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FEP
Maputo, 2022
Fenias Eugénio Nhabanga
FEP
Maputo, 2022
ÍNDICE
Lista de tabelas ................................................................................................................ i
Agradecimentos .............................................................................................................. v
INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 1
Problematização ......................................................................................................................................... 2
Perguntas de pesquisa.............................................................................................................................. 7
1.1. Conhecimento.................................................................................................................................. 8
Lista de tabelas
Tabela 1: Estratificação da amostra por sexo ............................................................... 32
Epígrafe
Declaração de Honra
Declaro ainda que este trabalho não foi apresentado em nenhuma outra instituição para
obtenção de qualquer grau académico.
O Autor
________________________________
Agradecimentos
Primeiramente agradecer a Deus pai todo-poderoso criador do Céu e da terra, por me
ter mantido na trilha certa com saúde, durante o decurso da formação.
Gratidão a minha família pelo apoio incondicional, sem o qual talvez nada disso seria
possível.
Agradeço ao meu supervisor Mestre Domingos Credo Raúl Bié que apesar da sua
intensa rotina de trabalho se dispôs a me orientar nesta monografia, as suas valiosas
indicações fizeram toda a diferença.
Sou grato aos meus colegas que me ajudaram directa /indirectamente, e a todos que
tudo fizeram para que fosse possível alcançar esse objectivo.
Por último quero agradecer a Universidade Pedagógica de Maputo e todo o seu corpo
docente.
Obrigado.
vi
Resumo
O presente trabalho objetivou avaliar os conhecimentos, atitudes e práticas dos profissionais de saúde
do Hospital Geral José Macamo em relação ao apoio psicossocial. O apoio psicossocial é definido como
um conjunto de intervenções que visam apoiar os pacientes com patologias crónicas, e seus familiares
no desenvolvimento de estratégias de enfrentamento da doença e melhoria da qualidade de vida. A
adesão aos cuidados e tratamento dos doentes crónicos é considerada uma dimensão crucial para os
serviços de saúde em todo o mundo. O Apoio Psicossocial (APSS) tem um papel fundamental, que é
garantir acções de suporte, monitoria da adesão e atendimento holístico aos doentes, sob o prisma
biopsicossocial. Daí a relevância do presente trabalho com o tema conhecimentos, atitude, e prática dos
trabalhadores de saúde do Hospital Geral José Macamo sobre o APSS. Para alcançar os objectivos
específicos propostos, recorreu-se à abordagem quali-quantitativa, e para a colheita dos dados recorreu-
se ao instrumento CAP-MOZ, e um questionário para entrevista com perguntas abertas. Os dados
quantitativos foram analisados com recurso ao programa estatístico Statistical Package for the Social
Sciences (SPSS, versão 25), posteriorimente foram mixados com os dados qualitativos pela estratégia
de triangulação concomitante visando à determinação de convergências, diferenças e combinações. Os
resultados mostraram que os profissionais possuem conhecimentos e atitudes sobre APSS, a um nível
aceitável, apesar de nunca terem sido capacitados para o efeito. Os profissionais identificaram
positivamente também a maior parte das questões sobre práticas, no entanto, confirmou-se que poucos
registam as actividades sobre APSS nos livros e no diário clinico. Alguns profissionais não oferecem o
APSS porque não foram capacitados para o efeito, outros alegam carência de instrumentos para o
registo, e dos poucos que existem, todos estão virados para o programa de HIV/SIDA, e tuberculose, e
não abrem espaço para o registo doutras patologias.
Abstract
The present study aimed to evaluate the knowledge, attitudes and practices of health professionals at
Hospital Geral José Macamo in relation to psychosocial support. Psychosocial support is defined as a set
of interventions that aim to support patients with chronic pathologies and their families in the development
of strategies to cope with the disease and improve their quality of life. Adherence to the care and
treatment of the chronically ill is considered a crucial dimension for health services around the world.
Psychosocial Support (APSS) has a fundamental role, which is to guarantee support actions, monitoring
of adherence and holistic care for patients, from a biopsychosocial perspective. Hence the relevance of
the present work with the theme knowledge, attitude, and practice of health workers at the José Macamo
General Hospital on the APSS. To reach the proposed specific objectives, we used a qualitative-
quantitative approach, and for data collection we used the CAP-MOZ instrument, and a questionnaire for
interview with open questions. Quantitative data were analyzed using the statistical program Statistical
Package for the Social Sciences (SPSS, version 25), later mixed with qualitative data by the concomitant
triangulation strategy aiming at the determination of convergences, differences and combinations. The
results showed that professionals have knowledge and attitudes about APSS at an acceptable level,
despite never having been trained for this purpose. Professionals also positively identified most of the
questions about practices, however, it was confirmed that few record the activities on APSS in the books
and in the clinical diary. Some professionals do not offer the APSS because they were not trained for this
purpose, others claim lack of instruments for registration, and of the few that exist, all are focused on the
HIV/AIDS and tuberculosis program, and do not make room for registration other pathologies.
Introdução
A adesão aos cuidados e tratamento dos doentes crónicos é considerada pela
Organização Mundial da Saúde uma dimensão crucial para os serviços de saúde em
todo o mundo (OMS, 2003). O Apoio Psicossocial (APSS) tem um papel fundamental
que é garantir acções de suporte, monitoria da adesão e atendimento holístico, sob o
prisma bio-Psico-sociocultural (IASC, 2017). SNOEK e SKINNER (2005) afirmam que a
adesão ao tratamento e às recomendações médicas tende a ser menor quando o
regime terapêutico é complexo, necessita ser mantido por um longo período de tempo,
condiciona mudanças no estilo de vida da pessoa, ou é desenvolvido tendo em vista a
prevenção da doença mais do que a sua própria cura.
Problematização
O apoio psicossocial (APSS) enquadra-se nas abordagens de saúde, e sustenta-se na
necessidade de promover o desenvolvimento individual e social (OMS e WONCA,
2008). A organização mundial da saúde (2002) reconhece a importância do apoio
psicossocial, e insta as instâncias superiores da saúde a pautarem por intervenções
massivas em indivíduos vulneráveis ou em situações de crise, pois, assim se pode
evitar o desenvolvimento de sintomas graves, episódios de doença e impedir a
deterioração de doenças pré-existentes.
Ainda sobre as práticas do APSS no Brasil, as consultas têm sido conjuntas, com a
participação de especialistas de saúde mental, profissionais de cuidados primários e
pacientes, prática que assegura que os profissionais de cuidados primários adquiram
mais autoconfiança, competência, e independência em lidar com os problemas de
saúde mental dos seus pacientes e, tratam os utentes se forem capazes ou solicitem
avaliação e intervenção de uma equipa especializada em saúde mental, que faz visitas
regulares aos centros de saúde familiar.
Segundo MENDES (2012) o atendimento aos doentes crónicos é feito por uma equipe
da saúde, obedecendo as diretrizes da Atenção Primária á Saúde, onde o psicólogo
tem a função de desenvolver capacitações com a equipe multidisciplinar para o
acolhimento e escuta, promover educação em saúde, psicoeducação, aconselhamento,
entre outras actividades. Para o autor, as acitividades contínuas de APSS no Brasil,
3
Este preceito é defendido por SNOEK e SKINNER (2005), quando afirmam que a
adesão ao tratamento e às recomendações médicas tende a ser menor quando o
regime terapêutico é complexo, necessita ser mantido por um longo período de tempo,
condiciona mudanças no estilo de vida da pessoa, ou é desenvolvido tendo em vista a
prevenção da doença mais do que a sua própria cura, por isso, é pertinente prover o
apoio social e emocional aos pacientes, pois poderá ser uma mais-valia no controlo e
gestão da doença crónica.
Paralelamente, a pesquisa de Leite e Vasconcelos (2003) citados por DIAS et al, 2011)
afirmam que, o abandono do tratamento está ligado à experiência do paciente com os
medicamentos e terapias, como crenças, convicções, expectativas, medos e
interferências religiosas, por isso, os profissionais de saúde devem compreender o
paciente e tentar ajudá-lo de acordo com sua realidade.
5
Neste sentido, com vista a situar este fenómeno dentro da pesquisa, surge a seguinte
questão:
Justificativa
O interesse pelo tema decorre do facto de, durante as aulas prácticas no Hospital Geral
José Macamo (HGJM), ter-se notado algumas restrições na oferta do pacote de apoio
psicossocial, especificamente aos doentes crónicos.
6
Nesta senda, elaborou-se o presente trabalho que em parte contribuirá com um estudo
científico que irá consciencializar as unidades sanitárias, quiçá o Ministério da Saúde
sobre o ponto de situação do funcionamento do apoio psicossocial em Moçambique.
Pra mim, este trabalho é de estrema importância, pois, pra além de servir como
monografia pra obtenção do grau de licenciatura em psicologia clinica, possibilitou me
uma grande aprendizagem.
Objectivos
Geral
Específicos
Perguntas de pesquisa
1. Que conhecimentos, atitudes e práticas os profissionais da saúde têm em
relação ao APSS?
1.1. Conhecimento
O conceito de conhecimento é dinâmico e interativo e se refere a uma mistura fluida de
experiencia condensada, valores, informação conceitual e insight experimentado, a
qual proporciona uma estrutura para a avaliação e incorporação de novas experiências
e informações (CASTELEIRO, 2001). Para BOCK (2001), conhecimento é o conjunto
de informações que o individuo adquire por meio da sua experiência, aprendizagem,
crenças, valores e insight sobre algo no decorrer da sua trajetória. Por outro lado,
VARELA e MATURANA (2011) definem o conhecimento como reprodução sensível e
conceptual da realidade objetiva, natural e social, efectuada pelo cérebro humano.
Com base nos conceitos supracitados pode-se assumir que conhecimento é o conjunto
de informação armazenada por intermedio da experiencia ou da aprendizagem.
Por outro lado, Jean Piaget não considera o processo cognitivo consequência da soma
de pequenas aprendizagens pontuais, mas sim um processo de equilibração desses
conhecimentos, assim, a aprendizagem seria produzida quando ocorresse um
desequilíbrio ou conflito cognitivo (NUNES e SILVEIRA, 2015). A teoria de Piaget tem
enfâse no desenvolvimento cognitivo, e na sua perspectiva, considera que só há
aprendizagem (aumento de conhecimento), quando o esquema de assimilação sofre
acomodação (RICARDO, 2012).
novas experiências (vendo coisas novas, ou ouvindo coisas novas) ela tenta adaptar
esses novos estímulos às estruturas cognitivas que já possuí.
Com base nas teoria de Ausubel e Piaget pode-se assumir que para existir
conhecimento, três fatores são fundamentais: a existência de um sujeito conhecedor;
um objeto a ser conhecido (a realidade, o mundo); e a relação entre estes dois
elementos.
1.2. Atitude
De acordo com NETO (2007) o termo atitude deriva da palavra latina “aptitudo” que
significa a disposição natural para realizar determinadas tarefas. O autor acrescenta
que, na antiguidade, a atitude designava uma posição corporal, e tal significação era
susceptível de ser compreendida pelas outras pessoas. Contudo, Nerí e Jorge (2006)
afirmam que, o termo atitude entrou na linguagem corrente para se referir já não tanto a
uma postura corporal, mas sim ao estado mental.
Thomas e Znanieki (1918), citados por NETO (2007) utilizam o termo atitude para
referir o sentimento que as pessoas dirigem para algum objecto. Para BENNETT e
MURPHY (1999) as atitudes são gostos e aversões, frequentemente expressos como
declarações de opinião, e apontam duas componentes que a compõem: uma crença
relativamente a um objecto, comportamento ou resultado comportamental e um
componente de avaliação que envolve uma apreciação da crença em termos do seu
valor para o individuo. RIBEIRO (1998) define a atitude como uma disposição interna
do individuo face a um elemento do mundo social, problema da sociedade, e que
orienta a conduta em presença real ou simbólica do tal elemento.
11
1.3. Prática
Ainda na ordem da conceituação, iremos definir o termo práctica, tendo como base, a
visão de dois autores, e como regra, no fim iremos tecer alguns comentários em
relação aos conceitos. Para CASTELEIRO (2001), prática refere-se ao modo de fazer
as coisas, como um hábito ou costume, bem como a técnica ou destreza que alguém
possui na realização de algo. O Dicionário da língua portuguesa (2013), define a
práctica como um acto ou efeito de practicar, acção, execução, realização de
exercícios, execução rotineira duma actividade, capacidade, advinha de experiencia de
fazer algo com perfeição, perícia, técnica, hábito, maneira usual de fazer algo ou agir.
12
Numa tentativa de definição de apoio psicossocial, Thoits (1985) citado por BÁRRON
(1996) mencionou que este geralmente consiste no grau em que as necessidades
psicológicas e sociais básicas do indivíduo (de afiliação, afecto, pertença, identidade,
segurança e aprovação) são satisfeitas através da interacção com os outros. Para este
autor estas necessidades podem ser satisfeitas através de ajuda socio-emocional (p.
ex. afecto, simpatia, compreensão, aconselhamento etc.). Para LIN et al. (1986) o
apoio Psicossocial pode descrever-se como um processo facilitador da resiliência nos
indivíduos, famílias e comunidades, respeitando a sua independência, dignidade e
mecanismos de defesa. No âmbito hospitalar, o apoio psicossocial é definido como
conjunto de intervenções que visam apoiar os pacientes com patologias crónicas e os
seus familiares no desenvolvimento de estratégias de enfrentamento da doença e
melhoria da qualidade de vida (MISAU, 2014). Com base no exposto, podemos definir
o apoio psicossocial como acções que respondem às necessidades sociais e/ou
psicológicas de indivíduos, famílias e comunidades.
O APSS tem como objetivo ajudar à recuperação de indivíduos depois de uma crise
que tenha interrompido as suas vidas, e reforçar a sua capacidade de recuperação e
de regresso à normalidade depois de experimentar adversidades decorrentes dessa
crise (IASC, 2017). A entidade citada defende que, o APSS não se concentra
exclusivamente nos aspetos físicos ou psicológicos da saúde e bem-estar, mas sim,
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i. Apoio Psicológico
Há diversas formas de definir o apoio psicológico, desde a adoção de referenciais
generalistas que focam na explicitação do processo sem menção direta a abordagens
psicológicas, até mesmo de posicionamentos que partem exclusivamente de uma dada
abordagem teórica para explicitar o que se concebe como apoio psicológico.
Apoio psicológico é uma estratégia que visa a ajudar as pessoas a planejar, tomar
decisões, lidar com a rotina de pressões e crescer, com a finalidade de adquirir uma
autoconfiança positiva. Pode ser considerada uma relação de ajuda que envolve
alguém que busca auxílio, alguém disposto a ajudar e apto para essa tarefa, em uma
situação que possibilite esse dar e receber apoio (HACKNEY e NYE, 1977).
Scheeffer (1980) define o apoio psicológico como uma relação face a face de duas
pessoas, na qual uma delas é ajudada a resolver dificuldades de ordem educacional,
profissional, vital e a utilizar melhor os seus recursos pessoais.
caracterizado por uma relação única entre conselheiro e cliente, que leva este último a
mudanças em uma ou mais das seguintes áreas: comportamento, construtos pessoais,
capacidade para ser bem-sucedido nas situações da vida ou conhecimento e
habilidade para a tomada de decisão.
Por outro lado, para VALLA, (1998) apoio social refere-se a qualquer informação,
falada ou não, e/ ou auxílio material, oferecidos por grupos e/ ou pessoas, com as
quais teríamos contatos sistemáticos, que resultam em efeitos emocionais e/ ou
comportamentos positivos. Trata-se de um processo recíproco, que gera efeitos
positivos para o sujeito que recebe, como também para quem oferece o apoio,
permitindo que ambos tenham mais sentido de controlo sobre suas vidas.
O conceito do apoio social fornece novo aporte teórico para a discussão do papel dos
factores psicossociais no processo de saúde-doença, ao identificar que estes factores
podem afectar a saúde e bem-estar ao romper com as relações sociais existentes.
Nesse sentido, o conceito de apoio social ajuda a integrar as diversas teorias
psicológicas e sociais existentes na literatura (COHEN e SYME, 1985).
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iii. Resiliência
Um dos conceitos relacionado e que se sobrepõe ao Apoio Psicossocial é o de
Resiliência. No campo da saúde, o termo resiliência foi relacionado à capacidade de
regeneração, adaptação e flexibilidade frente a situações consideradas de alto risco
para patologias (SOUZA e CERVENY, 2006).
Catarino Oliveira, Ana Torres, e Eduardo Albuquerque (2009) citados por PINQUART E
SORENSEN (2000), trazem uma definição sobre o bem-estar psicossocial que
praticamente agrega os conceitos supracitados (conceito da OMS e ONU), e definem-
no como avaliação positiva da vida de uma pessoa, associada com os sentimentos
bons, e envolvendo a boa relação com diversos aspectos quotidianos, como o status
socioeconómico e uma rede de apoio social.
v. Vulnerabilidade Psicossocial
A vulnerabilidade é a condição interna de um individuo ou grupo, inerente e/ou
adquirida, que diante de uma ameaça ou evento traumático, gera um dano (RIBEIRO,
1998). Na afirmação do IASC (2017) quando eventos traumáticos acontecem, nem
todos os sujeitos envolvidos desenvolvem problemas psicológicos significativos,
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Para o MISAU (2014), a nível hospitalar, o apoio psicossocial pode ser oferecido por
qualquer provedor de saúde devidamente treinado, o que significa que, se dispensa a
área de formação. Portanto, todos os profissionais abaixo mencionados, entre outros,
podem oferecer o pacote de APSS.
Educativa
Aconselhamento
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Avaliação de risco
i. Componente Educativa
MARTINS (1996) defende que, quando a participação activa tem efeito positivo na
recepção da comunicação, confere maior percepção de controlo e, portanto, menos
stresse e menor ansiedade.
ii. Aconselhamento
O aconselhamento é uma componente de apoio psicossocial voltada para acção
educativa, preventiva ou profilática e situacional (IASC, 2017). Ainda pra esta entidade,
o foco do aconselhamento é facilitar o processo de escolhas do paciente, e não
necessariamente escolher pelo paciente, sendo esse aspecto que o diferencia com a
oferta de conselhos.
Além disso, a mudança do comportamento humano, questão que tem sido foco da
Psicologia por muitas décadas, também possui relevância na Psicologia da Saúde, ao
contribuir na promoção da saúde dos cidadãos (MATARAZZO, 1980).
O estudo ocorreu no Hospital Geral José Macamo, nos seguintes sectores: medicina,
maternidade, pediatria, consultas de oncologia, consulta de doenças crônicas,
Psiquiatria, psicologia e fisioterapia.
29
O HGJM foi construído em 1922 e teve acréscimo de outros edifícios em 1972 como
Hospital privado. Com as nacionalizações em 1976 passou para o Hospital de
atendimento publico, não tendo portanto, uma estrutura adequada às suas actuais
funções.
O Hospital Geral José Macamo ocupa uma área de 52 Km² com os seguintes limites A
Norte, pela província de Maputo (Michafutene, Distrito de Marracuene); a sul, Baia de
Maputo e Distrito de Matutuine – Bela vista; a Este, pelos bairros de Chamanculo,
Xipamanine, Aeroporto, Mavalane, Albazine, e Mahotas; a oeste, Vale do Infulene.
2.3.1. População
O estudo foi dirigido aos funcionários de todos os níveis, com formação profissional,
visto que, o Ministério da Saúde, no seu manual sobre Apoio psicossocial (2012) afirma
que, a nível hospitalar, o apoio psicossocial pode ser oferecido por qualquer provedor
de saúde devidamente treinado, o que significa que, se dispensa a área de formação.
Em termos numéricos, o estudo foi dirigido a um total de 187 profissionais da saúde
afectos no Hospital Geral José Macamo.
Para o estudo quantitativo, em termos numéricos, participaram 111 sujeitos, dos quais
49 do sexo masculino, e 62 do sexo feminino. Em termos de escolaridade, o estudo
contou com 2 indivíduos do nível básico, 5 técnico básico, 55 técnico médio, 45
superior. Em relação a categoria profissional participaram do estudo 21 médicos, 56
enfermeiros, 1 técnico de psiquiatria, 15 técnicos de medicina, 3 nutricionistas, e o
restante das áreas foram agrupadas numa única categoria e totalizaram 15
participantes.
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Este instrumento foi usado no trabalho de Arnaldo Carvalho Oliveira, 2018, durante a
elaboração da sua dissertação de mestrado com o tema "conhecimentos, atitudes e
práticas de profissionais de Estratégia Saúde da Família em relação ao APSS", e
trouxe bons resultados. É um instrumento que dá a possibilidade de obter elementos
pessoais objetivos e subjetivos, que respondem às indagações da pesquisa, e também
por ser eficiente em fornecer materiais relativos ao comportamento humano,
susceptível a classificação, quantificação e qualificação (Oliveira, 2018).
A pesquisa envolveu 111 participantes, dos quais 44,1% são do sexo masculino, e
55,9% do sexo feminino. Entre as categorias profissionais os enfermeiros compõe
50,5%, os médicos 18,9%, técnicos de medicina 13,5%, nutricionistas 2,7%, técnicos
de psiquiatria 0,9%, e o restante das categorias representam 13,5%. Para melhor
tratamento dos dados disponíveis, criou-se três subgrupos nas idades, e os dados
sobre as suas frequências serão apresentados na tabela 3.
Como se pode notar na tabela (5) a média total do questionário CAP foi (M=1,4; DP
=.16), variando de em cada dimensão. As dimensões tiveram como médias:
Conhecimentos (M = 1,3; DP =,26); Atitudes (M = 1,3; DP =,21) e Práticas (M = 1,4; DP
=,18). Assimetria foi de (,29) curtose (,46) da escala total. Com este resultado obtidos
pode-se afirmar que a distribuição dos dados é normal partindo do pressuposto de que
a simetria e a curtose devem estar no intervalo de] -1; +1.5[, de acordo com MAROCÔ
(2018), pelo que foram realizadas análises com bases em testes paramétricos.
Análise da fiabilidade
Como se pode notar, neste estudo a nossa versão do instrumento CAP conhecimento,
atitudes e praticas sobre o apoio psicossocial apresentou bons índices de fiabilidade o
que significa boa consistência interna deste instrumento e algum grau de adequação ao
contexto em que foi aplicado. Com a tabela 7 pode-se notar a relevância das 25
questões que compõe nossa versão final pois, não há questões que quando eliminadas
eleva-se o nível de fiabilidade.
40
Em relação as atitudes sobre apoio psicossocial, os dados da tabela (8) mostraram que
a maioria dos participantes apresentou respostas adequadas, destacando o facto de
considerarem importante que os pacientes tenham o APSS Q 20 (86.5%); que a oferta
massiva do APSS garante a retenção aos cuidados e tratamento Q 21 (75.9%); que
todos os profissionais de saúde devem ser capacitados em matéria de APSS Q 24
(69.4%).
Porém há que destacar que os inquiridos têm tido algumas práticas em favor do APSS,
particularmente ao submeter os pacientes ao APSS Q25 (76.6%); encaminhar os
doentes crónicos Q27 (70.3%), e ao realizar o diagnostico e análise de situações e
comportamentos que podem influenciar a doença física dos pacientes Q31 (91.9%).
43
"… não tem sido possível registar casos atendidos no APSS pois a
Unidade sanitária apenas tem 3 manuais: 1 encontra-se no SAAJ, 2 nas
Consulta de HIV…" (P8);
44
"… registo casos de APSS quando ofereço aos pacientes HIV positivos
[…] o manual de registo não tem espaço para outras doenças…" (P4);
1 2 3 4
Sexo 1
Conhecimentos -,112
,246 1
110 110
Atitudes ,167 ,037
,080 ,699 1
111 110 111
**
Práticas -,020 ,275 ,354**
,832 ,004 ,000
111 110 111 1
Fonte: Dados do SPSS
apoio psicossocial, em relação a variável sexo, o que nos sugere que, provavelmente,
o sexo não tenha grande contributo sobre como os profissionais de saúde encaram o
apoio psicossocial.
Há, porém, que destacar o facto de terem sido encontradas correlações positivas e
significativas que foram identificadas entre praticas sobre APSS e conhecimentos sobre
APSS (r =,275**; p <0.01), e entre praticas sobre APSS e atitudes sobre APSS (r
=,354**; p <0.01), sugerindo que quanto maior forem os conhecimentos sobre o APSS
melhor serão as práticas, e quanto maior forem as atitudes maior também serão sobre
as praticas sobre o APSS. Segundo MARÔCO (2018), as fortes associações entre as
dimensões do questionário confirmam a robustez da correlação entre os itens.
Ainda ligado ao terceiro objectivo desta pesquisa, no qual nos propusemos a verificar o
tipo de relações possíveis entre as variáveis, aplicamos um teste de comparação de
médias.
Tabela 11: Comparação de médias das dimensões conhecimento, atitude e prática, em função do sexo.
Teste de Levene
para igualdade
de variâncias Teste-t para Igualdade de Médias
Inferior Superior
Conheci- ,000 ,994 -1,175 105,120 243 -,05841 ,04972 -,15699 ,04017
mentos
Atitudes 1,539 ,217 1,754 100,026 ,083 ,07064 ,04028 -,00928 ,15056
Práticas ,347 ,557 -,216 108,122 ,829 -,00727 ,03364 -,07395 ,05940
Como mostra a tabela 11, foi aplicado o teste t-Student para avaliar a significância da
diferença das dos conhecimentos, atitudes, e práticas entre homens (grupo 1) e
mulheres (grupo 2). Não foram encontradas diferenças estatisticamente significativas
entre os homens e mulheres, em relação aos conhecimentos (Homens, M=1,3;
DP=,25), (Mulheres, M=1,3; DP=,27), t= -1,175; Atitudes (Homens, M=1,4; DP=,22),
(Mulheres, M=1,4; DP=,20), t= 1,754; Práticas (Homens, M=1,4; DP=,16), (Mulheres,
M=1,4; DP=,19), t= -,216. Os resultados obtidos demostram que o sexo não influencia
no nível de conhecimentos, atitudes e práticas dos profissionais da saúde sobre o
apoio psicossocial.
Tal como fizemos menção anteriormente, nesta segunda parte do último capítulo nos
propomos a discutir os dados ora apresentados, cruzando-os com a literatura.
Os dados da tabela (8) revelam que a maior parte dos sujeitos possui um nível
adequado em termos de atitudes relacionadas com o APSS, visto que a maioria
identificou positivamente as questões relacionadas a esta dimensão do questionário, e
o mesmo verificou-se nas entrevistas, onde boa parte reconheceu a importância do
APSS. O nível das atitudes pode estar ou não relacionado aos conhecimentos sobre
um determinado fenómeno. Existem controvérsias entre teorias em relação a este
preceito, exemplo, BENNETT e MURPHY (1999) afirmam que nem sempre o
conhecimento se converte em atitudes. No entanto NERÍ e JORGE (2006) concluem
que para que exista uma determinada atitude é necessário que o sujeito tenha
conhecimento e crença relativamente ao objecto.
É de salientar que, o nosso estudo entra em concordância com as duas últimas teorias,
pois nele verifica-se uma simetria entre o nível de conhecimentos e atitudes em relação
ao Apoio psicossocial.
No que diz respeito às práticas sobre o apoio psicossocial, os dados revelam que os
sujeitos envolvidos no estudo possuem um nível adequado, visto que responderam
positivamente as questões inerentes a esta dimensão, com excepção dos itens (26, 29,
30, e 35) do instrumento, que revelam que, a maior parte dos funcionários nunca teve
acesso aos manuais de APSS; nas suas intervenções dispensam problemas
psicológicos e sociais do paciente e focam apenas na doença física; no decorrer da
consulta, não aproveitam a ocasião para avaliar a adesão do paciente aos cuidados e
tratamento, e sempre que oferecem o apoio psicossocial aos pacientes na unidade
sanitária, não fazem o registo no diário clinico e no livro dos atendidos. Importa referir
que não encontramos estudos paralelos que chegaram a esta conclusão, no entanto,
pensamos que há necessidade de se olhar mais uma vez na componente capacitação,
49
A inexistência de instrumentos para o registo de casos de APSS para a maior parte das
doenças, com excepção do HIV/SIDA, torna o processo complicado. Alguns
profissionais tem oferecido o APSS aos doentes que padecem de outras patologias que
não seja HIV, no entanto tal actividade fica registado apenas no diário clínico e não é
reportado nos relatórios, pois estes também não abrem espaço para outras doenças,
facto que leva a perda de dados sobre APSS, pois de acordo com o IBE (2009) em
termos estatísticos uma actividade não reportada nos manuais de registo e relatórios,
não é reconhecida nas bases de dados das U.S. De salienta que o fraco registo de
actividades de APSS nota-se também nos casos de HIV/SIDA, supostamente devido a
insuficiência de livros nos sectores.
Há, porém, que destacar o facto de terem sido encontradas correlações positivas e
significativas que foram identificadas entre praticas sobre APSS e conhecimentos sobre
APSS (r =,275**; p <0.01), e entre práticas sobre APSS e atitudes sobre APSS (r
=,354**; p <0.01), sugerindo que quanto maior forem os conhecimentos sobre o APSS
melhor serão as práticas, e quanto maior forem as atitudes maior também serão sobre
as praticas sobre o APSS. Segundo MARÔCO (2018), as fortes associações entre as
dimensões do questionário confirmam a robustez da correlação entre os itens.
50
Ainda ligado o terceiro objetivo, foi feita a comparação de médias entre o nível de
conhecimentos, atitudes e práticas acerca do APSS em função do sexo. Não foram
encontradas diferenças estatisticamente significativas entre os homens e mulheres, em
relação aos conhecimentos, atitudes, e práticas sobre o APSS. Um resultado
semelhante foi encontrado no estudo de Oliveira, 2018, durante a elaboração da sua
dissertação de mestrado com o tema "conhecimentos, atitudes e práticas de
profissionais de Estratégia Saúde da Família em relação ao APSS.
51
4. Constatações e sugestões
Este estudo destinou-se avaliar a relação entre os conhecimentos, atitudes e práticas
dos profissionais de saúde do Hospital Geral José Macamo sobre o apoio psicossocial.
4.1. Sugestões
5. Referências bibliografia
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