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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ

MESTRADO EM PSICOLOGIA
ÁREA DE CONCENTRAÇÃO PSICOLOGIA FORENSE

MARLON CORDEIRO

AS CONSEQUÊNCIAS DAS MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS PARA UMA


AMOSTRA DE JOVENS DA CIDADE DE CAMPO LARGO

CURITIBA
2015
MARLON CORDEIRO

AS CONSEQUÊNCIAS DAS MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS PARA UMA


AMOSTRA DE JOVENS DA CIDADE DE CAMPO LARGO

Dissertação apresentada ao Mestrado em


Psicologia da Universidade Tuiuti do
Paraná, Área de Concentração Psicologia
Forense como parte dos requisitos para
obtenção do grau de Mestre em Psicologia.

Orientadora: Profª. Doutora Giovana Veloso


Munhoz da Rocha

CURITIBA
2015
Nome: Marlon Cordeiro

Título: As consequências das Medidas Socioeducativas para uma amostra de jovens da


cidade de Campo Largo

Dissertação de Mestrado apresentada ao programa de Pós-


Graduação em Psicologia da Universidade Tuiuti do Paraná
para obtenção do Título de Mestre em Psicologia Forense.

Aprovado (a) em: 25/ 06/ 2015

Banca examinadora

Professora Orientadora Doutora Giovana Munhoz da Rocha

Instituição: Universidade Tuiuti do Paraná - UTP

Assinatura ______________________________________________________________

Professora Membro Titular Doutora Ana Maria Moser

Instituição: Pontifícia Universidade Católica do Paraná - PUCPR

Assinatura________________________________________________________________

Professor Membro Titular Doutor Sergio Staut Junior

Instituição: Universidade Tuiuti do Paraná - UTP

Assinatura _______________________________________________________________
Tente mover o mundo - o primeiro passo será mover a si mesmo.
Platão
AGRADECIMENTOS

...à família!
Cordeiro, M. (2015). As Consequências das Medidas Socioeducativas para uma Amostra de
Jovens da Cidade de Campo Largo. Dissertação de Mestrado, Programa de Pós-graduação
em Psicologia, Área de Concentração Psicologia Forense. Universidade Tuiuti do Paraná.
Curitiba, Paraná.

RESUMO

Esta pesquisa verificou as consequências das medidas socioeducativas aplicadas a adolescentes


cometeram atos infracionais no município de Campo Largo no ano de 2012 e 2013. Para tanto
se analisou 80 casos de adolescentes que realizaram atos infracionais e que foram representados
recebendo medidas socioeducativas pela Vara da Infância e Juventude no Município de Campo
Largo no Estado do Paraná, entre os anos de 2012 e 2013. Foi realizada em duas etapas. A
primeira consistiu na identificação de todas as representações procedentes e a segunda foi
realizada com oito participantes que responderam a entrevista semiestruturada e o Inventário
de Estilos Parentais (IEP). Os resultados da primeira etapa apontaram: a idade de 17 anos com
maior incidência de atos infracionais; 98,8% dos casos não concluíram o Ensino Fundamental;
63,8% dos casos apresentavam algum vicio; predominância de atos infracionais de maior
potencial ofensivo e medidas socioeducativas em conformidade com a lei. Na segunda etapa,
por meio das entrevistas de oito participantes obteve-se que o nível de instrução educacional
manteve-se estagnado; cinco dos participantes não moram dentro do âmbito familiar; todos
tiveram problemas no âmbito familiar, social ou escolar. Dos quatro participantes que
responderam ao IEP evidenciaram práticas de risco todos eles na pontuação total, o que
confirma a relação com o desenvolvimento de comportamento antissocial, sendo que em todos
eles sobressaiu-se a prática negativa do abuso físico. Sendo assim foi possível concluir que
nesta amostra não se pode afirmar que as medidas socioeducaticativas cumpram com sua função
pedagógica, ou seja, não obtém o resultado educativo de restauração pessoal e inclusão social
do adolescente.

Palavras–chave: Atos infracionais; Medida socioeducativa; Adolescentes.

IV
Cordeiro, M. (2015). Consequences of Correctional Measures Applied to a Sample of
Adolescents in the City of Campo Largo. Dissertação de Mestrado, Programa de Pós-
graduação em Psicologia, Área de Concentração Psicologia Forense. Universidade Tuiuti
do Paraná. Curitiba, Paraná.

ABSTRACT

This research verified the consequences of correctional measures applied to youth offenders
who were residing in the city of Campo Largo in 2012 and 2013. In order to do that, 80 files
were analyzed, from youth offenders who were undergoing correctional measures and were
legally represented by the Juvenile Court in the city of Campo Largo, state of Paraná, from
2012 to 2013. The study was developed in two stages. The first one consisted on the
identification of all legal representations and the second one was performed with eight
participants who answered a semi-structured interview and the Parenting Style Inventory (IEP).
The results from the first stage showed that: the age of 17 is the one with the higher occurrence
of offences; 98.8% of the participants did not complete Primary education; 63.8% presented
some addiction; predominance of indictable offences and; correctional measures in conformity
to law. On the second stage, using the interviews with eight participants, it was possible to
obtain the following data: educational level was stagnant; five out of the eight participants did
not reside with their families; all the eight participants had family, social or school issues. The
four participants who answered the IEP revealed risk practices on the Overall Score, which
confirms the correlation of this score with antisocial behavior development. All answers of the
IEP presented a higher score for physical abuse. Therefore, it was possible to conclude that in
this sample, the correctional measures did not fulfill their pedagogical function, that is, they did
not achieve the educational outcomes of personal recovery and social inclusion of the
adolescent.

Key words: Offences; Correctional Measures; Adolescent.

V
ÍNDICES

Índice de Tabelas

Tabela 1 – Etapa 2 - Idade dos Participantes ............................................................................ 33


Tabela 2 – Etapa 1 – Idade na época dos fatos ......................................................................... 41
Tabela 3 – Etapa 1 – Escolaridade............................................................................................ 42
Tabela 4 – Etapa 1 – Infração ................................................................................................... 43
Tabela 5 – Etapa 1 – Medidas Socioeducativas ....................................................................... 44
Tabela 6 – Etapa 1 – Status – Cumprimento das Medidas ....................................................... 44
Tabela 7 – Etapa 2 – Dados Obtidos Entrevista Semiestruturada ............................................ 46
Tabela 8 – Etapa 2 – Conflitos em família, escola e sociedade................................................ 48
Tabela 9 – Etapa 2 – IEP Total – Todos os Participantes......................................................... 50
Tabela 10 – Etapa 2 – Ato Infracional ...................................................................................... 55

VI
Índice de Anexos

Anexo A – Certidão emitida pela Vara da Infância e da Juventude - Procedimentos Especiais


de Adolescentes Infratores ..................................................................................... 66
Anexo B – Plataforma Brasil – Aprovação nº 30458914.5.0000.0103 .................................... 68
Anexo C – Carta de Solicitação de Autorização ...................................................................... 73
Anexo D – Decisão Judicial – autorização junto a Vara da Infância e Juventude da Comarca de
Campo Largo – Paraná .......................................................................................... 76
Anexo E – Planilha do Programa SPSS.................................................................................... 78
Anexo F – Entrevista Semiestruturada ..................................................................................... 80
Anexo G – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido ....................................................... 83

VII
Lista de Siglas

CF/88 Constituição Federal de 1988


CP Código Penal
CDP Centro de Detenção Provisória
ECA Estatuto da Criança e do Adolescente
IEP Inventário de Estilos Parentais
LICP Lei de Introdução ao Código Penal
TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
OMS Organização Mundial de Saúde
PEC Proposta de Emenda à Constituição
PROJUDI Processo Eletrônico do Judiciário do Paraná
SPSS Statistical Package for Social Science (editor de dados)
SINASE Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo

VIII
2

SUMÁRIO

RESUMO ................................................................................................................................. IV
ABSTRACT .............................................................................................................................. V
ÍNDICES .................................................................................................................................. VI
Índice de Tabelas ..................................................................................................................... VI
Índice de Anexos .....................................................................................................................VII
Lista de Siglas ....................................................................................................................... VIII
INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 5
REVISÃO DE LITERATURA .............................................................................................. 10
Procedimento Especial de Adolescente Infrator ....................................................................... 15
O Crime e o Ato Infracional ..................................................................................................... 17
Etapas do Procedimento ........................................................................................................... 17
Apreensão do adolescente ........................................................................................................ 17
Recebimento dos documentos por parte do Ministério Público ............................................... 17
Oitiva informal do adolescente ................................................................................................. 18
Providências do Ministério Público.......................................................................................... 18
Homologação do arquivamento ou da remissão ....................................................................... 19
Prazo para conclusão do procedimento .................................................................................... 19
Designação da audiência de apresentação ................................................................................ 19
A Pena e a Medida socioeducativa ........................................................................................... 20
Aplicação de medida socioeducativa ........................................................................................ 21
Da execução da Medida Socioeducativa ................................................................................. 22
Adolescente em Conflito com a Lei ........................................................................................ 24
Fatores de Risco ....................................................................................................................... 25
Família ...................................................................................................................................... 26
Escolaridade.............................................................................................................................. 27
Drogas ....................................................................................................................................... 27
Meio Social e a Pobreza ........................................................................................................... 28
Objetivo Geral ........................................................................................................................ 30
Objetivos Específicos .............................................................................................................. 30
Método ............................................................................................................................... 31
Etapa 1 ...................................................................................................................................... 31
Local ......................................................................................................................................... 31
3

Participantes ............................................................................................................................. 31
Instrumentos ............................................................................................................................. 31
Procedimento ............................................................................................................................ 32
Análise de Dados ...................................................................................................................... 32
Etapa 2 ...................................................................................................................................... 32
Participantes ............................................................................................................................. 32
Local ......................................................................................................................................... 38
Instrumentos ............................................................................................................................. 39
Procedimento ............................................................................................................................ 39
Análise de Dados ...................................................................................................................... 40
Resultados e Discussão ........................................................................................................... 41
Etapa 1 ..................................................................................................................................... 41
Idade ......................................................................................................................................... 41
Escolaridade.............................................................................................................................. 41
Vícios ........................................................................................................................................ 42
Infração ..................................................................................................................................... 42
Medidas Socioeducativas ......................................................................................................... 43
Status - Cumprimento Das Medidas ......................................................................................... 44
Reiteração ................................................................................................................................. 44
Sexo .......................................................................................................................................... 45
Etapa 2 .................................................................................................................................... 46
Dados obtidos por meio das entrevistas e IEP .......................................................................... 46
Escolaridade.............................................................................................................................. 46
Moradia com a Família ............................................................................................................. 47
Trabalho na atualidade.............................................................................................................. 47
Problemas Familiares ............................................................................................................... 48
Problemas na Escola ................................................................................................................. 48
Problemas na Vida Social ......................................................................................................... 49
Análise específica dos casos em que se respondeu do IEP ...................................................... 49
Práticas educativas Positivas .................................................................................................... 50
Monitoria Positiva .................................................................................................................... 50
Comportamento Moral ............................................................................................................. 51
Práticas Educativas Negativas .................................................................................................. 51
Punição Inconsistente ............................................................................................................... 51
4

Negligência ............................................................................................................................... 52
Disciplina Relaxada .................................................................................................................. 53
Monitoria Negativa ................................................................................................................... 54
Abuso Físico ............................................................................................................................. 54
IEP Total ................................................................................................................................... 54
Ato Infracionais e as Medidas Socioeducativas ....................................................................... 55
CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................. 58
REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS ................................................................................. 60
5

APRESENTAÇÃO

As infrações praticadas por adolescentes têm sido retratadas frequentemente


pela mídia, fato que ocasiona a sensação do crescimento do número dos atos infracionais
cometidos pelos jovens. Frente a este fato, a sociedade questiona se a resposta dada pelo
Estatuto da Criança e do Adolescente, lei n 8.069/90, por meio das medidas socioeducativas,
aos atos infracionais cometidos pelos adolescentes infratores são apropriadas.
Com isso, há um clamor para que se adotem medidas mais enérgicas contra
os adolescentes, chegando ao ponto de erguerem-se movimentos pedindo pela alteração da
idade fixada como marco da imputabilidade penal. A exemplo, se tem as Propostas de Emenda
à Constituição (PEC) 171/93, realizada pelo Deputado Benedito Domingos do PP/DF, e a (PEC)
223/2012, realizada pelo Deputado Onofre Santo Agostini, do PSD/SC, as quais dispõe sobre
a alteração do art. 228 da Constituição Federal, propondo a redução da maioridade penal de 18
para 16 anos.
Neste momento, abre-se oportunidade ao grande questionamento que
assombra o Direito Penal, “com a adoção de medidas enérgicas por parte do Estado em
resposta a um ato infracional, acabariam com o problema dos conflitos com a lei, ou seja,
colocaria um fim na criminalidade?”. De uma perspectiva geral e historicamente falando,
Beccaria1, já em 1764, em sua obra “DEI DELITTI E DELLE PENE”, apontou que a resposta
estatal deve estar pautada em princípios, principalmente os que rezam pela proporção entre o
ato cometido e a resposta a ser dada, da humanização da pena, além de se lembrar da finalidade
da penalização.
Ainda em análise à referida obra, que somado a estudos atuais, tais como o
de Gomide (1998), Menor Infrator: A Caminho de um Novo Tempo e Rocha (2102),
Psicoterapia Analítico-Comportamental com Adolescentes Infratores de Alto-Risco:
Modificação de Padrões Anti-Sociais e a Diminuição da Reincidência Criminal, identificamos
conclusões que se aplicam à problemática da atualidade, como: “... não é a intensidade da pena
que produz o maior efeito sobre o espírito humano, mas a extensão dela”, ou ainda, “... a
finalidade das penas não é atormentar e afligir um ser sensível (...) O seu fim (...) é apenas

1
Dei delitti e delle pene, em italiano, que significa Dos Delitos e das Penas, é um livro de Cesare Beccaria,
originalmente publicado em 1764, obra que se insere no movimento filosófico e humanitário da segunda metade
do século XVIII.
6

impedir que o réu cause novos danos aos seus concidadãos e dissuadir os outros de fazer o
mesmo”.
Por Beccaria, toda sua preocupação, advinha do fato de que era absurdo que
as leis, que nasciam da sociedade, ou seja, eram a vontade pública expressada, e que
abominavam certos atos e buscavam puni-los, o fizesse realizando outro ato bárbaro. Na
atualidade, com os estudos apontados, verifica-se que não é a severidade, a intensidade da
medida a ser aplicada que trará a melhor resposta, ou evitará casos futuros, mas sim a extensão,
finalidade e a certeza de seu cumprimento.
Além do mais, outro fato importante nasce a partir deste ponto, pois se
verifica que, por mais severos que sejam os julgamentos para os que sofreram o ilícito, este em
nada estará reparando o mau sofrido e não irá amenizar o sofrimento causado. Com isso, nasce
a preocupante problemática, independente da vontade particular, ou do tempo passado, uma
hora ou outra o causador do ato infracional voltará ao convívio em sociedade, momento em que
se deve perguntar, “o infrator estará apto a voltar para à vida em sociedade?”.
Hoje a resposta dada ao caso do adolescente que entra em conflito com a lei,
é a medida socioeducativa, a qual pela Lei 8069 de 13 de julho de 1990 (ECA), preconiza a
forma diferenciada de tratamento punitivo, respeitando a condição peculiar desta pessoa em
desenvolvimento e que tem a necessidade de reeducação. Ao momento da aplicação e execução
das medidas socioeducativas é latente a preocupação de que esta seja a resposta adequada ao
ato infracional cometido, além de ser eficazes ao ponto de firmar os fundamentos educacionais
e sociais, ou seja, trazer resultados positivos após a aplicação.
O Estado, na pessoa do Poder Judiciário, deve estar sempre atuante,
exercendo e colocando em prática sua função jurisdicional, no qual por meio de seus atos,
atenda o interesse da coletividade, ou seja, faça com que a justiça prevaleça. Importantíssimo
lembrar que o Estado tem de cumprir com seu compromisso de estabelecer a justiça, mas
sempre terá como princípio norteador de seus atos, o respeito as garantias fundamentais
elencadas na Constituição Federal de 1988, preservado a todo cidadão, em especial aos
adolescentes que entraram em conflito com a lei.
Quando se trabalha a questão de direitos dos adolescentes no Brasil, dois
textos legais são primordiais, o primeiro sendo a Constituição Federal de 1988 e a Lei 8.069/90,
e o segundo, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). A promulgação da Constituição
Federal de 1988 iniciou uma nova etapa na evolução histórica no âmbito da criança e do
adolescente, pois descreve em seu bojo disposições sobre a criança e o adolescente, em seus
arts. 227 a 229, nos quais reserva a essas pessoas a “proteção integral”, elevada ao patamar de
7

princípio. A Constituição trouxe consigo, após dois anos, a regulamentação, a Lei Federal n
8.069, de 13 de julho de 1990 - ECA, a qual se consolidou como uma grande conquista em
relação aos direitos da criança e do adolescente.
O ECA já no seu art. 1º preceitua o princípio da proteção integral,
estabelecendo: “esta lei dispõe sobre a proteção integral à criança e ao adolescente”, fato este
que reconhece direitos especiais e específicos a essas pessoas, respeitando a sua condição
peculiar de pessoa em desenvolvimento. Outro fato importante sobre esse texto legal é o fato
de que se estabelece pela primeira vez um procedimento específico aos adolescentes que entram
em conflito com a lei.
Como já citado, a preocupação das legislações referidas está em preservar a
pessoa em desenvolvimento, em especial o art. 6º do ECA, que estabelece: “Na interpretação
desta Lei levar-se-ão em conta os fins sociais a que a ela se dirige, as exigências do bem
comum, os direitos e deveres individuais e coletivos, e a condição peculiar da criança e do
adolescente como pessoas em desenvolvimento”. Assim, o texto enfatiza que tanto para a
sociedade quanto para os aplicadores do Direito, o fato de que quando se trata de adolescentes
que entraram em conflito com a lei, vários aspectos devem ser respeitados, sendo eles legais e
sociais, ou seja, condições particulares existentes no caso e na vida da pessoa.
Com a elaboração do trabalho, identificaram-se claramente os apontamentos
da doutrina no que se refere aos fatores de risco e variáveis, aos quais as pessoas em
desenvolvimento, criança ou adolescente, tem no contexto de vida social ou familiar. Feldman
(1977) em sua obra afirma diretamente que o adolescente, dentro da questão aprendizagem
social e também no contexto familiar, adquire comportamentos dos mais variados, sendo eles
socialmente aceitos ou ilegais, os quais derivam do contato direto com fatores de risco e a
variáveis encontradas no decorrer da vida.
Ainda Gomide, Ropelato e Machado (2006) destacam que os adolescentes em
conflito com a lei estariam envolvidos em apenas 10% das práticas de infrações. Também
destacam o fato de que estes estão em desenvolvimento, desta forma, por mais que tenha
entrado em conflito com a lei, todas as oportunidades e facilidades, são para lhes facultar o
desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e de
dignidade.
Os aspectos particulares à pessoa, fatores de risco e as variáveis, há tempos
vem sendo objeto de estudo da doutrina, visto a influência que exerce sobre proliferação da
criminalidade, a exemplo Garofalo (1997, p.103) aborda a questão da influência econômica,
principalmente a desigualdade econômica, como fator determinante no cometimento de crimes.
8

Na atualidade, Dória (2011) aborda fatores psiquiátricos em adolescentes que


estão em conflito com a lei, dentre os quais estão os familiares (nível de escolaridade e situação
conjugal dos pais e também com quem residem) e os sociais, como por exemplo, a classe social
que pertencem. Gallo e Williams (2005) elencam também outros fatores que são influência
direta no cometimento de atos infracionais pelos adolescentes, sendo as condições da família
com baixos níveis de afeto, nível socioeconômico, influência de colegas infratores, usuários de
drogas, valores, crenças e alta tolerância às infrações, história comportamental de exposição a
situações de risco, problemas familiares, presença de psicopatologias e problemas escolares,
além de fatores fisiológicos e cognitivos.
Todos os pontos aqui destacados vêm a integrar a personalidade do
adolescente, ponto que merece especial atenção, tendo em vista que é com base nesta que estará
se trabalhando com a medida socioeducativa. Para Trindade (2009, p.60), “personalidade é um
conjunto biopsicossocial dinâmico que possibilita a adaptação do homem consigo mesmo e com
o meio, numa equação de fatores hereditários e vivenciais”, acrescentando a ideia de que esta
(personalidade) tem embasamento numa “construção, e não em um grupo de características
estanques e adquiridas pelo nascimento”. Assim, a preocupação com a personalidade vem do
fato de que este será influenciado por questões que são herdadas de acordo com o ambiente nos
quais as pessoas se desenvolvem, resultando de experiências e estímulos já vividos.
O juiz pautado pelo Código Penal, ao momento da aplicação de qualquer
resposta penal, em especial a dosimetria, deverá pautar-se por certos parâmetros, os quais a lei
reconhece de forma fundamentada, sendo à culpabilidade, aos antecedentes, à conduta social, à
personalidade do agente, aos motivos, às circunstancias e consequências do crime, bem como
ao comportamento da vítima (art. 59 CP).
Aliado e esses pontos legais, quando da formulação e aplicação a medida
socioeducativa, essa assume a finalidade de dar ao adolescente um caminho para a recuperação,
se reeducar, diante de sua condição atual. Com isto, a finalidade da medida está distante de ser
qualquer forma de punição. Chaves (1997, p. 55), em sua obra, destaca que o magistrado deve
realizar a aplicação das medidas socioeducativas observando a sua adaptação ao caso concreto,
atendendo aos motivos e circunstancias do fato, condições do menor e antecedentes. Assim,
mostra-se que a doutrinaria majoritária brasileira reconhece que identificar certos pontos que
integram a personalidade, tem função de extrema valia nos procedimentos judiciais,
objetivando dessa maneira, conhecer a vida pregressa da pessoa e adequando a melhor medida
a ser aplicada.
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O trabalho com adolescentes em conflito com a lei não se mostra uma tarefa
fácil, devido ao fato de exigir tempo, dedicação, preparo profissional, pessoal competente e
comprometido, além de estratégias eficazes. Mas, uma vez que seja realizado um Programa de
Adolescentes Infratores, mesmo para os de alto-risco, o resultado mostra-se altamente positivo,
não havendo a necessidade de punir com mais rigorismo, e sim trabalhar fundamentando
valores sociais e educacionais (Rocha, 2012).
Sendo assim, o presente trabalho objetivou realizar a análise dos casos de
adolescentes em conflito com a lei que receberam as medidas socioeducativas na cidade de
Campo Largo, Paraná, no ano de 2012 e 2013, elaborando-se um relatório sobre o resultado, a
fim de estabelecer as consequências após as aplicações das medidas socioeducativas, ou seja,
se da medida socioeducativa aplicada surtiu algum efeito, ou seja, tem alcançado o efeito
almejado de reeducação como propõem o ECA.
10

REVISÃO DE LITERATURA

Diante das discussões levantadas e abordadas sobre a criminalidade em


âmbito social atualmente, pode-se destacar a “Delinquência Juvenil” com fato que tem ganhado
grande destaque devido a situações atuais de gravidade. Essa terminologia, “Delinquência
Juvenil”, tem sido por muitos rechaçada devido à maneira pejorativa como é usada, sendo
assim, adotar-se-á o termo “adolescente em conflito com a lei”, pois ele implica em uma ação
temporária: ele está em conflito, e não em uma condição permanente, como citado por Gallo e
Willians (2005, p.83).
Atualmente, os legisladores vêm buscando respostas imediatas para a
tentativa de uma solução em caráter emergencial, chegando ao ponto de sugerir a alteração da
lei em relação ao requisito objetivo de identificação da imputabilidade penal (Taborda, Abdalla-
Filho & Chalub, 2012). No Brasil, o critério utilizado para delimitar a idade que define se a
agente é inimputável ou imputável, foi o cronológico, no qual fixou-se que a pessoa deveria ter
18 anos completos para ser penalmente responsável (Nucci, 2008). Assim, a imputabilidade
penal, em relação ao requisito idade, foi normatizada conforme o texto do art. 228 da
Constituição Federal de 1988, a qual regra que “são penalmente inimputáveis os menores de
dezoito anos, sujeitos às normas da legislação especial”.
O intuito do legislador é a alteração do texto constitucional de forma a
modificar o critério cronológico para 16 anos. Dentre os projetos apresentados destacam-se de
forma especial e diferenciada, visto que apresentam fundamentos atuais e em acordo com os
clamores sociais atuais. Os projetos são as PEC’s 171/93, realizada pelo Deputado Benedito
Domingos, do PP/DF e a 223/2012, realizada pelo Deputado Onofre Santo Agostini do
PSD/SC, a qual busca a alteração no requisito idade para 16 anos.
A justificativa das PEC’s fundamenta-se no direito internacional comparado,
citando, dentre outros exemplos, o dos Estados Unidos e Inglaterra onde não existe idade
mínima para aplicação de penas, o critério levado em conta é a índole do criminoso e, em
Portugal e na Argentina, onde o jovem atinge a maioridade penal aos 16 anos. Complementando
a fundamentação apresenta a legislação brasileira, a qual o adolescente com 16 anos pode votar
(Constituição Federal, artigo 14º, inciso II, §1º, alínea c), pode fazer testamento (artigo 1860
do Código Civil), pode emancipar-se (artigo 5º do Código Civil), com a autorização dos pais,
pode casar (art. 1.517 do Código Civil), e com 14 anos, na condição de aprendiz, podem
trabalhar (Constituição Federal, artigo 7º, inciso XXXIII).
11

Ainda, tem-se o projeto proposto pelo Deputado André Moura do PSC/SE,


Projeto de Decreto Legislativo 494/2011, que dispõe sobre a realização de plebiscito acerca da
redução da maioridade penal para dezesseis anos de idade. A justificativa estaria no fato do
número crescente de crimes violentos cometidos por menores de idade, em especial os
homicídios. Fundamentando sua justificativa, o deputado apresenta alguns casos de repercussão
nacional em que adolescentes estiveram envolvidos, dentre os quais destaca-se o ocorrido no
dia 19 de abril de 1997, quando cinco estudantes da classe média brasiliense, com idades entre
16 e 19 anos, ateiam fogo, “por brincadeira”, no índio pataxó Galdino Jesus dos Santos
enquanto ele dormia. ainda, Além desse, há o caso do adolescente Champinha, condenado por
liderar o grupo que matou Liana Friedenbach, 16 anos, e Felipe Silva Caffé, 19, em setembro
de 2003. Na época, o casal acampava em Embu-Guaçu, na Grande São Paulo. Champinha tinha
16 anos quando foi preso, acusado de violentar e torturar Liana e de oferecê-la aos outros
comparsas. Felipe morreu com um tiro na nuca e Liana foi morta a facadas.
Com a análise das propostas apresentadas, verifica-se que de forma geral, as
alterações buscam uma resposta de caráter enérgico para as pessoas com 16 anos completos que
entram em conflito com a lei, pensando que assim estará se resolvendo o problema. De forma
a apresentar fundamentos que demonstram que a solução apropriada para diminuição dos casos
de adolescente em conflito com a lei não estaria na redução da idade penal, torna-se necessária
a análise de alguns trabalhos que apontam quais os fatores, as variáveis a serem tratadas, além
de demonstrarem alternativas no caso de ocorrência de atos infracionais.
Gomide (1998) realizou um programa inédito no Brasil voltado ao
atendimento de adolescentes infratores. De início criou-se um questionamento sobre as formas
tradicionais de tratamento dispensada aos adolescentes em conflito com a lei, observando o fato
de que os mesmos estavam expostos aos mais variados “fatores de risco”, tais como os
extrafamiliares (pobreza, rejeição dos pares, influência de grupos criminosos e fracasso escolar,
etc....) e os familiares (estilos e práticas parentais, monitoria parental, influência dos irmãos,
maus-tratos, divórcio, separação e abandono, tamanho da família e ordem de nascimento, etc...),
o que desta forma vem a criar a necessidade de atendimento diferenciado a cada caso. Por fim,
destacou-se a importância de ser prestada toda a assistência necessária ao adolescente de forma
a restabelecê-lo e reintegrá-lo no convívio em sociedade.
O programa de recuperação de menores infratores criado por Gomide (1998)
era constituído por 3 fases. Na primeira fase, os adolescentes em conflito com a lei que estavam
cumprindo medida socioeducativa, eram encaminhados e implantados junto a uma empresa
(Copel). Na segunda fase, ocorria encaminhamento do adolescente ao setor de trabalho, para o
12

qual, conforme o desenvolvimento e afastamento de suas atividades antissociais, após análise


da equipe de psicologia e funcionários da empresa, analisava-se se o adolescente estava pronto
para o mercado de trabalho. Por fim, na terceira fase ocorria o encaminhamento do adolescente
para empresas que realizavam sua contratação, ou seja, tinha-se o início de sua carreira
profissional.
Rocha (2012) descreveu e analisou passo a passo o Programa para
Adolescentes Infratores de Alto Risco idealizado e implantado pela psicóloga, docente e
pesquisadora, Paula Inez Cunha Gomide. Na tese, a autora demonstrou a ocorrência prática, de
forma positiva, na modificação do padrão de comportamento antissocial com o programa que
possuía atividades diferenciadas incluindo a escolarização, atividades terapêuticas, atividades
educativas e avaliações, para assim treinar atividades sociais e educativas nos adolescentes.
No momento do encerramento de seu trabalho, Rocha (2012) destacou que
teve somente dois anos para trabalhar no Programa para Adolescentes Infratores de Alto-Risco,
e dentre os 11 casos de sua responsabilidade, apenas dois não se beneficiaram do programa.
Desta forma, a conclusão é voltada no sentido de reconhecer o sucesso do programa, pois dentro
o número de participantes o percentual de sucesso foi de 81% (oitenta e um por cento).
Conforme a explanação, se verifica que com a alteração da idade não estaria
se resolvendo a ocorrência de atos infracionais na faixa de idade dos 16 até os 18 anos, mas
sim, buscando prevenir futuros casos se utilizando de penas mais severas, ou seja, utilizando-
se da “coação”. De modo geral, os adolescentes infratores, em sua maioria, caracterizaram-se
como de baixa escolarização, residiam em bairros de classe baixa, proximidade como o tráfico
e, consequentemente usuários de drogas, família desestruturada, uma vez que esta também se
encontra em situação de vulnerabilidade social (Priuli & Moraes, 2007). Assim, para obter-se
uma resposta adequada e pautada pelo senso de justiça, não se esquecendo da necessidade
pedagógica, é necessário ir além das definições jurídicas, sendo necessário analisar o contexto
em que o adolescente se desenvolveu, o ato infracional e a medida socioeducativa a ser aplicada.
Gomide (2006) destaca que “o adolescente é um ser humano em
desenvolvimento”, assim quando esse entrar em conflito com a lei deve ser realizado o uso de
medidas socioeducativas em lugar de medidas punitivas, para então se prevenir
comportamentos de caráter antissocial. Dessa forma, a preocupação deve estar em trabalhar a
problemática do adolescente, pois se não trabalhados por meio de intervenções de
ajuda/acompanhamento, ao invés de se prevenir estaria aumentando a probabilidade de novos
envolvimentos infracionais (Maruschi, Estevão & Bazon, 2012).
13

Os princípios constitucionais que tratam da criança e do adolescente


objetivam garantir o desenvolvimento com dignidade, conforme pode se verificar no art. 227
da Constituição Federal Brasileira:

“É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e


ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à
educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade
e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de
negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão”.

Durante muitos anos, o adolescente e a criança não eram considerados


sujeitos de direito, mas meros objetos de intervenção no mundo adulto. Com a Constituição
Federal de 1988 esse paradigma se alterou, recebendo os menores de 18 anos uma ampla gama
de garantias que podem ser exercidas perante o Estado, a sociedade e a família (Trentim, 2011).
Iniciou-se assim, uma nova etapa no âmbito de certas legislações. À exemplo, existe a Lei
Federal n 8.069, de 13 de julho de 1990 – conhecida popularmente por ECA - Estatuto da
Criança e do Adolescente, que é o corpo legislativo que trata da proteção dos direitos
fundamentais à pessoa em desenvolvimento. Ele traz pela primeira vez um procedimento
específico aos adolescentes em conflito com a lei e quais as respectivas consequências legais
para seus atos classificados como infracionais.
Conforme citado por Gomide, Ropelato e Machado (2006), não se deve
confundir imputabilidade com impunidade, pois embora seja em procedimento próprio ao
adolescente em conflito com a lei, será aplicada uma medida socioeducativa como resposta ao
ato infracional cometido. Neto e Grillo (1995, p.78) afirmam que “as medidas socioeducativas
têm natureza e finalidades diferentes das penas previstas pelo Código Penal”.
No momento em que um adolescente entra em conflito com a lei ou/e é
apreendido, será considerado infrator, conforme alerta Costa (2006, p.16) só poderá ser
considerado infrator quando for caracterizado pelos três aspectos: “a) violou dispositivos legais
que caracterizavam crime ou contravenção; b) foi-lhe atribuído ou imputado o cometimento de
um ato infracional; c) após o devido processo, com respeito estrito às garantias, ele foi
considerado responsável. ”
Para a devida apuração do cometimento de Ato Infracional atribuído a
adolescente, se seguia os preceitos elencados nos artigos 171 a 190, no Capítulo III – Dos
Procedimentos e na Seção V do ECA. Constatado o caso de cometimento de ato infracional, ao
adolescente serão destinadas medidas de caráter socioeducativo e também protetivas, sem
deixar de responsabilizar o adolescente infrator (Zamora, 2008). Desta forma, o juiz aplicará a
14

medida socioeducativa adequada ao ato infracional e às necessidades pedagógicas específicas


do adolescente. Todo o procedimento acontecerá sempre observado os princípios do Direito da
Criança e do Adolescente, conforme citado por Chaves (1997), especifica a situação da seguinte
forma:

O Juiz fará aplicação das medidas segundo a sua adaptação ao caso concreto,
atendendo aos motivos e circunstancias do fato, condições do menor e antecedentes.
A liberdade, assim, do magistrado é a mais ampla possível, de sorte que se faça uma
perfeita individualização do tratamento. (p. 505)

Desta forma, nota-se a preocupação do Poder Judiciário quando da aplicação


da medida socioeducativa. É neste momento que o procedimento específico pode dar um
tratamento diferenciado, proporcionando aos adolescentes medidas que darão a chance de
reeducação e ressocialização. Outro fato importante é o de que a medida socioeducativa contém
em sua estrutura semântica um componente sancionatório, pois o adolescente que receber a
medida socioeducativa terá certas obrigações a cumprir, demonstrando assim que a medida
aplicada possui em sua estrutura semântica um componente sancionatório (Cury, 2006).
A eficácia da medida socioeducativa depende de que o Estado não abra mão
de políticas que concretizem os fins estabelecidos no ECA (Costa & Palmeira, 2010). A reação
ao ato infracional não deve ser exclusivamente do Direito Penal, pois este somente deve ser
chamado a intervir quando falharem todas as demais formas de controle social, isto é, deve ser
utilizado como a ultima ratio (Bittencourt, 2004). Por isso, programas como o apresentado
devem ser a primeira alternativa quando da ocorrência de atos infracionais, isto porque os
programas trabalham até os adolescentes considerados de alto-risco (Rocha, 2012).
O estado deve promover o cumprimento da sentença aplicada ao caso
concreto de forma humana, oferecendo aos adolescentes apreendidos que seus direitos naturais
sejam garantidos, conforme preceitua o artigo 5º da Constituição Federal Brasileira.
Complementando este pensamento (Gomide, 1998) destaca-se que se optando pela privação de
liberdade, por mais que os estabelecimentos penitenciários sejam dotados da melhor
infraestrutura, será negada ao adolescente a oportunidade de restabelecer os seus laços
familiares e sociais, visto que o apreendido estará privado destes valores. Por fim, destaca-se
que a privação da liberdade neutraliza o desenvolvimento de valores, estigmatiza o ser humano,
funciona como máquina de reprodução da carreira do crime e estimula o processo de
desculturalização (Bittencourt, 2004).
15

Procedimento Especial de Adolescente Infrator

Com a Constituição Federal de 1988, a criança e o adolescente passaram a ter


tratamento diferenciado, pois receberem um capítulo específico, buscando tratá-los como
sujeitos de direito. Com isso, o texto constitucional buscou proporcionar os direitos da criança
e do adolescente em seus arts. 227, 228 e 229 de forma incondicional. No ano de 1990, como
reflexo do texto constitucional, espelhado nas Regras Mínimas das Nações Unidas para a
Administração da Justiça de Menores, criou-se a Lei Federal n 8.069, de 13 de julho, o Estatuto
da Criança e do Adolescente (ECA), na qual se pregou uma visão de “Proteção Integral”.
O ECA, de forma inovadora, traz um procedimento próprio para o tratamento
dos adolescentes que entram em conflito com a lei, preconizando que para a aplicação de
medidas socioeducativas deve-se priorizar e garantir que qualquer decisão seja somente
proporcional às circunstâncias do ato infracional, mas também às circunstâncias se às
necessidades tanto infrator. O procedimento aplicado aos adolescentes que entram em conflito
com a lei está regulamentado entre os arts. 171 e 190 do ECA, os quais se referem à “Apuração
de Ato Infracional” atribuído a Adolescentes.

O Crime e o Ato Infracional

A questão da criminalidade sempre esteve presente no seio das sociedades,


tanto que historicamente falando, se tem relatos que já se preocupava de alguma forma em
responsabilizar os atos considerados ilícitos. Assim, nunca se negou que a conduta do
adolescente que vai de encontro como o ordenamento jurídico é tipificada de forma a ser
reprovada. Porém, embora merecedores de uma resposta por seus atos, o mundo jurídico tem a
preocupação de não tratar no mesmo nível os adultos e imputáveis e os menores e inimputáveis.
Aos maiores de 18 anos que tem o comportamento visto sob a ótica da
ilicitude, tem seus atos regrados pelo Código Penal, sendo identificado e classificado como
“Crime” e também pela “Lei de Contravenções Penais”.

Decreto-Lei nº 3914, de 9 de dezembro de 1941


Art 1º Considera-se crime a infração penal que a lei comina pena de reclusão ou de
detenção, quer isoladamente, quer alternativa ou cumulativamente com a pena de
multa; contravenção, a infração penal a que a lei comina, isoladamente, pena de prisão
simples ou de multa, ou ambas. alternativa ou cumulativamente.
16

Entre crime e contravenção penal, Greco (2014, p. 31) destaca que não existe
uma diferença substancial entre um e outro, mas que o legislador, mediante um critério político-
criminal, criou uma diferenciação baseada na gravidade do ato cometido. Seguindo por este
viés, “crime”, em termos jurídicos dentro da corrente doutrinária dominante, pelo conceito
analítico é a conduta humana (ação ou omissão), típica, antijurídica e culpável.
Para Claus Roxin, típica é a ação que coincide com uma das descrições de
delito; antijurídica é a conduta típica não amparada por causa de justificação; e culpável é a
ação típica e antijurídica praticada de modo reprovável por um sujeito imputável (Bitencourt &
Munhoz Conde, 2000). A partir do momento em que se configurar o crime em todos os seus
elementos, tem-se a preocupação de retribuição pelo ato cometido, para o qual a resposta é a
“pena”, a qual conforme o art. 1º da LICP é de pena de reclusão ou de detenção, quer
isoladamente, quer alternativa ou cumulativamente com a pena de multa.
Já em relação aos menores de 18 anos, a conduta ilícita será denominada “ato
infracional”, conceito que conforme o ECA, no art.103, engloba a conduta tanto descrita como
crime quanto contravenção penal. Com isso, embora a prática do ato seja condenável, não será
aplicada a “pena”, mas sim “medidas socioeducativas”. Ainda, em relação à pratica de ato
infracional, Ishida (2008, p. 158) referência que:

Pela definição finalista, crime é fato típico e antijurídico. A criança e o adolescente


podem vir a cometer crime, mas não preenchem o requisito da culpabilidade,
pressuposto de aplicação da pena. Isso porque a imputabilidade penal inicia-se
somente aos 18 anos, ficando o adolescente que cometa infração penal sujeito à
aplicação de medida sócio-educativa por meio de sindicância. Dessa forma, a
conduta delituosa da criança e do adolescente é denominada tecnicamente de ato
infracional, abrangendo tanto o crime como a contravenção .

O ECA utiliza a expressão “ato infracional”, de forma a ser abrangente em


relação aos atos praticados por estas pessoas de direito quando entram em conflito com o mundo
jurídico. Assim, o fato atribuído à criança ou ao adolescente, embora se enquadre como crime
ou contravenção, somente pelo fato da idade, não constitui crime ou contravenção, mas, ato
infracional. Corroborando com esta corrente Carvalho & Gomide (2005), pontuam que a
discussão está envolta na questão terminológica, pois este comportamento antissocial, caso o
mesmo comportamento fosse praticado por pessoas maiores de 18 anos de idade, estariam
cometendo crimes.
Após a constatação da prática do ato infracional pela autoridade competente,
para a instauração do procedimento especial será garantido ao adolescente todos os direitos
17

individuais que estão previstos na Constituição Federal, no Estatuto da Criança e do


Adolescente e no Código de Processo Penal. Desta forma, torna-se de suma importância, antes
de se analisar as consequências das medidas socioeducativas aplicadas, conhecer e entender as
providências que podem ser aplicadas pelo representante do Ministério Público, as funções do
Advogado e as atribuições do Juiz da Vara da Infância e da Juventude, para com isto ter o
entendimento de como se chega ao resultado final.

Etapas do Procedimento

Apreensão do adolescente

Em análise à legislação vigente, o adolescente só poderá ser apreendido em


dois momentos, sendo “em flagrante de ato infracional (art. 172 do ECA)” ou “por ordem
escrita e fundamentada do juiz da infância e da juventude (art. 171 do ECA)”. Mas, em relação
às duas situações, nada impedem que o adolescente seja alvo de investigação, de forma a se
averiguar se existe indícios de sua autoria ou participação no ato infracional. Com a constatação
deste último e a devida averiguação pela autoridade policial, se constatados os indícios de
autoria e materialidade, este deverá encaminhar imediatamente os documentos necessários para
a “instauração do procedimento especial de adolescente infrator” ao Ministério Público
conforme expressa no art. 176 e art. 177 do ECA.
No caso de o adolescente estar apreendido, este deverá, imediatamente, ser
apresentado ao Ministério Público. O adolescente deverá sempre ser atendido por entidade ou
por repartição policial especializada, e caso não exista, deverá permanecer na delegacia de
origem, sempre separado dos presos adultos. Destaca-se que, conforme estabelece o ECA,
independentemente de qualquer fato, a apresentação ao Ministério Público deve dar-se em, no
máximo, 24 horas.

Recebimento dos documentos por parte do Ministério Público

Ao momento que o Ministério Público recebe a documentação, este irá


verificar o trabalho policial, a situação e as circunstâncias em que se encontra o adolescente, e
decidir se irá ou não o representar. Para tanto, o Ministério Público deverá ouvir o adolescente
e buscar informações de forma a se inteirar sobre todo o ocorrido, verificando a legalidade da
18

apreensão, a existência de requisitos para o flagrante (se for o caso), e se houve a comunicação
da família ou do responsável pelo adolescente.

Oitiva informal do adolescente

No momento da oitiva do adolescente, o representante do Ministério Público,


buscará informações, coletando-as juntamente com provas, mediante também à oitiva de outras
pessoas, como seus pais ou o responsável, a vítima e, sendo o caso, das testemunhas. Quando
for conduzido, pelo fato de estar apreendido, o adolescente será ouvido no mesmo dia, mas caso
esteja solto e não compareça, poderá ser requisitado e contando com a ajuda da Policia Civil e
Militar o adolescente chegará a ser conduzido.

Providências do Ministério Público

Ao representante do Ministério Público caberá, conforme art. 180 do ECA,


optar dentre três alternativas, sendo: a) arquivamento; b) remissão; ou c) representação para
aplicação de medida.
A “promoção do arquivamento dos autos”, poderá ocorrer quando for
verificado que o fato não existe, ou quando se comprova que o adolescente não praticou o ato
infracional, ou ainda, o ato não constituiu ato infracional. Ainda, poderá “conceder a remissão”
que conforme previsão legal dos artigos 126/128 e 201, I do ECA.
A “remissão” é uma forma de extinção do processo, que embora exista o ato
infracional, se faz a suspensão, exclusão ou extinção do procedimento, como intuito maior de
evitar ao adolescente uma medida judicial. Destaca-se o fato de existir a possibilidade da
cumulação da remissão processual com a aplicação de medida socioeducativa, não se podendo
cumular com a medida de regime de semiliberdade e a internação do adolescente. Outro fato
importante é que a remissão não é irrevogável e que não prevalece para efeito de antecedentes.
Por fim, vem a “representação à autoridade judiciária” que ocorre no caso de
constatação pelo representante do Ministério Público, da necessidade da aplicação de medida
socioeducativa, conforme expresso nos artigos 180, III e 182 do ECA, este realizara a
representação em peça distinta. A representação deverá conter um breve resumo dos fatos, a
tipificação do ato infracional, a conduta realizada, a pretensão e o rol de testemunhas (sendo o
caso). Para se oferecer a representação, basta que existam fortes indícios de autoria e
19

materialidade. Ao receber a representação o juiz designará a data, hora e local para a audiência
de apresentação do adolescente.

Homologação do arquivamento ou da remissão

Sendo o caso de o representante do Ministério Público, dentro de suas


atribuições promover o arquivamento ou conceder a remissão ao adolescente, torna-se de
grande importância destacar que todas estas atribuições deverão passar sob o crivo do Poder
Judiciário, ou seja, deve ocorrer a homologação da autoridade judiciária.
No caso de discordância, entendendo-se não ser o caso de arquivamento ou
remissão, em despacho fundamentado, o juízo remeterá os autos ao Procurador-Geral da Justiça
que tomará a decisão sobre o fato.

Prazo para conclusão do procedimento

O ECA estabelece em seu art. 183 que estando o adolescente apreendido


provisoriamente, o prazo máximo para sua conclusão é de 45 dias. Salienta-se que este prazo
não pode ser dilatado por nenhuma justificativa, é improrrogável, mas no caso de este prazo ser
extrapolado, o adolescente será liberado imediatamente e o procedimento terá sua continuidade.

Designação da audiência de apresentação e audiência em continuação

Para apuração do ato infracional em juízo, pelo ECA estão previstas duas
audiências, sendo a primeira a “audiência de apresentação”, conforme o art. 184 e a segunda,
“audiência em continuação”, que é instituída no art. 186. Na audiência de apresentação, o juiz
ouvirá o adolescente, seus pais, o promotor e o defensor, podendo ser solicitada a opinião de
profissionais habilitados como psicólogo ou assistente social, enfim equipe multidisciplinar,
para prestar apoio durante o ato. Neste momento, abre-se nova oportunidade para aplicação de
remissão, agora, pelo juiz, em caso negativo é designada a próxima audiência.
A “audiência em continuação” é o momento em que ocorre a instrução e
julgamento do feito. Serão ouvidos os pais ou responsáveis pelo adolescente, as testemunhas
arroladas na representação e na defesa, cumpridas as diligências e juntado o relatório da equipe
interprofissional. Por fim, é dada a palavra ao representante do Ministério Público e ao defensor,
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para a realização de suas “alegações finais”, em ato sequencial será proferida a decisão pela
autoridade judiciária, “sentença”, de acordo com as provas e sua convicção.

A Pena e a Medida Socioeducativa

A “pena” é aplicável ao autor do ato considerado crime, sendo ela conforme


bem elenca Nucci (2008) “a sanção imposta pelo Estado, através da Ação Penal, ao criminoso,
cuja finalidade é a retribuição ao delito perpetrado e a prevenção a novos crimes”. Assim em
respeito e dentro dos parâmetros estabelecidos pelo art. 59 do CP, a pena vem com a
responsabilidade de reprovar o mal causado pelo crime e ainda, buscará prevenção de futuras
infrações penais. Ou seja, trabalha com o binômio: retribuição & prevenção.
A retribuição tem finalidade de buscar corrigir o indivíduo, para que este não
volte a delinquir, de forma que este reflita sobre o mal causado, para tanto pode-se chegar a
neutralizar a pessoa que praticou o crime ou a contravenção penal, ou seja, chegar ao extremo
de neutralizá-lo, com a prisão. A prevenção busca a proteção da sociedade, vem no intuito de
infundir na consciência geral a necessidade de respeito a determinados valores. Ainda tem a
preocupação com a proteção dos bens juridicamente tutelados, visa a desestimulação à prática
de crimes, uma vez que, caso ocorra a transgressão ao direito, o estado de forma pronta aplicará
a reprimenda necessária.
As medidas socioeducativas têm o caráter repreensivo, sendo a resposta legal
aplicada pelo poder judiciário ao adolescente que cometeu ato infracional (crime ou
contravenção penal). A sua natureza jurídica é pedagógica, ou seja, tem cunho educativo,
estando voltada pata para a restauração pessoal e inclusão social do adolescente. As medidas
socioeducativas estão previstas no art. 112 do ECA. Para Borges (2015), as medidas têm o
poder de ajudar a retomar o que se perdeu durante o processo de desenvolvimento pessoal do
infrator, auxiliando na educação e na profissionalização destes jovens infratores, permitindo a
estes as mesmas oportunidades de escolaridade e emprego que qualquer adolescente não
infrator, seguindo assim o processo interrompido para ser reinserido na sociedade.
Portanto, as medidas socioeducativas são ações que propiciam ao adolescente
desenvolvimento, educação, aprendizagem, que possibilitem sua reinserção na sociedade com
mais recursos para superar e transformar os fatos que o levaram aos conflitos com a lei.
Não se espera que em um ambiente desestruturado, sem acompanhamento
apropriado, sem condições de socialização que levem ao desenvolvimento humano, esses
adolescentes possam tornar-se pessoas melhores com a capacidade de sua ressocialização na
21

sociedade. Assim, família, sociedade e órgãos públicos devem iniciar a mudança de


comportamento para que nossos adolescentes possam se tornar pessoas de total dignidade e
respeito.

Aplicação de medida socioeducativa

No caso de procedência da representação, o juízo responsável pela decisão


aplicará a medida socioeducativa mais adequada ao caso concreto e em resposta ao ato
infracional. A todo o momento se levará em conta as necessidades pedagógicas específicas do
adolescente, as medidas pertinentes estão previstas no art. 112 do ECA, sendo elas:
A “advertência” (art. 115 do ECA), que tem o foco em criar o alertar ao
adolescente que cometeu o ato infracional, ou a seus responsáveis para as consequências
jurídicas que infrações futuras possam acarretar. Cury (2006, p. 386) destaca que “de modo
geral, o “ato de advertir”, no sentido de “admoestar”, contém em sua estrutura semântica um
componente sancionatório”. A advertência é realizada na forma oral pelo juízo e
consequentemente reduzida a termo.
A “obrigação de reparar o dano” (art. 116 do ECA), que ocorre quando o
objeto jurídico tutelado é de ordem material, o juiz poderá determinar que seja o bem restituído,
promova o ressarcimento do dano. Com isto, o fim principal é que o adolescente por outra forma
compense o prejuízo causado pelo seu ato.
A “prestação de serviços à comunidade” (art. 117 do ECA), centraliza-se em
atividades atribuídas que deverão estar em conformidade com suas aptidões dos adolescentes e
não devem ter jornada maior que oito horas semanais, respeitando a frequência à escola. O
objetivo principal é a realização de tarefas gratuitas, não podem exceder seis meses e devem
ser voltadas às entidades assistenciais, hospitais, escolas e demais localidades do gênero.
A “liberdade assistida” (art. 118 do ECA), será adotada sempre que se figurar
a medida mais adequada, para o fim de acompanhar, auxiliar e orientar o adolescente. Assim,
estará se possibilitando ao adolescente o seu cumprimento junto a sua família, mas sob o
controle sistemático da autoridade judiciária e da comunidade. A medida poderá ser fixada pelo
prazo mínimo de seis meses, com a possibilidade de prorrogação, renovação ou substituição
por outra medida.
A “inserção em regime de semiliberdade” (art. 120 do ECA), é a modalidade
que se enquadra como uma forma de transição para o meio aberto. Nesta medida são
obrigatórias a escolarização e a profissionalização do adolescente infrator, e ela não comporta
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prazo determinado, é uma alternativa a se evitar a internação. Entenda-se que o regime de


semiliberdade é o meio termo entre a privação da liberdade e a liberdade assistida. Em relação
ao tempo e às políticas educadoras, bem esclarece Tavares (1999, p. 116) que “observa-se que
o tempo de duração é indeterminado, devendo durar enquanto conveniente às finalidades de
medida, cuidando-se sempre da educação regular e profissional do paciente”.
Dentro do rol de medidas socioeducativas a serem aplicadas, a última e a com
consequências mais severas é a “internação em estabelecimento educacional” (arts. 121 a 125
do ECA), esta medida priva o adolescente da liberdade e estabelece que durante a sua ocorrência
devem existir políticas de tratamento de valores sociais e educacionais. Destaca-se que deve ser
aplicada somente em casos graves e sendo a exceção. Quando internados os adolescentes devem
ter assegurados os cuidados especiais, como a formação profissional, a educação, esporte e o
lazer.
As medidas socioeducativas de liberdade assistida, semiliberdade e
internação serão reavaliadas no máximo a cada seis meses de forma a verificar a necessidade
de sua manutenção e em especial o período de internação não pode ultrapassar a três anos. A
finalidade do procedimento especial de adolescente infrator não se encontra como a resposta
estatal para o cometimento de um ato ilícito, ou seja, a aplicação de uma pena, mas sim na
aplicação de uma resposta que venha a restabelecer e trabalhar valores nos adolescentes que
possam estar abalados.
Assim, a resposta que se tem são as medidas socioeducativas, as quais após a
análise do caso venham a restabelecer valores nos adolescentes e prepará-los para a reinserção
social, isto tudo respeitando de forma integral todos os seus direitos. Neste momento, se verifica
que as medidas socioeducativas só devem ser aplicadas quando forem realmente necessárias e
sempre visando à reeducação do adolescente que cometeu o ato infracional, evitando assim sua
reiteração no ato.

Da execução da medida socioeducativa

A Lei nº 12.594/2012 veio a regulamentar o SINASE (Sistema Nacional de


Atendimento Socioeducativo), o qual envolve diversas áreas de governo, representantes de
entidades e especialistas na área da criança e da adolescência. O propósito do SINASE é o de
orientar a execução das medidas socioeducativas, abrangendo desde a privação e restrição de
liberdade até as de meio aberto. A tarefa primordial é permitir ao sistema de Justiça o
23

acompanhamento do processo socioeducativo, zelando pela efetividade e pela observância dos


direitos dos adolescentes a ela submetidos.
O ECA não aborda de forma específica a aplicação das medidas
socioeducativas, com isto o SINASE fornece parâmetros para a execução das medidas tanto em
meio aberto quanto em meio fechado. Ainda, destaca-se que a lei institui diversas políticas
pautadas no princípio da proteção integral, assim estabelecendo ações articuladas com as áreas
dos direitos fundamentais. Com isto, o SINASE prevê a regionalização dos programas, a fim
de garantir o direito à convivência familiar e comunitária dos adolescentes internos, bem como
suas especificidades culturais.
O SINASE em relação a distribuição de competências, realizou uma divisão
entre os sistemas Distrital, Estaduais e Municipais. Em relação a União cabe dentre outras
competências, formular e coordenar a execução da Política Nacional de Atendimento
Socioeducativo, assim como elaborar o Plano Nacional de Atendimento Socioeducativo e
também prestar assistência técnica e financeira aos Estados, Distrito Federal e aos Municípios.
Aos Estados em conformidade com as diretrizes prescritas pela União, dentre
as suas incumbências destacam-se os atos de: - formular, instituir coordenar e manter o Sistema
Estadual de Atendimento Socioeducativo; - criar, desenvolver e manter programas para a
execução de medidas socioeducativas em meio fechado de semiliberdade e internação; -
executar a medida de semiliberdade, entendendo que esta medida possibilita a realização de
atividades externas, sendo obrigatória a escolarização e a profissionalização dos adolescentes;
- Estabelecer com os Municípios formas de colaboração para o Atendimento Socioeducativo
em meio aberto; - executar a medida de internação, que se constitui em medida privada de
liberdade, com período máximo de três anos. No Estado do Paraná, as unidades de internação
são chamadas Centros de Socioeducação ou também conhecidos como CENSES.
Já aos Municípios em conformidade com o Plano Nacional e o Plano Estadual
de Atendimento serão responsáveis por: - organizar o Plano Municipal de Atendimento
Socioeducativo; - criar e manter programas de atendimento para a execução de medidas
socioeducativas em meio aberto, editando normas complementares para a organização e
funcionamento de tais programas; - cadastrar-se no Sistema Nacional de Informações sobre o
atendimento Socioeducativo e fornecer regularmente os dados necessários ao povoamento e à
atualização do Sistema. Destaca-se que as medidas em meio aberto de PSC e LA são executadas
pelos Municípios por meio do Centro de Referência Especializado de Assistência Social –
CREAS, de cada regional correspondente ao local de domicílio do adolescente em conflito com
a lei a que estas serão aplicadas.
24

Durante o cumprimento das medidas socioeducativas os adolescentes ficam


sob responsabilidade dos CREAS, o qual deve confeccionar o Plano Individual Atendimento,
em caso de qualquer situação fora da normalidade, tal como o descumprimento, estarão
mediante ofício comunicando a autoridade judiciária e o Ministério Público. No caso de
constatação do descumprimento da medida aplicada, sendo o caso, o juiz revoga as condições
em que se encontra e mandará apreender o adolescente cautelarmente. Em procedimento
próprio, o adolescente, por intermédio de seu representante legal, é intimado a apresentar
justificativa para o descumprimento contatado.
Todo procedimento corre respeitando os princípios do Contraditório e da
Ampla Defesa e ao final, em sentença, o juízo pode aplicar medida socioeducativa de caráter
mais grave. O art. 122º do ECA estabelece que em caso de descumprimento reiterado e
injustificável da medida anteriormente imposta, o prazo de internação poderá ser de até três
meses, não podendo este prazo ser extrapolado.

O Adolescente em conflito com a lei

As questões do adolescente que entra em conflito com a lei, têm recebido


atenção especial das ciências que buscam entender este público e seus atos. Em um primeiro
momento a identificação de quem seria o adolescente é sempre a realizada pelo conceito legal,
no qual estas pessoas são classificadas por parâmetros temporais, que são estabelecidos de
acordo com os costumes e culturas de cada região. No Brasil, a legislação que trata o tema é o
ECA, em seu art. 2º, que considera a adolescência como a faixa etária de 12 a 18 anos
incompletos.
Para melhor entender quem é o adolescente e por que entra em conflito com
a lei, se faz necessário afastar-se do conceito legal brasileiro e buscar suporte junto a outras
ciências e organizações mundiais que têm preocupação com este grupo de pessoas. Com isto, o
período que se torna foco de estudo é o do desenvolvimento humano pré-idade adulta, ou seja,
a socialmente conhecida adolescência, mas que está vinculada às teorias psicológicas,
considerando o indivíduo como ser psíquico, pautado pela realidade que constrói e por sua
experiência subjetiva.
Nesta fase o ser humano está em transição, sofrendo alterações físicas e
mentais, que acontecem também ao seu entorno, sendo processos sociais que envolvem sua
inserção nas relações sociais e também acontecimentos de ordem política (Hutz, 2002). A OMS
25

(Organização Mundial de Saúde) destaca que a adolescência é um processo biológico, no qual


se acelera o “desenvolvimento cognitivo e a estruturação da personalidade”. As idades
compreendidas seriam entre os 10 a 19 anos, onde estariam a pré-adolescência, sendo dos 10
aos 14 anos, e de adolescência propriamente dita, sendo de 15 a 19 anos.
A psicologia, em relação aos adolescentes, centraliza estudos em elementos
que vêm a exercer forte influência durante seu desenvolvimento, sendo conhecidos como
“fatores de risco e variáveis”. Dentre tais elementos destacam-se as questões sexuais, classe
social, amizades, vícios, conflitos familiares, conflitos na escola e sociais (Rigonatti, 2003).
Nesta fase, o adolescente encontra-se em um processo de autoafirmação e de busca do
reconhecimento de sua personalidade e estar rodeado por fatores negativos, conflitos e
resistências, pode ser determinante para a prática de atos que se configurem em “conflituosos
com a lei”.
Assim, se referir ao adolescente estar em conflito com a lei, é estar
conceituando aqueles que praticaram uma ação não permitida pelas normas, ou seja, estão
transgredindo o conteúdo das normas institucionalizadas. Conforme Feldman (1977, p.97)
confirma a relação entre personalidade e comportamento violento, ou seja, que os traços
moldados ao longo do desenvolvimento do indivíduo decorrem da aprendizagem e das suas
diferentes influências de interação com o meio.
Quando do desenvolvimento dos adolescentes devem se resguardar os
direitos de escolarização, profissionalização, de preservação da integridade física e mental de
forma a evitar conflitos, em especial com a lei. Para atuar nesse sentido respeitando as
particularidades no processo de socialização desses adolescentes, as pessoas precisam estar
suficientemente preparadas (Gomide, 1998).

Fatores de risco

No dia a dia o adolescente esta suscetível a vários fatores considerados de


risco, os quais podem o levar em conflito com a lei. Tais fatores vêm proporcionar maiores
chances da ocorrência de transgressões às normas socialmente aceitas, além de afetar o
adolescente no desenvolvimento físico mental e nas relações sociais. O adolescente que entra
em conflito com a lei é uma pessoa exposta a diversos fatores de risco pessoais, familiares,
sociais, escolares, os quais saem das condições biológicas e estando presentes em fatores
ambientais (Bartol & Bartol, 2009).
26

Dória (2011) analisou o problema de transtornos psiquiátricos em jovens em


conflito com a lei, de forma a pesquisar a prevalência de transtornos psiquiátricos nesta
população. Para obter um diagnóstico, utilizou-se a Entrevista Diagnóstica Kiddie-Sads
referente ao momento presente da pesquisa e ao histórico de vida (K-SADS-PL), a Versão
Brasileira da Schedule for Affective Disorders and Schizophrenia for SchoolAged-Children para
crianças e adolescentes de 6 a 18 anos. Como público alvo, foram selecionados adolescentes
que estavam cumprindo medida socioeducativa, em regime de internamento provisório de 45
dias na Vara de Adolescentes Infratores, na cidade de Curitiba, PR. Com os resultados,
concluiu-se que os jovens detidos, sem os cuidados adequados na área da saúde mental, tornar-
se-ia uma população adulta problemática, gerando sérios prejuízos individuais, familiares e
sociais.

A Família

As relações familiares são fundamentais no desenvolvimento dos


adolescentes, assim as famílias que possuem conflitos, mais propriamente a violência presente
em seu contexto diário, possibilitam que isto seja repassando às gerações futuras. Gomide
(2006) destaca que vínculos afetivos fracos apontam no sentido de maior probabilidade de em
atos infracionais, e ainda que os pais de filhos que entram em conflito com a lei, exercem
supervisão inconsistente, disciplina relaxada e inadequada e monitoria negativa em relação a
seus filhos.
Marshall & Maljevic (2012) citam a questão do vínculo familiar e auto-
controle, destacando que a desestrutura netas instituições podem afetar diretamente o
adolescente, visto que hoje é vítima mas pode se tornar um agressor e vice-versa. Assim,
constata-se que exemplos familiares, tais como consumo de álcool e drogas, violência (física,
psicológica e/ou sexual) podem comprometer diretamente os adolescentes em seu
desenvolvimento.
Vários problemas decorrentes do ambiente familiar impactam diretamente
nos adolescentes. Bartol & Bartol (2009, p.34) destacam como fatores de risco na família:
estilos e práticas parentais; monitoria parental; influência dos irmãos; psicopatologia dos pais;
maus-tratos; famílias multiagressoras; divórcio, separação e abandono, tamanho da família e
ordem de nascimento. Outro fator importante é que a instabilidade no âmbito familiar embora
não seja determinante, aumenta o risco de prejuízos psicológicos, sociais e acadêmicos na
adolescência e início da vida adulta.
27

Escolaridade

Problemas decorrentes no âmbito familiar podem acarretar em dificuldades


de comunicação e consequentemente problemas de aprendizagem, assim se associando a outros
fatores que contribuem para a conduta infracional. Embora sobre a relação baixa escolaridade
e ato infracional, alguns pesquisadores acreditam que um alto nível intelectual atua como fator
de proteção, auxiliando jovens de alto risco a não se engajarem em atividades delituosas
(Kauffman, 2001).
Nas escolas, é presente a dificuldade de se trabalhar com o aluno agressivo,
visto que não se enquadra nas normas. Devido a agressividade, a tendência é a ocorrência da
rejeição pelos pares, fato que tem sido associado com problemas escolares, incluindo atitudes
acadêmicas negativas, recusa escolar e a probabilidade de ser desruptivo e não-cooperativos no
processo de aprendizagem (Bartol & Bartol 2009). Com isto, o que se deve buscar são as
relações positivas com os pares: desenvolvimento da empatia, autorregulação e comportamento
pró-social, para com isto se ter a diminuição de condutas hostis (Bartol & Bartol 2009).
Assim, deve-se registrar que este aluno apresenta desafios consideráveis aos
educadores, e seria injusto culpá-los pelo fracasso de tal aluno se não há suporte no sistema
educacional, tanto para o aluno quanto para a capacitação de educadores (Gallo & Williams,
2005). O desenvolvimento saudável nas escolas será inexistente se os professores forem pouco
qualificados, sem treinamento para lidar com estes problemas sociais e os desafios destes
ambientes (Bartol & Bartol, 2009). Ao momento que não se trabalhar a socialização, a escola
não terá como seus fundamentos valores sociais e permitirá que ideias de discriminação e
preconceito acabem dentro do âmbito escolar.

Drogas

O uso de drogas vem a causar diretamente problemas de saúde mental, distúrbios


de ordem psicológica, o qual vem a estar relacionado com a gravidade do ato infracional e até
à probabilidade de reincidir nos atos praticados (Hoeve, McReynolds, & McMillan, 2012). Os
estudos nesta área se mostram importantes, pois através desta leitura busca-se mapear quais
jovens têm potencial para voltar a praticar atos infracionais, ou seja, vão reincidir, para assim
poder guarnecer a segurança pública.
28

A saúde mental é fator fundamental para a identificação, pois relata-se que o


distúrbio de saúde mental aumenta a probabilidade de reincidência, isto ainda, também se
levando em consideração a questão do uso de drogas, problemas de conduta, e ansiedade e
estresse que são fatores que se somados ou associados contribuem para a reincidência juvenil
(Hoeve, McReynolds, & McMillan, 2012). No momento em que o adolescente se sente excluído
ou rejeitado socialmente pelos pares (Bartol & Bartol 2009), está suscetível à influência do
consumo de diferentes drogas e comportamentos agressivos. Entre as drogas socialmente
aceitas, se tem o álcool que pode aumentar a agressividade devido ao seu efeito desinibidor,
chegando a outras de caráter proibido como a maconha, anfetamina, cocaína, LSD e crack.

Meio Social e a Pobreza

Gomide (2000), em relação à Teoria da Aprendizagem Social de Bandura,


afirma que esta auxilia na compreensão dos comportamentos agressivos a partir de observações
de um modelo que é reforçado pelo seu comportamento agressivo. Ao longo da vida a pessoa
fica exposta a vários modelos de comportamentos, aos quais pode acabar por adquirir até
mesmo os ilegais (Feldman, 1977). Embora esta seja uma preocupação e foco de estudo,
destaca-se que a informação presenciada é mediada por fatores como família, escola e a
percepção individual, e a mera exposição não é determinante para desenvolver comportamentos
agressivos (Gomide, 2000).
A pobreza material, a baixa escolaridade, atividades de envolvimento com o
uso ou tráfico de drogas e a constante troca de parceiros por parte das mulheres, constroem um
ambiente de vulnerabilidade que afeta diretamente o adolescente (Willians & Cols,
2010). Embora o ambiente de pobreza por si só não seja suficiente para ocorrência da conduta
infratora, não se pode ignorar o fato de que a pobreza é um fator de risco direto e que
proporciona condições que colocam muitas crianças em perigo. (Bartol & Bartol 2009).
Os adolescentes enfrentam um contexto social de violência, exclusão e falta
de oportunidades, nos quais suas competências, sua contribuição para a sociedade e todo seu
potencial devem ser respeitados. Para isso, é necessário que se o respeite como sujeito de
direito, como estabelece a CF/88 e o ECA. Assim verifica-se que a adolescência é uma época
por si só de dificuldades naturais relativas à vida e dotada de vários fatores presentes, e neste
momento de transição, o adolescente sofrer influência de fatores negativos pode gerar
desequilíbrios e instabilidades. Desta forma, destaca-se que as dificuldades naturais, tais como
drogadição, classe social, problemas familiares, sócias e escolares, dificilmente serão evitadas,
29

mas distanciando os adolescentes dos fatores que representam risco, poderá ajudar a evitar
conflitos.
30

Objetivo Geral

Verificar as consequências das medidas socioeducativas aplicadas a


adolescentes que cometeram atos infracionais no município de Campo Largo, no ano de 2012
e 2013.

Objetivos Específicos

- Identificar no ano 2012 e 2013 o número total de procedimentos;


- Identificar no ano 2012 e 2013 o número de procedimentos em que os
adolescentes foram representados pelo cometimento de atos infracionais;
- Identificar os atos infracionais realizados pelos jovens;
- Identificar os casos em que foram determinadas medidas e quais foram as
medidas socioeducativas aplicadas;
- Localizar os adolescentes que estiveram em conflito com a lei e por meio da
realização da aplicação de entrevista semiestruturada e do IEP (Gomide, 2006) com os mesmos
e seus responsáveis se obteve dados sobre a situação escolar, laboral, familiar, afetiva e
infracional durante ou após a aplicação da medida socioeducativa;
- Analisar as consequências das medidas socioeducativas por meio dos
critérios: moradia fixa, contato com a família, escolaridade, trabalho, não cometimento de
outros atos infracionais.
31

Método

A presente pesquisa foi composta por duas etapas. A primeira buscou


identificar todas as ocorrências judiciais de adolescentes infratores entre os anos de 2012 e
2013, em específico os casos em que os adolescentes foram representados e receberam alguma
medida socioeducativa pelo cometimento de ato infracional. Já na segunda, após a localização
dos participantes, solicitou-se que respondessem à entrevista semiestruturada e ao IEP
(Gomide, 2006), de forma a se obter dados precisos e específicos, para com isto realizar análise
dos resultados obtidos. De forma a melhor entender as etapas e os resultados, estas serão
descritas detalhadamente a seguir.

Etapa 1

Em análise aos procedimentos apresentados pela Vara de Infância e


Adolescência de Campo Largo (Anexo A), ocorreu a coleta dos dados pessoais, a identificação
dos atos infracionais, os casos de reiteração; se ocorreu o cumprimento da medida; e se na
atualidade foi possível a localização dos adolescentes que foram participantes do estudo.

Local: Vara da Infância e Juventude no Município de Campo Largo no Estado do Paraná.

Participantes: Foram analisadas na etapa 1 da pesquisa 241 ocorrências, na qual, do total


apresentado, foram selecionados 81 procedimentos em que os adolescentes foram
representados, mas um dos casos pelo fato de o adolescente ser estrangeiro e ter sido apreendido
no ônibus de viagem, que vinha de Foz do Iguaçu com sentido Curitiba, quando passava pela
cidade de Campo Largo/PR, teve seu caso excluído da presente pesquisa. Desta forma, restaram
80 procedimentos, em que todos os participantes são pertencentes ao sexo masculino e situam-
se na faixa etária de 13 a 17 anos.

Instrumentos: Os dados que foram objeto de busca na etapa 1, foram todos coletados dos
Procedimentos Especiais de Adolescentes Infratores cadastrados no sistema PROJUDI
(Processo Eletrônico do Judiciário do Paraná). A coleta teve o intuito de buscar, em relação
32

aos adolescentes, dados sobre a idade, escola, família, ato infracional, medida socioeducativa
aplicada e o status atual.

Procedimento: Após obtenção da autorização pelo órgão responsável e aprovação pelo Comitê
de Ética em Pesquisa (nº 30458914.5.0000.0103 – Anexo D) deu-se início à coleta de dados.
Na primeira etapa, a coleta foi realizada ao momento em que existia a disponibilidade dos
procedimentos contidos no sistema PROJUDI (Anexo E, F). Foi realizado o levantamento dos
elementos que acompanhavam os adolescentes no momento da prática do ato infracional, sendo
a situação escolar, laboral, familiar, afetiva e infracional.

Análise de Dados: Os dados foram digitados em uma planilha no programa SPSS (Statistical
Package for Social Science – Anexo D) para que as análises estatísticas descritivas dos dados
fossem realizadas.

Etapa 2

Esta etapa consistiu na realização das entrevistas e na utilização do IEP


(Gomide, 2006).

Participantes: Foram entrevistados oito participantes, sendo que todos se encontravam na faixa
etária de 18 a 20 anos, todos do sexo masculino. Somente seis participantes mantinham o
número de telefone atualizados no cadastro do sistema judicial e mais dois casos foram
localizados quando se buscava informações sobre o cometimento de novos atos infracionais
e/ou crimes, estando inseridos no sistema prisional do Estado do Paraná.
Conforme a tabela 1, o estudo se deu em uma amostra dos participantes na
qual a idade mínima foi de 18 anos e a idade máxima foi de 20 anos de idade, estando desta
forma a média da idade em 18,625 (dp = 0,74).
33

Tabela 1
Idade atual dos participantes
Participante Idade
1 18
2 19
3 18
4 19
5 18
6 18
7 20
8 19

Participante 01

O contato se deu via telefone da mãe do participante, constante no seu


cadastro junto ao Poder Judiciário. No momento do agendamento do local e horário, esta
possibilitou que fosse em sua residência, esclarecendo que seu filho estava residindo em local
diverso com sua atual companheira, mas que não teria problemas em chamá-lo.
Na residência, foram apresentados os instrumentos sendo respondida a
entrevista semiestruturada e o IEP (Gomide, 2006) na sequência. O participante 1 quando
entrevistado se mostrou desconfortável em tratar do assunto do passado, pois quando era
questionado dava risadas tímidas, não olhava diretamente para os pesquisadores, desviava o
olhar e mantinha-se com os braços cruzados. Ao entrevistar a mãe do participante, esta relatou
que trabalha de segunda à sexta como funcionária pública municipal na Prefeitura de Curitiba
e atualmente mora com seu novo companheiro. Já em relação a seu filho, participante, informou
que este mora com sua companheira em casa distinta, assim o contato não é tão próximo, mas
que conversam durante a semana por telefone e que possuem uma relação tranquila.
O participante 1 relatou que cometeu o ato infracional aos 16 anos, não tendo
uma explicação para o ato de roubo no ano de 2012, mas que acabou cumprindo a medida
socioeducativa de internação quando ficou em privação de liberdade pelo período de seis meses.
Atualmente faz pequenos “bicos” e mora de aluguel com sua companheira, estando ambos sem
emprego fixo.
Ainda, o participante relatou que morou com seus pais até aproximadamente
os 10 anos de idade e que após estes passarem pelo processo de separação, acabou por residir
somente com o pai, em um terreno que é divido entre seus avós paternos e tios. Destacou que
34

os cuidados na educação foram prestados pelos avós em grande parte de sua adolescência. Por
fim, informou que começou a ter contatos com substâncias psicoativas a partir dos 11 anos,
cometendo pequenos furtos para sustentar o vício, mas que atualmente não usa drogas.

Participante 02

O contato se deu via telefone da mãe social (avó) do participante, constante


no seu cadastro junto ao Poder Judiciário. No momento do agendamento do local e horário, esta
possibilitou que fosse em sua residência, mas pediu para que fosse ao final da tarde ou início
da noite, tendo em vista que seu neto trabalhava durante a manhã e à tarde toda.
A residência fica em bairro afastado do centro, em região de classe baixa, é
de madeira e moram com outros familiares. No local, foram apresentados os instrumentos sendo
respondidos a entrevista semiestruturada e na sequência o IEP (Gomide, 2006).
Ao ser entrevistada, a mãe social relatou que é aposentada e foi quem criou o
participante, destacou que moram em sua residência e que “graças a Deus” o neto tomou jeito
na vida, tendo muito a agradecer ao juiz que foi muito humano e “pôs este menino no caminho
de novo”. Informou ainda, que o pai do participante faleceu quando ele tinha cinco anos de
idade e sua mãe havia o abandonado em um abrigo. Disse que o participante sempre foi
tranquilo e obediente e confessou ser extremamente regrada e autoritária com ele, mas que
quando trabalhava eram as irmãs quem cuidavam dele.
Declarou que por motivos de rebeldia na adolescência, o participante, aos 12
anos parou de estudar, sendo que vivia com problemas na escola, tempo em que também teve
problemas em casa e foi morar com sua tia. A mãe social afirma que o participante não cometeu
o ato do qual foi acusado, pois ele é extremante tímido e que nunca apareceu com
“namoradinhas” em casa e que quando resolveu conversar sobre sexo com ele, este sempre
fugiu do assunto. Por fim, destacou que o participante possui poucos amigos, sendo que sua
rotina é de “casa para trabalho e do trabalho para casa”.
O participante 02 declarou que parou seus estudos na 6ª série, fato que causou
certo desconforto na família, pois sua mãe social não aceitou a opção do mesmo na época,
fazendo com que decidisse morar com sua tia, onde morou dos 12 aos 16 anos. Informou que
voltou a morar com sua mãe social logo em seguida do fato em que foi acusado de tentativa de
estupro com a filha de sua tia, que possuía na época, nove anos de idade. Reconheceu que usava
maconha e álcool no período em que morou com a tia, ressaltando que o uso era em conjunto
com os tios.
35

Em relação ao fato, diz que não cometeu e não entende o porquê foi acusado
da tentativa de estupro da prima, mesmo porque, era ele quem cuidava da menina pelo período
da manhã e tarde enquanto os pais dela trabalhavam. Na atualidade, trabalha de segunda à sexta
em uma fábrica de porcelana e pensa em voltar a estudar o quanto antes, pois tem o desejo de
cursar uma faculdade.

Participante 03

O contato se deu via telefone com a mãe do participante, constante no seu


cadastro junto ao Poder Judiciário. No momento do agendamento do local e horário, esta
possibilitou que fosse em sua residência, esclarecendo que seu filho estava residindo com ela,
e quanto ao horário, solicitou que fosse à tarde já que a mesma trabalhava de diarista pela
manhã.
A residência está situada no município de Campo Largo, mas a região é área
de invasão. A construção é de madeira sendo composta de quatro cômodos. No local residem o
participante, a mãe e mais dois irmãos, sendo uma menina e um menino mais novos. No local,
foram apresentados os instrumentos sendo respondidos a entrevista semiestruturada e o IEP
(Gomide, 2006).
O participante 3, no momento da entrevista, se mostrou indiferente,
aparentando não estar em seu estado normal, visto que bocejava frequentemente, estava com os
olhos vermelhos, sonolência, se apoiava no sofá como se quisesse deitar e reconheceu que na
noite anterior teria saído e consumido álcool. Ao momento da entrevista da mãe do participante,
esta relatou que trabalha de segunda à sexta como diarista e que atualmente mora somente com
os filhos, os quais são de pais diferentes. Já em relação a seu filho, participante, embora more
na residência, sai constantemente e não a respeita muito, momento em que esta chega a ponto
de “batê-lo” com o que estiver no alcance.
O participante 3 relatou que já cometeu mais de um ato infracional e que das
medidas aplicadas não cumpriu nenhum, pois acha “que não vai dar nada”. Destacou que não
tem problemas em casa, mas já em relação ao colégio e com os amigos na rua já teve problemas.
Em relação ao trabalho, informou que atualmente está desempregado e que não trabalhava na
época dos atos infracionais.
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Participante 04

O contato se deu via telefone residencial da mãe do participante, constante no


seu cadastro junto ao Poder Judiciário. No momento do agendamento do local e horário, esta
possibilitou que fosse em sua residência, esclarecendo que seu filho estava residindo com ela,
agendando o horário para o final da tarde. A residência fica situada em bairro afastado do centro
sendo de material, aparentemente apresentava-se em bom estado de conservação. Aos
presentes, mãe e participante, foram apresentados os instrumentos sendo respondidos a
entrevista semiestruturada e o IEP (Gomide, 2006).
Ao momento da entrevista da mãe do participante esta relatou que atualmente
convive com pessoa diferente ao pai do participante e que não está trabalhando. Destacou que
sua relação sempre foi conflituosa com seu filho e que este tem o “gênio forte”, mas sempre
busca contato com o filho de forma a adverti-lo sobre as coisas erradas. Em relação a vícios,
relata que suspeitou que seu filho usasse drogas, mas nunca presenciou e sempre alertou que
não queria nada de errado em casa.
O participante 4 relatou que cometeu o ato infracional aos 17 anos, não tendo uma explicação
para o fato. Em relação à medida socioeducativa de liberdade assistida, compareceu algumas
vezes no fórum juntamente com sua mãe para conversar com o psicólogo, e sobre o
cumprimento depois que fez 18 anos não precisou mais se apresentar. O participante relatou
ainda, que estudava na época do ato infracional, mas que não estuda na atualidade, pois não tem
vontade. Na época não trabalhava, mas na atualidade está trabalhando em uma empresa que
cuida de arte visual. Por fim, informou que começou a ter contato com substâncias psicoativas
a partir dos 15 anos, e que fez o uso de drogas.

Participante 05

O contato se deu via telefone da mãe do participante constante no seu


cadastro junto ao Poder Judiciário. No momento do agendamento, informou que seu filho
morava com a família e estava trabalhando no período da manhã e da tarde, e estudava no
período da noite. Com isto, solicitou que a visita fosse ao horário aproximado das 18 horas,
entre as suas jornadas.
Na residência da família, estavam presentes todos os integrantes, porém,
somente o participante 5 manifestou o interesse em participar, motivo pelo qual somente foi
respondida a entrevista semiestruturada. O participante relatou que cometeu o ato infracional
37

aos 17 anos, informando que nunca teve vícios, mas que estava com a droga no colégio por
embalo dos amigos. Relatou que recebeu a medida de Liberdade Assistida, a qual cumpriu na
totalidade, com acompanhamento de sua mãe.
Atualmente está trabalhando em um mercado próximo a sua residência, com
a função de serviços gerais e está estudando, fazendo curso técnico em mecânica. O participante
relatou que nunca foi de se envolver em confusão e que sempre morou com os pais.

Participante 06

O primeiro contato se deu via telefone com a mãe do participante, constante


no seu cadastro junto ao Poder Judiciário, mas esta informou que seu filho, após o fato, passou
a residir com os avós no município de Piraquara/PR. Em contato com os telefones
disponibilizados pela mãe do participante obteve-se êxito e foi realizado agendamento com a
avó.
A avó possibilitou que a entrevista fosse em sua residência, esclarecendo que
seu neto, além de morar em sua companhia, também trabalha com o seu avô. A residência era
simples, sendo de material e de madeira, mista, e embora fossem bairro da periferia da cidade
apresentava-se muito bem cuidada e limpa. Aos presentes foram apresentados os instrumentos
sendo respondida somente a entrevista semiestruturada no participante.
O participante 6 relatou que na época dos fatos morava com a mãe, com quem
tinha discussões frequentes e que cometeu o ato infracional aos 16 anos, motivado pelo dinheiro
que lhe foi oferecido. Em relação à medida socioeducativa de liberdade assistida, acabou por
não cumprir porque foi apreendido por outro ato infracional, o de roubo. Após a apreensão ficou
em privação de liberdade até completar 18 anos, e com sua liberação nunca mais foi ao fórum.
Na época dos fatos estava estudando, reconhecendo que não gostava muito
de ir à aula porque lá se metia em muita confusão, mas atualmente está afastado dos estudos
porque tem que trabalhar com seu avô. Por fim, o participante relatou que nunca teve vícios.

Participante 07

Na busca de informações sobre o cometimento de crimes após a maioridade


penal, obteve-se a localização do participante 7, pois este está preso no CDP de São José dos
Pinhais/PR. A entrevista se deu no parlatório da unidade, após a apresentação formal e
38

consentimento por parte do participante. No local, foi apresentada e respondida somente a


entrevista semiestruturada.
O participante 7 declarou que já cometeu mais de um ato infracional e que
das medidas aplicadas vinha cumprindo até que foi liberado, pois tinha completado 18 anos.
Destacou que tinha problemas em casa e por isso morava com amigos na cidade de Campo
Largo/PR, local onde foi preso por tráfico após a maioridade e que nunca mais falou com seus
familiares.
Em relação ao colégio e com os amigos na rua já teve problemas. Em relação
ao trabalho, informou que trabalhava como auxiliar de pedreiro antes de vir a ser preso. Sobre
o fato de ter vícios, o participante esclareceu que fumava cigarro e maconha junto com os
amigos.

Participante 08

No mesmo segmento do participante anterior, o participante 08 foi localizado


na Cadeia Pública do município de Campo largo/PR. A entrevista se deu em uma antessala da
cadeia, onde se fica separado pela cela. Após a apresentação formal e consentimento por parte
do participante foi apresentada e respondida somente a entrevista semiestruturada.
O participante 8 respondeu às perguntas em tom de descontração, pois a todo
o momento sorria. Declarou que já cometeu mais de um ato infracional e que das medidas
aplicadas cumpriu o que lhe foi imposto até ter completado 18 anos, quando foi liberado da
internação. Em relação à nova prisão se deu pela acusação de roubo, onde foi preso em
flagrante.
Informou que seus pais são divorciados e que sempre morou com sua avó, a
qual é muito brava, na cidade de Campo Largo. Em relação ao colégio, tinha dificuldades e
vários problemas e que não estava estudando porque tinha que trabalhar. Em relação ao
trabalho, informou ser auxiliar de pedreiro e sobre o fato de ter vícios, o participante esclareceu
que bebe, fuma cigarro e fumava machona.

Local: As entrevistas referentes aos participantes 1,2,3, 4, 5 e 8 ocorreram no município de


Campo Largo/PR, sendo em especial as cinco primeiras nas residências dos participantes e a
entrevista do participante 8 ocorreu nas dependências da Delegacia da Polícia Civil. A
entrevista do participante 6 ocorreu na residência dos avós maternos no município de
39

Piraquara/PR, e a entrevista do participante 7, ocorreu no município de São José dos


Pinhais/PR, nas dependências do CDP de São José dos Pinhais – PR.

Instrumentos: Os dados que foram objeto de busca na etapa 2, foram coletados por meio da
entrevista semiestruturada e o IEP (Gomide, 2006).
A entrevista semiestruturada (Anexo F), oportunizou a possibilidade da coleta
com as informações em relação aos entrevistados, especificando: se estudava a época do ato
infracional; se estuda atualmente; se mora com os pais; qual a situação conjugal atual dos pais;
se na família teve problemas; se na escola teve problemas; se na vida social, teve problemas; se
possui ou já possuiu vícios; se trabalha atualmente; se trabalhava na época do ato infracional;
quais os atos infracionais cometidos; qual o local do cometimento do ato infracional; se é
reincidente; qual a medida socioeducativa aplicada ao ato infracional; se cumpriu toda a medida
socioeducativa e se a família acompanhou o cumprimento da medida socioeducativa. O IEP
(Gomide, 2006) avalia o estilo parental, ou seja, as estratégias e técnicas utilizadas pelos pais
para educar os filhos, por meio de sete práticas educativas, sendo cinco vinculadas ao
desenvolvimento do comportamento antissocial: negligência, punição inconsistente, disciplina
relaxada, monitoria negativa e abuso físico; e duas relacionadas ao desenvolvimento de
comportamentos pró-sociais: comportamento moral e monitoria positiva.

Procedimento: O contato inicial, com os seis primeiros participantes, para agendamento das
visitas ocorreu por telefone, visto que eram os números que se encontravam atualizados no
cadastro do sistema judiciário. A localização dos participantes 7 e 8 se deu ao momento em
que se buscava dados sobre a reincidência dos adolescentes após completarem 18 anos de idade,
pois nestes dois casos os participantes estavam cadastrados junto a Vara Criminal da comarca
de Campo Largo/PR. O participante 7 estava preso no CDP de São José do Pinhais/PR e o
participante 8 estava preso na Delegacia da Polícia Civil do Município de Campo largo/PR.
No momento das visitas, aos participantes primeiramente foi esclarecido
sobre a pesquisa e os instrumentos a serem respondidos. Quando concordavam em participar,
lhes era apresentado o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Anexo G) no qual foi
solicitada sua assinatura. A coleta de dados consistiu na realização de entrevistas individuais
com os participantes e suas mães/mãe social, todas documentadas.
Todos os participantes responderam à entrevista semiestruturada e quando
possível, em quatro dos casos, foi solicitado aos seus pais e/ou responsáveis legais que
respondessem o IEP (Gomide, 2006). Os instrumentos foram respondidos nos locais em que
40

ocorreram as entrevistas, sendo que em seis dos casos nas casas dos pais e responsáveis e em
dois dos casos nas unidades em que se encontravam presos.
O acompanhamento das respostas se deu pelo pesquisador e pelos estagiários
do Curso de Psicologia devidamente treinados pela orientadora da pesquisa. O pesquisador
participou somente do momento em que respondiam à entrevista semiestruturada, já ao
responderem ao IEP (Gomide, 2006), os participantes 1, 2, 3, e 4, o acompanhamento foi
realizado em específico pelos estagiários, tendo em vista as particularidades envolvidas do
campo da psicologia.
Os participantes 7 e 8, pelo fato de estarem presos, nas condições do regime
fechado de prisão, foi possível somente que respondessem a entrevista semiestruturada. O
participante 7, preso no CDP, as respostas se deram em sala própria para entrevista, parlatório,
estando o entrevistador e o participante separados por um acrílico transparente e conversando
por interfone. No caso do participante 8, preso na Delegacia de Polícia, a entrevista se deu em
uma antessala, localizada no corredor de acesso as celas, onde o pesquisador e o entrevistados
ficam separados pelas grades e conversam diretamente. De forma a entender as particularidades
de cada caso, faz-se a descrição individual de cada entrevista.
Ao responderem aos instrumentos, os entrevistados podiam questionar caso
não compreendessem as perguntas e as respondiam oralmente. As entrevistas com os
participantes e os familiares ocorreram de forma individual, visando a respeitar a integridade e
o sigilo das informações e ainda evitar que uma das partes se sentisse constrangida no momento
de responder. As entrevistas que ocorreram nas residências se assemelharam pelo fato de
pertencerem a classes sociais próximas, sendo classe média baixa, onde residiam em bairros
afastados, da periferia ou até mesmo em terreno de invasão.

Análise de Dados: Para proceder à análise dos dados obtidos, fez-se a leitura dos instrumentos
confeccionando-se planilhas que foram reproduzidas na etapa 2 da presente pesquisa de forma
a facilitar a leitura e interpretação dos os dados.
Com as entrevistas se realizou o levantamento dos elementos que
acompanhavam os adolescentes ao tempo da prática do ato infracional e na atualidade, sendo a
situação escolar, laboral, familiar, afetiva e infracional. Ao final, realizou-se a análise conjunta
das etapas, para assim buscar elementos conclusivos sobre as consequências advindas das
socioeducativas aplicadas.
41

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Etapa 1

Casos procedentes do sistema PROJUDI

Nesta etapa, foram analisados os 80 procedimentos em que os adolescentes


foram representados. Todas as informações são as constantes no cadastro do sistema PROJUDI.

Idade

Os dados relativos às representações oferecidas são contra adolescentes


infratores entre 13 e 17 anos, conforme tabela 2, e demonstram um crescente contínuo que
segue a idade, sugerindo uma espiral evolutiva dos atos infracionais representados que
acompanha as faixas etárias a partir dos 13 anos até chegar ao seu ápice, na idade de 17 anos.
Assim, as representações contra adolescentes e jovens protagonistas de comportamentos
infracionais, considerando a distribuição de representações segundo a faixa etária, assumiram
a configuração a seguir:

Tabela 2
Idade na época dos fatos
Idade f %
13 2 2,5
14 7 8,8
15 10 12,5
16 19 23,8
17 42 52,5
Total 80 100,0

Escolaridade
Ao se analisar os dados da tabela 3, onde se demonstra o nível de instrução
dos adolescentes infratores, verifica-se que esta é baixa. Com base nos dados, quase 76,3 %
possui apenas o Ensino Fundamental e o restante com o Ensino Médio incompleto. Tal aspecto
contribui para a vulnerabilidade, uma vez que deixam de frequentar os bancos escolares e
receberem instrução e preparo para a convivência social e exercício da cidadania como
42

preconiza o Estatuto da Criança e do Adolescente em seu artigo 53, caput e o artigo 205 da
CF/88.
Por vezes, buscam-se respostas milagrosas para a questão da educação, mas
se esquecem que no mínimo se faz a simples manutenção do adolescente dentro do colégio.
Com isto, as oportunidades estarão muito mais próximas, o adolescente estará próximo e aí sim,
as atividades poderão ser eficazes, trazendo resultados inesperados e surpreendentes. A
orientação educacional representa um enorme avanço no combate e na prevenção dos
adolescentes em conflito com a lei que se encontravam fora da escola quando da prática
infracional.
O estatuto da Criança e do Adolescente preconiza que no momento do
cumprimento da medida socioeducativa, deve-se ter o acesso à educação formal. Ademais, o
ECA estabelece que se os jovens estiverem fora da escola o responsável pela orientação da
medida deverá encaminhá-los para o ensino formal.

Tabela 3
Escolaridade
Escolaridade f %
Fundamental Incompleto 61 76,3
Médio Incompleto 18 22,5
Desconhecido 1 1,3
Total 80 100,0

Vícios

Os adolescentes infratores, ao momento de suas declarações na Delegacia de


Polícia ou em Juízo, indicaram ter algum tipo de vício. Os tipos de situações que foram
apontadas como vícios, enquadram-se dentro da categoria de situações que causam
dependência, tais como cigarro, bebidas e drogas. Na adolescência, a vulnerabilidade e o
desconhecimento da extensão dos danos que um vício pode causar vêm de encontro com os
dados presentes, uma vez que é alto o número de adolescentes expostos a algum tipo de vício.

Infração

Com relação à prática de ato infracional, conforme se verifica na tabela 4,


aparecem em primeiro lugar os crimes contra o patrimônio com violência (roubo), Tem-se um
43

percentual de 42,5% do total de crimes, ou seja, quase metade do total apurado. O tráfico de
drogas vem em segundo lugar, pois apresentou o percentual de 41,3% do total apurado no
período pesquisado. Segundo o diagnóstico, o tráfico de drogas e o roubo figuram como as
infrações mais cometidas, o percentual total é preocupante, uma vez que alcançou índice total
de 83,8%, ou seja, as duas infrações somadas se tornam praticamente a maioria absoluta.

Tabela 4
Infração
Infração f %
Roubo 34 42,5
Tráfico 33 41,3
Estupro 5 6,3
Homicídio 4 5,0
Furto 1 1,3
Lesão Corporal 1 1,3
Facilitar Fuga e Dano 1 1,3
Violência Doméstica 1 1,3
Total 80 100,0

Medidas Socioeducativas

Conforme a tabela 5, constam-se variadas modalidades de medidas


socioeducativas, sendo que a maioria dos adolescentes, 45% estava cumprindo a medida de
Liberdade Assistida e 28,8% medida de internação. Ainda em 13,8 dos casos, houve a remição
e em 3% dos casos os adolescentes foram absolvidos. Constatou-se também, casos em que o
procedimento não chegou a ter sua finalização, pois em 1,3 dos casos houve a extinção durante
o andamento e em 5% dos casos a extinção ocorreu pela maioridade. Ainda, 2,5% dos casos
encontram-se em andamento.
No momento da aplicação de uma medida socioeducativa o juiz deve estar
atento a esta ser a mais adequada ao ato infracional e às necessidades pedagógicas específicas
do adolescente, sempre observando os princípios norteadores dos direitos da Criança e do
Adolescente. Assim, considerando que a medida de Liberdade Assistida e a de Internamento
como sendo as mais severas, quando confrontados com a idade, verifica-se que os adolescentes
mais novos tendem a praticar infrações mais leves e o grau de severidade da infração aumenta
progressivamente, conforme a idade.
44

Tabela 5
Medidas Socioeducativas
Medidas Socioeducativas f %
Liberdade Assistida 36 45,0
Internação 23 28,8
Remição 11 13,8
Processo em Andamento 2 2,5
Absolvição 3 3,8
Extinção durante o andamento 1 1,3
Extinção maioridade 4 5,0
Total 80 100,0

Status - Cumprimento Das Medidas

Com a tabela 6, constata-se que 41,3% dos procedimentos estavam com o


status arquivado, que 12,5% dos procedimentos estavam em andamento, que 11,3% dos
procedimentos se encontravam com o status de o adolescente estar internado cumprindo a
medida, e por fim, 1,3% dos procedimentos tinham seus status desconhecidos e somente em
12,5% dos casos os adolescentes não cumpriram as medidas importas. Os dados sobre o status
das medidas demonstram que 65,1% teve sucesso em seu poder coercitivo, ou seja, foram
cumpridas ou estavam em andamento.

Tabela 6
Status – Cumprimento das medidas
Status F %
Arquivado 23 41,3
Não cumpriu 25 31,3
Andamento 10 12,5
Internado 9 11,3
Não se apresentou a audiência 1 1,3
Desconhecido 1 1,3
Falecimento 1 1,3
Total 80 100,0

Reiteração

Para se configurar a reiteração na prática de atos infracionais, não se exige


número mínimo e nem que seja ato da mesma ordem, basta que o adolescente pratique mais de
45

um ato infracional. Destaca-se que, não existe fundamento legal para essa exigência, basta
simplesmente a constatação. Com a análise dos casos, se verifica que o número de reiterações
ainda na adolescência foi de 51%.

Sexo

O resultado em relação ao sexo evidencia a prevalência absoluta da população


masculina em relação à feminina, na proporcionalidade de 95% para apenas 5%,
respectivamente. Esta desproporção quantitativa entre meninos e meninas no panorama do
adolescente em conflito com a lei, possui razão global não apenas como um indicador
ressonante da conjuntura social, mas, também por constituir-se de demanda histórica da
sociedade. Assim, o ato infracional, enquanto subproduto da criminalidade traz em si uma
predominância masculina.
46

Etapa 2

Dados obtidos por meio das Entrevistas e IEP (Gomide, 2006)

Nesta etapa foram entrevistados oito adolescentes selecionados dentre os 80


casos em que houve representação, sendo todos maiores de idade e capazes com idade entre 18
e 20 anos. Estes eram os únicos que possuíam telefones ativos, possibilitando contato para o
agendamento das entrevistas. Dos instrumentos, a entrevista semiestruturada foi realizada em
todos os casos, já o IEP (Gomide, 2006) foi utilizado em 4 dos casos, sendo com os participantes
1, 2 e 4, conjuntamente entre os participantes e suas mães e no participante 3 somente com a
mãe.

Tabela 7
Dados obtidos na Entrevista Semiestruturada
Participante Idade Escolaridade Moradia Trabalhava Trabalha Reincidente
familia infrac.
1 18 Fund. Incompleto não não sim sim
2 19 Fund. Incompleto não sim sim não
3 18 Fund. Incompleto sim não não não
4 19 Fund. Incompleto sim não sim não
5 18 Médio Incompleto sim não sim não
6 18 Fund. Incompleto não não sim sim
7 20 Fund. Incompleto não sim não sim
8 19 Fund. Incompleto não não sim sim

Escolaridade

A tabela 7 demonstra que o nível de instrução dos participantes é baixo,


constatando-se que sete dos participantes possuem o ensino fundamental incompleto e um
deles, ensino médio incompleto. Os dados apresentados se somados ao gráfico referente à
reincidência, confirma os estudos em que um nível baixo de escolaridade atua como um fator
de risco e, inversamente, um nível alto atua como fator de proteção (Kauffman, 2001). Uma
preocupação ao momento da reinserção no mundo educacional é o histórico de conflitos e
estigmatização por de terem estado em conflito com a lei. É consenso que os adolescentes em
conflito com a lei buscam consequências imediatas para seus comportamentos (Patterson, Reid
& Dishion, 1992). Assim, outro fator importante vem quando se consegue que os adolescentes
47

sejam inseridos no meio educacional, pois este compromisso é de longo prazo, e envolve a
obrigação de seguir regras (atividades acadêmicas), o que não se torna muito atrativo,
dependendo da estagnação do adolescente.

Moradia com a Família

De forma imediata não se pode afirmar um fator que aponte que o fato de
morar com a família seja fundamental para aproximar o adolescente da vida educacional e
afastá-lo dos conflitos com a lei. Mas com a análise da tabela 7 se verifica que cinco dos
participantes não moram dentro do âmbito familiar, ou seja, com os pais. Em relação aos três
casos em que os participantes moram com a família, destaca-se o fato de eles não serem
reincidentes, o que aponta a possibilidade de que a proximidade e bom relacionamento com a
família venha a afastá-los da prática de atos infracionais.

Trabalho na Atualidade

A questão de subsistência, muitas vezes elevada ao patamar de sobrevivência,


faz com jovens abandonem o âmbito escolar no intuito de ajudar a família na constituição de
renda, isso se comprova ao momento que se verificam os dados e se constata conforme a tabela
7, que seis dos entrevistados estão trabalhando. Fatores como a precariedade financeira e social
em que a sociedade se encontra, acarreta no alto índice de desemprego, fator este que pode
exercer influência no envolvimento dos jovens com os atos infracionais.
As facilidades muitas vezes falsamente apresentadas aos adolescentes,
acabam por ludibriá-los e assim, praticamente os aliciando na busca do dinheiro de forma fácil.
O tráfico de drogas e o crime organizado representam uma das formas mais expressivas deste
exemplo, tanto que pode ser confirmado pelos dados obtidos quando analisados os tipos de atos
infracionais, conforme a tabela 4, onde este tipo de ato infracional foi responsável por 41,3%
dos casos analisados.
O tráfico se torna o meio de ganhar a vida para muitos adolescentes que
muitas vezes acabam por garantir o sustento da família. Compromissar-se com uma atividade
laboral implica em lidar com consequências alongo prazo, além de envolver o comportamento
de seguir regras, o que se apresenta de forma precoce na vida dos adolescentes que ainda
deveriam estar se formando educacionalmente.
48

Tabela 8
Conflitos em família, escola e sociedade
Participante Familiares Escola Sociais
1 sim sim sim
2 sim sim não
3 não sim sim
4 sim não não
5 não não não
6 sim sim não
7 sim sim sim
8 sim sim sim

Problemas Familiares

A família é o fundamento central no processo de desenvolvimento de uma


criança e de uma adolescente, devendo esta proporcionar condições de qualidade de vida em
suas condições de criação, tarefas de sustento, guarda e educação de seus filhos (Gomide, 2004).
Conforme tabela 8, seis dos participantes reconheceram que viviam em um ambiente
conflituoso. O adolescente é produto do meio em que vive, assim, ser criado dentro de um
mundo que envolve humilhação, privações, violências de diversos tipos, abandono familiar e
falta de perspectivas, consequentemente repercutirá na prática de atos conflitantes.

Sobre este tema, destacam-se as inúmeras formas de violência às quais estes


jovens são submetidos, pode-se citar principalmente a violência emocional, vivenciada dentro
da própria família, onde os adolescentes são humilhados, insultados, coagidos, ameaçados e/ou
quando presenciam atos violentos. Mioto (2001) destaca que os atos infracionais podem ser
entendidos como expressão das dificuldades vividas pelas famílias no seu curso de vida.

Problemas na Escola

A tabela 8 demonstra que seis dos participantes reconheceram que


vivenciavam conflitos na escola, assim, identifica-se mais uma característica comum na vida
dos adolescentes que se envolvem em conflito com a lei. Desta forma, a questão dos conflitos
vem a se somar com os vários fatores que contribuem para aumento do índice de adolescentes
que deixam a escola, sendo reprovações, falta de incentivo para aprender e até mesmo a
limitação para compreenderem o sentido dos conteúdos.
49

As Diretrizes Nacionais para Educação Especial na Educação Básica


(resolução 2/2001 da Câmara da Educação Básica do Conselho Nacional de Educação)
expressam que a ação da educação especial deve abranger não apenas as condições, disfunções,
limitações e deficiências, mas também aquelas não vinculadas a uma causa orgânica específica,
considerando que, por dificuldades cognitivas, psicomotoras e de comportamento, alunos são
frequentemente negligenciados ou mesmo excluídos dos apoios escolares (Brasil, 2001). Diante
de tal situação, constata-se que embora exista uma diretriz para inclusão dos adolescentes em
conflito com a lei, faltam ainda políticas que orientem os adolescentes que não conseguem lidar
com situação de adaptação.

Problemas na Vida Social

A questão de conflitos em sociedade, conforme a tabela 8, do total de


participantes, quatro reconheceram que tiveram problemas na adolescência, destacando que
dentre as situações apareciam desde provocações até atitudes agressivas, sendo verbais ou
físicas. A Constituição Federal de 1988, em seu artigo 227, estabelece que “é dever da família,
da sociedade e do Estado colocar os adolescentes a salvo de toda forma de negligência,
discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão”. Toda esta preocupação está no
fato de que os adolescentes podem refletir a violação de direitos que sofreram, existindo assim
a pré-disposição no envolvimento com a criminalidade (Feldman, 1977).

Veronese (1998, p.10), destaca sobre a violência que “todo o corpo social se
orienta na concepção do perigo que representam os indivíduos. E isso resulta na segregação, na
remoção simplista de pessoas que, de algum modo, desrespeitaram as normas sociais”. Não se
questiona a urgência em se adotar políticas que venham garantir segurança a todos, no entanto,
deve-se pensar quais as providências seriam necessárias para dar eficácia a este direito.

Análise específica dos casos em que se respondeu ao IEP

A amostra foi composta por quatro das oito famílias que foram selecionadas,
tendo em vista que somente nestes casos é que se teve a concordância de responder ao IEP
(Gomide, 2006). Dentre os quatro casos selecionados, em três, participantes 1, 2 e 4, foi
respondido o IEP (Gomide, 2006) pelo participante e pela pessoa responsável presente (mãe ou
50

mãe social), e em um dos casos, participante 3, o IEP (Gomide, 2006) foi respondido somente
pela mãe, tendo em vista a não manifestação voluntária do adolescente.
Os participantes, todos do sexo masculino, tinham idade variando entre 18 e
20 anos, média de 18 anos e 5 meses, todos não estão estudando atualmente. Na atualidade, o
participante 1 mora separado da família, mas juntamente com uma companheira, o participante
2 mora com a mãe social e os participantes 3 e 4 moram com os pais.

Tabela 9
IEP Total - Todos os participantes
Comportame

Inconsistente

Abuso Físico
Participante

Negligência
Monitoria

Monitoria
Disciplina
nto moral

IEP Total
Relaxada

Negativa
Punição
positiva

m – a m – a m – a m – a m – a m – a m – a m – a
1 10(3) 8(4) 7(4)9(3) 4(3) 6(4) 4(4) 8(4) 10(4) 11(4) 7(4) 4(2) 1(4) 0(4) -9(4) -12(4)
2 11(2) 12(2) 12(1)12(1) 3(2) 4(3) 3(3) 3(3) 3(3) 3(3) 6(3) 8(4) 1(3) 7(4) 7(2) -1(4)
3 10(3) - 11(2) - 1(1) - 8(4) - 4(3) - 10(4) - 7(4) - -9(4) -
4 10(3)10(3) 12(1) 11(2) 4(3) 3(3) 4(4) 4(4) 5(3) 2(3) 6(3) 7(3) 7(4) 2(4) -4(4) 3(3)
(1) Ótimo (2) Bom Acima da Média (3) Regular Abaixo da Média (4) De Risco

Práticas educativas positivas

Monitoria Positiva

A monitoria positiva identifica-se por ser o conjunto de atos no contexto


familiar, pelo qual os pais dispensam cuidados para seu filho, de forma a zelar pelas atividades
da criança. Gomide (2006, p.9) destaca que o conceito envolve atenção para a localização dos
filhos e prestar o afeto e o carinho pelos pais, inclusive nos momentos de necessidade da
criança. Para a ocorrência da monitoria positiva torna-se fundamental a participação de forma
amorosa dos pais, buscando sempre informações por meio da comunicação, fato que evitaria
excesso de vigilância e controle (Gomide, 2006).
Em relação aos participantes 1,2 e 4, conforme tabela 9, mostra-se que a
monitoria positiva esteve abaixo da média, fator que demonstra que o contato dos pais para com
os filhos não se deu de forma adequada. Além de não estar na forma ideal, com toda certeza, a
falta de carinho fez com que o afastamento ocorresse entre as partes, ocasionando assim falta
de controle dos pais além da não adequada socialização dos filhos.
51

As medidas socioeducativas, pelo seu poder impositivo, têm o poder de


trabalhar valores que se perderam durante o processo de desenvolvimento pessoal do infrator.
Mas conforme apontado nos casos, o problema familiar já ocorre em decorrência da relação
familiar, assim por mais severas que as medidas sejam em nada se trará resultados positivos,
pois aqueles que deveriam ser os maiores fiscais sobre os caminhos dos filhos, se apresentam
com atos muito falhos. Com toda certeza, não se pode esperar que em um ambiente
desestruturado, sem acompanhamento apropriado, sem condições de socialização esses
adolescentes possam tornar-se pessoas melhores com a capacidade de sua ressocialização na
sociedade.

Comportamento Moral

O comportamento moral, perante certa sociedade, é o momento em que se


identifica na pessoa valores adequados frente a sua postura. A exemplo, pode ser citado o senso
de justiça, ou seja, distinguir o que é certo do que é errado dentro de uma situação e posicionar-
se corretamente. Ainda, realizar espontaneamente em suas ações atos de honestidade,
generosidade, empatia, arrependimento, dentre outras mais. Neste momento, destaca-se que os
pais são “moldes morais” na formação dos filhos, pois por mais que os repreendam com
palavras, estes sempre seguirão as condutas que provem de seus pais (Gomide, 2004).
A tabela 9, demonstra que os participantes 2, 3 e 4 no comportamento moral,
mostrou-se, no mínimo, acima da média, em relação ao participante 1, de risco. Ao momento
em que não se tem um “modelo positivo”, não se pode exigir o desenvolvimento do
comportamento moral adequado dos filhos. Com isto, como se pode criar credibilidade em
valores como a educação pessoal, trabalho, empatia, justiça, ética e reconhecimento de culpa
nos filhos se dentro de seus maiores exemplos, não se revelam estas práticas.

Práticas Educativas Negativas

Punição Inconsistente

A punição inconsistente caracteriza-se pela forma incorreta da punição.


Gomide (2004, pag.27) destaca como exemplo o humor instável, no qual dependendo do
momento, a forma e a intensidade da punição podem variar. Assim, a inconstância nas respostas
52

aos atos dos filhos criará incerteza no menor em como agir e o receio criando um distanciamento
ou até mesmo o oportunismo de interagir somente em momento propício. Outro fato
preocupante é a permanência do comportamento indesejado, vez que ora é punido, ora não, pois
os filhos que sofrem a punição inconsistente tendem a ter maior dificuldade em discriminar o
certo e o errado, o que ocasiona uma formação de valores morais distorcida, pois o conceito
não é aprendido e sim a situação em que ele deve ser aplicado (Gomide, 2006).
A punição inconsistente, nos casos da tabela 9 mostra-se como um fator
preocupante, pois se faz presente e consolidada no âmbito familiar, com isto, mostra-se que a
punição não é utilizada da forma correta. Diante de todos os problemas que se apresentam
constantemente, torna-se difícil controlar o humor, mas ao momento das práticas educativas
não se deve deixar ser influenciado ou ser volúvel quando da tomada de decisões importantes,
ainda mais quando estas dizem respeito a instituição de limites aos filhos. A “punição”
adequada terá como maior consequência o aprendizado de que seu ato foi adequado ou
inadequado.

Negligência

O termo negligência traz o sentido de desleixo, descuido, falta de zelo, falta


de cuidado ao realizar determinada tarefa. Assim, no momento em que a interpretamos dentro
do contexto familiar, em especial na criação dos filhos, vê-se que os pais negligentes são
aqueles que agem com irresponsabilidade frente ao compromisso de criar os filhos. Gomide
(2004, p.69) destaca que as crianças negligenciadas comportam-se deforma apática ou
agressiva, sendo tais comportamentos supostamente promovidos pela relação de pobre apego
dos pais para com as crianças e que este é um dos principais fatores, senão o principal, a
desencadear comportamentos antissociais.
Diante de todos os casos apresentados, conforme a tabela 9, a negligência
aparece com dados preocupantes, pois praticamente na maioria dos casos a classificação foi de
situação “de risco”. Ao relacionar com o objetivo da pesquisa, conclui-se que a negligência é
considerada um dos principais fatores, não sendo determinante, mas que contribuiu para a
ocorrência dos comportamentos antissociais.
Outro fato de importância relacionado é que a negligência, é uma das espécies
oriundas do gênero “maus-tratos” (Rocha, 2012), o qual pode causar graves prejuízos no
desenvolvimento da pessoa seja, moral físico, sexual, educacional. O Código Penal no art. 36
tipifica a questão dos "maus-tratos" como o momento em que há a exposição a perigo da vida
53

ou saúde de quem esteja sob a autoridade, guarda ou vigilância, para fim de educação, ensino,
tratamento ou custódia. Assim, além de os pais estarem omissos nas responsabilidades de
criação, estão cometendo crimes constantes e permanentes contra seus próprios filhos.

Disciplina Relaxada

A disciplina é conhecida por ser a submissão ou respeito às regras, às normas,


àqueles que são superiores, ao momento que ela se torna relaxada ocorrerá o desrespeito, o não
cumprimento das regras estabelecidas. Por Gomide (2004, p.14) a disciplina relaxada é
caracterizada pelo não cumprimento de regras estabelecidas, onde os pais ameaçam e quando
se confrontam com comportamentos opositores e agressivos dos filhos se omitem, não fazendo
valer as regras.

Ao analisar a tabela 9, identifica-se que a disciplina relaxada em relação aos


participantes 2, 3 e 4 é constante e estando abaixo do que seria uma média aceitável, em relação
ao participante 1, a situação demonstra-se no patamar de risco. Se os pais, com frequência,
estabelecem regras e não as fazem cumprir, a criança desenvolverá basicamente três tipos de
atitudes: a primeira é a aprendizagem de que regras não são para serem cumpridas; a segunda
é a possibilidade de se desrespeitar a autoridade e a terceira é aprender a manipular
emocionalmente a situação para não cumprir as regras estabelecidas (Carvalho &Gomide,
2003).

Monitoria Negativa

A monitoria negativa, também chamada de “supervisão estressante”, se


caracteriza pelo excesso de fiscalização dos filhos e a repetição constante das regras, que os
filhos não seguem ou respeitam, fato que vem a criar falta de diálogo, clima entre pais e filhos
de hostilidade e de estresse, acarretando no fato de os filhos tentarem proteger sua privacidade
evitando falar sobre suas particularidades (Gomide, 2004). Com a análise da tabela 9, em todos
os casos existia dentre os participantes a monitoria negativa.

A monitoria negativa vai de encontro a monitoria positiva, consolidando que


ao invés de os pais dispensarem cuidados no zelar pelas atividades dos filhos, o que se tinha era
a falta de contato e informações ente as partes. Por parte dos pais, ao invés de saber da
54

localização dos filhos, prestar afeto e carinho, tinha-se “o excesso de fiscalização dos filhos e a
repetição constante das regras” e em relação aos filhos a carência nos momentos de necessidade.

Abuso Físico

Dentre as práticas educativas parentais, destaca-se punição física, a qual os


pais utilizam pelo fato de ser eficaz na obtenção de obediência imediata. Quando ocorre a
punição física, se tem a retirada de afeto (técnica disciplinar), assim está se demonstrando a
desaprovação com frieza, desinteresse e desapontamento, podendo ser entendida como uma
forma de punição pelo ato praticado. A lei não trata de maneira apropriada a questão da
repreensão física, enquanto prática educativa, assim este momento merece todo cuidado, pois
o ato deve ser controlado e visando atingir o comportamento errado da criança que se quer
modificar e não se tornar um abuso físico (Gomide, 2004).
O abuso físico é o momento em que os pais acabam por ferir e/ou magoar os
filhos fundamentados no fato de que estão “educando (corrigindo)”, mas identifica-se que nesta
situação se tem um excesso tanto nos atos físicos quanto na exacerbação dos sentimentos. Neste
momento, o abuso físico equipara-se à negligência, pois perde-se a conotação de ser uma
punição física entrando em uma das espécies oriundas do gênero “maus-tratos”, art. 36 do CP
(Rocha, 2012). Outra modalidade em que o abuso físico pode se enquadrar é a de lesão corporal,
visto a ocorrência da ofensa à integridade corporal ou à saúde de outrem, sendo esta com
aumento de pena pelo fato de ser contra descente, conforme estabelece o art. 129, § 9º do CP.

O abuso físico, conforme tabela 9, em todos os casos apresentou-se no


patamar “de risco”. Nota-se que ao corrigir pela punição física, nos casos apresentados, os
educadores perderam e ultrapassaram os limites da razão, cometendo abusos. Neste momento,
não pode deixar de destacar que os pais além de não estarem educando, estão criando um
problema ao desenvolvimento dos filhos e cometendo crimes.

IEP Total

O IEP (Gomide, 2006) respondido é o instrumento composto de 42 questões,


abordando duas práticas educativas positivas e cinco negativas. O Índice de Estilo Parental é
extraído no momento em que se somam os pontos das práticas positivas (monitoria positiva e
comportamento moral) e que são subtraídos da somatória das práticas negativas (punição
55

inconsistente, negligência, disciplina relaxada, monitoria negativa e abuso físico). O índice


quando negativo informa a prevalência de práticas educativas negativas e quando positivo a
presença de práticas positivas no processo de educação.

De acordo com a tabela 9, se constatou nos casos1, 2 e 4, que a resposta do


IEP (Gomide, 2006) se deu nos participantes e nas mães, já no caso 3, quem respondeu o
instrumento foi somente a mãe do participante. Destes, identificou-se que nas mães dos
participantes 1, 3 e 4 os escores foram negativos, já no caso dos participantes os escores foram
negativos nos casos 1 e 2. Ao se cruzarem as informações, destaca-se que em todas as famílias
foram identificadas práticas educativas negativas e em conformidade com a literatura neste
momento, se aponta que as famílias onde se tem práticas educativas negativas apresentam, via
de regra, comportamentos antissociais (Gomide, 2006).

Se for realizado o confronto destes dados com os constantes nas tabelas 7 e


8, dá-se razão à literatura existente. Pois, conforme tabela 7, é constatado o baixo desempenho
escolar e conforme tabela 8, os conflitos (comportamentos antissociais) familiares, escolares e
sociais são frequentes.

Atos Infracionais e as Medidas Socioeducativas

Tabela 10
Ato Infracional
Participante Ato Reincidência Medida Status Acompanhamento
Infracional Socioeducativa Cumprimento Familiar
1 Roubo sim internação sim sim
2 Estupro não absolvição - -
3 Roubo sim liberd. assistida não sim
4 Tráfico não liberd. assistida sim sim
5 Tráfico não liberd.assistida sim sim
6 facilit. fuga sim liberd.assistida não não
7 Roubo sim internação não não
8 Roubo sim internação não sim

A tabela 10 demonstra que dos oito casos participantes, sete tiveram


procedência na representação, onde acabaram por receber medidas socioeducativas e em um
dos casos o participante foi absolvido da representação. Dentre os sete casos de procedência,
em quatro os participantes acabaram por receber a medida socioeducativa de “liberdade
56

assistida” e em três dos casos os participantes receberam a medida socioeducativa de


“internação”.
O Juiz da Infância e da Juventude, ao aplicar as medidas socioeducativas deve
estar atento ao menos a duas circunstâncias, sendo: a primeira à gravidade do delito e a segunda
às condições pessoais do adolescente (personalidade, referências familiares e sociais,
capacidade de cumprir a medida socioeducativa).
Em relação à primeira circunstância, a gravidade do delito, dentro do
princípio da proporção, identifica-se que todas as medidas foram aplicadas seguindo um padrão
legal. Nos participantes 1, 7 e 8, nos quais o ato infracional foi o de roubo, ato no qual embora
seja patrimonial envolve violência contra a pessoa da vítima, a medida aplicada foi a de
internação. Em relação aos participantes 4 e 5 em que o ato infracional foi o de tráfico, que
embora seja equiparado a hediondo, não se tem violência contra a pessoa específica e o bem
jurídico aqui protegido é a “saúde pública”, a medida aplicada foi a de liberdade assistida. Em
específico, no caso do participante 3 embora o ato infracional tenha sido de roubo a medida
aplicada foi a de liberdade assistida, saindo do padrão inicialmente apontado.
A reincidência, conforme tabela 10, ocorreu com os participantes 1, 3, 6, 7 e
8, sendo de cinco do total dos casos da etapa 2. Já o cumprimento integral das medidas aplicadas
ocorreu pelos participantes 1, 3 e 4 sendo três dos oito casos. O acompanhamento da família
durante o cumprimento das medidas socioeducativas impostas, se deu nos casos dos
participantes 1, 3, 4, 5 e 8, ou seja, em 71,4% dos casos.
Ao se realizar o cruzamento das informações, “reincidência x status”, nota-
se que os participantes 3, 6, 7 e 8 acabaram por reincidir e também não cumpriram as medidas
impostas. Em relação a estes participantes, o fator preponderante do não cumprimento da
medida na integralidade foi o fato de terem completado a maioridade penal, sendo assim
liberados. Destaca-se que nos casos 6, 7 e 8 embora as medidas correspondessem na
proporcionalidade em relação ao ato praticado, conforme estabelece o ECA, pelo fato da
interrupção, não tiveram tempo apropriado para trabalhar a medida, o que veio a comprometer
qualquer parecer conclusivo sobre a situação.
Em relação aos participantes 4 e 5, verifica-se a não ocorrência da
reincidência, juntamente aparecem outros fatores que somados contribuem para este resultado.
As medidas aplicadas aos participantes mostraram-se adequadas aos parâmetros estabelecido
pelo ECA e o cumprimento das medidas impostas se deu na integralidade. Outro dado
importante foi que a família acompanhou os participantes enquanto as medidas se efetivavam
e nos dois casos os participantes ainda residem com a família.
57

Quanto ao participante 1, em análise específica sobre seus dados, verifica-se


que embora conte com a reincidência, esta não foi depois do procedimento em análise, pois o
participante teria cometido um ato infracional no qual foi liberado e quando cometeu o segundo,
sendo o caso em análise acabou por ser aprendido e receber a medida de internação. No
procedimento em análise, a medida socioeducativa aplicada mostrou dentro dos parâmetros
estabelecidos pelo ECA e o cumprimento se deu na integralidade. A família realizou o
acompanhamento e embora o participante resida em local distinto, na atualidade constituiu novo
lar e não voltou a reincidir.
58

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Identificou-se que a “problemática” do adolescente em conflito com a lei, tem


vários fatores que influenciam, fato este que reclama uma abordagem intersetorial e
interdisciplinar, quando se busca soluções reais. Com a pesquisa apresentada a constatou-se
uma realidade não aparente aos olhos nus, verificou-se que para a medida socioeducativa ser
efetiva, não depende somente dela, e sim de um conjunto de fatores.
A medida aplicada ao caso concreto pode mostrar-se em certo momento falha
e superada, mas de nada irá adiantar uma punição se a médio ou longo prazo não tratar outros
problemas ensejadores da criminalidade a que os adolescentes estão expostos. Portanto, não
podem as medidas socioeducativas serem compreendidas como o ponto final na batalha contra
a criminalidade. Uma vez que a nossa sociedade é movida pelo sistema capitalista, sempre se
gerará desigualdade social, desemprego, fome e analfabetismo, fatores que abrirão campo para
a violência e a criminalidade.
Com a análise das duas etapas, obteve-se informações como o fato de que dos
casos que chegam ao conhecimento do judiciário e em que houve a representação, obteve-se o
patamar de 90% de responsabilização. Outro fator importante é que em 87,5% dos casos foram
aplicadas medidas socioeducativas e vinham sendo cumpridas, tanto que quando se verificou o
status das medidas o cumprimento estava no patamar de 85% dos casos. Em contrapartida, teve-
se o dado referente à reiteração, o qual demonstrou que em 50% dos casos os adolescentes
voltaram a delinquir.
Diante dos dados se pode obter algumas informações que são válidas quando
analisadas dentro do contexto, tais como os problemas derivados ou que afetam diretamente a
situação escolar, laboral, familiar, afetiva e infracional do adolescente. Com a análise conjunta
das duas etapas concluiu-se que para a eficácia das medidas socioeducativas, de forma que estas
alcancem seus objetivos, deverá o Estado preocupar-se com o trabalho preventivo
precipuamente ao punitivo, pois conforme constatado, alguns adolescentes entraram em
conflito com a lei ainda com 13 anos de idade. O delito é uma raiz instalada no âmbito social e
sua ocorrência também é impulsionada pelas deficiências da própria sociedade, com isto,
independente da forma que a medida socioeducativa possa incidir sobre o adolescente não deve
nunca ser tomada como o único meio de contenção da prática de atos infracionais.
Embora punir não seja a solução recomendável para conter o problema da
criminalidade no meio dos adolescentes, não se pode negar que a medida socioeducativa tem
59

todo seu fundamente voltado a reeducação e reabilitação deste ser humano em


desenvolvimento. Buscando aporte em outras ciências, como a psicologia, se pode enaltecer as
vantagens que surgem da aplicação das medidas socioeducativas frente à prisão. Elas apontam
a uma resposta adequada à gravidade do ato infracional e às condições pessoais do infrator,
reforçando os laços familiares e o senso de responsabilidade, além de impulsionam a renovação
de valores pessoais.
Após a prolação da sentença, mesmo que seja procedente, não se pode admitir
que o Estado, a sociedade, o magistrado, “lavem as mãos” e acreditem que já cumpriram com
seus deveres, voltando às costas ao problema que a adolescência enfrenta. Dados como a baixa
escolaridade e o contato com substâncias que causam dependência química, demonstram a
necessidade de políticas que firmem os direitos dos adolescentes para a manutenção dos valores
sociais que venham a neutralizar os fatores de risco e variáveis presentes no seu dia-a-dia.
Embora os propósitos das medidas socioeducativas, por si só, justificam sua
viabilidade, especialmente se associados a uma política criminal que reverta os próprios valores
da vida social, garantindo-se igualdade e dignidade a todos, indistintamente. Sobre os resultados
não foi possível concluir que nesta amostra as medidas socioeducaticativas cumpram com sua
função pedagógica, ou seja, não obtém o resultado educativo de restauração pessoal e inclusão
social do adolescente. Desta forma, não é com a criação de uma política pública única e
específica, que irá se resolver o problema, mas sim com conversão de esforços e as ações de
inúmeros setores. Para tanto, mostra-se necessária a mobilização do Poder Público, em seus
diversos níveis e da sociedade, para que assim se possa trabalhar está problemática de várias
perspectivas obtendo maiores resultados.
60

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65

ANEXOS
66

Anexo A

Certidão emitida pela Vara da Infância e da Juventude


Procedimentos Especiais de Adolescentes Infratores
67
68

Anexo B
Plataforma Brasil – Aprovação nº 30458914.5.0000.0103
69
70
71
72
73

Anexo C
Carta de Solicitação de Autorização
74
75
76

Anexo D
Decisão Judicial
Autorização junto a Vara da Infância e Juventude da Comarca de Campo Largo – Paraná
77
78

Anexo E
Planilha do Programa SPSS
79
80

Anexo F
Entrevista Semiestruturada
81

E N T R E V I S T A SEMI-E S T R U T U R A D A

PROCESSO DATA
LOCAL VARA DA INFÂNCIA E JUVENTUDE NO MUNICÍPIO DE CAMPO LARGO
NO ESTADO DO PARANÁ / RESIDÊNCIA ADOLESCENTES
PESQUISA A EFICÁCIA DAS MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS EM MEIO ABERTO

Nome:______________________________________________________________________

Idade:____________Estado civil:_______________ Escolaridade:________________

Sexo: ( ) Feminino ( ) Masculino Etnia:_________________________

Endereço:___________________________________________________________________

Estudava a época da ato infracional?

( ) sim ( ) não

Estuda Atualmente?

( ) sim ( ) não, por que? _____________________________________________

Mora com os pais?

( ) sim ( ) não ( ) outros, quem? _____________________________________

Situação atual dos pais?

( ) casados ( ) divorciados

Na família, teve problemas?(ex. conflitos entre com os pais, irmãos)

( ) sim, qual?____________________________ ( ) não

Na escola, teve problemas?(ex. conflitos com professores, colegas, bullying)

( ) sim, qual?____________________________ ( ) não

Na vida social, teve problemas? (ex. brigas na rua, com amigos)

( ) sim, qual?____________________________ ( ) não

Possui ou já possuiu vícios?


( ) sim, quais? ________________________ ( ) não
________________________
________________________
________________________
82

Trabalha atualmente?

( ) sim, onde?_______________________ ( ) não

Trabalhava a época da ato infracional?

( ) sim, onde?_______________________ ( ) não

Quais os atos infracionais cometidos?

____________________________________________________________________________

Local do cometimento do ato infracional?

____________________________________________________________________________

É reincidente?

( ) sim, quais os atos infracionais ( ) não

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

Qual a medida socioeducativa aplicada ao ato infracional?

_________________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________

Cumpriu toda a medida socioeducativa?

( ) sim ( ) não, porque? _________________________________________________

A Família acompanhou o cumprimento da medida socioeducativa?

( ) sim, como?________________________________________________________________

( ) não, por que?______________________________________________________________

Observações:_____________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
________________________________________________________________________________.
83

Anexo G
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
84

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Eu, MARLON CORDEIRO, advogado, aluno do Programa de Pós-Graduação em


Psicologia – Nível de Mestrado – da Universidade Tuiuti do Paraná, sob a orientação da Profª.
Dra. Giovana Veloso Munhoz da Rocha, peço a gentileza de sua colaboração para a realização
de minha pesquisa sobre “A Eficácia das Medidas Socioeducativas aplicadas nos Adolescentes
em conflito com a Lei”. A pesquisa tem por objetivo analisar qual a situação do adolescente
que cometeu alguma modalidade de atos Infracional nos dias atuais e assim constatar se a
medida aplicada obteve resultado efetivo e eficaz. Para a contemplação do trabalho será
necessária a realização da atividade de entrevista dos familiares e do adolescente (atendimento
individual), com a qual será realizado preenchimento de um formulário destinado a identificar
qual a situação atual o adolescente após a aplicação da medida socioeducativa, ao final
transformados os dados obtidos serão transformados em relatórios e dados estatísticos.
O responsável pode ser contatado pelo e-mail marloncordeiro@hotmail.com ou
pelo telefone (41) 9652-6095
Para poder realizar a presente pesquisa é necessário da sua colaboração autorizando
a coleta de dados. Ainda, se poderá interromper sua participação na pesquisa a qualquer
momento, sem que isso lhe acarrete qualquer tipo de prejuízo, contudo, garantimos que não
haverá consequências danosas por sua participação na pesquisa.
Será garantido o total sigilo aos dados aqui obtidos assegurando que o tratamento
dos mesmos será realizado dentro dos princípios éticos que regem os procedimentos em
pesquisa. As informações aqui obtidas serão utilizadas apenas para publicações científicas.
Antecipadamente agradecemos a sua valorosa colaboração que contribuirá para o
desenvolvimento do conhecimento nesta área e sem a qual este estudo não poderia ser realizado.
85

DECLARAÇÃO

DECLARO que fui informado dos objetivos e da justificativa desta pesquisa de


forma clara e detalhada. Sei que poderei obter mais informações durante o estudo e que terei
liberdade de retirar o consentimento de participação na pesquisa, a qualquer momento. Ao
assinar este termo, dou meu consentimento livre e esclarecido, concordando em participar e
em permitir a participação de meu filho/filha nesta pesquisa.

Campo Largo, __ / ____________ / ______.

______________________ _______________________
Assinatura do Adolescente Assinatura do Responsável

______________________
Assinatura do Pesquisador

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