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UNIVERSIDADE RAINHA NJINGA A MBANDE

INSTITUTO POLITÉCNICO
_____________________________________________________________________
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS

ABUSO SEXUAL NA ADOLESCÊNCIA:

Um estudo realizado no bairro da Camoma Zona 3 em Malanje

Autores:

Miguel Rafael;

Nguinamau Eduardo Pedro;

Vanúria Donga

Venâncio Constantino

Orientador: Pedro Chioia, Ph.D.

MALANJE
2023
Miguel Rafael, Nguinamau Eduardo Pedro, Vanúria Donga; Venâncio Constantino

ABUSO SEXUAL NA ADOLESCÊNCIA:

Um estudo realizado no bairro da Camoma em Malanje

Relatório apresentado à Cadeira de Elaboração


Relatório, como requisito parcial para a obtenção do
grau de licenciatura em Ciências Sociais e
Humanas, curso de Psicologia, variante Psicologia
Social Comunitária.

Orientador: Pedro Chioia, Ph.D.

Malanje
2023

II
Dedicatória

Aos nossos pais e aos nossos irmãos pelo acompanhamento académico


Agradecimento

A Deus, Pai, Bondoso, Poderoso e Amoroso, por nos conduzir durante esta
formação superior até este período e por nos conceder o dom da vida e da inteligência.

Ao PhD, Pedro Félix Chioia, pela sábia e pronta orientação do presente


Relatório

Aos docentes do curso de Psicologia em geral, por todo apoio e atenção. À


Coordenação do Curso de Psicologia.

Aos nossos pais, endereçamos os nossos profundos agradecimentos, pelo


apoio incansável ao longo de toda da nossa vida, pela educação exemplar e pelos
ensinamentos de que devemos lutar todos os dias para superarmos a nossa condição
social e profissional. Obrigado pai, obrigado mãe, pela confiança que sempre
depositaram em nós!

Aos nossos amados irmãos, pela amizade, carinho e o respeito que têm
manifestado por nós.

A todos aqueles que de forma directa ou indirecta colaboraram para que a


nossa formação fosse uma realidade o nosso muito obrigado.

II
Resumo
Este trabalho tem como objetivo central realizar uma discussão sobre os
impactos do abuso sexual sobre as crianças e adolescentes. Considerando que os
profissionais que lidam com esta demanda devem estar atentos para as diferentes e
potenciais implicações decorrentes de tal circunstância, o presente artigo tem como
objetivo realizar uma sistematização das principais contribuições teóricas pertinentes
sobre o assunto e contribuir para divulgar o conhecimento já elaborado sobre as
possíveis consequências de um abuso sexual na vida de uma criança ou adolescente. A
sistematização dos estudos já realizados aponta que as consequências do abuso sexual
são graves, extensas e diversas. A violência contra a criança e o adolescente é um
problema universal que atinge milhares de vítimas de forma silenciosa e dissimulada.
Trata-se, deste modo, de um problema que acomete ambos os sexos e não costuma
obedecer nenhuma regra como nível social, econômico, religioso ou cultural. Nesse
sentido, é fundamental buscar na literatura elementos que possam iluminar e apontar
para algumas consequências decorrentes do abuso sexual infanto-juvenil, com o
objetivo de entender o seu impacto no desenvolvimento da criança. O que se observa
na literatura existente é a concordância entre os especialistas em reconhecer que a
criança vítima de abuso e de violência sexual corre o risco de uma psicopatologia
grave, que perturba sua evolução psicológica, afetiva e sexual.

Palavras Chaves: Abuso, Sexual, Adolescência

III
ABSTRACT
This monograph work discusses the abuse sexual in adolescent neijhbourhood in
Malange at Camoma. with the employees of the respective school. This study focused
on the behavioral analysis of the governing body, teachers and students as well as the
development of their interactions. In a first phase, the observation period took place in
which data were collected about democracy at school and the consequences of its lack.
On the other hand, we performed the analysis and interpretation of the results obtained
during the investigation. By understanding the level of integration between the
governing body, teachers and students, it was relevant to understand at what point this
phenomenon can influence the educational process as well as human relationships. In
this way, the research presented in this work intends to analyze and reflect on
democracy at school. In order to carry out this study, it was essential to characterize the
level of interaction between the management body, teachers and students, as well as to
analyze the results obtained during the research. On the other hand, we performed the
analysis and interpretation of the results obtained of integration between psicológic
afective sexual

Keywords: Abuse, Sexual, Adolescent

IV
LISTA DE FIGURAS

Figura nº 1: Noções gerais sobre o abuso sexual na adolescência ----------


25

Figura nº 2: Os fatores que causam o abuso sexual na adolescência -------


29

Figura nº 3: O abuso sexual entre adultos e adolescentes no bairro da


Camoma --------------------------------------------------------------------------- 31

Figura nº 4: Casos de abuso sexual no ceio familiar -------------------------


33

Figura nº 5: O trabalho da polícia em relação os agressores ----------------


35

V
ÍNDICE

Dedicatória........................................................................................................................I

Agradecimento................................................................................................................II

Resumo...........................................................................................................................III

ABSTRACT...................................................................................................................IV

INTRODUÇÃO...............................................................................................................4

CAPÍTULO I: FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA........................................................8

1.1 TEORIA DO ABUSO SEXUAL DE ANA MARIA NEVES.................................8

1.2. Abuso sexual.................................................................................................................9

1.2.1 Violência sexual.................................................................................................10

1.2.2 O abuso sexual..................................................................................................10

1.2.3 A exploração sexual..........................................................................................10

1.3. Adolescência............................................................................................................11

1.4. Abuso sexual na adolescên..........................................................................................12

1.4. Fatores associados a abuso sexual.........................................................................13

 Consumo de álcool e drogas...............................................................................13

 Nível educacional................................................................................................14

 Pobreza................................................................................................................14

 ser menina/mulher;...................................................................................................15

1.6. Consequências do abuso sexual na adolescência.................................................16

1.7. O abuso sexual e a Psicanálise...............................................................................17

1.8. Trauma e Desenvolvimento psíquico....................................................................18

 Traumatismo.......................................................................................................19

VI
 Traumático..........................................................................................................19

 Trauma................................................................................................................19

1.9. Como identificar casos de abuso sexual de crianças e adolescente....................20

CAPÍTULO II: FUNDAMENTAÇÃO METODOLÓGICA..........................................21

2.1. Caracterização do campo de estudo......................................................................22

2.2 Modelo de pesquisa..................................................................................................22

2.3 Participantes da pesquisa........................................................................................23

2.4 Características dos participantes da pesquisa............................................................23

2.6 Procedimentos e dificuldades....................................................................................24

CAPÍTULO III: APRESENTAÇÃO, ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS


RESULTADOS..............................................................................................................26

3.1. APRESENTAÇÃO, ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADO...........26

3.1.1. Noções gerais sobre abuso sexual na adolescência...............................................26

3.1.2. As causas do Abuso Sexual na Adolescência........................................................27

3.1.3 O abuso sexual entre adultos e adolescentes no bairro da Camoma.......................29

RECOMENDAÇÕES....................................................................................................36

APÊNDICE A................................................................................................................40

APENDICE B.................................................................................................................41

APÊNDICE C................................................................................................................42

VII
INTRODUÇÃO
A violência sexual caracteriza-se: por um ato ou jogo sexual, em uma relação
heterossexual ou homossexual, entre um ou mais adultos e uma criança ou adolescente, tendo
por finalidade estimular sexualmente esta criança ou adolescente, ou utilizá-la para obter uma
estimulação sexual sobre sua pessoa ou de outra pessoa

Destaca-se que a violência sexual pode ser compreendida a partir de duas


especificidades/peculiaridades: exploração sexual e abuso sexual – sendo este último o objeto
de interesse do presente artigo.

 A exploração sexual caracteriza-se pela relação mercantil, mediada pelo comércio do


corpo/sexo, por meios coercitivos ou não, e se expressa de quatro formas: pornografia,
tráfico, turismo sexual e prostituição.
 O abuso sexual caracteriza-se por qualquer ação de interesse sexual de um ou mais
adultos em relação a uma criança ou adolescente, podendo ocorrer tanto no âmbito
intrafamiliar – relação entre pessoas que tenham laços afetivos, quanto no âmbito
extrafamiliar – relação entre pessoas que não possuem parentesco.

A nível da cidade de Malanje, tem se registado algumas situações não muito


agradáveis quanto aos moradores de alguns bairros, sobretudo às adolescentes que têm tido
uma instabilidade de se identificar e se relacionar com os adolescentes do mesmo grupo, ou
seja, com os quais têm a mesma idade, tudo porque, têm sido vítimas de abuso sexual por
parte dos adultos, que chega por sua vez, a desencadear preconceitos em relação às
adolescentes, causando uma instabilidade psicológica, física, emocional e um mal-estar nas
suas relações interpessoais.

O abuso sexual em adolescentes por parte de adulto, no bairro da Camoma, no


município de Malanje, tem influenciado negativamente na vida de muitas adolescentes que
chegam afectar as seguintes esferas das suas vidas: relações interpessoais, destruturação
familiar, insucesso escolar, entrada precoce no mundo de trabalho, aborto, gravidez precoce e
indesejada, fuga à paternidade, doença sexualmente transmissível e tantos outros problemas
que impendem que elas tenham uma adolescência saudável.

Mas infelizmente, apesar da escolarização e dos meios de comunicação (Televisão,


Rádio e Jornais) a apelarem para a denunciarem deste tipo de acto, ainda verificamos vítimas,

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pessoas e famílias a hesitarem, na maioria das vezes, por medo de represália do estuprador,
insegurança de não serem escutados pela polícia e em outros casos, por falta de informação
(ausência de Televisão e rádio em casa), tendo em conta as condições precaríssimas do bairro
e da família.

O abuso sexual independentemente da fase em que uma mulher esteja, seja ela por
parte de adultos ou de homens da mesma idade que as mulheres, é considerado um crime pela
Constituição Angolana, pois causa danos biológicos, sociais e psicológicos nas vítimas e em
alguns casos, danos irreversíveis como uma doença sexualmente transmissível, gravidez
precoce, abortos, até mesmo morte. Logo, faremos uma abordagem, subordinada ao tema
Abuso sexual na adolescência: um estudo realizado no bairro da Comona zona 3.

Considerando o acima exposto, o problema científico foi formulado da seguinte


maneira: Quais são os factores que influenciam o abuso sexual na adolescência no bairro da
Camoma?

A pesquisa foi motivada pelo facto de dois colegas pertencentes ao grupo residirem
no bairro da Camoma e partilharem este problema com o grupo, pois não aguentavam a
situação da sua comunidade e queriam levar à tona este problema. Os problemas encontrados
como relações interpessoais, destruturação familiar, insucesso escolar, entrada precoce no
mundo de trabalho, aborto, gravidez precoce e indesejada, fuga à paternidade, doença
sexualmente transmissível, etc.

Para responder à pergunta acima exposta, traçamos como objectivos:

Objectivo geral:

Conhecer os factores que influenciam o abuso sexual na adolescência no bairro da Camoma.

Objectivos específicos:

 Identificar os factores que influenciam o abuso sexual na adolescência no bairro da


Camoma;
 Descrever os factores que influenciam o abuso sexual;
 Analisar os factores que influenciam o abuso sexual na adolescência;
 Sugerir meios que impeçam ou minimizem o abuso sexual na adolescência e em outras
áreas do desenvolvimento humano.

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A pesquisa foi realizada na província de Malanje, município sede, no bairro da Camoma.
Fizeram parte desta pesquisa como sujeito alguns moradores.

Quanto a teoria de suporte, o presente trabalho aporta-se na teoria de Ana Maria


Neves, a violência sexual tem maior ênfase, pois nos dá uma sustentabilidade argumentativa
de compreendermos melhor sobre o abuso sexual, não apenas na adolescência como também
na infância. Acredita-se ser aplicável a teoria da violência sexual para explicar este
fenómeno, que a autora se propõe a explicar.

No tocante, no âmbito profissional a pesquisa ajudará as adolescentes a terem uma


adolescência saudável, melhorar as relações interpessoais entre os adolescentes, isto é, a
identificação de se relacionarem com os adolescentes do mesmo grupo do bairro da Camoma.
Também a pesquisa vai permitir com que os pais, os moradores e inclusive as adolescentes
possam denunciar quando sofrerem este tipo de abuso, dar voz a essas vítimas para que não
sintam medo, visto que, não são apenas as adolescentes que têm passado por este tipo de
abuso. Se formos a refletir no âmbito geral, há crianças e inclusive adultas que têm passado
por esta situação e nunca denunciaram, talvez porque são poucas ou não são mesmo
informadas sobre este assunto, pode se dar também casos de situações que são coagidas a se
silenciar por medo de represália por parte do estuprador.

A teoria de abuso sexual proposta pela psicóloga Ana Maria Neves, apresentada na sua
obra intitulada “O Abuso Sexual”, apresenta uma abordagem de como o abuso sexual pode
influenciar negativamente na vida de alguém e como um indivíduo lida com as
consequências nos diversos aspectos das suas dimensões.
Podemos ver que o abuso sexual é muito prejudicial, causando danos físicos e mentais da
vida de alguém. Estes danos não afectam só a adolescente ou a criança tal como espelha a
autora, até mesmo quando uma adulta é abusada sexualmente pode perder a capacidade de
integrar-se nas suas relações interpessoais e em alguns casos mais graves pode causar
suicídio, dependentemente de como a pessoa se sente afecta com este acto.
O outro autor que também se interessou pela questão do abuso sexual, foi Matias. Sobre
o conceito do abuso sexual, quem vem nos dar uma visão clara e sólida, para Matias (2007, p.
38) “o abuso sexual é o contacto físico com uma criança ou uma adolescente para fins
sexuais com ou sem uso de força, até mesmo com o seu consentimento”.

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Assim, podemos entender por abuso sexual como algum tipo de contacto íntimo que
um adulto tenta ou procura estabelecer com alguma adolescente ou criança para a sua
satisfação sexual, independentemente da idade ou fase da adolescente.

Ainda nesta senda, o autor espelha os tipos de contactos íntimos que um adulto venha
estabelecer com uma adolescente, o autor destaca os seguintes tipos de contactos: “beijo
forçado, insinuações, tentativa de beijar com uso da força, propostas indecentes e tentativa de
fazer relação sexual.”

Quando pensamos ou falamos sobre o abuso sexual pensamos logo numa relação
sexual forçada e não consideramos essas “preliminares”, logo podemos concluir que qualquer
tipo de contacto íntimo que um adulto venha a ter com uma adolescente com ou sem o seu
consentimento, é considerado um abuso sexual.

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CAPÍTULO I: FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
No presente capítulo está reservado para o enquadramento conceptual teórico.
Entretanto, objetivo é apresentar as principais e contribuições mais significativas que a
literatura científica dispõe sobre o assunto para enriquecer a presente pesquisa. Deste modo, a
primeira parte foca-se na teoria de suporte e posteriormente na definição dos termos e
conceitos, com destaque aos termos abuso sexual na adolescência.

1.1 TEORIA DO ABUSO SEXUAL DE ANA MARIA NEVES


A teoria de abuso sexual proposta pela psicóloga Ana Maria Neves, apresentada na sua
obra intitulada “O Abuso Sexual”, apresenta uma abordagem de como o abuso sexual pode
influenciar negativamente na vida de alguém e como um indivíduo lida com as
consequências nos diversos aspectos das suas dimensões.
De acordo com Neves (2009, p. 25), o abuso sexual é um mau trato que pode afectar o
estado de saúde físico e mental da criança ou do adolescente, além de prejudicar o seu
desenvolvimento, a sua habilidade para aprender e estudar, a sua socialização e até em alguns
casos causar a morte.
Podemos ver que o abuso sexual é muito prejudicial, causando danos físicos e mentais da
vida de alguém. Estes danos não afectam só a adolescente ou a criança tal como espelha a
autora, até mesmo quando uma adulta é abusada sexualmente pode perder a capacidade de
integrar-se nas suas relações interpessoais e em alguns casos mais graves pode causar
suicídio, dependentemente de como a pessoa se sente afecta com este acto.
O outro autor que também se interessou pela questão do abuso sexual, foi Matias. Sobre
o conceito do abuso sexual, quem vem nos dar uma visão clara e sólida, para Matias (2007, p.
38) “o abuso sexual é o contacto físico com uma criança ou uma adolescente para fins
sexuais com ou sem uso de força, até mesmo com o seu consentimento”.
Assim, podemos entender por abuso sexual como algum tipo de contacto íntimo que
um adulto tenta ou procura estabelecer com alguma adolescente ou criança para a sua
satisfação sexual, independentemente da idade ou fase da adolescente.

Ainda nesta senda, o autor espelha os tipos de contactos íntimos que um adulto venha
estabelecer com uma adolescente, o autor destaca os seguintes tipos de contactos: “beijo
forçado, insinuações, tentativa de beijar com uso da força, propostas indecentes e tentativa de
fazer relação sexual.”
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Quando pensamos ou falamos sobre o abuso sexual pensamos logo numa relação
sexual forçada e não consideramos essas “preliminares”, logo podemos concluir que qualquer
tipo de contacto íntimo que um adulto venha a ter com uma adolescente com ou sem o seu
consentimento, é considerado um abuso sexual.

1.2. Abuso sexual


Pfeiffer (2005, p. 132) afirma que, o abuso sexual é considerado como um dos maus
tratos na infância que vem sendo tolerado ou muitas vezes ignorado até a adolescência por
familiares, vizinhos, meios de comunicação e até os órgãos competentes, pois é um acto
forçado que pode causar grandes consequências bio-psíco-social na vida de qualquer vítima,
independentemente da fase que ela se encontra.
De acordo a este episódio triste, a Organização Mundial da Saúde (OMS,1999)
considera “o abuso sexual como um grave problema de saúde pública, tanto para o sujeito
vitimado quanto para a sua família”.
O abuso sexual apesar de ser considerada um problema de saúde pública, pela
organização Mundial da Saúde (OMS) ainda não é visto como tal em muitas comunidades,
sobretudo aquelas carenciadas, pois quase nada se fala a respeito e os meios de comunicação
não são tão específicos quando debruçam este assunto, até parece um tabu falar sobre este
problema e tantos outros, como a sexualidade, por exemplo.

Este acto é uma realidade que não escolhe classe social, não escolhe cultura ou até
mesmo família, é um problema de saúde pública presente em todas as sociedades. Assim
sendo, Pfeiffer (2005, p. 62) afirma que “o fenômeno do abuso sexual é universal, atingindo
todas as classes sociais e idades, incubando, na vítima, a predisposição para perpetuar o ciclo
de violência ao qual foi submetida”.
Nesta visão, podemos perceber que os abusadores têm coagido ou meter medo às
vítimas para não os denunciarem. Infelizmente, temos adultos sabendo das consequências
tanto para ele quanto para as vítimas, não procuram evitar, pelo contrário, vão alimentando
tais desejos e satisfações fazendo com que o outrem seja um objecto sexual que segundo o
abusador, pode ser usado e abusado quando ele quiser.
A sexualidade ou a liberdade sexual é um direito consagrado na Constituição
Angolana para proteger e defender as os seres humanos, uma vez que, algo este direito é
violado, atenta a dignidade humana e sexual de um determinado individuou.

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Neste caso, o abuso sexual seja vítima, uma criança, adolescente, ou até mesmo uma
adulta, é considerado “crime, punido nos termos da lei a partir dos artigos 181 até 198 do
Código Penal Angolano, protegendo as vítimas nos casos dos chamados crimes contra a
dignidade sexual”.
Apesar da existência da legislação e dos órgãos protetores, parte das vítimas de
abusos sexuais apresenta resistência em denunciar os agressores. Entre os motivos da
omissão da violência, estão medo (de ser julgada pela sociedade; de sofrer represália quando
o agressor é uma figura de poder ou considerada pessoa de confiança), vergonha, burocracia
das investigações e sensação de impunidade no julgamento dos culpados.
Segundo os dados do Ministério da Saúde, a maior parte das vítimas de estupro é
constituída de crianças e adolescentes, em torno de 70% dos casos denunciados. Os
agressores mais recorrentes são membros da própria família ou pessoas do convívio da
vítima.
Assim sendo, no decorrer na nossa pesquisa encontramos diferenças entre a violência
sexual, abuso sexual e a exploração sexual, quem nos elucida sobre as diferenças destes
termos é o autor Salvagni, embora parecem ser sinónimos importa realçar que, existe uma
enorme diferença entre a violência sexual, abuso sexual e exploração sexual, ele considera
que:
1.2.1 Violência sexual é a violação dos direitos sexuais, no sentido de abusar ou explorar do
corpo e da sexualidade de crianças e adolescentes.
1.2.2 O abuso sexual é a utilização da sexualidade de uma criança ou adolescente para a
prática de qualquer ato de natureza sexual.
1.2.3 A exploração sexual é a utilização de crianças e adolescentes para fins sexuais,
mediada por lucro, objetos de valor ou outros elementos de troca”.
Comumente não temos vindo a ter uma visão holística quanto as distinções destes três
conceitos. Assim sendo, podemos ver que a violência sexual se refere à ruptura dos direitos
sexuais de crianças e de adolescentes que são salvaguardados pela constituição de um
determinado país; o abuso sexual refere-se ao uso sexualidade (contactos íntimos) de um
adulto em relação aos adolescentes ou às crianças que tem como objectivos a satisfação
sexual e a exploração sexual refere-se às relações sexuais de um adulto em troca de dinheiro
ou de algum objecto que desperte o interesse dos adolescentes.
De realçar que tanto meninos quanto meninos, assim como os adolescentes ou as
adolescentes podem ser vítimas de uma ou outra coisa tendo em conta a sua realidade social e

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cultural. Mas para nossa realidade, são as meninas e as adolescentes que têm sido vitimadas
por um ou outro aspecto.

Reisberg (2008. p. 38), numa visão superficial consideramos o abuso sexual como a
violência sexual, estes termos têm sido confundidos há décadas e não passa na cabeça de
muita gente de que são totalmente diferentes e não podemos falar de um enquanto pensamos
noutro e vice-versa.

1.3. Adolescência
Adolescência é caracterizada como uma fase mais complexa do desenvolvimento
humano, pois nesta fase ocorrem algumas transformações neurofisiológicas na vida de um
indivíduo. Assim sendo, Grilo (2009, p. 58) diz que “adolescência vem do latim,
adolescencia, que significa o período final do desenvolvimento humano, entre a o início da
puberdade e o estado adulto”.
Podemos dizer que esta fase é universal e cultural. É universal, porque é uma fase do
desenvolvimento humano e é cultural, porque cada sociedade ou comunidade é que dá uma
visão sobre a adolescência, sobretudo quanto as suas fases.
Assim sendo, Palácios (2007, p. 34) considera adolescência “uma fase psicológica
necessária natural e artificial de um produto de determinada organização social e cultural. A
adolescência se estende a grosso modo dos 12-13 anos de idade até aproximadamente o final
da segunda década da vida”.
Nesta senda, para Reisberg (2008. p. 38) “considera as seguintes fases da adolescência:
 Adolescência precoce (dos 10 aos 12 anos);
 adolescência média (13 aos 16anos)
 adolescência tardia (acima dos 17 anos)”.
Encontramos algumas diferenças quanto as fases da adolescência,
 Puberdade ou fase inicial (dos 11 aos 14 anos);
 Fase intermédia (dos 14 aos 17 anos)
 Fase final (dos 18 aos 21)”.
 Fase inicial começa dos 14 dos e termina aos 16 anos de idade;
 Fase intermédia ou média, vai dos 16 aos 18 anos de idade
 Fase final começa dos 18 anos aos 24 anos de idade.

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É difícil saber uma idade universal de quando começa e termina a adolescência, tudo
porque esta fase é mais caracterizada tendo em conta a cultura e sociedade que cada indivíduo
se desenvolve. As características desta fase são o aparecimento da maturação sexual e o
desejo de fazer parte do mundo dos adultos.
Marcelli (2007, p. 44), diz que pesar de ser uma fase em que os órgãos genitais
começam a ser desenvolvido para as relações sexuais com a maturação sexual, isto diz
respeito apenas com os indivíduos do mesmo grupo ou da mesma idade, mas alguns adultos
se dão o direito de terem relações sexuais em troca de emolumentos ou de um objecto valioso,
que passa a ser considerado como abuso e exploração sexual.
1.4. Abuso sexual na adolescência
O abuso sexual na infância e na adolescência é considerado como um pesadelo para
algumas famílias. O medo da vítima pelo agressor, sobretudo, por ser uma figura paterna, o
silêncio, a represália de um agressor sobre a família, por ser uma figura de poder, o tempo que
este acto é praticado na maioria dos casos entre pai e filha, entre vizinho adulto e uma
adolescente, fazem parte do rolo de insatisfação de muitas famílias e comunidades.
Não se poderia cruzar os braços diante desta situação, principalmente quando a maior
percentagem (70%) deste problema, é proveniente dentro da própria família de acordo com
Ministério da Saúde. Nesta senda, o autor Araújo (2002, p. 47), diz que “o abuso sexual
intrafamiliar, pode-se observar uma disfunção em pelo menos três níveis”
 O poder exercido pelo grande (forte) sobre o pequeno (fraco),
 A confiança que o pequeno (dependente) tem no grande (protetor)
 O uso perverso da sexualidade, na qual o grande se apodera do corpo do outro
e o usa segundo seu desejo.
Podemos perceber o porquê de tanto silêncio quando o assunto é abuso sexual
intrafamiliar, pois torna-se extremamente complicado, tanto para a adolescente, quanto para a
família, o processo de reconhecimento e a denúncia desse tipo de acto que ocorre em seu
interior.

Nesta ordem de ideias koller (1998, p. 16) vem dar-nos uma visão holística quanto o
abuso sexual na adolescência, ocorrendo na família, o autor afirma que:

“as famílias abusivas tendem a manter seu equilíbrio doméstico em


torno do silêncio e do segredo, quando o abuso incestuoso é revelado,
mães podem sentir-se enciumadas, culpabilizando as filhas pela
12
situação. Prova disso, seria a dificuldade dessas mães em
reconhecerem o incesto, visto que, tal ação ocasionaria entrar em
contato com sentimentos de fracasso frente aos papéis de mãe e
esposa”.

Aqui podemos ver um dos problemas que abuso sexual pode provocar, a destruturação
familiar, na qual a mãe/esposa entra em conflito de papéis consigo mesma.
Em situações do género tem acontecido em muitas famílias o incesto, que pode ser
considerado como abuso sexual, que em alguns casos pode chegar a culminar numa gravidez
precoce e indesejada.
Amazarray (1997, p. 76), afirma que: O abuso sexual na adolescência pode se
caracterizar de diversas formas, comumente nos acostumamos a ter uma percepção de
abuso sexual através da ruptura dos órgãos genitais entre o agressor e a vítima. Existem
diversas formas de abuso sexual para além do coito ou do contacto (intimidade que o
agressor venha estabelecer com a vítima).
“o abuso sexual consiste no envolvimento da adolescente em
atividades de manipulação dos seus órgãos genitais ou do agressor,
abusos verbais, masturbação, ato sexual genital ou anal, estupro,
sodomia, exibicionismo, pornografia, e ainda exibicionismo,
voyeurismo, exposição a filmes, imagens ou situações de
pornografia”.
Percebemos que o abuso sexual não é só aquilo temos vendo e ouvindo, é tão amplo pendendo
envolver algumas parafilias na busca de uma satisfação por parte do agressor em relação a
vítima. O abuso caracteriza-se de muitas formas, podendo ou não haver um envolvimento
sexual entre o agressor e a vítima.
Sendo a adolescência uma fase de maior curiosidade de quase tudo, as adolescentes
podem se sentir atraídas a certos estímulos como a exposição de filmes, imagens ou situações
de pornografia, sem saberem que estão sendo abusadas sexualmente a divulgação de como se
a manifesta o abuso sexual nas suas variadas facetas poderia ser expressa de forma extensiva
nas comunidades, para que as famílias tenham esta informação e que os encarregados de
educação possam alertar os seus filhos.

13
1.4. Fatores associados a abuso sexual
Frawley (1994, p. 80), diz que, são diversos factores que estão associados a abuso sexual na
adolescência entre vários vamos destacar aqui os mais comuns.
 Consumo de álcool e drogas
O aumento da vulnerabilidade à violência sexual também decorre do uso de álcool e
outras drogas. O consumo de álcool ou drogas torna mais difícil para as pessoas se
protegerem interpretando e agindo de forma eficaz sobre os sinais de alerta. O consumo de
álcool também pode colocar a pessoa em ambientes onde suas chances de encontrar um
infrator em potencial são maiores. Tendo sido previamente estuprado ou abusado
sexualmente, existem algumas evidências que relacionam experiências de abuso sexual na
infância ou adolescência com padrões de vitimização durante a idade adulta.
Os efeitos do abuso sexual precoce também podem se estender a outras formas de
vitimização e problemas na idade adulta. Por exemplo, um estudo de caso-controle na
Austrália sobre o impacto de longo prazo do abuso relatou associações significativas entre
abuso sexual infantil e experiência de estupro, problemas de saúde sexual e mental, violência
doméstica e outros problemas em relacionamentos íntimos, mesmo depois de levar em conta
várias características do contexto familiar. Aqueles que sofreram abusos envolvendo relações
sexuais tiveram resultados mais negativos do que aqueles que sofreram outros tipos de
coerção.
 Nível educacional
As mulheres correm maior risco de violência sexual, pois são de violência física por
parte do parceiro íntimo, quando se tornam mais educadas e, portanto, mais capacitadas. Em
uma pesquisa nacional na África do Sul, constatou-se que mulheres sem educação tinham
muito menos probabilidade de sofrer violência sexual do que aquelas com níveis mais altos de
educação. No Zimbábue, as mulheres que trabalhavam eram muito mais propensas a relatar
sexo forçado pelo cônjuge do que as que não estavam. A explicação provável é que um maior
empoderamento traz consigo mais resistência das mulheres às normas patriarcais, modo que
os homens podem recorrer à violência na tentativa de retomar o controle.
 Pobreza
Mulheres e meninas pobres podem correr mais risco de estupro no curso de suas
tarefas diárias do que aquelas que estão em melhor situação, por exemplo, quando voltam
para casa sozinhas do trabalho tarde da noite, ou trabalham nos campos ou coletam lenha
sozinhas. Filhos de mulheres pobres podem ter menos supervisão dos pais quando não estão

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na escola, uma vez que suas mães podem estar trabalhando e não ter condições de pagar para
que seus filhos sejam cuidados.
Quando se fala se abuso sexual vem-nos imediatamente à nossa cabeça a imagem de
um homem adulto e de uma mulher, independentemente da sua fase, parece automático e
natural associarmos esses termos a esses conceitos. Assim sendo, abordar sobre os factores
associados a ser vítima de abuso sexual que afecta maioritariamente as mulheres, não é
ascensão para a nossa realidade.
Nesta ordem de ideias, Frawley (1994, p. 80), afirma que os fatores que influenciam o
risco de abuso sexual incluem:
 ser menina/mulher;
 ser jovem;
 ser uma trabalhadora do sexo;
 ser pobre ou sem-teto;
 ser alcoólatra ou viciado em drogas;
 ter sido previamente estuprada ou abusada sexualmente;
 ter múltiplos parceiros sexuais ou se envolver em comportamento sexual de risco;
 estar mentalmente doente ou com deficiência intelectual;
Olhando de forma ampla, podemos compreender os alvos que alguns agressores tendem a
sobre meter ou praticar o abuso sexual, nestas características podemos associar que tem
acontecido tanto o abuso sexual assim como a exploração sexual, tendo em conta a carência
ou outros factores associados como garota de programa, problemas neurofisiológicos, entre
outros.
Situações semelhantes podem chegar à casa de algumas famílias, os agressores podem
usar meios com algumas adolescentes, chegando a serem chantageadas pelo padrasto ou até
pelo próprio pai para poder permanecer sob o seu teto em troca de relações sexuais, os
agressores podem apresentar alguns comportamentos rudes, como proibição de sair, de
controla-la com quem sai ou com quem conversa mesmo se for em casa, selecionar os seus
amigos entre outras atitudes que o agressor venha a tomar.
Sobre o abuso sexual, há uma média em que mais se perpetua este acto, a Organização
Mundial da Saúde (OMS, 2009) afirma que “mulheres jovens geralmente correm mais risco
de estupro do que mulheres mais velhas, entre um terço e dois terços de todas as vítimas de
agressão sexual têm 15 anos ou menos”. Percebe-se que, quanto menor é a fase do
desenvolvimento de uma mulher, maior é o risco que ela corre de ser vítima de agressão
15
sexual, pois vê-se factos de adultos estuprarem crianças, uma fase em que, os órgãos genitais
das mesmas ainda não estão desenvolvidos para actividades sexuais, todavia, os agressores
sentem-se mais atraídos pela fase em parte, como também pelo corpo, por exemplo, uma
adolescência que tem um nível um pouco a mais do Hormônio Estimulante de Crescimento
(HEC) ou uma massa corporal um acima da média, podem esses factores, influenciarem de
alguma forma na agressão, contudo, não devem servir de motivos para que os agressores
abusem sexualmente de uma criança ou adolescente.

1.6. Consequências do abuso sexual na adolescência


As consequências causadas através do abuso sexual, podem ter implicações físicas,
psicológicas e sociais na vida de uma vítima, podem ser devastadoras até ao ponto de levando
vidas de adolescentes e crianças.
Féres-Carneiro (2005, p.56) afirma que: “A maior parte das crianças e adolescentes
que são abusadas sexualmente conhecem os seus agressores. São, na maioria das vezes,
parentes, professores, vizinhos ou conhecidos da criança. Cada vítima tem uma forma de
reagir ao abuso sexual. Algumas crianças e adolescentes podem ser expostas a situações que
ponham a sua vida em risco, como a infecção com o HIV e a gravidez muito precoce”.
As consequências não afectam apenas as adolescentes, elas podem efectar as crianças
até as adultas e, independentemente da faixa etária, algumas vítimas incluindo as adultas se
silenciam por medo de represália por parte dos agressores serem muito próximos a elas.

Alguns autores, afirmam que as consequências apesar de serem devastadoras, variam,


segundo Young-Bruehl (2004, p.59) “os efeitos do abuso variam de acordo com a idade da
vítima, a duração do abuso, o grau de violência, a diferença de idade entre perpetrador e
vítima, o relacionamento entre eles, a ausência ou não de figuras parentais protetoras e,
finalmente, o grau do segredo e de ameaças que a vítima sofreu”.

Estes pontos influenciam para que as adolescentes não denunciam os agressores o que
leva fazer com que as consequências tenham um índice que crescimento na medida que o
abuso acontece, afectando, parte psicológica, biológica e social. As suas vidas podem tornar-
se num pesadelo porque o perpetrador partilha o mesmo espaço com a vítima, o que com que
haja maior controle da vítima através das ameaças.
Para se compreender melhor as implicações que afectam as vítimas de abuso sexual,
descreve-se algumas fases do desenvolvimento humano. Alguns autores caracterizam essas

16
fazes dando uma compreensão sólida de como são os comportamentos das vítimas que sofrem
de abuso sexual
Finkelhor e Browne (1985, p.45) apresentam as fases sobre como as consequências
podem afectar as vítimas e os comportamentos que as mesmas apresentam, eis:
 de zero a seis anos, as manifestações mais comuns resultantes da vitimização por
abuso sexual caracterizam-se pela presença de ansiedade, pelos pesadelos, pelo
transtorno de estresse pós-traumático e pelo comportamento sexual inapropriado;
 de sete a doze anos, os sintomas mais comuns abarcam o medo, os distúrbios
neuróticos, a agressão, os pesadelos, os problemas escolares, a hiperatividade e o
comportamento regressivo;
 de treze a dezoito anos, observa-se a depressão, o isolamento, o comportamento
suicida, a autoagressão, as queixas somáticas, os atos ilegais, as fugas, o abuso de
substâncias lícitas ou ilícitas e o comportamento sexual inadequado.

Cyrulnik (2005, p.39) afirma que “experiência sexual vivida pela criança ou pelo
adolescente, seja colocada numa posição passiva, seja envolvida em sedução e prazer, além
da força e do poder exercidos pelo abusador, prejudicam no desenvolvimento emocional e
cognitivo do abusado.” As consequências causadas pelo abuso na adolescência, sobretudo na
infância, podem influenciar negativamente nas interações sociais comprometendo o
desenvolvimento cognitivo e emocional de uma vítima, por resultarem das experiências
sexuais inapropriadas. Nesta linha de pensamento,

Para o autor independentemente de como seria experiência com o agressor, seja com
ou sem consentimento da adolescente, ela poderia apresentar um comportamento sexual
inadequado, o que implicaria, uma vida sexual reduzida ao medo, pesadelo, ansiedade,
depressão entre outros problemas que a vítima pode vir a apresentar.

1.7. O abuso sexual e a Psicanálise

Na década de 70, segundo Young-Bruehl (2004), quando a questão do abuso sexual


firmou-se como um grave problema de maus-tratos infantis, a psicanálise não participou
diretamente dos estudos iniciais, por ser considerada como uma teoria mais intrapsíquica,
contribuindo, dessa maneira, pouco para a compreensão e o tratamento do abuso.

17
Entretanto, a questão do abuso sexual e do respectivo impacto no desenvolvimento da
personalidade do sujeito, independentemente de pertencer à fantasia ou ao real, ocuparam um
lugar de destaque na psicanálise clássica. Essa afirmação decorre da própria teoria freudiana
da sedução, segundo a qual a criança era necessariamente seduzida de forma passiva por um
adulto (o pai, no caso).

Prado & Féres (2005, pág 89). No entanto, com o desenvolvimento dos estudos
freudianos da época, acabou-se por duvidar da veracidade de tais cenas de sedução
apresentadas pelos pacientes, entrando, assim, em jogo a realidade interna – fantasia
inconsciente – a qual se diferenciaria da externa, abrindo lugar para a teoria do Complexo de
Édipo. Contudo, é no princípio da própria teoria psicanalítica que se verifica a questão do
abuso sexual perpassando as formulações e as primeiras teorias freudianas.

Intebi (2008, pág 42) Inicialmente, Freud introduz a Teoria da Sedução, na qual
acreditava no discurso histérico, para, posteriormente, perceber que as mesmas histéricas
anteriormente queixosas a respeito de um possível abuso por parte de seus pais, traziam, de
fato, as suas fantasias, o que acabava por abrir um novo caminho, a Teoria Edípica.

Freud (1924/1996) considerava o complexo de Édipo como fenômeno central do


período sexual da primeira infância. É no Complexo de Édipo que se observa o
desenvolvimento de efusivas e apaixonadas disputas, quando a criança rivaliza com o genitor
do mesmo sexo, ao mesmo tempo em que transfere desejos amorosos e hostis de forma
intensa para ambos os genitores, situação que estabelece uma tríade de relações importantes
para o seu desenvolvimento psicológico. Segundo a teoria freudiana clássica, o Édipo
ofereceria ao sujeito, basicamente, duas possibilidades em termos de satisfação, ou seja, na
busca pela identificação com os pais, a criança deverá tomar ou uma postura ativa, ou uma
passiva. No caso masculino, o menino poderia se colocar no lugar do pai, à maneira
masculina, e ter relações com a mãe da mesma forma como o pai – Édipo Positivo, ou
assumir o lugar da mãe e ser amado pelo pai, caso em que a mãe se tornaria supérflua –
Édipo Negativo.

Para Freud (1924/1996) “A identificação com o pai e a autoridade deste é introjetada


no ego, formando o núcleo do superego, o qual assume a severidade do pai e perpetua a
proibição contra o incesto, defendendo o ego do retorno da catexia libidinal”. Este processo,
era mais que uma repressão, era uma abolição do complexo porque, caso o ego não consiga
18
muito mais que uma repressão do complexo, este persistirá em estado inconsciente no id,
manifestando-se, mais tarde, o seu efeito patogênico.

1.8. Trauma e Desenvolvimento psíquico

De acordo com Laplanche e Pontalis (1998), o trauma pode ser definido como
"acontecimento da vida do sujeito que se define pela sua intensidade, pela incapacidade em
que se encontra o sujeito de reagir a ele de forma adequada, pelo transtorno e pelos efeitos
patogênicos duradouros que provoca na organização psíquica." (p.522). Sob o ponto de vista
econômico, o trauma caracterizar-se-á por ser um excesso de excitações que transborda a
capacidade do sujeito de tolerar e elaborar psiquicamente.

Uma importante síntese sobre o desenvolvimento da definição de trauma, sob o ponto


de vista freudiano, é o trabalho de Prado e Féres-Carneiro (2005). Segundo os autores,
concomitante ao próprio desenvolvimento da teoria psicanalítica, está o desenvolvimento da
noção de trauma. Inicialmente, este conceito se encontra de forma embrionária de acordo
com a Teoria da Sedução, para, posteriormente, ser descrito como algo relativo "à urgência e
pressão das pulsões sexuais e à luta que o ego trava contra elas, e os conflitos e as vivências
traumáticas passam a ser examinados e compreendidos a partir das fantasias inconscientes e
da realidade psíquica interna" (p.13). Finalmente, em um terceiro momento da teoria
freudiana, o trauma adquire uma nova dimensão, e a essência da situação traumática estaria
diretamente ligada à experiência de desamparo por parte do ego diante de um excesso de
excitação.

Além disso, Prado e Féres-Carneiro (2005) trazem algumas distinções fundamentais, tais
como: traumatismo, traumático e trauma.

 Traumatismo - O primeiro refere-se ao conteúdo que surge em um tratamento


psicanalítico, ou seja, algo que é representável e simbolizável.
 Traumático reflete o caráter econômico que esse conceito abrange, isto é, em virtude
do aparelho psíquico estar desprovido de um aparato que suporte o excesso de
excitação e o desvie, ocorre um funcionamento pautado pelo trauma.

Logo, mesmo que os efeitos do trauma sejam parcialmente representáveis e simbolizáveis,


eles nunca o serão de todo, ficando o sujeito marcado por um funcionamento traumático.

19
Exemplo disso seria o de mulheres vítimas de abuso sexual na infância, as quais certamente
foram submetidas ao silêncio e, dessa maneira, foi-lhes retirada a possibilidade de elaboração
da experiência.

 Trauma, segundo as autoras, vem enfatizar o estrago produzido na capacidade de


simbolizar e transformar, favorecendo o que chamam de zonas mortas do psiquismo,
cujos fantasmas assombrarão gerações futuras, afetando suas escolhas amorosas e
possibilidades de fruição da sexualidade. Estas situações associam-se a fantasias e podem
ficar encapsuladas, configurando-se como um "corpo estranho", acarretando em
incremento de ferida narcísica à personalidade.

Neste sentido, em 1985, Finkelhor e Browne (1985) organizaram um modelo


compreensivo das consequências e do impacto do abuso sexual a partir de fatores
característicos das experiências traumáticas. Estes fatores determinantes definem o que os
autores denominaram a dinâmica traumática e são baseados nas experiências de sexualidade
traumática, traição, submissão ao poder e estigma. Ainda que estes elementos possam estar
presentes na experiência de diversas situações traumáticas, a conjunção dos fatores nas
situações de abuso sexual determina uma especificidade do abuso sexual no impacto do
desenvolvimento geral das vítimas.

Já a traição envolve a constatação, por parte da vítima, de que alguém que deveria ser
objeto de amor coloca-se numa relação de exploração da mesma. Muitas vezes, o senso de
traição ocorre igualmente em relação a outros adultos, em quem a criança confia e que não
conseguem exercer uma ação protetora, tal como a mãe ou irmãos mais velhos. Assim, a
experiência de submissão ao poder do adulto gera uma experiência ainda mais traumática e
invasiva, pois a vítima não consegue visualizar meios de reverter a situação do abuso na qual
está envolvida. Por último, há o estigma gerado por ter sido vítima e as crenças de por qual
razão o abusador a escolheu, além das percepções dos demais acerca do papel da criança no
evento.

Davies & Frawley ( , 1994).As consequências de experiências traumáticas estarão


presentes nos aspectos cognitivos, afetivos e relacionais. Na perspectiva psicanalítica, os
aspectos relacionados à representação simbólica do abuso e as respostas dissociativas do
funcionamento psíquico formam a base para a compreensão das reações frente às
experiências abusivas. No caso do abuso sexual infantil, as memórias traumáticas estarão
20
associadas às fantasias sexuais agressivas desse período e, quanto mais precocemente ocorrer
o abuso, mais sintomática será a resposta do sujeito em função da incapacidade do ego de
organizar a experiência traumática.

Desse modo, considerando-se estes aspectos do funcionamento, observa-se que


constituem a base para o possível desenvolvimento de personalidade borderline, situação
caracterizada pela alta modulação afetiva, pela ansiedade difusa, pelas dificuldades
relacionais, pela depressão e/ou agressividade

1.9. Como identificar casos de abuso sexual de crianças e adolescente


. Os casos de abuso sexual de crianças e adolescentes sempre se refletem na saúde
mental da vítima. Por isso, é preciso estar atento a mudanças de comportamento e sintomas
de transtornos psicológicos. Dependendo da idade da criança, os sinais do abuso serão
diferentes.

 Crianças de até 11 meses: Em casos de bebês que sofrem abuso sexual, é comum
a criança apresentar choros frequentes, irritabilidade, apatia, atraso no
desenvolvimento, distúrbios do sono, vômitos e dificuldades na
alimentação/amamentação e desconforto no colo.
 Crianças de 1 a 4 anos: Crianças entre 1 e 4 anos já possuem mais potencial de
comunicação, mas ainda tem pouco discernimento das coisas. Elas podem reagir com
choros frequentes, irritabilidade, tristeza frequente, atraso no desenvolvimento,
dificuldade no desenvolvimento da fala, agressividade acentuada, ansiedade, medo de
pessoas, pesadelos, tiques e manias.
 Crianças de 5 a 9 anos: São crianças um pouco mais desenvolvidas. A escola pode
ter um papel importante para identificar comportamentos suspeitos. A criança
costuma apresentar tristeza frequente, baixa autoestima, irritabilidade, choro
frequente, falta de limite, distúrbio alimentares, enurese e encoprese, tendência ao
isolamento, ansiedade e medo, comportamentos obsessivos, automutilação, déficit de
atenção, hiperatividade.
 Entre 10 e 19 anos, já se tem uma consciência maior do que é um abuso. Mas muitas
vezes, o jovem se sente culpado ou pensa que não irão acreditar se ele denunciar a
violência. As reações nesta faixa etária incluem choro, ansiedade, medo, baixa

21
autoestima, uso de drogas, tendência ao isolamento, automutilação, comportamento de
risco, agressividade acentuada e ideação suicida.

É fundamental entender que geralmente as vítimas apresentam um conjunto de


indicadores e que a criança deve passar por avaliação especializada caso apresente alguns
desses sinais. Importa lembrar que: em quase todos os casos a vítima tenta se manifestar da
sua própria maneira. Faça com que eles se sintam ouvidos e acolhidos.

CAPÍTULO II: FUNDAMENTAÇÃO METODOLÓGICA


No presente capítulo, estabelecemos as principais abordagens metodológicas para a
prossecução da investigação. Entretanto, a metodologia é uma das dimensões fulcrais do
trabalho de investigação que serve de caminho para o estudo de caso. Trata-se de uma parte
indispensável, destacando-se para tal o método de investigação, a selecção da amostra, as
fontes de obtenção dos dados, a operacionalização das hipóteses, variáveis e formas de
medição bem como os métodos de tratamento dos dados adoptados para a realização deste
trabalho.

2.1. Caracterização do campo de estudo


O bairro da Camoma situa-se na província de Malanje no município sede. Delimita-se
a Sul com o bairro da Cangambo, a Norte com o bairro da Maxinde, a Leste com o bairro dos
Caxitos e a Oeste com a Escola Técnica de Educação Física (Ngolo).
O bairro da Camoma, tem mais de 50 anos de existência, os primeiros habitantes a
residirem neste bairro foram os povos provenientes da região Songo, o mesmo tem mais de
três (3) sobas. O bairro da Comoma é constituído por mais de 300 habitantes, é caracterizado
por ser um bairro muito pobre, onde a maioria tem como meio de sustentabilidade o campo e
moto-táxi.

O bairro tem poucos serviços públicos, pois carece de muitas instituições públicas,
visto que, dos 100% dos habitantes 30% são jovens, 30% adolescente, 30% são adultos e
10% são idosos. A maior parte dos jovens têm como actividade moto-táxi, os adolescentes
vendas de sacos, no mercado Xawande e os adultos fazem o trabalho de campo.

22
2.2 Modelo de pesquisa
A pesquisa alicerça-se numa investigação de carácter descritivo com natureza
qualitativa, orientada sob o modelo fenomenológico com o tipo de amostra não
probabilística.

Na pesquisa qualitativa, a interacção entre o pesquisador e os sujeitos pesquisados é


essencial. Todo o empenho é investido para que o corpo e o sangue da vida real componham
o esqueleto das construções abstractas.

A pesquisa descritiva “é aquela em que o pesquisador apenas regista e descreve os


factos observados sem intervir neles. Visa descrever as características de determinada
população ou fenómeno, ou o estabelecimento de relações entre variáveis.

Razão pela qual, através do modelo descritivo buscou descrever e compreender o


índice elevado de abuso sexual na adolescência no bairro da Camoma.

Adoptou-se o paradigma fenomenológico na presente pesquisa. pois, entende-se que


seja o paradigma de pesquisa que melhor se adequa para o alcance do fim da presente
pesquisa, pelo facto de permitir enfatizar e atribuir a experiência humana diante de um
fenómeno.

Gil citado por Assis (2006), a respeito do paradigma fenomenológico defende que
inclui este método entre os de abordagem. Desenvolvido por Edmund Husserl (1859-1938),
preocupa-se em entender o fenómeno como ele se apresenta na realidade, isolando-o de
influências, embora mais tarde, durante a verificação e comprovação dos resultados obtidos,
as relações abandonadas possam ser levadas em consideração. Nesse sentido, propõe
estabelecer uma base segura, livre de proposições, para todas as ciências e consiste em
mostrar o que é dado e em esclarecer esse dado.

2.3 Participantes da pesquisa


Os participantes da presente pesquisa foram escolhidos a partir do critério de amostra
não probabilística que confia no julgamento pessoal do pesquisador e não na oportunidade de
seleccionar os elementos amostrais ou seja, nesse tipo de amostragem nem todos os
elementos da população têm a mesma probabilidade de participarem da pesquisa.

23
Entretanto, a amostra que compõe a pesquisa é de carácter intencional. Pois, os
elementos da pesquisa foram seleccionados de acordo ao critério pessoal do pesquisador.
Neste quesito, para a selecção da amostra usou-se tais critérios:

 Ser residente no bairro Camoma a mais de dez (10) anos


 Ter consentido na participação, após esclarecimento da finalidade da pesquisa;
 Ter uma idade compreendida de 14 anos em diante.

2.4 Características dos participantes da pesquisa


As características são definidas como conjunto de manifestações que permitem
caracterizar os participantes dentro de uma dada pesquisa, permite obter conhecimento com
maior precisão no tema em debate.

Na presente pesquisa, foram entrevistados 5 participantes, as faixas etárias


encontram-se entre a adolescência e fase adulta, isto é, dos 14 aos 57 anos de idade. A maior
parte dos participantes são adolescentes. Dentre os participantes, participaramm três (3)
adolescentes e dois (2) policiais. Outra característica que merece ser realçada é que, o género
feminino é que mais predomina nos elementos pesquisados no bairro da Camoma

2.5 Técnicas e instrumentos

Para a recolha de dados usou-se as técnicas de observação acompanhado da sua grelha


e a técnica de entrevista acompanhada do guião de entrevista, telefone com sistema de
gravador como instrumento.

A entrevista é uma das técnicas para a colecta de dados mais utilizada na


investigação. Na entrevista, dá-se um grande peso a descrição verbal da pessoa para obtenção
de informação quanto aos estímulos ou experiências a que está exposta e para o
conhecimento do seu comportamento. Quanto ao tipo de entrevista, para a materialização da
pesquisa escolheu-se a entrevista do tipo semi-estruturada por ser aquela que combina
perguntas fechadas e abertas, em que o entrevistado tem a possibilidade de discorrer sobre o
tema em questão sem se prender à indagação formulada.

Uma outra técnica de colecta de dados que se usou para a materialização da pesquisa
é a observação. A observação é considerada como uma técnica de colecta de dados para
conseguir informações utilizando os sentidos na obtenção de determinados aspectos da
realidade.

24
Quanto ao tipo de observação, optou-se pela observação do tipo participante,
observação participante que é um processo pelo qual um pesquisador se coloca como
observador de uma situação social, com a finalidade de realizar uma investigação científica.

Para a análise dos dados colhidos na pesquisa, usou-se a técnica da análise de


conteúdo. Para Bardin, a análise do conteúdo, enquanto método, torna-se um conjunto de
técnicas de análise das comunicações que utiliza procedimentos sistemáticos e objectivos de
descrição do conteúdo das mensagens. A análise de conteúdo que foi feita obedeceu ao
critério de categorias, para melhor analisar o conteúdo da informação obtida.

2.6 Procedimentos e dificuldades


No que diz respeito aos procedimentos usados na presente pesquisa, inicialmente foi
efectuada uma pesquisa bibliográfica sobre o tema em estudo, de formas a desenvolver
ferramentas com um leque de conhecimentos suficientes para o estudo da temática com o
objectivo de registar e analisar as contribuições teóricas sobre o assunto em estudo desde os
tempos passados.

Entretanto, conheceu-se o campo de pesquisa e aplicou-se as técnicas de recolha de


informação. Como em toda acção desenvolvida pelo homem existe sempre elementos ou
factores que são causadores de dificuldades, a presente pesquisa não se considera uma
excepção. No decurso dela, o grupo deparou-se com as seguintes dificuldades:

 Ausência de fontes de informação devido a escassez de livros que abordem sobre a


problemática.
 Difícil acesso de grupos disponíveis para participação da pesquisa.
 Falta de identificação da instituição e do grupo na realização da pesquisa
 Difiuldades na obtenção de informação por parte dos agentes da polícia pelo facto de
se tratar de assunto confidenciais e a disconfiança de sermos agentes do Serviço
Secreto (SINSE).
 Factores laborais por parte dos menbros do grupo na realização do trabalho.
 Dificuldades de recursos materiais e finaceiros para a realização do trabalho.

25
CAPÍTULO III: APRESENTAÇÃO, ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS
RESULTADOS
Este último capítulo tem como escopo fazer a apresentação, análise e interpretação
dos resultados recolhidos ao longo da pesquisa. Nesta senda, faz-se a discussão dos
resultados e evidencia-se as conclusões que o autor chegou sobre o problema levantado no
início da investigação.

Assim, o capítulo encontra-se subdividido em três partes fundamentais, sendo que na


primeira, apresenta-se os resultados aos adolescentes, na segunda parte, dos policiais e a
terceira parte, dos adultos que residem no bairro da Camoma há mais de 10 anos.

3.1. APRESENTAÇÃO, ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADO


3.1.1. Noções gerais sobre abuso sexual na adolescência
O abuso sexual na adolescência é a utilização da sexualidade de um adulto contra uma
criança ou adolescente para a prática de qualquer ato de natureza sexual.
Diante disso, os entrevistados indagados sobre o abuso sexual na adolescência foram
questionados se já ouviram falar sobre o abuso sexual na adolescência e quais são os seus
pontos de vista sobre o mesmo, responderam, os participantes, expressando-se da seguinte
maneira:

26
“Sim, já ouvi falar, o abuso sexual é algum tipo de contacto sexual entre um adulto e uma
adolescente, com ou sem o consentimento da adolescente” (entrevistado A, 36 anos, policial)

“Sim já ouvi falar na escola, é quando uma pessoa mais velha namora com uma pessoa que
é menor de idade. (entrevistado B, 17 anos, estudante)

Sim, já ouvi falar e já falei também sobre o abuso sexual na adolescência, no meu local de
trabalho, o abuso sexual é quando um adulto se relaciona sexualmente com uma pessoa à
força. (entrevistado C, 40 anos, policial)

Já, já ouvi a falar na televisão, é quando um mais velho faz sexo à força com uma mulher
sem ela querer (entrevistado D, 16 anos, estudante)

Já, já ouvi a falar no facebook, é quando um homem faz sexo com uma mulher sem ela
querer (entrevistado E, 17 anos, estudante)

As respostas acima apresentadas reflectem que os entrevistados possuem noção sobre


o abuso sexual na adolescência.

Figura nº 1: Noções gerais sobre o abuso sexual na adolescência

É um contacto
sexual entre um
adulto e uma
adolescente

No meu
Na escola local de
trabalho

Nas redes Na
sociais televisão

(Fonte: dados da pesquisa)

27
De acordo com a figura acima, os participantes da pesquisa possuem algumas noções
sobre o abuso sexual na adolescência, tendo informado que já ouviram a falar em vários
lugares como na televisão, na escola, nas redes sociais e na esquadra da polícia.

Assim, o abuso sexual é um dos fenómenos que tem afectado muito a sociedade e
muitas famílias de modo particular, apesar disso, algumas pessoas venham a normalizar este
problema que pode dar margem à exploração sexual.

Quem clarifica esta questão é Maria Sousa (2000) esclarecendo que, tendo em conta a
carência que algumas adolescentes têm passado, pode fazer com quê alguns adultos se
aproveitem desta situação para coagirem as adolescentes, a fim de envolverem sexualmente
em troca de alguma coisa (p.41).

3.1.2. As causas do Abuso Sexual na Adolescência


Todo o fenómeno estudado e baseado no suporte científico, precisa-se saber o que o
provoca este fenómeno, ou melhor, as causas que podem desencadear um determinado
fenómeno, para então se procurar as possíveis vias de solução para erradicar ou minimizar o
problema. Assim, o abuso sexual na adolescência não é ascensão.

Aquando da pergunta sobre os factores que podem desencadear o abuso sexual na


adolescência. Os participantes da pesquisa apresentaram os seguintes pontos de vista:

“Sobre os factores que podem causar o abuso sexual, pode ser económico, ou seja, a
pobreza, porque muitas adolescentes passam por algumas necessidades que nem a própria
família consegue dar resposta, e quando aparece um adulto disposto a suprir as suas
necessidades, elas aceitam se relacionarem sexualmente, sem ter a noção que está sendo
abusada sexualmente, só porque há consentimento da sua e não há qualquer esforço do
adulto para o acto sexual” (entrevistado A, 36 anos policial).

“Sobre os factores que faz com que acontece o abuso sexual na adolescente, é
vestuário indecente, muitas adolescentes se vestem muito mal, mais muito mal mesmo que
leva um mais velho a fazer isso, às vezes, podem mesmo conversar com ela por causa do
jeito que ela veste, mas muitas não ouvem e acaba fazendo com que o mais velho a esforça
para se fazerem sexo” (Entrevistado B, 17 anos, estudante)

“As causas do abuso sexual na adolescência pode ser a pobreza, por que? Porque
muitos mais velhos se aproveitam de adolescentes carentes para poder se envolverem
sexualmente, os adultos conhecem as adolescentes no bairro e quando percebe que esta

28
adolescente é de uma família pobre, ele se disponibiliza pagar isso ou aquilo e em troca usa
a menina, abusa-a sexualmente e vai fazendo com maior frequência, porque a menina não
sabe que está sendo abusada sexualmente e não pode negar porque se ela negue, o mais
velho para de dar isso e dar aquilo e ela tem medo de perder o dinheiro que vem deste
adulto e ela não informa aos seus pais, o que chega a ser muito triste.” (Entrevistado C, 40
anos, policial).

“As causas do abuso sexual na adolescência pode ser o álcool, porque algumas
pessoas fazem o uso de bebidas só para fazerem isso, quando desejam muito uma
adolescente, às vezes, quando estão na festa, embebeda a adolescente e ele se envolvem sem
ela saber” (entrevistado D, 16 anos, estudante)

O que pode levar uma adolescente a ser abusada é muitas vezes o uso de roupas
curtas, hoje em dia, muitas mulheres se vestem muito mal, tanto em casa, como na escola,
como na rua e isso pode fazer com que um homem chega a fazer isso (Entrevistado E, 17
anos, estudante).

As visões sobre os factores que podem causar o abuso sexual na adolescência


apresentadas pelos participantes da nossa pesquisa, alguns apresentaram como uma das
causas a pobreza, um dos factores espelhado com maior relevância no capítulo um. Podemos
ver que as causas que podem desencadear o abuso sexual na adolescência é a situação
económica precária que algumas adolescentes vivem no seu meio familiar e a outra
apresentada também como a causa, é o modo de como as adolescentes do bairro da Camoma
se vestem.

Quem nos pode clarificar sobre os factores que causam o abuso sexual na
adolescência é Afonso Miranda, (2012). Na perspectiva do autor, o abuso sexual tem como
uma das maiores causas, a pobreza e o analfabetismo e, lamentavelmente, quando se há a
pobreza, há muitas possibilidades que haja um índice elevado de analfabetismo. Esses
factores, dão margem não apenas ao abuso sexual, mas também uma série de problemas,
como a gravidez precoce ou na adolescência, fuga à paternidade, maternidade e paternidade
irresponsável, etc. (p.20).

Figura nº 2:. Os factores que causam o abuso sexual na adolescência

29
Vestuário
Pobreza
indecente

Álcool

(Fonte: dados da pesquisa)

Nesta perspectiva, o abuso sexual, pode ser causado por seguintes factores: pobreza,
vestuário indecente e o alcoolismo. Podemos ver que, dos participantes questionados sobre os
factores que desencadeiam o abuso sexual na adolescência, dois responderam que são a
pobreza e dois responderam o vestuário indecente, e um respondeu que o abuso sexual no
bairro da Camoma tem como causa o uso de bebida alcoólica, tanto pelas adolescentes
quanto para os adultos. Podemos dizer que a pobreza e o vestuário indecente são os maiores
factores que causam o abuso sexual na adolescência, no bairro da Camoma.

3.1.3 O abuso sexual entre adultos e adolescentes no bairro da Camoma


O abuso sexual na adolescência é um mal que tem vindo a tirar sono na vida de
muitas famílias. Assistindo os programas televisivos, nomeadamente “Fala Angola (TV
ZIMBO)” e “Ecos & Factos (TPA 1)”; ouvindo os programas radiofónicos e navegando nas
redes sociais, vemos, ouvimos e lemos notícias ligadas a esta triste realidade.

Tomando as respostas dos nossos 5 inquiridos, pôde-se depreender que no bairro da


Camoma têm-se registado muitos casos de abuso sexual na adolescência, visto que, 4 dos
entrevistados foram unânimes em responder SIM à pergunta que lhes foi feita; ao passo que 1
preferiu manter-se neutro optando por TALVEZ, dando cada um deles a seguinte justificativa

“Eu afirmo que sim, a partir das denúncias que nos chegam, sobre o abuso sexual,
porque muitos adultos hoje preferem mais as adolescentes do que uma mulher da mesma
faixa etária, porque elas provavelmente não dão muito trabalho, porque estão naquela fase
dos porquês e nesta fase, os adolescentes querem experimentarem quase tudo sem menor
esforço e sem a menção de qualquer consequência e alguns adultos, oportunistas,
aproveitam-se desta situação para algum contacto de natureza sexual com as adolescentes,
30
mesmo sabendo que é menor de idade, infelizmente sim, tem acontecido” (Entrevistado A, 36
anos, policial)

“Sim eu já fui vítima de abuso sexual, porque quando eu costumava assistir novela na
casa da minha amiga, um irmão dela quem tipo já 27 ou 28 ano tem ano, tava me conquistar
e todas as vezes que eu não queria falar com ele, ele me obrigava, uma vez, ele me controlou
quando fui fazer menor, na casa de banho, ele me seguiu, tava me obrigar a fazer sexo com
ele, eu tava a gritar eu disse que não queria fazer sexo com ele porque é muito meu mais
velho, ele tava a insistir mesmo assim e começamos a lutar, até que vieram as pessoas e nos
acudiram” (Entrevistada B, 17 anos, estudante).

“Sim já, é só ver que por mês nós recebemos uma ou duas denúncias vindo de famílias que
as suas filhas foram vítimas de abuso sexual; então é um caso que não é novidade para mim
e, às vezes, as vítimas têm 14, 15, ou 16 anos de idade aquelas que têm um certo medo dos
seus pais ou são mais abertas a eles, contam aos seus pais e estes, por sua vez, chegam até
aqui na esquadra para denunciarem o agressor, e você que o agressores, são da faixa etária
de 27 a 40 anos de idade, então, sim, tem sim havido adolescentes vítimas de abuso sexual,
no bairro da Camoma” (entrevistado C, 40 anos, policial)

Aqui, nosso bairro, tem muitos mais velhos que não se respeitam. Mesmo com as
mulheres que eles têm namoram mais com muitas miúdas de 15, 16 anos, que eles chamam
de «manga de 10». Também muitas dessas miúdas já não se escondem mais, às vezes, não é
só aqui, mesmo na escola, namoram com professor. (Entrevistada D, 16 anos, estudante).

Não sei, tipo não tenho certeza, ma, aqui eu, nunca ouvi que um mais velho namora
com uma criança ou adolescente, não sei. O que eu mais vejo é caso de um mais velho
conquistar uma miúda, isso acontece bué aqui. (Entrevistada E, 17 anos, estudante)

Podemos perceber que no bairro da Camoma tem havido vítimas de abuso sexual, do
ponto de vista de como é percebido o abuso sexual, podemos dizer que os participantes da
pesquisa, foram unânimes nas suas justificativas, porque alguns afirmam ter visto que as
adolescentes já sofreram algum tipo de abuso sexual, visto que, o abuso sexual é qualquer
tipo de contacto de natureza sexual que um adulto venha a estabelecer com uma adolescente
ou criança, e os policiais, veem nos clarificar que tem sim havido vítimas de abuso sexual,
através de denúncias que têm recebido dos pais das adolescentes.

31
Figura nº 3: O abuso sexual entre adultos e adolescentes no bairro da Camoma

Os pais denunciam
Há adolescentes Adolescentes de 14,
a polícia sobre as
vítimas de abuso 15 e 16 anos de
vítimas do abuso
sexual idade.
sexual

Adultos de 28 a 40 Denúncia 1 ou 2
anos de idade. casos por mês.

(Fonte: dados da pesquisa)

Nesta perestiva podemos perceber que o abuso sexual na adolescência é um fenómeno


real no bairro da Camoma, tem feito com que algumas adolescentes sejam vítimas deste tipo
de abuso e isso, poderá dar margem uma série de consequências psicossociais na adolescente
e também para o adulto, pois, isso pode levar uma destruturação familiar.

Percebe-se também por outro lado, que os adultos têm uma idade superior a 28 anos
de idade e muitos deles já podem até ter esposas, mas ainda, se envolvem sexualmente com
as adolescentes e, o pior é que ele tem informação que o envolvimento sexual entre um
adulto e uma menor de idade constitui crime, segundo o Código Penal Angolano.

3.1.4. Casos de abuso sexual no seio familiar

O abuso sexual, seja na infância, na adolescência ou até mesmo quando uma adulta
sofre, pode não acontecer externamente, ou seja, nem sempre quando alguém é abusado
sexualmente, é por alguém que seja, seu vizinho, amigo, ou mesmo um desconhecido o
mesmo ocorre com a violência sexual. Assim, o abuso sexual pode acontecer no próprio ceio
familiar em que vive a adolescente ou o adolescente, isso, pode acontecer tanto em famílias
nucleares como em família alargada.

Assim, quando interrogamos se tem ocorrido casos de abuso sexual no seio de


algumas famílias no bairro da Camoma, os nossos participantes responderam o seguinte:

32
“Sim, tem havido sim casos de abuso sexual no próprio seio familiar, já recebemos
denúncias várias e várias vezes de mães e tias que afirmam terem encontrado os seus
maridos flagrados a ter um acto de abuso sexual, então sim, tem havido mesmo o abuso
sexual, o que chega a ser muito lamentável” (entrevistado A, 36 anos, policial).

Não, acho que eu não nunca vi assim, tipo um pai ou um tio a ter um caso com uma
filha ou sobrinha dele, nunca vi, talvez já aconteceu, às vezes vejo tipo dessas coisas no Fala
Angola que pai se envolveu com filha dele, mas aqui, eu nunca ouvi ainda. (entrevisada B,
17 anos, estudante).

Com certeza, infelizmente tem havido sim ocorrencia desses tipo de caso, de padrasto
a abusarem sexualmente as suas enteadas, isso, tem levado muitas famílias a se
desestruturem, porque o padrasto abusou a sua enteada e a mãe fica revoltada e muitas
dessas pessoas ou senhores são condenados, a polícia não deixa passar um caso dessa
natureza, não só por ser entre pai e filha, padrasto e enteada, tio e sobrinha, como também
entre qualquer agressor e a menina ou jovem, porque o abuso sexual é um crime,
independemente da idade ou da fase que vítima se encontra. (entrevistado C 40 anos,
policial)

Sim, já ouvi e já vi também, uma minha colega passou por essa situação ela é a
primeira filha do pai dela e por ter um corpo grande o pai dela dizia que tinha que ser o
dono do pau a comer a fruta, ele controlava bué minha colega, até que um dia que ele se
envolveu com ela e disse que se ela contar noutras pessoas que poderia chotar a minha
colega de casa e que também poderia li matar, quando ela tava a me contar tava a chorar
bué, tinha muita pena dela. (Entrevistada D, 16 anos, estudante).

Quando eu vi era já muito tempo, tipo a 1 ou 2 anos atrás que um tio se envolveu com
uma sobrinha dele, ela era órfão de pai e mãe e outra mãe dela ficou viver com ela depois
ela começou a crescer até um dia quando tia ia vender, o tio li esforçou a fazer sexo com ela,
ela falou na mãe dela e mãe se despresou com o marido dela, mas ele não foi preso
(Entrevistada E, 17 anos, estudante).

Quem nos clarifica esta questão é o autor Constantino Emanuel (2014), o autor
reforça que o abuso sexual no seio familiar é um dos maiores problemas que muitas famílias
enfrentam, que acaba por ter como uma das consequências a desestruturação familiar, é um
problema que não escolhe classe social, cultura, religião ou situação económica. Até mesmo

33
em famílias ou comunidades que não haja situação económica assustadora, pobreza extrema,
ocorrem casos de abuso sexual no próprio seio familiar. (p. 17).

Figura nº 4: Casos de abuso sexual no ceio familiar

Pai e Filha

Tio e Padrasto
Sobrinha e Enteada

(Fonte: dados da pesquisa)

Podemos perceber que o abuso sexual é um problema que pode acontecer no próprio
seio familiar em que a adolescente pertence, criando situação de insegurança por parte dela.
Podemos ir mais longe, ao afirmar que o abuso sexual no seio familiar tem culminado em
situações trágicas e irreversíveis para algumas famílias, porque para além de criar a
desestruturação familiar, pode provocar morte para a adolescente, algumas acabam por serem
mortas pelo agressor, padrasto ou tio, para encobrirem o que fazem com as suas parentes,
razão pela qual, pode levar muitas adolescentes, jovens e sobretudo crianças a não
denunciarem tanto para mãe ou tia, quanto para a polícia.

3.1.5. O trabalho da polícia em relação aos agressores.

O abuso sexual é considerado um crime, segundo o código Penal Angolano, é um dos


maiores crimes que vem sendo combatidos nos últimos tempos, sobretudo quando, se trata de
crianças ou adolescente.

Quando se indagou sobre o trabalho da polícia em relação aos agressores, os


participantes responderam da seguinte forma:

“Quanto a esta questão a polícia tem trabalhado arduamente para responsabilizar


criminalmente os agressores, a polícia tem tido grandes e bons resultados, pois pra cada

34
denúncia, a polícia investiga e quando se prova que o sujeito A ou B fez o que sendo
acusado, este sujeito é entregue ao Ministério Público para que então se faça procedimentos
legais até ser apresentado ao tribunal para que se faça cumprir a justiça.” (Entrevistado A,
36 anos, policial).

“Às a polícia nem faz nada, quando vão queixar o mais velho que faz isso, às vezes,
eles falam que têm que ir se entender no bairro, nem todos mais velhos que abusam as
adolescentes ficam preso, são poucos, né, mas seria bom se a polícia não deixaria as
pessoas que fazem isso fora da cadeia, porque o lugar do criminoso é na cadeia e não na
liberdade né, então a polícia trabalha mais ou menos” (Entrevistada B 17 anos, estudante)

“A polícia não deixa passar nenhum crime, e sobretudo um crime que viola os
direitos humanos, porque todo o ser humano tem a liberdade de escolha, e a questão sexual
também é salvaguardada pela constituição do país. Então, a polícia não deixa passar este
crime, todos os agressores são levados ao Ministério Público para que esta instituição
através dos procedimentos legais leve o agressor ao tribunal. A polícia trabalha 24h por dia
para garantir a segurança dos cidadãos, e não tem preferência sobre o A ou B, todos somos
iguais perante a lei, temos os mesmos direitos e deveres” (Entrevistado C, 40 anos, policial).

“A polícia tem trabalhado mesmo, mas prontos, você que a pessoa foi presa hoje
depois de 1 ou dois dias, está mbora fora da cadeia, então a polícia não prende nada,
mesmo o gatuno que roubou hoje de amanhã, à tarde vais mbora a li ver a passear”
(Entrevistada D, 16 anos, estudante).

A polícia tem trabalhado mesmo né, mas epá tem uns cumprem mesmo quando
abusam uma menor, mas outros nem tanto. Tipo eles escolhem, tipo se a pessoa trabalha no
estado ou se é polícia não fica preso, quem fica preso é mais aqueles que não têm ninguém,
se não, a polícia não tem trabalhado mesmo bem. Às vezes, você vai lá se queixar, mas só
pra te escutarem, ficam tipo querem trabalhar (Entrevistada E, 17 anos, estudante).

Pode-se perceber a partir das respostas dos nossos participantes uma certa,
divergência sobre o papel da polícia em relação os agressores, visto que dois concordam nas
suas explanações ao passo que três apresentam uma certa dúvida sobre o real papel da polícia
não só em relação aos casos de abuso sexual, mas também em relação a outros crimes. E, isso
quando vem acontecendo, pode fazer com os agressores façam repetidas vezes.

Quem nos clarifica isso é Guimarães José (2009), o autor afirma que, quando um
agressor não é impune desenvolve sentimento insegurança na comunidade, e quando este este

35
agressor é uma figura paterna ou materna cria uma série de problemas para a criança ou para
o adolescente, fazendo com que ele viva angustiado dentro de casa e alguns preferem viver
até na rua, devido a insegurança que em casa.

Figura 5: O trabalho da polícia em relação os agressores.

A Polícia Os agressores não


responsabiliza cumprem a pena,
criminalmente os são livres depois de
agressores alguns dias

(Fonte da pesquisa)

É importante que as autoridades, a polícia e os tribunais façam cumprir o seu papel


perante a sociedade, para que deem às comunidades sentimento de segurança para que
quando alguém é vitimado sexualmente por um agressor, este deve por sua vez, ser
responsabilizado criminalmente. Porque, um desses, dois órgãos falham, no desempenho do
seu papel, permitem que os moradores não os ajudem no seu trabalho, fazendo com que os
moradores não denunciem os agressores.

RECOMENDAÇÕES
Percebendo que o abuso sexual no bairro da Camoma pode causar graves consequências
para adolescentes e pode dar margem a outros problemas sociais, deixa-se as seguintes
recomendações:

 Que se promova mais conscientização sobre o abuso sexual para que as famílias a
nível das comunidades possam dialogar sobre o abuso sexual

36
 Que se promova mais informações sobre os diferentes tipos de abuso sexual nos canais
televisivos, radiofónicos, redes sociais, jornais e outros meios de informação para que
haja intervenção por parte das instituições.
 Que se promova mais instituições para que haja maior inclusão no acesso de
informação a nível das comunidades.
 Que as instituições como Polícia Nacional e os Tribunais criam campanhas de
combate contra o abuso sexual

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Acreditamos que o abuso sexual na adolescência é uma situação real e recorrente no


bairro da Camoma, a nível desta comunidade, precisa-se de um olhar minucioso por parte das
instituições sociais, de forma a prevenir riscos maiores que muitas adolescentes e até adultos
possam correr.

Abuso sexual na adolescência pode desencadear outros problemas psicossociais


como, a fuga à paternidade, a gravidez precoce, exploração sexual, traumas, problemas de
aprendizagem, insucesso escolar e até as doenças sexualmente transmissíveis, apesar de que,
o abuso sexual não seja exatamente o contacto sexual em si, entre o agressor e a vítima, e
sim, um conjunto de componentes de natureza sexual, como contacto físico (contactos
íntimos), o beijo forçado, a exposição erótica, relação sexual, insinuações ou roupas
indecentes, assédio sexual, masturbação, etc.
Muitas vezes, a violência sexual e o abuso sexual, são vistos como se fossem as
mesmas coisas, mas de acordo a nossa pesquisa, percebemos que não. Percebemos que a
violência sexual é a violação dos direitos sexuais contra a criança, adolescente ou uma adulta,

37
já o abuso sexual é a utilização da sexualidade para qualquer tipo de contacto de natureza
sexual.

A violência sexual é mais específica, havendo apenas uma ruptura do contacto sexual
entre o agressor e a vítima e o abuso sexual abarca não apenas a ruptura do contacto sexual,
mas uma série de natureza sexual e, provavelmente temos visto isso, o abuso sexual nosso
dia-a-dia e com os avanços da tecnologia, muitas adolescentes e crianças são bombardeadas
todos os dias com imagens, textos e vídeos eróticos nas redes sociais e canais de televisão.

A pesquisa sobre o abuso sexual no bairro da Camoma, permitiu-nos perceber que é


um fenómeno que começa dentro de casa, o papel da família aqui é fundamental, porque às
vezes, os agressores são os próprios pais, que vão permitindo que os filhos vejam qualquer
canal televisivo e vão ofertando smartphones, sem qualquer responsabilidade da parte dos
filhos em usar os smartphones vão vendo de tudo um pouco e quando estes crescem, podem
tornarem-se em agressores, fruto da sua vivência.

Os resultados apresentados na pesquisa, no bairro na Camoma, mostram unanimidade


naquilo se observou, pois, os resultados da observação constatou-se que a forma como os
adultos interagem com as adolescentes, traz consigo um certo erotismo, segundo o que
chegamos a observar a quando da nossa ida no campo do estudo.
Vale salientar que este fenómeno não é recorrente ou persistente apenas em locais
onde há pobreza extrema, o abuso sexual, apesar de a pobreza ser apontada como uma das
causas, podemos vê-lo em qualquer parte do nosso dia-a-dia, na escola, em casa, na
comunidade e algumas delas estão em locais onde não há pobreza.

O abuso sexual na adolescência ou na infância não escolhe classe social, a situação


financeira ou cultura, enquanto confundirmos o abuso sexual com a violência sexual, vamos
normalizar muitas coisas, que deveriam ser combatidas ou prevenida, para não chegar a
outros patamares.

Mediante as ideias expostas pelos participantes da nossa pesquisa, podemos afirmar


que tem havido vítimas de abuso sexual e quando há vítimas há consequências para muitas
adolescentes e o abuso sexual pode causar uma série de problemas físicos e psicossociais, é
preciso que esta comunidade e outras também possam perceber que o abuso sexual pode
acontecer de várias formas e quase em qualquer lugar.

Assim, o abuso sexual é todo o conjunto de componentes de natureza sexual, que


afecta tanto físico quanto mentalmente uma criança ou uma adolescente, ocorre quando um
38
adulto venha estabelecer qualquer tipo de contacto na natureza sexual, visando a sua
satisfação sexual. Essa satisfação pode ocorrer através da masturbação ou através da ruputura
do contacto sexual.

Referências

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Assis, F. D. (2004). Investigação Qualitativa. Porto: Editora Campos.

Browne, R. F. (1985). Uma Idade chamada Desejos. Lisboa: Porto Editora.

Cyrulnik, A. (2005). Adolescência e Concepção. São Paulo: Livraria Fontes Editores.

Emanuel, C. M. (2014). Afectividade e Sexualidade. São Paulo: Gráfica Editora.

Féres, C. P. (2005). Educação para uma Sexualidade Humanizada. Lisboa: Morães Editora.

Féres-Carneiro, A. (2005). Adolescência e Maternidade. Paris: Masson.

Frawley, K. (1994). Repensando as concepções de adolescência. Porto Alegre: Artes


Médicas.

Frawley, M. D. (1994). Pscologia do Desenvolvimento. Rio de Janeiro: Zahar.

Freud, S. (1920). Interpretação dos Sonhos. Geórgia: Mcgraw-Hill.

Grilo, L. (2009). Educação Moral e Cívica. Luanda: Texto Editores.

Guimarães, J. J. (2009). Inventem-se Novos Pais. São Paulo: Atlas.

Intebi, D. (2008). Reflexões Psicanalítica. Lisboa: Editorial Verbo .

39
Koller, S. (1998). Conversas sobre a sexualidade na Família e Gravidez na Adolescência.
São Paulo : Brasiliense.

Marcelli, O. d. (2007). Sexualidade na Adolescência. Rio Grande do Sul: AMGH Editora.

Matias, G. d. (2007). A Sexualidade na Adolescência. Rio de Janeiro: Atlas.

Miranda, A. J. (2012). Os Jovens e a sexualidade. Barcelona: Marcombo Boixareu Edidtores.

Neves, A. M. (2009). Abuso sexual na Infância Adolescência. São Paulo: Sextante,.

Palácios, D. (2007). Sexualidade, Família e Ethos Religioso. Rio de Janeiro: Garamond.

Pfeiffer, H. R. (2005). Abuso Sexual na Infância na Adolescência. Rio de Janeiro: Porto


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Pontalis, F. L. (1998). Psicologia da Adolescência. São Paulo: Atlas.

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Reisberg, H. R. (2008). A Gravidez Precosse na Adolescência . São Paulo: Acta Paul Enf.

Young-Bruehl, P. (2004). Uma Interpretação Psicanalítica. Petrópolis: Vozes.

APÊNDICE A
Grelha De Observação Participante Sobre Abuso Sexual na Adolescência. Na comunidade: Um
estudo realizado no bairro da Camoma.

Objectivo: Conhecer o comportamento da comunidade: Um estudo realizado no


bairro da Camoma.

 Unidade Orgânica

Observado: Feminino Masculino

Observador:

Tempo de Observação

Data da entrevista: ______/__ ____

OBSERVAÇÃO PARTICIPANTE

40
ASPECTOS DA OBSERVAÇÃO COMENTÁRIOS

Analisar a forma como os adultos


interagem com os adolescentes dentro
da comunidade e avaliar também como
as adolescentes se interagem com os
jovens.

APENDICE B
Guião de entrevista dirigido aos adolescentes

O senhor (a) está a colaborar com uma investigação realizada para a conclusão o grau
de Licenciatura em Psicologia Social, na Universidade Rainha Nginga a Mbande. Gostaria
que partilhasse a sua visão sobre abuso sexual na adolescência: um estudo realizado no
bairro da Camoma. Importa salientar que nesta entrevista, não há respostas certas nem
erradas, todas as respostas são igualmente verdadeiras se forem sinceras. O único objectivo
importante é saber o que realmente pensa e sente sobre o a pesquisa em causa. Garantimos
confidencialidade em relação ao seu depoimento. O/a senhor(a) tem alguma questão ou
podemos dar início a nossa entrevista?

Identidade
b. Idade: _____
c. Sexo: ______

Formação Académica
Ano de escolaridade: ____
Local de residência: ____________________________________________________
Estado civil__________
41
Função social_____________

Entrevista
Local___________________________________________________________
Data e hora Duração (intervalos)___________________________________________

1. Já ouviu falar sobre o abuso sexual na adolescência e quais são os seus pontos de vista
sobre o mesmo?
2. Quais são os factores que podem desencadear o abuso sexual na adolescência?
3. Há abuso sexual entre adultos e adolescentes no bairro da Camoma?
4. Há casos de abuso sexual no seio familiar?
5. Como tem sido o trabalho da polícia em relação os agressores?

APÊNDICE C
GUIÃO DE ENTREVISTA aos policiais

O senhor (a) está a colaborar com uma investigação realizada para a conclusão o grau
de Licenciatura em Psicologia Social, na Universidade Rainha Nginga a Mbande. Gostaria
que partilhasse a sua visão sobre abuso sexual na adolescência: um estudo realizado no
bairro da Camoma. Importa salientar que nesta entrevista, não há respostas certas nem
erradas, todas as respostas são igualmente verdadeiras se forem sinceras. O único objectivo
importante é saber o que realmente pensa e sente sobre o a pesquisa em causa. Garantimos
confidencialidade em relação ao seu depoimento. O/a senhor(a) tem alguma questão ou
podemos dar início a nossa entrevista?

Identidade
b. Idade:_____
c. Sexo:______

Formação Académica
Ano de escolaridade:____
Local de residência:____________________________________________________
Estado civil__________
Função social_____________
42
Entrevista
Local___________________________________________________________
Data e hora Duração (intervalos)___________________________________________

1. Já ouviu falar sobre o abuso sexual na adolescência e quais são os seus pontos de vista
sobre o mesmo?
2. Quais são os factores que podem desencadear o abuso sexual na adolescência?
3. Há abuso sexual entre adultos e adolescentes no bairro da Camoma?
4. Há casos de abuso sexual no seio familiar?
5. Como tem sido o trabalho da polícia em relação os agressores?

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