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Sofia Ribeiro Braga Velho

Personalidade e Problemas Interpessoais


Personalidade e Problemas Interpessoais

Sofia Ribeiro Braga Velho


Uminho | 2022

junho de 2022
Sofia Ribeiro Braga Velho

Personalidade e Problemas Interpessoais

Dissertação de Mestrado
Mestrado Integrado em Psicologia

Trabalho efetuado sob a orientação do


Professor Doutor João Tiago Oliveira
e do
Professor Doutor Miguel M. Gonçalves

junho de 2022
DIREITOS DE AUTOR E CONDIÇÕES DE UTILIZAÇÃO DO TRABALHO POR TERCEIROS

Este é um trabalho académico que pode ser utilizado por terceiros desde que respeitadas as regras e
boas práticas internacionalmente aceites, no que concerne aos direitos de autor e direitos conexos.
Assim, o presente trabalho pode ser utilizado nos termos previstos na licença abaixo indicada.
Caso o utilizador necessite de permissão para poder fazer um uso do trabalho em condições não previstas
no licenciamento indicado, deverá contactar o autor, através do RepositóriUM da Universidade do Minho.

Licença concedida aos utilizadores deste trabalho

Atribuição-NãoComercial-SemDerivações
CC BY-NC-ND
https://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/

ii
Agradecimentos

Uma vez finalizada esta etapa, mais uma das grandes etapas da minha vida, não poderia deixar
de expressar o meu mais sincero agradecimento a todas as pessoas que acompanharam ativamente
este longo percurso.
Em primeiro lugar, aos meus orientadores. Ao Professor Doutor João Tiago Oliveira, por ter
oferecido a sua disponibilidade desde o início deste caminho, pela imensa paciência, por todo o trabalho
incansável e por não ter desistido de mim. Ao Professor Doutro Miguel Gonçalves, por me ter acolhido
no seu fantástico grupo de investigação e por ter partilhado o seu vasto conhecimento e experiência. Fico
grata por ter partilhado parte do meu caminho convosco.
Um obrigada muito especial à minha família, aos meus pais, à Cecília, ao Fernando e à minha
irmã Inês, por terem estado sempre na “fila da frente”, por me apoiarem em tudo e por acreditarem em
mim. Foram incansáveis.
A todos os meus amigos, em especial à Catarina, ao Bezerra, à Ana e à Beatriz, que me ouviram,
me motivaram e nunca duvidaram de mim. Um profundo obrigada.
Dedico este trabalho à minha avó Rosa pela pessoa que foi, por todo o apoio que me deu e por
todo o orgulho que sempre teve em mim. Por ter iniciado este percurso comigo e por ter estado presente
durante todo ele, no meu coração.
Tudo isto não seria possível sem vocês, muito obrigada a todos.

iii
DECLARAÇÃO DE INTEGRIDADE

Declaro ter atuado com integridade na elaboração do presente trabalho académico e confirmo que não
recorri à prática de plágio nem a qualquer forma de utilização indevida ou falsificação de informações ou
resultados em nenhuma das etapas conducente à sua elaboração.
Mais declaro que conheço e que respeitei o Código de Conduta Ética da Universidade do Minho.

Braga, 06 de junho de 2022

iv
Personalidade e Problemas Interpessoais
Resumo

A personalidade é uma dimensão amplamente estudada na psicologia nomeadamente no que


concerne à sua influência no contexto social e consequentemente, nas dificuldades existentes no
funcionamento interpessoal. A investigação sugere forte influência de um traço específico na experiência
de problemas interpessoais generalizados, o Neuroticismo. Porém afirmam que todos os traços têm um
papel importante no que diz respeito às relações interpessoais. Posto isto, o presente estudo utiliza uma
amostra de 413 alunos universitários portugueses para perceber quais são as implicações da
personalidade na experiência de problemas interpessoais no contexto relacional. Utiliza o Structural
Summary Method, um método intermédio, para correlacionar os dados obtidos através dos dois
instrumentos chave para este estudo: O BFI-2, para avaliar a personalidade tendo por base o Big-Five
Personality Model e o IIP-32, para avaliar os problemas interpessoais tendo por base o Modelo do
Circumplexo Interpessoal. Os resultados apontam para a presença de fortes qualidades interpessoais em
especial na Extroversão e na Amabilidade, dado o seu excelente enquadramento no circumplexo
interpessoal. Para além disso, confirmam os resultados de estudos prévios na medida em que o
Neuroticismo parece estar em grande parte relacionado com a alta gravidade na experiência de
problemas interpessoais no geral.

Palavras-chave: Big-five; Modelo do Circumplexo Interpessoal; Problemas Interpessoais;


Structural Summary Method.

v
Personality and Interpersonal Problems

Abstract
Personality is a widely studied dimension in psychology, namely regarding its influence on the
social context and, consequently, on the existing difficulties in interpersonal functioning. Research
suggests a strong influence of a specific trait on the experience of generalized interpersonal problems,
Neuroticism. However, they claim that all traits play an important role in interpersonal relationships. So,
the present study uses a sample of 413 portuguese university students to understand the implications of
personality in the experience of interpersonal problems in the relational context. It uses the Structural
Summary Method, an intermediate method, to correlate the data obtained through the two key
instruments for this study: The BFI-2, to assess personality based on the Big-Five Personality Model and
the IIP-32, to assess interpersonal problems based on the Interpersonal Circumplex Model. The results
point to the presence of strong interpersonal qualities, especially in Extraversion and Agreeableness, given
their excellent framework in the interpersonal circumplex. Furthermore, they confirm the results of
previous studies in that Neuroticism seems to be largely related to the high severity in the experience of
interpersonal problems in general.

Key-words: Big-five; Interpersonal Circumplex Model; Interpersonal Problems; Structural


Summary Method.

vi
Índice

Personalidade e Problemas Interpessoais ............................................................................................8


Abordagens de Traço e o Big-Five Personality Model ................................................................8
Modelo do Circumplexo Interpessoal .....................................................................................11
O Big-Five Personality Model e o Modelo do Circumplexo interpessoal .....................................13
O presente estudo ................................................................................................................15
Método …..........................................................................................................................................15
Amostra….............................................................................................................................15
Instrumentos ........................................................................................................................15
Procedimento ......................................................................................................................17
Procedimento de recolha de dados …........................................................................17
Procedimento de análise de dados ...........................................................................18
Resultados .......................................................................................................................................19
Os Big-Five e respetivas facetas e o Circumplexo Interpessoal ...............................................19
Discussão …......................................................................................................................................26
Gravidade geral dos problemas interpessoais ........................................................................26
Especificidade versus Generalidade dos problemas interpessoais ...........................................27
Limitações e orientações futuras ..........................................................................................30
Referências ......................................................................................................................................32
Índice de Tabelas
Tabela 1. Big-Five e respetivas facetas ...................................................................................10
Tabela 2. Parâmetros do Structural Summary Method para os Big-five e facetas (BFI-2) e os
problemas interpessoais (IIP-32), com um intervalo de confiança de 95% .............................................20

Índice de Figuras
Figure 1. Representação Gráfica do Modelo do Circumplexo Interpessoal ..............................12
Figure 2. Parâmetros do Structural Summary Method (amplitude, elevação e disposição
angular) ...........................................................................................................................................19
Figura 3. Intervalos de confiança da Amplitude e Disposição Angular para os Big-five (BFI-2) e
problemas interpessoais (IIP-32) .......................................................................................................24
Figura 4. Intervalos de confiança da Amplitude e Disposição Angular para as facetas dos Big-five
(BFI-2) e problemas interpessoais (IIP-32) ..........................................................................................25
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PERSONALIDADE E PROBLEMAS INTERPESSOAIS

Personalidade e Problemas Interpessoais


O Big-Five Personality Model (Digman, 1990; McCrae & Costa, 1996), e o Modelo do Circumplexo
Interpessoal (Leary, 1957) são duas das abordagens mais utilizadas para estudar o comportamento
humano e as dinâmicas da personalidade (Du et al., 2021). Embora originários de matrizes teórico-
conceptuais distintas e orientados por modelos estruturais diferentes, estes modelos devem ser vistos
como complementares e não como concorrentes, uma vez que as duas abordagens não defendem
perspetivas opostas ou contraditórias acerca da personalidade (Trapnell & Wiggins, 1990). Ambos os
modelos são utilizados numa variedade de estudos com focos e objetivos diferentes nomeadamente no
que concerne aos comportamentos sociais e diferenças individuais, exemplos desses são: a tomada de
decisão (e.g., Byrne et al., 2015; Locke & Adamic, 2012), o bem-estar psicológico (e.g., Vittersø, 2001),
e a satisfação nas relações (e.g., Slatcher & Vazire, 2009; Decuyper et al., 2012). Assim, neste estudo
procuramos explorar as relações entre estas duas abordagens.

Abordagens de Traço e o Big-Five Personality Model


O estudo da personalidade acompanha o desenvolvimento da psicologia, na tentativa de explicar
e prever o comportamento humano. Por esse motivo, são diversas as abordagens que se focam em
conceptualizar e descrever a personalidade (e.g. Cloninger, 2003; Corr & Matthews, 2020; Horowitz &
Strack, 2010). Entre as várias abordagens surgem as abordagens de traço, amplamente utilizadas pelos
investigadores desta área (e.g., Allport, 1937; Cattell & P. Cattell, 1995; Digman, 1990; Eysenck, 1950;
McCrae & Costa, 1992). As abordagens de traço assentam numa perspetiva quantitativa, onde o perfil
de personalidade de um indivíduo pode ser classificado através de uma pontuação, relativamente aos
traços que melhor o descrevem. O traço é assim representado como um construto teórico que representa
uma dimensão básica da personalidade. Este está na base de uma descrição bastante precisa da
personalidade, na medida em que cada traço se foca num conjunto de características específicas
(Cloninger, 2003).
Embora existam diferentes abordagens de traço (e.g., Allport, 1937; Cattell & P. Cattell, 1995;
Digman, 1990; Eysenck, 1950; McCrae & Costa, 1992) todas concordam em dois aspetos: em primeiro
lugar, enfatizam as diferenças individuais nas características concebidas como mais ou menos estáveis
ao longo do tempo e contextos e, em segundo lugar, salientam a possibilidade de quantificar esses traços
através de testes, nomeadamente questionários de autorrelato (Cloninger, 2003). Dentro das abordagens
de traço, o Big-Five Personality Model (Digman, 1990; McCrae & Costa, 1996), destaca-se por ser um
dos modelos da personalidade com maior testagem empírica. Este sugere uma organização hierárquica
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PERSONALIDADE E PROBLEMAS INTERPESSOAIS

dos traços, que permite descrever as diferenças entre os perfis únicos de personalidade. Para esse fim,
serve-se de 5 fatores de ordem superior, os Big-Five – Neuroticismo, Extroversão, Abertura à Experiência,
Amabilidade e Conscienciosidade - correspondendo-lhes, a cada um deles, 6 fatores de ordem inferior,
as facetas, como podemos ver com maior pormenor na Tabela 1.
O Neuroticismo tem como aspeto central a tendência para experienciar afeto negativo. Desta
forma, este traço tem a sua expressão elevada em indivíduos preocupados, nervosos, instáveis e
inseguros emocionalmente, com forte propensão para utilizar estratégias de coping desadequadas e com
necessidades excessivas, nomeadamente dependência dos outros (Costa & McCrae, 1992). Estas
características podem ser verificadas com maior clareza em casos extremos como, por exemplo, em
indivíduos com o diagnóstico de Perturbação de Personalidade Borderline, os quais tipicamente pontuam
alto em todas as facetas do Neuroticismo (Morey et. al, 2002). Níveis altos de Extroversão,
contrariamente ao traço anterior, estão tendencialmente associados à experiência de afeto positivo,
remetendo para indivíduos mais otimistas, alegres e energéticos, que valorizam as interações sociais
(Costa & McCrae, 1992). A Amabilidade, similarmente à Extroversão, é uma dimensão fortemente
relacionada com as tendências interpessoais - indivíduos amáveis são altruístas, prestáveis e dignos da
confiança dos outros (Costa & McCrae, 1985). A Abertura à Experiência, por sua vez, traduz-se em perfis
menos convencionais e tradicionais, marcada por indivíduos curiosos, com grande criatividade e
diversidade de interesses e que prezam a procura de experiências novas (McCrae, 1994). Por fim, a
Conscienciosidade, é um traço que se correlaciona positivamente com o sucesso académico e/ou
profissional, tendo como características centrais a determinação, a organização e a responsabilidade
(McCrae & Costa, 1992).

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PERSONALIDADE E PROBLEMAS INTERPESSOAIS

Tabela 1

Big-Five e respetivas facetas (Digman, 1990; McCrae & Costa, 1996).

Traços: Fatores de ordem superior Facetas: Fatores de ordem inferior


Neuroticismo ansiedade
depressão
hostilidade
impulsividade
autoconsciência
vulnerabilidade
Extroversão calorosidade
gregariedade
assertividade
atividade
entusiasmo
procura
Abertura à Experiência fantasia
estética
sentimentos
ações
ideias
valores
Amabilidade altruísmo
complacência
modéstia
franqueza
sensibilidade
confiança
Conscienciosidade esforço de realização
competência
deliberação
obediência
ordem
autodisciplina
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PERSONALIDADE E PROBLEMAS INTERPESSOAIS

Modelo do Circumplexo Interpessoal


O Modelo do Circumplexo interpessoal (Leary, 1957) surgiu com o intuito de avaliar os traços de
personalidade, na sua vertente relacional, nomeadamente no que concerne aos problemas de
funcionamento interpessoal, tendo ainda em consideração a natureza dimensional da personalidade
(Gurtman & Pincus 2003; Pincus & Ansell, 2003). Tem origem nos trabalhos de Harry Stack Sullivan
(1940, 1953), no ramo do funcionamento interpessoal, em específico na Teoria Interpessoal da
Personalidade (Sullivan, 1953). Sullivan (1953) enfatizava a importância das relações interpessoais para
o desenvolvimento e funcionamento da personalidade. A sua teoria tinha como objetivo último obter uma
taxonomia do comportamento interpessoal, ou por outras palavras, criar categorias que descrevessem
os comportamentos mediante as diferentes interações entre sujeitos (Evans III, 1996). Esta esteve na
base do desenvolvimento de vários modelos empíricos e concetuais para descrever o comportamento
interpessoal (e.g. Modelo do Complementaridade Interpessoal (Carson, 1969); Modelo Circumplexo
Afetivo (Russell, 1980)), como é o caso do Modelo do Circumplexo Interpessoal (Leary, 1957).
Posto isto, o circumplexo interpessoal (Leary, 1957) consiste numa representação gráfica das
diferenças individuais dentro de um leque variado de domínios interpessoais, incluindo traços
interpessoais (e.g., caloroso ou hostil) problemas interpessoais (e.g., frio-distante ou dominante-
controlador), entre outros. É representado através de uma estrutura circular tipicamente definida com
referência a dois eixos ortogonais: O eixo vertical corresponde à dimensão da agência (dominante versus
submisso) e o eixo horizontal representa a dimensão da afiliação (hostil versus amigável) (Kiesler, 1983).
É várias vezes segmentado em 4 quadrantes, hostil-dominante, não hostil-dominante, hostil-submisso e
não hostil-submisso ou, como representado graficamente na Figura 1, este modelo pode ainda ser
dividido em 8 octantes de 45º. Cada uma dessas divisões assume uma combinação diferente entre as
qualidades agênticas e de afiliação, dando origem a diferentes perfis interpessoais (Akyunus et al., 2019).
Os problemas interpessoais vistos à luz do Circumplexo interpessoal podem ser avaliados através
do Inventory of Interpersonal Problems-32 (IIP-32, Barkham et al., 1996) segundo os diferentes octantes:
excesso de auto-sacrifício (LM), intrusivo-dependente (NO), dominante-controlador (PA), vingativo-auto-
centrado (BC), frio-distante (DE), inibição social (FG), falta de assertividade (HI), acomodação excessiva
(JK).
Assim um problema interpessoal, como é o caso de ser excessivamente dominante ou submisso,
frio ou muito dependente dos outros, traduz-se em diferentes tipos de dificuldades relacionais que
caracterizam o funcionamento típico de um indivíduo nos contextos interpessoais (Horowitz, 2004). Os
estudos com base nos problemas interpessoais têm assumido uma diversidade de focos ao longo dos
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PERSONALIDADE E PROBLEMAS INTERPESSOAIS

anos, como é o caso da sua associação com as perturbações de personalidade (Pincus & Wiggins, 1990),
com as perturbações do comportamento alimentar (Hartmann et al., 2010), o perfecionismo (Stoeber et
al., 2021) ou com as diferenças de género e idade (Akyunus et al., 2021). O estudo de Pincus e Wiggins
(1990) mostra que há associações entre os diferentes tipos de perturbações de personalidade e os
diferentes problemas interpessoais. Por exemplo, Hartmann et al. (2010) sugere que a existência de
perturbações do comportamento alimentar se associa à experiência de problemas interpessoais no geral.
A investigação de Stoeber et al. (2021) indica que os três tipos de perfecionismo se enquadram em
octantes diferentes do circumplexo interpessoal, o que indica que se relacionam com diferentes
problemas interpessoais entre eles. Por último, a investigação de Akyunus et al. (2021) sugere que o
género tem influência no tipo de problemas interpessoais experienciados, sendo que o género masculino
se posiciona no quadrante hostil-dominante comparativamente ao género feminino.

Figura 1
Representação Gráfica do Modelo do Circumplexo Interpessoal

Nota. LM = caloroso-agradável; NO= gregário-extrovertido; PA= dominante; BC= arrogante-calculista; DE=


frio; FG= distante-introvertido; HI= inseguro-submisso; JK= ingénuo

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PERSONALIDADE E PROBLEMAS INTERPESSOAIS

O Big Five Personality Model e o Modelo do Circumplexo Interpessoal


A investigação desenvolvida com recurso ao Big-Five Personality Model tem sugerido que os
traços com qualidades interpessoais mais evidentes são, respetivamente, Extroversão e a Amabilidade,
sendo por esse motivo reconhecidos como os “traços interpessoais” (e.g. Goldberg, 1993; McCrae &
Costa, 1989; Trapnell & Wiggins, 1990). Enquanto a Extroversão está mais relacionada com a agência
e faz-se notar por uma postura positiva e entusiástica perante as interações sociais, a Amabilidade, por
sua vez, está fortemente relacionada com a afiliação, e por isso, reflete-se através de uma abordagem
pró-social e de comunhão perante os outros (John & Srivastava, 1999). Os estudos em torno deste tema
mostram que estes dois traços, Extroversão e Amabilidade, estão associados a problemas interpessoais
específicos, respetivamente problemas de excesso de dominância e problemas de falta de assertividade
(Gurtman, 1995; Soldz et al., 1993). Embora a investigação também mostre que perfis
predominantemente marcados por estes traços são aqueles que apresentam menos propensão para a
ocorrência de problemas interpessoais nas relações com os pares, e que determinam a existência de
mais competências e eficácia no que toca às interações sociais (Du et al., 2021).
Por outro lado, ainda que os traços supracitados sejam os que possuem características
interpessoais mais notórias, os estudos mostram que os restantes traços: Neuroticismo, Abertura à
Experiência e Conscienciosidade, têm também grandes implicações no âmbito interpessoal, em especial
no desenvolvimento e manutenção da agência e afiliação dentro de um grupo social (McCrae & Costa
Jr., 1989; Wiggins & Trapnell, 1996). De acordo com essa perspetiva, as dimensões da agência e
afiliação estão imersas em todos os cinco traços.
Nos mais diversos estudos, o Neuroticismo apresenta-se sempre como o traço de personalidade
mais influente no que diz respeito à experiência de problemas interpessoais no decorrer das interações
sociais (Costa & McCrae, 2008; Du et al., 2021; Nysæter et al., 2009). Ainda que associado à
generalidade dos problemas, este traço apresenta uma correlação mais evidente com problemas
relacionados com a falta de assertividade, i.e., uma posição maioritariamente hostil-submissa no
circumplexo interpessoal (Du et al., 2021; Nysæter et al., 2009). Podemos aferir que, altos níveis de
Neuroticismo estão associados a perfis tipicamente submissos, nomeadamente em contextos
interpessoais onde esses indivíduos se sentem ameaçados (Ansell & Pincus, 2010). Como descrito por
Nunes et al., (2010) a prevalência do Neuroticismo num perfil de personalidade revela uma associação
positiva com problemas interpessoais do foro dependente e de isolamento social (Nunes et al., 2010).
Estudos anteriores indicam que os traços Extroversão, Amabilidade e Neuroticismo são
importantes na medida em que indicam como é que as diferenças interpessoais nas disposições da
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PERSONALIDADE E PROBLEMAS INTERPESSOAIS

personalidade estão ligadas à experiência de problemas no funcionamento interpessoal (Nysæter et al.,


2009). Embora apenas os dois primeiros estejam associados a problemas interpessoais em concreto
(problemas de excesso de dominância e problemas de falta de assertividade, respetivamente), enquanto
o último esteja associado à generalidade dos problemas (e.g. Nysæter et al., 2009; Soldz et al., 1993)
A Abertura à Experiência é, similarmente à Extroversão e Amabilidade, um traço menos propenso
à ocorrência de problemas interpessoais, que assume uma posição calorosa ou não-hostil no circumplexo
interpessoal. Indivíduos com maior abertura à experiência tendem para uma maior flexibilidade no
contexto interpessoal, e consequentemente uma maior adaptação aos outros durante as interações (Du
et al., 2021). Este domínio relaciona-se com perfis mais gregários e, mais do que um processo
intrapsíquico, é também um determinante crucial no que toca ao modo como o indivíduo se aproxima
dos outros e reage aos pensamentos, emoções e comportamentos de outrem (Ansell & Pincus, 2010).
Por último, os estudos prévios não apresentam resultados muito consistentes e especificamente
delineados para o domínio da Conscienciosidade (DeYoung et al., 2013). Ainda assim, há autores que
sugerem que este traço tende a estar associado a perfis marcados pela assertividade (Ansell & Pincus,
2010), e outros defendem que a Conscienciosidade não apresenta relação específica com nenhum
problema interpessoal em concreto, mas, no geral, está negativamente correlacionado com a sua
ocorrência (Du et al., 2021).
Para além das qualidades interpessoais irrefutavelmente presentes nos traços em si mesmos, é
relevante ter em consideração o conteúdo interpessoal vinculado aos níveis de ordem inferior, nas
facetas. DeYoung et al. (2013) analisou as associações entre as facetas da Extroversão e da Amabilidade
e o circumplexo interpessoal no decorrer da sua investigação, utilizando três amostras não clínicas.
Concluíram que dentro do traço da Extroversão, enquanto a faceta da assertividade exibia mais
características dominantes, o entusiasmo mostrava características mais calorosas e por outro lado,
relativamente à Amabilidade, retidão aparentava mais características submissas enquanto a compaixão
se assemelhava ao entusiasmo com características mais calorosas. Bradburn (1969) num dos seus
estudos remete para a evidência da sociabilidade, faceta da Extroversão, estar relacionada com o afeto
positivo, mas não com o afeto negativo. Nessa linha, denota-se em particular, o caso da responsabilidade
e o da competência, facetas da Conscienciosidade, que manifestam uma forte afiliação e uma forte
agência, respetivamente. Já o Neuroticismo possui três facetas facilmente relacionáveis com a vertente
interpessoal, a ansiedade e a depressão negativamente correlacionadas com a agência interpessoal e a
raiva negativamente correlacionada com a afiliação (Wiggins & Trapnell, 1996).

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PERSONALIDADE E PROBLEMAS INTERPESSOAIS

O presente estudo
O presente estudo tem como principal objetivo analisar a relação entre os Big-five e os diferentes
problemas interpessoais numa amostra de estudantes universitários. Desta forma, este estudo pretende
dar resposta a três questões de investigação centrais: 1) Qual é a gravidade geral dos problemas
interpessoais associados a cada um dos domínios dos Big-five?; 2) Estará cada domínio dos Bíg-five
relacionado com um problema interpessoal específico ou com vários problemas interpessoais? e 3) Com
qual problema interpessoal estará cada um dos domínios dos Big-five mais associado?

Método
Amostra
Participaram neste estudo 413 alunos do ensino superior, 330 mulheres (80.5%) e 80 homens
(19.5%), com idades superiores a 18 anos, sendo que 95.6% dos participantes reportaram o seu estado
civil como “Solteiro”, enquanto 3.6% o definem como “Casado”. A maioria dos inquiridos (84.7%)
identificam-se como “Heterossexual”, em segundo lugar a resposta mais prevalente conta com 10.9%
para a Orientação Sexual “Bissexual” e os restantes participantes (4.3%) responderam “Homossexual”,
“Outro” ou “Assexual”. A maioria dos alunos estavam a estudar neste ano letivo (2021/2022) na
Universidade do Minho (58.4%), na Universidade da Madeira (12.3%), na Universidade do Porto (8.2%) e
no Instituto Politécnico do Cávado Ave (7.7%).
Dentro da amostra recolhida 17.3% dos participantes apresentaram sintomatologia depressiva
clinicamente significativa, avaliado pelo PHQ-9 (Santos et al., 2013) e 27.2% dos participantes
apresentam sintomatologia ansiosa clinicamente significativa, avaliada pelo GAD-7 (Sousa et al., 2015).
Reportaram ter tido um diagnóstico prévio de uma condição psiquiátrica 23.5% dos participantes do
estudo e 16.5%, estavam a receber acompanhamento psicológico no momento da participação no
estudo.

Instrumentos
Big Five Inventory-2 (BFI-2; Soto & John, 2017).

É um instrumento breve, em processo de validação para a população portuguesa, por Oliveira e


colaboradores, utilizado para medir os Big-five. Surge na forma de autorrelato, com um total de 60 itens
(12 itens para cada subescala), que incentivam os participantes a classificar o quanto um conjunto de
afirmações auto-descritivas (e.g., “Dou a minha opinião, mesmo que seja diferente das outras pessoas”,
“Mantenho o meu otimismo mesmo depois de uma má experiência”) são adequadas, usando para isso
uma escala de Likert de 1 (“Não tem nada a ver comigo”) a 5 (“Tem tudo a ver comigo”). O BFI-2, na
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PERSONALIDADE E PROBLEMAS INTERPESSOAIS

sua versão original (Soto & John, 2017), apresenta excelentes propriedades psicométricas, para a
subescala do Neuroticismo, com α = .90 , a subescala da Extroversão com α = .88 a subescala da
Amabilidade, com α = .85 a subescala da Abertura à Experiência, com α = .85 e, por último, a
subescala da Conscienciosidade com α = .86, numa população não clínica de estudantes universitários.
(Soto & John, 2017). No presente estudo, o BFI-2 apresentou valores de alfa de Cronbach entre .75
(Amabilidade) e .87 (Conscienciosidade).

Inventory of Interpersonal Problems-32 (IIP-32; Barkham et al., 1996).

É um instrumento breve de autorrelato (32 itens), que permite avaliar os problemas interpessoais
através das duas dimensões ortogonais do circumplexo interpessoal, agência e afiliação. Divide-se em
duas partes, a primeira apresenta um conjunto de itens do estilo “É difícil para mim” (e.g.“dizer não às
outras pessoas”) e, uma segunda parte, por sua vez, no formato “Seguem-se os aspetos que faz em
demasia”(e.g. “Abro-me demais com as outras pessoas”) em que para cada item o participante é levado
a responder através de uma escala de Likert de 0 (“de forma alguma”) a 4 (“extremamente”). O IIP-32
apresenta boas qualidades psicométricas (α = .86), na sua versão original (Barkham et al., 1996), para
as suas 8 subescalas dos problemas interpessoais, com um α que varia entre 0.71 (acomodação
excessiva) e 0.89 (inibição social), numa população clínica. (Barkham et al., 1996). No presente estudo,
apresentou valores de alfa de Cronbach entre .50 (NO) e .85 (FG).

Patient Health Questionnaire-9 (PHQ-9; Kroenke et al., 2001).

É um questionário de autorrelato breve, apenas com 9 itens que avaliam cada um dos sintomas
que descrevem o diagnóstico de Depressão Major no DSM-IV (Diagnostic and Statistical Manual of Mental
Disorders, 4th edition). É pedido ao participante que indique, através de uma escala de Likert de 4 pontos
que varia entre 0 (“Nunca”) e 3 (“Em quase todos os dias”) em que medida foi afetado por algum
daqueles problemas nos últimos 14 dias. Pontuações mais altas no PHQ-9 indicam maior severidade de
sintomatologia depressiva, podendo variar entre 0 e 27 pontos. Resultados iguais ou superiores a 9
indicam a existência de sintomatologia depressiva clinicamente significativa. Os intervalos definidos pelo
autor para a severidade dos sintomas apresentados variam de: sintomatologia subclínica (1 a 4 pontos),
sintomatologia leve (5 a 9 pontos), sintomatologia moderada (10 a 14 pontos), sintomatologia
moderadamente severa (15 a 19 pontos) e sintomatologia severa (20 a 27 pontos). O instrumento
apresenta uma consistência interna bastante boa, em ambos os estudos realizados por Ferreira et. al,
(2019), em duas amostras clínicas, respetivamente α = .75 e α = .87 (Ferreira et al., 2019). Neste
estudo, o PHQ-9 apresentou um valor de alfa de Cronbach de .83.
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PERSONALIDADE E PROBLEMAS INTERPESSOAIS

Generalized Anxiety Disorder Scale-7 (GAD-7; Sousa et al., 2015).


É um questionário de autorrelato igualmente breve, composto por 7 itens que correspondem aos
sete sintomas identificados no DSM-IV-TR (Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders, 4th
edition) para o diagnóstico de Perturbação de Ansiedade Generalizada. Incita a resposta do participante
através de uma escala de Likert de 4 pontos, que varia entre 0 (“Nunca”) e 3 (“Em quase todos os
dias”), a assinalar em que medida foi afetado por algum daqueles problemas nos últimos 14 dias.
Pontuações mais altas no GAD-7 indicam maior severidade na sintomatologia ansiosa, podendo variar
entre 0 e 21 pontos. O grau de severidade dos sintomas organiza-se da seguinte forma: nenhuma/normal
(0 a 5 pontos), leve (5 a 9 pontos), moderada (10 a 14 pontos) e severa (15 a 21 pontos). As propriedades
psicométricas da versão portuguesa do GAD-7 foram avaliadas usando uma amostra clínica com o
diagnóstico de Perturbação de Ansiedade Generalizada de acordo com os critérios do DSM-IV-TR. O
instrumento apresenta uma boa consistência interna (α = 0.88) (Sousa et al., 2015). Nesta amostra, o
GAD-7 apresentou um valor de alfa de Cronbach de .90.

Procedimento
O presente estudo faz parte do projeto de investigação “Diz-me quem és, dir-te-ei o que preferes:
O papel da personalidade nas adições”, o qual contou com o parecer favorável da Subcomissão de Ética
para as Ciências Sociais e Humanas da Universidade do Minho (SECSH 011/2018). Todos os
participantes que constituem a amostra participaram de forma voluntária. À data da recolha dos dados
todos os inquiridos preencheram em primeira instância o Consentimento Informado do estudo, que
informa claramente sobre o objetivo e implicações do mesmo. Foi explicado aos participantes que a sua
participação estaria a contribuir para o aumento do conhecimento nesta área de estudo. Para garantir a
segurança e confidencialidade dos dados aquando da participação no estudo foi gerado um código único
para cada participante, retirando qualquer identificação direta do respondente (e.g., nome, instituição de
ensino) protegendo a sua identidade.
Procedimento de recolha de dados
Com o recurso à plataforma Qualtrics, o preenchimento dos instrumentos de avaliação iniciou-
se com o preenchimento do Consentimento Informado seguido de um Questionário Sociodemográfico
para caracterização da amostra, usando variáveis tais como: idade, género, nível de escolaridade
completo até ao momento e se é atualmente aluno do ensino superior. Posteriormente, cada participante
respondeu aos restantes instrumentos. A divulgação do estudo iniciou-se no dia 14 de fevereiro de 2022
e ocorreu exclusivamente em formato online, com recurso ao e-mail institucional (Universidade do Minho)

17
PERSONALIDADE E PROBLEMAS INTERPESSOAIS

e às redes sociais (Instagram e Facebook). Foi também inserido na plataforma de créditos da Escola de
Psicologia da Universidade do Minho (EPsi), este último apenas alunos da Escola de Psicologia da
Universidade do Minho. Os alunos que responderam através da plataforma foram recompensados com
créditos que mais tarde podem ser alocados aos créditos adquiridos nas Unidades Curriculares do curso
durante o respetivo ano letivo. Os critérios de inclusão para fazer parte integrante da amostra incluíram:
a) nacionalidade portuguesa; b) maior de 18 anos; c) estudante universitário e d) preencher o
consentimento informado. Foram ainda excluídos dos dados, todos os questionários incompletos.
Procedimentos de análise dos dados
Este estudo utilizou o Software R (Girard et al., 2018) package “Circumplex” como ferramenta
central para realizar a análise do Structural Summary Method (SSM; Gurtman, 1994).
O Structural Summary Method (SSM; Gurtman, 1994), foi utilizado com o propósito de cruzar os
dados obtidos relativamente ao perfil de personalidade dos participantes constituintes da amostra,
através do BFI-2, com os dados do seu comportamento interpessoal, mais especificamente no que toca
aos problemas de funcionamento interpessoal, avaliados com o IIP-32. Sendo o objetivo final perceber a
tendência que cada perfil de personalidade tem para experienciar determinado tipo de problemas
interpessoais.
Dada a estrutura circular pela qual se organiza o circumplexo interpessoal, os dados obtidos da
correlação entre os Big-five e os problemas interpessoais integrados no circumplexo interpessoal,
apresentam-se sob uma forma sinusoidal e, portanto, o Structural Summary Method analisa o padrão
obtido através da sua comparação com uma função cosseno. Este modelo possui 3 parâmetros
principais: a elevação, a amplitude e a disposição angular, representados graficamente na Figura 2. A
elevação que se refere ao nível médio da curva, representa o nível médio de um perfil, apresenta-se sob
esta forma "Qual é a gravidade geral dos problemas interpessoais associados ao traço X?". A amplitude,
indica em que extensão é que um padrão de correlações está mais ou menos bem definido, e apresenta-
se sob a forma de "Quanto é que o traço X está relacionado com um problema interpessoal específico
relativamente à generalidade dos problemas interpessoais?". Uma amplitude alta sugere que a curva tem
um pico bem definido e forte. Uma baixa amplitude indica uma curva achatada com pouco ou nenhuma
definição interpessoal. Por último, a disposição angular indica o pico da curva, e permite identificar o
ponto de correlação mais forte daquele perfil, apresenta-se sob a forma de “Com que tipo de problemas
interpessoais é que o traço X se relaciona mais?". Este último é o ponto mais pertinente para o objetivo
deste estudo, saber qual o problema que está mais correlacionado com cada um dos traços de

18
PERSONALIDADE E PROBLEMAS INTERPESSOAIS

personalidade, e dessa forma conseguir prever a sua tendência a partir dos perfis de personalidade
(Gurtman & Pincus, 2003; Hopwood, Burt, et al., 2013, Wright et al., 2012).

Figura 2
Parâmetros do Structural Summary Method (amplitude, elevação e disposição angular) (SSM; Gurtman,
1994).

Resultados
A Tabela 2 apresenta a disposição dos Big-five e das suas facetas correspondentes, medidos
com o BFI-2, em relação aos problemas interpessoais, medidos através do IIP-32, no modelo do
circumplexo interpessoal, através dos parâmetros do Structural Summary Method (SSM), com um
intervalo de confiança de 95%. As Figuras 3 e 4 apresentam uma representação visual da posição que
cada traço, e respetivas facetas, assumem no modelo do circumplexo interpessoal, no âmbito dos
problemas interpessoais, através dos intervalos de confiança da amplitude e disposição angular,
parâmetros do SSM.

19
PERSONALIDADE E PROBLEMAS INTERPESSOAIS

Tabela 2
Parâmetros do Structural Summary Method para os Big-five e facetas (BFI-2) e os problemas interpessoais (IIP-
32), com um intervalo de confiança de 95% (N=413).
Problemas
Big-five
Elevação Valor de X Valor de Y Amplitude Disposição Fit
Angular
Neuroticismo 0.18 0.01 -0.07 0.07 277.3 0.504
(0.12, 0.24) (-0.05, 0.06) (-0.13, -0.01) (0.02, 0.14) (224.0, 333.4)
ansiedade 0.14 0.05 -0.07 0.09 306.6 0.751
(0.09, 0.20) (-0.00, 0.11) (-0.13, -0.01) (0.04, 0.15) (266.8, 354.9)
depressão 0.18 -0.01 -0.09 0.10 263.2 0.602
(0.12, 0.24) (-0.07, 0.04) (-0.15, -0.04) (0.05, 0.15) (224.0, 297.0)
volatilidade 0.14 -0.01 -0.02 0.02 242.3 0.083
emocional (-0.07, 0.05)
(0.08, 0.20) (-0.08, 0.04) (0.01, 0.09) (77.3, 32.7)
Extroversão -0.21 0.11 0.24 0.26 65.4 0.897
(-0.27, -0.14) (0.05, 0.17) (0.18, 0.30) (0.21, 0.32) (51.7, 78.3)
sociabilidade -0.16 0.10 0.21 0.23 64.2 0.894
(-0.21, -0.10) (0.05, 0.15) (0.15, 0.27) (0.18, 0.29) (49.1, 78.1)
assertividade -0.15 0.03 0.25 0.25 82.9 0.917
(-0.22, -0.09) (-0.03, 0.08) (0.19, 0.31) (0.20, 0.31) (69.3, 95.7)
nível de energia -0.18 0.13 0.10 0.16 39.0 0.847
(0.07, 0.18)
(-0.25, -0.12) (0.04, 0.16) (0.11, 0.21) (14.5, 62.8)
Amabilidade -0.12 0.18 -0.14 0.23 322.1 0.869
(0.13, 0.24)
(-0.18, -0.06) (-0.20, -0.07) (0.17, 0.29) (308.4, 338.0)
compaixão -0.11 0.20 -0.13 0.23 327.1 0.885
(-0.17, -0.04) (0.14, 0.25) (-0.19, -0.07) (0.17, 0.30) (313.5, 341.1)
respeito -0.07 0.08 -0.15 0.17 296.6 0.844
(-0.13, -0.00) (0.02, 0.13) (-0.21, -0.09) (0.11, 0.24) (278.3, 316.3)
confiança -0.10 0.14 -0.07 0.16 334.7 0.804
(-0.16, -0.04) (0.08, 0.20) (-0.13, -0.01) (0.10, 0.22) (314.2, 357.4)
Conscienciosidade -0.16 0.06 0.01 0.06 14.6 0.418
(-023, -0.10) (0.00, 0.11) (-0.05, 0.07) (0.02, 0.12) (305.9, 83.8)
organização -0.09 0.04 -0.01 0.04 344.2 0.362
(-0.15, -0.03) (-0.02, 0.10) (-0.07, -0.01) (0.01, 0.11) (239.8, 101.6)
produtividade -0.15 0.05 0.05 0.07 46.4 0.580
(-0.21, -0.09) (-0.00, 0.10) (-0.00, 0.11) (0.03, 0.13) (357.4, 91.5)
responsabilidade -0.19 0.06 -0.00 0.06 357.6 0.353
(-0.26, -0.12) (0.00, 0.11) (-0.07, 0.06) (0.02, 0.12) (291.5, 68.1)
Abertura à Experiência -0.09 0.10 0.07 0.12 35.2 0.835
(-0.14, -0.02) (0.04, 0.16) (0.01, 0.13) (0.07, 018) (5.0, 65.0)
curiosidade -0.03 0.08 0.05 0.10 30.9 0.798
intelectual
(-0.09, 0.03) (0.02, 0.14) (-0.01, 0.11) (0.05, 0.15) (355.1, 70.2)
sensibilidade -0.06 0.07 0.01 0.07 8.0 0.738
estética
(-0.12, 0.01) (0.01, 0.13) (-0.04, 0.07) (0.03, 0.13) (327.6, 66.0)
imaginação -0.12 0.09 0.11 0.14 53.0 0.878
criativa (0.03, 0.14)
(-0.18, -0.06) (0.04, 0.18) (0.08, 0.21) (23.7, 76.6)

20
PERSONALIDADE E PROBLEMAS INTERPESSOAIS

Os Big-Five e respetivas facetas e o Circumplexo Interpessoal


Extroversão
A Extroversão assume a sua posição no quadrante dominante-não hostil. De entre todos os Big-
five, aparenta ser o traço que se relaciona em maior extensão com as qualidades interpessoais, uma vez
que apresenta um Fit de .897, sendo este o valor mais elevado de entre todos os traços. No que concerne
às suas facetas: sociabilidade atinge um valor de Fit .894, assertividade de .917 e nível de energia de
.847. Estes resultados indicam que tanto a Extroversão, como as suas facetas, estão muito bem
enquadradas no circumplexo interpessoal.
Atentando na dimensão dos problemas interpessoais, o valor obtido no parâmetro elevação do
SSM, para a Extroversão, enquanto traço, foi de -.21 e para as suas facetas: sociabilidade assume um
valor de -.16, assertividade de -.15 e nível de energia de -.18. Estes resultados são sugestivos de uma
baixa gravidade dos problemas interpessoais experienciados por indivíduos com perfis de personalidade
marcados por estes domínios. Para o parâmetro amplitude do SSM, Extroversão assume o valor de .26,
enquanto as facetas - sociabilidade de .23, assertividade de .25 e nível de energia de .16. Tanto o traço
geral como as suas facetas parecem estar associados a um problema interpessoal específico. O domínio
da Extroversão, assim como as facetas sociabilidade e assertividade associam-se a problemas
relacionados com excesso de dominância, verificando a sua posição no quadrante dominante-não-hostil,
como mencionado acima. Por sua vez, a faceta nível de energia estende-se até um segundo octante,
associando-se não só a problemas de excesso de dominância como também, a problemas de cariz
intrusivo. Estes dados são sustentados através dos resultados obtidos no parâmetro disposição angular
do SSM, o qual fornece informação sobre o posicionamento dos domínios no circumplexo interpessoal.
A Extroversão atinge o valor de disposição angular de 65.4, já as suas facetas: sociabilidade de 64.2,
assertividade de 82.9 e nível de energia de 39.0 (Ver Tabela 2; Figura 3 e 4).
Amabilidade
A par da Extroversão, a Amabilidade apresenta igualmente um Fit que traduz um ótimo
enquadramento do traço no circumplexo interpessoal, com um valor de .869. No que diz respeito às
suas facetas: compaixão, respeito e confiança, estas reforçam esse resultado, com valores de Fit de
.885, .844 e .804 respetivamente.
O valor atingido no parâmetro elevação do SSM, para o traço Amabilidade foi de -.12, e para as
suas facetas: compaixão com um valor de -.11, respeito de -.07 e confiança de -.10. Resultados estes
que mostram uma correlação negativa com a gravidade dos problemas interpessoais experienciados por
indivíduos com perfis de personalidade marcados por estes domínios. No parâmetro da amplitude do
21
PERSONALIDADE E PROBLEMAS INTERPESSOAIS

SSM, a Amabilidade, enquanto traço, assume um valor de .23, enquanto as suas facetas: compaixão
assume um valor de .23, respeito de .17 e confiança de .16. Os valores neste parâmetro sugerem que
tanto o traço no geral como as facetas se correlacionam com problemas interpessoais específicos, neste
caso com problemas de índole não assertiva. Resultados sustentados pelos valores obtidos no parâmetro
disposição angular do SSM, cujos revelam uma posição destes domínios no quadrante submisso-não-
hostil. Amabilidade cota um valor de disposição angular de 322.1, e as suas facetas: compaixão assume
um valor de 327.1, respeito de 296.6 e confiança de 334.7 (Ver Tabela 2; Figura 3 e 4).
Abertura à Experiência
Com um Fit de .835, a Abertura à Experiência é também, um traço bem enquadrado no
circumplexo interpessoal. O Fit das suas facetas: curiosidade intelectual (.798), sensibilidade estética
(.738) e imaginação criativa (.878), está em consonância com o do traço global, e garante um bom
enquadramento no circumplexo interpessoal.
Atentando na dimensão dos problemas interpessoais, podemos observar um valor de -.09 no
parâmetro da elevação do SSM, para o traço Abertura à Experiência. No que diz respeito ao parâmetro
elevação para as suas facetas: curiosidade intelectual assume um valor de -.03, sensibilidade estética
de -.06 e imaginação criativa de -.12. Estes resultados, apesar da variação existente entre eles, são
indicativos de uma baixa gravidade dos problemas interpessoais experienciados no geral, por indivíduos
com perfis marcados por este traço e respetivas facetas. Em relação aos valores obtidos no parâmetro
da amplitude do SSM, o traço geral cota .12, e as suas facetas: curiosidade intelectual cota .10,
sensibilidade estética .07 e imaginação criativa .14. O que indica que estes domínios apresentam um
perfil mais disperso comparativamente aos apresentados pela Extroversão e Amabilidade, havendo uma
correlação com mais do que um problema interpessoal. Neste caso, o perfil estende-se por 3 octantes
diferentes, os quais representam respetivamente: problemas do foro dominante, problemas de excesso
de auto-sacrifício e problemas de índole sobretudo intrusiva. A posição destes perfis passa pela
compreensão do parâmetro da disposição angular do SSM, onde a Abertura à Experiência assume um
valor de 35.2, enquanto as suas facetas: curiosidade intelectual assume um valor de 30.9, sensibilidade
estética com 8.0, imaginação criativa com 53.0 (Ver Tabela 2; Figura 3 e 4).
Neuroticismo
O Fit, neste caso, não é indicativo de um bom enquadramento no circumplexo interpessoal, uma
vez que, o traço geral assume um valor de .504 e as suas facetas: ansiedade de .751, depressão de
.602 e volatilidade emocional de .083. No que concerne ao parâmetro elevação do SSM, o traço
Neuroticismo assume o valor de .18, enquanto as suas facetas: ansiedade assume um valor de .14,
22
PERSONALIDADE E PROBLEMAS INTERPESSOAIS

depressão de .18, volatilidade emocional de .14. Estes resultados indicam uma alta gravidade dos
problemas interpessoais experienciados associados tanto à presença de altos valores do traço
Neuroticismo, como das suas facetas no perfil de personalidade de um indivíduo. No parâmetro da
amplitude do SSM, o traço no geral assume o valor de .07, e as suas facetas: ansiedade assume o valor
de .09, depressão de .10, volatilidade emocional de .02. Mostram uma relação com vários problemas
interpessoais e não com apenas um em particular. No parâmetro da disposição angular do SSM,
Neuroticismo enquanto traço, assume um valor de 277.3 e as suas facetas: ansiedade com um valor de
306.6, depressão com 263.2, volatilidade emocional com 242.3. O Neuroticismo, apresenta-se
associado a 3 tipos de problemas interpessoais: isolamento social, falta de assertividade e acomodação
excessiva. A ansiedade, é a faceta do Neuroticismo com o perfil mais bem definido no circumplexo
interpessoal, apresentando limites mais bem definidos. Esta está relacionada com problemas
interpessoais do tipo: não assertivo e de acomodação excessiva. A depressão, com limites pouco
definidos, o que exige alguma cautela na interpretação dos resultados, associa-se a problemas do tipo:
isolamento social e falta de assertividade. A volatilidade emocional apresenta um perfil bastante disperso
no círculo interpessoal, e com limites pouco definidos, o que condiciona, mais uma vez, a interpretação
dos resultados, sugerindo uma correlação com todos os problemas interpessoais, exceto com os de cariz
intrusivo (Ver Tabela 2; Figura 3 e 4).
Conscienciosidade
Por fim, a Conscienciosidade revelou ser o traço que menos se enquadra no circumplexo
interpessoal. Este apresenta um Fit geral de .418, e para as suas facetas: organização com .362,
produtividade com .580, responsabilidade com .353. Por isso, este traço e, respetivas facetas, não
acrescentam informação relevante para a associação de perfis de personalidade, marcados por estes,
com os problemas interpessoais. Na representação visual (ver Figura 4) é de notar que os limites da
representação das suas facetas estão a tracejado, o que indica que os resultados obtidos não são
totalmente claros, o que condiciona a visão dos resultados.
No parâmetro da elevação do SSM, o traço Conscienciosidade assume um valor de -.16, o que
indica uma baixa gravidade dos problemas interpessoais experienciados por perfis marcados por este
domínio. Em relação aos valores obtidos no parâmetro da elevação do SSM das suas facetas: organização
com -.09, produtividade com -.15, responsabilidade com -.19, confirmando a baixa gravidade dos
problemas interpessoais experienciados por estes perfis. No parâmetro da amplitude do SSM, o traço
geral assume um valor de .06, enquanto as suas facetas: organização assume um valor de .04,
produtividade de .07, responsabilidade de .06. Estes valores revelam um perfil bastante disperso no
23
PERSONALIDADE E PROBLEMAS INTERPESSOAIS

círculo interpessoal o que se traduz numa fraca associação destes domínios com um problema
interpessoal em particular. No parâmetro da disposição angular do SSM, a Conscienciosidade assume
um valor de 14.6 e as suas facetas: organização assume um valor de 344.2, produtividade de 46.4,
responsabilidade de 357.6. Embora, como referido acima, os seus perfis apareçam bastante dispersos
no circumplexo interpessoal, estes situam-se particularmente nos quadrantes não-hostis, indicando uma
associação com problemas interpessoais do tipo: excesso de dominância, intrusivo, excesso de
autossacrifício, acomodação excessiva e falta de assertividade (Ver Tabela 2; Figura 3 e 4).

Figura 3
Intervalos de confiança da Amplitude e Disposição Angular para os Big-five (BFI-2) e problemas
interpessoais (IIP-32) (N=413).

24
PERSONALIDADE E PROBLEMAS INTERPESSOAIS

Figura 4
Intervalos de confiança da Amplitude e Disposição Angular para as Facetas dos Big-Five (BFI-2) e
Problemas Interpessoais (IIP-32) (N=413).

Modelo do IIP com Extroversão Modelo do IIP com Amabilidade

Modelo do IIP com Abertura à Experiência Modelo do IIP com Neuroticismo

Modelo do IIP com Conscienciosidade

25
PERSONALIDADE E PROBLEMAS INTERPESSOAIS

Discussão
Tendo por base a forte influência que a personalidade de um indivíduo exerce nas interações sociais,
o presente estudo teve como principal objetivo explorar as associações existentes entre os Big-five e os
oito domínios dos problemas interpessoais, contemplados no modelo do circumplexo interpessoal. Com
recurso a uma amostra de alunos de ensino superior, este estudo de cariz exploratório focou-se em torno
de três questões de investigação: 1) Qual é a gravidade geral dos problemas interpessoais associados a
cada um dos domínios dos Big-five?; 2) Estará cada domínio dos Bíg-five relacionado com um problema
interpessoal específico ou com vários problemas interpessoais? e 3) Com qual problema interpessoal
estará cada um dos domínios dos Big-five mais associado? A presente discussão assume uma estrutura
de resposta às 3 questões enunciadas anteriormente, no entanto, para facilitar a compreensão, integra
as últimas duas questões num tópico único. Os resultados obtidos sugerem que o Neuroticismo
apresenta a correlação mais forte e positiva com a gravidade dos problemas interpessoais e relações
negativas com a Extroversão, Amabilidade e Abertura à Experiência. Os resultados sugerem também
uma maior especificidade da Extroversão, associado a um perfil interpessoal caloroso/não-hostil-
dominante, e da Amabilidade, relacionado com um perfil não-hostil-submisso.

Gravidade geral dos problemas interpessoais


Os resultados obtidos mostram, que o traço Neuroticismo é aquele que revela uma associação
positiva com a gravidade dos problemas interpessoais. Ao considerar um perfil tipicamente marcado por
Neuroticismo denotam-se características como: tendência para experienciar afeto negativo (e.g. tristeza,
raiva, culpa, medo), excessiva preocupação na maioria dos contextos, inclusivamente com a perceção
que os outros possam ter de si (Hofstee et al., 1992). Têm também tendência para interpretar as
interações e, intenções dos outros para consigo, negativamente por defeito (Costa & McCrae, 2008).
Estas particularidades podem justificar a alta gravidade dos problemas interpessoais associada a este
traço, uma vez que, estes indivíduos encaram a maior parte das situações com uma perspetiva
tendencialmente negativa, o que interfere, neste caso, com o contexto social e consequentemente com
a forma como reagem aos problemas no geral (John & Srivastava, 1999).
Prestando atenção às facetas deste traço, estas permitem recolher informação ainda mais
detalhada sobre este domínio. Em primeiro lugar, similarmente ao valor do seu domínio de ordem
superior, a faceta depressão apresenta-se como tendo uma associação bastante elevada à gravidade dos
problemas interpessoais, em comparação com as duas restantes facetas deste domínio. É possível fazer
uma ponte com a psicopatologia e interpretar este resultado tendo por base um perfil tipicamente
depressivo. Esse perfil é marcado por afeto negativo como tristeza, melancolia, culpa e falta de motivação
26
PERSONALIDADE E PROBLEMAS INTERPESSOAIS

generalizada, nomeadamente no que toca ao envolvimento social, atingindo a maior parte das vezes o
isolamento social (Costa & McCrae, 2008; Nunes et al., 2010). As restantes facetas, ansiedade e
volatilidade emocional, apresentam valores mais baixos do que o traço geral e a depressão. Por um lado,
pessoas ansiosas são caracteristicamente apreensivas, tensas, medrosas e preocupadas, por outro lado
pontuações elevadas na faceta da volatilidade emocional podem traduzir-se em reações de pânico
perante situações de emergência e incapacidade de lidar com tensão no geral (Goldberg, 1999; Costa &
McCrae, 2008). Estas qualidades determinam uma forte instabilidade no próprio sujeito e,
consequentemente todo o envolvimento social a que se predispõem fica condicionado. Mais uma vez,
sustentando os resultados obtidos em torno da gravidade dos problemas interpessoais experienciada por
este perfil.
Em contrapartida, os traços, Extroversão, Amabilidade e Abertura à Experiência mostram,
segundo os resultados obtidos neste estudo, correlações negativas com a gravidade dos problemas
interpessoais experienciados por perfis marcados por estes domínios. Segundo a literatura prévia, a
Extroversão e a Amabilidade, considerados os “traços interpessoais” apresentam uma menor tendência
para experienciar problemas interpessoais no geral, em virtude de serem traços que automaticamente
revelam mais competências no contexto social, e consequentemente maior eficácia no mesmo (e.g
Goldberg, 1993; McCrae & Costa, 1989; Trapnell & Wiggins, 1990). A literatura refere que a Abertura à
Experiência é um traço, que apresenta menor propensão para experienciar problemas interpessoais, pois
revela maior flexibilidade nas interações com os outros e, por isso, uma maior adaptação nos contextos
sociais (Du et al., 2021).
Por fim, a Conscienciosidade, uma vez que demonstra ser o traço menos bem enquadrado no
do circumplexo interpessoal exige alguma cautela na interpretação dos resultados obtidos nos demais
parâmetros. Ainda assim, há autores que sugerem que este traço se relaciona negativamente com a
gravidade dos problemas (Du et al., 2021). Em específico a faceta responsabilidade representa o
componente pró-social da Conscienciosidade (McCrae & Costa, 2008; Roberts et al., 2004, 2005), e no
presente estudo, é de facto a faceta que possui uma relação mais negativa com a gravidade dos
problemas interpessoais. Ainda que este demonstre ser o traço com menos qualidades interpessoais,
dada a sua natureza, e por isso dificultar uma interpretação mais detalhada, exerce um papel influente
no comportamento interpessoal dos indivíduos.

Especificidade versus Generalidade dos problemas interpessoais


Segundo os resultados obtidos neste estudo, os traços Extroversão e Amabilidade, embora
negativamente correlacionados com a ocorrência de problemas interpessoais no geral, são os que
27
PERSONALIDADE E PROBLEMAS INTERPESSOAIS

apresentam uma maior correlação com um tipo de problema interpessoal em específico, o que surge
como confirmação dos resultados encontrados em estudos anteriores (Gurtman, 1995; Soldz et al.,
1993). A Extroversão situa-se no quadrante caloroso-dominante, indicador de uma maior ligação com
problemas do foro dominante e intrusivo. Este resultado remete para a tendência que a pessoa
Extrovertida tem em exercer uma postura excessivamente dominante nas interações com os outros, face
à sua provável autoconfiança e à vontade elevadas. Um perfil tipicamente extrovertido caracteriza-se por
ser alegre, otimista, conversador e que procura envolver-se em contextos sociais, explicando assim a sua
associação com a quantidade e intensidade de interações sociais (John & Srivastava, 1999).
No que toca às respetivas facetas, todas elas apresentam valores altos de associação com um
problema interpessoal em particular, no entanto ressaltam-se as facetas sociabilidade e assertividade
com os valores mais elevados. Em primeiro lugar, a sociabilidade associa-se em grande escala com
problemas do âmbito mais intrusivo, resultados que vão ao encontro dos encontrados em estudos
anteriores DeYoung et al. (2013). O que pode ser sustentado de acordo com as características que
toldam perfis com pontuações elevadas desta faceta. A sociabilidade, é uma faceta que se encontra
muito próxima da dimensão da Amabilidade, revelando padrões de interação com os outros muito
próximos e intimistas, estes que de um ponto de vista de um perfil tipicamente mais Introvertido (extremo
oposto à Extroversão) podem ser interpretados como demasiado intrusivos (Costa & McCrae, 2008). Por
outro lado, a assertividade associa-se em maior escala a problemas de cariz dominante, podendo ser
justificado pelo ascendente social, sensação autoconfiança e frequente postura de líder de opinião que
caracterizam este tipo de perfis (Costa & McCrae, 2008). Estes resultados reforçam os resultados
anteriormente obtidos por DeYoung et al. (2013).
A Amabilidade assume, neste estudo, uma posição no quadrante não hostil-submisso, indicativo
de uma maior associação com problemas interpessoais do foro mais submisso, de excesso de
autossacrifício e de maior acomodação. Estes resultados são concordantes com os registados
anteriormente noutros estudos (e.g. Soldz et al., 1993; Gurtman, 1995). Uma pessoa tipicamente amável
pode ser definida como alguém com tendência para se envolver em contextos sociais, tal como no caso
de valores elevados de Extroversão, com uma postura amável, preocupada e altruísta perante os outros
(John & Srivastava, 1999). Estas qualidades podem justificar a associação com os problemas
interpessoais mencionados acima uma vez que, podem ser consequências da postura mais submissa e
menos assertiva própria deste tipo de perfil.
No que toca às facetas da Amabilidade, estas são ainda mais informativas do que o traço global.
Nos resultados obtidos todas as facetas, no geral, pontuam alto no parâmetro da amplitude do SSM,
28
PERSONALIDADE E PROBLEMAS INTERPESSOAIS

revelando associações claras com problemas relacionais específicos, respetivamente do tipo: submisso,
de excesso de autossacrifício e de maior acomodação. A confiança mostra-se associada em maior escala
com problemas de autossacrifício, consequência própria da vulnerabilidade experienciada aquando do
depósito de confiança noutra pessoa (Costa & McCrae, 2008). O respeito revela uma maior associação
com problemas de índole submissa, podendo este resultado ser justificado pelo que define esta faceta,
respetivamente uma postura mais branda, que aceita a opinião dos outros, mesmo ela sendo contrária
à sua e que inibe a agressividade como abordagem perante as situações vividas (Costa & McCrae, 2008).
A compaixão, por último, assume uma posição, nos resultados do presente estudo, de acomodação
excessiva. Este tipo de comportamento é típico de perfis deste género, estes moldam as interações
sociais em prol do outro, não adotando uma postura confrontativa em qualquer que seja o momento,
mas pelo contrário, sempre com uma postura generosa, preocupada e com excesso de consideração
pelo outro (Costa & McCrae, 2008). Todas as facetas da Amabilidade, tal como o traço no geral, fazem-
se notar pela sua natureza pró-social, por isso apesar de estas se revelarem competências no contexto
social que permitem o sucesso nas suas interações com os outros por outro lado, justificam também a
postura submissa que estes perfis assumem perante os outros.
A Abertura à Experiência e as suas facetas, apresentam um perfil bem definido dentro do circumplexo
interpessoal. Assume uma posição próxima da Extroversão, no quadrante caloroso-dominante, revelando
uma associação com problemas interpessoais similares ao anterior, de excesso de dominância e de cariz
intrusivo. Este perfil traduz pessoas com capacidade de aceitar os pensamentos, atitudes e crenças dos
outros, sendo esse um fator de relevo para o sucesso das relações interpessoais (Costa & McCrae, 2008).
No entanto, o à-vontade e prontidão que demonstra aquando da relação com os outros, próximo do
verificado na Extroversão, pode justificar os problemas interpessoais semelhantes ao traço da
Extroversão.
O Neuroticismo apresenta um perfil bastante disperso no circumplexo interpessoal, abrangendo
vários octantes, isto traduz-se numa associação do respetivo traço com mais do que uma categoria dos
problemas interpessoais. Estes resultados são concordantes com a literatura anterior, que refere que
pessoas com um perfil marcado por altos níveis de Neuroticismo são aquelas que experienciam maiores
dificuldades no contexto interpessoal (Costa & McCrae, 2008; Du et al., 2021; Nysæter et al., 2009).
Ainda assim, estudos anteriores sugerem que apresenta uma correlação mais evidente com problemas
relacionados com a falta de assertividade, excesso de dependência e isolamento social (Ansell & Pincus,
2010; Du et al., 2021; Nysæter et al., 2009; Nunes et al., 2010). Estes dados foram corroborados pelo

29
PERSONALIDADE E PROBLEMAS INTERPESSOAIS

atual estudo, dado que o traço geral se situa nos octantes correspondentes a esses problemas
interpessoais.
A Conscienciosidade é o traço, na literatura anterior, que possui menos informação relativamente
às qualidades interpessoais, nomeadamente no domínio dos problemas interpessoais. Mais uma vez, no
decorrer do presente estudo, foi o traço que revelou menor correlação com as qualidades interpessoais
presentes no circumplexo interpessoal. Tanto o traço da Conscienciosidade no geral, como as suas
facetas, apresentam um perfil bastante disperso dentro do circumplexo interpessoal, com limites muito
pouco definidos. Estes resultados não permitem tirar conclusões sólidas acerca deste domínio. Embora
o Neuroticismo e a Conscienciosidade apresentem ambos perfis bastante dispersos no circumplexo
interpessoal, dada a natureza de cada um dos traços, as interpretações dos resultados são bastante
dispersas. Se por um lado, a dispersão do Neuroticismo indica que este traço tende a correlacionar-se
com mais do que um problema interpessoal com alta gravidade associada à sua experiência, por outro
lado a Conscienciosidade pode apresentar um perfil bastante disperso pois não possui uma forte
associação com nenhum problema em particular, daí ter uma associação, mesmo que baixa, com vários
problemas. Ansell e Pincus (2010) sugerem que a Conscienciosidade tem o seu perfil associado a uma
postura mais assertiva. Este perfil, no que toca à sua vertente interpessoal, tem como aspeto central ser
correto com os outros (Costa & McCrae, 2008), indicativo de uma menor tendência para estar envolvido
em problemas no geral.

Limitações e orientações futuras


O presente estudo apresenta algumas limitações que devem ser tidas em consideração na
interpretação e possível generalização dos resultados para a população. A primeira limitação diz respeito
à baixa heterogeneidade da amostra em relação ao género dos participantes, 80.5% dos mesmos são do
género feminino, o que se traduz numa condicionante face à generalização dos resultados obtidos.
Apontam-se mais duas limitações do estudo, uma que diz respeito à concentração da faixa etária dos
participantes, dado tratar-se de uma amostra de estudantes universitários e outra que concerne na
escolaridade de nível superior de que beneficiam os mesmos, duas condições que colocam em causa a
possibilidade de generalizar os resultados obtidos. Uma última limitação prende-se com o facto da
maioria dos sujeitos inquiridos para o atual estudo serem do curso de psicologia, o que restringe mais
uma vez os resultados no que diz respeito à heterogeneidade da amostra. É relevante ainda referir que
se para este estudo tivesse sido utilizada uma amostra clínica os resultados obtidos seriam mais
extremados no domínio dos problemas interpessoais, uma vez que a psicopatologia está associada em
grande extensão às problemáticas interpessoais.
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PERSONALIDADE E PROBLEMAS INTERPESSOAIS

Posto isto, sugere-se que as investigações futuras utilizem uma amostra mais heterogénea em
relação ao género, idade, nível de escolaridade e área de estudos, para que os resultados sejam mais
representativos da população alvo e desse modo seja possível obter dados mais realistas e generalizáveis.
Apesar das limitações encontradas, é de realçar a importância deste estudo para o aumento do
conhecimento no campo da personalidade e da sua interpretação dinâmica, como é o caso das relações
interpessoais. Em primeira instância foram encontrados resultados congruentes com os estudos
anteriores, reforçando a existência de qualidades interpessoais nos Big-five e a influência dos diferentes
traços na tendência para experienciar determinados problemas interpessoais.

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PERSONALIDADE E PROBLEMAS INTERPESSOAIS

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