS SANTOS XAVIER

SERVIÇO DE CONVIVÊNCIA E FORTALECIMENTO DE VÍNCULOS-


PROJOVEM ADOLESCENTE: Potencialidades e fragilidades

Trabalho de Conclusão de Curso


apresentado à Universidade Norte do
Paraná – UNOPAR, como requisito para a
obtenção do título de Bacharel em Serviço
Social.

Tutor Orientador: Maria Ângela Santini

Campina Grande – PB
2017
POLLINE BRAGA DOS SANTOS XAVIER

SERVIÇO DE CONVIVÊNCIA E FORTALECIMENTO DE VÍNCULOS-


PROJOVEM ADOLESCENTE: Potencialidades e fragilidades

Aprovado em:___\___\___

Banca examinadora:

___________________________________________
Tutor Orientador: Maria Ângela Santini

___________________________________________

Tutor Presencial: Débora Simone Carvalho

___________________________________________
Tutor Presencial: Simone Ferreira
Aqueles que na sua simplicidade
souberam transmitir o verdadeiro sentido do
cuidado, da paciência, da perseverança e do
amor para ir além, queridos pais: Pedro e
Jacinta, meus Irmãos: Peron e Poliana.
AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus por me permitir chegar até aqui, porque não foi fácil vencer
as barreiras que surgiam no caminho.

Em especial, à minha mãe que me ajudou com suas orações e amor; meu pai
com seu exemplo de garra e perseverança; meu marido, por seu amor e
companheirismo e meu filho Pablo por sua compreensão e amor nos momentos que
fui ausente.

Aos meus amigos que de modo geral, me auxiliaram a não desistir, acreditaram
e me motivaram como Raquel e Patrícia.

À Lucinha companheira e amiga. A Thaís minha gêmea, a frase que marcou


essa nossa parceria foi “ esse semestre será melhor, risos”, e hoje chegou o melhor!

Para finalizar, agradeço a mulher “anjo” que me fez sonhar, acreditar e nunca
desistir: minha cunhada Edcléia. Porque esse sonho já não era só meu.

Nesta caminhada árdua, surgiram anjos que Deus colocou em meu caminho,
como Alexsandra, que me apresentou essa instituição, onde fui acolhida com tanto
carinho, respeito e paciência e que hoje sou grata a toda equipe de professores da
UNOPAR.

Enfim... A todos que de forma direta e indireta contribuíram para a realização


deste sonho: Meu Muito Obrigado.
Não é Sério (Charlie Brown Jr.)

Eu vejo na TV o que eles falam sobre o jovem não é sério


O jovem no Brasil nunca é levado a sério
Eu vejo na TV o que eles falam sobre o jovem não é sério, não é sério Eu vejo na
TV o que eles falam sobre o jovem não é sério
O jovem no Brasil nunca é levado a sério
Eu vejo na TV o que eles falam sobre o jovem não é sério, não é sério
A polícia diz que já causei muito distúrbio
O repórter quer saber porque eu me drogo
O que é que eu uso
Eu também senti a dor
E disso tudo eu fiz a rima
Agora tô por conta
Pode crer que eu tô no clima
Eu tô no clima... segue a rima
Revolução na sua mente você pode você faz
Quem sabe mesmo é quem sabe mais
Revolução na sua mente você pode você faz
Quem sabe mesmo é quem sabe mais
Revolução na sua mente você pode você faz
Quem sabe mesmo é quem sabe mais
Eu tô no clima
"O que eu consigo ver é só um terço do problema
É o Sistema que tem que mudar
Não se pode parar de lutar
Senão não muda
A Juventude tem que estar a fim
Tem que se unir
O abuso do trabalho infantil, a ignorância
Só faz destruir a esperança
Na TV o que eles falam sobre o jovem não é sério
Deixa ele viver! É o que liga”
RESUMO

O serviço de convivência e fortalecimento de vínculos veio nortear o elo entre


jovens, adolescentes e profissionais. Com relação às fragilidades e dificuldades a
eles enfrentadas nos dias atuais e assim tentar amenizar o preconceito e introduzi-
los a uma sociedade livre de danos. O objetivo deste estudo é investi- gar a
percepção de gestores, educadores sociais e usuários, do serviço de convivência e
fortalecimento de vínculos- ProJovem adolescente e fornecer informações a respeito
da influência deste programa na vida dos jovens, a partir de fontes bibliográficas,
possibilitando traçar um perfil das potencialidades e fragilidades do programa sob a
ótica dos profissionais e usuários envolvidos. Tendo como principal questionamento
norteador: será que os jovens atendidos pelo o programa conseguem fortalecer
vínculos, desenvolver potencialidades, enfim, alcançar melhores experiências de
vida em um cenário de vulnerabilidade social? Constatamos da maior parte dos
estudos, um reconhecimento da importância do programa como algo construtivo na
vida dos jovens seja na sua autonomia, responsabilidade, respeito, compromisso e
sobretudo nas relações sociais que estabelecem, fato este destacado tanto pelos
profissionais como pelos usuários. Apesar dos esforços governamentais em planejar
e executar políticas, muitos ainda são os entraves, que vão desde a falta de recursos
até problemas de ordem estrutural e funcional. As ações, em sua maioria, são
pensadas sem conexão com a realidade local e a participação dos atores
envolvidos, sem um trabalho conjunto com outros setores: conselho tutelar, justiça,
escola, família, impossibilitando que sejam solucionados ou ao menos minimizados
os problemas existentes, foram, portanto aspectos recorrentes quanto as
dificuldades apontadas pela equipe do projovem adolescente de várias regiões
brasileiras que merecem atenção.

Descritores: Adolescência. Políticas públicas. Projovem.


ABSTRACT

The service of coexistence and strengthen links between young people guide the
came, teenagers and professionals. With regard to the weaknesses and difficulties
they faced in the present day and so try to ameliorate the prejudice and introduce
them to a society free of damage. The objective of this study is to investigate the
perception of managers, social educators and users of the service of coexistence and
strengthening of links - ProJovem adolescent and to provide information about the
influence of this program on the life of young people, from bibliographic sources,
making it possible to draw a profile of the potentialities and weaknesses of the
program from the perspective of the professionals and users involved. Having as
main guiding question: will the young people served by the program be able to
strengthen ties, develop potentialities, and ultimately achieve better life experiences
in a scenario of social vulnerability? In most of the studies, we acknowledge the
importance of the program as constructive in the life of young people, whether in their
autonomy, responsibility, respect, commitment and above all in the social relations
they establish, a fact highlighted by both professionals and users. Despite
government efforts to plan and implement policies, many are still obstacles, ranging
from a lack of resources to structural and functional problems. Most actions are
thought without connection to the local reality and participation of the actors involved,
without working together with other sectors: tutelary council, justice, school, family,
making it impossible to solve or at least minimize existing problems, were therefore
recurrent aspects regarding the weaknesses pointed out by the projovem adolescent
team of several Brazilian regions that deserve attention.

Keywords: Adolescence. Public Policy. Projovem.


LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

CRAS- Centro de Referência de Assistência Social

IBGE- Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

LOAS- Lei Orgânica da Assistência Social

OMS- Organização Mundial de Saúde

PB- Paraíba

PNAS- Programa Nacional de Assistência Social

PROJOVEM- Programa Nacional de Inclusão de Jovens Adolescentes

SCFV- Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos


SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 11

2. OBJETIVO................................................................................................................ 14

2.1 OBJETIVO GERAL ........................................................................................ 15

3. REFERENCIAL TEÓRICO ...................................................................................... 16

3.1 BREVE ASPECTO HISTÓRICO DO SERVIÇO DE CONVIVÊNCIA E


FORTALECIMENTO DE VÍNCULOS - PROJOVEM COMO UMA POLÍTICA
PÚBLICA....................................................................................................................... 17

3.2 CONTEXTUALIZAÇÃO E CARACTERÍSTICAS GERAIS DO PROJOVEM


ADOLESCENTE ........................................................................................................... 18

3.3 POTENCIALIDADES E FRAGILIDADES DO SERVIÇO DE CONVIVÊNCIA


E FORTALECIMENTOS DE VÍNCULOS ...................................................... 19
3.4 A ATUAÇÃO DO ASSISTENTE SOCIAL JUNTO AO PROJOVEM ............ 22
3.5 A REALIDADE DO PROJOVEM NA PRÁTICA ............................................ 29
3.6 PERCEPÇÃO DO GESTOR E EDUCADOR SOCIAL.................................. 30
3.7 PERCEPÇÃO DOS JOVENS A RESPEITO DO PROGRAMA .................... 31
3.8 DESAFIOS A SEREM VENCIDOS................................................................ 37

4. CONCLUSÃO .......................................................................................................... 40

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ....................................................................... 43


1 Introdução
12

O presente manuscrito apresenta um levantamento bibliográfico a cerca do


Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos: Programa de Inclusão de
Jovens Adolescentes, retratando um pouco os aspectos históricos, as lutas e
conquistas em prol de políticas públicas voltadas ao público jovem, em especial a
classe pobre, a juventude excluída, marginalizada, que cotidianamente enfrenta
dificuldades e clama por um espaço na sociedade, clama por respeito e melhores
condições de vida, frente a desigualdade social tão recorrente em nosso país
(CECARELLI E SALLES, 2016).

O SCFV é um serviço da Proteção Social que é ofertado de forma


complementar ao trabalho social com jovens e adolescentes que tiveram seus
direitos violados por algum fator social ou familiar.

Graças as Políticas Públicas existentes no Brasil em prol da juventude, que


hoje temos leis, projetos e programas de apoio ao jovem, as quais possibilitam o
acesso do mesmo na sociedade, politicas estas que vem rompendo muitos
paradigmas tais como: o preconceito, a discriminação sob diferentes óticas do ser
humano e que perpassam os múltiplos aspectos: sociais, políticos, econômicos,
afetivos, psicológicos, afetando especialmente a classe juvenil (LEÃO E NONATO,
2012; ARAÚJO, 2014)

Uma das conquistas provenientes das políticas públicas é o Programa de


Inclusão de Jovens Adolescentes, que desde 2005 vêm repercutindo no Brasil como
uma excelente iniciativa do governo em acolher e prestar assistência a jovens
adolescentes (ARAÚJO, 2014). Concomitantemente, para compreender
profundamente as consequências dessa conquista é preciso pesquisar, levantar
informações sobre a estrutura e funcionamento do programa em diversas bases de
dados tais como: (artigos, livros, dissertações, sites, entre outros), e é neste sentido,
que o presente trabalho se propõe a trazer um levantamento bibliográfico,
registrando a realidade do ProJovem na prática em diferentes regiões brasileiras e
os seus efeitos na visão dos sujeitos envolvidos (jovens, gestores e educadores) e a
partir do conhecimento da realidade, distinguir os pontos fortes e fracos,
possibilitando sugerir possíveis melhorias diante do cenário registrado.
13

A escolha do tema para construção desse trabalho, se deu em função da


experiência obtida no estágio supervisionado, momento este de extrema importância
para a construção do “ser e fazer” do assistente social. Em um desses momentos
vivenciados no CRAS, pude estar envolvida com realidades diversas, porém, a que
despertou maior curiosidade e desejo de compreender de forma profunda sua
estrutura, funcionamento e resultados foi o programa projovem adolescente. Não
bastando apenas entender a importância do referido programa em si, mas,
sobretudo traçar um panorama geral do mesmo em diferentes localidades brasileiras
e o resultado deste sob a ótica do gestor, do educador social e principalmente dos
jovens.
14

2 Objetivo
15

2.1 OBJETIVO GERAL:

✓ Investigar a percepção de gestores, educadores sociais e usuários, do


serviço de convivência e fortalecimento de vínculos- ProJovem adolescente e
fornecer informações a respeito da influência deste programa na vida dos
jovens, a partir de fontes bibliográficas, possibilitando traçar um perfil das
potencialidades e fragilidades do programa sob a ótica dos profissionais e
usuários envolvidos.
16

3 Referencial Teórico
17

O SCFV possui um caráter preventivo e proativo, pautado na defesa e


afirmação de direitos e no desenvolvimento de capacidades e potencialidades dos
usuários, com vistas ao alcance de alternativas emancipatórias para o
enfrentamento das vulnerabilidades sociais. Deve ser ofertado de modo a garantir as
seguranças de acolhida e de convívio familiar e comunitário, além de estimular o
desenvolvimento da autonomia dos usuários (LEAL, SILVA E ALVES, 2017).

3.1 BREVE ASPECTO HISTÓRICO DO SERVIÇO DE CONVIVÊNCIA E


FORTALECIMENTO DE VÍNCULOS - PROJOVEM COMO UMA POLÍTICA
PÚBLICA

O Programa Nacional de Inclusão de Jovens: Educação, Qualificação e Ação


Comunitária (ProJovem) foi implantado em 2005 “como parte do conjunto de ações
instituídas pelo governo federal para a conformação de uma Política Nacional de
Juventude (...) visando o estabelecimento da institucionalidade de políticas
direcionadas para esse segmento.”(ANDRADE, et al., 2009, p. 74.). Quando o
programa foi criado, o seu objetivo estava destinado “à inclusão social de jovens de
18 a 24 anos, tendo como meta a integração entre o aumento da escolaridade
(conclusão do ensino fundamental), a qualificação profissional (formação inicial) e a
ação comunitária.” (ANDRADE, et al., 2009, p. 74).

Em 2008 o programa foi analisado e passou por algumas reformulações para


abranger um número maior de jovens, assim, foram criadas várias outras vertentes
do programa, como: O Projovem Urbano, o Projovem adolescente, o Projovem do
campo e o Projovem Trabalhador (ANDRADE, et al., 2009). O Projovem adolescente
que posteriormente passou a ser vinculado ao Serviço de Convivência e
Fortalecimento de Vínculos (SCFV) tinha “o objetivo de complementar a proteção
social básica à família, oferecendo mecanismos para garantir a convivência familiar
e comunitária e criar condições para a inserção, reinserção e permanência do jovem
no sistema educacional.” (ANDRADE, et al., 2009, p. 75).

Tendo como propósito a certificação no ensino fundamental através de uma


formação integrada em três eixos: escolarização, qualificação profissional e ação
18

comunitária. O programa prevê ainda o financiamento de uma bolsa mensal de cem


reais para alunos que tiverem 75% de frequência e que cumprirem com as
atividades socioeducativas (LEÃO E NONATO, 2012).

3.2 CONTEXTUALIZAÇÃO E CARACTERÍSTICAS GERAIS DO PROJOVEM


ADOLESCENTE

O ProJovem Adolescente é um serviço de Proteção Social Básica desenvolvido


no âmbito do SUAS e será executado sob a supervisão dos Centros de Referência
de Assistência Social (CRAS). Nestes núcleos serão desenvolvidas atividades que
estimulem a convivência familiar e comunitária, que propiciem o desenvolvimento
pessoal e social e capacitem o jovem para atuar como agente de transformação e
desenvolvimento de sua comunidade, além de sensibilizá-lo e informá-lo sobre o
mercado de trabalho. Outra meta do programa é contribuir para a diminuição dos
índices de violência entre os jovens, do uso de drogas, da incidência de doenças
sexualmente transmissíveis e de gravidez não planejada (MDS/2009).

O Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos (SCFV) criado em


2005, integrante da PNAS (Programa Nacional de Assistência Social), sendo que o
mesmo acaba integrando o serviço e transferência de renda, no qual acaba exigindo
esforço de integração de todos os gestores (municipais, estaduais e federais), que
após reformulação e ampliação do projeto, passou a abranger a população com
idade de 15 a 29 anos, por meio das subdivisões do programa em quatro grandes
modalidades, passando a ser regido pela Lei n° 11.692, de 10 de junho de 2008
(MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO SOCIAL E COMBATE À FOME, 2009).

•PROJOVEM ADOLESCENTE – SERVIÇO SOCIOEDUCATIVO, coordenado


pelo Ministério do Desenvolvimento Social (MDS);

• PROJOVEM URBANO, coordenado pela SNJ;

• PROJOVEM CAMPO – SABERES DA TERRA, coordenado pelo MEC;

• PROJOVEM TRABALHADOR, coordenado pelo MTE.


19

Diante do exposto, foi feito uma breve explanação histórica da constituição das
políticas públicas no Brasil, na tentativa de situar nosso objeto de estudo, o
ProJovem adolescente.

A implantação do Projovem, da Secretaria Nacional da Juventude e do


Conselho Nacional da Juventude, representa um novo modelo que acredita na
singularidade, diversidade e vulnerabilidade desse segmento social (COLA, 2012).

À Secretaria Nacional da Juventude competem as seguintes responsabilidades:

✓ formular, coordenar, supervisionar, integrar e articular políticas públicas para


a juventude;
✓ articular, promover e executar programas de cooperação com organismos
nacionais e internacionais, públicos e privados, voltados para a
implementação de políticas públicas para a juventude (BRASIL, 2005b, p. 6).

Já o Conselho Nacional da Juventude foi implantado com as seguintes


finalidades:

✓ Assessorar a Secretaria Nacional da Juventude na formulação de diretrizes


de ação governamental;
✓ Promover estudos e pesquisas acerca da realidade socioeconômica juvenil;
✓ Assegurar que a Política Nacional da Juventude do Governo Lula seja
conduzida por meio do reconhecimento dos direitos e das capacidades dos
jovens e da ampliação da participação cidadã (BRASIL, 2005, p. 6).

3.3 POTENCIALIDADES E FRAGILIDADES DO SERVIÇO DE CONVIVÊNCIA E


FORTALECIMENTOS DE VÍNCULOS.

Embora o acelerado processo de globalização mundial em pleno século XXI


tenha trazido grandes avanços do ponto de vista tecnológico e produtivo, avanços
estes, que refletem também no perfil da classe trabalhadora, no mercado, sendo
exigência cada vez maior a qualificação profissional, conjuntamente a esses
20

aspectos tem se acentuado a desigualdade social no Brasil e no mundo, atingindo


assim toda a sociedade e de forma ainda mais agravante a juventude, sobretudo os
mais pobres, os quais vivenciam uma fase de busca pela autonomia, pela dignidade
enquanto ser humano (LOMBARDI et al., 2013).

Considerar as diversas questões que perpassam os problemas sociais, os


quais atingem diretamente o jovem, é compreender como se dão as relações no
mundo contemporâneo, marcado pela combinação de uma acelerada globalização
junto à permanência das desigualdades sociais (ALMEIDA et al.,2014).

Referindo a esse aspecto da discussão, NOVAES (2007) enfatiza que:

Pelo mundo afora, são os jovens os mais atingidos: tanto pelas


transformações sociais, que tornam o mercado de trabalho restritivo
e mutante, quanto pelas distintas maneiras de violência física e
simbólica, que caracterizaram o final do século XX e persistem neste
início do século XXI. (p. 253).

Segundo CAIRES (2015), é possível afirmar que o maior contingente de jovens


em vulnerabilidade social encontra-se nos países de “terceiro mundo”. Em
decorrência disso, o tema “juventude” ganhou evidência e insere-se na agenda
governamental de vários países, principalmente os da América Latina, muitas vezes
sob a tutela de organismos internacionais, considerados fortalecedores nas políticas
públicas voltadas para a educação, como World Bank, o Fundo Monetário
Internacional (FMI), a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento
Econômico (OCDE) e a Organização das Nações Unidas para a Educação, a
Ciência e a Cultura (Unesco) (MAINARDES COVRE, 2007).

Ao considerar as mudanças do mundo contemporâneo e as características da


sociedade brasileira, as políticas públicas também se transformam e ganham uma
nova performance ao longo do tempo. A juventude conquistou seu espaço nas
políticas públicas a partir da década de 90 com a política neoliberal. A partir daí a
preocupação com a juventude foi crescendo não somente pela acentuada massa de
21

jovens, mas por representar uma nova sociedade pós-industrial, ora considerada
“sujeito de direitos”, impulsionadora do desenvolvimento, ora encarada como
“problema social” (PEDROSO, 2014). Sendo assim, o segmento juvenil é inserido na
agenda política governamental e passa a ser visto como uma parcela da população
vulnerável ao desemprego, às desigualdades e à violência social (CECARELLI E
SALLES, 2016).

Sabe-se que, de acordo com a Lei nº 11.629, de 10 de junho de 2008,


sancionada pelo presidente Lula, que lançou o novo Projovem Adolescente, o
programa é voltado para adolescentes entre 15(quinze) e 17(dezessete) anos que
possuam o seguinte perfil: pertencentes a famílias beneficiárias do programa Bolsa
Família (PBF); egressos de medidas socioeducativas de internação ou em
cumprimento de outras medidas socioeducativas em meio aberto, conforme exposto
na Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 - Estatuto da Criança e do Adolescente; em
cumprimento ou egressos de medidas de proteção, conforme disposto na Lei nº
8.069/1990; egressos do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (PETI);
egressos ou vinculados a programas de combate à violência, ao abuso e à
exploração sexual (BRASIL, 2005b, p. 54).
Para o MDS, o trabalho com grupos realizado nos SCFV para crianças e
adolescentes em diversos municípios brasileiros já existia, mas essas atividades não
apresentavam aquisições compatíveis com a política pública de assistência social, já
que se apresentavam muitas vezes desconectadas e desarticuladas em relação aos
outros serviços socioassistenciais, descaracterizando ações de caráter preventivo e
antecipatório a situações de risco social que produzem vulnerabilidades.
Acreditamos que essa nova metodologia de trabalho no SCFV para crianças e
adolescentes, com foco em atividades socioassistenciais, apresenta um modelo
diferente do modelo pensado antes específico para as crianças e adolescentes
oriundos de trabalho infantil e/ou retirados dessa situação, sendo considerado um
dos instrumentos de prevenção e combate ao trabalho infantil; além de que faltou
participação de outros setores do governo, como a saúde, educação, da sociedade
civil e dos usuários nas discussões e no processo dessas mudanças; antes a política
23 era baseada em modelos ou ações socioeducativas, aliando transferência de
renda mais educação, elaboradas em sintonia com a escola frequentada pelos
educandos (LOPES, 2014).
22

Sabemos que outros serviços contribuem ou podem atuar de forma a prevenir


o trabalho infantil, como é o caso, do Programa Mais Educação, desenvolvido em
algumas escolas da rede pública, onde o SCFV ainda não organiza sua oferta de
maneira articulada com esse programa e não oferece condições para retirar
definitivamente crianças e adolescentes do trabalho infantil, por não possuir espaços
físicos adequados para o desenvolvimento de atividades específicas com crianças e
adolescentes. A escola também não está estruturada pedagogicamente para
atender crianças e adolescentes oriundas do trabalho infantil e oferecer educação
em tempo integral (Id, 2014).

O Projovem possui uma gestão e financiamento compartilhados pela União,


Estados, Distrito Federal (DF) e municípios, cada ente federativo com suas
atribuições específicas estabelecidas no art. 17 do Decreto n° 6.629, de 4 de
novembro de 2008, que regulamenta esta Lei (BRASIL, 2009).

O primeiro país da América Latina a elaborar um Conselho Nacional de


Juventude (CONJUVE) foi o Brasil. Este conselho liga o Brasil a outros países, da
América Latina e Europa e vem implementando ações no âmbito das políticas
públicas para os jovens. Em detrimento das metas, critérios e objetivos, PINHEIRO
(2012), enfatiza que o caráter emergencial do programa, se dá em função, da alta
demanda existente e pelas características socioeconômicas desses jovens,
geralmente bastante precárias, o que os coloca como sujeitos com alta
predisposição à marginalidade social, as drogas e ao crime organizado, daí a
importância de programas voltados para o público jovem e, sobretudo a classe
menos favorecida.

3.4 A ATUAÇÃO DO ASSISTENTE SOCIAL JUNTO AO PROJOVEM

Além da atuação de gestores, facilitadores e educadores sociais, temos um


outro elemento diferenciador, o qual está diretamente ligado a contribuição no
atendimento e acompanhamento de jovens no processo educativo, tendo em vista a
ação educativa e política que a profissão propõe, este elemento ao qual nos
dirigimos é o assistente social (MELO,2011).
23

O assistente social detém a função de articulador das políticas sociais,


procurando minimizar os efeitos desencadeados pelas desigualdades.
Desempenham um papel indispensável nas unidades dos CRAS, prestam
atendimento socioassistencial, articulam os serviços disponíveis em cada localidade,
fortalecendo a rede de proteção social básica. Suas ações no CRAS envolvem:
atendimento individual, cadastro de famílias para o acesso aos serviços oferecidos
pela rede, cadastro único para obtenção do benefício Bolsa-família, participam da
assessoria Jurídica, orientações quanto aos direitos sociais, visitas domiciliares;
ações educativas, tais como: (palestras, eventos comemorativos), dentre outras
competências. A participação deste profissional no ProJovem adolescente se dá
através do viés educativo que envolve a profissão, do levantamento e da análise das
principais vulnerabilidades sociais presentes na comunidade e das propostas de
enfrentamento dos problemas (MELO, 2011).

Nesse sentido, o ProJovem Adolescente configura-se como espaço privilegiado


para atuação profissional do assistente social, uma vez que possibilita a abertura de
reflexão junto aos jovens que aponta para a construção da intervenção concreta no
âmbito de suas realidades.

È pertinente lembrar que, a proposta inicial do projovem adolescente assim


como todo projeto que vivencia dificuldades no começo, com ele não foi diferente,
pois ao ser inserido nos municípios, foi apresentado como que uma proposta
independente do CRAS, embora fazendo parte do mesmo, havia uma relação
distante, como se fossem setores com objetivos totalmente opostos, o que na prática
não deve ser. Neste sentido, existia um movimento inverso da proposta do projovem
adolescente. A inserção obrigatoriamente tem que ocorrer via CRAS, a partir da
demanda identificada pelos profissionais de referência, pois assim é garantido o
atendimento aos jovens e suas famílias (COLA, 2012).

O funcionamento do Programa Projovem Adolescente, se dá de forma padrão


em todo território brasileiro: agregados em coletivos de no mínimo 25 integrantes, os
jovens são acompanhados por assistentes sociais, participando de vários momentos,
por exemplo: oficinas educativas de cultura, esporte e lazer, além de encontros
semanais com os educadores sociais. O material pedagógico é especificamente
elaborado para dialogar com a realidade desses jovens em situação de risco. A
24

metodologia adotada é trabalhada de acordo com os temas que envolvam a


convivência social (TELES, 2009).

O CRAS é uma unidade que visa o apoio às famílias e indivíduos garantindo os


direitos, com ênfase na convivência familiar, por isso é tido como a principal via de
acesso da família na política de proteção básica, o qual tem a finalidade de prevenir
a situação de vulnerabilidade e riscos sociais por meio do desenvolvimento de
potencialidades e aquisições do fortalecimento de vínculos familiares e comunitários,
cuja ações devem ser voltadas as famílias em situação de extrema pobreza,
desemprego, rompimento ou fragilização dos vínculos afetivos familiares ou
comunitários, entre outros (CARMO et al.,2010).
A Resolução CNAS nº 17, de 20 de junho de 2011, elenca os profissionais de
nível superior que, obrigatoriamente, deverão compor a equipe de referência por
nível de proteção social. No caso da proteção social básica, os profissionais com
nível superior que devem compor a equipe de referência do CRAS são o assistente
social e o psicólogo. Todavia, conforme dispõe a referida Resolução, a critério da
gestão municipal e do Distrito Federal, outros profissionais de nível superior poderão
compor esta equipe, para atender as requisições específicas do serviço (LOPES,
2014).

No entanto, até o ano (2012) os profissionais do CRAS não tinham acesso a


listagem do CadÚnico com a identificação dos jovens que possivelmente estariam
inseridos no programa. Outro aspecto proveniente desta forma de inserção dos
jovens está relacionado ao cumprimento das exigências associadas ao perfil
prioritário do programa. Muitas vezes não se alcança os jovens das famílias que
estão inscritas no CadÚnico e mobilizam-se aqueles que não possuem a idade
adequada e o perfil esperado. Ocasionando em fragilidades no atendimento aos
objetivos e metas do programa, reforça MENDES E RIBEIRO (2013).
A comunicação entre os serviços é essencial para assegurar o trabalho
articulado entre instituições responsáveis pela oferta e execução dos serviços de
Proteção Social Básica. O compartilhamento de informações, de maneira ética e
responsável, servirá como insumo para o desenvolvimento das ações desses
serviços, ampliando-se, assim, a capacidade protetiva das famílias e a
responsabilização do Estado. É crucial que os profissionais que atuam nos serviços
mantenham postura ética em relação às informações dos usuários, mantendo o
25

sigilo necessário, haja vista que se trata da intimidade de famílias e usuários. Nesse
sentido, é preciso ter em mente os princípios éticos para os trabalhadores da
assistência social elencados na NOB/SUAS RH (MDS, 2011, p. 21-23), entre os
quais destaca-se “a proteção à privacidade dos usuários, observado o sigilo
profissional, preservando sua privacidade e opção e resgatando sua história de vida
real” (SNAS, 2016).

As ações desenvolvidas pelo ProJovem é resultado de uma interação entre


gestores e orientadores, que desempenham a tarefa de facilitar a trajetória que
esses jovens têm que percorrer para vencer as muitas dificuldades encontradas.
Para o gestor, desde 2008 quando foi implantado, que o programa só tem
proporcionado efeitos positivos relacionados a permanência dos alunos que
participam e já participaram dessa modalidade socioeducativa destacada no estado
da Paraíba por (FREIRE E OLIVEIRA,2012).

Atualmente o projovem vem ganhando uma nova configuração, um novo perfil,


a partir do entendimento de que o mesmo deve estar inserido no CRAS, em uma via
de mão dupla, fazendo parte de uma das demandas do Serviço de Convivência e
Fortalecimento de Vínculos (SCFV), a estrutura e funcionamento ganham novos
significados, uma vez que, com essa comunicação mútua entre CRAS x Projovem
há uma contribuição significativa nos serviços oferecidos, um melhor
acompanhamento não só dos jovens cadastrados, mas sobretudo da família, que
poderá ter um melhor acolhimento e por sua vez fortalecer vínculos.

Sendo assim, o ProJovem adolescente é um dos programas apresentados


pelo CRAS, cuja missão é preparar o adolescente para o mercado de trabalho e o
retorno ou permanência no sistema educacional (CARMO et al.,2010).

Este serviço está organizado em dois ciclos – Ciclo I e Ciclo II – que


desenvolvem ações socioeducativas, sob a responsabilidade de um orientador social
e de um ou mais facilitador de oficinas com acompanhamento e supervisão de
profissional de nível superior do CRAS. (caderno orientador social – Ciclo I –
Percurso Socioeducativo IV, TRAÇADO METODOLÓGICO, 2009). O Ciclo I tem por
objetivo tornar o coletivo de jovens um espaço de referencia formativa e de convívio
afetivo, lúdico e solidário para os jovens que gera oportunidades para o
26

desenvolvimento de criatividades e desperte novos interesses. A duração do Ciclo I


e de cada um dos quatro percursos sócioeducativos que o compõem deve ajustar-se
ao ritmo e características próprias de cada coletivo, em sintonia com a realidade
local em que se insere, estimasse a duração seja em torno de um ano de conclusão
do Ciclo I com cerca de três meses para o desenvolvimento de cada um dos quatro
percursos sócioeducativos previstos. (caderno orientador social – Ciclo I – Percurso
Socioeducativo IV, TRAÇADO METODOLÓGICO, 2009, p. 17).

O Ciclo II tem por objetivo de consolidar o coletivo de jovens, como espaço de


referencia formativo que aprofunda a orientação e a formação para o mundo do
trabalho e a participação cidadã. Proporciona a apropriação de tecnologia de
comunicação e instrumental de planejamento participativo, buscando o
desenvolvimento dos jovens em projetos coletivos de interesse social, que
represente experiências práticas de exercício de cidadania. Esta etapa abrange o
exercício de diversas capacidades transversais, concomitantemente ao
desenvolvimento de habilidades de comunicação oral e escrita – enfatizando a
inclusão digital – e ao desenvolvimento individual de um projeto de orientação
profissional. (caderno orientador social – Ciclo I – Percurso Socioeducativo IV,
Coletivo Questionador, TRAÇADO METODOLÓGICO, 2009, p. 17).

Junto aos percursos socioeducativos tem-se os eixos estruturantes e temas


transversais do ProJovem adolescente são: Juventude e Trabalho, Juventude e
Saúde, Juventude Meio ambiente, Juventude e Cultura, Juventude, esporte e lazer,
Juventude e Direitos humanos e Socioassistenciais. Existe toda uma equipe de
profissionais tais como: coordenador pedagógico, assistente social, educador social,
psicólogo que juntos oferecem estes serviços à comunidade (COLA, 2012).

Os coletivos do ProJovem Adolescente dispõem alternativas em seu traçado


metodológico, tendo em vista que seus temas transversais estimulam seus eixos
estruturantes por meio de diálogos plurais que exigem do educador e/ou facilitador
social uma práxis construtiva, investigativa e inovadora, em função do cotidiano
destes jovens ser dinâmico e repleto de interpretações sociais e simbólicas
(DORNELLES, 2013).
27

Para PEDROSO (2014), os encontros e atividades em grupos promovidos aos


adolescentes, trabalhando temas e/ou conteúdos de seu cotidiano, são maneiras de
envolvê-los de tal forma que se sintam acolhidos, possibilitando o desenvolvimento
de suas múltiplas habilidades, criando assim condições de inserção, reinserção e
permanência do jovem no sistema educacional.

Estudos desenvolvidos com esta mesma temática trazem informações a


respeito da percepção dos jovens, assim como dos profissionais envolvidos no
programa. A maior parte das produções acadêmicas realizam registros que
caracterizam o ProJovem como um programa fortalecedor de vínculos; ambiente
onde novos conhecimentos são adquiridos; as oficinas são verdadeiros momentos
lúdicos que fazem o adolescente esquecer os problemas, despertam interesse pelas
atividades que envolvem esporte, cultura e lazer, como bem relata a literatura
(ESTRELA, 2013; ARAÚJO E LUVIZOTTO,2012; LOMBARDI,2013; LEÃO E
NONATO,2012; TELES, 2009).

Dão relevância também no olhar dos profissionais a respeito do programa, os


quais reconhecem como uma ótima iniciativa do governo, que promove efeitos
positivos, pois tira os jovens das ruas, além de proporcionar uma formação critica e
reflexiva, sem contar o trabalho que é voltado para a convivência social, que acaba
sendo um fator primordial na construção do ser, mesmo mergulhado em dificuldades
e desafios, o programa tem trazido significados satisfatórios em diversas regiões do
país (ESTRELA, 2013; PEDROSO, 2014; ARAÚJO, 2014).

Embora seja um programa relativamente novo e ainda em processo de


amadurecimento e aperfeiçoamento, já tem trazido valiosas ações em diversas
localidades e tende a ampliar ainda mais seu alcance.

As atividades desenvolvidas pelo programa são complementares à educação


formal, sendo deste modo que para a participação no programa é exigido do jovem
que freqüente a educação regular. O ProJovem ocorre no contra-turno escolar dos
jovens. No período em que não estão na escola, eles freqüentam dois dias por
semana o programa, onde são empreendidas atividades de inclusão digital, esporte,
música, teatro e oficinas (CALADO et al.,2014).
28

A maioria dos educadores sociais possuem educação superior, concluída ou


em fase de conclusão e, sobretudo, todas na área de Ciências Humanas. Existem
algumas localidades que exigem que o educador possua ao menos nível médio
concluído para atuar. Porém, não se pode desconsiderar a importância de uma
formação pedagógica do educador social para melhor exercer com domínio e
aprofundamento, como também o conhecimento de práticas pedagógicas e
procedimentos dos serviços socioeducativos; sem dúvidas uma boa bagagem
curricular contribui significativamente na hora de exercer a função e sobretudo as
chances de estar oferecendo um serviço de qualidade aos jovens (ARAÚJO E
LUVIZOTTO, 2012).

É lamentável que em muitos locais a equipe de contratados temporários em


sua maioria não sejam capacitados ou não possuam formação correspondente a sua
área de atuação, isso é um fator extremamente preocupante, tendo em vista que
geram consequências sinérgicas que afetam a estrutura, o funcionamento, a falta de
preparação do educador faz com que a participação do público beneficiado seja
reduzida, pois muitos jovens perdem o interesse e chegam a desistir do programa,
justamente por não encontrar algo que lhe motive, que desperte o desejo de
continuar; as atividades tornam-se monótonas, gerando desconforto por parte do
público. Com isso as dificuldades tendem a crescer, pois os desafios que surgem
muitas vezes não são solucionados como deveriam, ou não recebem devida
atenção, deixando a desejar os serviços oferecidos (ARAÚJO, 2014; ARAÚJO E
LUVIZOTTO, 2012).

Segundo o próprio traçado metodológico: “O educador Social é a "alma" do


Projovem Adolescente. Pois se encarrega de auxiliar no percurso de cada jovem e
do coletivo juvenil rumo ao desenvolvimento pessoal e social, propiciando a criação
de um espaço educativo, participativo e democrático. O mesmo terá que lidar com
muitas dificuldades no exercício da profissão, tais como falta de financiamento para
custear as despesas com o programa, as condições precárias para que se consiga
trabalhar de acordo com as demandas; saber lidar com a precariedade muitas vezes
de um espaço físico e apropriado para os encontros e atividades do ProJovem,
entre outros fatores (ESTRELA, 2013).
29

Este mesmo autor enfatiza que além da tarefa desafiante de atrair os jovens a
participar do programa, é exigido que se trabalhe a permanência do mesmo,
evitando a evasão. O educador social deve formar um coletivo de no mínimo quinze
jovens e no máximo trinta, caso contrário, o programa não entra em ação
(ESTRELA, 2013). Daí a importância em ter um programa como este, em
consonância com a rede regular de ensino.

Identifica-se, portanto, duas características que marcam significativamente as


ações das políticas públicas aplicadas aos jovens: a obrigatoriedade escolar, em que
o jovem para ter direito aos serviços de cultura e lazer, impreterivelmente terá que
ter cumprido suas obrigações com a escola regular e também a questão do uso do
tempo livre do jovem, como uma forma de prevenir que este se torne um tempo
nocivo (SARRIERA et al.,2007; CECARELLI E SALLES, 2016)

3.5 A REALIDADE DO PROJOVEM NA PRÁTICA

A concepção de Qualificação Profissional do Programa Nacional de Inclusão de


Jovens: Educação, Qualificação e Ação Comunitária - ProJovem mostrou-se
inovadora, organizandose em arcos compostos por quatro ocupações que abrangem
o planejamento, a produção e a comercialização de bens e serviços, de modo que o
jovem se prepara para ser empregado, mas também pequeno empresário ou sócio
de cooperativa ( LEAL, 2017).

A Qualificação Profissional inclui ainda a formação técnica geral (FTG), que


aborda aspectos teórico-práticos importantes para qualquer tipo de curso
profissionalizante. Quanto à oferta de cursos profissionalizantes, nas primeiras
etapas de implantação do ProJovem o arco de ocupações mais presente foi o de
Construção e Reparos, que tem duas modalidades e foi adotado em 19 das 27
capitais. O arco de Turismo e Hospitalidade foi oferecido em outras 17 capitais e o
de Telemática, em 14. Foram ainda marcantes as ofertas de profissionalização em
Madeira e Móveis, que se concentraram na região norte do país, nas capitais sob a
influência da Floresta Amazônica – com exceção de Belém (PA), que optou pelo
30

AgroExtrativismo, também relacionado aos recursos da floresta (MINISTÉRIO DO


DESENVOLVIMENTO SOCIAL E COMBATE À FOME, 2016).

3.6 PERCEPÇÃO DO GESTOR E EDUCADOR SOCIAL

Algumas questões pertinentes aos jovens na visão dos profissionais que


convivem diretamente com eles, diz respeito a certas limitações por exemplo, no
inicio dos encontros os jovens não interagem muito, evitam falar, se expor,
apresentam dificuldades no convívio com os demais participantes, talvez pela
timidez, porém aos poucos, com o passar dos dias vão se habituando e superando
esse comportamento, naturalmente (FREIRE E OLIVEIRA,2012). Aos poucos vão se
quebrando as resistências e esses ficam mais disponíveis para as atividades
desenvolvidas no CRAS (ARAÚJO, 2014).

No entanto, cabe ao educador social, desenvolver saberes docentes que


orientem suas práticas a partir de formação específica, conceituando sua função no
“fazer” das atividades, reconhecendo o perfil dos jovens, seus anseios e, sobretudo
refletindo sobre o seu planejamento e suas ações (ARAÚJO E LUVIZOTTO, 2012).

Uma das principais dificuldades encontradas pelos gestores do estado de


Sergipe por exemplo está relacionada a frequência desses jovens no programa.
Outros autores como ARAÚJO, 2014; FREIRE E OLIVEIRA, 2012, argumentam que
recursos financeiros é um fator preocupante, pois tem provocado frustação em
alguns profissionais por não atender as necessidades durante a execução do
programa, bem como a falta de apoio das secretarias locais. Para LIMA (2014), esse
é um programa que funciona muito bem com parcerias e se houver parcerias, caso
contrário fica difícil oferecer atividades que despertem no jovem o desejo de
participar do CRAS, por isso é importante incentivar, divulgar e fazer parcerias
(CARMO et al.,2010).

Somado a isso, há dificuldade em manter os profissionais em suas funções


durante o processo eleitoral, isso porque o programa é encarado como política de
governo, nos remonta, lamentavelmente, às nossas raízes clientelistas e
31

assistencialistas (TELES, 2009). Tais fatos têm contribuído para um nível de


rotatividade de profissionais no serviço público nunca antes experimentado,
comprometendo a qualidade e a continuidade das ações nas diversas áreas onde o
Estado atua, sendo esta uma realidade nacional.

A própria gestão do ProJovem reconhece a importância do CRAS como


unidade de apoio e fortalecimento de vínculos, que hoje graças a essa parceria o
programa tem ganhado uma nova configuração que há anos não existia. Hoje em
dia, o CRAS abraça o Projovem e o CRAS diz que o Projovem é do CRAS, um
serviço do CRAS, conseguimos agregar mais técnicos para nos ajudar, é assim que
estamos vencendo muitos desafios que abrangem desde estrutura física até
questões metodológicas (FRACIOLLI E MINETTO, 2012; ARAÚJO, 2014).

3.7 PERCEPÇÃO DOS JOVENS A RESPEITO DO PROGRAMA

✓ Pontos positivos:

Representa experiências marcantes, oportunidades que muitos não têm. Na


formação de sua personalidade, o adolescente necessita de orientação e um
direcionamento que o leve a conhecer seus direitos e deveres e suas
potencialidades (FREIRE E OLIVEIRA,2012)
O ProJovem serviu como algo “motivador” para dar continuidade aos estudos,
que até então eles não enxergavam como algo bom, hoje, graças a influência da
educadora social, os jovens se sentem mais interessados na escola regular ao ponto
de concluir os estudos (LIMA, 2014).
Representou um avanço, uma nova forma de enxergar o mundo, as
possibilidades e o nosso espaço enquanto jovem no ambiente profissional e familiar
(COLA, 2012).
É importante para livrar das drogas e da violência, ocupar a nossa mente com
coisas boas (LIMA, 2014).
32

✓ Pontos negativos:

As oficinas serviram apenas como forma de manter o jovem ocupado, mas a


mudança esperada conforme colocada pelo traçado metodológico não existiu (LIMA,
2014).

Alguns jovens tentavam conciliar trabalho e escola. Essa era a principal


condição que atrapalhava o jovem a permanecer no programa. Por causa do
trabalho chegavam atrasados ou faltavam às aulas. Assim, também não recebiam a
bolsa o que era desestimulante e acabavam desistindo (COLA, 2012).

È uma boa oportunidade para os jovens, porém a falta de recursos


compromete o desenvolvimento das atividades (Campos, 2013).
Observa-se que o Programa representa para os jovens a ampliação do
conhecimento, do desenvolvimento, possibilitando-lhes novas escolhas e
aprendizado de princípios e valores, de comportamentos e condutas que
possibilitem a convivência social, além da construção de novas amizades, indo de
encontro ao que propõe as ações sócioeducativas na área dos direitos garantidos
por meio da Política de Assistência Social, apresentadas nas Concepções e
Fundamentos (2009, p. 35).

Entendidas como uma oportunidade de desenvolvimento social e pessoal dos


jovens [que] contribui para que estes reflitam e desenvolvam o conhecimento, o
compromisso com a cidadania e participação social. É importante preocupar-se com
a formação do ser humano em sua totalidade. Formação entendida no sentido
amplo, enquanto exercício das potencialidades básicas do ser humano, tais como: a
racionalidade, a emoção, a criatividade, o afeto, as diferentes formas de linguagem.
Espaço de desenvolvimento de competências e habilidades e acesso à construção
de valores e visões de mundo articuladas com seu grupo social (MDS / SNAS/
DPSB, 2007).

Em um estudo desenvolvido no Rio Grande do Norte, por BEZERRA, 2011, foi


observado a necessidade em envolver a música não só como atividade
complementar, mas sobretudo, como uma proposta de educação musical, sendo
assim, foi trabalhada a prática do canto coral e os resultados foram bastante
satisfatórios, que além da segurança e autonomia adquirida com relação a
33

performance musical, uma das participantes havia ingressado em um importante


coral da cidade e outra decidiu continuar seus estudos musicais e ingressou em uma
orquestra filarmônica evangélica. Ações como esta, trazem bons frutos, não só ao
jovem, mas o programa como um todo se sente prestigiado.

Outras oficinas estimulantes relatadas na bibliografia estão relacionadas ao


meio ambiente (o cuidado com o lixo, coleta seletiva), em que os adolescentes
definem perfeitamente a coleta seletiva, como a separação entre o lixo orgânico e os
materiais recicláveis. Os mesmos reconhecem como um ato que deveria ser
praticado em todos os municípios, pois seus efeitos são benéficos para o meio
ambiente, além de ser uma possibilidade de fonte de renda (CALADO et al.,2014).

A partir desta ação de coleta seletiva do lixo, foi realizada uma segunda etapa
que consistiu em uma produção teatral desenvolvida pelo projovem adolescente no
estado da Paraíba, utilizando fantoches produzidos pelos próprios jovens, que
apresentaram durante a semana do livro didático nas escolas municipais. Dois
pontos principais foram enfatizados na encenação: o reaproveitamento de materiais
e a relevância da leitura, unindo educação ambiental e social, além do incentivo à
leitura, tendo em vista que nesta fase os adolescentes se mostram ainda mais
desmotivados e cada vez mais acomodados, aumentando assim suas fragilidades
com a leitura, escrita, e o cálculo principalmente. (CALADO et al.,2014).

Percebe-se contudo, que pequenas ações interdisciplinares tem a capacidade


de gerar significados complexos e valiosos, promovendo uma rede de
conhecimentos e interrelações entre pessoas, ambientes e saberes. Pois no
exemplo anteriormente citado, observamos a iniciativa do jovem inserido no
programa, em busca de repassar, ampliar e porque não dizer divulgar o que ele
aprende, e dessa forma adquirir novas experiências e desenvolver cada vez mais
suas habilidades enquanto jovem. Ou seja, é jovem educando jovens. O uso de
atividades lúdicas com o adolescente é imprescindível, pois conquista a sua
participação e o transforma em um agente multiplicador.

Outros temas inseridos nas atividades e debates dos encontros projovem,


estão relacionadas aos temas: corpo humano; sexualidade; drogas; artes, grafite,
esporte; lazer; atividades de qualificação profissional, principalmente cursos de
informática (COLA, 2012; FREIRE E OLIVEIRA, 2012; ARAÚJO, 2014; LIMA, 2014).
34

Oficinas que trabalhem o corpo, o movimento, tais como capoeira, futsal, dança, são
sempre as mais atraentes para o público jovem, principalmente por estimulá-los ao
trabalho em equipe ESTRELA (2013).

Os passeios quando possíveis tais como (visita a museus, entre outros locais),
tornaram-se interessantes para os jovens, porque eles passavam a conhecer um
pouco mais do bairro e da região em que viviam, adquirindo mais conhecimento e
cultura, além de desfrutar de momentos de lazer (COLA, 2012).

Os pais valorizam bastante o programa, a forma como foi e continua sendo


colocado em prática, a qual tem colaborado muito na criação dos filhos, a
desenvolverem um senso crítico, ajudarem seus irmãos menores em casa, a
divulgarem as atividades do programa, a utilizarem o seu tempo livre para
aperfeiçoarem naquilo que aprenderam como por exemplo: praticar algum tipo de
atividade esportiva: jogar bola, fazer uma caminhada; ter habilidade de utilizar o
computador para diversas finalidades: pesquisa, entretenimento, entre outros,
segundo argumenta FRACIOLLI E MINETTO (2012) .

A concepção de cidadania também é algo questionador nas publicações com


essa temática, nas quais revelam como o adolescente constrói o seu próprio
conceito a partir do que aprende no programa, segundo BATISTA et al., 2012
estudando o projovem no estado do Ceará, pôde constatar que eles associam este
conceito ao respeito para com os mais velhos; ao direito à educação, moradia e
esporte, a ter direitos e deveres e sobretudo ter responsabilidade.

Segundo MAINARDES COVRE (2007), cidadania é o direito à vida no sentido


pleno. Ele associa a um direito que necessita ter suas origens de maneira coletiva,
não só tratando de atendimento às necessidades básicas, mas sobretudo, a
promoção em todos os níveis da vida. O autor reforça ainda que só existe cidadania,
se houver a prática da apropriação de espaços, da reivindicação, da estratégia para
a construção de uma sociedade melhor. Sobre esse argumento, é pertinente pensar
na proposta que o programa têm e os reflexos dela na construção do “ser jovem”. A
medida que se apropriam de espaços sociais, vão aos poucos, construindo valores,
condutas necessárias a convivência em sociedade, por outro lado, vão
desconstruindo costumes impróprios, pensamentos que não levam ao seu
35

crescimento pessoal e profissional, e daí passam a compreender o Projovem como


espaço social, um ambiente onde há troca de experiências e aprendizagens diversas
e o mais importante é que a maioria tomam consciência do seu protagonismo como
futuro do nosso país.

No que tange a violência e a sexualidade precoce, os projetos e programas


sociais, neste caso específico o projovem, oferecidos pelo Estado, funcionam como
um amparo mínimo aos usuários. Tendo em vista que não erradicam os problemas
existentes, mas sim, ajudam a minimizá-los para que se reduzam os níveis de
populações em risco e vulnerabilidade social (FONSECA E FILHO, 2011). Nesse
sentido, PINHEIRO et al (2012), reforçam essa ideia ao dizer que a violência é um
fenômeno social e histórico que, por isso mesmo, torna-se fluído e diversificado.

O significado do termo “violência” na percepção dos jovens remete a diversos


aspectos listados por ALMEIDA et al.(2014), tais como as formas em que esse
fenômeno se revela; as quais foram agrupadas em dois eixos: agressão física
(espancamento, estupro, homicídio, assalto e brigas, agressão física e agressão
verbal (julgar, humilhar, falar mal e falta de respeito). Os autores relatam da
dificuldade que os jovens tiveram em conceituar o termo violência, em virtude da
complexidade desse fenômeno social. Somado a isso, foram recorrentemente
citados pelos jovens que a violência também é fruto do preconceito, da
discriminação, do consumo de drogas, do álcool e as diversas relações com o
tráfico. No entanto, a relação que pode existir entre juventude e violência está
relacionada tanto à prática quanto à vitimização do jovem.
A respeito do preconceito, NOVAES (2007), enfatiza que:
Dentro ou fora do Brasil há jovens que são vistos com preconceito
por morarem em áreas pobres, consideradas perigosas. Com
diversas denominações, topografias e históricas, as periferias são
marcadas pela presença de armas de fogo. São elas que sustentam
tanto a tirania do narcotráfico, quanto à truculência policial.
Responder a pergunta “onde você mora” pode ser uma decisiva
trajetória de vida de um jovem. A discriminação por endereço limita o
acesso à educação, ao trabalho e ao lazer dos jovens que vivem nas
favelas e comunidades caracterizadas pela precária presença (ou
ausência) do poder público (p.1-2).
36

As várias formas de violência sejam simbólicas e físicas são bastante relatadas


pelos jovens, sendo comum entre eles a crença de que o projovem pode protegê-
los sobretudo da violência policial. Nesse sentido, os próprios jovens proporão que
fosse criado uma forma de identificação, que associasse diretamente ao programa,
poderia ser uma camisa, um crachá, ou qualquer outro código de identificação que
evitasse agressões por parte dos policiais, principalmente nas regiões onde residem
e estudam (ARAÚJO, 2014). Esse mesmo autor destaca a fala de um dos jovens a
respeito disso quando ele diz:
-é mesmo! Assim, eles não para a gente falando que nós é vagabundo. Identifica.
Sabe que a gente é do Projovem...

A ideia de um código de identificação na fala do jovem soa como algo


libertador, como uma proteção que eles anseiam e que permitem viver sem que
sejam perseguidos, humilhados e até mesmo violentados pela polícia. Porém, diante
da dura realidade em diferentes regiões do Brasil, não podemos deixar de frizar que
por trás desse desejo de se ter uma identificação, muitas vezes os próprios usuários
querem mesmo é se omitir de seus atos, se colocando em posição de vítima, serem
postos como “inocentes” em determinadas situações para se livrarem das ações da
polícia.

A adolescência é, portanto, uma fase da vida humana comumente relacionada


à conflitos e revoltas no qual o indivíduo é tratado de maneira generalizada o que
caracteriza-se como um equívoco, haja vista que, apesar das mudanças físicas
próprias desse período de vida e comum a todos os adolescentes, a adolescência é
sobretudo cultural, ou seja, cada sociedade e cada época teve um tipo de
adolescente com características culturais pertinentes a sua cultura.

Atualmente vivenciamos a cultura tecnológica, a expansão dos meios de


comunicação, o uso exacerbado de várias ferramentas, tais como: celular,
smartphones, notebook, tablet, entre outros. Os quais possibilitam uma comunicação
rápida, por meio das redes sociais: whatsapp, facebook, instagram e tantos outros
aplicativos que facilitam o diálogo, a interação e o entretenimento do público em
geral, especialmente a juventude que se mostra cada vez mais envolvida com essas
ferramentas, as quais nem sempre trazem consigo benefícios, mas também desafios
sobretudo aos educadores da contemporaneidade (PINTO et al.,2012).
37

Acerca do que abrange algumas das reflexões positivas e negativas sobre do


uso de tecnologias e redes sociais, percebe-se as dificuldades encontradas pelos
jovens ao imaginarem ficar sequer um dia longe de seus celulares ou da Internet, é
por essas e outras questões que a cada dia torna-se desafiante ensinar e aprender,
e mais ainda lidar com a violência e tantos outros problemas que afetam a sociedade
atual (PINTO et al.,2012).

3.8 DESAFIOS A SEREM VENCIDOS

As dificuldades apontadas pelos gestores, educadores sociais e


adolescentes, tanto com relação ao financiamento e recursos destinados ao
Projovem, como em relação a infraestrutura e às condições de trabalho dos
profissionais, encontram embasamento nas próprias características históricas das
políticas sociais, as quais têm se caracterizado pela oferta de serviços precários.

Para YAMAMOTO E OLIVEIRA (2010), essa precarização das políticas sociais


é a marca que define as políticas neoliberais. Essa ação, somada ao “processo de
privatização” dos serviços, tem promovido uma reestruturação das respostas do
Estado aos reflexos da questão social. Com a ausência de condições materiais para
o desenvolvimento do trabalho, junto a desvalorização dos profissionais do Projovem
caracterizada pela fragilidade nos vínculos empregatícios, são o reflexo de um
sistema de precarização, que por sua vez é aplicado por dois aparatos:
Descentralização dos serviços (que implica a transferência, aos níveis locais do
governo, da responsabilidade pela oferta de serviços, deteriorados e sem recursos
financeiros) e a focalização (introduzindo um corte de natureza discriminatória para o
acesso aos serviços sociais básicos pela necessidade de comprovação da “condição
de pobreza”, resgatando a lógica da “cidadania regulada”.

È notória a baixa qualidade na efetivação das ações que se voltam para um


público que, justamente, não dispõem de outro tipo de serviços oferecidos com
qualidade, ou seja, tem-se uma política pobre direcionada para os pobres. Os
recursos além de insuficientes são aplicados de forma inadequada, sem uma devida
articulação, que de fato solucione ou ao menos minimize os problemas existentes.
38

As políticas sociais no contexto neoliberal, não possuem a finalidade de


erradicar as diversas formas de mazelas sociais existentes que permeiam a
juventude, mas sim, destinam-se a controlar os altos níveis de miséria, fome,
violência, entre outros. Embora as políticas sociais voltadas para a juventude
apresentem um grande avanço desde a criação do Projovem, ainda precisam serem
vista como prioritárias com relação aos investimentos do governo federal (CAMPOS,
2013).

A partir dos investimentos e da atenção do governo frente as necessidades


emergenciais do programa, as outras demandas se tornam possíveis de serem
implementadas, tendo em vista que o principal fator desencadeador da fragilidade
nas ações do Projovem está relacionado a falta de recursos financeiros.

Outras fragilidades enfrentadas pelo programa que precisam de ajustes é com


relação à criação de estratégias de permanência desses jovens no contexto escolar.
O Programa não apresenta nenhum instrumento de acompanhamento para
identificar se o jovem não está evadindo da escola ou se o programa está tendo
alguma influência nesse processo e da mesma forma, a escola desconhece a forma
de atuação do programa e como se estabelece as práticas desenvolvidas com seus
alunos. È preciso aproximar o universo do Projovem ao universo do ser aluno das
escolas, para melhor intervenção das atividades e envolvimento em sua trajetória
escolar (ARAÚJO, 2014).

Investir em cursos de capacitação sempre que possível para a equipe técnica,


procurando dessa forma inovar as atividades propostas. Assim também como
promover cursos profissionalizantes aos usuários do Projovem, de maneira que
pudessem encaminha-los para o mercado de trabalho (ESTRELA, 2013).

O trabalho em conjunto entre o Projovem com outros setores tais como:


judicial, conselho tutelar, família, escola, governo são indispensáveis, caso contrário
torna-se impossível atender as demandas que surgem, deixando assim lacunas
que só tendem a crescer por falta de posicionamento e articulação.

Os desafios colocados para a classe trabalhadora são muitos e nos parecem


exigir uma apropriação urgente e profunda sobre a não efetivação de direitos
legalmente constituídos, que exigem políticas públicas estatais para se
39

materializarem. Mas por que essas políticas não são efetivadas? Ao longo da
história contemporânea, as políticas sociais destinadas à garantia dos direitos têm
experimentado um movimento de reforma, determinada pelas exigências da nova
ordem do capital. É necessário entender que a determinação dessa crise das
políticas sociais, a qual obrigou o processo de reforma/reestruturação, está situada
na relação que se estabelece entre a dinâmica do capitalismo contemporâneo, sua
orientação macroscópica de fortalecimento do mercado e hegemonia financeira, e a
restrição (objetiva e subjetiva) para a expansão de direitos sociais (SOUZA, 2011).
Conclusão
41

O presente estudo buscou identificar como o Serviço de Convivência e


Fortalecimento de Vínculos: Projovem Adolescente tem trazido benefícios aos seus
usuários. Tendo em vista como principais questionamentos: Será que os jovens
atendidos conseguem fortalecer vínculos, desenvolver potencialidades, enfim, alcançar
novas experiências de vida em um cenário de vulnerabilidade social?
A partir de levantamento bibliográfico a respeito da percepção dos gestores,
educadores sociais e usuários (jovens), foi possível analisar a estrutura e
funcionamento do referido programa e identificar suas potencialidades e fragilidades
enquanto uma política nacional de assistência social.
No que diz respeito à visão dos gestores e educadores sociais sobre a
contribuição do Projovem adolescente, foi bastante enfatizado o fato do programa
ser uma oportunidade do jovem criar vínculos com eles mesmos e com o grupo; de
se envolver em atividades saudáveis que explorarem suas habilidades,
autoconfiança, autocontrole; aprenderem a valorizar o espaço escolar; a
descobrirem seu papel na sociedade, pois o trabalho desenvolvido representa um
espaço de convívio cooperativo visando uma aprendizagem significativa.
Quanto aos jovens, a maioria das pesquisas abordaram a importância e a
influência do programa em suas vidas, relacionadas a diversos aspectos: elevação
da autoestima; permanência na escola; construção da autonomia; da
responsabilidade; do convívio familiar e social; do reconhecimento dos direitos e
deveres do jovem, do pensamento crítico; do planejamento futuro; entre outros
aspectos.
Assim como todo programa do governo federal, não podemos negligenciar que
o serviço de convivência e fortalecimento de vínculos: Projovem adolescente não
apresente lacunas, as quais muitas vezes deixam a desejar na forma como é
colocado em prática seus projetos e atividades, as quais nem sempre contemplam o
que está disposto na lei, fragilizando assim o real propósito do programa. Tais
fragilidades foram relatadas em diversas bibliografias, as quais enfatizam que a
realidade dos programas socioeducativos no Brasil precisam avançar,
principalmente relacionado a investimento financeiro, de haver prioridade nas ações
governamentais para que sejam de fato reduzidas a evasão escolar, a violência, as
drogas, a massa de jovens com dificuldades de aprendizagem; necessita-se de
42

cursos de capacitação para os profissionais envolvidos no SCFV, há uma carência


quanto ao apoio de outros setores tais como: conselho tutelar, justiça, família e
escola, para melhor proximidade entre a causa e a resolução de problemas.
Apesar dos esforços governamentais em planejar e executar políticas, muitos
ainda são os entraves. As ações, na maioria das vezes, são pensadas sem conexão
com a realidade local e participação dos atores envolvidos. De outro lado, os
profissionais dos projetos sociais, em especial, os educadores sociais, precisam
reconhecer e trabalhar os jovens numa perspectiva mais ampla, estimulando-os, a
saber, e a viver a cidadania de forma digna, proporcionando um olhar para além da
identificação das leis, dos direitos e deveres.
Pois sabe se que jovens tem seus direitos e deveres a serem cumpridos diante
a sociedade. Vivemos em um país onde se falar de cumprir leis fica difícil, mas nós
como futuros profissionais queremos e lutaremos para mudar esse contexto.
Diante do exposto, podemos concluir que mesmo com tantos entraves, o
serviço de convivência e fortalecimento de vínculos: projovem adolescente tem
contribuído significativamente na vida dos jovens. Acreditamos que direcionar
algumas pesquisas para o órgão competente seja uma das formas consideradas
oportunas para que elas contribuam para possíveis soluções dos problemas.
Visando sempre o trabalhar em conjunto a exemplo dos profissionais, família,
escola e jovens, pois esta união ajuda na mudança do estilo de vida do jovem
ingresso no programa.
43

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44

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