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CURSO DE PSICOLOGIA
Brasília
2023
VINÍCIUS MATOS DE ALMEIDA
Brasília
2023
2
CENTRO UNIVERSITÁRIO PROJEÇÃO
Curso de Psicologia
___________________________________________________________________
Profa. Ma. Michelle de Faria Nunes - Presidente
Centro Universitário Projeção
Curso de Psicologia
___________________________________________________________________
Prof. Me. Pedro Martini Bonaldo - Membro Interno
Centro Universitário Projeção
Curso de Psicologia
___________________________________________________________________
Drª. Adriana Barbosa Sócrates - Membro Externo
Psicóloga Clínica
Pesquisadora e Docente
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DEDICATÓRIA
Em memória de meu pai, Wilson Juvenal, que sempre sonhou com esse momento de
minha vida, e a minha mãe, Antônia Matos, que com seu amor, apoio e sacrifício, me
criou e me tornou a pessoa que sou hoje. Mãe, este trabalho é uma pequena
homenagem ao seu exemplo de coragem, determinação e amor incondicional. Espero
que este pequeno gesto possa de alguma forma retribuir todo o amor e dedicação que
você sempre teve por mim. Obrigado por ser minha mãe, meu exemplo e minha
melhor amiga. Te amo para sempre.
4
EPÍGRAFE
5
RESUMO
Alcoholism is a complex topic in the field of mental health, and the social stigma faced
by individuals who have a pathological relationship with alcohol has been the subject
of academic debates in the field of psychology. The psychodynamics that structure the
personality of an alcoholic share similarities with those of other substance abusers.
Freud (1930/2020) points to a regression to the oral phase of psychosexual
development as a psychodynamic process involved, while other theorists argue that
alcohol satisfies sexual desire. Within the psychoanalytic perspective, defense
mechanisms such as denial, projection, and rationalization are common in the
structure of addictions (ALMEIDA, 2020). It is important to analyze the patient as a
whole, not only through generalized diagnostic criteria but also considering the
individual's subjectivity. The objective of this research is to understand how the
psychodynamic processes of personality manifest in a young adult alcoholic. This is a
qualitative research, based on the clinical-qualitative method, using a case study of a
young adult diagnosed with alcohol use disorder. To gather information, documentary
analysis - medical records and progress notes - clinical observations, semi-structured
interviews, and the administration of projective psychological tests were conducted.
The results describe and explain the suppression and containment of emotions as
triggers for emotional overload and barriers to healthy interpersonal relationships,
denial and its role as harm reduction from moral and lethal masochisms, projection and
the rigidity of the superego as pillars of low self-esteem, idealcoolism as a fanciful
solution to a rigid superego, rationalization and denial as fuel for moral and lethal
masochism, and the resulting "pressure cooker" of all these internal conflicts
externalized through abusive alcohol use. The findings of this project can provide
important information for the development of more effective theoretical and
methodological resources for the treatment of alcoholism and other disorders related
to alcohol use.
7
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................10
2 OBJETIVOS.....................................................................................................12
4 METODOLOGIA 31
4.1 DELINEAMENTO DA PESQUISA.................................................................31
4.2 PÚBLICO ALVO............................................................................................32
4.3 PLANO DE COLETA DE DADOS.................................................................33
4.4 INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS...................................................34
4.5 METODOLOGIA DE ANÁLISE DE DADOS..................................................36
8
5.1.6 Déficits interpessoais nas situações de proximidade emocional intensa ou
física...................................................................................................................49
5.1.7 Desorganização do pensamento...............................................................50
5.1.8 Sintomas neuróticos e a busca por situação de carga afetiva intensa......52
5.1.9 Distorção da realidade: uso exagerado da fantasia...................................53
5.2 MECANISMOS DE DEFESA MANTENEDORES DO ALCOOLISMO..........55
5.2.1 Negação.....................................................................................................55
5.2.2 Racionalização...........................................................................................57
5.2.3 Projeção.....................................................................................................59
5.2.4 Supressão.................................................................................................. 60
5.3 RELAÇÃO PSICODINÂMICA ENTRE A ESTRUTURA DE
PERSONALIDADE E OS MECANISMOS DE DEFESA.....................................61
5.3.1 Supressão e contenção das emoções: desencadeadores de sobrecarga
emocional............................................................................................................62
5.3.2 A supressão e a contenção das emoções: freios para as relações
interpessoais saudáveis......................................................................................62
5.3.3 A negação e seu papel como redução de danos advindos de
masoquismos moral e mortífero..........................................................................63
5.3.4 Projeção e a rigidez do superego: o pilar da baixa autoestima.................65
5.3.5 Idealcoolismo: a solução fantasiosa para um superego rígido..................65
5.3.6 A racionalização e a negação: o combustível para o masoquismo moral e
mortífero..............................................................................................................66
5.3.7 "A panela de pressão"................................................................................67
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................................68
APÊNDICES
ANEXOS
9
1 INTRODUÇÃO
Em linguagem popular, droga significa coisa ruim ou sem qualidade. Segundo
Araújo (2012), o entendimento científico de droga refere-se a qualquer substância
capaz de alterar o funcionamento normal de um organismo. O álcool é considerado
uma droga para as sociedades ocidentais e a utilização abusiva desta substância
trata-se de um tema complexo dentro do âmbito da saúde mental (ARAÚJO, 2012). O
alcoolismo, um padrão problemático de uso de álcool que leva a um comprometimento
ou sofrimento clinicamente significativo (DSM V, 2014), também, é um tema repleto
de concepções errôneas e preconceituosas. O estigma social envolvido em processos
de alcoolismo são de notória importância para a psicologia, tornando-se indispensável
a compreensão dos mecanismos de funcionamento do psiquismo de um alcoolista,
bem como de sua personalidade.
A psicodinâmica que estrutura a personalidade do alcoolista apresenta
características semelhantes aos processos psicodinâmicos comuns aos dependentes
químicos (RIBAS, ANDRADE, et al., 2009). Segundo Freud, os processos
psicodinâmicos envolvidos em casos de abuso de drogas apontam uma regressão à
fase oral do desenvolvimento psicossexual, na qual o álcool ajuda a liberar a tensão
gerada entre o conflito das instâncias psíquicas id e superego em decorrência do
desamparo sofrido durante a infância (FREUD, 1930/2020).
Já para outros teóricos, o álcool satisfaz o desejo sexual, podendo o alcoolista
recorrer ao prazer sem dificuldades e limitações (SOBRINHO, 2005). A presença de
mecanismos de defesa como negação, projeção e racionalização são comuns na
literatura como forma inconsciente de alguns usuários justificarem seu vício. Identificar
esses mecanismos de defesa é fundamental tanto para o psicoterapeuta conduzir a
terapia com qualidade, como também para possibilitar que o paciente finalmente
alcance insight e uma melhor qualidade de vida (ALMEIDA, et al., 2020).
Para ofertar um acompanhamento de qualidade a estes indivíduos é de suma
importância enxergar e analisar o paciente como um todo. Essa visão panorâmica se
dá por meio de técnicas que possam abranger e proporcionar uma análise ampla de
sua psicodinâmica, como também pela utilização de testes projetivos que possibilitem
acessar a subjetividade da pessoa alcoolista, uma vez que se trata de alguém que
10
possui uma história de desenvolvimento psicossexual que pode ser relacionada com
a forma como esse sujeito expressa seus comportamentos patológicos.
Assim, esta pesquisa encontra a sua justificativa pessoal no fato de ter sido
possível ao pesquisador, ao longo da graduação em psicologia, observar que muitos
jovens se distanciaram das atividades acadêmicas após a transição do uso para o
abuso de álcool, entre outras substâncias. Ao ingressar no período de estágio
profissionalizante, as observações acadêmicas materializaram-se em um caso clínico
de um adulto-jovem com sintomas de alcoolismo, apresentando um insight
extremamente pobre em relação ao estado psicopatológico, sinais que serviram de
motivação intrínseca para auxiliar o paciente no processo de mudança e readaptação
tão necessárias para seu desenvolvimento pessoal.
Atualmente, a medicina define como droga qualquer substância capaz de
modificar o funcionamento normal de um organismo. O ato de se consumir drogas,
refere-se a uma prática humana milenar e repetida em todo o mundo, o uso do álcool
em específico encontra-se presente com maior incidência no ocidente. Grande parte
dos usuários utiliza essa droga de forma controlada, entretanto, uma minoria
desenvolve padrões de uso inadequados, levando a consequências nocivas e muitas
vezes desastrosas. Torna-se importante ressaltar que o processo desencadeador do
alcoolismo não se deve somente a substância em si, mas do encontro do indivíduo
com ela, da situação e o contexto que se dá esse encontro, levando sempre em
consideração, a subjetividade do sujeito (ZEMEL e SADDI, 2015).
Essa junção de contexto, indivíduo e substância torna-se indispensável para
compreender o fenômeno do alcoolismo em sua plenitude. Tendo como pressuposto
a interação complexa entre estas dimensões para se compreender a funcionalidade e
os mecanismos psíquicos de indivíduos com prejuízos decorrentes do abuso de
álcool, este estudo encontra a sua justificativa teórica no fato da abordagem
psicanalítica apresentar comprovado potencial terapêutico quando aplicada aos
pacientes com problemas relacionados ao uso de droga (DOS SANTOS, 2007). Dessa
forma, acredita-se que a pesquisa possa auxiliar psicoterapeutas e pacientes
alcoolistas a ampliar a compreensão de suas singularidades psíquicas e melhor
compreender a psicodinâmica de sua psicopatologia, de forma que possam alcançar
um bem-estar subjetivo e um estado de saúde mental satisfatório.
11
A justificativa social desta pesquisa incide sobre o fato do uso exacerbado de
álcool possuir efeitos devastadores em qualquer indivíduo, entretanto, jovens adultos
encontram-se em uma situação de maior exposição e risco em comparação com a
população geral (CONCEIÇÃO et al., 2012). Assim, acredita-se que o conhecimento
produzido nesta pesquisa possa favorecer o desenvolvimento de ações coletivas,
assim como intervenções clínicas e terapêuticas que favoreçam o prognóstico destes
sujeitos.
É de conhecimento geral, que além de acidentes e violência envolvendo a si
mesmo e a outros, o uso excessivo de álcool pode causar diversos problemas ao
indivíduo. Porém, algo que não é enfatizado de maneira tão abrangente como os
prejuízos biológicos ou psicológicos advindos do abuso, é o contexto social
relacionado ao tema. O estigma social do “ser alcoólatra 1” abrange fatores muito
importantes que, quando são compreendidos do ponto de vista relacional, podem
auxiliar de maneira positiva e benéfica o tratamento do paciente alcoolista. Por se
tratar de uma droga lícita de fácil acesso, o uso abusivo de álcool tornou-se um grande
problema de saúde pública. Com a falta de conhecimento da população, o indivíduo
alcoolista passa a ser alvo de prejulgamentos, sendo muitas vezes intitulado com
termos pejorativos (JORGE, et al., 2007).
Diante dessa conjuntura, o objetivo desta pesquisa consiste em compreender
como se configuram os processos psicodinâmicos da personalidade de um adulto-
jovem alcoolista, utilizando a metodologia clínico-qualitativa, amparada na análise
documental, observações clínicas e na aplicação e análise de um teste psicológico
projetivo.
2 OBJETIVOS
1O termo ‘alcoólatra’, foi escolhido para representar o estigma social, onde os indivíduos que realizam
um uso problemático de álcool, recebem essa designação advinda do senso comum.
12
2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS
2.2.1 Identificar as características de personalidade do sujeito alcoolista
2.2.2 Descrever os mecanismos de defesa mantenedores do alcoolismo
2.2.3 Analisar a relação psicodinâmica entre a estrutura de personalidade e os
mecanismos de defesa mantenedores do alcoolismo.
3 REVISÃO DE LITERATURA
13
Segundo Jacques Lacan (apud TOREZAN e AGUIAR, 2011), o psiquismo é
composto por três instâncias interligadas: o Real, o Imaginário e o Simbólico. O real
representa a dimensão da experiência humana que está além da capacidade de
simbolização e linguagem. É uma ordem pré-simbólica que escapa à plena
compreensão consciente, estando associada a experiências traumáticas, angústias e
faltas que não podem ser completamente expressas por meio de símbolos. O
imaginário refere-se à dimensão do psiquismo que se desenvolve a partir de imagens
e relações refletidas, está relacionado ao narcisismo, à formação da identidade e à
ilusão de uma imagem coerente do “eu”. O imaginário está vinculado à idealização e
à busca de completude e plenitude. O simbólico é a instância que envolve a
linguagem, os sistemas de significação e os processos de simbolização. Através do
simbólico, o sujeito se constitui como um sujeito falante e é inserido em uma ordem
simbólica compartilhada pela sociedade. A linguagem desempenha papel
fundamental na estruturação do psiquismo e na mediação das relações com os outros.
É importante ressaltar que essas três instâncias não são independentes, mas estão
interconectadas e se influenciam mutuamente. O simbólico é considerado essencial
para a constituição do sujeito, pois é por meio da linguagem que se adquire uma
identidade e estabelece relações com o mundo.
Com base nos conceitos freudianos, outros teóricos denominados
neopsicanalistas, trouxeram novas noções de como se compreender a personalidade
e o psiquismo humano. Um destes teóricos foi Alfred Adler, precursor da Psicologia
Individual, na qual os sentimentos de inferioridade são as fontes da luta humana,
gerando um complexo de inferioridade (a capacidade de se resolver os problemas da
vida), seja por origem orgânica, como uma deficiência ou por interferência do meio
social, como negligência ou bajulação em excesso. A meta do ser humano, para Adler,
é alcançar a superioridade ou a perfeição através do poder criativo do self2 (a
capacidade de criar o nosso self a partir do que nos foi fornecido pela hereditariedade
e o ambiente). Diferentemente de Freud, Adler traz uma visão mais esperançosa da
natureza humana, onde a infância é importante, entretanto, não somos vítimas dela,
2O conceito de "self" para Adler envolve a compreensão da personalidade como um todo dinâmico e
em constante evolução, influenciado por fatores internos e externos, e com ênfase na capacidade de
ação e busca de significado na vida (LEAL e ANTUNES, 2015).
14
para o autor as pessoas são únicas e têm o livre-arbítrio e a capacidade de moldar
seu próprio desenvolvimento (SCHULTZ e SCHULTZ, 2021).
De acordo com Karen Horney, a personalidade é moldada principalmente pelas
experiências interpessoais durante a infância. Ela argumenta que as crianças são
afetadas por seus relacionamentos com os pais, especialmente a relação com a mãe
e o pai, bem como a cultura em que são criadas. Essas experiências moldam a
percepção que a criança tem de si mesma, dos outros e do mundo. Horney também
identificou dez necessidades neuróticas que surgem como resultado de ansiedades
básicas não resolvidas. Essas necessidades neuróticas são divididas em três
categorias principais: necessidades de afeto e aprovação, necessidades de controle
e necessidades de segurança e independência. Os indivíduos desenvolvem
estratégias mal-adaptativas para lidar com essas necessidades, e essas estratégias
podem levar a comportamentos neuróticos. Horney também propôs três atitudes
básicas que os indivíduos podem adotar em relação aos outros: a atitude de mover-
se em direção aos outros, em que buscam ser amados e aprovados; a atitude de
mover-se contra os outros, em que buscam dominar e controlar; e a atitude de mover-
se afastado dos outros, em que buscam independência e autonomia. Ao contrário de
Freud, Horney acreditava que a mudança e o crescimento pessoal eram possíveis ao
longo da vida. Ela defendia a importância de enfrentar as ansiedades básicas,
desenvolver relações interpessoais saudáveis e alcançar um equilíbrio entre as
necessidades individuais e as demandas sociais (NEUMANN, 2000).
15
no nível consciente, levando em consideração o que é adequado e o que é
inadequado em determinada situação. O superego, a terceira instância psíquica, atua
nos níveis pré-conscientes e inconsciente, agindo pelos princípios morais, censurando
o que é inadequado (GABBARD, 2006).
Quando aborda-se o processo psicodinâmico de estruturação da personalidade
do alcoolista, faz-se necessário demarcar que esta forma de funcionamento é
estruturada sobre uma base neurótica. Uma das primeiras explicações para o
funcionamento das neuroses foi dada por Freud, afirmando que quando surge um
conflito entre instâncias psíquicas, é gerada a ansiedade que ocasiona diversos
sintomas neuróticos, fobias e histerias. Para o aparelho psíquico lidar com essa
ansiedade, inconscientemente cria-se mecanismos de defesa. O mecanismo de
defesa mais enfatizado por Freud foi o mecanismo de repressão, que impede que
sentimentos e pensamentos dolorosos cheguem à consciência, ficando armazenados
no inconsciente (FREUD, 2017)
Anna Freud (2006) discutiu amplamente a influência dos mecanismos de
defesa na psicodinâmica que estruturam a personalidade. Ela expandiu os conceitos
estabelecidos por seu pai, Sigmund Freud, incluindo além da repressão e projeção,
outros nove mecanismos de defesa: regressão, formação reativa, anulação,
introjeção, identificação, reversão, sublimação, deslocamento, racionalização,
isolamento, supressão e negação. Enquanto Sigmund Freud focava principalmente os
impulsos inconscientes, Anna Freud direcionou a atenção para as defesas do ego,
ampliando a compreensão dos mecanismos de defesa. Com isso, ela afastou a ideia
da formação de sintomas neuróticos e abriu caminho para uma abordagem mais
voltada à patologia do caráter e da personalidade (GABBARD, 2006).
Dessa forma, os mecanismos de defesa descritos por Anna Freud incluem a
regressão, que envolve o retorno a fases precoces do desenvolvimento para evitar
conflitos; a formação reativa, que transforma um desejo inaceitável em seu oposto; a
projeção, que envolve projetar conteúdos inconscientes em objetos externos; e a
sublimação, que canaliza impulsos para atividades ou objetivos socialmente
aceitáveis. A contribuição de Anna Freud expandiu o conhecimento sobre os
mecanismos de defesa, destacando sua relevância na estruturação da personalidade
16
e fornecendo um novo enfoque na compreensão da patologia do caráter e da
personalidade. (GABBARD, 2006; FREUD, 2006).
17
Figura 1 – Estágios do desenvolvimento psicossocial de Erik Erikson
Fonte: Imagem retirada do livro “Teorias da personalidade”, 11ª ed. Schultz e Schultz, p. 165, 2021”
18
estágio, fundamentado na crise da “generatividade X estagnação”, é quando surgem
as atividades reflexivas, transmissão de conhecimentos, as responsabilidades de
educar os filhos, reconhecimento profissional entre outros temas, podendo gerar a
potencialidade denominada de generatividade. Se os projetos frustram ou sua
autoavaliação não é satisfatória, há uma estagnação e autossabotagem. Para o autor,
uma fase poderia afetar a fase seguinte, entretanto, com a terapia, o indivíduo poderia
encontrar meios para superar e compensar um estágio patologizado (RABELLO e
PASSOS, 2008; SCHULTZ e SCHULTZ, 2021).
Ao descrever a evolução da personalidade através da teoria do
desenvolvimento psicossexual, Freud (2017) desenvolve a ideia de que a vida era
construída em torno da tensão e do prazer. Toda a tensão se devia ao acúmulo de
libido - energia sexual e o prazer vinha de sua descarga, propondo, então, o
entendimento de que o desenvolvimento sexual não começa na puberdade, mas sim
muito antes, na infância. Para Euzébio (2020, pg. 02), o “instinto sexual de Freud é de
fato um instinto sensual pois ele considerava não apenas os órgãos genitais, mas
qualquer parte do corpo onde as sensações poderiam ser focadas - zonas erógenas”.
Em equiparação ao quinto, sexto e sétimo estágios de Erikson, segundo Freud,
na fase genital (puberdade e vida adulta), a criança tem a sua energia sexual voltada
para seus órgãos genitais e, portanto, em direção às relações afetivas, sendo a
primeira vez que o indivíduo quer agir de acordo com seu instinto de procriar. Em
concordância com Erikson, Freud traz o importante conceito de que conflitos internos
típicos das fases anteriores, podem vir a atingir uma relativa estabilidade, conduzindo
ou não, a pessoa a uma estrutura do ego que lhe permite enfrentar os desafios da
idade adulta. Nessa fase, os indivíduos estão conscientes de suas identidades sexuais
distintas e começam a buscar formas de satisfazer suas necessidades eróticas e
interpessoais (EUZÉBIO, 2020).
Como já enfatizado, durante a idade do jovem-adulto, a luta para formar um
senso de individualidade e proatividade, gera conflitos internos notórios que podem
vir a interferir no desenvolvimento pleno da adultez. O não desenvolvimento da
identidade de forma coesa, o isolamento, o senso de insuficiência e inferioridade,
entre outros sentimentos, podem ocasionar diversos comportamentos e pensamentos
prejudiciais ao jovem adulto. Comportamentos disruptivos, ideações suicidas,
19
sentimentos ansiosos, melancolia profunda, abuso de substâncias e hostilidade são
alguns dos recursos geralmente externalizados nessa fase da vida (EIZIRIK,
KAPCZINSKI e BASSOLS, 2001).
20
o uso de álcool e de outras drogas em indivíduos com os traços de personalidade
listados anteriormente estaria associado à forma de enfrentar situações
emocionalmente difíceis e estressantes, além de “auxiliar” a lidar com frustrações e
com a impulsividade (LOUZÃ e CORDAS, 2020).
Para Waks (1998), Freud também percebe que o surgimento da dependência
química pode ocorrer em decorrência da substituição do objeto de gratificação original
da pulsão. Compreende-se a dependência como um sintoma deslocado substitutivo
da masturbação infantil, remetendo a ligação entre o abuso de substâncias e o
autoerotismo.
Uma das primeiras manifestações teóricas da psicanálise em relação a
drogadição foi no livro de Freud, como já citado anteriormente, o autor focou no uso
de drogas como um recurso defensivo contra a infelicidade. Entretanto, esse mal-estar
psíquico não surge repentinamente, possivelmente sendo resultado de um
desenvolvimento psíquico patológico em fases primárias, associado, principalmente,
às relações com pai e mãe. A droga surge então, assumindo o lugar da intolerância a
frustrações, buscando uma felicidade momentânea (FREUD, 1930/2020). Rado (1953
apud Waks, 1998, p. 73), considera que na base de todo tipo de toxicomania existe
uma depressão tensa caracterizada por uma grande ansiedade dolorosa associada a
um grau elevado de intolerância ao sofrimento.
Estima-se que até 70% dos indivíduos com transtorno de personalidade têm
algum transtorno associado ao uso de álcool e 40% ao uso de outras drogas, sendo
importante destacar que existem algumas características relevantes na chegada ao
tratamento de usuários de drogas com alguma comorbidade. Aqueles usuários que
têm comorbidades com outros transtornos, como depressão e ansiedade, apresentam
mais mal-estar, incômodo e desejo de procurar ajuda do que aqueles com transtorno
de personalidade. Os transtornos neuróticos (ansiedade) e os transtornos de humor
são sentidos pelos pacientes como egodistônicos, já os transtornos de personalidade
são vistos como “o jeito do paciente” e não como um transtorno, uma doença ou algo
que possa ser tratado (LOUZÃ e CORDAS, 2020).
21
Segundo Araújo (2012), o álcool é um termo genérico para designar uma família
de substâncias químicas orgânicas de propriedade semelhantes. A substância mais
ingerida desta família é o etanol, substância lícita, produzida desde a antiguidade pela
fermentação de açúcares presentes em cereais, raízes e frutas. Do ponto de vista
normativo, conforme a legislação brasileira, a venda e o consumo de álcool é liberado,
com exceção dos menores de 18 anos de idade. De acordo com os efeitos produzidos
pela substância no sistema nervoso central, o álcool é considerado uma droga do tipo
depressiva, que diminui a atividade cerebral, causando perda de reflexo, atenção,
desinibição, alterações no estado de consciência, euforia, sono, falta de coordenação
motora, entre outros sintomas. Mesmo que no Brasil o uso de álcool seja lícito, é
importante destacar a responsabilidade do uso abusivo desta substância no
desenvolvimento de diversas enfermidades. Quando consumido em excesso, o uso
de álcool é considerado um problema de saúde pública, ligado a acidentes de trânsito,
violência e alcoolismo (quadro de dependência).
O uso de álcool, no contexto social moderno, é visto majoritariamente de
maneira favorável e concordante, o que dificulta a identificação de padrões de
consumo patológicos, observando-se uma consequente redução da mobilização de
profissionais de saúde para diminuir os impactos problemáticos advindos do abuso de
álcool. A atual posição ideológica da sociedade, confunde a população com sua
ambiguidade, que por um lado pactua e até mesmo viabiliza e fomenta o consumo
moderado de álcool e, em contrapartida, segrega e pormenoriza o consumo
desmedido e descontrolado (ANDRADE, ANTHONY e SILVEIRA, 2008).
Sadock, Sadock e Ruiz (2017, p. 624), trazem na 11ª edição do Compêndio de
Psiquiatria, informações importantes a respeito do alcoolismo;
22
Há controvérsias quanto à terminologia dos distúrbios associados ao uso de
substância. O termo “vício” é considerado depreciador por alguns autores, que
preferem usar os termos “abuso” e “dependência”. Entretanto, argumenta-se que o
termo “vício” captura um aspecto essencial do distúrbio clínico: o uso continuado da
substância, apesar dos sérios problemas por ela causados. Do mesmo modo, os
critérios determinantes da dependência, conforme descritos adiante, enfocam a
tolerância e os sintomas de abstinência. Entretanto, há tanto síndrome de abstinência
sem vício quanto vício sem síndrome de abstinência. Pode-se dizer que a
dependência fisica é um nível de alteração do cérebro relativamente simples, que
pode ser tratado com remédios. A dependência química, forma de vício mais comum
que existe, é considerada pela medicina uma doença causada por alterações
químicas no cérebro que levam a pessoa a consumir determinada substância
compulsivamente, mesmo quando sabe que isso terá efeitos graves em sua vida
(ARAÚJO, 2012, p. 178).
Atualmente as definições e termos corretos são determinados pela importante
ferramenta dos profissionais de saúde mental: Manual Diagnóstico e Estatístico dos
Transtornos Mentais (Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders) da
Associação Americana de Psiquiatria (American Psychiatric Association). Para se
definir o abuso de uma substância a níveis prejudiciais, as definições “abuso” e
“dependência” (determinadas no DSM-IV, 1994) foram substituídas pelo termo
“distúrbio por uso de substância” (DSM-V, 2014). A seguir, é apresentado os critérios
diagnósticos que caracterizam o transtorno por uso de álcool segundo a quinta edição
do DSM-V:
[...] Padrão mal adaptativo de uso de substância, com consequente
sofrimento ou comprometimento clinicamente significativo, manifestado por
pelo menos 2 dos seguintes eventos ocorrendo em um período de 12 meses:
1. Uso recorrente de substância, resultando na falha em cumprir obrigações
importantes no trabalho, na escola ou em casa [...]
2. Uso recorrente de substância em situações em que há perigo físico [...]
3. Uso continuado da substância, apesar dos problemas sociais ou
interpessoais persistentes ou recorrentes causados ou exacerbados pelos
efeitos da substância [...]
4. Tolerância, definida por qualquer um dos seguintes achados:
a. Necessidade de quantidades acentuadamente altas de substância para
alcançar a intoxicação ou o efeito desejado;
b. Efeito drasticamente reduzido com o uso continuado da mesma quantidade
de substância.
23
5. Abstinência, manifestada por qualquer um dos seguintes achados:
a. Síndrome de abstinência característica para a substância [...]
b. Uso da mesma substância (ou de outra estreitamente relacionada) para
aliviar ou evitar os sintomas de abstinência
6. Uso frequente da substância em quantidades maiores ou por um período
maior do que o pretendido
7. Desejo persistente ou tentativas fracassadas de parar ou controlar o uso
da substância
8. Gastar tempo demais dedicando-se a atividades necessárias à obtenção
da substância, ao uso da substância ou à recuperação dos efeitos da
substância
9. Desistir ou descontinuar atividades recreativas, ocupacionais ou sociais
importantes, em decorrência do uso de substância
10. Usar a substância continuadamente, tendo conhecimento dos problemas
psicológicos ou físicos recorrentes ou persistentes provavelmente causados
ou exacerbados pela substância
11. Necessitar, desejar fortemente ou ter urgência em usar uma substância
específica [...].
24
transtornos do pânico. De forma geral, os estudos concluem que indivíduos com
transtornos abuso do álcool apresentam um índice de suicídio acentuadamente mais
elevado do que a população em geral. Os dados revelam ser urgente e indispensável
a função que os profissionais de saúde mental possuem, não só no tratamento, mas
na prevenção, psicoeducação e redução de danos envolvendo os abusos de álcool
(SADOCK, SADOCK e RUIZ, 2017).
Através da ingestão de álcool, o superego perde sua força sobre o ego que
então pode ser ilimitadamente magnificado, podendo assim, intoxicar-se com sua
própria perfeição e autossuficiência, até o surgimento da cíclica fase depressiva. O
estado de intoxicação é considerado como um estado maníaco seguido pela
depressão comum nos momentos de abstinência, sugerindo uma imitação da morte
como castigo pelo pecado original (WAKS, 1998).
Na transição da adolescência para a vida adulta, sabe-se que o jovem
experimenta mudanças psicológicas e biológicas importantes. Nesse período de
diversas transformações, marcados pelas crises de “identidade x confusão” e
“intimidade x isolamento” os jovens acabam passando por uma maior fragilidade
egóica. Esta sensibilização do ego resulta em um retorno ao narcisismo primário
marcado por ansiedades e sentimentos depressivos seguido da perda da identidade
infantil e, até mesmo, da produção de paranoias resultantes da luta travada em seu
mundo interior, com questionamentos sobre seu contexto social, intrafamiliar,
instituições e pessoas de modo geral. Todas essas particularidades, tornam o
entendimento da psicodinâmica dos jovens adultos um grande desafio para
profissionais de saúde mental, sendo de maior complexidade a compreensão
daqueles que utilizam substâncias de modo exacerbado (KESSLER, et al., 2003;
ERIKSON, 1998 apud BORDIGNON, 2007).
Atravessar esse estágio é uma experiência imprescindível que,
inevitavelmente, envolve algum grau de sofrimento psíquico. Uma maneira de evitar
essa angústia, é resguardando-se na negação e na sublimação (SANTOS e PRATTA,
2012). Alguns autores, ao abordar o alcoolismo e o abuso de substâncias à luz da
25
psicanálise, apresentam-no como um sintoma que revelaria problemas na
organização pulsional do sujeito (PLASTINO, 2000 apud SANTOS e PRATTA, 2012).
Quando estas subjetividades se combinam com as motivações e às facetas da vida
social, o álcool propicia consolo e conforto em meio ao mal-estar relacionado às
renúncias de gratificação pulsional impostas pela civilização, o que representa o alívio
de um sofrimento gerado pelo peso da realidade como um empecilho na busca pelo
prazer (FREUD, 1930/2020).
Baixas doses de álcool estão relacionadas a efeitos como a desinibição e
redução da ansiedade, efeitos esses que podem estar relacionados a hipótese de
alguns indivíduos utilizarem a droga para lidar com um superego severo e
autopunitivo, auxiliando-os a reduzir níveis de estresse inconscientes (GURFINKEL,
1996).
Em seu estudo, Santos e Pratta (2012) trazem que o uso de álcool e outras
substâncias, durante o período de transição da adolescência para a vida adulta, pode
ser entendido como uma expressão que, dentro de determinados limites, funciona
como uma ferramenta de socialização. Quando ocorre o abuso, configura-se um
problema que pode vir a se tornar notório posteriormente, além de impactar todo o
âmbito familiar. Já da perspectiva da psicanálise, o uso de álcool e substâncias pode
ser utilizado como uma estratégia para suprir questões da estrutura pulsional e
fragilidades relacionadas ao vínculo afetivo do indivíduo, sobretudo das relações
familiares.
Tomazelli e Xavier (2012) abordam que o uso do álcool tem o objetivo de
possibilitar que o indivíduo alcance um estado de transcendência que não é alcançado
nem do ponto de vista biológico e nem do social sem utilização da droga.
Subsequentemente, caso o consumo de álcool torne-se sistemático e repetitivo, por
exemplo beber todos os finais de semana, essa prática passa a se caracterizar como
um ritual psico-religioso, devido a periodicidade da prática, que se assemelha a um
ritual religioso semanal.
26
O ser humano nasce totalmente desamparado e desprovido de recursos de
sobrevivência, necessitando de cuidados por muitos anos até chegar a maturidade e
independência. Do ponto de vista psicanalítico, uma pessoa dependente é aquela que
não conseguiu efetuar a separação do cuidador de forma adequada, ela ainda espera
inconscientemente que alguém ou alguma coisa satisfaça essas necessidades
básicas. Ao entrar em contato com o álcool, uma relação de intimidade mágica é
criada, como se o produto substituísse seus cuidadores (ZEMEL e SADDI, 2015).
Em uma das interpretações da psicanálise associadas ao abuso de álcool,
acredita-se existir uma forte regressão às primeiras experiências de vida, na quais
ocorreu uma falha nas primeiras interações que marcam profundamente a criança,
como se não encontrassem uma mãe capaz de discriminar para esse infantes que
estão vivos, que sentem necessidades, que possuem sensações e sentimentos. Esse
vazio causado pelas primeiras e necessárias interações afetivas marca uma profunda
falta de sentido na criança que volta a ser vivenciada na vida adulta. Os alcoolistas
vivem em constante estado de desamparo, como se lhes faltassem um membro do
corpo e o álcool suprisse essa parte faltante. A negação é um mecanismo de defesa
fortemente empregado nesta situação, quando o indivíduo nega a separação com a
mãe e/ou a importância da infância na sua vida. Nestas situações, o álcool apresenta-
se como um remédio que lhe transforma em alguém onipotente e totalmente
independente, superior a tudo e a todos, não reconhecendo de seus medos, carências
e dificuldades (OLIEVENSTEIN, 1990).
Partindo do princípio proposto anteriormente, percebemos que esse
mecanismo de substituições, também, é observado na relação entre sexualidade e
alcoolismo. A fuga proporcionada pelo álcool possibilita ao indivíduo obter prazer sem
dificuldades, sendo percebida, assim, a relação entre o uso exacerbado de
substâncias psicotrópicas e a fase oral da sexualidade infantil (RIBAS et al., 2009).
Merloo (1952 apud Waks, 1998) traz que a diferença da psicodinâmica do
alcoólatra para o dependente químico é que a maioria dos alcoólatras é maníaco-
depressivo de tipo oral, já a maioria dos dependentes químicos são do tipo esquizóide,
habitando um mundo mágico e infantil. Segundo o mesmo autor, na psicodinâmica do
alcoolista, três mecanismos psíquicos fundamentais estão presentes: (1) um
27
veemente desejo de experimentar o êxtase, (2) uma intensa manifestação da pulsão
de morte e (3) uma forte dependência oral.
O abuso do álcool é compreendido como uma forma de diminuir a tensão
causada pela tentativa inconsciente de trazer à tona experiências lacunares vividas
nos primeiros momentos de vida e que refletem em sua vida adulta atualmente. Essa
estruturação psíquica foi denominada por Freud como neurose obsessiva, na qual os
sintomas predominantes são a cautela ao se comunicar, o controle exagerado e a
tentativa de evitar falhas, manifestações essas que se enfraquecem ao fazer o uso da
substância, desencadeando comportamentos desinibidos e posteriormente de pesar
(RIBEIRO, 2011). Conforme enfatizado por Sobrinho (2005, p. 56):
28
negação, de racionalização e de projeção. Esses mecanismos são utilizados pelos
alcoolistas como uma forma de justificar seu vício, entretanto, os autores referem que
em outras abordagens teóricas acredita-se que o indivíduo reproduz o que ele
presenciou em seu meio.
A psicanálise do idealcoolista traz, novamente, os mecanismos de defesa de
negação e racionalização que em níveis inconscientes levam o indivíduo ao uso do
álcool e a uma espécie de desumanização, tentando de todas as formas suprimir as
suas fraquezas e insuficiências que são condições próprias da natureza humana. A
partir dessa fuga da condição humana, busca-se através do álcool uma perfeição,
gerando, assim, uma idolatria ao álcool, ou seja, o idealcoolismo. Mesmo que
conscientemente tenha a noção do prejuízo psíquico e físico que o álcool irá trazer, o
indivíduo prefere fugir de sua fragilidade egóica, buscando inconscientemente o
masoquismo moral, um termo psicanalítico que explica o desejo de ser punido, o
flagelo de estarem condenados ao fracasso. É, ao mesmo tempo, uma dinâmica entre
perseguidor-perseguido, ao invés de externalizar e descarregar suas emoções no
outro, ele se condena e assina sua derrota (XAVIER e TOMAZELLI, 2012).
29
A psicanálise clássica traz a proposta de que alguns indivíduos alcoolistas
podem ter ficado fixados no estágio oral de desenvolvimento e utilizam o álcool para
aliviar frustrações e angústias, uma vez que essa droga é consumida por via oral.
Entretanto, por mais que seja uma teoria válida e útil, os estudos comprovam que este
entendimento afetou muito pouco os processos de tratamento e não constitue o foco
da pesquisa atual (SADOCK, SADOCK e RUIZ, 2017).
Em seu estudo sobre toxicomania, Olievenstein (1990) traz a teoria de que o
tratamento começa a partir do momento em que a relação terapêutica começa a
importar mais do que a dependência do produto e o indivíduo passa a aprender que
ele pode fazer suas próprias escolhas, ao invés de ser dominado pela substância.
30
físicas, psicológicas, sociais, funcionais, ambientais e espirituais (DOS SANTOS,
2007).
Por outro lado, autores como Galvão (2000) e Waks (1998) trazem a
perspectiva de que o tratamento do alcoolismo e de outras substâncias não seria
possível e nem viável dentro da abordagem psicanalítica, visto que diante das
condições de intoxicação estes pacientes estariam impedidos de utilizarem da fala
para acessar livremente conteúdos inconscientes. A partir da experiência frustrada de
Freud para o tratamento da dependência de cocaína, acreditam que o paciente torna-
se “inanalisável”, o que prejudica a eficácia da psicoterapia. Entretanto, enfatizam a
importância da pesquisa para ampliar os limites de análise desse público.
Para o tratamento de transtornos por uso de substâncias, Cordioli e Grevet,
(2019) trazem a noção de que as psicoterapias psicanalíticas, não são indicadas na
fase ativa da doença (intoxicação), podendo ser utilizada após o período de
abstinência consolidada. Enfatizam que outras técnicas mostram maior adesão e
aplicabilidade, alguns exemplos são as psicoterapias de tratamento em grupo, como
os Alcoólicos Anônimos, considerada uma técnica de padrão-ouro juntamente com as
psicoterapias de orientação cognitivo comportamental.
4 METODOLOGIA
31
Dentro do contexto da pesquisa qualitativa, foi selecionada a abordagem de
método clínico-qualitativo, metodologia focada na discussão e descrição de um
fenômeno relacionado à área da saúde, valorizando os conteúdos conscientes e
inconscientes dos sujeitos estudados. Para realização de tal tarefa é indispensável
que o pesquisador apresente conhecimentos teóricos e práticos sobre o tema em
questão, estando sempre atento para possíveis manifestações não verbais dos
indivíduos estudados (BASSORA e CAMPOS, 2010).
A operacionalização da metodologia clínico-qualitativa foi realizada através de
um estudo de caso focado em uma unidade (um indivíduo), procurando compreender
de forma intrínseca, sua estrutura de personalidade e mecanismos psicodinâmicos
que sustentam o uso abusivo de álcool. O estudo de caso tem se estabelecido como
uma ferramenta de investigação inegavelmente importante na esfera acadêmica por
viabilizar o aprofundamento na temática estudada, estimular novas descobertas,
explorar novos processos e comportamentos, enfatizar a multiplicidade de dimensões
de um problema, focar o fenômeno como um todo e por permitir analisar os processos
e suas relações em sua integralidade (VENTURA, 2007).
4.2 PÚBLICO-ALVO
32
4.3 PLANO DE COLETA DE DADOS
33
A coleta de dados subsidiou-se nos registros do acompanhamento
psicoterapêutico ofertado ao paciente, utilizando-se da análise de informações
registradas nas evoluções/prontuários e relatórios do paciente, assim como de
observações clínicas ao longo dos atendimentos. Posteriormente, foi realizada
entrevista semiestruturada e aplicação do teste projetivo das manchas de tinta de
Rorschach voltados para o levantamento de informações referentes a psicodinâmica
estruturadora da personalidade, bem como da situação de alcoolismo. Todas as
informações foram registradas em diário de campo, além da gravação da entrevista
com a finalidade de manter a fidedignidade dos dados prestados ao pesquisador.
O pesquisador ficou à disposição para prover atendimentos que sanassem
qualquer dificuldade oriundas da participação no processo de pesquisa, observado
que o pesquisador é estudante de psicologia e futuro psicólogo, podendo oferecer
cuidados imediatos, mediante apoio de supervisor, caso surgisse alguma demanda.
Ao participante foi garantido o direito de desistir da pesquisa a qualquer momento.
Considerou-se retorno na forma de benefícios para o paciente analisado, o
autoconhecimento que foi mobilizado a partir da análise de dados e aplicação dos
instrumentos para o estudo de caso. Acredita-se que estas informações possam
favorecer o insight sobre seu atual estado psicológico, além de propiciar ao paciente
uma melhor compreensão de sua personalidade e dos atos inconscientes advindos
de seus comportamentos psicopatológicos. Do ponto de vista acadêmico e científico,
os benefícios estão relacionados à produção que conhecimento que possa servir de
auxílio a profissionais de saúde ofertando subsídios para compreensão dos processos
psicodinâmicos que fundamentam a estrutura de personalidade do alcoolista. E, por
fim, acredita-se ser possível beneficiar outros alcoolistas e/ou toxicomaníacos, ao
reconhecerem o processo de autodesenvolvimento e melhorar a autoeficácia em
relação ao transtorno, por estarem vivenciando o mesmo fenômeno, promovendo um
sentimento de identificação e esperança a partir da reconhecimentos com histórias
semelhantes.
34
A coleta de dados foi realizada através da análise de documentos, que se
consiste em um intenso e amplo estudo de materiais e instrumentos escritos que, por
direito, faz fé daquilo que atesta, servindo de registro, prova ou comprovação de fatos
ou acontecimentos (KRIPKA, SCHELLER e BONOTTO, 2015). Nesse estudo, foram
selecionados para o levantamento de informações, as seguintes categorias de
documentos: arquivos particulares, como registros de evoluções psicológicas,
relatórios de sessões de psicoterapia e registros em diário de campo. Outro
instrumento também utilizado, foi a observação clínica, sendo este, um método muito
utilizado na Psicologia, fornecendo elementos que podem ser indicativos de
normalidade ou de psicopatologia - posturas, comportamentos estereotipados, dentre
outros (FERREIRA e MOUSQUER, 2004).
A terceira ferramenta de coleta de dados foi uma entrevista semiestruturada
(APÊNDICE A), instrumento este, que desempenha um papel crucial na coleta de
dados qualitativos em pesquisas e práticas profissionais. Sua flexibilidade e
adaptabilidade permitem uma exploração aprofundada das experiências e percepções
dos entrevistados, ao mesmo tempo em que mantém uma estrutura básica para a
comparação e análise dos dados (SANTOS, JESUS e BATTISTI, 2021). E por fim, a
aplicação do teste projetivo das manchas de tinta de Rorschach, com fim de identificar
traços psicopatológicos da personalidade, compreendendo sua estrutura e dinâmica
por entre seus conteúdos inconscientes. O teste de Rorschach (aprovado pelo
Conselho Federal de Psicologia desde 2003) tem se mostrado eficaz no contexto da
Psicologia Clínica (CHABERT, 1998), por ser possível através deste, identificar
aspectos psicológicos comprometidos e traços de personalidade patológicos,
aspectos afetivos negativos e déficit no controle de impulsos, pois o sujeito ao
desconhecer a transcendência das respostas, não pode preparar-se para manipular,
a tarefa é tão aberta que não permite preparar as respostas (GARCIA, 1999 apud
FASOLI, 2012, p. 13; GACONO et al., 2016, apud ZILKI, 2020, p. 183).
35
foi realizada após o pesquisador realizar curso preparatório para esta finalidade
específica.
5 ANÁLISE DE DADOS
36
pelo Sistema Compreensivo. A entrevista foi conduzida com perguntas focadas nas
experiências e pensamentos do participante em relação ao seu consumo de álcool,
bem como em questões ambientais voltadas para o contexto social e estressores
externos. As sessões de psicoterapia foram registradas na forma de evolução no
prontuário do paciente e analisadas teoricamente, utilizando o método de análise de
conteúdo, com enfoque nas teorias psicodinâmicas da personalidade. O protocolo de
Rorschach foi aplicado ao participante para avaliar aspectos cognitivos, afetivos,
autoperceptivos, interpessoais e comportamentais associados ao uso de álcool e
comparado com a literatura acerca do tema.
A partir dessas fontes de dados, foram identificadas diferentes categorias que
explicam as motivações para o abuso de álcool, incluindo a ativação de mecanismos
de defesa, intrinsecamente enraizados, como a racionalização, supressão, negação e
a projeção. Identificou-se, ainda: rigidez do superego; masoquismo moral e mortífero;
idealcoolismo; características depressivas, baixa autoestima e avaliação negativa a
respeito de si; contenção e repressão das emoções; déficits interpessoais e nas
situações de proximidade emocional intensa ou física; desorganização do
pensamento; sintomas neuróticos e a busca por situações de carga afetiva intensa e
distorção de realidade: uso exagerado da fantasia. Essas descobertas serão todas
correlacionadas e discutidas com a literatura existente sobre o assunto, como
veremos adiante.
Para o processo de análise documental dos três instrumentos, foram utilizadas
as bases teóricas psicanalíticas desenvolvidas por Sigmund Freud (2017, 1930/2020),
as discussões sobre mecanismos de defesa de Anna Freud (2006) e as ideias de
Xavier e Tomazelli (2012), que abordam o tema do alcoolismo, a partir de uma
perspectiva psicanalítica integrando aos elementos teóricos freudianos as produções
e preocupações da psicanálise contemporânea. Os autores discutem a relação entre
o ideal de perfeição e a busca pelo uso abusivo de álcool como forma de aliviar a
pressão do ego frente às demandas do mundo externo. Além disso, apresentam uma
análise clínica de casos de pacientes alcoolistas, mostrando como os mecanismos de
defesa, e exemplo da negação e da projeção, estão presentes nesse processo. Por
fim, discutem a importância da intervenção terapêutica precoce e a necessidade de
uma abordagem multidisciplinar para o tratamento do alcoolismo.
37
5.1 CARACTERÍSTICAS DE PERSONALIDADE DO ALCOOLISTA
38
passamos para a melhor estratégia de interpretação para a psicodinâmica do paciente
aqui apresentado. Iniciou-se utilizando por base do índice DEPI (índice de depressão)
positivo (> 5), seguindo então, por afeto > controles > autopercepção > percepção
interpessoal > processamento > mediação > ideação. Através da análise, iremos
utilizar os sinais indicadores de ↑ (para variáveis que se encontraram acima da média),
39
respostas de cores cromáticas, refere-se a uma variável do módulo afetivo), lado
direito do eb (lado emocional e afetivo da variável de ‘experiência base’), SumT (soma
das respostas de textura), SumC’ (soma das respostas de cores acromáticas, refere-
se a uma variável do módulo do afeto), SumC’;WSumC (proporção da soma
ponderada de cores cromáticas para com a soma das cores acromáticas, refere-se a
uma variável do módulo afetivo), Afr (quociente de afetividade), GHR:PHR (proporção
de respostas de boa qualidade humana para com respostas de má qualidade humana,
onde podem ser avaliados aspectos das relações objetais), Cont. humano (respostas
com conteúdo humano), PER (respostas com código especial de personalização),
[3(Fr+rf)+(2)]/R (índice de egocentrismo), FD (respostas com o determinante de
forma-dimensão), SumV (soma das respostas de vista), An+Xy (índice de
preocupação com o próprio corpo), Nota D (capacidade de tolerância ao
estressefornece importante informação sobre a tolerância ao estresse e elementos de
controle), Nota D adj (nota ajustada da capacidade de tolerância ao estresse),
H:Hd+(H)+(Hd) (proporção de respostas humanas puras para respostas com
conteúdo humano parcial, para humano ou para-humano parcial, sendo um indicativo
do interesse da pessoa em relações interpessoais e a tendências fantasiosas para
com essas relações), EA (experência efetiva, relaciona-se ao nívei de recursos
disponíveis para tolerar o estresse), es (estimulação sentida, refere-se a demandas
de estímulos externos) e FC:CF+C (proporção das respostas de forma cor, para com
cor forma + cor pura, onde é avaliada a maturidade emocional e tendências a
impulsividade deliberada).
Para uma melhor compreensão da psicodinâmica de Wilson, foram
selecionados algumas características e mecanismos importantes, sendo eles; rigidez
do superego; masoquismo moral e mortífero; idealcoolismo; características
depressivas, baixa autoestima e avaliação negativa a respeito de si; contenção e
repressão das emoções; déficits interpessoais e nas situações de proximidade
emocional intensa ou física; desorganização do pensamento; sintomas neuróticos e a
busca por situações de carga afetiva intensa e distorção de realidade: uso exagerado
da fantasia
40
Indivíduos com um superego rígido e punitivo tendem a ser muito autocríticos
e exigentes consigo mesmos. Eles podem estabelecer padrões irrealisticamente
elevados e se sentir culpados ou envergonhados quando não conseguem atingi-los.
Esse superego punitivo, muitas vezes, resulta em um sentimento de culpa constante
e uma busca incessante pela perfeição (GABBARD, 2006). Pequenas quantidades de
álcool têm sido associadas a efeitos como relaxamento e diminuição da ansiedade.
Esses efeitos podem estar ligados à teoria de que algumas pessoas usam a
substância como uma forma de lidar com uma consciência crítica e punitiva,
auxiliando-as a reduzir níveis de estresse inconscientes (GURFINKEL, 1996 e WAKS,
1998). A junção desses dois fatores, o abuso de álcool com um superego rígido e
punitivo, torna-se algo ilimitadamente mágico, trazendo assim, uma sensação de
perfeição e auto suficiência quando utilizada.
A busca por álcool e drogas de Wilson iniciou-se no processo de adultez
emergente, com aproximadamente 18 anos de idade, em paralelo ao tempo em que
se iniciaram situações conflituosas entre ele e seu pai. O descontentamento com o
próprio abuso de álcool ocorreu pouco tempo depois quando começou a vivenciar
situações psicossociais que lhe trouxeram sofrimento psíquico. O jovem mostrou uma
predisposição para um ego fragilizado, um superego altamente punitivo e a dificuldade
de manter o controle, desenvolvendo mecanismos fantasiosos para lidar com sua
intensa busca pela perfeição (Mp > Ma e PER↑).
Uma evidência que corroborou com os achados do Rorschach, em que Wilson
tenta suprimir e seguir sua rigidez interna, com criticismo excessivo e perfeccionismo,
como forma de lidar com seus problemas psicossociais advindos do uso de álcool, foi
identificada quando Wilson responde ao questionamento sobre as formas de distração
com exceção do uso de álcool:
“[...] atualmente eu tento ao máximo me ocupar com coisas, atividades,
objetivos e trabalho, para que eu acabe não caindo nesse mal..., vou pra
academia, venho pra nutricionista, venho pra cá, mesmo tendo ficado mais
resistente nos últimos meses, é algo que me ajudou muito”
41
principalmente relacionados ao álcool. Demonstrava incômodo com a constatação de
que o tempo estava passando vazio para ele enquanto seu irmão mais novo atingia
êxito e sucessos profissionais e interpessoais.
O perfeccionismo característico de um indivíduo com superego severo que faz
uso abusivo de álcool, pode ser notado através de momentos onde os conflitos
decorrentes do uso problemático álcool tentam ser suprimidos ou esquecidos, de
forma que possam ser compensados através de condutas aceitas pelos padrões
sociais, como podemos notar em uma de suas verbalizações:
“Atualmente eu tento focar o máximo possível no meu trabalho, eu voltei pra
faculdade, tento fazer planos para o futuro, metas profissionais..., ‘tô’
tentando reprimir o máximo possível essas situações desconfortáveis e
vergonhosas que vivi.”
Essa pressão auto infligida é agravada de forma notória quando passa a ser
refletida e utilizado no contexto do abuso de álcool, a partir do momento em que a
pressão social para se reduzir o uso do álcool leva o indivíduo a se sentir mais culpado
e envergonhado, ocasionando então sentimentos como o masoquismo moral e
mortífero.
42
substância há aproximadamente 9 anos. O adulto jovem relatou prejuízos no âmbito
social, financeiro e interpessoal advindos do uso exacerbado de álcool. Abusos
progressivos de outras substâncias, no qual o abuso de uma delas desencadeou um
episódio de intoxicação grave, levando-o ao quadro de overdose. Também foram
relatados o uso de outras drogas sendo elas; alucinógenos; estimulantes; inalantes e
cannabis. Wilson afirmou estar em remissão do uso das drogas psicoativas citadas há
mais de um ano, com exceção do álcool e cannabis (esporadicamente).
Seu masoquismo moral, se manifesta em sua tendência em se sentir culpado
ou envergonhado por seu comportamento em relação ao álcool, o que o levou a um
ciclo vicioso de consumo de álcool e sentimento de culpa. Esse sentimento de
inferioridade ou culpa utilizado para se obter alguma sensação de prazer ou alívio
através do abuso do álcool, explicita-se quando externaliza seus sentimentos de
subalternidade em relação ao seu irmão mais novo: “meu irmão é bem mais forte, alto,
mais bonito e inteligente do que eu..., é mais novo e já tem um futuro bem mais
promissor do que eu.”
Em outros contextos, podemos notar o comportamento autodestrutivo, do
masoquismo mortífero e moral mutuamente, ao responder a pergunta sobre o uso de
outros tipos de droga, quando Wilson relata não saber que droga ter utilizado antes
de uma overdose, pois estava demasiadamente bêbado. Ele afirma que, a partir de
então, interrompeu o uso de drogas em decorrência do sentimento de culpa e
vergonha sofridos socialmente: “ [...] não lembro o que usei de verdade, mas parei
depois de uma overdose em que tive durante um show […]”
O seu masoquismo moral e mortífero são enfatizados, tanto no seu discurso
como em suas ações, através de situações em que faz o abuso de álcool mesmo em
situações nas quais sabe que irá ter impactos emocionais difíceis de lidar, como a
tristeza, e a situação vai levá-lo a um prejuízo social, financeiro e interpessoal.
Conforme são evidenciadas em algumas variáveis do protocolo de Rorschach,
responsáveis por identificar a auto imagem denegrida, a capacidade de controle e
tolerância ao estresse e a tendência a idealizações demasiadamente fantasiosas
(MOR↑, EA↓ e es↓ e Mp > Ma, respectivamente), além de enfatizarem o sofrimento
psíquico de Wilson, trazem uma concordância para com a literatura, ao retratar do seu
masoquismo moral quando relata como se sente após o uso problemático de álcool:
43
“O dia seguinte é sempre o mais difícil..., principalmente quando exagero,
mas ultimamente até quando eu bebo pouco e sob controle eu acordo mal...,
é como se eu não tivesse controle, quando eu exagero e acabo passando por
uma situação desconfortável eu fico a semana toda mal, bem mal mesmo,
chego a ficar depressivo e me sentindo um fraco, inconveniente, coisas do
tipo..., talvez seja por isso que as vezes eu penso em parar, em tirar de vez
isso da minha vida.”
5.1.3 Idealcoolismo
Segundo a psicanálise, o idealcoolismo nos traz novamente os mecanismos de
defesa de negação e racionalização que em níveis inconscientes, leva o indivíduo ao
uso do álcool, a uma espécie de desumanização, tentando de todas as formas suprimir
as fraquezas e insuficiências que a condição humana nos gera. A partir dessa fuga da
condição humana, busca através do álcool uma perfeição, gerando assim, uma
idolatria ao álcool, ou seja, o idealcoolismo (XAVIER e TOMAZELLI, 2012).
O indivíduo idealcoolista pode ser funcional, ter sucesso profissional e social,
mas internamente vive um vazio emocional e busca no álcool um refúgio para suas
44
insatisfações. O idealcoolismo é visto como uma forma de alcoolismo mais sutil e difícil
de ser diagnosticado, uma vez que não se baseia em um consumo excessivo ou em
uma dependência física evidente, mas sim em uma dependência psicológica do álcool
como um meio de alcançar um estado idealizado de bem-estar, prazer, satisfação e
até mesmo solucionar problemas emocionais e sociais, tornando-se um objeto de
desejo e fonte de gratificação. Esse ideal pode estar presente em diversas culturas e
contextos sociais, o que pode tornar o uso de álcool mais aceitável e até mesmo
incentivado. Ao final da sexta sessão, Wilson alegou em um discurso apresentando-
se vergonhoso, melancólico e cabisbaixo, que “sim, talvez possuía um vício”. Wilson
busca no álcool um refúgio, um conforto, uma transcendência alcoólatra, conforme é
abordado por Xavier e Tomazelli (2012, p. 91):
o indivíduo busca a identificação no álcool como um deus onipotente
(inumano e desumano, obviamente), criando a partir dos efeitos ilusórios uma
equação simbólica entre a bebida e transformação na divindade: o álcool é
igual a, funciona como um deus, assim, criado pelo alcoólatra que, no entanto,
domina-o e termina por destruí-lo. A criatura do divinizado alcoólatra, o deus
Álcool, volta-se contra o criador, mais uma vez.
Wilson vê o uso de álcool, como uma busca fantasiosa para o alívio de seu
superego punitivo e severo, tentando de uma forma desesperada aliviar tensões e
estresses cotidianos e comuns, vivenciando o uso de álcool através do idealcoolismo.
Demonstra tentar, de alguma forma, fugir da condição humana através da
transcendência alcoólatra, esta última sendo caracterizada pela busca de
experiências de transcendência, ou seja, de um estado de elevação espiritual ou
emocional através do uso de álcool. Esse comportamento pode ser motivado pela
insatisfação com a vida cotidiana, a busca por um estado alterado de consciência ou
pela tentativa de fugir de situações ou emoções difíceis.
Notamos o uso idealcoólico do álcool em algumas situações, também, na
entrevista:
“Como posso dizer..., eu bebo para ficar mais sociável, não sei, o álcool me
permite me soltar um pouco mais..., admito que já cheguei a exagerar
algumas vezes, mas hoje em dia sinto que consigo estar mais no controle.
Embora eu já tenha tido algumas situações em que o álcool foi o protagonista
[...] Eu ‘tô’ a um mês sem beber, depois da situação em que te contei, com
meu melhor amigo, etc... Mas com certeza um dia eu vou voltar a beber.”
Outra característica idealcoólica de Wilson vem a tona quando ele relata nunca
ter feito sexo sem a utilização do álcool, precisando estar em estado de embriaguez
45
como uma condição necessária para o sexo. Utiliza-se dessa dinâmica como um
recurso que lhe proporciona uma sensação de autoconfiança e desinibição,
fantasiosamente acreditando que só é capaz de se expressar sexualmente e superar
suas inseguranças e ansiedades relacionadas à performance através do álcool.
46
“Eu comecei a beber entre os 17/18 anos de idade, aproximadamente”. [...]
“meu irmão é bem mais forte, alto, mais bonito e inteligente do que eu..., é
mais novo e já tem um futuro bem mais promissor do que eu [...]
47
com ele em um momento de despedida, pois estava sob os efeitos de abstinência
após uma intoxicação alcoólica grave:
[...] ele estava com uma viagem agendada para a África, e eu ali, trabalhando
com meus pais, sem namorada, 20 e poucos anos na cara, não tinha nem
começado a faculdade... E um dia antes dele viajar, eu saí pra beber e
exagerei bastante..., eu cheguei em casa transtornado, não lembro de muita
coisa, mas lembro da minha mãe chegando no quarto bem na hora que eu ia
‘mijar’ no meu irmão enquanto ele dormia..., ela disse que eu não ‘tava’
falando coisa com coisa, ‘tava’ agitado..., aquele dia foi tenso pra mim, a
gente já não estava se falando já tinha um tempo, depois disso, tudo ficou
pior, ficamos anos sem nos falar. Eu não consegui nem me despedir, foram
deixar ele no aeroporto e eu não fui porque ‘tava’ morto de ressaca, talvez
aquela teria sido uma chance ‘deu’ me redimir com ele e não consegui porque
‘tava’ de ressaca. Acordei no fundo do poço, principalmente quando minha
mãe foi me contar o que tinha acontecido, porque eu não lembrava de muita
coisa...”
48
“atualmente eu tento ao máximo me ocupar com coisas, atividades, objetivos e
trabalho, para que eu acabe não caindo nesse mal..., vou pra academia, venho pra
nutricionista [...]”.
Quando interrogado sobre os sentimentos presentes durante as intoxicações,
a constrição afetiva é tão enraizada, que Wilson não consegue vivenciá-las de outra
forma a não ser da intensa repressão: “Nunca parei pra pensar em emoções que sinto,
eu geralmente começo a beber pelo ‘lubrificante social’ como dizem por aí né […] não
tem nenhuma emoção de fato, não que eu tenha percebido.” No protocolo de
Rorschach, foi evidenciado que Wilson possui uma grande carga emocional, carga
esta, que o paciente não consegue expressar verbalmente de forma sóbria e
consciente, resultando em uma retração, uma intensa privação na externalização de
sentimentos e um profundo controle das emoções (WSumC↓, SumC’>WSumC e C’↑).
49
A falta de habilidades sociais pode aumentar o risco de abuso de substâncias.
Pesquisas encontraram déficits nessas habilidades em abusadores de álcool,
principalmente para expressão de sentimentos e nas interações sociais. O álcool pode
ser usado como uma estratégia para lidar com situações ansiogênicas, além disso, os
déficits nas habilidades sociais e individuais influenciam o consumo de álcool e
maconha em jovens (FELICISSIMO, 2013).
A utilização do álcool de forma ‘milagrosa’ e sanadora de todos os seus
problemas pode ser percebida com seu uso idealcoólico, visto que Wilson faz com
que o álcool atue como uma estratégia de enfrentamento em situações ansiogênicas,
facilitando suas interações sociais, deixando-o mais confiante, desinibido e
favorecendo suas relações interpessoais: “isso me dá até um pouco de vergonha, mas
até hoje, eu só fiz sexo bêbado, nunca namorei ninguém”.
Esse comportamento, desencadeia um ciclo que começa com o uso abusivo
de álcool por parte de Wilson, esse uso excessivo traz consequências negativas, como
comportamentos destrutivos e dificuldades nas relações sociais. Como resultado
desses abusos, Wilson acaba sendo excluído socialmente, afastando-se de amigos,
familiares e comunidade. Diante dessa exclusão social e do sentimento de isolamento,
o indivíduo pode recorrer novamente ao álcool como uma forma de buscar
socialização e conexão com outras pessoas, tendo em vista que o álcool pode ser
visto como uma maneira de reduzir a ansiedade social, aumentar a confiança e facilitar
a interação com os outros. No entanto, o uso do álcool como uma estratégia para
socializar leva a repetição do ciclo de uso abusivo.
Notamos esse ciclo em Wilson quando ele é afastado do seu ciclo de amigos,
inclusive pelo seu melhor amigo, em decorrência dos seus exageros alcoólicos.
Posteriormente, ele tenta se introduzir em novos meios sociais com o intuito de
procurar novas relações, sempre com o uso de álcool presente.
50
decisões impulsivas e processamento mental mais lento. O consumo crônico e
excessivo também pode resultar em danos cerebrais permanentes e déficits
cognitivos duradouros (TEIXEIRA, 2007).
Desde os primeiros contatos no setting terapêutico, pôde ser observado
prejuízos na organização do pensamento de Wilson, caracterizado por verbalizações
demasiadamente arborizadas e por vezes desconexas. O paciente, logo no primeiro
encontro, trouxe a suspeita de algum Transtorno no Déficit de Atenção (TDA) em
decorrência dos seus prejuízos na esfera acadêmica e profissional, bem como na
capacidade de desenvolver metas e objetivos para o futuro.
Essa hipótese diagnóstica não foi descartada, apenas posta no segundo plano,
dentro do processo terapêutico, após a identificação do seu uso problemático e
conturbado com o álcool. Contudo, frente a sua insistência, foi submetido a testes
psicométricos associados ao construto atenção, no qual foi constatado prejuízos na
capacidade de manter a atenção dividida, concentrada e alternada. Diante disso, o
teste sugere prejuízos funcionais leves na esfera acadêmica, profissional e financeira
e prejuízo moderado no risco legal. Entretanto, é relevante considerar que diferenciar
o TDA dos transtornos por uso de álcool pode ser um problema se a primeira
apresentação dos sintomas do TDA ocorrer após o início do abuso ou do uso
frequente. Evidências claras de TDA antes do uso problemático de substâncias, são
essenciais para o diagnóstico diferencial, o que não foi evidenciado no processo de
acompanhamento clínico.
Sua desorganização psicológica também foi evidenciada através do
psicodiagnóstico de Rorschach, no qual pôde ser encontrada uma dificuldade em
manter o fio de pensamento, algumas ideações confusas e um processamento
psicológico mais lento (Sum 6 lvl2↑).
Wilson apresenta uma sobrecarga emocional que afeta seu processamento
cognitivo. Ele relata necessitar investir um esforço exagerado no trabalho de
processamento da informação, por medo de cometer erros e se desorganizar, isso o
leva a adotar uma abordagem cognitiva superficial e simplista, preferindo soluções
práticas em vez de análises mais aprofundadas. Wilson também enfrenta dificuldades
em tomar decisões e pode levar mais tempo do que o necessário para concluir tarefas.
Esse padrão pode interferir em seu desempenho acadêmico, profissional e social,
51
limitando sua capacidade de lidar eficientemente com as demandas e tomadas de
decisão (LAMBDA↓, Zf↑, W↑, D↓).
52
dificuldade em regular as emoções (Blends↓), afetando então, seu funcionamento
cotidiano, suas relações interpessoais (S↑) e seu bem estar emocional. O déficit na
vivência e externalização dos afetos acaba por ser suprido pelo uso fantasioso do
álcool, em busca de um melhor bem estar subjetivo, embora idealcoólico, ou seja,
falso e temporário.
Sua modulação afetiva com características de impulsividade pode ser
observadas quando Wilson verbaliza: “Nunca parei pra pensar em emoções que sinto,
eu geralmente só começo a beber, pelo ‘lubrificante social’ como dizem por aí né […]
não tem nenhuma emoção de fato, não que eu tenha percebido. Eu deveria pensar
mais, geralmente não paro muito pra pensar, vou pelo calor do momento.”
Em consonância a este achado, notamos um paradoxo entre controle-
descontrole de Wilson, resultados estes, de suas atitudes impulsivas: “O dia seguinte
é sempre o mais difícil..., principalmente quando exagero, mas ultimamente até
quando eu bebo pouco e sob controle eu acordo mal..., é como se eu não tivesse
controle [...]”.
53
preocupações e frustrações. Essas fantasias podem estar enraizadas no inconsciente
do indivíduo e serem utilizadas como mecanismos de defesa contra a realidade,
negando as consequências negativas do uso de álcool e racionalizando seu consumo
excessivo (XAVIER e TOMAZELLI, 2012).
No caso de Wilson, a fantasia tem um lugar importante em seu psiquismo, visto
que utiliza-se do álcool como forma escapista, para preencher um vazio emocional
interno, proporcionar uma ilusão de controle e conforto emocional e uma falsa
sensação de completude e plenitude. Foi possível notar essa dinâmica no discurso do
paciente durante as sessões, quando traz uma visão distorcida e idealizada do que
seria um relacionamento afetivo. Diante disso, recorre muitas vezes ao álcool para
suprir necessidades fisiológicas básicas, como o sexo e outras necessidades sociais,
como o diálogo, a companhia e os afetos. À luz do psicodiagnóstico de Rorschach,
Wilson usa a fantasia de maneira passiva e defensiva para lidar com a tristeza e as
dificuldades da vida. Algo que com o uso abusivo de álcool, tornou-se característica
crônica e mais grave (Ma↓ e Mp↑). Esse mecanismo acaba por gerar no seu
funcionamento psicológico características narcísicas primárias, gerando conflitos
neuróticos, como a inabilidade social.
Nas sessões de psicoterapia, percebemos a fuga da realidade e a busca
inconsciente pelos recursos que a fantasia proporciona através de comportamentos
compensatórios de Wilson, que busca uma cura para todos os seus conflitos
psicossociais, de forma repentina, pela utilização de medicamentos ou na fantasia de
soluções milagrosas que possam resolver seus problemas de forma mais rápida e
eficaz. Podemos associar esse uso exagerado da fantasia, quando Wilson utilza de
medicamentos ou soluções ‘mágicas’ para trazer um resultado rápido e prático para
suas demandas internas e externas, como por exemplo, utilizar ritalina sem prescrição
médica, para sanar seus déficits associados ao construto da atenção. Essa
característica é encontrada no seu protocolo, através da variável de preocupação com
o próprio corpo (An+Xy↑) no qual Wilson tenta compensar os impactos que o álcool
traz ao seu psicológico e a seu contexto social.
Sua tendência a buscar recursos fantasiosos para lidar com seus conflitos
internos não se limita apenas à sua própria percepção, o que pôde ser notado ao se
identificar que apesar de Wilson ter uma boa percepção do ser humano e ansiar por
54
relações interpessoais saudáveis, amizades, laços, situações prazerosas e relações
positivas (Cont. humano↑), apresenta uma incessante e disfuncional busca, a partir
do momento em que a imagem construída sobre os demais é, com maior frequência,
baseada na fantasia (H < Hd+(H)+(Hd)), fazendo com que muitas das situações
interpessoais e afetivo-sexuais vividas se tornem negativas e traumáticas (GHR↓ e
PHR↑).
5.2.1 Negação
55
A negação é um poderoso mecanismo psíquico que rejeita a ideia de
separação da figura materna e minimiza a importância da infância na vida do indivíduo.
Nesse contexto, o consumo de álcool é percebido como uma solução que o transforma
em alguém com poderes supremos, um ser totalmente autossuficiente, estabelecendo
uma sensação de superioridade em relação a tudo e a todos. Essa pessoa não
reconhece seus medos, carências e dificuldades, utilizando o álcool como uma forma
de evitar se confrontar essas questões (ZEMEL e SADDI, 2015).
Apesar de alguns relatos e externalizações sobre perdas e prejuízos
associados ao álcool durante a terceira sessão, Wilson foi questionado ao final se
achava que o álcool prejudicava ou não sua rotina e seu estado psicológico, pergunta
para a qual respondeu não se sentir prejudicado pelo seu uso de álcool atualmente.
Entretanto, após algumas indagações, outro conteúdo foi externalizado, talvez sendo
a primeira verbalização em direção ao insight em psicoterapia: “toda sexta feira é do
mesmo jeito, tudo se repete”, momento seguido de choro. Os autores Xavier e
Tomazelli (2012), trazem a contribuição de que o uso sistemático e repetitivo de
substâncias tóxicas, como o álcool, pode se tornar um comportamento quase psico-
religioso devido à sua periodicidade, que se assemelha a um ritual semanal. Nesse
sentido, o consumo de álcool pode ser utilizado como uma forma de alcançar um
estado que não é alcançado nem do ponto de vista biológico e social, o que pode levar
a um ciclo vicioso de dependência e abuso da substância, o que vai de concordância
a outro momento importante do estudo, quando Wilson afirma que bebe apenas aos
fins de semana.
Após a confrontação e prévio encontro com seu estado psicopatológico durante
a terceira sessão, Wilson faltou à sessão seguinte. A literatura prevê essas fugas,
momentos em que os sentimentos como culpa, vergonha, medo de mudança e
negação predominam e expressam os primeiros obstáculos a serem percebidos
durante o processo psicoterápico (ANDRADE, ANTHONY e SILVEIRA, 2008).
Contudo, essas sensações e afetos costumam ser camuflados pelo mecanismo de
supressão (FREUD, 2006), o que é evidenciado quando o paciente retorna alguns
dias depois, relatando alguns episódios de intoxicação alcoólica de gravidade
moderada a grave.
56
Ao realizarmos análise da entrevista, o mecanismo de negação se mostra
prevalente, mostrando que inconscientemente Wilson traz à tona material
negacionista, verbalizando sua dicotomia entre negação-realidade, como podemos
observar quando foi solicitado que o paciente descrevesse sua relação com o álcool:
“Como posso dizer..., eu bebo para ficar mais sociável, não sei, o álcool me
permite me soltar um pouco mais..., admito que já cheguei a exagerar
algumas vezes, mas hoje em dia sinto que consigo estar mais no controle.
Embora eu já ter tido algumas situações em que o álcool foi o protagonista...,
a situação conflitante com meu irmão mesmo, surgiu depois de um dia em
que eu estava bêbado, [...] como te contei uma vez, além dos laços de
pessoas queridas que acabo perdendo, algo que me incomoda ou incomodou
um pouco são os prejuízos financeiros que vinham quando eu estava bêbado,
por exemplo; já cheguei a perder um Iphone 10 novinho. [...]”
“Acho que não. Eu acho que já prejudicou mais, hoje eu consigo manter o
controle, sei a hora de parar, só exagero em situações específicas em que
estou com pessoas em quem confio, etc... [...] O que ainda me pega um pouco
é esse lado social..., eu fui expulso da casa do meu melhor amigo da última
vez em que bebi, dei muito trabalho, e não estamos nos falando desde então,
isso me faz repensar algumas coisas.”
5.2.2 Racionalização
57
tanto para si mesmas quanto para seus relacionamentos, saúde e bem-estar geral
(FREUD, 2006).
A partir da sexta sessão, mesmo com a negação fortemente presente em seu
discurso, Wilson racionalizou: “Eu acho que é mais por conta da minha rotina, ando
muito cansado e acabo bebendo além da conta”, o álcool passou a ser o principal
assunto levado por Wilson para a psicoterapia.
Entretanto, mesmo diante da alternância entre processos de consciência sutis
em relação ao uso do álcool e a mobilização dos mecanismos de defesa, em que
podemos interpretar como uma sutil elevação de seu insight em relação ao seu estado
idealcoolista, novamente a negação, racionalização e supressão sobressaem-se, uma
vez que Wilson repetiu seu padrão de faltas, trazendo demandas cada vez menores
em relação ao uso abusivo de álcool. Através da intelectualização, verbalizou alguns
discursos onde minimizava os efeitos do álcool em seu cotidiano (ALMEIDA,
TEIXEIRA, et al., 2020).
Em uma das sessões, após diversas indagações e reflexões sobre o uso
abusivo de álcool e sobre uma festa que se programou para ir, mas estava indeciso
sobre sua ida em decorrência do último episódio de intoxicação, onde desencadeou
notório sofrimento psíquico, Wilson verbalizou:
“Eu já tinha me programado, então eu vou beber amanhã, se não conseguir
me controlar, eu nunca mais irei beber, isso é um fato” [...], “eu consigo ficar
sem beber, mas não vou parar, eu consigo me controlar”, “isso são casos
isolados, foram situações...”
58
compreender seu comportamento de consumo excessivo de álcool de maneira lógica
e distante emocionalmente, conforme podemos corroborar e justificar pela sua
extrema constrição de afeto (SumC’↑, SumC’ > WSumC).
5.2.3 Projeção
59
igreja, não sei se somos um pouco distante em decorrência do álcool, mas acho que
não, ele sempre foi assim, mais fechado [...]
A projeção da substância alcoólica para um estado de ideal ou como um
recurso fantasioso que milagrosamente é utilizado por Wilson para suprir suas
habilidades sociais é notado quando ele projeta no álcool a expressão de
características sociais que ele deseja terl: “Então, me sinto mais sociável, consigo ficar
mais espontâneo não sei, é uma sensação boa, geralmente consigo fazer coisas que
sóbrio eu tenho um bloqueio, ou não conseguiria, tipo chegar ou ficar com uma ‘mina’,
não sei...”
5.2.4 Supressão
[...] meu irmão é bem mais forte, alto, mais bonito e inteligente do que eu..., é
mais novo e já tem um futuro bem mais promissor do que eu. Ele é bissexual,
60
e naquela época eu era bem ‘babaca’, bem ‘cuzão’ mesmo, um ‘puta’
preconceituoso, tinha descoberto antes que meus pais que ele via pornô gay
e que estava começando a se envolver com um cara, não lembro a situação
de fato, mas lembro que um dia eu ‘tava’ bêbado e soltei na frente dos meus
pais essas coisas que eu tinha descoberto, então aquilo deixou ele muito
‘puto’, a gente brigou feio, eu não era um cara legal, fazia piadinhas
homofóbicas e etc..., nada que hoje em dia eu me orgulhe. Na época de toda
essa situação, ele estava com uma viagem agendada para a África, e eu ali,
trabalhando com meus pais, sem namorada, 20 e poucos anos na cara, não
tinha nem começado a faculdade... E um dia antes dele viajar, eu saí pra
beber e exagerei bastante..., eu cheguei em casa transtornado, não lembro
de muita coisa, mas lembro da minha mãe chegando no quarto bem na hora
que eu ia ‘mijar’ no meu irmão enquanto ele dormia..., ela disse que eu não
‘tava’ falando coisa com coisa, ‘tava’ agitado..., aquele dia foi tenso pra mim,
a gente já não estava se falando já tinha um tempo, depois disso, tudo ficou
pior, ficamos anos sem se falar. […].
61
5.3.1 Supressão e contenção das emoções: desencadeadores de sobrecarga
emocional
62
significativo na dificuldade de Wilson em manter relações interpessoais saudáveis
devido sua dificuldade em expressar emoções e afetos de forma equilibrada. Essa
supressão permite que ele evite o desconforto emocional imediato, mas contribui para
a acumulação de conflitos não resolvidos, afetando sua capacidade de se relacionar
com os outros. As dificuldades interpessoais de Wilson são ainda mais reforçadas
quando notamos a sua constrição afetiva, sua baixa autoestima e seu superego
punitivo e rígido. Desde jovem, ele apresenta um senso de identidade crítico e com
questões não resolvidas, o que afeta sua autopercepção e gera sentimentos de
tristeza. As dificuldades internas de Wilson trazem impactos à sua esfera interpessoal,
visto que o uso problemático do álcool como forma de lidar com sua integridade do
ego, acabam resultando em conflitos e julgamentos por parte de amigos e familiares.
A falta de habilidades sociais e dificuldades na expressão de sentimentos
positivos também contribuem para a dificuldade de Wilson em manter relações
interpessoais saudáveis. O álcool, nesse contexto, torna-se uma estratégia de
enfrentamento para lidar com situações ansiogênicas e facilitar suas interações
sociais. Ele se sente mais confiante e desinibido quando está sob efeito do álcool, o
que acaba favorecendo inicialmente as suas relações interpessoais. No entanto, essa
estratégia de usar o álcool como facilitador das interações sociais pode levar a um
ciclo vicioso de uso abusivo, no qual o álcool traz consequências negativas, como
comportamentos destrutivos e dificuldades nas relações sociais, levando à exclusão
social e, consequentemente, a um novo ciclo de uso abusivo.
Dessa forma, a fuga consciente de conflitos e a supressão emocional
potencializadas pelo uso abusivo do álcool afetam negativamente as relações
interpessoais de Wilson. Esses padrões de comportamento dificultam a expressão
saudável de emoções, a resolução de conflitos e a construção de relações
significativas, levando a um ciclo sistemático de uso abusivo do álcool e exclusão
social.
63
No contexto do alcoolismo, o masoquismo moral refere-se à tendência do
indivíduo em sentir-se culpado ou envergonhado por seu comportamento relacionado
ao consumo de álcool. Isso pode levar a um ciclo vicioso de consumo e sentimentos
de culpa, podendo ser agravado pela pressão social para evitar o consumo excessivo.
Já o masoquismo mortífero é um comportamento autodestrutivo, em que o indivíduo
se envolve em situações que podem levar à sua própria morte, expressando raiva,
hostilidade, ressentimento ou culpa, muitas vezes direcionados a si mesmo.
No caso de Wilson, evidenciam-se a presença dessas características. Ele
relata utilizar álcool há cerca de 9 anos, com prejuízos sociais, financeiros e
interpessoais decorrentes desse uso excessivo. Além disso, ele menciona abusos
prévios de outras substâncias, como alucinógenos, estimulantes, inalantes e
cannabis, estando em remissão da maioria delas, exceto álcool e cannabis
ocasionalmente.
O masoquismo moral de Wilson manifesta-se na sua tendência em sentir-se
culpado e envergonhado pelo uso de álcool, o que o leva a um ciclo de consumo e
culpa. Além disso, ele relata sofrer emocionalmente após situações desconfortáveis
causadas pelo consumo excessivo de álcool, sentindo-se deprimido e fraco. Percebe-
se o masoquismo mortífero no caso de Wilson quando relata ter tido uma overdose
durante um show, sendo incapaz de lembrar qual droga utilizou devido ao estado de
embriaguez. Esse comportamento autodestrutivo é uma expressão de culpa e
vergonha, levando-o a interromper o uso de drogas, mas mantendo o consumo de
álcool, por outro lado. A negação surge a partir do momento em que todas essas
evidências são recusadas por Wilson que não aceita ou reconhece a verdade óbvia
sobre sua situação, distorção de pensamento ou silenciamento de sentimentos,
evitando o confronto com informações perturbadoras ou dolorosas. Ele nega os
prejuízos do álcool em sua vida, minimizando-os e justificando seu consumo como
forma de obter habilidades sociais e evitar enfrentar questões internas.
Wilson, também, demonstra negação ao racionalizar seu uso de álcool,
afirmando que bebe apenas nos fins de semana e não se sente prejudicado. No
entanto, ao ser questionado mais profundamente, ele expressa a repetição deste
padrão de uso todas as sextas-feiras, causando-lhe sofrimento emocional. Após os
momentos de confrontação, ele falta à sessão seguinte, o que é comum em casos de
64
culpa, vergonha e negação durante o processo psicoterapêutico. A presença de
masoquismo moral e mortífero, juntamente com a negação, contribuem para os
impactos advindos do uso excessivo de álcool na vida de Wilson, fazendo com que o
ciclo vicioso de consumo, culpa, vergonha e negação perpetue-se. Esta organização
psíquica, leva-o a um padrão autodestrutivo e dificulta a busca por mudanças
positivas.
65
Com um superego severo e punitivo, fazendo com que o indivíduo seja
autocrítico e exigente consigo mesmo, ele acaba estabelecendo padrões elevados e
sentindo-se constantemente culpado ou envergonhado quando não consegue atingi-
los. Essa rigidez interna pode gerar um sentimento de busca incessante pela perfeição
e uma sensação de culpa constante. Nesse contexto, Wilson recorre ao álcool, como
forma de lidar com uma consciência crítica e punitiva, para suprir seus anseios sociais,
como para estabelecer relacionamentos afetivo-sexuais, por exemplo. O álcool pode
proporcionar relaxamento e diminuição da ansiedade, auxiliando no alívio de níveis
de estresse inconscientes, o abuso de álcool em um superego rígido e punitivo pode
ser percebido como algo mágico, trazendo uma sensação de perfeição e auto-
suficiência quando utilizado.
Para Wilson, o álcool representa um refúgio inconsciente, um conforto e uma
forma de transcendência alcoólatra. A partir dos efeitos ilusórios do álcool, ele fantasia
uma sensação de controle, completude e plenitude. Através dessa idealização do
álcool, Wilson tenta suprir suas necessidades emocionais e fugir da condição humana
e de suas limitações físicas e psicológicas. Ele utiliza a fantasia como um mecanismo
de defesa para lidar com suas fraquezas, insuficiências e desconfortos emocionais.
Através da fantasia, ele cria um estado idealizado de bem-estar, prazer e satisfação
que busca alcançar através do consumo de álcool. A fantasia serve como uma forma
de escapismo e negação das consequências negativas do uso do álcool,
proporcionando uma ilusão temporária de controle e conforto emocional.
66
mutuamente, à medida que ele racionaliza para minimizar os problemas do álcool, ele
nega cada vez mais a realidade de seu idealcoolismo.
O masoquismo moral e mortífero se manifestam como sentimentos intensos de
culpa e autopunição, expondo-se a riscos reais, danos físicos e até mesmo de morte
associados ao consumo excessivo de álcool. Mutuamente, a estes sentimentos,
novamente surge o ciclo autoperpetuante entre racionalização-negação, fomentando
e reduzindo seus desprazeres.
Wilson utiliza a racionalização para negar ou minimizar os problemas causados
pelo álcool, preservando sua autoimagem e evitando sentimentos de culpa. Ao mesmo
tempo, a negação entra em jogo, se recusa a aceitar a verdade sobre a dependência
e os prejuízos do consumo de álcool. Esse ciclo de autojustificativa perpetua o
comportamento autodestrutivo e o sentimento de culpa, alimentando o masoquismo
moral e mortífero e sendo reduzidos pela racionalização-negação.
67
excessivo de álcool. Isso permite que ele preserve sua autoimagem, evite sentimentos
de culpa e continue justificando seu comportamento autodestrutivo. A racionalização
também desempenha um papel nesse processo, ele recorre à racionalização para
justificar seu consumo excessivo de álcool, minimizando os problemas associados.
Dessa forma, a contenção das emoções, a sobrecarga emocional e a
organização do pensamento são afetadas pela evitação do desamparo do ego,
levando ao recurso do alcoolismo como uma forma de satisfação imediata. A negação
e a racionalização entram em cena como mecanismos de defesa para preservar a
autoimagem e minimizar os problemas associados ao consumo de álcool. Esse ciclo
autoperpetuante de negação, racionalização e busca de alívio imediato contribui para
a manutenção do comportamento autodestrutivo de Wilson alcoolismo e dificulta a
busca de ajuda e a superação de seu idealcoolismo.
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A análise da relação psicodinâmica entre a estrutura de personalidade de
Wilson e os mecanismos de defesa revela a complexidade de sua condição e os
impactos do uso abusivo de álcool em sua vida. Diversos mecanismos de defesa,
como a supressão e contenção das emoções, a negação, a projeção e a
racionalização, estão interligados e influenciam a forma como Wilson lida com suas
emoções, relacionamentos interpessoais e autoestima.
A supressão emocional é uma estratégia que Wilson utiliza para evitar lidar
conscientemente com emoções e pensamentos indesejados. Ele tenta empurrar
experiências dolorosas para o inconsciente por meio do uso do álcool, o que resulta
em uma acumulação de tensão e conflitos não resolvidos. Isso impacta suas relações
interpessoais, pois dificulta a expressão saudável de emoções e a resolução de
conflitos.
A negação e o masoquismo moral também desempenham um papel
significativo na vida de Wilson. Ele nega os prejuízos do álcool e justifica seu consumo
como uma forma de obter habilidades sociais e evitar confrontar questões internas. O
masoquismo moral manifesta-se em sentimentos de culpa e vergonha relacionados
ao consumo de álcool, o que leva a um ciclo de consumo e culpa. Além disso, Wilson
68
se envolve em comportamentos autodestrutivos, como situações que podem levar à
sua própria morte, expressando raiva e ressentimento direcionados a si mesmo.
A rigidez do superego de Wilson contribui para sua baixa autoestima e busca
incessante pela perfeição. Ele estabelece padrões elevados e sente-se
constantemente culpado ou envergonhado quando não os alcança. O álcool se torna
uma solução fantasiosa para lidar com sua consciência crítica e punitiva, oferecendo
uma sensação temporária de controle e auto-suficiência. Por meio da racionalização
e da negação, Wilson tenta minimizar os problemas causados pelo álcool,
preservando sua autoimagem e evitando sentimentos de culpa. No entanto, esses
mecanismos de defesa reforçam o ciclo autodestrutivo, perpetuando o comportamento
de abuso de álcool e os sentimentos de culpa.
Diante dessa análise, percebe-se a complexidade das interações entre a
estrutura de personalidade de Wilson e os mecanismos de defesa. O uso abusivo de
álcool funciona como uma forma de escape e enfrentamento das dificuldades
emocionais e relacionais, mas também perpetua os problemas que ele tenta evitar.
Compreender essa dinâmica é fundamental para direcionar o tratamento de Wilson,
visando a superação dos padrões autodestrutivos e a busca por mudanças positivas
em sua vida.
Acredita-se que no caso de Wilson, a conduta psicoterapêutica poderia
envolver uma abordagem integrativa, adaptada às necessidades subjetivas
específicas de seu caso. Dado o foco na análise da relação psicodinâmica entre a
estrutura de personalidade de Wilson e seus mecanismos de defesa, uma abordagem
psicodinâmica de base psicanalítica poderia ofertar ferramentas teórico-
metodológicas que auxiliassem a expressão livre deste indivíduo com a finalidade de
acessar os conteúdos que sustentam o seu funcionamento psíquico. Isso envolveria
explorar os padrões inconscientes, traumas passados, auxiliar na expressão subjetiva,
criar relação terapêutica favorecedora de transferências e contratransferências. Estas
estratégias visam favorecer a elaboração de emoções conflituosas e reprimidas, bem
como contribuir para a resolução de seus conflitos internos e a reconstrução de seu
self, com o intuito de que possa propiciar uma redução de seus padrões
autodestrutivos e autopunitivos associados ao uso abusivo de álcool.
69
70
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Educação Escolar. São Paulo, 2007.
ZEMEL, M. D. L. D. S.; SADDI, L. SÉRIE: O que fazer? Alcoolismo. 1. ed. São Paulo:
Blucher, 2015.
77
APÊNDICES
APÊNDICE A - ENTREVISTA SEMIESTRUTURADA
ENTREVISTA SEMIESTRUTURADA
78
APÊNDICE B – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
79
O(A) senhor(a) pode se recusar a responder a qualquer questão que lhe traga
constrangimento, podendo desistir de participar da pesquisa em qualquer momento
sem nenhum prejuízo para o senhor.
Caso haja algum dano direto ou indireto decorrente de sua participação nessa
pesquisa, o(a) senhor(a) receberá assistência integral e gratuita, pelo tempo que for
necessário, obedecendo aos dispositivos legais vigentes no Brasil. Caso o(a)
senhor(a) sinta algum desconforto relacionado aos procedimentos adotados durante
a pesquisa, o(a) senhor(a) poderá procurar o pesquisador responsável para que
possamos ajudá-la.
Os resultados da pesquisa serão divulgados no Centro Universitário e
Faculdade UniProjeção, podendo ser publicados posteriormente. Os dados e
materiais serão utilizados somente para esta pesquisa e ficarão sob a guarda do
pesquisador por um período de cinco anos; após isso, serão destruídos.
Este projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP), após
submissão na Plataforma Brasil do Conselho Nacional de Saúde (CNS). O CEP é
composto por profissionais de diferentes áreas, cuja função é defender os interesses
dos participantes da pesquisa em sua integridade e dignidade e contribuir no
desenvolvimento da pesquisa dentro de padrões éticos.
Se você tiver qualquer dúvida em relação à pesquisa, por favor, entre em
contato pelo e-mail: xxxxxxxxx98@gmail.com ou com o Comitê de Ética em
Pesquisa do Hospital Santa Marta, através do endereço: QSE Área especial 01 e 17.
Setor Sul, Edifício ISMEP. Taguatinga Sul. CEP: 72.025-090, e-mail:
cep@ismep.com.br ou pelo telefone: (61) 3932-6431, sob horário de funcionamento
de segunda à sexta das 13h às 18h. A pesquisa será realizada sob orientação da
professora Ma. Michelle de Faria Nunes, do Centro Universitário e Faculdade
Projeção.
Caso concorde em participar, pedimos que assine este documento que foi
elaborado em duas vias, uma ficará com o pesquisador responsável e a outra com
o(a) senhor (a).
______________________________________________
Nome do(a) participante
80
______________________________________________
Vinícius Matos de Almeida
Pesquisador Responsável
81
APÊNDICE C – TERMO DE CESSÃO DE USO DE VOZ PARA FINS CIENTÍFICOS
E ACADÊMICOS
82
Concordando com o termo, a participante da pesquisa e o pesquisador
assinam o presente termo em 2 (duas) vias iguais, devendo permanecer uma em
posse do pesquisador responsável e outra com o participante.
___________________________________________________________________
VINÍCIUS MATOS DE ALMEIDA
PESQUISADOR RESPONÁVEL
CPF:
PARTICIPANTE DO ESTUDO
CPF:_________________
83
APÊNDICE D – TERMO DE COMPROMISSO PARA UTILIZAÇÃO E MANUSEIO
DOS DADOS
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para apreciação do Comitê de Ética em Pesquisa. Os dados obtidos da pesquisa
documental serão guardados de forma sigilosa, segura, confidencial e privada, por
cinco anos, e depois serão destruídos. Ao publicar os resultados da pesquisa,
manteremos o anonimato das pessoas cujos dados foram pesquisados, bem como o
anonimato da instituição coparticipante, detentora, onde os dados foram coletados.
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APÊNDICE E – TERMO DE CONCORDÂNCIA DE INSTITUIÇÃO
COPARTICIPANTE
Nome da Coordenadora
Coordenadora do estágio
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Vinícius Matos de Almeida
Pesquisador Responsável pelo protocolo de pesquisa
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