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INSTITUTO POLITÉCNICO
_____________________________________________________________________
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS
Autores:
Miguel Rafael;
Vanúria Donga
Venâncio Constantino
MALANJE
2023
Miguel Rafael, Nguinamau Eduardo Pedro, Vanúria Donga; Venâncio Constantino
Malanje
2023
II
Dedicatória
A Deus, Pai, Bondoso, Poderoso e Amoroso, por nos conduzir durante esta
formação superior até este período e por nos conceder o dom da vida e da inteligência.
Aos nossos amados irmãos, pela amizade, carinho e o respeito que têm
manifestado por nós.
II
Resumo
Este trabalho tem como objetivo central realizar uma discussão sobre os
impactos do abuso sexual sobre as crianças e adolescentes. Considerando que os
profissionais que lidam com esta demanda devem estar atentos para as diferentes e
potenciais implicações decorrentes de tal circunstância, o presente artigo tem como
objetivo realizar uma sistematização das principais contribuições teóricas pertinentes
sobre o assunto e contribuir para divulgar o conhecimento já elaborado sobre as
possíveis consequências de um abuso sexual na vida de uma criança ou adolescente. A
sistematização dos estudos já realizados aponta que as consequências do abuso sexual
são graves, extensas e diversas. A violência contra a criança e o adolescente é um
problema universal que atinge milhares de vítimas de forma silenciosa e dissimulada.
Trata-se, deste modo, de um problema que acomete ambos os sexos e não costuma
obedecer nenhuma regra como nível social, econômico, religioso ou cultural. Nesse
sentido, é fundamental buscar na literatura elementos que possam iluminar e apontar
para algumas consequências decorrentes do abuso sexual infanto-juvenil, com o
objetivo de entender o seu impacto no desenvolvimento da criança. O que se observa
na literatura existente é a concordância entre os especialistas em reconhecer que a
criança vítima de abuso e de violência sexual corre o risco de uma psicopatologia
grave, que perturba sua evolução psicológica, afetiva e sexual.
III
ABSTRACT
This monograph work discusses the abuse sexual in adolescent neijhbourhood in
Malange at Camoma. with the employees of the respective school. This study focused
on the behavioral analysis of the governing body, teachers and students as well as the
development of their interactions. In a first phase, the observation period took place in
which data were collected about democracy at school and the consequences of its lack.
On the other hand, we performed the analysis and interpretation of the results obtained
during the investigation. By understanding the level of integration between the
governing body, teachers and students, it was relevant to understand at what point this
phenomenon can influence the educational process as well as human relationships. In
this way, the research presented in this work intends to analyze and reflect on
democracy at school. In order to carry out this study, it was essential to characterize the
level of interaction between the management body, teachers and students, as well as to
analyze the results obtained during the research. On the other hand, we performed the
analysis and interpretation of the results obtained of integration between psicológic
afective sexual
IV
LISTA DE FIGURAS
V
ÍNDICE
Dedicatória........................................................................................................................I
Agradecimento................................................................................................................II
Resumo...........................................................................................................................III
ABSTRACT...................................................................................................................IV
INTRODUÇÃO...............................................................................................................4
1.3. Adolescência............................................................................................................11
Nível educacional................................................................................................14
Pobreza................................................................................................................14
ser menina/mulher;...................................................................................................15
Traumatismo.......................................................................................................19
VI
Traumático..........................................................................................................19
Trauma................................................................................................................19
RECOMENDAÇÕES....................................................................................................36
APÊNDICE A................................................................................................................40
APENDICE B.................................................................................................................41
APÊNDICE C................................................................................................................42
VII
INTRODUÇÃO
A violência sexual caracteriza-se: por um ato ou jogo sexual, em uma relação
heterossexual ou homossexual, entre um ou mais adultos e uma criança ou adolescente, tendo
por finalidade estimular sexualmente esta criança ou adolescente, ou utilizá-la para obter uma
estimulação sexual sobre sua pessoa ou de outra pessoa
4
pessoas e famílias a hesitarem, na maioria das vezes, por medo de represália do estuprador,
insegurança de não serem escutados pela polícia e em outros casos, por falta de informação
(ausência de Televisão e rádio em casa), tendo em conta as condições precaríssimas do bairro
e da família.
O abuso sexual independentemente da fase em que uma mulher esteja, seja ela por
parte de adultos ou de homens da mesma idade que as mulheres, é considerado um crime pela
Constituição Angolana, pois causa danos biológicos, sociais e psicológicos nas vítimas e em
alguns casos, danos irreversíveis como uma doença sexualmente transmissível, gravidez
precoce, abortos, até mesmo morte. Logo, faremos uma abordagem, subordinada ao tema
Abuso sexual na adolescência: um estudo realizado no bairro da Comona zona 3.
A pesquisa foi motivada pelo facto de dois colegas pertencentes ao grupo residirem
no bairro da Camoma e partilharem este problema com o grupo, pois não aguentavam a
situação da sua comunidade e queriam levar à tona este problema. Os problemas encontrados
como relações interpessoais, destruturação familiar, insucesso escolar, entrada precoce no
mundo de trabalho, aborto, gravidez precoce e indesejada, fuga à paternidade, doença
sexualmente transmissível, etc.
Objectivo geral:
Objectivos específicos:
5
A pesquisa foi realizada na província de Malanje, município sede, no bairro da Camoma.
Fizeram parte desta pesquisa como sujeito alguns moradores.
A teoria de abuso sexual proposta pela psicóloga Ana Maria Neves, apresentada na sua
obra intitulada “O Abuso Sexual”, apresenta uma abordagem de como o abuso sexual pode
influenciar negativamente na vida de alguém e como um indivíduo lida com as
consequências nos diversos aspectos das suas dimensões.
Podemos ver que o abuso sexual é muito prejudicial, causando danos físicos e mentais da
vida de alguém. Estes danos não afectam só a adolescente ou a criança tal como espelha a
autora, até mesmo quando uma adulta é abusada sexualmente pode perder a capacidade de
integrar-se nas suas relações interpessoais e em alguns casos mais graves pode causar
suicídio, dependentemente de como a pessoa se sente afecta com este acto.
O outro autor que também se interessou pela questão do abuso sexual, foi Matias. Sobre
o conceito do abuso sexual, quem vem nos dar uma visão clara e sólida, para Matias (2007, p.
38) “o abuso sexual é o contacto físico com uma criança ou uma adolescente para fins
sexuais com ou sem uso de força, até mesmo com o seu consentimento”.
6
Assim, podemos entender por abuso sexual como algum tipo de contacto íntimo que
um adulto tenta ou procura estabelecer com alguma adolescente ou criança para a sua
satisfação sexual, independentemente da idade ou fase da adolescente.
Ainda nesta senda, o autor espelha os tipos de contactos íntimos que um adulto venha
estabelecer com uma adolescente, o autor destaca os seguintes tipos de contactos: “beijo
forçado, insinuações, tentativa de beijar com uso da força, propostas indecentes e tentativa de
fazer relação sexual.”
Quando pensamos ou falamos sobre o abuso sexual pensamos logo numa relação
sexual forçada e não consideramos essas “preliminares”, logo podemos concluir que qualquer
tipo de contacto íntimo que um adulto venha a ter com uma adolescente com ou sem o seu
consentimento, é considerado um abuso sexual.
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CAPÍTULO I: FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
No presente capítulo está reservado para o enquadramento conceptual teórico.
Entretanto, objetivo é apresentar as principais e contribuições mais significativas que a
literatura científica dispõe sobre o assunto para enriquecer a presente pesquisa. Deste modo, a
primeira parte foca-se na teoria de suporte e posteriormente na definição dos termos e
conceitos, com destaque aos termos abuso sexual na adolescência.
Ainda nesta senda, o autor espelha os tipos de contactos íntimos que um adulto venha
estabelecer com uma adolescente, o autor destaca os seguintes tipos de contactos: “beijo
forçado, insinuações, tentativa de beijar com uso da força, propostas indecentes e tentativa de
fazer relação sexual.”
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Quando pensamos ou falamos sobre o abuso sexual pensamos logo numa relação
sexual forçada e não consideramos essas “preliminares”, logo podemos concluir que qualquer
tipo de contacto íntimo que um adulto venha a ter com uma adolescente com ou sem o seu
consentimento, é considerado um abuso sexual.
Este acto é uma realidade que não escolhe classe social, não escolhe cultura ou até
mesmo família, é um problema de saúde pública presente em todas as sociedades. Assim
sendo, Pfeiffer (2005, p. 62) afirma que “o fenômeno do abuso sexual é universal, atingindo
todas as classes sociais e idades, incubando, na vítima, a predisposição para perpetuar o ciclo
de violência ao qual foi submetida”.
Nesta visão, podemos perceber que os abusadores têm coagido ou meter medo às
vítimas para não os denunciarem. Infelizmente, temos adultos sabendo das consequências
tanto para ele quanto para as vítimas, não procuram evitar, pelo contrário, vão alimentando
tais desejos e satisfações fazendo com que o outrem seja um objecto sexual que segundo o
abusador, pode ser usado e abusado quando ele quiser.
A sexualidade ou a liberdade sexual é um direito consagrado na Constituição
Angolana para proteger e defender as os seres humanos, uma vez que, algo este direito é
violado, atenta a dignidade humana e sexual de um determinado individuou.
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Neste caso, o abuso sexual seja vítima, uma criança, adolescente, ou até mesmo uma
adulta, é considerado “crime, punido nos termos da lei a partir dos artigos 181 até 198 do
Código Penal Angolano, protegendo as vítimas nos casos dos chamados crimes contra a
dignidade sexual”.
Apesar da existência da legislação e dos órgãos protetores, parte das vítimas de
abusos sexuais apresenta resistência em denunciar os agressores. Entre os motivos da
omissão da violência, estão medo (de ser julgada pela sociedade; de sofrer represália quando
o agressor é uma figura de poder ou considerada pessoa de confiança), vergonha, burocracia
das investigações e sensação de impunidade no julgamento dos culpados.
Segundo os dados do Ministério da Saúde, a maior parte das vítimas de estupro é
constituída de crianças e adolescentes, em torno de 70% dos casos denunciados. Os
agressores mais recorrentes são membros da própria família ou pessoas do convívio da
vítima.
Assim sendo, no decorrer na nossa pesquisa encontramos diferenças entre a violência
sexual, abuso sexual e a exploração sexual, quem nos elucida sobre as diferenças destes
termos é o autor Salvagni, embora parecem ser sinónimos importa realçar que, existe uma
enorme diferença entre a violência sexual, abuso sexual e exploração sexual, ele considera
que:
1.2.1 Violência sexual é a violação dos direitos sexuais, no sentido de abusar ou explorar do
corpo e da sexualidade de crianças e adolescentes.
1.2.2 O abuso sexual é a utilização da sexualidade de uma criança ou adolescente para a
prática de qualquer ato de natureza sexual.
1.2.3 A exploração sexual é a utilização de crianças e adolescentes para fins sexuais,
mediada por lucro, objetos de valor ou outros elementos de troca”.
Comumente não temos vindo a ter uma visão holística quanto as distinções destes três
conceitos. Assim sendo, podemos ver que a violência sexual se refere à ruptura dos direitos
sexuais de crianças e de adolescentes que são salvaguardados pela constituição de um
determinado país; o abuso sexual refere-se ao uso sexualidade (contactos íntimos) de um
adulto em relação aos adolescentes ou às crianças que tem como objectivos a satisfação
sexual e a exploração sexual refere-se às relações sexuais de um adulto em troca de dinheiro
ou de algum objecto que desperte o interesse dos adolescentes.
De realçar que tanto meninos quanto meninos, assim como os adolescentes ou as
adolescentes podem ser vítimas de uma ou outra coisa tendo em conta a sua realidade social e
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cultural. Mas para nossa realidade, são as meninas e as adolescentes que têm sido vitimadas
por um ou outro aspecto.
Reisberg (2008. p. 38), numa visão superficial consideramos o abuso sexual como a
violência sexual, estes termos têm sido confundidos há décadas e não passa na cabeça de
muita gente de que são totalmente diferentes e não podemos falar de um enquanto pensamos
noutro e vice-versa.
1.3. Adolescência
Adolescência é caracterizada como uma fase mais complexa do desenvolvimento
humano, pois nesta fase ocorrem algumas transformações neurofisiológicas na vida de um
indivíduo. Assim sendo, Grilo (2009, p. 58) diz que “adolescência vem do latim,
adolescencia, que significa o período final do desenvolvimento humano, entre a o início da
puberdade e o estado adulto”.
Podemos dizer que esta fase é universal e cultural. É universal, porque é uma fase do
desenvolvimento humano e é cultural, porque cada sociedade ou comunidade é que dá uma
visão sobre a adolescência, sobretudo quanto as suas fases.
Assim sendo, Palácios (2007, p. 34) considera adolescência “uma fase psicológica
necessária natural e artificial de um produto de determinada organização social e cultural. A
adolescência se estende a grosso modo dos 12-13 anos de idade até aproximadamente o final
da segunda década da vida”.
Nesta senda, para Reisberg (2008. p. 38) “considera as seguintes fases da adolescência:
Adolescência precoce (dos 10 aos 12 anos);
adolescência média (13 aos 16anos)
adolescência tardia (acima dos 17 anos)”.
Encontramos algumas diferenças quanto as fases da adolescência,
Puberdade ou fase inicial (dos 11 aos 14 anos);
Fase intermédia (dos 14 aos 17 anos)
Fase final (dos 18 aos 21)”.
Fase inicial começa dos 14 dos e termina aos 16 anos de idade;
Fase intermédia ou média, vai dos 16 aos 18 anos de idade
Fase final começa dos 18 anos aos 24 anos de idade.
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É difícil saber uma idade universal de quando começa e termina a adolescência, tudo
porque esta fase é mais caracterizada tendo em conta a cultura e sociedade que cada indivíduo
se desenvolve. As características desta fase são o aparecimento da maturação sexual e o
desejo de fazer parte do mundo dos adultos.
Marcelli (2007, p. 44), diz que pesar de ser uma fase em que os órgãos genitais
começam a ser desenvolvido para as relações sexuais com a maturação sexual, isto diz
respeito apenas com os indivíduos do mesmo grupo ou da mesma idade, mas alguns adultos
se dão o direito de terem relações sexuais em troca de emolumentos ou de um objecto valioso,
que passa a ser considerado como abuso e exploração sexual.
1.4. Abuso sexual na adolescência
O abuso sexual na infância e na adolescência é considerado como um pesadelo para
algumas famílias. O medo da vítima pelo agressor, sobretudo, por ser uma figura paterna, o
silêncio, a represália de um agressor sobre a família, por ser uma figura de poder, o tempo que
este acto é praticado na maioria dos casos entre pai e filha, entre vizinho adulto e uma
adolescente, fazem parte do rolo de insatisfação de muitas famílias e comunidades.
Não se poderia cruzar os braços diante desta situação, principalmente quando a maior
percentagem (70%) deste problema, é proveniente dentro da própria família de acordo com
Ministério da Saúde. Nesta senda, o autor Araújo (2002, p. 47), diz que “o abuso sexual
intrafamiliar, pode-se observar uma disfunção em pelo menos três níveis”
O poder exercido pelo grande (forte) sobre o pequeno (fraco),
A confiança que o pequeno (dependente) tem no grande (protetor)
O uso perverso da sexualidade, na qual o grande se apodera do corpo do outro
e o usa segundo seu desejo.
Podemos perceber o porquê de tanto silêncio quando o assunto é abuso sexual
intrafamiliar, pois torna-se extremamente complicado, tanto para a adolescente, quanto para a
família, o processo de reconhecimento e a denúncia desse tipo de acto que ocorre em seu
interior.
Nesta ordem de ideias koller (1998, p. 16) vem dar-nos uma visão holística quanto o
abuso sexual na adolescência, ocorrendo na família, o autor afirma que:
Aqui podemos ver um dos problemas que abuso sexual pode provocar, a destruturação
familiar, na qual a mãe/esposa entra em conflito de papéis consigo mesma.
Em situações do género tem acontecido em muitas famílias o incesto, que pode ser
considerado como abuso sexual, que em alguns casos pode chegar a culminar numa gravidez
precoce e indesejada.
Amazarray (1997, p. 76), afirma que: O abuso sexual na adolescência pode se
caracterizar de diversas formas, comumente nos acostumamos a ter uma percepção de
abuso sexual através da ruptura dos órgãos genitais entre o agressor e a vítima. Existem
diversas formas de abuso sexual para além do coito ou do contacto (intimidade que o
agressor venha estabelecer com a vítima).
“o abuso sexual consiste no envolvimento da adolescente em
atividades de manipulação dos seus órgãos genitais ou do agressor,
abusos verbais, masturbação, ato sexual genital ou anal, estupro,
sodomia, exibicionismo, pornografia, e ainda exibicionismo,
voyeurismo, exposição a filmes, imagens ou situações de
pornografia”.
Percebemos que o abuso sexual não é só aquilo temos vendo e ouvindo, é tão amplo pendendo
envolver algumas parafilias na busca de uma satisfação por parte do agressor em relação a
vítima. O abuso caracteriza-se de muitas formas, podendo ou não haver um envolvimento
sexual entre o agressor e a vítima.
Sendo a adolescência uma fase de maior curiosidade de quase tudo, as adolescentes
podem se sentir atraídas a certos estímulos como a exposição de filmes, imagens ou situações
de pornografia, sem saberem que estão sendo abusadas sexualmente a divulgação de como se
a manifesta o abuso sexual nas suas variadas facetas poderia ser expressa de forma extensiva
nas comunidades, para que as famílias tenham esta informação e que os encarregados de
educação possam alertar os seus filhos.
13
1.4. Fatores associados a abuso sexual
Frawley (1994, p. 80), diz que, são diversos factores que estão associados a abuso sexual na
adolescência entre vários vamos destacar aqui os mais comuns.
Consumo de álcool e drogas
O aumento da vulnerabilidade à violência sexual também decorre do uso de álcool e
outras drogas. O consumo de álcool ou drogas torna mais difícil para as pessoas se
protegerem interpretando e agindo de forma eficaz sobre os sinais de alerta. O consumo de
álcool também pode colocar a pessoa em ambientes onde suas chances de encontrar um
infrator em potencial são maiores. Tendo sido previamente estuprado ou abusado
sexualmente, existem algumas evidências que relacionam experiências de abuso sexual na
infância ou adolescência com padrões de vitimização durante a idade adulta.
Os efeitos do abuso sexual precoce também podem se estender a outras formas de
vitimização e problemas na idade adulta. Por exemplo, um estudo de caso-controle na
Austrália sobre o impacto de longo prazo do abuso relatou associações significativas entre
abuso sexual infantil e experiência de estupro, problemas de saúde sexual e mental, violência
doméstica e outros problemas em relacionamentos íntimos, mesmo depois de levar em conta
várias características do contexto familiar. Aqueles que sofreram abusos envolvendo relações
sexuais tiveram resultados mais negativos do que aqueles que sofreram outros tipos de
coerção.
Nível educacional
As mulheres correm maior risco de violência sexual, pois são de violência física por
parte do parceiro íntimo, quando se tornam mais educadas e, portanto, mais capacitadas. Em
uma pesquisa nacional na África do Sul, constatou-se que mulheres sem educação tinham
muito menos probabilidade de sofrer violência sexual do que aquelas com níveis mais altos de
educação. No Zimbábue, as mulheres que trabalhavam eram muito mais propensas a relatar
sexo forçado pelo cônjuge do que as que não estavam. A explicação provável é que um maior
empoderamento traz consigo mais resistência das mulheres às normas patriarcais, modo que
os homens podem recorrer à violência na tentativa de retomar o controle.
Pobreza
Mulheres e meninas pobres podem correr mais risco de estupro no curso de suas
tarefas diárias do que aquelas que estão em melhor situação, por exemplo, quando voltam
para casa sozinhas do trabalho tarde da noite, ou trabalham nos campos ou coletam lenha
sozinhas. Filhos de mulheres pobres podem ter menos supervisão dos pais quando não estão
14
na escola, uma vez que suas mães podem estar trabalhando e não ter condições de pagar para
que seus filhos sejam cuidados.
Quando se fala se abuso sexual vem-nos imediatamente à nossa cabeça a imagem de
um homem adulto e de uma mulher, independentemente da sua fase, parece automático e
natural associarmos esses termos a esses conceitos. Assim sendo, abordar sobre os factores
associados a ser vítima de abuso sexual que afecta maioritariamente as mulheres, não é
ascensão para a nossa realidade.
Nesta ordem de ideias, Frawley (1994, p. 80), afirma que os fatores que influenciam o
risco de abuso sexual incluem:
ser menina/mulher;
ser jovem;
ser uma trabalhadora do sexo;
ser pobre ou sem-teto;
ser alcoólatra ou viciado em drogas;
ter sido previamente estuprada ou abusada sexualmente;
ter múltiplos parceiros sexuais ou se envolver em comportamento sexual de risco;
estar mentalmente doente ou com deficiência intelectual;
Olhando de forma ampla, podemos compreender os alvos que alguns agressores tendem a
sobre meter ou praticar o abuso sexual, nestas características podemos associar que tem
acontecido tanto o abuso sexual assim como a exploração sexual, tendo em conta a carência
ou outros factores associados como garota de programa, problemas neurofisiológicos, entre
outros.
Situações semelhantes podem chegar à casa de algumas famílias, os agressores podem
usar meios com algumas adolescentes, chegando a serem chantageadas pelo padrasto ou até
pelo próprio pai para poder permanecer sob o seu teto em troca de relações sexuais, os
agressores podem apresentar alguns comportamentos rudes, como proibição de sair, de
controla-la com quem sai ou com quem conversa mesmo se for em casa, selecionar os seus
amigos entre outras atitudes que o agressor venha a tomar.
Sobre o abuso sexual, há uma média em que mais se perpetua este acto, a Organização
Mundial da Saúde (OMS, 2009) afirma que “mulheres jovens geralmente correm mais risco
de estupro do que mulheres mais velhas, entre um terço e dois terços de todas as vítimas de
agressão sexual têm 15 anos ou menos”. Percebe-se que, quanto menor é a fase do
desenvolvimento de uma mulher, maior é o risco que ela corre de ser vítima de agressão
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sexual, pois vê-se factos de adultos estuprarem crianças, uma fase em que, os órgãos genitais
das mesmas ainda não estão desenvolvidos para actividades sexuais, todavia, os agressores
sentem-se mais atraídos pela fase em parte, como também pelo corpo, por exemplo, uma
adolescência que tem um nível um pouco a mais do Hormônio Estimulante de Crescimento
(HEC) ou uma massa corporal um acima da média, podem esses factores, influenciarem de
alguma forma na agressão, contudo, não devem servir de motivos para que os agressores
abusem sexualmente de uma criança ou adolescente.
Estes pontos influenciam para que as adolescentes não denunciam os agressores o que
leva fazer com que as consequências tenham um índice que crescimento na medida que o
abuso acontece, afectando, parte psicológica, biológica e social. As suas vidas podem tornar-
se num pesadelo porque o perpetrador partilha o mesmo espaço com a vítima, o que com que
haja maior controle da vítima através das ameaças.
Para se compreender melhor as implicações que afectam as vítimas de abuso sexual,
descreve-se algumas fases do desenvolvimento humano. Alguns autores caracterizam essas
16
fazes dando uma compreensão sólida de como são os comportamentos das vítimas que sofrem
de abuso sexual
Finkelhor e Browne (1985, p.45) apresentam as fases sobre como as consequências
podem afectar as vítimas e os comportamentos que as mesmas apresentam, eis:
de zero a seis anos, as manifestações mais comuns resultantes da vitimização por
abuso sexual caracterizam-se pela presença de ansiedade, pelos pesadelos, pelo
transtorno de estresse pós-traumático e pelo comportamento sexual inapropriado;
de sete a doze anos, os sintomas mais comuns abarcam o medo, os distúrbios
neuróticos, a agressão, os pesadelos, os problemas escolares, a hiperatividade e o
comportamento regressivo;
de treze a dezoito anos, observa-se a depressão, o isolamento, o comportamento
suicida, a autoagressão, as queixas somáticas, os atos ilegais, as fugas, o abuso de
substâncias lícitas ou ilícitas e o comportamento sexual inadequado.
Cyrulnik (2005, p.39) afirma que “experiência sexual vivida pela criança ou pelo
adolescente, seja colocada numa posição passiva, seja envolvida em sedução e prazer, além
da força e do poder exercidos pelo abusador, prejudicam no desenvolvimento emocional e
cognitivo do abusado.” As consequências causadas pelo abuso na adolescência, sobretudo na
infância, podem influenciar negativamente nas interações sociais comprometendo o
desenvolvimento cognitivo e emocional de uma vítima, por resultarem das experiências
sexuais inapropriadas. Nesta linha de pensamento,
Para o autor independentemente de como seria experiência com o agressor, seja com
ou sem consentimento da adolescente, ela poderia apresentar um comportamento sexual
inadequado, o que implicaria, uma vida sexual reduzida ao medo, pesadelo, ansiedade,
depressão entre outros problemas que a vítima pode vir a apresentar.
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Entretanto, a questão do abuso sexual e do respectivo impacto no desenvolvimento da
personalidade do sujeito, independentemente de pertencer à fantasia ou ao real, ocuparam um
lugar de destaque na psicanálise clássica. Essa afirmação decorre da própria teoria freudiana
da sedução, segundo a qual a criança era necessariamente seduzida de forma passiva por um
adulto (o pai, no caso).
Prado & Féres (2005, pág 89). No entanto, com o desenvolvimento dos estudos
freudianos da época, acabou-se por duvidar da veracidade de tais cenas de sedução
apresentadas pelos pacientes, entrando, assim, em jogo a realidade interna – fantasia
inconsciente – a qual se diferenciaria da externa, abrindo lugar para a teoria do Complexo de
Édipo. Contudo, é no princípio da própria teoria psicanalítica que se verifica a questão do
abuso sexual perpassando as formulações e as primeiras teorias freudianas.
Intebi (2008, pág 42) Inicialmente, Freud introduz a Teoria da Sedução, na qual
acreditava no discurso histérico, para, posteriormente, perceber que as mesmas histéricas
anteriormente queixosas a respeito de um possível abuso por parte de seus pais, traziam, de
fato, as suas fantasias, o que acabava por abrir um novo caminho, a Teoria Edípica.
De acordo com Laplanche e Pontalis (1998), o trauma pode ser definido como
"acontecimento da vida do sujeito que se define pela sua intensidade, pela incapacidade em
que se encontra o sujeito de reagir a ele de forma adequada, pelo transtorno e pelos efeitos
patogênicos duradouros que provoca na organização psíquica." (p.522). Sob o ponto de vista
econômico, o trauma caracterizar-se-á por ser um excesso de excitações que transborda a
capacidade do sujeito de tolerar e elaborar psiquicamente.
Além disso, Prado e Féres-Carneiro (2005) trazem algumas distinções fundamentais, tais
como: traumatismo, traumático e trauma.
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Exemplo disso seria o de mulheres vítimas de abuso sexual na infância, as quais certamente
foram submetidas ao silêncio e, dessa maneira, foi-lhes retirada a possibilidade de elaboração
da experiência.
Já a traição envolve a constatação, por parte da vítima, de que alguém que deveria ser
objeto de amor coloca-se numa relação de exploração da mesma. Muitas vezes, o senso de
traição ocorre igualmente em relação a outros adultos, em quem a criança confia e que não
conseguem exercer uma ação protetora, tal como a mãe ou irmãos mais velhos. Assim, a
experiência de submissão ao poder do adulto gera uma experiência ainda mais traumática e
invasiva, pois a vítima não consegue visualizar meios de reverter a situação do abuso na qual
está envolvida. Por último, há o estigma gerado por ter sido vítima e as crenças de por qual
razão o abusador a escolheu, além das percepções dos demais acerca do papel da criança no
evento.
Crianças de até 11 meses: Em casos de bebês que sofrem abuso sexual, é comum
a criança apresentar choros frequentes, irritabilidade, apatia, atraso no
desenvolvimento, distúrbios do sono, vômitos e dificuldades na
alimentação/amamentação e desconforto no colo.
Crianças de 1 a 4 anos: Crianças entre 1 e 4 anos já possuem mais potencial de
comunicação, mas ainda tem pouco discernimento das coisas. Elas podem reagir com
choros frequentes, irritabilidade, tristeza frequente, atraso no desenvolvimento,
dificuldade no desenvolvimento da fala, agressividade acentuada, ansiedade, medo de
pessoas, pesadelos, tiques e manias.
Crianças de 5 a 9 anos: São crianças um pouco mais desenvolvidas. A escola pode
ter um papel importante para identificar comportamentos suspeitos. A criança
costuma apresentar tristeza frequente, baixa autoestima, irritabilidade, choro
frequente, falta de limite, distúrbio alimentares, enurese e encoprese, tendência ao
isolamento, ansiedade e medo, comportamentos obsessivos, automutilação, déficit de
atenção, hiperatividade.
Entre 10 e 19 anos, já se tem uma consciência maior do que é um abuso. Mas muitas
vezes, o jovem se sente culpado ou pensa que não irão acreditar se ele denunciar a
violência. As reações nesta faixa etária incluem choro, ansiedade, medo, baixa
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autoestima, uso de drogas, tendência ao isolamento, automutilação, comportamento de
risco, agressividade acentuada e ideação suicida.
O bairro tem poucos serviços públicos, pois carece de muitas instituições públicas,
visto que, dos 100% dos habitantes 30% são jovens, 30% adolescente, 30% são adultos e
10% são idosos. A maior parte dos jovens têm como actividade moto-táxi, os adolescentes
vendas de sacos, no mercado Xawande e os adultos fazem o trabalho de campo.
22
2.2 Modelo de pesquisa
A pesquisa alicerça-se numa investigação de carácter descritivo com natureza
qualitativa, orientada sob o modelo fenomenológico com o tipo de amostra não
probabilística.
Gil citado por Assis (2006), a respeito do paradigma fenomenológico defende que
inclui este método entre os de abordagem. Desenvolvido por Edmund Husserl (1859-1938),
preocupa-se em entender o fenómeno como ele se apresenta na realidade, isolando-o de
influências, embora mais tarde, durante a verificação e comprovação dos resultados obtidos,
as relações abandonadas possam ser levadas em consideração. Nesse sentido, propõe
estabelecer uma base segura, livre de proposições, para todas as ciências e consiste em
mostrar o que é dado e em esclarecer esse dado.
23
Entretanto, a amostra que compõe a pesquisa é de carácter intencional. Pois, os
elementos da pesquisa foram seleccionados de acordo ao critério pessoal do pesquisador.
Neste quesito, para a selecção da amostra usou-se tais critérios:
Uma outra técnica de colecta de dados que se usou para a materialização da pesquisa
é a observação. A observação é considerada como uma técnica de colecta de dados para
conseguir informações utilizando os sentidos na obtenção de determinados aspectos da
realidade.
24
Quanto ao tipo de observação, optou-se pela observação do tipo participante,
observação participante que é um processo pelo qual um pesquisador se coloca como
observador de uma situação social, com a finalidade de realizar uma investigação científica.
25
CAPÍTULO III: APRESENTAÇÃO, ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS
RESULTADOS
Este último capítulo tem como escopo fazer a apresentação, análise e interpretação
dos resultados recolhidos ao longo da pesquisa. Nesta senda, faz-se a discussão dos
resultados e evidencia-se as conclusões que o autor chegou sobre o problema levantado no
início da investigação.
26
“Sim, já ouvi falar, o abuso sexual é algum tipo de contacto sexual entre um adulto e uma
adolescente, com ou sem o consentimento da adolescente” (entrevistado A, 36 anos, policial)
“Sim já ouvi falar na escola, é quando uma pessoa mais velha namora com uma pessoa que
é menor de idade. (entrevistado B, 17 anos, estudante)
Sim, já ouvi falar e já falei também sobre o abuso sexual na adolescência, no meu local de
trabalho, o abuso sexual é quando um adulto se relaciona sexualmente com uma pessoa à
força. (entrevistado C, 40 anos, policial)
Já, já ouvi a falar na televisão, é quando um mais velho faz sexo à força com uma mulher
sem ela querer (entrevistado D, 16 anos, estudante)
Já, já ouvi a falar no facebook, é quando um homem faz sexo com uma mulher sem ela
querer (entrevistado E, 17 anos, estudante)
É um contacto
sexual entre um
adulto e uma
adolescente
No meu
Na escola local de
trabalho
Nas redes Na
sociais televisão
27
De acordo com a figura acima, os participantes da pesquisa possuem algumas noções
sobre o abuso sexual na adolescência, tendo informado que já ouviram a falar em vários
lugares como na televisão, na escola, nas redes sociais e na esquadra da polícia.
Assim, o abuso sexual é um dos fenómenos que tem afectado muito a sociedade e
muitas famílias de modo particular, apesar disso, algumas pessoas venham a normalizar este
problema que pode dar margem à exploração sexual.
Quem clarifica esta questão é Maria Sousa (2000) esclarecendo que, tendo em conta a
carência que algumas adolescentes têm passado, pode fazer com quê alguns adultos se
aproveitem desta situação para coagirem as adolescentes, a fim de envolverem sexualmente
em troca de alguma coisa (p.41).
“Sobre os factores que podem causar o abuso sexual, pode ser económico, ou seja, a
pobreza, porque muitas adolescentes passam por algumas necessidades que nem a própria
família consegue dar resposta, e quando aparece um adulto disposto a suprir as suas
necessidades, elas aceitam se relacionarem sexualmente, sem ter a noção que está sendo
abusada sexualmente, só porque há consentimento da sua e não há qualquer esforço do
adulto para o acto sexual” (entrevistado A, 36 anos policial).
“Sobre os factores que faz com que acontece o abuso sexual na adolescente, é
vestuário indecente, muitas adolescentes se vestem muito mal, mais muito mal mesmo que
leva um mais velho a fazer isso, às vezes, podem mesmo conversar com ela por causa do
jeito que ela veste, mas muitas não ouvem e acaba fazendo com que o mais velho a esforça
para se fazerem sexo” (Entrevistado B, 17 anos, estudante)
“As causas do abuso sexual na adolescência pode ser a pobreza, por que? Porque
muitos mais velhos se aproveitam de adolescentes carentes para poder se envolverem
sexualmente, os adultos conhecem as adolescentes no bairro e quando percebe que esta
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adolescente é de uma família pobre, ele se disponibiliza pagar isso ou aquilo e em troca usa
a menina, abusa-a sexualmente e vai fazendo com maior frequência, porque a menina não
sabe que está sendo abusada sexualmente e não pode negar porque se ela negue, o mais
velho para de dar isso e dar aquilo e ela tem medo de perder o dinheiro que vem deste
adulto e ela não informa aos seus pais, o que chega a ser muito triste.” (Entrevistado C, 40
anos, policial).
“As causas do abuso sexual na adolescência pode ser o álcool, porque algumas
pessoas fazem o uso de bebidas só para fazerem isso, quando desejam muito uma
adolescente, às vezes, quando estão na festa, embebeda a adolescente e ele se envolvem sem
ela saber” (entrevistado D, 16 anos, estudante)
O que pode levar uma adolescente a ser abusada é muitas vezes o uso de roupas
curtas, hoje em dia, muitas mulheres se vestem muito mal, tanto em casa, como na escola,
como na rua e isso pode fazer com que um homem chega a fazer isso (Entrevistado E, 17
anos, estudante).
Quem nos pode clarificar sobre os factores que causam o abuso sexual na
adolescência é Afonso Miranda, (2012). Na perspectiva do autor, o abuso sexual tem como
uma das maiores causas, a pobreza e o analfabetismo e, lamentavelmente, quando se há a
pobreza, há muitas possibilidades que haja um índice elevado de analfabetismo. Esses
factores, dão margem não apenas ao abuso sexual, mas também uma série de problemas,
como a gravidez precoce ou na adolescência, fuga à paternidade, maternidade e paternidade
irresponsável, etc. (p.20).
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Vestuário
Pobreza
indecente
Álcool
Nesta perspectiva, o abuso sexual, pode ser causado por seguintes factores: pobreza,
vestuário indecente e o alcoolismo. Podemos ver que, dos participantes questionados sobre os
factores que desencadeiam o abuso sexual na adolescência, dois responderam que são a
pobreza e dois responderam o vestuário indecente, e um respondeu que o abuso sexual no
bairro da Camoma tem como causa o uso de bebida alcoólica, tanto pelas adolescentes
quanto para os adultos. Podemos dizer que a pobreza e o vestuário indecente são os maiores
factores que causam o abuso sexual na adolescência, no bairro da Camoma.
“Eu afirmo que sim, a partir das denúncias que nos chegam, sobre o abuso sexual,
porque muitos adultos hoje preferem mais as adolescentes do que uma mulher da mesma
faixa etária, porque elas provavelmente não dão muito trabalho, porque estão naquela fase
dos porquês e nesta fase, os adolescentes querem experimentarem quase tudo sem menor
esforço e sem a menção de qualquer consequência e alguns adultos, oportunistas,
aproveitam-se desta situação para algum contacto de natureza sexual com as adolescentes,
30
mesmo sabendo que é menor de idade, infelizmente sim, tem acontecido” (Entrevistado A, 36
anos, policial)
“Sim eu já fui vítima de abuso sexual, porque quando eu costumava assistir novela na
casa da minha amiga, um irmão dela quem tipo já 27 ou 28 ano tem ano, tava me conquistar
e todas as vezes que eu não queria falar com ele, ele me obrigava, uma vez, ele me controlou
quando fui fazer menor, na casa de banho, ele me seguiu, tava me obrigar a fazer sexo com
ele, eu tava a gritar eu disse que não queria fazer sexo com ele porque é muito meu mais
velho, ele tava a insistir mesmo assim e começamos a lutar, até que vieram as pessoas e nos
acudiram” (Entrevistada B, 17 anos, estudante).
“Sim já, é só ver que por mês nós recebemos uma ou duas denúncias vindo de famílias que
as suas filhas foram vítimas de abuso sexual; então é um caso que não é novidade para mim
e, às vezes, as vítimas têm 14, 15, ou 16 anos de idade aquelas que têm um certo medo dos
seus pais ou são mais abertas a eles, contam aos seus pais e estes, por sua vez, chegam até
aqui na esquadra para denunciarem o agressor, e você que o agressores, são da faixa etária
de 27 a 40 anos de idade, então, sim, tem sim havido adolescentes vítimas de abuso sexual,
no bairro da Camoma” (entrevistado C, 40 anos, policial)
Aqui, nosso bairro, tem muitos mais velhos que não se respeitam. Mesmo com as
mulheres que eles têm namoram mais com muitas miúdas de 15, 16 anos, que eles chamam
de «manga de 10». Também muitas dessas miúdas já não se escondem mais, às vezes, não é
só aqui, mesmo na escola, namoram com professor. (Entrevistada D, 16 anos, estudante).
Não sei, tipo não tenho certeza, ma, aqui eu, nunca ouvi que um mais velho namora
com uma criança ou adolescente, não sei. O que eu mais vejo é caso de um mais velho
conquistar uma miúda, isso acontece bué aqui. (Entrevistada E, 17 anos, estudante)
Podemos perceber que no bairro da Camoma tem havido vítimas de abuso sexual, do
ponto de vista de como é percebido o abuso sexual, podemos dizer que os participantes da
pesquisa, foram unânimes nas suas justificativas, porque alguns afirmam ter visto que as
adolescentes já sofreram algum tipo de abuso sexual, visto que, o abuso sexual é qualquer
tipo de contacto de natureza sexual que um adulto venha a estabelecer com uma adolescente
ou criança, e os policiais, veem nos clarificar que tem sim havido vítimas de abuso sexual,
através de denúncias que têm recebido dos pais das adolescentes.
31
Figura nº 3: O abuso sexual entre adultos e adolescentes no bairro da Camoma
Os pais denunciam
Há adolescentes Adolescentes de 14,
a polícia sobre as
vítimas de abuso 15 e 16 anos de
vítimas do abuso
sexual idade.
sexual
Adultos de 28 a 40 Denúncia 1 ou 2
anos de idade. casos por mês.
Percebe-se também por outro lado, que os adultos têm uma idade superior a 28 anos
de idade e muitos deles já podem até ter esposas, mas ainda, se envolvem sexualmente com
as adolescentes e, o pior é que ele tem informação que o envolvimento sexual entre um
adulto e uma menor de idade constitui crime, segundo o Código Penal Angolano.
O abuso sexual, seja na infância, na adolescência ou até mesmo quando uma adulta
sofre, pode não acontecer externamente, ou seja, nem sempre quando alguém é abusado
sexualmente, é por alguém que seja, seu vizinho, amigo, ou mesmo um desconhecido o
mesmo ocorre com a violência sexual. Assim, o abuso sexual pode acontecer no próprio ceio
familiar em que vive a adolescente ou o adolescente, isso, pode acontecer tanto em famílias
nucleares como em família alargada.
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“Sim, tem havido sim casos de abuso sexual no próprio seio familiar, já recebemos
denúncias várias e várias vezes de mães e tias que afirmam terem encontrado os seus
maridos flagrados a ter um acto de abuso sexual, então sim, tem havido mesmo o abuso
sexual, o que chega a ser muito lamentável” (entrevistado A, 36 anos, policial).
Não, acho que eu não nunca vi assim, tipo um pai ou um tio a ter um caso com uma
filha ou sobrinha dele, nunca vi, talvez já aconteceu, às vezes vejo tipo dessas coisas no Fala
Angola que pai se envolveu com filha dele, mas aqui, eu nunca ouvi ainda. (entrevisada B,
17 anos, estudante).
Com certeza, infelizmente tem havido sim ocorrencia desses tipo de caso, de padrasto
a abusarem sexualmente as suas enteadas, isso, tem levado muitas famílias a se
desestruturem, porque o padrasto abusou a sua enteada e a mãe fica revoltada e muitas
dessas pessoas ou senhores são condenados, a polícia não deixa passar um caso dessa
natureza, não só por ser entre pai e filha, padrasto e enteada, tio e sobrinha, como também
entre qualquer agressor e a menina ou jovem, porque o abuso sexual é um crime,
independemente da idade ou da fase que vítima se encontra. (entrevistado C 40 anos,
policial)
Sim, já ouvi e já vi também, uma minha colega passou por essa situação ela é a
primeira filha do pai dela e por ter um corpo grande o pai dela dizia que tinha que ser o
dono do pau a comer a fruta, ele controlava bué minha colega, até que um dia que ele se
envolveu com ela e disse que se ela contar noutras pessoas que poderia chotar a minha
colega de casa e que também poderia li matar, quando ela tava a me contar tava a chorar
bué, tinha muita pena dela. (Entrevistada D, 16 anos, estudante).
Quando eu vi era já muito tempo, tipo a 1 ou 2 anos atrás que um tio se envolveu com
uma sobrinha dele, ela era órfão de pai e mãe e outra mãe dela ficou viver com ela depois
ela começou a crescer até um dia quando tia ia vender, o tio li esforçou a fazer sexo com ela,
ela falou na mãe dela e mãe se despresou com o marido dela, mas ele não foi preso
(Entrevistada E, 17 anos, estudante).
Quem nos clarifica esta questão é o autor Constantino Emanuel (2014), o autor
reforça que o abuso sexual no seio familiar é um dos maiores problemas que muitas famílias
enfrentam, que acaba por ter como uma das consequências a desestruturação familiar, é um
problema que não escolhe classe social, cultura, religião ou situação económica. Até mesmo
33
em famílias ou comunidades que não haja situação económica assustadora, pobreza extrema,
ocorrem casos de abuso sexual no próprio seio familiar. (p. 17).
Pai e Filha
Tio e Padrasto
Sobrinha e Enteada
Podemos perceber que o abuso sexual é um problema que pode acontecer no próprio
seio familiar em que a adolescente pertence, criando situação de insegurança por parte dela.
Podemos ir mais longe, ao afirmar que o abuso sexual no seio familiar tem culminado em
situações trágicas e irreversíveis para algumas famílias, porque para além de criar a
desestruturação familiar, pode provocar morte para a adolescente, algumas acabam por serem
mortas pelo agressor, padrasto ou tio, para encobrirem o que fazem com as suas parentes,
razão pela qual, pode levar muitas adolescentes, jovens e sobretudo crianças a não
denunciarem tanto para mãe ou tia, quanto para a polícia.
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denúncia, a polícia investiga e quando se prova que o sujeito A ou B fez o que sendo
acusado, este sujeito é entregue ao Ministério Público para que então se faça procedimentos
legais até ser apresentado ao tribunal para que se faça cumprir a justiça.” (Entrevistado A,
36 anos, policial).
“Às a polícia nem faz nada, quando vão queixar o mais velho que faz isso, às vezes,
eles falam que têm que ir se entender no bairro, nem todos mais velhos que abusam as
adolescentes ficam preso, são poucos, né, mas seria bom se a polícia não deixaria as
pessoas que fazem isso fora da cadeia, porque o lugar do criminoso é na cadeia e não na
liberdade né, então a polícia trabalha mais ou menos” (Entrevistada B 17 anos, estudante)
“A polícia não deixa passar nenhum crime, e sobretudo um crime que viola os
direitos humanos, porque todo o ser humano tem a liberdade de escolha, e a questão sexual
também é salvaguardada pela constituição do país. Então, a polícia não deixa passar este
crime, todos os agressores são levados ao Ministério Público para que esta instituição
através dos procedimentos legais leve o agressor ao tribunal. A polícia trabalha 24h por dia
para garantir a segurança dos cidadãos, e não tem preferência sobre o A ou B, todos somos
iguais perante a lei, temos os mesmos direitos e deveres” (Entrevistado C, 40 anos, policial).
“A polícia tem trabalhado mesmo, mas prontos, você que a pessoa foi presa hoje
depois de 1 ou dois dias, está mbora fora da cadeia, então a polícia não prende nada,
mesmo o gatuno que roubou hoje de amanhã, à tarde vais mbora a li ver a passear”
(Entrevistada D, 16 anos, estudante).
A polícia tem trabalhado mesmo né, mas epá tem uns cumprem mesmo quando
abusam uma menor, mas outros nem tanto. Tipo eles escolhem, tipo se a pessoa trabalha no
estado ou se é polícia não fica preso, quem fica preso é mais aqueles que não têm ninguém,
se não, a polícia não tem trabalhado mesmo bem. Às vezes, você vai lá se queixar, mas só
pra te escutarem, ficam tipo querem trabalhar (Entrevistada E, 17 anos, estudante).
Pode-se perceber a partir das respostas dos nossos participantes uma certa,
divergência sobre o papel da polícia em relação os agressores, visto que dois concordam nas
suas explanações ao passo que três apresentam uma certa dúvida sobre o real papel da polícia
não só em relação aos casos de abuso sexual, mas também em relação a outros crimes. E, isso
quando vem acontecendo, pode fazer com os agressores façam repetidas vezes.
Quem nos clarifica isso é Guimarães José (2009), o autor afirma que, quando um
agressor não é impune desenvolve sentimento insegurança na comunidade, e quando este este
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agressor é uma figura paterna ou materna cria uma série de problemas para a criança ou para
o adolescente, fazendo com que ele viva angustiado dentro de casa e alguns preferem viver
até na rua, devido a insegurança que em casa.
(Fonte da pesquisa)
RECOMENDAÇÕES
Percebendo que o abuso sexual no bairro da Camoma pode causar graves consequências
para adolescentes e pode dar margem a outros problemas sociais, deixa-se as seguintes
recomendações:
Que se promova mais conscientização sobre o abuso sexual para que as famílias a
nível das comunidades possam dialogar sobre o abuso sexual
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Que se promova mais informações sobre os diferentes tipos de abuso sexual nos canais
televisivos, radiofónicos, redes sociais, jornais e outros meios de informação para que
haja intervenção por parte das instituições.
Que se promova mais instituições para que haja maior inclusão no acesso de
informação a nível das comunidades.
Que as instituições como Polícia Nacional e os Tribunais criam campanhas de
combate contra o abuso sexual
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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já o abuso sexual é a utilização da sexualidade para qualquer tipo de contacto de natureza
sexual.
A violência sexual é mais específica, havendo apenas uma ruptura do contacto sexual
entre o agressor e a vítima e o abuso sexual abarca não apenas a ruptura do contacto sexual,
mas uma série de natureza sexual e, provavelmente temos visto isso, o abuso sexual nosso
dia-a-dia e com os avanços da tecnologia, muitas adolescentes e crianças são bombardeadas
todos os dias com imagens, textos e vídeos eróticos nas redes sociais e canais de televisão.
Referências
Féres, C. P. (2005). Educação para uma Sexualidade Humanizada. Lisboa: Morães Editora.
39
Koller, S. (1998). Conversas sobre a sexualidade na Família e Gravidez na Adolescência.
São Paulo : Brasiliense.
Reisberg, H. R. (2008). A Gravidez Precosse na Adolescência . São Paulo: Acta Paul Enf.
APÊNDICE A
Grelha De Observação Participante Sobre Abuso Sexual na Adolescência. Na comunidade: Um
estudo realizado no bairro da Camoma.
Unidade Orgânica
Observador:
Tempo de Observação
OBSERVAÇÃO PARTICIPANTE
40
ASPECTOS DA OBSERVAÇÃO COMENTÁRIOS
APENDICE B
Guião de entrevista dirigido aos adolescentes
O senhor (a) está a colaborar com uma investigação realizada para a conclusão o grau
de Licenciatura em Psicologia Social, na Universidade Rainha Nginga a Mbande. Gostaria
que partilhasse a sua visão sobre abuso sexual na adolescência: um estudo realizado no
bairro da Camoma. Importa salientar que nesta entrevista, não há respostas certas nem
erradas, todas as respostas são igualmente verdadeiras se forem sinceras. O único objectivo
importante é saber o que realmente pensa e sente sobre o a pesquisa em causa. Garantimos
confidencialidade em relação ao seu depoimento. O/a senhor(a) tem alguma questão ou
podemos dar início a nossa entrevista?
Identidade
b. Idade: _____
c. Sexo: ______
Formação Académica
Ano de escolaridade: ____
Local de residência: ____________________________________________________
Estado civil__________
41
Função social_____________
Entrevista
Local___________________________________________________________
Data e hora Duração (intervalos)___________________________________________
1. Já ouviu falar sobre o abuso sexual na adolescência e quais são os seus pontos de vista
sobre o mesmo?
2. Quais são os factores que podem desencadear o abuso sexual na adolescência?
3. Há abuso sexual entre adultos e adolescentes no bairro da Camoma?
4. Há casos de abuso sexual no seio familiar?
5. Como tem sido o trabalho da polícia em relação os agressores?
APÊNDICE C
GUIÃO DE ENTREVISTA aos policiais
O senhor (a) está a colaborar com uma investigação realizada para a conclusão o grau
de Licenciatura em Psicologia Social, na Universidade Rainha Nginga a Mbande. Gostaria
que partilhasse a sua visão sobre abuso sexual na adolescência: um estudo realizado no
bairro da Camoma. Importa salientar que nesta entrevista, não há respostas certas nem
erradas, todas as respostas são igualmente verdadeiras se forem sinceras. O único objectivo
importante é saber o que realmente pensa e sente sobre o a pesquisa em causa. Garantimos
confidencialidade em relação ao seu depoimento. O/a senhor(a) tem alguma questão ou
podemos dar início a nossa entrevista?
Identidade
b. Idade:_____
c. Sexo:______
Formação Académica
Ano de escolaridade:____
Local de residência:____________________________________________________
Estado civil__________
Função social_____________
42
Entrevista
Local___________________________________________________________
Data e hora Duração (intervalos)___________________________________________
1. Já ouviu falar sobre o abuso sexual na adolescência e quais são os seus pontos de vista
sobre o mesmo?
2. Quais são os factores que podem desencadear o abuso sexual na adolescência?
3. Há abuso sexual entre adultos e adolescentes no bairro da Camoma?
4. Há casos de abuso sexual no seio familiar?
5. Como tem sido o trabalho da polícia em relação os agressores?
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