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FACULDADE PROJEÇÃO

CURSO DE PSICOLOGIA

VINÍCIUS MATOS DE ALMEIDA

ESTRUTURA DE PERSONALIDADE DE UM ADULTO-JOVEM ALCOOLISTA:


ESTUDO DE CASO

Brasília
2023
VINÍCIUS MATOS DE ALMEIDA

ESTRUTURA DE PERSONALIDADE DE UM ADULTO-JOVEM ALCOOLISTA:


ESTUDO DE CASO

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado


ao Comitê de Ética em Pesquisa e ao Curso
de Psicologia da Faculdade Projeção, como
requisito obrigatório à obtenção do título de
Bacharel em Psicologia.

Orientadora: Ma. Michelle de Faria Nunes.

Brasília
2023

2
CENTRO UNIVERSITÁRIO PROJEÇÃO

Curso de Psicologia

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO A SER AVALIADO PELA SEGUINTE


BANCA EXAMINADORA:

___________________________________________________________________
Profa. Ma. Michelle de Faria Nunes - Presidente
Centro Universitário Projeção
Curso de Psicologia

___________________________________________________________________
Prof. Me. Pedro Martini Bonaldo - Membro Interno
Centro Universitário Projeção
Curso de Psicologia

___________________________________________________________________
Drª. Adriana Barbosa Sócrates - Membro Externo
Psicóloga Clínica
Pesquisadora e Docente

Brasília, DF, Junho de 2023

3
DEDICATÓRIA

Em memória de meu pai, Wilson Juvenal, que sempre sonhou com esse momento de
minha vida, e a minha mãe, Antônia Matos, que com seu amor, apoio e sacrifício, me
criou e me tornou a pessoa que sou hoje. Mãe, este trabalho é uma pequena
homenagem ao seu exemplo de coragem, determinação e amor incondicional. Espero
que este pequeno gesto possa de alguma forma retribuir todo o amor e dedicação que
você sempre teve por mim. Obrigado por ser minha mãe, meu exemplo e minha
melhor amiga. Te amo para sempre.

4
EPÍGRAFE

“Concedei-nos a serenidade necessária


para aceitar as coisas que não podemos
modificar, coragem para modificar aquelas
que podemos e sabedoria para distinguir
uma das outras”
Alcoólicos Anônimos

5
RESUMO

O alcoolismo é um tema complexo no campo da saúde mental e o estigma social


enfrentado por indivíduos que se relacionam de forma patológica com o álcool tem
sido tema de debates acadêmicos na área da psicologia. O processo psicodinâmico
que estrutura a personalidade do alcoolista apresenta semelhanças com a de outros
dependentes químicos. Freud (1930/2020) aponta uma regressão à fase oral do
desenvolvimento psicossexual como processo psicodinâmico envolvido, enquanto
outros teóricos apontam que o álcool satisfaz o desejo sexual. Dentro da perspectiva
psicanalítica, mecanismos de defesa como negação, projeção e racionalização são
comuns na estruturação dos vícios (ALMEIDA, 2020). Ressalta-se a importância de
analisar o paciente como um todo, não apenas por meio de critérios diagnósticos
generalistas, mas também considerando a subjetividade do indivíduo. O objetivo desta
pesquisa está centrado em compreender como se configuram os processos
psicodinâmicos de personalidade de um adulto-jovem alcoolista. Trata-se de pesquisa
qualitativa, fundamentada no método clínico-qualitativo, a partir do estudo de caso de
um adulto-jovem com diagnóstico de transtorno por uso de álcool. Para o
levantamento de informações foi realizada análise documental – prontuários e
evoluções, observações clínicas, entrevista semiestruturada e aplicação de teste
psicológico projetivo. Os resultados encontrados descrevem e explicam a supressão
e a contenção das emoções, como desencadeadoras de sobrecarga emocional e
freios para as relações interpessoais saudáveis, a negação e seu papel como redução
de danos advindos de masoquismos moral e mortífero, a projeção e a rigidez do
superego como pilares da baixa autoestima, o idealcoolismo como uma solução
fantasiosa para um superego rígido, a racionalização e a negação como um
combustível para o masoquismo moral e mortífero e a “panela de pressão” resultante
de todos esses conflitos internos, externalizados através do uso abusivo de álcool. Os
resultados deste projeto podem fornecer informações importantes para o
desenvolvimento de recursos teórico-metodológicos mais efetivos para o tratamento
de alcoolismo e outros transtornos relacionados ao uso de álcool.

Palavras-chave: Alcoolismo; Mecanismos de Defesa: Personalidade: Psicodinâmica.


ABSTRACT

Alcoholism is a complex topic in the field of mental health, and the social stigma faced
by individuals who have a pathological relationship with alcohol has been the subject
of academic debates in the field of psychology. The psychodynamics that structure the
personality of an alcoholic share similarities with those of other substance abusers.
Freud (1930/2020) points to a regression to the oral phase of psychosexual
development as a psychodynamic process involved, while other theorists argue that
alcohol satisfies sexual desire. Within the psychoanalytic perspective, defense
mechanisms such as denial, projection, and rationalization are common in the
structure of addictions (ALMEIDA, 2020). It is important to analyze the patient as a
whole, not only through generalized diagnostic criteria but also considering the
individual's subjectivity. The objective of this research is to understand how the
psychodynamic processes of personality manifest in a young adult alcoholic. This is a
qualitative research, based on the clinical-qualitative method, using a case study of a
young adult diagnosed with alcohol use disorder. To gather information, documentary
analysis - medical records and progress notes - clinical observations, semi-structured
interviews, and the administration of projective psychological tests were conducted.
The results describe and explain the suppression and containment of emotions as
triggers for emotional overload and barriers to healthy interpersonal relationships,
denial and its role as harm reduction from moral and lethal masochisms, projection and
the rigidity of the superego as pillars of low self-esteem, idealcoolism as a fanciful
solution to a rigid superego, rationalization and denial as fuel for moral and lethal
masochism, and the resulting "pressure cooker" of all these internal conflicts
externalized through abusive alcohol use. The findings of this project can provide
important information for the development of more effective theoretical and
methodological resources for the treatment of alcoholism and other disorders related
to alcohol use.

KEYWORDS: alcoholism; personality; psychodynamics; defense mechanisms.

7
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................10
2 OBJETIVOS.....................................................................................................12

3 REVISÃO DE LITERATURA ...........................................................................13


3.1 PSIQUISMO HUMANO.................................................................................13
3.2 PROCESSOS PSICODINÂMICOS DE ESTRUTURAÇÃO DA
PERSONALIDADE..............................................................................................15
3.3 ADULTO JOVEM..........................................................................................17
3.4 ESTRUTURA DE PERSONALIDADE DE DEPENDENTES QUÍMICOS O
ÁLCOOL..............................................................................................................20
3.5 O ÁLCOOL E O ALCOOLISMO....................................................................21
3.5.1 O alcoolismo à luz da psicanálise..............................................................25
3.6 ESTRUTURA DE PERSONALIDADE E MECANISMOS DE DEFESA DE
ALCOOLISTAS...................................................................................................26
3.7 TERAPÊUTICA PSICANALÍTICA PARA O TRATAMENTO DE
ALCOOLISMO/DEPENDÊNCIA QUÍMICA.........................................................29

4 METODOLOGIA 31
4.1 DELINEAMENTO DA PESQUISA.................................................................31
4.2 PÚBLICO ALVO............................................................................................32
4.3 PLANO DE COLETA DE DADOS.................................................................33
4.4 INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS...................................................34
4.5 METODOLOGIA DE ANÁLISE DE DADOS..................................................36

5 ANÁLISE DOS DADOS...................................................................................36


5.1 CARACTERÍSTICAS DE PERSONALIDADE DO ALCOOLISTA.................38
5.1.1 Rigidez do superego..................................................................................41
5.1.2 Masoquismo moral e mortífero...................................................................42
5.1.3 Idealcoolismo.............................................................................................44
5.1.4 Características depressivas: baixa autoestima e avaliação negativa a
respeito de si mesmo..........................................................................................46
5.1.5 Contenção e repressão das emoções.......................................................48

8
5.1.6 Déficits interpessoais nas situações de proximidade emocional intensa ou
física...................................................................................................................49
5.1.7 Desorganização do pensamento...............................................................50
5.1.8 Sintomas neuróticos e a busca por situação de carga afetiva intensa......52
5.1.9 Distorção da realidade: uso exagerado da fantasia...................................53
5.2 MECANISMOS DE DEFESA MANTENEDORES DO ALCOOLISMO..........55
5.2.1 Negação.....................................................................................................55
5.2.2 Racionalização...........................................................................................57
5.2.3 Projeção.....................................................................................................59
5.2.4 Supressão.................................................................................................. 60
5.3 RELAÇÃO PSICODINÂMICA ENTRE A ESTRUTURA DE
PERSONALIDADE E OS MECANISMOS DE DEFESA.....................................61
5.3.1 Supressão e contenção das emoções: desencadeadores de sobrecarga
emocional............................................................................................................62
5.3.2 A supressão e a contenção das emoções: freios para as relações
interpessoais saudáveis......................................................................................62
5.3.3 A negação e seu papel como redução de danos advindos de
masoquismos moral e mortífero..........................................................................63
5.3.4 Projeção e a rigidez do superego: o pilar da baixa autoestima.................65
5.3.5 Idealcoolismo: a solução fantasiosa para um superego rígido..................65
5.3.6 A racionalização e a negação: o combustível para o masoquismo moral e
mortífero..............................................................................................................66
5.3.7 "A panela de pressão"................................................................................67
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................................68

APÊNDICES
ANEXOS

9
1 INTRODUÇÃO
Em linguagem popular, droga significa coisa ruim ou sem qualidade. Segundo
Araújo (2012), o entendimento científico de droga refere-se a qualquer substância
capaz de alterar o funcionamento normal de um organismo. O álcool é considerado
uma droga para as sociedades ocidentais e a utilização abusiva desta substância
trata-se de um tema complexo dentro do âmbito da saúde mental (ARAÚJO, 2012). O
alcoolismo, um padrão problemático de uso de álcool que leva a um comprometimento
ou sofrimento clinicamente significativo (DSM V, 2014), também, é um tema repleto
de concepções errôneas e preconceituosas. O estigma social envolvido em processos
de alcoolismo são de notória importância para a psicologia, tornando-se indispensável
a compreensão dos mecanismos de funcionamento do psiquismo de um alcoolista,
bem como de sua personalidade.
A psicodinâmica que estrutura a personalidade do alcoolista apresenta
características semelhantes aos processos psicodinâmicos comuns aos dependentes
químicos (RIBAS, ANDRADE, et al., 2009). Segundo Freud, os processos
psicodinâmicos envolvidos em casos de abuso de drogas apontam uma regressão à
fase oral do desenvolvimento psicossexual, na qual o álcool ajuda a liberar a tensão
gerada entre o conflito das instâncias psíquicas id e superego em decorrência do
desamparo sofrido durante a infância (FREUD, 1930/2020).
Já para outros teóricos, o álcool satisfaz o desejo sexual, podendo o alcoolista
recorrer ao prazer sem dificuldades e limitações (SOBRINHO, 2005). A presença de
mecanismos de defesa como negação, projeção e racionalização são comuns na
literatura como forma inconsciente de alguns usuários justificarem seu vício. Identificar
esses mecanismos de defesa é fundamental tanto para o psicoterapeuta conduzir a
terapia com qualidade, como também para possibilitar que o paciente finalmente
alcance insight e uma melhor qualidade de vida (ALMEIDA, et al., 2020).
Para ofertar um acompanhamento de qualidade a estes indivíduos é de suma
importância enxergar e analisar o paciente como um todo. Essa visão panorâmica se
dá por meio de técnicas que possam abranger e proporcionar uma análise ampla de
sua psicodinâmica, como também pela utilização de testes projetivos que possibilitem
acessar a subjetividade da pessoa alcoolista, uma vez que se trata de alguém que

10
possui uma história de desenvolvimento psicossexual que pode ser relacionada com
a forma como esse sujeito expressa seus comportamentos patológicos.
Assim, esta pesquisa encontra a sua justificativa pessoal no fato de ter sido
possível ao pesquisador, ao longo da graduação em psicologia, observar que muitos
jovens se distanciaram das atividades acadêmicas após a transição do uso para o
abuso de álcool, entre outras substâncias. Ao ingressar no período de estágio
profissionalizante, as observações acadêmicas materializaram-se em um caso clínico
de um adulto-jovem com sintomas de alcoolismo, apresentando um insight
extremamente pobre em relação ao estado psicopatológico, sinais que serviram de
motivação intrínseca para auxiliar o paciente no processo de mudança e readaptação
tão necessárias para seu desenvolvimento pessoal.
Atualmente, a medicina define como droga qualquer substância capaz de
modificar o funcionamento normal de um organismo. O ato de se consumir drogas,
refere-se a uma prática humana milenar e repetida em todo o mundo, o uso do álcool
em específico encontra-se presente com maior incidência no ocidente. Grande parte
dos usuários utiliza essa droga de forma controlada, entretanto, uma minoria
desenvolve padrões de uso inadequados, levando a consequências nocivas e muitas
vezes desastrosas. Torna-se importante ressaltar que o processo desencadeador do
alcoolismo não se deve somente a substância em si, mas do encontro do indivíduo
com ela, da situação e o contexto que se dá esse encontro, levando sempre em
consideração, a subjetividade do sujeito (ZEMEL e SADDI, 2015).
Essa junção de contexto, indivíduo e substância torna-se indispensável para
compreender o fenômeno do alcoolismo em sua plenitude. Tendo como pressuposto
a interação complexa entre estas dimensões para se compreender a funcionalidade e
os mecanismos psíquicos de indivíduos com prejuízos decorrentes do abuso de
álcool, este estudo encontra a sua justificativa teórica no fato da abordagem
psicanalítica apresentar comprovado potencial terapêutico quando aplicada aos
pacientes com problemas relacionados ao uso de droga (DOS SANTOS, 2007). Dessa
forma, acredita-se que a pesquisa possa auxiliar psicoterapeutas e pacientes
alcoolistas a ampliar a compreensão de suas singularidades psíquicas e melhor
compreender a psicodinâmica de sua psicopatologia, de forma que possam alcançar
um bem-estar subjetivo e um estado de saúde mental satisfatório.

11
A justificativa social desta pesquisa incide sobre o fato do uso exacerbado de
álcool possuir efeitos devastadores em qualquer indivíduo, entretanto, jovens adultos
encontram-se em uma situação de maior exposição e risco em comparação com a
população geral (CONCEIÇÃO et al., 2012). Assim, acredita-se que o conhecimento
produzido nesta pesquisa possa favorecer o desenvolvimento de ações coletivas,
assim como intervenções clínicas e terapêuticas que favoreçam o prognóstico destes
sujeitos.
É de conhecimento geral, que além de acidentes e violência envolvendo a si
mesmo e a outros, o uso excessivo de álcool pode causar diversos problemas ao
indivíduo. Porém, algo que não é enfatizado de maneira tão abrangente como os
prejuízos biológicos ou psicológicos advindos do abuso, é o contexto social
relacionado ao tema. O estigma social do “ser alcoólatra 1” abrange fatores muito
importantes que, quando são compreendidos do ponto de vista relacional, podem
auxiliar de maneira positiva e benéfica o tratamento do paciente alcoolista. Por se
tratar de uma droga lícita de fácil acesso, o uso abusivo de álcool tornou-se um grande
problema de saúde pública. Com a falta de conhecimento da população, o indivíduo
alcoolista passa a ser alvo de prejulgamentos, sendo muitas vezes intitulado com
termos pejorativos (JORGE, et al., 2007).
Diante dessa conjuntura, o objetivo desta pesquisa consiste em compreender
como se configuram os processos psicodinâmicos da personalidade de um adulto-
jovem alcoolista, utilizando a metodologia clínico-qualitativa, amparada na análise
documental, observações clínicas e na aplicação e análise de um teste psicológico
projetivo.

2 OBJETIVOS

2.1 OBJETIVO GERAL

Compreender como se configuram os processos psicodinâmicos de


personalidade do adulto-jovem alcoolista

1O termo ‘alcoólatra’, foi escolhido para representar o estigma social, onde os indivíduos que realizam
um uso problemático de álcool, recebem essa designação advinda do senso comum.

12
2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS
2.2.1 Identificar as características de personalidade do sujeito alcoolista
2.2.2 Descrever os mecanismos de defesa mantenedores do alcoolismo
2.2.3 Analisar a relação psicodinâmica entre a estrutura de personalidade e os
mecanismos de defesa mantenedores do alcoolismo.

3 REVISÃO DE LITERATURA

3.1 PSIQUISMO HUMANO

Embora cada abordagem teórica possa abordar o psiquismo humano trazendo


uma visão ou contribuição específica, de forma geral, pode ser definido como uma
unidade complexa, progressivamente mutável e presente em cada indivíduo. Trata-se
de uma estrutura construída de acordo com determinantes biológicos, sociais,
históricos e culturais, sendo a entidade autora de comportamentos, traços de caráter,
sentimentos e emoções subjetivos (CARVALHO, 2007).
A primeira teoria formal que tentou explicar o funcionamento do psiquismo
humano foi a Psicanálise, escrita por Sigmund Freud. Mesmo sua teoria sendo
considerada autobiográfica, já que ele baseou alguns de seus conceitos nas suas
experiências infantis, sonhos e conflitos sexuais, trouxe contribuições notórias para a
psicologia e medicina. Freud definiu os instintos como representações mentais de
estímulos que se originam no corpo (denominou esse instinto de libido, como uma
espécie de energia psíquica, chamada de pulsão), e os dividiu em pulsão de vida,
como a sexual, e pulsão de morte que inconscientemente leva o indivíduo para a
decadência, destruição e hostilidade. Dividiu, também, a personalidade em três
estruturas: o id (componente biológico da personalidade, sendo o depósito dos
instintos da libido e age de acordo com o princípio do prazer), o ego (componente
racional, agindo de acordo com o princípio da realidade) e o superego (lado moral da
personalidade, composto de consciência e princípios morais). Quando essas
estruturas entram em conflito, surge a neurose. Para combater essa neurose, entram
em ação os mecanismos de defesa, que agem de forma a proteger o psiquismo do
indivíduo (SCHULTZ e SCHULTZ, 2021).

13
Segundo Jacques Lacan (apud TOREZAN e AGUIAR, 2011), o psiquismo é
composto por três instâncias interligadas: o Real, o Imaginário e o Simbólico. O real
representa a dimensão da experiência humana que está além da capacidade de
simbolização e linguagem. É uma ordem pré-simbólica que escapa à plena
compreensão consciente, estando associada a experiências traumáticas, angústias e
faltas que não podem ser completamente expressas por meio de símbolos. O
imaginário refere-se à dimensão do psiquismo que se desenvolve a partir de imagens
e relações refletidas, está relacionado ao narcisismo, à formação da identidade e à
ilusão de uma imagem coerente do “eu”. O imaginário está vinculado à idealização e
à busca de completude e plenitude. O simbólico é a instância que envolve a
linguagem, os sistemas de significação e os processos de simbolização. Através do
simbólico, o sujeito se constitui como um sujeito falante e é inserido em uma ordem
simbólica compartilhada pela sociedade. A linguagem desempenha papel
fundamental na estruturação do psiquismo e na mediação das relações com os outros.
É importante ressaltar que essas três instâncias não são independentes, mas estão
interconectadas e se influenciam mutuamente. O simbólico é considerado essencial
para a constituição do sujeito, pois é por meio da linguagem que se adquire uma
identidade e estabelece relações com o mundo.
Com base nos conceitos freudianos, outros teóricos denominados
neopsicanalistas, trouxeram novas noções de como se compreender a personalidade
e o psiquismo humano. Um destes teóricos foi Alfred Adler, precursor da Psicologia
Individual, na qual os sentimentos de inferioridade são as fontes da luta humana,
gerando um complexo de inferioridade (a capacidade de se resolver os problemas da
vida), seja por origem orgânica, como uma deficiência ou por interferência do meio
social, como negligência ou bajulação em excesso. A meta do ser humano, para Adler,
é alcançar a superioridade ou a perfeição através do poder criativo do self2 (a
capacidade de criar o nosso self a partir do que nos foi fornecido pela hereditariedade
e o ambiente). Diferentemente de Freud, Adler traz uma visão mais esperançosa da
natureza humana, onde a infância é importante, entretanto, não somos vítimas dela,

2O conceito de "self" para Adler envolve a compreensão da personalidade como um todo dinâmico e
em constante evolução, influenciado por fatores internos e externos, e com ênfase na capacidade de
ação e busca de significado na vida (LEAL e ANTUNES, 2015).

14
para o autor as pessoas são únicas e têm o livre-arbítrio e a capacidade de moldar
seu próprio desenvolvimento (SCHULTZ e SCHULTZ, 2021).
De acordo com Karen Horney, a personalidade é moldada principalmente pelas
experiências interpessoais durante a infância. Ela argumenta que as crianças são
afetadas por seus relacionamentos com os pais, especialmente a relação com a mãe
e o pai, bem como a cultura em que são criadas. Essas experiências moldam a
percepção que a criança tem de si mesma, dos outros e do mundo. Horney também
identificou dez necessidades neuróticas que surgem como resultado de ansiedades
básicas não resolvidas. Essas necessidades neuróticas são divididas em três
categorias principais: necessidades de afeto e aprovação, necessidades de controle
e necessidades de segurança e independência. Os indivíduos desenvolvem
estratégias mal-adaptativas para lidar com essas necessidades, e essas estratégias
podem levar a comportamentos neuróticos. Horney também propôs três atitudes
básicas que os indivíduos podem adotar em relação aos outros: a atitude de mover-
se em direção aos outros, em que buscam ser amados e aprovados; a atitude de
mover-se contra os outros, em que buscam dominar e controlar; e a atitude de mover-
se afastado dos outros, em que buscam independência e autonomia. Ao contrário de
Freud, Horney acreditava que a mudança e o crescimento pessoal eram possíveis ao
longo da vida. Ela defendia a importância de enfrentar as ansiedades básicas,
desenvolver relações interpessoais saudáveis e alcançar um equilíbrio entre as
necessidades individuais e as demandas sociais (NEUMANN, 2000).

3.2 PROCESSOS PSICODINÂMICOS DE ESTRUTURAÇÃO DA PERSONALIDADE

O termo psicodinâmica, no geral, refere-se a uma abordagem que explica o


funcionamento e estruturação do psiquismo, com origem na teoria e no conhecimento
psicanalítico. Alguns conceitos básicos são necessários para ser possível
compreender a personalidade através das teorias psicodinâmicas, um deles é a noção
do inconsciente. Freud apresentou uma divisão topográfica da mente, na qual a
instância psíquica Id encontra-se no inconsciente como um “reservatório” de
sentimentos, emoções, pensamentos, memórias e impulsos irracionais que não temos
acesso e que respondem ao princípio do prazer. O ego é a instância psíquica que atua

15
no nível consciente, levando em consideração o que é adequado e o que é
inadequado em determinada situação. O superego, a terceira instância psíquica, atua
nos níveis pré-conscientes e inconsciente, agindo pelos princípios morais, censurando
o que é inadequado (GABBARD, 2006).
Quando aborda-se o processo psicodinâmico de estruturação da personalidade
do alcoolista, faz-se necessário demarcar que esta forma de funcionamento é
estruturada sobre uma base neurótica. Uma das primeiras explicações para o
funcionamento das neuroses foi dada por Freud, afirmando que quando surge um
conflito entre instâncias psíquicas, é gerada a ansiedade que ocasiona diversos
sintomas neuróticos, fobias e histerias. Para o aparelho psíquico lidar com essa
ansiedade, inconscientemente cria-se mecanismos de defesa. O mecanismo de
defesa mais enfatizado por Freud foi o mecanismo de repressão, que impede que
sentimentos e pensamentos dolorosos cheguem à consciência, ficando armazenados
no inconsciente (FREUD, 2017)
Anna Freud (2006) discutiu amplamente a influência dos mecanismos de
defesa na psicodinâmica que estruturam a personalidade. Ela expandiu os conceitos
estabelecidos por seu pai, Sigmund Freud, incluindo além da repressão e projeção,
outros nove mecanismos de defesa: regressão, formação reativa, anulação,
introjeção, identificação, reversão, sublimação, deslocamento, racionalização,
isolamento, supressão e negação. Enquanto Sigmund Freud focava principalmente os
impulsos inconscientes, Anna Freud direcionou a atenção para as defesas do ego,
ampliando a compreensão dos mecanismos de defesa. Com isso, ela afastou a ideia
da formação de sintomas neuróticos e abriu caminho para uma abordagem mais
voltada à patologia do caráter e da personalidade (GABBARD, 2006).
Dessa forma, os mecanismos de defesa descritos por Anna Freud incluem a
regressão, que envolve o retorno a fases precoces do desenvolvimento para evitar
conflitos; a formação reativa, que transforma um desejo inaceitável em seu oposto; a
projeção, que envolve projetar conteúdos inconscientes em objetos externos; e a
sublimação, que canaliza impulsos para atividades ou objetivos socialmente
aceitáveis. A contribuição de Anna Freud expandiu o conhecimento sobre os
mecanismos de defesa, destacando sua relevância na estruturação da personalidade

16
e fornecendo um novo enfoque na compreensão da patologia do caráter e da
personalidade. (GABBARD, 2006; FREUD, 2006).

3.3 ADULTO JOVEM

Sem desconsiderar as fases do desenvolvimento psicossexual propostas por


Freud, o psicanalista Erik Erikson amplia as discussões a partir da inclusão da
dimensão social na estruturação do psiquismo, ao longo dos estágios psicossociais e
do processo de construção da identidade. A teoria envolve uma crise e um
desequilíbrio em cada estágio, em que o motivo desse conflito interno gira em torno
de alguma particularidade específica do desenvolvimento social e das origens do
indivíduo. Quando o indivíduo resolve a crise de maneira positiva, surge uma
competência advinda daquele conflito (forças básicas), gerando então uma
potencialidade, entretanto, quando a resolução é negativa surge uma patologia
básica, que irá fazer parte da vida da pessoa assim como a potencialidade (ERIKSON,
1998 apud BORDIGNON, 2007).

17
Figura 1 – Estágios do desenvolvimento psicossocial de Erik Erikson

Fonte: Imagem retirada do livro “Teorias da personalidade”, 11ª ed. Schultz e Schultz, p. 165, 2021”

Na adolescência (quinto estágio, de 12-18 anos) domina o conflito da crise


entre identidade e confusão. A tensão entre ser diferente e se conformar às normas
de algum grupo para ser aceito, a pressão em se assumir um papel na sociedade e
as transformações biológicas são alguns temas que geram a crise de identidade. Com
o passar dos anos, após a resolução do conflito típico da fase anterior, na qual o
indivíduo desenvolve a força básica da identidade ou uma patologia em relação ao
estágio, a pessoa chega ao sexto estágio de Erikson, fundamentado no conflito entre
intimidade x isolamento, crise essa que afeta indivíduos de 19 a 35 anos de idade
(RABELO e PASSOS, 2008).
No estágio da “intimidade x isolamento” a pessoa aproxima-se de outras
conforme os valores, gostos e interesses que em conjunto formam essa mesma
identidade. A socialização nesse estágio requer uma identidade forte, visto que a
incompreensão de outros sujeitos ou a dificuldade em forjar relações íntimas podem
empurrar a pessoa para o isolamento. A socialização adulta, decorrente do sexto
estágio, pode resultar em uma carreira, família ou amizades duradouras. No sétimo

18
estágio, fundamentado na crise da “generatividade X estagnação”, é quando surgem
as atividades reflexivas, transmissão de conhecimentos, as responsabilidades de
educar os filhos, reconhecimento profissional entre outros temas, podendo gerar a
potencialidade denominada de generatividade. Se os projetos frustram ou sua
autoavaliação não é satisfatória, há uma estagnação e autossabotagem. Para o autor,
uma fase poderia afetar a fase seguinte, entretanto, com a terapia, o indivíduo poderia
encontrar meios para superar e compensar um estágio patologizado (RABELLO e
PASSOS, 2008; SCHULTZ e SCHULTZ, 2021).
Ao descrever a evolução da personalidade através da teoria do
desenvolvimento psicossexual, Freud (2017) desenvolve a ideia de que a vida era
construída em torno da tensão e do prazer. Toda a tensão se devia ao acúmulo de
libido - energia sexual e o prazer vinha de sua descarga, propondo, então, o
entendimento de que o desenvolvimento sexual não começa na puberdade, mas sim
muito antes, na infância. Para Euzébio (2020, pg. 02), o “instinto sexual de Freud é de
fato um instinto sensual pois ele considerava não apenas os órgãos genitais, mas
qualquer parte do corpo onde as sensações poderiam ser focadas - zonas erógenas”.
Em equiparação ao quinto, sexto e sétimo estágios de Erikson, segundo Freud,
na fase genital (puberdade e vida adulta), a criança tem a sua energia sexual voltada
para seus órgãos genitais e, portanto, em direção às relações afetivas, sendo a
primeira vez que o indivíduo quer agir de acordo com seu instinto de procriar. Em
concordância com Erikson, Freud traz o importante conceito de que conflitos internos
típicos das fases anteriores, podem vir a atingir uma relativa estabilidade, conduzindo
ou não, a pessoa a uma estrutura do ego que lhe permite enfrentar os desafios da
idade adulta. Nessa fase, os indivíduos estão conscientes de suas identidades sexuais
distintas e começam a buscar formas de satisfazer suas necessidades eróticas e
interpessoais (EUZÉBIO, 2020).
Como já enfatizado, durante a idade do jovem-adulto, a luta para formar um
senso de individualidade e proatividade, gera conflitos internos notórios que podem
vir a interferir no desenvolvimento pleno da adultez. O não desenvolvimento da
identidade de forma coesa, o isolamento, o senso de insuficiência e inferioridade,
entre outros sentimentos, podem ocasionar diversos comportamentos e pensamentos
prejudiciais ao jovem adulto. Comportamentos disruptivos, ideações suicidas,

19
sentimentos ansiosos, melancolia profunda, abuso de substâncias e hostilidade são
alguns dos recursos geralmente externalizados nessa fase da vida (EIZIRIK,
KAPCZINSKI e BASSOLS, 2001).

3.4 ESTRUTURA DE PERSONALIDADE DE DEPENDENTES QUÍMICOS

A incessante busca pelo prazer e a constante sensação de eliminar o mal-estar,


a tensão, angústia e o desconforto são um dos principais objetivos dos seres
humanos. Cada indivíduo lida com essa dinâmica de uma forma diferente, de maneira
subjetiva, cada um possui emoções e sentimentos e os suportam de maneiras
distintas. Algumas pessoas lidam bem com frustrações e angústias, outras não,
alguns possuem mais recursos psicológicos desenvolvidos para enfrentar os desafios,
outros menos. A dependência química é uma das maneiras de se expressar e lidar
com essas angústias (RIBAS, et al., 2009).
Pesquisas destacam algumas características psicológicas como fatores de
risco para abuso de substâncias. Em geral, mostram que crianças, adolescentes e
universitários que desenvolveram problemas relacionados ao álcool apresentavam
mais frequentemente traços de personalidade, como, por exemplo, impulsividade,
dificuldade em lidar com emoções negativas e desinibição favorecendo
comportamentos desviantes (MATHEUS, 2020).
A impulsividade tem sido vista como fator de risco para o início do uso de álcool
e outras drogas em adolescentes, podendo se mostrar presente como um sintoma de
transtornos psiquiátricos, como no transtorno de déficit de atenção e hiperatividade.
Também, pode se configurar como um traço da personalidade, comum no transtorno
de personalidade antissocial, no qual comportamentos impulsivos como infringir
regras, envolver-se em atividades ilícitas, buscar novidade, mentir e manipular são
recorrentes. Nas mulheres, a impulsividade tende a se configurar de maneira
diferente, em função das demandas e tensionamentos sociais relativos a construção
da identidade feminina, produzindo instabilidade emocional, dilemas “existenciais”,
incertezas, escolhas que causam ansiedade e pressões sociais característicos do
transtorno de personalidade borderline que aumentam a vulnerabilidade para uso,
abuso e dependência de álcool e outras drogas. Alguns pesquisadores sugerem que

20
o uso de álcool e de outras drogas em indivíduos com os traços de personalidade
listados anteriormente estaria associado à forma de enfrentar situações
emocionalmente difíceis e estressantes, além de “auxiliar” a lidar com frustrações e
com a impulsividade (LOUZÃ e CORDAS, 2020).
Para Waks (1998), Freud também percebe que o surgimento da dependência
química pode ocorrer em decorrência da substituição do objeto de gratificação original
da pulsão. Compreende-se a dependência como um sintoma deslocado substitutivo
da masturbação infantil, remetendo a ligação entre o abuso de substâncias e o
autoerotismo.
Uma das primeiras manifestações teóricas da psicanálise em relação a
drogadição foi no livro de Freud, como já citado anteriormente, o autor focou no uso
de drogas como um recurso defensivo contra a infelicidade. Entretanto, esse mal-estar
psíquico não surge repentinamente, possivelmente sendo resultado de um
desenvolvimento psíquico patológico em fases primárias, associado, principalmente,
às relações com pai e mãe. A droga surge então, assumindo o lugar da intolerância a
frustrações, buscando uma felicidade momentânea (FREUD, 1930/2020). Rado (1953
apud Waks, 1998, p. 73), considera que na base de todo tipo de toxicomania existe
uma depressão tensa caracterizada por uma grande ansiedade dolorosa associada a
um grau elevado de intolerância ao sofrimento.
Estima-se que até 70% dos indivíduos com transtorno de personalidade têm
algum transtorno associado ao uso de álcool e 40% ao uso de outras drogas, sendo
importante destacar que existem algumas características relevantes na chegada ao
tratamento de usuários de drogas com alguma comorbidade. Aqueles usuários que
têm comorbidades com outros transtornos, como depressão e ansiedade, apresentam
mais mal-estar, incômodo e desejo de procurar ajuda do que aqueles com transtorno
de personalidade. Os transtornos neuróticos (ansiedade) e os transtornos de humor
são sentidos pelos pacientes como egodistônicos, já os transtornos de personalidade
são vistos como “o jeito do paciente” e não como um transtorno, uma doença ou algo
que possa ser tratado (LOUZÃ e CORDAS, 2020).

3.5 O ÁLCOOL E O ALCOOLISMO

21
Segundo Araújo (2012), o álcool é um termo genérico para designar uma família
de substâncias químicas orgânicas de propriedade semelhantes. A substância mais
ingerida desta família é o etanol, substância lícita, produzida desde a antiguidade pela
fermentação de açúcares presentes em cereais, raízes e frutas. Do ponto de vista
normativo, conforme a legislação brasileira, a venda e o consumo de álcool é liberado,
com exceção dos menores de 18 anos de idade. De acordo com os efeitos produzidos
pela substância no sistema nervoso central, o álcool é considerado uma droga do tipo
depressiva, que diminui a atividade cerebral, causando perda de reflexo, atenção,
desinibição, alterações no estado de consciência, euforia, sono, falta de coordenação
motora, entre outros sintomas. Mesmo que no Brasil o uso de álcool seja lícito, é
importante destacar a responsabilidade do uso abusivo desta substância no
desenvolvimento de diversas enfermidades. Quando consumido em excesso, o uso
de álcool é considerado um problema de saúde pública, ligado a acidentes de trânsito,
violência e alcoolismo (quadro de dependência).
O uso de álcool, no contexto social moderno, é visto majoritariamente de
maneira favorável e concordante, o que dificulta a identificação de padrões de
consumo patológicos, observando-se uma consequente redução da mobilização de
profissionais de saúde para diminuir os impactos problemáticos advindos do abuso de
álcool. A atual posição ideológica da sociedade, confunde a população com sua
ambiguidade, que por um lado pactua e até mesmo viabiliza e fomenta o consumo
moderado de álcool e, em contrapartida, segrega e pormenoriza o consumo
desmedido e descontrolado (ANDRADE, ANTHONY e SILVEIRA, 2008).
Sadock, Sadock e Ruiz (2017, p. 624), trazem na 11ª edição do Compêndio de
Psiquiatria, informações importantes a respeito do alcoolismo;

O alcoolismo está entre os transtornos psiquiátricos mais comuns observados


no mundo ocidental. [...] o abuso de álcool pode produzir sintomas
psicológicos temporários graves, incluindo depressão, ansiedade e psicoses.
Em longo prazo, níveis cada vez maiores de consumo de álcool podem
produzir tolerância, bem como adaptação do corpo tão intensa que a
interrupção do uso pode precipitar uma síndrome de abstinência
normalmente caracterizada por insônia, evidência da hiperatividade do
sistema nervoso autônomo e ansiedade. Portanto, em uma avaliação
adequada dos problemas de vida e sintomas psiquiátricos em um paciente, o
profissional deve considerar a possibilidade de que a situação clínica reflete
os efeitos do álcool.

22
Há controvérsias quanto à terminologia dos distúrbios associados ao uso de
substância. O termo “vício” é considerado depreciador por alguns autores, que
preferem usar os termos “abuso” e “dependência”. Entretanto, argumenta-se que o
termo “vício” captura um aspecto essencial do distúrbio clínico: o uso continuado da
substância, apesar dos sérios problemas por ela causados. Do mesmo modo, os
critérios determinantes da dependência, conforme descritos adiante, enfocam a
tolerância e os sintomas de abstinência. Entretanto, há tanto síndrome de abstinência
sem vício quanto vício sem síndrome de abstinência. Pode-se dizer que a
dependência fisica é um nível de alteração do cérebro relativamente simples, que
pode ser tratado com remédios. A dependência química, forma de vício mais comum
que existe, é considerada pela medicina uma doença causada por alterações
químicas no cérebro que levam a pessoa a consumir determinada substância
compulsivamente, mesmo quando sabe que isso terá efeitos graves em sua vida
(ARAÚJO, 2012, p. 178).
Atualmente as definições e termos corretos são determinados pela importante
ferramenta dos profissionais de saúde mental: Manual Diagnóstico e Estatístico dos
Transtornos Mentais (Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders) da
Associação Americana de Psiquiatria (American Psychiatric Association). Para se
definir o abuso de uma substância a níveis prejudiciais, as definições “abuso” e
“dependência” (determinadas no DSM-IV, 1994) foram substituídas pelo termo
“distúrbio por uso de substância” (DSM-V, 2014). A seguir, é apresentado os critérios
diagnósticos que caracterizam o transtorno por uso de álcool segundo a quinta edição
do DSM-V:
[...] Padrão mal adaptativo de uso de substância, com consequente
sofrimento ou comprometimento clinicamente significativo, manifestado por
pelo menos 2 dos seguintes eventos ocorrendo em um período de 12 meses:
1. Uso recorrente de substância, resultando na falha em cumprir obrigações
importantes no trabalho, na escola ou em casa [...]
2. Uso recorrente de substância em situações em que há perigo físico [...]
3. Uso continuado da substância, apesar dos problemas sociais ou
interpessoais persistentes ou recorrentes causados ou exacerbados pelos
efeitos da substância [...]
4. Tolerância, definida por qualquer um dos seguintes achados:
a. Necessidade de quantidades acentuadamente altas de substância para
alcançar a intoxicação ou o efeito desejado;
b. Efeito drasticamente reduzido com o uso continuado da mesma quantidade
de substância.

23
5. Abstinência, manifestada por qualquer um dos seguintes achados:
a. Síndrome de abstinência característica para a substância [...]
b. Uso da mesma substância (ou de outra estreitamente relacionada) para
aliviar ou evitar os sintomas de abstinência
6. Uso frequente da substância em quantidades maiores ou por um período
maior do que o pretendido
7. Desejo persistente ou tentativas fracassadas de parar ou controlar o uso
da substância
8. Gastar tempo demais dedicando-se a atividades necessárias à obtenção
da substância, ao uso da substância ou à recuperação dos efeitos da
substância
9. Desistir ou descontinuar atividades recreativas, ocupacionais ou sociais
importantes, em decorrência do uso de substância
10. Usar a substância continuadamente, tendo conhecimento dos problemas
psicológicos ou físicos recorrentes ou persistentes provavelmente causados
ou exacerbados pela substância
11. Necessitar, desejar fortemente ou ter urgência em usar uma substância
específica [...].

Estudos importantes com filhos de alcoolistas, sem quaisquer transtornos


concomitantes, em geral documentam riscos elevados para o comportamento de
abuso de substâncias, sobretudo para alcoolismo. O risco é ampliado para aqueles
com os níveis extremos de impulsividade, observados nos 15 a 20% de homens
alcoolistas com transtorno da personalidade antissocial, visto que costumam se
envolvem com criminalidade, violência e dependência de múltiplas substâncias, o que
intensifica a predisposição (SADOCK, SADOCK e RUIZ, 2017).
Diversos transtornos psiquiátricos são comumente associados aos transtornos
relacionados ao álcool e outras substâncias, um exemplo recorrente é o transtorno da
personalidade antissocial em homens, anteriormente mencionado, para o qual os
estudos sugerem que em alguns casos o transtorno da personalidade precede o uso
exacerbado de álcool. Outra comorbidade psiquiátrica importante são os transtornos
de humor, em que os indivíduos apresentam abuso de substâncias em pelo menos
algum momento da vida e para os quais aproximadamente 30 a 40% dos pacientes já
preencheram o critério para um transtorno depressivo com maior risco de tentativa de
suicídio (LOUZÃ e CORDAS, 2020).
Pacientes com diagnóstico de transtorno bipolar tipo I, possuem um risco
maior de desenvolver abuso por substâncias em comparação a população em geral.
Indivíduos usam o álcool com a função de aliviar a ansiedade e o estresse, entretanto,
aqueles que abusam de substâncias podem apresentar como efeito colateral fobias e

24
transtornos do pânico. De forma geral, os estudos concluem que indivíduos com
transtornos abuso do álcool apresentam um índice de suicídio acentuadamente mais
elevado do que a população em geral. Os dados revelam ser urgente e indispensável
a função que os profissionais de saúde mental possuem, não só no tratamento, mas
na prevenção, psicoeducação e redução de danos envolvendo os abusos de álcool
(SADOCK, SADOCK e RUIZ, 2017).

3.5.1 O alcoolismo à luz da psicanálise

Através da ingestão de álcool, o superego perde sua força sobre o ego que
então pode ser ilimitadamente magnificado, podendo assim, intoxicar-se com sua
própria perfeição e autossuficiência, até o surgimento da cíclica fase depressiva. O
estado de intoxicação é considerado como um estado maníaco seguido pela
depressão comum nos momentos de abstinência, sugerindo uma imitação da morte
como castigo pelo pecado original (WAKS, 1998).
Na transição da adolescência para a vida adulta, sabe-se que o jovem
experimenta mudanças psicológicas e biológicas importantes. Nesse período de
diversas transformações, marcados pelas crises de “identidade x confusão” e
“intimidade x isolamento” os jovens acabam passando por uma maior fragilidade
egóica. Esta sensibilização do ego resulta em um retorno ao narcisismo primário
marcado por ansiedades e sentimentos depressivos seguido da perda da identidade
infantil e, até mesmo, da produção de paranoias resultantes da luta travada em seu
mundo interior, com questionamentos sobre seu contexto social, intrafamiliar,
instituições e pessoas de modo geral. Todas essas particularidades, tornam o
entendimento da psicodinâmica dos jovens adultos um grande desafio para
profissionais de saúde mental, sendo de maior complexidade a compreensão
daqueles que utilizam substâncias de modo exacerbado (KESSLER, et al., 2003;
ERIKSON, 1998 apud BORDIGNON, 2007).
Atravessar esse estágio é uma experiência imprescindível que,
inevitavelmente, envolve algum grau de sofrimento psíquico. Uma maneira de evitar
essa angústia, é resguardando-se na negação e na sublimação (SANTOS e PRATTA,
2012). Alguns autores, ao abordar o alcoolismo e o abuso de substâncias à luz da

25
psicanálise, apresentam-no como um sintoma que revelaria problemas na
organização pulsional do sujeito (PLASTINO, 2000 apud SANTOS e PRATTA, 2012).
Quando estas subjetividades se combinam com as motivações e às facetas da vida
social, o álcool propicia consolo e conforto em meio ao mal-estar relacionado às
renúncias de gratificação pulsional impostas pela civilização, o que representa o alívio
de um sofrimento gerado pelo peso da realidade como um empecilho na busca pelo
prazer (FREUD, 1930/2020).
Baixas doses de álcool estão relacionadas a efeitos como a desinibição e
redução da ansiedade, efeitos esses que podem estar relacionados a hipótese de
alguns indivíduos utilizarem a droga para lidar com um superego severo e
autopunitivo, auxiliando-os a reduzir níveis de estresse inconscientes (GURFINKEL,
1996).
Em seu estudo, Santos e Pratta (2012) trazem que o uso de álcool e outras
substâncias, durante o período de transição da adolescência para a vida adulta, pode
ser entendido como uma expressão que, dentro de determinados limites, funciona
como uma ferramenta de socialização. Quando ocorre o abuso, configura-se um
problema que pode vir a se tornar notório posteriormente, além de impactar todo o
âmbito familiar. Já da perspectiva da psicanálise, o uso de álcool e substâncias pode
ser utilizado como uma estratégia para suprir questões da estrutura pulsional e
fragilidades relacionadas ao vínculo afetivo do indivíduo, sobretudo das relações
familiares.
Tomazelli e Xavier (2012) abordam que o uso do álcool tem o objetivo de
possibilitar que o indivíduo alcance um estado de transcendência que não é alcançado
nem do ponto de vista biológico e nem do social sem utilização da droga.
Subsequentemente, caso o consumo de álcool torne-se sistemático e repetitivo, por
exemplo beber todos os finais de semana, essa prática passa a se caracterizar como
um ritual psico-religioso, devido a periodicidade da prática, que se assemelha a um
ritual religioso semanal.

3.6 ESTRUTURA DE PERSONALIDADE E MECANISMOS DE DEFESA DE


ALCOOLISTAS

26
O ser humano nasce totalmente desamparado e desprovido de recursos de
sobrevivência, necessitando de cuidados por muitos anos até chegar a maturidade e
independência. Do ponto de vista psicanalítico, uma pessoa dependente é aquela que
não conseguiu efetuar a separação do cuidador de forma adequada, ela ainda espera
inconscientemente que alguém ou alguma coisa satisfaça essas necessidades
básicas. Ao entrar em contato com o álcool, uma relação de intimidade mágica é
criada, como se o produto substituísse seus cuidadores (ZEMEL e SADDI, 2015).
Em uma das interpretações da psicanálise associadas ao abuso de álcool,
acredita-se existir uma forte regressão às primeiras experiências de vida, na quais
ocorreu uma falha nas primeiras interações que marcam profundamente a criança,
como se não encontrassem uma mãe capaz de discriminar para esse infantes que
estão vivos, que sentem necessidades, que possuem sensações e sentimentos. Esse
vazio causado pelas primeiras e necessárias interações afetivas marca uma profunda
falta de sentido na criança que volta a ser vivenciada na vida adulta. Os alcoolistas
vivem em constante estado de desamparo, como se lhes faltassem um membro do
corpo e o álcool suprisse essa parte faltante. A negação é um mecanismo de defesa
fortemente empregado nesta situação, quando o indivíduo nega a separação com a
mãe e/ou a importância da infância na sua vida. Nestas situações, o álcool apresenta-
se como um remédio que lhe transforma em alguém onipotente e totalmente
independente, superior a tudo e a todos, não reconhecendo de seus medos, carências
e dificuldades (OLIEVENSTEIN, 1990).
Partindo do princípio proposto anteriormente, percebemos que esse
mecanismo de substituições, também, é observado na relação entre sexualidade e
alcoolismo. A fuga proporcionada pelo álcool possibilita ao indivíduo obter prazer sem
dificuldades, sendo percebida, assim, a relação entre o uso exacerbado de
substâncias psicotrópicas e a fase oral da sexualidade infantil (RIBAS et al., 2009).
Merloo (1952 apud Waks, 1998) traz que a diferença da psicodinâmica do
alcoólatra para o dependente químico é que a maioria dos alcoólatras é maníaco-
depressivo de tipo oral, já a maioria dos dependentes químicos são do tipo esquizóide,
habitando um mundo mágico e infantil. Segundo o mesmo autor, na psicodinâmica do
alcoolista, três mecanismos psíquicos fundamentais estão presentes: (1) um

27
veemente desejo de experimentar o êxtase, (2) uma intensa manifestação da pulsão
de morte e (3) uma forte dependência oral.
O abuso do álcool é compreendido como uma forma de diminuir a tensão
causada pela tentativa inconsciente de trazer à tona experiências lacunares vividas
nos primeiros momentos de vida e que refletem em sua vida adulta atualmente. Essa
estruturação psíquica foi denominada por Freud como neurose obsessiva, na qual os
sintomas predominantes são a cautela ao se comunicar, o controle exagerado e a
tentativa de evitar falhas, manifestações essas que se enfraquecem ao fazer o uso da
substância, desencadeando comportamentos desinibidos e posteriormente de pesar
(RIBEIRO, 2011). Conforme enfatizado por Sobrinho (2005, p. 56):

[...] o sujeito, muitas vezes, depois de passar o período de embriaguez,


comenta ter dito coisas que não gostaria e se arrependeu; ficou irresponsável,
deixando de atender aos compromissos previamente marcados, etc.
Portanto, o álcool vem enfraquecer as características da neurose obsessiva
como: ordem, obstinação, limpeza, correção, tanto na ordem da moral, da
censura e da previsibilidade. Assim, a embriaguez representa uma exceção,
para esse sujeito, de incerteza e imprevisibilidade. O álcool é evocado como
um meio de consolo, de desinibição e até mesmo de defesa.

Ainda, de acordo com Sobrinho (2005), identifica-se uma correlação importante


entre a neurose e o alcoolismo, tendo em vista que o álcool traz uma possibilidade de
acesso ao gozo sem nenhum tipo de limitação. Esse entendimento é corroborado pelo
estudo de Galvão (2000), no qual o alcoolista encontra no líquido a sensação de
plenitude advinda do gozo proporcionado pela substância, sensação essa que dura
até o momento em que os efeitos da droga cessam, fazendo-o ansiar por mais álcool
para suprir o mal estar, inserindo-o em um circuito de repetição compulsiva em torno
da droga.
Embora nenhum traço de personalidade específico seja preditivo do alcoolismo,
algumas pesquisas psicanalíticas têm sinalizado que a dificuldade de modulação do
afeto, a fragilidade do ego e a baixa autoestima são pontos importantes, fazendo com
que o álcool acabe por substituir as estruturas psicológicas faltantes (GABBARD,
2006).
Em um estudo descritivo com metodologia mista, Almeida et al (2020)
constatou que os mecanismos de defesa do ego mais evidenciados foram o de

28
negação, de racionalização e de projeção. Esses mecanismos são utilizados pelos
alcoolistas como uma forma de justificar seu vício, entretanto, os autores referem que
em outras abordagens teóricas acredita-se que o indivíduo reproduz o que ele
presenciou em seu meio.
A psicanálise do idealcoolista traz, novamente, os mecanismos de defesa de
negação e racionalização que em níveis inconscientes levam o indivíduo ao uso do
álcool e a uma espécie de desumanização, tentando de todas as formas suprimir as
suas fraquezas e insuficiências que são condições próprias da natureza humana. A
partir dessa fuga da condição humana, busca-se através do álcool uma perfeição,
gerando, assim, uma idolatria ao álcool, ou seja, o idealcoolismo. Mesmo que
conscientemente tenha a noção do prejuízo psíquico e físico que o álcool irá trazer, o
indivíduo prefere fugir de sua fragilidade egóica, buscando inconscientemente o
masoquismo moral, um termo psicanalítico que explica o desejo de ser punido, o
flagelo de estarem condenados ao fracasso. É, ao mesmo tempo, uma dinâmica entre
perseguidor-perseguido, ao invés de externalizar e descarregar suas emoções no
outro, ele se condena e assina sua derrota (XAVIER e TOMAZELLI, 2012).

3.7 TERAPÊUTICA PSICANALÍTICA PARA O TRATAMENTO DE


ALCOOLISMO/DEPENDÊNCIA QUÍMICA

Existem muitas alternativas para o tratamento do uso problemático de álcool:


internação, tratamentos medicamentosos, grupos de autoajuda, terapias grupais e
terapias de família. No atendimento psicanalítico, o indivíduo é trabalhado como um
todo e o uso do álcool e drogas é uma das questões que é discutida, abordando temas
sobre doses, qualidade de bebida e overdoses sem se espantar com os assuntos que
podem vir à tona. A crítica à psicanálise no tratamento de alcoolistas é justamente a
mesma crítica que é feita a esse modelo psicoterápico de modo geral: trata-se de uma
terapia demorada, com exigência de uma formação de custo elevado e minuciosa do
analista. Em contrapartida, a análise se trata de uma investigação minuciosa do
mundo psíquico, dos afetos, emoções, angústias e medos do paciente (ZEMEL e
SADDI, 2015).

29
A psicanálise clássica traz a proposta de que alguns indivíduos alcoolistas
podem ter ficado fixados no estágio oral de desenvolvimento e utilizam o álcool para
aliviar frustrações e angústias, uma vez que essa droga é consumida por via oral.
Entretanto, por mais que seja uma teoria válida e útil, os estudos comprovam que este
entendimento afetou muito pouco os processos de tratamento e não constitue o foco
da pesquisa atual (SADOCK, SADOCK e RUIZ, 2017).
Em seu estudo sobre toxicomania, Olievenstein (1990) traz a teoria de que o
tratamento começa a partir do momento em que a relação terapêutica começa a
importar mais do que a dependência do produto e o indivíduo passa a aprender que
ele pode fazer suas próprias escolhas, ao invés de ser dominado pela substância.

A partir de uma relação transferencial, não submetedora, com um profissional


e com uma equipe que também possibilite um investimento em seu
narcisismo, o sujeito pode encontrar a possibilidade de reconhecer que é
alguém investido de valor fálico; bem como reconhecer a dependência
estrutural em relação ao significante e ao desejo do Outro, a possibilidade de
libertar-se em relação aos Outros da sua vida e em relação à droga. Ou de
libertar-se da posição infantil em que muitas vezes se encontra, na qual ele
supõe não ter que fazer algo por si, mas espera apenas que o outro o faça.
Assim, constrói-se uma nova posição do sujeito na palavra, em relação ao
produto e à sua vida, incentivando a implicação e a responsabilidade do
sujeito em seu destino, propiciando, ao mesmo tempo, que se constituam
novas formas de lidar com as pequenas e grandes frustrações e castrações
da vida e se construam ideais com os quais se possa identificar
(OLIEVESTEIN, 1990, p. 121).

Waks (1998) propõe que o tratamento psicanalítico do alcoolismo é um recurso


terapêutico verdadeiramente eficaz, uma vez que é só através deste que pode se
revelar as motivações inconscientes que levaram a instauração da manifestação
psicopatológica. Para o autor, o melhor momento para começar uma análise é durante
ou imediatamente depois do processo de desintoxicação, alertando que não se pode
pretender que o paciente se mantenha abstinente durante o tratamento. Considerando
as recaídas como formas de resistência à análise, recomenda-se conduzir o
tratamento inicial, preferencialmente, em uma instituição fechada.
A psicoterapia de orientação psicanalítica teve comprovada sua eficácia e
contribuição em potencial para o tratamento de pacientes com problemas advindos do
álcool e outras drogas, em conjunto com o uso adequado de estratégias que englobam
dimensões que possam propiciar uma melhor qualidade de vida, como as esferas

30
físicas, psicológicas, sociais, funcionais, ambientais e espirituais (DOS SANTOS,
2007).
Por outro lado, autores como Galvão (2000) e Waks (1998) trazem a
perspectiva de que o tratamento do alcoolismo e de outras substâncias não seria
possível e nem viável dentro da abordagem psicanalítica, visto que diante das
condições de intoxicação estes pacientes estariam impedidos de utilizarem da fala
para acessar livremente conteúdos inconscientes. A partir da experiência frustrada de
Freud para o tratamento da dependência de cocaína, acreditam que o paciente torna-
se “inanalisável”, o que prejudica a eficácia da psicoterapia. Entretanto, enfatizam a
importância da pesquisa para ampliar os limites de análise desse público.
Para o tratamento de transtornos por uso de substâncias, Cordioli e Grevet,
(2019) trazem a noção de que as psicoterapias psicanalíticas, não são indicadas na
fase ativa da doença (intoxicação), podendo ser utilizada após o período de
abstinência consolidada. Enfatizam que outras técnicas mostram maior adesão e
aplicabilidade, alguns exemplos são as psicoterapias de tratamento em grupo, como
os Alcoólicos Anônimos, considerada uma técnica de padrão-ouro juntamente com as
psicoterapias de orientação cognitivo comportamental.

4 METODOLOGIA

4.1 DELINEAMENTO DA PESQUISA

Trata-se de uma pesquisa qualitativa do tipo descritiva, na qual foram


valorizados o contato direto e prolongado do pesquisador com o participante, com o
ambiente e o contexto em que o estudo foi realizado. Nesta perspectiva, o próprio
pesquisador foi o seu instrumento mais confiável de observação, análise e
interpretação de dados coletados, seja através de equipamentos de gravação de
mídia ou utilizando-se das anotações realizadas. Nessa categoria de pesquisa, as
transcrições de entrevistas, fotografias, gravações, desenhos, entre outros
documentos, possuem lugar de destaque na pesquisa, em que todos os dados
coletados são analisados e fundamentais para compreender o fenômeno como um
todo, não se resumindo apenas a números e variáveis (GODOY, 1995).

31
Dentro do contexto da pesquisa qualitativa, foi selecionada a abordagem de
método clínico-qualitativo, metodologia focada na discussão e descrição de um
fenômeno relacionado à área da saúde, valorizando os conteúdos conscientes e
inconscientes dos sujeitos estudados. Para realização de tal tarefa é indispensável
que o pesquisador apresente conhecimentos teóricos e práticos sobre o tema em
questão, estando sempre atento para possíveis manifestações não verbais dos
indivíduos estudados (BASSORA e CAMPOS, 2010).
A operacionalização da metodologia clínico-qualitativa foi realizada através de
um estudo de caso focado em uma unidade (um indivíduo), procurando compreender
de forma intrínseca, sua estrutura de personalidade e mecanismos psicodinâmicos
que sustentam o uso abusivo de álcool. O estudo de caso tem se estabelecido como
uma ferramenta de investigação inegavelmente importante na esfera acadêmica por
viabilizar o aprofundamento na temática estudada, estimular novas descobertas,
explorar novos processos e comportamentos, enfatizar a multiplicidade de dimensões
de um problema, focar o fenômeno como um todo e por permitir analisar os processos
e suas relações em sua integralidade (VENTURA, 2007).

4.2 PÚBLICO-ALVO

O processo de pesquisa teve como foco o estudo de caso de um jovem adulto


com diagnóstico de transtorno por uso de álcool, que foi identificado com Wilson neste
trabalho com a finalidade de preservar a sua identidade. O caso foi escolhido dentre
os pacientes que estavam em processo de psicoterapia na clínica-escola na qual o
pesquisador realizava estágio, sendo esta uma instituição de nível superior que presta
serviços de saúde gratuitos à comunidade e aos estudantes.
Para escolha do caso, foram adotados como critérios de inclusão para
participação na pesquisa: (1) adulto jovem com idade entre 20 e 35 anos; (2)
preencher os critérios diagnósticos para transtorno por uso de álcool; (3) paciente da
clínica-escola onde o pesquisador realizava estágio supervisionado. Foram
considerados critérios de exclusão da pesquisa: (1) pacientes menores de 18 e
maiores que 35 anos; (2) paciente sem prejuízo em âmbito social, interpessoal e
profissional em decorrência do uso de álcool.

32
4.3 PLANO DE COLETA DE DADOS

Para realização da coleta de dados, foi considerado como pré-requisito, a


autorização do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP), após submissão do projeto de
pesquisa na Plataforma Brasil, no período de novembro de 2022. Para tanto, ocorreu
a solicitação para a realização do presente trabalho, junto aos coordenadores e chefia
da instituição a qual está vinculada a clínica-escola, através do Termo de
Concordância de Instituição Coparticipante. O projeto obteve aprovação do Comitê de
Ética em Pesquisa em 13 de dezembro de 2022, registrada no parecer
consubstanciado de número 5.812.797, CAAE: 65797622.5.0000.8101.
A realização da coleta de dados ocorreu em 2023, entre fevereiro e março, por
meio de participação voluntária (sem nenhum custo ao entrevistado/a, com direito a
desistência em qualquer etapa da pesquisa). Enfatiza-se que todo processo de
investigação seguiu a orientação fundamental sobre pesquisa envolvendo seres
humanos do Conselho Nacional de Saúde/Ministério da Saúde, a Resolução Nº
466/12 de dezembro de 2012, que apresenta os processos éticos com os participantes
de processo de pesquisa, assegurando a dignidade, autonomia, esclarecimento da
pesquisa, seus riscos e benefícios (BRASIL, 2012).
O Código de Ética Profissional do Psicólogo (2005), destaca a importância do
respeito ao sigilo das informações pessoais dos participantes de pesquisa para
preservação da intimidade de organizações, grupos ou pessoas além de, jamais ser
conivente ou praticar negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade ou
opressão e induzir a convicções políticas, filosóficas, morais, ideológicas, religiosas,
de orientação sexual ou a qualquer tipo de preconceito. Além de evidenciar que em
estudos, pesquisas e atividades para o desenvolvimento do conhecimento e das suas
tecnologias o pesquisador psicólogo tem o dever de: avaliar os riscos que envolve a
pesquisa, seja nos procedimentos ou na divulgação de dados; garantir o caráter
voluntário dos envolvidos, a partir do consentimento livre e esclarecido; garantir o
anonimato dos envolvidos; garantir o acesso aos resultados da pesquisa ou do estudo.
Desta forma ao participante foi apresentado ao TCLE (APÊNDICE B), podendo ou não
concordar com a participação e colaboração na pesquisa.

33
A coleta de dados subsidiou-se nos registros do acompanhamento
psicoterapêutico ofertado ao paciente, utilizando-se da análise de informações
registradas nas evoluções/prontuários e relatórios do paciente, assim como de
observações clínicas ao longo dos atendimentos. Posteriormente, foi realizada
entrevista semiestruturada e aplicação do teste projetivo das manchas de tinta de
Rorschach voltados para o levantamento de informações referentes a psicodinâmica
estruturadora da personalidade, bem como da situação de alcoolismo. Todas as
informações foram registradas em diário de campo, além da gravação da entrevista
com a finalidade de manter a fidedignidade dos dados prestados ao pesquisador.
O pesquisador ficou à disposição para prover atendimentos que sanassem
qualquer dificuldade oriundas da participação no processo de pesquisa, observado
que o pesquisador é estudante de psicologia e futuro psicólogo, podendo oferecer
cuidados imediatos, mediante apoio de supervisor, caso surgisse alguma demanda.
Ao participante foi garantido o direito de desistir da pesquisa a qualquer momento.
Considerou-se retorno na forma de benefícios para o paciente analisado, o
autoconhecimento que foi mobilizado a partir da análise de dados e aplicação dos
instrumentos para o estudo de caso. Acredita-se que estas informações possam
favorecer o insight sobre seu atual estado psicológico, além de propiciar ao paciente
uma melhor compreensão de sua personalidade e dos atos inconscientes advindos
de seus comportamentos psicopatológicos. Do ponto de vista acadêmico e científico,
os benefícios estão relacionados à produção que conhecimento que possa servir de
auxílio a profissionais de saúde ofertando subsídios para compreensão dos processos
psicodinâmicos que fundamentam a estrutura de personalidade do alcoolista. E, por
fim, acredita-se ser possível beneficiar outros alcoolistas e/ou toxicomaníacos, ao
reconhecerem o processo de autodesenvolvimento e melhorar a autoeficácia em
relação ao transtorno, por estarem vivenciando o mesmo fenômeno, promovendo um
sentimento de identificação e esperança a partir da reconhecimentos com histórias
semelhantes.

4.4 INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS

34
A coleta de dados foi realizada através da análise de documentos, que se
consiste em um intenso e amplo estudo de materiais e instrumentos escritos que, por
direito, faz fé daquilo que atesta, servindo de registro, prova ou comprovação de fatos
ou acontecimentos (KRIPKA, SCHELLER e BONOTTO, 2015). Nesse estudo, foram
selecionados para o levantamento de informações, as seguintes categorias de
documentos: arquivos particulares, como registros de evoluções psicológicas,
relatórios de sessões de psicoterapia e registros em diário de campo. Outro
instrumento também utilizado, foi a observação clínica, sendo este, um método muito
utilizado na Psicologia, fornecendo elementos que podem ser indicativos de
normalidade ou de psicopatologia - posturas, comportamentos estereotipados, dentre
outros (FERREIRA e MOUSQUER, 2004).
A terceira ferramenta de coleta de dados foi uma entrevista semiestruturada
(APÊNDICE A), instrumento este, que desempenha um papel crucial na coleta de
dados qualitativos em pesquisas e práticas profissionais. Sua flexibilidade e
adaptabilidade permitem uma exploração aprofundada das experiências e percepções
dos entrevistados, ao mesmo tempo em que mantém uma estrutura básica para a
comparação e análise dos dados (SANTOS, JESUS e BATTISTI, 2021). E por fim, a
aplicação do teste projetivo das manchas de tinta de Rorschach, com fim de identificar
traços psicopatológicos da personalidade, compreendendo sua estrutura e dinâmica
por entre seus conteúdos inconscientes. O teste de Rorschach (aprovado pelo
Conselho Federal de Psicologia desde 2003) tem se mostrado eficaz no contexto da
Psicologia Clínica (CHABERT, 1998), por ser possível através deste, identificar
aspectos psicológicos comprometidos e traços de personalidade patológicos,
aspectos afetivos negativos e déficit no controle de impulsos, pois o sujeito ao
desconhecer a transcendência das respostas, não pode preparar-se para manipular,
a tarefa é tão aberta que não permite preparar as respostas (GARCIA, 1999 apud
FASOLI, 2012, p. 13; GACONO et al., 2016, apud ZILKI, 2020, p. 183).

O teste das manchas de tinta foi realizado na Clínica-Escola, durante o primeiro


semestre de 2023, sob a supervisão de um Psicólogo inscrito no CRP-DF, de acordo
com a disponibilidade do convidado e teve duração aproximada de 45 minutos.
Ressalta-se que a aplicação do teste projetivo das manchas de tinta de Rorschach só

35
foi realizada após o pesquisador realizar curso preparatório para esta finalidade
específica.

4.5 METODOLOGIA DE ANÁLISE DE DADOS

Para a análise de dados, foi utilizado o método de análise de conteúdo, sendo


uma técnica de pesquisa amplamente utilizada para examinar e interpretar o conteúdo
textual, visual ou auditivo de diferentes tipos de materiais, como textos escritos,
discursos, imagens, vídeos, entrevistas, entre outros. É uma abordagem sistemática
que envolve a identificação, codificação e categorização de elementos presentes no
conteúdo, com o objetivo de extrair informações significativas e obter insights sobre
determinados temas, padrões ou tendências (BARDIN, 1977). A análise de conteúdo
pode ser aplicada em uma variedade de áreas, como ciências sociais, comunicação,
psicologia, marketing, ciência política e estudos culturais. Ela permite aos
pesquisadores explorar e compreender as mensagens, discursos e significados
subjacentes em uma ampla gama de contextos (FRANCO, 2020).
Como abordagens e técnicas comuns da análise de conteúdo, incluem-se a
definição do objetivo da análise, seleção do material de análise, codificação e
categorização, análise, interpretação e apresentação dos resultados (PUGLISI e
FRANCO, 2005). É importante ressaltar que a análise de conteúdo requer rigor
metodológico, objetividade e validade. A escolha das técnicas e abordagens
adequadas depende do contexto da pesquisa e dos objetivos específicos. Além disso,
a interpretação dos resultados também pode envolver a consideração de aspectos
culturais, sociais e históricos relevantes (ROSSI, SERRALVO e JOÃO, 2014).

5 ANÁLISE DE DADOS

Este estudo se propôs a investigar as motivações subjacentes ao processo de


abuso de álcool, ou seja, as dimensões psicológicas e psicopatológicas do problema,
bem como suas implicações para a saúde mental. Para tanto, foram coletados dados
de três fontes principais: uma entrevista semi-estruturada, registros de nove sessões
de psicoterapia realizadas com Wilson e a interpretação do protocolo de Rorschach

36
pelo Sistema Compreensivo. A entrevista foi conduzida com perguntas focadas nas
experiências e pensamentos do participante em relação ao seu consumo de álcool,
bem como em questões ambientais voltadas para o contexto social e estressores
externos. As sessões de psicoterapia foram registradas na forma de evolução no
prontuário do paciente e analisadas teoricamente, utilizando o método de análise de
conteúdo, com enfoque nas teorias psicodinâmicas da personalidade. O protocolo de
Rorschach foi aplicado ao participante para avaliar aspectos cognitivos, afetivos,
autoperceptivos, interpessoais e comportamentais associados ao uso de álcool e
comparado com a literatura acerca do tema.
A partir dessas fontes de dados, foram identificadas diferentes categorias que
explicam as motivações para o abuso de álcool, incluindo a ativação de mecanismos
de defesa, intrinsecamente enraizados, como a racionalização, supressão, negação e
a projeção. Identificou-se, ainda: rigidez do superego; masoquismo moral e mortífero;
idealcoolismo; características depressivas, baixa autoestima e avaliação negativa a
respeito de si; contenção e repressão das emoções; déficits interpessoais e nas
situações de proximidade emocional intensa ou física; desorganização do
pensamento; sintomas neuróticos e a busca por situações de carga afetiva intensa e
distorção de realidade: uso exagerado da fantasia. Essas descobertas serão todas
correlacionadas e discutidas com a literatura existente sobre o assunto, como
veremos adiante.
Para o processo de análise documental dos três instrumentos, foram utilizadas
as bases teóricas psicanalíticas desenvolvidas por Sigmund Freud (2017, 1930/2020),
as discussões sobre mecanismos de defesa de Anna Freud (2006) e as ideias de
Xavier e Tomazelli (2012), que abordam o tema do alcoolismo, a partir de uma
perspectiva psicanalítica integrando aos elementos teóricos freudianos as produções
e preocupações da psicanálise contemporânea. Os autores discutem a relação entre
o ideal de perfeição e a busca pelo uso abusivo de álcool como forma de aliviar a
pressão do ego frente às demandas do mundo externo. Além disso, apresentam uma
análise clínica de casos de pacientes alcoolistas, mostrando como os mecanismos de
defesa, e exemplo da negação e da projeção, estão presentes nesse processo. Por
fim, discutem a importância da intervenção terapêutica precoce e a necessidade de
uma abordagem multidisciplinar para o tratamento do alcoolismo.

37
5.1 CARACTERÍSTICAS DE PERSONALIDADE DO ALCOOLISTA

Wilson, um jovem-adulto de 26 anos, do sexo masculino, solteiro, vive e atua


profissionalmente com os pais, estudante em processo de abandono acadêmico. Ao
longo dos encontros apresentou-se consciente, orientado, sem histórico de outros
adoecimentos psiquiátricos ou psicológicos, sem histórico de violência de caráter
físico, sexual ou psicológico, sem histórico de relacionamentos afetivos com o sexo
oposto nem com o sexo semelhante. Apresentou-se à primeira sessão de psicoterapia
com verborragia significativa e contato visual quase ausente. Trouxe como queixa
principal as sensações de estagnação e tristeza, dificuldades de progredir em âmbito
interpessoal e profissional. Demonstrou ausência de objetivos concretos, inércia em
relação a realizações pessoais, sensação de fracasso, autoeficácia reduzida, conflitos
interpessoais e angústia.
A entrevista semi-estruturada foi aplicada no intervalo entre a 7ª e 8ª sessão,
momento em que o uso problemático de álcool do jovem, já havia sido evidenciado e
identificado tanto pelo terapeuta, como pelo próprio paciente. Esta conjuntura facilitou
a aplicação da entrevista, pois o indivíduo se mostrou bastante aberto ao questionário,
além de acrescentar ricos detalhes que contribuíram significativamente para a análise
integrativa dos três instrumentos. O teste das manchas de tinta Rorscharch teve
duração aproximada de 50 minutos, o paciente mostrou-se solícito e cooperativo em
relação ao teste. Além disso, Wilson demonstrou entendimento sobre o processo
avaliativo e interesse quanto à devolutiva, o que minimizou a interferência de fatores
externos que poderiam influenciar na produtividade de respostas a níveis satisfatórios
(NASCIMENTO, 2010).
O protocolo do Rorschach apresentou-se quantitativamente válido e confiável
(EXNER JR. e SENDÍN, 1999), gerando um total de 15 respostas e a variável
LAMBDA com valor de 0.88. Para a interpretação do protocolo, foram utilizados os
manuais de Exner (1999) e Nascimento (2010), sendo este último, próprio para a
análise quantitativa para a amostra brasileira, onde foi utilizada a tabela estatística
descritiva para protocolos com respostas menores que 19 (R < 19). Partindo das
instruções de Exner e Sandín (1999), após a comprovação de um protocolo válido,

38
passamos para a melhor estratégia de interpretação para a psicodinâmica do paciente
aqui apresentado. Iniciou-se utilizando por base do índice DEPI (índice de depressão)
positivo (> 5), seguindo então, por afeto > controles > autopercepção > percepção
interpessoal > processamento > mediação > ideação. Através da análise, iremos
utilizar os sinais indicadores de ↑ (para variáveis que se encontraram acima da média),

↓ (para variáveis que se encontrarem abaixo da média) e as variáveis que se


encontrarem sem indicador, estavam dentro da média.
Em concordância com a literatura (BILLIG e SULLIVAN, 1940), (BUTTON,
1954), (ACKERMAN, 1971), (KUMAR, KUMAR e SARATH, 2019), (GAUDRIAULT e
JACQUET, 2019), (CHAND, 2020) e (DASH, 2022), foram selecionadas variáveis
específicas para se estudar o caso supracitado, com ênfase no abuso de álcool, além
de se destacar outras variáveis que são de notória importância serem apresentados a
uma análise qualitativa. Dentre elas estão: R (número total de respostas), LAMBDA
(uma razão que compara a frequência de respostas de forma pura ‘F’ em relação às
demais respostas do protocolo, relaciona-se à questão da economia no uso dos
recursos cognitivos, ou seja, ocasiões nas quais o indivíduo simplifica suas
percepções), EB (significa o tipo de vivência, Hermann Rorschach considerava um
aspecto central de um portocolo, é relativa a uma característica da personalidade
muito estável na vida da pessoa), DEPI (índice de depressão), W:D:Dd (respostas
globais, respostas de detalhe maior e respostas de detalhe menor, trata-se de uma
proporção que assinala aspectos importantes dos processos de coleta e elaboração
da informação, relaciona-se de modo muito direto com o esforço ou interesse que o
indivíduo dedica ao trabalho de processamento ou, dito de outro modo, a motivação
que apresenta para organizar estímulos), XA% (refere-se ao conjunto das respostas
adequadas ou bem vistas, inclui as variáveis X+% + Xu%), P (respostas populares),
Ma:Mp (proporção de movimentos ativos para movimentos passivos, trata-se da
característica de pensamento do indivíduo, quando Mp>Ma+1. trata-se de um
indivíduo que recorre intensamenta à fantasia), 2AB+(Art+Ay) (índice de
intelectualização), MOR (respostas de morbidez), WSum6 (soma ponderada dos
códigos especiais críticos do módulo da ideação cognitiva), S (respostas de espaço
em branco, onde indica tendências à oposição), WsumC (soma ponderada das

39
respostas de cores cromáticas, refere-se a uma variável do módulo afetivo), lado
direito do eb (lado emocional e afetivo da variável de ‘experiência base’), SumT (soma
das respostas de textura), SumC’ (soma das respostas de cores acromáticas, refere-
se a uma variável do módulo do afeto), SumC’;WSumC (proporção da soma
ponderada de cores cromáticas para com a soma das cores acromáticas, refere-se a
uma variável do módulo afetivo), Afr (quociente de afetividade), GHR:PHR (proporção
de respostas de boa qualidade humana para com respostas de má qualidade humana,
onde podem ser avaliados aspectos das relações objetais), Cont. humano (respostas
com conteúdo humano), PER (respostas com código especial de personalização),
[3(Fr+rf)+(2)]/R (índice de egocentrismo), FD (respostas com o determinante de
forma-dimensão), SumV (soma das respostas de vista), An+Xy (índice de
preocupação com o próprio corpo), Nota D (capacidade de tolerância ao
estressefornece importante informação sobre a tolerância ao estresse e elementos de
controle), Nota D adj (nota ajustada da capacidade de tolerância ao estresse),
H:Hd+(H)+(Hd) (proporção de respostas humanas puras para respostas com
conteúdo humano parcial, para humano ou para-humano parcial, sendo um indicativo
do interesse da pessoa em relações interpessoais e a tendências fantasiosas para
com essas relações), EA (experência efetiva, relaciona-se ao nívei de recursos
disponíveis para tolerar o estresse), es (estimulação sentida, refere-se a demandas
de estímulos externos) e FC:CF+C (proporção das respostas de forma cor, para com
cor forma + cor pura, onde é avaliada a maturidade emocional e tendências a
impulsividade deliberada).
Para uma melhor compreensão da psicodinâmica de Wilson, foram
selecionados algumas características e mecanismos importantes, sendo eles; rigidez
do superego; masoquismo moral e mortífero; idealcoolismo; características
depressivas, baixa autoestima e avaliação negativa a respeito de si; contenção e
repressão das emoções; déficits interpessoais e nas situações de proximidade
emocional intensa ou física; desorganização do pensamento; sintomas neuróticos e a
busca por situações de carga afetiva intensa e distorção de realidade: uso exagerado
da fantasia

5.1.1 Rigidez do superego

40
Indivíduos com um superego rígido e punitivo tendem a ser muito autocríticos
e exigentes consigo mesmos. Eles podem estabelecer padrões irrealisticamente
elevados e se sentir culpados ou envergonhados quando não conseguem atingi-los.
Esse superego punitivo, muitas vezes, resulta em um sentimento de culpa constante
e uma busca incessante pela perfeição (GABBARD, 2006). Pequenas quantidades de
álcool têm sido associadas a efeitos como relaxamento e diminuição da ansiedade.
Esses efeitos podem estar ligados à teoria de que algumas pessoas usam a
substância como uma forma de lidar com uma consciência crítica e punitiva,
auxiliando-as a reduzir níveis de estresse inconscientes (GURFINKEL, 1996 e WAKS,
1998). A junção desses dois fatores, o abuso de álcool com um superego rígido e
punitivo, torna-se algo ilimitadamente mágico, trazendo assim, uma sensação de
perfeição e auto suficiência quando utilizada.
A busca por álcool e drogas de Wilson iniciou-se no processo de adultez
emergente, com aproximadamente 18 anos de idade, em paralelo ao tempo em que
se iniciaram situações conflituosas entre ele e seu pai. O descontentamento com o
próprio abuso de álcool ocorreu pouco tempo depois quando começou a vivenciar
situações psicossociais que lhe trouxeram sofrimento psíquico. O jovem mostrou uma
predisposição para um ego fragilizado, um superego altamente punitivo e a dificuldade
de manter o controle, desenvolvendo mecanismos fantasiosos para lidar com sua
intensa busca pela perfeição (Mp > Ma e PER↑).
Uma evidência que corroborou com os achados do Rorschach, em que Wilson
tenta suprimir e seguir sua rigidez interna, com criticismo excessivo e perfeccionismo,
como forma de lidar com seus problemas psicossociais advindos do uso de álcool, foi
identificada quando Wilson responde ao questionamento sobre as formas de distração
com exceção do uso de álcool:
“[...] atualmente eu tento ao máximo me ocupar com coisas, atividades,
objetivos e trabalho, para que eu acabe não caindo nesse mal..., vou pra
academia, venho pra nutricionista, venho pra cá, mesmo tendo ficado mais
resistente nos últimos meses, é algo que me ajudou muito”

Outra característica que demonstra um superego rígido e punitivo de Wilson


para consigo mesmo pôde ser notada através dos registros da psicoterapia, nos quais
ele ressaltava sua autocrítica e a sensação de ter que ser sempre o melhor, com uma
cobrança além do comum sempre que cometia uma falha ou algum deslize,

41
principalmente relacionados ao álcool. Demonstrava incômodo com a constatação de
que o tempo estava passando vazio para ele enquanto seu irmão mais novo atingia
êxito e sucessos profissionais e interpessoais.
O perfeccionismo característico de um indivíduo com superego severo que faz
uso abusivo de álcool, pode ser notado através de momentos onde os conflitos
decorrentes do uso problemático álcool tentam ser suprimidos ou esquecidos, de
forma que possam ser compensados através de condutas aceitas pelos padrões
sociais, como podemos notar em uma de suas verbalizações:
“Atualmente eu tento focar o máximo possível no meu trabalho, eu voltei pra
faculdade, tento fazer planos para o futuro, metas profissionais..., ‘tô’
tentando reprimir o máximo possível essas situações desconfortáveis e
vergonhosas que vivi.”

Essa pressão auto infligida é agravada de forma notória quando passa a ser
refletida e utilizado no contexto do abuso de álcool, a partir do momento em que a
pressão social para se reduzir o uso do álcool leva o indivíduo a se sentir mais culpado
e envergonhado, ocasionando então sentimentos como o masoquismo moral e
mortífero.

5.1.2 Masoquismo moral e mortífero


No contexto do alcoolismo, o masoquismo moral se manifesta como uma
tendência do indivíduo em se sentir culpado ou envergonhado por seu comportamento
em relação ao álcool, o que pode levar a um ciclo vicioso de consumo de álcool e
sentimento de culpa. Esse comportamento pode ser agravado por fatores como a
pressão social para evitar o consumo excessivo de álcool, o que pode levar o indivíduo
a se sentir ainda mais culpado e envergonhado. Já o masoquismo mortífero é um
termo utilizado na psicanálise para descrever um comportamento autodestrutivo, no
qual o indivíduo se envolve em situações que podem levar à sua própria morte. Esse
comportamento pode ser entendido como uma forma de expressar raiva, hostilidade,
ressentimento ou culpa, muitas vezes direcionados a si mesmo (XAVIER e
TOMAZELLI, 2012).
Notamos a presença dessas características, quando a hipótese diagnóstica de
transtorno por abuso de álcool, com características psicodinâmicas típicas de um
idealcoolista foi levantada durante a terceira sessão, em que Wilson afirmou utilizar a

42
substância há aproximadamente 9 anos. O adulto jovem relatou prejuízos no âmbito
social, financeiro e interpessoal advindos do uso exacerbado de álcool. Abusos
progressivos de outras substâncias, no qual o abuso de uma delas desencadeou um
episódio de intoxicação grave, levando-o ao quadro de overdose. Também foram
relatados o uso de outras drogas sendo elas; alucinógenos; estimulantes; inalantes e
cannabis. Wilson afirmou estar em remissão do uso das drogas psicoativas citadas há
mais de um ano, com exceção do álcool e cannabis (esporadicamente).
Seu masoquismo moral, se manifesta em sua tendência em se sentir culpado
ou envergonhado por seu comportamento em relação ao álcool, o que o levou a um
ciclo vicioso de consumo de álcool e sentimento de culpa. Esse sentimento de
inferioridade ou culpa utilizado para se obter alguma sensação de prazer ou alívio
através do abuso do álcool, explicita-se quando externaliza seus sentimentos de
subalternidade em relação ao seu irmão mais novo: “meu irmão é bem mais forte, alto,
mais bonito e inteligente do que eu..., é mais novo e já tem um futuro bem mais
promissor do que eu.”
Em outros contextos, podemos notar o comportamento autodestrutivo, do
masoquismo mortífero e moral mutuamente, ao responder a pergunta sobre o uso de
outros tipos de droga, quando Wilson relata não saber que droga ter utilizado antes
de uma overdose, pois estava demasiadamente bêbado. Ele afirma que, a partir de
então, interrompeu o uso de drogas em decorrência do sentimento de culpa e
vergonha sofridos socialmente: “ [...] não lembro o que usei de verdade, mas parei
depois de uma overdose em que tive durante um show […]”
O seu masoquismo moral e mortífero são enfatizados, tanto no seu discurso
como em suas ações, através de situações em que faz o abuso de álcool mesmo em
situações nas quais sabe que irá ter impactos emocionais difíceis de lidar, como a
tristeza, e a situação vai levá-lo a um prejuízo social, financeiro e interpessoal.
Conforme são evidenciadas em algumas variáveis do protocolo de Rorschach,
responsáveis por identificar a auto imagem denegrida, a capacidade de controle e
tolerância ao estresse e a tendência a idealizações demasiadamente fantasiosas
(MOR↑, EA↓ e es↓ e Mp > Ma, respectivamente), além de enfatizarem o sofrimento
psíquico de Wilson, trazem uma concordância para com a literatura, ao retratar do seu
masoquismo moral quando relata como se sente após o uso problemático de álcool:

43
“O dia seguinte é sempre o mais difícil..., principalmente quando exagero,
mas ultimamente até quando eu bebo pouco e sob controle eu acordo mal...,
é como se eu não tivesse controle, quando eu exagero e acabo passando por
uma situação desconfortável eu fico a semana toda mal, bem mal mesmo,
chego a ficar depressivo e me sentindo um fraco, inconveniente, coisas do
tipo..., talvez seja por isso que as vezes eu penso em parar, em tirar de vez
isso da minha vida.”

Quando questionado sobre suas tentativas em parar de beber, Wilson traz à


tona seu desejo inconsciente de punição e flagelo, interrompendo o uso exacerbado
do álcool apenas em limites extremos: “Não sei se houveram tentativas de fato, como
eu disse, geralmente eu paro depois que acontece algo que me deixa mal.”
Mesmo tendo consciência de que o álcool traz prejuízos notórios para sua vida,
Wilson não consegue interromper seu uso, nem mesmo a quantidade do uso. Utiliza
a bebida mesmo sabendo dos prejuízos internos e externos que a substância irá
desencadear em seu psiquismo. Podemos observar essa dinâmica, quando
questionado sobre os pontos positivos e negativos advindos do uso abusivo do álcool:
“Bem..., positivamente eu vejo essa questão de me ‘dar habilidades sociais’
que sóbrio eu não teria, sabe... Agora negativamente..., há muitas mais
coisas..., eu perco o controle às vezes, com isso eu acabo fazendo coisas
que não me orgulho e que depois vão me deixar mal, perco objetos de valor,
desaponto pessoas, passo vergonha, fico mal comigo mesmo..., sem contar
a ressaca né, que já me fez perder coisas muito importantes, até ‘trampos’
que me renderiam uma ‘grana’ boa, sem contar o aprendizado né..., bem,
acho que muita coisa na minha vida seria melhor sem a ‘droga’ desse álcool.”

O pensamento de Wilson que coloca o álcool em lugar de destaque em sua


vida, apesar de estar conscientemente dos prejuízos advindos do seu excesso, pode
ser explicado pelo termo psicanalítico de ‘idealcoolismo’.

5.1.3 Idealcoolismo
Segundo a psicanálise, o idealcoolismo nos traz novamente os mecanismos de
defesa de negação e racionalização que em níveis inconscientes, leva o indivíduo ao
uso do álcool, a uma espécie de desumanização, tentando de todas as formas suprimir
as fraquezas e insuficiências que a condição humana nos gera. A partir dessa fuga da
condição humana, busca através do álcool uma perfeição, gerando assim, uma
idolatria ao álcool, ou seja, o idealcoolismo (XAVIER e TOMAZELLI, 2012).
O indivíduo idealcoolista pode ser funcional, ter sucesso profissional e social,
mas internamente vive um vazio emocional e busca no álcool um refúgio para suas

44
insatisfações. O idealcoolismo é visto como uma forma de alcoolismo mais sutil e difícil
de ser diagnosticado, uma vez que não se baseia em um consumo excessivo ou em
uma dependência física evidente, mas sim em uma dependência psicológica do álcool
como um meio de alcançar um estado idealizado de bem-estar, prazer, satisfação e
até mesmo solucionar problemas emocionais e sociais, tornando-se um objeto de
desejo e fonte de gratificação. Esse ideal pode estar presente em diversas culturas e
contextos sociais, o que pode tornar o uso de álcool mais aceitável e até mesmo
incentivado. Ao final da sexta sessão, Wilson alegou em um discurso apresentando-
se vergonhoso, melancólico e cabisbaixo, que “sim, talvez possuía um vício”. Wilson
busca no álcool um refúgio, um conforto, uma transcendência alcoólatra, conforme é
abordado por Xavier e Tomazelli (2012, p. 91):
o indivíduo busca a identificação no álcool como um deus onipotente
(inumano e desumano, obviamente), criando a partir dos efeitos ilusórios uma
equação simbólica entre a bebida e transformação na divindade: o álcool é
igual a, funciona como um deus, assim, criado pelo alcoólatra que, no entanto,
domina-o e termina por destruí-lo. A criatura do divinizado alcoólatra, o deus
Álcool, volta-se contra o criador, mais uma vez.

Wilson vê o uso de álcool, como uma busca fantasiosa para o alívio de seu
superego punitivo e severo, tentando de uma forma desesperada aliviar tensões e
estresses cotidianos e comuns, vivenciando o uso de álcool através do idealcoolismo.
Demonstra tentar, de alguma forma, fugir da condição humana através da
transcendência alcoólatra, esta última sendo caracterizada pela busca de
experiências de transcendência, ou seja, de um estado de elevação espiritual ou
emocional através do uso de álcool. Esse comportamento pode ser motivado pela
insatisfação com a vida cotidiana, a busca por um estado alterado de consciência ou
pela tentativa de fugir de situações ou emoções difíceis.
Notamos o uso idealcoólico do álcool em algumas situações, também, na
entrevista:
“Como posso dizer..., eu bebo para ficar mais sociável, não sei, o álcool me
permite me soltar um pouco mais..., admito que já cheguei a exagerar
algumas vezes, mas hoje em dia sinto que consigo estar mais no controle.
Embora eu já tenha tido algumas situações em que o álcool foi o protagonista
[...] Eu ‘tô’ a um mês sem beber, depois da situação em que te contei, com
meu melhor amigo, etc... Mas com certeza um dia eu vou voltar a beber.”

Outra característica idealcoólica de Wilson vem a tona quando ele relata nunca
ter feito sexo sem a utilização do álcool, precisando estar em estado de embriaguez

45
como uma condição necessária para o sexo. Utiliza-se dessa dinâmica como um
recurso que lhe proporciona uma sensação de autoconfiança e desinibição,
fantasiosamente acreditando que só é capaz de se expressar sexualmente e superar
suas inseguranças e ansiedades relacionadas à performance através do álcool.

5.1.4 Características depressivas: baixa autoestima e avaliação negativa a


respeito de si mesmo

O insight limitado de Wilson em relação a sua psicopatologia, pode ser


corroborado por uma deficiência ou fraqueza no desenvolvimento do ego, sendo a
estrutura psíquica responsável pela nossa percepção de identidade e de como nos
relacionamos com o mundo ao nosso redor. Anna Freud (2006) se concentra na
importância do processo de separação-individuação na formação do ego e na
adaptação às demandas externas. Ela afirma que a falta de um ambiente acolhedor e
de um processo de separação-individuação saudável pode levar a uma fragilidade
egóica e a problemas de identidade e adaptação.
Para o caso em questão, podemos notar que a fragilidade egóica de Wilson,
relaciona-se também com a quinta das oito fases do desenvolvimento psicossocial
propostas por Erik Erikson em sua teoria do desenvolvimento humano (BORDIGNON,
2007). Essa fase ocorre na adolescência, geralmente entre os 12 e 18 anos e é
caracterizada pela busca de uma identidade pessoal e social. Durante esta fase, os
adolescentes precisam desenvolver um senso de identidade clara e coerente, que
inclua uma compreensão de quem eles são, quais são seus valores, interesses e
metas na vida. A tarefa crucial é a integração de experiências anteriores com novas
possibilidades e exigências para formar uma visão coerente de si mesmo e do mundo.
Se os adolescentes são bem-sucedidos em estabelecer uma identidade sólida, eles
são capazes de se tornar indivíduos confiantes e capazes de lidar com os desafios da
vida adulta. No entanto, se eles não conseguem desenvolver um senso de identidade
claro, eles podem se sentir confusos e incapazes de tomar decisões importantes sobre
seu futuro, o que pode levar a sentimentos de desesperança e baixa autoestima.
Notamos tais características, nos seguintes trechos da entrevista estruturada e relatos
da 3ª sessão:

46
“Eu comecei a beber entre os 17/18 anos de idade, aproximadamente”. [...]
“meu irmão é bem mais forte, alto, mais bonito e inteligente do que eu..., é
mais novo e já tem um futuro bem mais promissor do que eu [...]

Em concordância com os dois instrumentos, na análise de seu protocolo de


Rorschach foram encontrados fortes componentes de desvalorização quando
associados aos processos de introspecção, havendo impregnação de autocrítica
negativa, sentimentos de insatisfação e tristeza que aumentam seu sofrimento
psíquico e geram uma baixa autoestima (3r+(2)/R – 0.20↓ SumV↑, FD=0 e MOR↑).
Após algumas faltas consecutivas nas sessões de psicoterapia, gerando uma
determinada lacuna de tempo, em um momento de expressão livre, Wilson traz sua
auto imagem desvalorizada quando relatou ter ajudado muitas pessoas e amigos para
que estes pudessem ser parte do seu cotidiano. O rapaz trouxe essa informação com
certo pesar e uma visão desqualificada de si, como se a pessoa dele em si mesma
não fosse suficiente para aproximar as pessoas. Observa-se, novamente, a sua
rigidez do superego e o seu masoquismo moral enraizado (XAVIER e TOMAZELLI,
2012).
Segundo Sadock, Sadock e Ruiz (2017, p. 624), o alcoolismo está entre os
transtornos psiquiátricos mais comuns observados no mundo ocidental. O abuso de
álcool pode produzir sintomas psicológicos temporários graves, incluindo depressão,
ansiedade e psicoses. Quando uma pessoa consome álcool, o controle exercido pelo
superego sobre o ego pode enfraquecer, permitindo que o ego seja amplificado de
forma desenfreada. Ao ser levada a um estado de intoxicação, a pessoa pode se sentir
excessivamente confiante, perfeita e autossuficiente. No entanto, essa intensificação
do ego costuma ser seguida por uma fase depressiva, criando um ciclo repetitivo
(WAKS, 1998). Os resultados do teste de Rorschach indicam a presença de sintomas
depressivos de longa duração em Wilson, que podem ter se estabelecido antes ou
depois do uso exacerbado de álcool (DEPI = 6, MOR↑, SumC’↑, SumC’ > WSumC e
[3(Fr+rf)+(2)]/R↓), tendo em vista que há sintomas de tristeza e negatividade
presentes em traços duradouros do protocolo (SumV↑).
Um sentimento de tristeza e culpa muito enraizado e reprimido, pôde ser notado
quando o paciente trouxe questões associadas a um conflito que teve com seu irmão
mais novo, no qual Wilson não conseguiu externalizar seus afetos e emoções para

47
com ele em um momento de despedida, pois estava sob os efeitos de abstinência
após uma intoxicação alcoólica grave:
[...] ele estava com uma viagem agendada para a África, e eu ali, trabalhando
com meus pais, sem namorada, 20 e poucos anos na cara, não tinha nem
começado a faculdade... E um dia antes dele viajar, eu saí pra beber e
exagerei bastante..., eu cheguei em casa transtornado, não lembro de muita
coisa, mas lembro da minha mãe chegando no quarto bem na hora que eu ia
‘mijar’ no meu irmão enquanto ele dormia..., ela disse que eu não ‘tava’
falando coisa com coisa, ‘tava’ agitado..., aquele dia foi tenso pra mim, a
gente já não estava se falando já tinha um tempo, depois disso, tudo ficou
pior, ficamos anos sem nos falar. Eu não consegui nem me despedir, foram
deixar ele no aeroporto e eu não fui porque ‘tava’ morto de ressaca, talvez
aquela teria sido uma chance ‘deu’ me redimir com ele e não consegui porque
‘tava’ de ressaca. Acordei no fundo do poço, principalmente quando minha
mãe foi me contar o que tinha acontecido, porque eu não lembrava de muita
coisa...”

5.1.5 Contenção e repressão das emoções

A retração emocional é um dos componentes que está fortemente relacionada


ao uso de substâncias psicoativas. Isso significa que indivíduos que têm dificuldades
em controlar sua impulsividade e irritabilidade, lidar com sobrecarga emocional e
estresse, além de enfrentar problemas, situações adversas e obstáculos, têm uma
maior propensão a consumir essas substâncias ao invés de externalizar as emoções
de forma saudável e equilibrada (WILTENBURG, 2019). Essa característica foi
observada em Wilson ao longo de todo processo de pesquisa, inclusive após a pausa
no processo psicoterápico, entre a 7ª e 8ª sessão, ele retornou com queixas advindas
de conflitos na esfera interpessoal com seu melhor amigo. Conflitos estes que não
foram resolvidos, apenas ‘jogados embaixo do tapete’, algo que começou a gerar
sofrimento em sua esfera interpessoal, ocasionando isolamento e sentimentos de
culpa e fracasso. Além disso, notamos a intrínseca repressão das emoções na
resposta que apresentou ao ser perguntado sobre a forma como maneja situações
desconfortáveis e intensas:
‘tô’ tentando reprimir o máximo possível essas situações desconfortáveis e
vergonhosas que vivi. Hoje mesmo, é meu aniversário e ninguém me desejou
parabéns, além do meu pai, mãe e irmão, e isso não me afeta nenhum pouco,
estou apático em relação às situações ruins que andei vivendo.”

Além de seu superego rígido, citado acima, também podemos notar a


repressão de afetos se mostrando nas formas de lazer atuais, quando diz que:

48
“atualmente eu tento ao máximo me ocupar com coisas, atividades, objetivos e
trabalho, para que eu acabe não caindo nesse mal..., vou pra academia, venho pra
nutricionista [...]”.
Quando interrogado sobre os sentimentos presentes durante as intoxicações,
a constrição afetiva é tão enraizada, que Wilson não consegue vivenciá-las de outra
forma a não ser da intensa repressão: “Nunca parei pra pensar em emoções que sinto,
eu geralmente começo a beber pelo ‘lubrificante social’ como dizem por aí né […] não
tem nenhuma emoção de fato, não que eu tenha percebido.” No protocolo de
Rorschach, foi evidenciado que Wilson possui uma grande carga emocional, carga
esta, que o paciente não consegue expressar verbalmente de forma sóbria e
consciente, resultando em uma retração, uma intensa privação na externalização de
sentimentos e um profundo controle das emoções (WSumC↓, SumC’>WSumC e C’↑).

5.1.6 Déficits interpessoais nas situações de proximidade emocional intensa ou


física

As dificuldades vivenciadas em função da sua constrição afetiva, sua baixa


autoestima e seu superego punitivo e rígido, impactam desde muito jovem em seu
processo de desvalorização identitária, impactando tanto em sua autopercepção como
gerando sentimentos de tristeza, conforme podemos evidenciar pela alta no índice de
depressão, respostas de morbidez, tendências a idealizar fantasiosamente relações
interpessoais e sua baixa autoestima (DEPI = 6, , MOR↑, H < Hd+(H)+(Hd) e
[3(Fr+rf)+(2)]/R↓). Corroborando com essas variáveis, notamos uma visão traumática
na esfera das relações interpessoais e pessimista para com o ambiente social (GHR↓
e PHR↑). Tais condições geram conflitos de difícil manejo em sua esfera interpessoal,
observado que passa a ser excluído e julgado por seus amigos e familiares, não só
pelo exagero, dificuldade de controle perante o estresse e seu uso psico-religioso e
idealcoolista do álcool, mas também no âmbito afetivo em que apresenta dificuldades
de expressar seus sentimentos que passam a ser sublimados e suprimidos pelo medo,
vergonha e culpa. Diante disso, passa a recorrer ao uso de substâncias para satisfazer
necessidades básicas, como o sexo (Afr↑, SumT↑) e a expressão de emoções como
a raiva, tristeza e medo.

49
A falta de habilidades sociais pode aumentar o risco de abuso de substâncias.
Pesquisas encontraram déficits nessas habilidades em abusadores de álcool,
principalmente para expressão de sentimentos e nas interações sociais. O álcool pode
ser usado como uma estratégia para lidar com situações ansiogênicas, além disso, os
déficits nas habilidades sociais e individuais influenciam o consumo de álcool e
maconha em jovens (FELICISSIMO, 2013).
A utilização do álcool de forma ‘milagrosa’ e sanadora de todos os seus
problemas pode ser percebida com seu uso idealcoólico, visto que Wilson faz com
que o álcool atue como uma estratégia de enfrentamento em situações ansiogênicas,
facilitando suas interações sociais, deixando-o mais confiante, desinibido e
favorecendo suas relações interpessoais: “isso me dá até um pouco de vergonha, mas
até hoje, eu só fiz sexo bêbado, nunca namorei ninguém”.
Esse comportamento, desencadeia um ciclo que começa com o uso abusivo
de álcool por parte de Wilson, esse uso excessivo traz consequências negativas, como
comportamentos destrutivos e dificuldades nas relações sociais. Como resultado
desses abusos, Wilson acaba sendo excluído socialmente, afastando-se de amigos,
familiares e comunidade. Diante dessa exclusão social e do sentimento de isolamento,
o indivíduo pode recorrer novamente ao álcool como uma forma de buscar
socialização e conexão com outras pessoas, tendo em vista que o álcool pode ser
visto como uma maneira de reduzir a ansiedade social, aumentar a confiança e facilitar
a interação com os outros. No entanto, o uso do álcool como uma estratégia para
socializar leva a repetição do ciclo de uso abusivo.
Notamos esse ciclo em Wilson quando ele é afastado do seu ciclo de amigos,
inclusive pelo seu melhor amigo, em decorrência dos seus exageros alcoólicos.
Posteriormente, ele tenta se introduzir em novos meios sociais com o intuito de
procurar novas relações, sempre com o uso de álcool presente.

5.1.7 Desorganização do pensamento

O consumo excessivo de álcool pode prejudicar o funcionamento cognitivo,


afetando áreas como memória, atenção, concentração e habilidades executivas. O
álcool pode causar lapsos de memória, dificuldades de concentração, tomada de

50
decisões impulsivas e processamento mental mais lento. O consumo crônico e
excessivo também pode resultar em danos cerebrais permanentes e déficits
cognitivos duradouros (TEIXEIRA, 2007).
Desde os primeiros contatos no setting terapêutico, pôde ser observado
prejuízos na organização do pensamento de Wilson, caracterizado por verbalizações
demasiadamente arborizadas e por vezes desconexas. O paciente, logo no primeiro
encontro, trouxe a suspeita de algum Transtorno no Déficit de Atenção (TDA) em
decorrência dos seus prejuízos na esfera acadêmica e profissional, bem como na
capacidade de desenvolver metas e objetivos para o futuro.
Essa hipótese diagnóstica não foi descartada, apenas posta no segundo plano,
dentro do processo terapêutico, após a identificação do seu uso problemático e
conturbado com o álcool. Contudo, frente a sua insistência, foi submetido a testes
psicométricos associados ao construto atenção, no qual foi constatado prejuízos na
capacidade de manter a atenção dividida, concentrada e alternada. Diante disso, o
teste sugere prejuízos funcionais leves na esfera acadêmica, profissional e financeira
e prejuízo moderado no risco legal. Entretanto, é relevante considerar que diferenciar
o TDA dos transtornos por uso de álcool pode ser um problema se a primeira
apresentação dos sintomas do TDA ocorrer após o início do abuso ou do uso
frequente. Evidências claras de TDA antes do uso problemático de substâncias, são
essenciais para o diagnóstico diferencial, o que não foi evidenciado no processo de
acompanhamento clínico.
Sua desorganização psicológica também foi evidenciada através do
psicodiagnóstico de Rorschach, no qual pôde ser encontrada uma dificuldade em
manter o fio de pensamento, algumas ideações confusas e um processamento
psicológico mais lento (Sum 6 lvl2↑).
Wilson apresenta uma sobrecarga emocional que afeta seu processamento
cognitivo. Ele relata necessitar investir um esforço exagerado no trabalho de
processamento da informação, por medo de cometer erros e se desorganizar, isso o
leva a adotar uma abordagem cognitiva superficial e simplista, preferindo soluções
práticas em vez de análises mais aprofundadas. Wilson também enfrenta dificuldades
em tomar decisões e pode levar mais tempo do que o necessário para concluir tarefas.
Esse padrão pode interferir em seu desempenho acadêmico, profissional e social,

51
limitando sua capacidade de lidar eficientemente com as demandas e tomadas de
decisão (LAMBDA↓, Zf↑, W↑, D↓).

5.1.8 Sintomas neuróticos e a busca por situações de carga afetiva intensa

Existem algumas observações psicanalíticas que destacam a relação entre


certos traços de personalidade e o desenvolvimento do alcoolismo. Embora não haja
um traço específico que seja preditivo dessa condição, foi observado que a regulação
emocional inadequada, a fragilidade do ego e a baixa autoestima desempenham um
papel significativo. Nesse sentido, o consumo de álcool pode ser uma forma de
compensar ou substituir as estruturas psicológicas que estão em falta ou deficitárias.
Essas observações psicanalíticas sugerem que a dependência do álcool pode estar
relacionada à busca por uma regulação emocional mais eficaz e à tentativa de
preencher lacunas psicológicas, proporcionando uma sensação temporária de alívio
ou satisfação (GABBARD, 2006).
No caso em questão, através do psicodiagnóstico de Rorschach podemos
encontrar muitas características preditoras de uma personalidade neurótica, com uma
modulação afetiva psicopatológica. Partindo de um DEPI (Índice de Depressão) com
valor de 6 pontos, foram encontrados fortes componentes de desvalorização quando
associados aos processos de introspecção, havendo impregnação de autocrítica
negativa, sentimentos de insatisfação e tristeza que aumentam seu sofrimento
psíquico e geram uma baixa autoestima (V↑). Este funcionamento reflete em uma
tendência a reações emocionais irritativas e uma maior carga emocional (eb D>E),
carga emocional esta que o paciente não consegue expressar, resultando em uma
retração e uma intensa privação na externalização de sentimentos em função do
profundo controle das emoções (WSumC↓, SumC’>WSumC e C’↑).
Estes conflitos e privações afetivas internas, refletem na sua necessidade de
afeto, pois mesmo apresentando boa disponibilidade para o contato e uma
necessidade de proximidade, interação e experimentação de emoções dentro da
média (T↑ e Afr ↑), essas expressões afetivas ficam comprometidas, a partir do
momento em que Wilson possui uma certa imaturidade emocional (CF↓) e um déficit
no manejo de suas emoções. Este conflito gera mais sobrecarga emocional e mais

52
dificuldade em regular as emoções (Blends↓), afetando então, seu funcionamento
cotidiano, suas relações interpessoais (S↑) e seu bem estar emocional. O déficit na
vivência e externalização dos afetos acaba por ser suprido pelo uso fantasioso do
álcool, em busca de um melhor bem estar subjetivo, embora idealcoólico, ou seja,
falso e temporário.
Sua modulação afetiva com características de impulsividade pode ser
observadas quando Wilson verbaliza: “Nunca parei pra pensar em emoções que sinto,
eu geralmente só começo a beber, pelo ‘lubrificante social’ como dizem por aí né […]
não tem nenhuma emoção de fato, não que eu tenha percebido. Eu deveria pensar
mais, geralmente não paro muito pra pensar, vou pelo calor do momento.”
Em consonância a este achado, notamos um paradoxo entre controle-
descontrole de Wilson, resultados estes, de suas atitudes impulsivas: “O dia seguinte
é sempre o mais difícil..., principalmente quando exagero, mas ultimamente até
quando eu bebo pouco e sob controle eu acordo mal..., é como se eu não tivesse
controle [...]”.

5.1.9 Distorção de realidade: uso exagerado da fantasia


A concepção Freudiana enfatiza a importância da fantasia na vida mental das
pessoas, tanto na infância quanto na psicopatologia (JORGE, 2022). Ela pode servir
como um mecanismo de defesa, uma forma de expressão dos desejos inconscientes
e até mesmo como uma fonte de satisfação imaginária. A compreensão das fantasias
individuais de uma pessoa pode ser útil na análise psicanalítica, permitindo a
exploração dos conteúdos inconscientes subjacentes e a resolução de conflitos
psicológicos.
A fantasia é entendida como um mecanismo psicológico utilizado pelo
idealcoolista para lidar com suas fraquezas, insuficiências e desconfortos emocionais.
Através da fantasia, o indivíduo cria um idealizado estado de bem-estar, prazer e
satisfação que busca alcançar por meio do consumo de álcool. A fantasia no
idealcoolismo pode se manifestar de diferentes formas. Por exemplo, o indivíduo pode
fantasiar sobre como o álcool pode resolver seus problemas emocionais e sociais,
proporcionando-lhe conforto e gratificação. Ele pode idealizar o álcool como um objeto
desejável que o leva a um estado de perfeição, escapando temporariamente de suas

53
preocupações e frustrações. Essas fantasias podem estar enraizadas no inconsciente
do indivíduo e serem utilizadas como mecanismos de defesa contra a realidade,
negando as consequências negativas do uso de álcool e racionalizando seu consumo
excessivo (XAVIER e TOMAZELLI, 2012).
No caso de Wilson, a fantasia tem um lugar importante em seu psiquismo, visto
que utiliza-se do álcool como forma escapista, para preencher um vazio emocional
interno, proporcionar uma ilusão de controle e conforto emocional e uma falsa
sensação de completude e plenitude. Foi possível notar essa dinâmica no discurso do
paciente durante as sessões, quando traz uma visão distorcida e idealizada do que
seria um relacionamento afetivo. Diante disso, recorre muitas vezes ao álcool para
suprir necessidades fisiológicas básicas, como o sexo e outras necessidades sociais,
como o diálogo, a companhia e os afetos. À luz do psicodiagnóstico de Rorschach,
Wilson usa a fantasia de maneira passiva e defensiva para lidar com a tristeza e as
dificuldades da vida. Algo que com o uso abusivo de álcool, tornou-se característica
crônica e mais grave (Ma↓ e Mp↑). Esse mecanismo acaba por gerar no seu
funcionamento psicológico características narcísicas primárias, gerando conflitos
neuróticos, como a inabilidade social.
Nas sessões de psicoterapia, percebemos a fuga da realidade e a busca
inconsciente pelos recursos que a fantasia proporciona através de comportamentos
compensatórios de Wilson, que busca uma cura para todos os seus conflitos
psicossociais, de forma repentina, pela utilização de medicamentos ou na fantasia de
soluções milagrosas que possam resolver seus problemas de forma mais rápida e
eficaz. Podemos associar esse uso exagerado da fantasia, quando Wilson utilza de
medicamentos ou soluções ‘mágicas’ para trazer um resultado rápido e prático para
suas demandas internas e externas, como por exemplo, utilizar ritalina sem prescrição
médica, para sanar seus déficits associados ao construto da atenção. Essa
característica é encontrada no seu protocolo, através da variável de preocupação com
o próprio corpo (An+Xy↑) no qual Wilson tenta compensar os impactos que o álcool
traz ao seu psicológico e a seu contexto social.
Sua tendência a buscar recursos fantasiosos para lidar com seus conflitos
internos não se limita apenas à sua própria percepção, o que pôde ser notado ao se
identificar que apesar de Wilson ter uma boa percepção do ser humano e ansiar por

54
relações interpessoais saudáveis, amizades, laços, situações prazerosas e relações
positivas (Cont. humano↑), apresenta uma incessante e disfuncional busca, a partir
do momento em que a imagem construída sobre os demais é, com maior frequência,
baseada na fantasia (H < Hd+(H)+(Hd)), fazendo com que muitas das situações
interpessoais e afetivo-sexuais vividas se tornem negativas e traumáticas (GHR↓ e
PHR↑).

5.2 MECANISMOS DE DEFESA MANTENEDORES DO ALCOOLISMO

5.2.1 Negação

A negação é um dos mecanismos de defesa mais evidenciados em estudos


relacionados ao abuso de álcool (ALMEIDA et. al., 2020). De forma sintética, opera
como a recusa de aceitar ou reconhecer a verdade óbvia sobre uma determinada
situação, pensamento ou sentimento, sendo uma forma de evitar o confronto com
informações perturbadoras ou dolorosas, preservando a própria imagem (FREUD
1930/2020 e FREUD, 2006). No caso em questão, observamos o mecanismo
intrinsecamente enraizado quando vemos Wilson investindo em pensamentos que se
mostram contraditórios aos fatos concretos - minimiza os prejuízos em âmbito
financeiro, interpessoal, social, familiar, profissional, assim como tem dificuldades
para reconhecer os problemas derivados do uso abusivo de álcool: prejuízos físicos,
como no sono, déficit na atenção e concentração; prejuízos financeiros; conflitos na
esfera familiar; déficits relacionais; perda de objetos; utilização da crença no TDA para
justificar as suas dificuldades derivadas da abstinência e do próprio alcoolismo.
Além de toda sintomatologia relatada por Wilson durante o início do processo
psicoterápico, ele trouxe uma suspeita própria de transtorno de déficit de atenção
(TDA), situação na qual, após a análise conjunta de todas as sessões, entrevistas e
aplicação a testes psicológicos, pôde ser notado como um dos primeiros sinais de
negação e racionalização (FREUD, 2006): “Não sei, acho que muitas dessas coisas
que acontecem na minha vida e que não dão certo, são por conta da minha falta de
atenção”.

55
A negação é um poderoso mecanismo psíquico que rejeita a ideia de
separação da figura materna e minimiza a importância da infância na vida do indivíduo.
Nesse contexto, o consumo de álcool é percebido como uma solução que o transforma
em alguém com poderes supremos, um ser totalmente autossuficiente, estabelecendo
uma sensação de superioridade em relação a tudo e a todos. Essa pessoa não
reconhece seus medos, carências e dificuldades, utilizando o álcool como uma forma
de evitar se confrontar essas questões (ZEMEL e SADDI, 2015).
Apesar de alguns relatos e externalizações sobre perdas e prejuízos
associados ao álcool durante a terceira sessão, Wilson foi questionado ao final se
achava que o álcool prejudicava ou não sua rotina e seu estado psicológico, pergunta
para a qual respondeu não se sentir prejudicado pelo seu uso de álcool atualmente.
Entretanto, após algumas indagações, outro conteúdo foi externalizado, talvez sendo
a primeira verbalização em direção ao insight em psicoterapia: “toda sexta feira é do
mesmo jeito, tudo se repete”, momento seguido de choro. Os autores Xavier e
Tomazelli (2012), trazem a contribuição de que o uso sistemático e repetitivo de
substâncias tóxicas, como o álcool, pode se tornar um comportamento quase psico-
religioso devido à sua periodicidade, que se assemelha a um ritual semanal. Nesse
sentido, o consumo de álcool pode ser utilizado como uma forma de alcançar um
estado que não é alcançado nem do ponto de vista biológico e social, o que pode levar
a um ciclo vicioso de dependência e abuso da substância, o que vai de concordância
a outro momento importante do estudo, quando Wilson afirma que bebe apenas aos
fins de semana.
Após a confrontação e prévio encontro com seu estado psicopatológico durante
a terceira sessão, Wilson faltou à sessão seguinte. A literatura prevê essas fugas,
momentos em que os sentimentos como culpa, vergonha, medo de mudança e
negação predominam e expressam os primeiros obstáculos a serem percebidos
durante o processo psicoterápico (ANDRADE, ANTHONY e SILVEIRA, 2008).
Contudo, essas sensações e afetos costumam ser camuflados pelo mecanismo de
supressão (FREUD, 2006), o que é evidenciado quando o paciente retorna alguns
dias depois, relatando alguns episódios de intoxicação alcoólica de gravidade
moderada a grave.

56
Ao realizarmos análise da entrevista, o mecanismo de negação se mostra
prevalente, mostrando que inconscientemente Wilson traz à tona material
negacionista, verbalizando sua dicotomia entre negação-realidade, como podemos
observar quando foi solicitado que o paciente descrevesse sua relação com o álcool:

“Como posso dizer..., eu bebo para ficar mais sociável, não sei, o álcool me
permite me soltar um pouco mais..., admito que já cheguei a exagerar
algumas vezes, mas hoje em dia sinto que consigo estar mais no controle.
Embora eu já ter tido algumas situações em que o álcool foi o protagonista...,
a situação conflitante com meu irmão mesmo, surgiu depois de um dia em
que eu estava bêbado, [...] como te contei uma vez, além dos laços de
pessoas queridas que acabo perdendo, algo que me incomoda ou incomodou
um pouco são os prejuízos financeiros que vinham quando eu estava bêbado,
por exemplo; já cheguei a perder um Iphone 10 novinho. [...]”

Logo na questão seguinte, mesmo após relatar prejuízos na esfera financeira,


interpessoal e familiar, quando Wilson é interrogado se sente que o álcool prejudica
ou prejudicou sua vida, traz à tona seu mecanismo de negação ao verbalizar que não
possui prejuízos na esfera social e familiar:

“Acho que não. Eu acho que já prejudicou mais, hoje eu consigo manter o
controle, sei a hora de parar, só exagero em situações específicas em que
estou com pessoas em quem confio, etc... [...] O que ainda me pega um pouco
é esse lado social..., eu fui expulso da casa do meu melhor amigo da última
vez em que bebi, dei muito trabalho, e não estamos nos falando desde então,
isso me faz repensar algumas coisas.”

5.2.2 Racionalização

Considerando os constructos de Anna Freud (2006), vemos que a


racionalização, quando aplicada ao contexto dos alcoolistas, representa a tentativa de
recorrer a argumentos racionais para justificar o consumo de álcool, como percebido
em afirmações como que estão apenas buscando relaxamento, alívio do estresse,
socialização ou até mesmo que têm controle sobre sua ingestão. Essas
racionalizações servem como uma forma de negar ou minimizar o problema, evitando
reconhecer a dependência, os prejuízos causados pelo álcool e a necessidade de
buscar ajuda. Ao utilizar a racionalização, buscam preservar sua autoimagem e
minimizar sentimentos de culpa, vergonha ou inadequação. Essa defesa psicológica
pode ser uma forma de evitar encarar as consequências negativas do alcoolismo,

57
tanto para si mesmas quanto para seus relacionamentos, saúde e bem-estar geral
(FREUD, 2006).
A partir da sexta sessão, mesmo com a negação fortemente presente em seu
discurso, Wilson racionalizou: “Eu acho que é mais por conta da minha rotina, ando
muito cansado e acabo bebendo além da conta”, o álcool passou a ser o principal
assunto levado por Wilson para a psicoterapia.
Entretanto, mesmo diante da alternância entre processos de consciência sutis
em relação ao uso do álcool e a mobilização dos mecanismos de defesa, em que
podemos interpretar como uma sutil elevação de seu insight em relação ao seu estado
idealcoolista, novamente a negação, racionalização e supressão sobressaem-se, uma
vez que Wilson repetiu seu padrão de faltas, trazendo demandas cada vez menores
em relação ao uso abusivo de álcool. Através da intelectualização, verbalizou alguns
discursos onde minimizava os efeitos do álcool em seu cotidiano (ALMEIDA,
TEIXEIRA, et al., 2020).
Em uma das sessões, após diversas indagações e reflexões sobre o uso
abusivo de álcool e sobre uma festa que se programou para ir, mas estava indeciso
sobre sua ida em decorrência do último episódio de intoxicação, onde desencadeou
notório sofrimento psíquico, Wilson verbalizou:
“Eu já tinha me programado, então eu vou beber amanhã, se não conseguir
me controlar, eu nunca mais irei beber, isso é um fato” [...], “eu consigo ficar
sem beber, mas não vou parar, eu consigo me controlar”, “isso são casos
isolados, foram situações...”

Através da entrevista, em um determinado trecho conseguimos nitidamente


compreender o mecanismo de racionalização atuando em sua psicodinâmica quando
Wilson diz: “... bebo depois de uma semana puxada, ou quando estou meio pra
baixo...”.
Através do psicodiagnóstico de Rorschach, foi notado um aumento na variável
de intelectualização (2AB+(Art+Ay↑), mostrando-se como uma estratégia defensiva
extremamente presente em sua organização cognitiva, utilizando-a de forma mais
intensa do que a maioria das pessoas, o que pode sinalizar a tentativa de reduzir ou
negar o impacto de situações emocionais através da racionalização e análise
excessiva, em vez de expressar suas emoções e lidar com elas de forma mais direta.
No caso do alcoolismo, uma pessoa pode recorrer à intelectualização para tentar

58
compreender seu comportamento de consumo excessivo de álcool de maneira lógica
e distante emocionalmente, conforme podemos corroborar e justificar pela sua
extrema constrição de afeto (SumC’↑, SumC’ > WSumC).

5.2.3 Projeção

Ainda aplicando os pressupostos teóricos de Sigmund Freud (1930/2020) e


Anna Freud (2006) às características idealcoólicas de Xavier e Tomazelli (2012), a
projeção dos problemas e comportamentos pelo consumo excessivo de álcool em
outras pessoas ou fatores externos se torna recorrente. O indivíduo pode culpar o
estresse, as circunstâncias da vida, os relacionamentos ou até mesmo as ações de
outras pessoas como justificativas para seu consumo de álcool. Essa projeção permite
que a pessoa evite assumir a responsabilidade por suas próprias escolhas e
comportamentos. Além disso, a projeção pode ocorrer em relação a outras pessoas,
projetando a culpa, a vergonha, a tristeza ou outras emoções relacionadas ao
consumo de álcool em outras pessoas, como forma de evitar confrontar e lidar com
esses sentimentos internamente.
Durante a última sessão realizada antes da estruturação do trabalho final de
curso, foi realizada uma confrontação e uma retrospectiva do processo psicoterápico
de Wilson, levantando conteúdos que trouxeram à tona todas as situações de prejuízo
e sofrimento psíquico que o paciente trouxe para as sessões, com o intuito de avaliar
a capacidade de insight do paciente. Ao ser realizada a confrontação e a apresentação
a todas as evidências, Wilson projetou seus conflitos idealcoólicos para seu melhor
amigo, definindo-o como um sujeito alcoolista que sempre exagerava e o
responsabilizou por muitas de suas intoxicações alcoólicas problemáticas.
Wilson projeta seus conflitos e sentimentos de distância em relação à figura
paterna no consumo de álcool. Ele associa o comportamento de seu pai, que outrora
também bebeu bastante, ao distanciamento emocional entre eles. Ao projetar seus
sentimentos de distância e fechamento emocional em seu pai e na substância
alcoólica, Wilson evita lidar diretamente com seus próprios conflitos e dificuldades
emocionais: [...] meu pai já bebeu bastante também, ele parou depois que entrou na

59
igreja, não sei se somos um pouco distante em decorrência do álcool, mas acho que
não, ele sempre foi assim, mais fechado [...]
A projeção da substância alcoólica para um estado de ideal ou como um
recurso fantasioso que milagrosamente é utilizado por Wilson para suprir suas
habilidades sociais é notado quando ele projeta no álcool a expressão de
características sociais que ele deseja terl: “Então, me sinto mais sociável, consigo ficar
mais espontâneo não sei, é uma sensação boa, geralmente consigo fazer coisas que
sóbrio eu tenho um bloqueio, ou não conseguiria, tipo chegar ou ficar com uma ‘mina’,
não sei...”

5.2.4 Supressão

A supressão difere da repressão, outro mecanismo de defesa psicanalítico, no


sentido de que a repressão envolve o movimento de informações para o inconsciente
de forma não consciente, enquanto a supressão é um processo mais consciente e
deliberado (FREUD, 2006). Quando ocorre a supressão, a pessoa está ciente das
emoções ou pensamentos indesejados, mas escolhe não prestar atenção ou
reconhecê-los plenamente. Ela pode empurrar essas experiências para o fundo de
sua mente, negando ou minimizando sua importância. Isso permite que a pessoa evite
o desconforto emocional imediato associado a essas experiências, mas também pode
levar a um acúmulo de tensão e conflito não resolvidos no inconsciente.
Após as primeiras confrontações de seu estado idealcoólico, a supressão de
Wilson pôde ser notada através de suas diversas faltas ao processo psicoterápico,
observado que sempre que o assunto álcool era abordado com mais ênfase, o
paciente tendia a faltar e fugir do encontro com seu eu, negando sua relação
conturbada e problemática com o álcool.
Um momento importante da entrevista em que podemos notar a supressão de
sentimentos dolorosos foi quando ele trouxe à tona o conteúdo conflitante em relação
ao seu irmão mais novo. Percebe-se que mesmo Wilson sabendo do dano que
causou, não se desculpou e apenas se afastou do irmão:

[...] meu irmão é bem mais forte, alto, mais bonito e inteligente do que eu..., é
mais novo e já tem um futuro bem mais promissor do que eu. Ele é bissexual,

60
e naquela época eu era bem ‘babaca’, bem ‘cuzão’ mesmo, um ‘puta’
preconceituoso, tinha descoberto antes que meus pais que ele via pornô gay
e que estava começando a se envolver com um cara, não lembro a situação
de fato, mas lembro que um dia eu ‘tava’ bêbado e soltei na frente dos meus
pais essas coisas que eu tinha descoberto, então aquilo deixou ele muito
‘puto’, a gente brigou feio, eu não era um cara legal, fazia piadinhas
homofóbicas e etc..., nada que hoje em dia eu me orgulhe. Na época de toda
essa situação, ele estava com uma viagem agendada para a África, e eu ali,
trabalhando com meus pais, sem namorada, 20 e poucos anos na cara, não
tinha nem começado a faculdade... E um dia antes dele viajar, eu saí pra
beber e exagerei bastante..., eu cheguei em casa transtornado, não lembro
de muita coisa, mas lembro da minha mãe chegando no quarto bem na hora
que eu ia ‘mijar’ no meu irmão enquanto ele dormia..., ela disse que eu não
‘tava’ falando coisa com coisa, ‘tava’ agitado..., aquele dia foi tenso pra mim,
a gente já não estava se falando já tinha um tempo, depois disso, tudo ficou
pior, ficamos anos sem se falar. […].

A supressão é um mecanismo de defesa pelo qual o indivíduo tenta evitar


conscientemente pensamentos, emoções ou memórias perturbadoras, empurrando-
as para o inconsciente. No relato, Wilson relata claramente seu sentimento de
inferioridade e a discrepância de desenvolvimento profissional e social existente entre
ele e seu irmão. Ao se ver nessa situação de vergonha, Wilson descreve sua busca
fantasiosa e impulsiva ao álcool, recorrendo a substância conscientemente como
forma de suprimir aquele momento doloroso de pequenez e de fragilidade. Além disso,
preferiu se afastar do irmão ao invés de lidar com as lembranças desconfortáveis ou
traumáticas relacionadas aos seus comportamentos inadequados em relação ao
álcool. Neste contexto, a supressão foi utilizada duas vezes: uma para evitar lidar com
seus fracassos internos e seu sentimento de inveja para com o irmão e outra como
uma estratégia para evitar o confronto com suas ações e proteger-se do desconforto
emocional associado a ela e a seu comportamento preconceituoso e homofóbico em
relação ao irmão, bem como suas ações agressivas e desrespeitosas.
Em outro momento mais recente, Wilson utilizou-se do mecanismo de
supressão com seu melhor amigo, momento em que evitou debater ou confrontar o
assunto após ser expulso da casa dele em função de conflitos e desinibições
excessivas em decorrência do abuso do álcool, preferindo então fingir que nada tinha
acontecido, apesar de seu intenso sentimento de vergonha e de sentir-se segregado.

5.3 RELAÇÃO PSICODINÂMICA ENTRE A ESTRUTURA DE PERSONALIDADE E


OS MECANISMOS DE DEFESA

61
5.3.1 Supressão e contenção das emoções: desencadeadores de sobrecarga
emocional

Nas situações de uso abusivo do álcool, a supressão é um mecanismo de


defesa utilizado por Wilson para evitar lidar conscientemente com emoções e
pensamentos indesejados, principalmente após situações conflitantes e que
desencadeiam neuroses agudas. Isso se torna um mecanismo vicioso, a partir do
momento em que ele tenta empurrar essas experiências dolorosas para o
inconsciente com o próprio uso do álcool, tentando negar ou minimizar sua
importância.
A supressão é observada não só diante de conflitos nas suas esferas
psicossociais, mas quando Wilson falta às sessões terapêuticas em função de ter sido
confrontado de maneira mais diretiva sobre sua relação conturbada com o álcool,
evitando enfrentar sua relação problemática com a substância.
A supressão de sentimentos dolorosos em relação a seu irmão e a seu melhor
amigo também podem ser notadas, fingindo que nada aconteceu mesmo após
situações em que foi ridicularizado e inferiorizado, evitando então confrontar as
situações traumáticas vividas. A supressão permite que Wilson evite o desconforto
emocional imediato, mas em longo prazo, isso pode levar a uma acumulação de
tensão e conflito não resolvidos no inconsciente, desencadeando transtornos afetivos
notórios, como a alta tendência de depressão. Além disso, Wilson demonstra
dificuldades em lidar com suas emoções de maneira saudável, retraindo-as e
reprimindo-as. Essa contenção emocional consciente, pode contribuir para para seu
sofrimento psicológico e seu uso abusivo de álcool como forma de escape.

5.3.2 A supressão e a contenção das emoções: freios para as relações


interpessoais saudáveis

Com o mecanismo de supressão atuando de forma consciente em seu


psiquismo, a fuga de conflitos que já é característica de Wilson, acaba sendo
potencializada pelos transtornos advindos do uso abusivo do álcool, tendo um impacto

62
significativo na dificuldade de Wilson em manter relações interpessoais saudáveis
devido sua dificuldade em expressar emoções e afetos de forma equilibrada. Essa
supressão permite que ele evite o desconforto emocional imediato, mas contribui para
a acumulação de conflitos não resolvidos, afetando sua capacidade de se relacionar
com os outros. As dificuldades interpessoais de Wilson são ainda mais reforçadas
quando notamos a sua constrição afetiva, sua baixa autoestima e seu superego
punitivo e rígido. Desde jovem, ele apresenta um senso de identidade crítico e com
questões não resolvidas, o que afeta sua autopercepção e gera sentimentos de
tristeza. As dificuldades internas de Wilson trazem impactos à sua esfera interpessoal,
visto que o uso problemático do álcool como forma de lidar com sua integridade do
ego, acabam resultando em conflitos e julgamentos por parte de amigos e familiares.
A falta de habilidades sociais e dificuldades na expressão de sentimentos
positivos também contribuem para a dificuldade de Wilson em manter relações
interpessoais saudáveis. O álcool, nesse contexto, torna-se uma estratégia de
enfrentamento para lidar com situações ansiogênicas e facilitar suas interações
sociais. Ele se sente mais confiante e desinibido quando está sob efeito do álcool, o
que acaba favorecendo inicialmente as suas relações interpessoais. No entanto, essa
estratégia de usar o álcool como facilitador das interações sociais pode levar a um
ciclo vicioso de uso abusivo, no qual o álcool traz consequências negativas, como
comportamentos destrutivos e dificuldades nas relações sociais, levando à exclusão
social e, consequentemente, a um novo ciclo de uso abusivo.
Dessa forma, a fuga consciente de conflitos e a supressão emocional
potencializadas pelo uso abusivo do álcool afetam negativamente as relações
interpessoais de Wilson. Esses padrões de comportamento dificultam a expressão
saudável de emoções, a resolução de conflitos e a construção de relações
significativas, levando a um ciclo sistemático de uso abusivo do álcool e exclusão
social.

5.3.3 A negação e seu papel como redução dos danos advindos de


masoquismos moral e mortífero

63
No contexto do alcoolismo, o masoquismo moral refere-se à tendência do
indivíduo em sentir-se culpado ou envergonhado por seu comportamento relacionado
ao consumo de álcool. Isso pode levar a um ciclo vicioso de consumo e sentimentos
de culpa, podendo ser agravado pela pressão social para evitar o consumo excessivo.
Já o masoquismo mortífero é um comportamento autodestrutivo, em que o indivíduo
se envolve em situações que podem levar à sua própria morte, expressando raiva,
hostilidade, ressentimento ou culpa, muitas vezes direcionados a si mesmo.
No caso de Wilson, evidenciam-se a presença dessas características. Ele
relata utilizar álcool há cerca de 9 anos, com prejuízos sociais, financeiros e
interpessoais decorrentes desse uso excessivo. Além disso, ele menciona abusos
prévios de outras substâncias, como alucinógenos, estimulantes, inalantes e
cannabis, estando em remissão da maioria delas, exceto álcool e cannabis
ocasionalmente.
O masoquismo moral de Wilson manifesta-se na sua tendência em sentir-se
culpado e envergonhado pelo uso de álcool, o que o leva a um ciclo de consumo e
culpa. Além disso, ele relata sofrer emocionalmente após situações desconfortáveis
causadas pelo consumo excessivo de álcool, sentindo-se deprimido e fraco. Percebe-
se o masoquismo mortífero no caso de Wilson quando relata ter tido uma overdose
durante um show, sendo incapaz de lembrar qual droga utilizou devido ao estado de
embriaguez. Esse comportamento autodestrutivo é uma expressão de culpa e
vergonha, levando-o a interromper o uso de drogas, mas mantendo o consumo de
álcool, por outro lado. A negação surge a partir do momento em que todas essas
evidências são recusadas por Wilson que não aceita ou reconhece a verdade óbvia
sobre sua situação, distorção de pensamento ou silenciamento de sentimentos,
evitando o confronto com informações perturbadoras ou dolorosas. Ele nega os
prejuízos do álcool em sua vida, minimizando-os e justificando seu consumo como
forma de obter habilidades sociais e evitar enfrentar questões internas.
Wilson, também, demonstra negação ao racionalizar seu uso de álcool,
afirmando que bebe apenas nos fins de semana e não se sente prejudicado. No
entanto, ao ser questionado mais profundamente, ele expressa a repetição deste
padrão de uso todas as sextas-feiras, causando-lhe sofrimento emocional. Após os
momentos de confrontação, ele falta à sessão seguinte, o que é comum em casos de

64
culpa, vergonha e negação durante o processo psicoterapêutico. A presença de
masoquismo moral e mortífero, juntamente com a negação, contribuem para os
impactos advindos do uso excessivo de álcool na vida de Wilson, fazendo com que o
ciclo vicioso de consumo, culpa, vergonha e negação perpetue-se. Esta organização
psíquica, leva-o a um padrão autodestrutivo e dificulta a busca por mudanças
positivas.

5.3.4 Projeção e a rigidez do superego: o pilar da baixa autoestima

Wilson apresenta características de um indivíduo muito crítico e severo consigo


mesmo, estabelecendo padrões irrealisticamente elevados. A rigidez desse superego
sustenta um sentimento constante de culpa e uma busca incessante pela perfeição.
Além da sua intensa cobrança consigo mesmo, Wilson possui uma baixa autoestima
e uma tendência a se comparar negativamente ao seu irmão, sentindo-se inferior.
Ademais, o paciente apresenta sintomas depressivos de longa duração que podem
ter se estabelecido antes ou depois do uso exacerbado de álcool.
Esses três fatores - superego rígido, tendências à depressão e baixa
autoestima - em associação ao abuso de álcool se correlacionam em uma junção
extremamente negativa, pois Wilson utiliza o álcool como forma de lidar com sua
consciência crítica e punitiva, mas acaba intensificando o ciclo depressivo, em que
sente-se excessivamente confiante e perfeito durante a intoxicação, mas entra em
uma fase depressiva posteriormente. Toda essa psicodinâmica pode ver-se refletida
na utilização do mecanismo de defesa da projeção, em que a junção entre a projeção
e a rigidez do superego cria um ciclo em que a pessoa projeta seus conflitos e
dificuldades emocionais no consumo de álcool, que busca para alívio temporário, mas
que no período de abstinência acaba reforçando a baixa autoestima. Wilson sente-se
inadequado, incapaz de atingir seus próprios padrões elevados e constantemente
envergonhado ou culpado. Esse ciclo pode agravar os sintomas depressivos e
contribuir para a baixa autoestima, além de produzir um novo ciclo de abuso de álcool.

5.3.5 Idealcoolismo: a solução fantasiosa para um superego rígido

65
Com um superego severo e punitivo, fazendo com que o indivíduo seja
autocrítico e exigente consigo mesmo, ele acaba estabelecendo padrões elevados e
sentindo-se constantemente culpado ou envergonhado quando não consegue atingi-
los. Essa rigidez interna pode gerar um sentimento de busca incessante pela perfeição
e uma sensação de culpa constante. Nesse contexto, Wilson recorre ao álcool, como
forma de lidar com uma consciência crítica e punitiva, para suprir seus anseios sociais,
como para estabelecer relacionamentos afetivo-sexuais, por exemplo. O álcool pode
proporcionar relaxamento e diminuição da ansiedade, auxiliando no alívio de níveis
de estresse inconscientes, o abuso de álcool em um superego rígido e punitivo pode
ser percebido como algo mágico, trazendo uma sensação de perfeição e auto-
suficiência quando utilizado.
Para Wilson, o álcool representa um refúgio inconsciente, um conforto e uma
forma de transcendência alcoólatra. A partir dos efeitos ilusórios do álcool, ele fantasia
uma sensação de controle, completude e plenitude. Através dessa idealização do
álcool, Wilson tenta suprir suas necessidades emocionais e fugir da condição humana
e de suas limitações físicas e psicológicas. Ele utiliza a fantasia como um mecanismo
de defesa para lidar com suas fraquezas, insuficiências e desconfortos emocionais.
Através da fantasia, ele cria um estado idealizado de bem-estar, prazer e satisfação
que busca alcançar através do consumo de álcool. A fantasia serve como uma forma
de escapismo e negação das consequências negativas do uso do álcool,
proporcionando uma ilusão temporária de controle e conforto emocional.

5.3.6 A racionalização e a negação: o combustível para o masoquismo moral e


mortífero

Wilson recorre à racionalização e à negação para minimizar ou negar os


problemas causados pelo álcool. Ele justifica seu consumo excessivo de álcool
dizendo a si mesmo e aos outros que ele está apenas se divertindo, que esta é apenas
uma forma de aliviar o estresse ou de se auto recompensar após uma semana difícil
de trabalho. Essas racionalizações ajudam Wilson a preservar sua autoimagem e a
minimizar os sentimentos de culpa em relação ao seu comportamento. A
racionalização e a negação de Wilson estão interconectadas e se reforçam

66
mutuamente, à medida que ele racionaliza para minimizar os problemas do álcool, ele
nega cada vez mais a realidade de seu idealcoolismo.
O masoquismo moral e mortífero se manifestam como sentimentos intensos de
culpa e autopunição, expondo-se a riscos reais, danos físicos e até mesmo de morte
associados ao consumo excessivo de álcool. Mutuamente, a estes sentimentos,
novamente surge o ciclo autoperpetuante entre racionalização-negação, fomentando
e reduzindo seus desprazeres.
Wilson utiliza a racionalização para negar ou minimizar os problemas causados
pelo álcool, preservando sua autoimagem e evitando sentimentos de culpa. Ao mesmo
tempo, a negação entra em jogo, se recusa a aceitar a verdade sobre a dependência
e os prejuízos do consumo de álcool. Esse ciclo de autojustificativa perpetua o
comportamento autodestrutivo e o sentimento de culpa, alimentando o masoquismo
moral e mortífero e sendo reduzidos pela racionalização-negação.

5.3.7 “A panela de pressão”

No contexto do alcoolismo, a contenção das emoções desempenha um papel


significativo na dinâmica do comportamento autodestrutivo. A acumulação de
emoções não expressas ao longo do tempo resulta em uma verdadeira "panela de
pressão" emocional, prejudicando a organização do pensamento e o bem-estar geral
do indivíduo. Essa sobrecarga emocional é muitas vezes uma resposta à evitação de
sentir o desamparo do ego, uma tentativa de suprimir ou evitar o enfrentamento
dessas emoções dolorosas. Nesse contexto, o alcoolismo pode ser usado como um
mecanismo de fuga e satisfação imediata, permitindo ao indivíduo retornar ao
narcisismo primário, onde suas necessidades imediatas são atendidas, ainda que
temporariamente. O álcool oferece um alívio momentâneo das emoções contidas e
pode proporcionar uma sensação de prazer e gratificação imediata.
Em Wilson, as consequências negativas do alcoolismo são inconscientemente
evitadas por meio da ativação do mecanismo de defesa da negação. Através da
negação, ele minimiza ou nega os problemas e prejuízos associados ao seu consumo

67
excessivo de álcool. Isso permite que ele preserve sua autoimagem, evite sentimentos
de culpa e continue justificando seu comportamento autodestrutivo. A racionalização
também desempenha um papel nesse processo, ele recorre à racionalização para
justificar seu consumo excessivo de álcool, minimizando os problemas associados.
Dessa forma, a contenção das emoções, a sobrecarga emocional e a
organização do pensamento são afetadas pela evitação do desamparo do ego,
levando ao recurso do alcoolismo como uma forma de satisfação imediata. A negação
e a racionalização entram em cena como mecanismos de defesa para preservar a
autoimagem e minimizar os problemas associados ao consumo de álcool. Esse ciclo
autoperpetuante de negação, racionalização e busca de alívio imediato contribui para
a manutenção do comportamento autodestrutivo de Wilson alcoolismo e dificulta a
busca de ajuda e a superação de seu idealcoolismo.

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A análise da relação psicodinâmica entre a estrutura de personalidade de
Wilson e os mecanismos de defesa revela a complexidade de sua condição e os
impactos do uso abusivo de álcool em sua vida. Diversos mecanismos de defesa,
como a supressão e contenção das emoções, a negação, a projeção e a
racionalização, estão interligados e influenciam a forma como Wilson lida com suas
emoções, relacionamentos interpessoais e autoestima.
A supressão emocional é uma estratégia que Wilson utiliza para evitar lidar
conscientemente com emoções e pensamentos indesejados. Ele tenta empurrar
experiências dolorosas para o inconsciente por meio do uso do álcool, o que resulta
em uma acumulação de tensão e conflitos não resolvidos. Isso impacta suas relações
interpessoais, pois dificulta a expressão saudável de emoções e a resolução de
conflitos.
A negação e o masoquismo moral também desempenham um papel
significativo na vida de Wilson. Ele nega os prejuízos do álcool e justifica seu consumo
como uma forma de obter habilidades sociais e evitar confrontar questões internas. O
masoquismo moral manifesta-se em sentimentos de culpa e vergonha relacionados
ao consumo de álcool, o que leva a um ciclo de consumo e culpa. Além disso, Wilson

68
se envolve em comportamentos autodestrutivos, como situações que podem levar à
sua própria morte, expressando raiva e ressentimento direcionados a si mesmo.
A rigidez do superego de Wilson contribui para sua baixa autoestima e busca
incessante pela perfeição. Ele estabelece padrões elevados e sente-se
constantemente culpado ou envergonhado quando não os alcança. O álcool se torna
uma solução fantasiosa para lidar com sua consciência crítica e punitiva, oferecendo
uma sensação temporária de controle e auto-suficiência. Por meio da racionalização
e da negação, Wilson tenta minimizar os problemas causados pelo álcool,
preservando sua autoimagem e evitando sentimentos de culpa. No entanto, esses
mecanismos de defesa reforçam o ciclo autodestrutivo, perpetuando o comportamento
de abuso de álcool e os sentimentos de culpa.
Diante dessa análise, percebe-se a complexidade das interações entre a
estrutura de personalidade de Wilson e os mecanismos de defesa. O uso abusivo de
álcool funciona como uma forma de escape e enfrentamento das dificuldades
emocionais e relacionais, mas também perpetua os problemas que ele tenta evitar.
Compreender essa dinâmica é fundamental para direcionar o tratamento de Wilson,
visando a superação dos padrões autodestrutivos e a busca por mudanças positivas
em sua vida.
Acredita-se que no caso de Wilson, a conduta psicoterapêutica poderia
envolver uma abordagem integrativa, adaptada às necessidades subjetivas
específicas de seu caso. Dado o foco na análise da relação psicodinâmica entre a
estrutura de personalidade de Wilson e seus mecanismos de defesa, uma abordagem
psicodinâmica de base psicanalítica poderia ofertar ferramentas teórico-
metodológicas que auxiliassem a expressão livre deste indivíduo com a finalidade de
acessar os conteúdos que sustentam o seu funcionamento psíquico. Isso envolveria
explorar os padrões inconscientes, traumas passados, auxiliar na expressão subjetiva,
criar relação terapêutica favorecedora de transferências e contratransferências. Estas
estratégias visam favorecer a elaboração de emoções conflituosas e reprimidas, bem
como contribuir para a resolução de seus conflitos internos e a reconstrução de seu
self, com o intuito de que possa propiciar uma redução de seus padrões
autodestrutivos e autopunitivos associados ao uso abusivo de álcool.

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de tabaco, álcool e drogas ilícitas. Universidade Estadual de Londrina. Londrina,
2019.

XAVIER, A. A.; TOMAZELLI, E. Idealcoolismo: Coleção Clínica Psicanalítica. 1ª. ed.


São Paulo: Casapsi Livraria e Editora LTDA, 2012.

ZEMEL, M. D. L. D. S.; SADDI, L. SÉRIE: O que fazer? Alcoolismo. 1. ed. São Paulo:
Blucher, 2015.

ZILKI, A., AGUIAR, L. L., PERISSINOTTO, R., RESENDE, A. C. Autores de


Violência Sexual e o Teste de Rorschach: Revisão da Literatura. Psic. Rev. São
Paulo, volume 29, n. 1, 176-200, 2020

77
APÊNDICES
APÊNDICE A - ENTREVISTA SEMIESTRUTURADA
ENTREVISTA SEMIESTRUTURADA

1 – Como é a sua relação intrafamiliar?


2 – Qual pessoa você mais admira dentro do seu âmbito familiar?
3 – Seus pais já comentaram algo relevante a respeito do período de sua
infância?
4 – Lembra-se de algo traumático em sua infância?
5 – Você possui alguma mania?
6 – Com quantos anos começou a beber?
7 – Já usou algum tipo de droga?
8 - Descreva para mim a sua relação com o álcool.
9 - Sente que o uso de álcool prejudica ou já prejudicou seu contexto social,
profissional ou intrafamiliar?
10 - Que emoções você sente quando está embriagado?
11 - Já tentou parar de beber?
12 - Como foram essas tentativas?
13 – Geralmente, como você lida com suas emoções mais intensas?
14 – Que emoções você sente quando está bêbado?
15 - Como se sente após o uso do álcool? Como são suas emoções?
16 - Me conte uma situação em que o álcool te fez muito mal psicologicamente.
17 - Como você estabelece limites para quando está bebendo?
18 - Quais são os impactos que o álcool traz em sua vida? Classificando de
forma negativa e positiva.
19 - Com exceção do álcool, de que outras formas você se distrai e se diverte?
20 - Como você avalia o seu breve processo psicoterápico?

78
APÊNDICE B – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE)


Convidamos O(a) senhor(a)____________________________________ a participar
do projeto de pesquisa “Estrutura de Personalidade de um Adulto-Jovem Alcoolista:
Estudo de Caso”, sob a responsabilidade do pesquisador Vinícius Matos de Almeida.
O projeto tem a finalidade de produzir conhecimento acerca dos mecanismos de
defesa e da psicodinâmica envolvida na personalidade do alcoolista.
O objetivo desta pesquisa é compreender como se configuram os processos
psicodinâmicos de personalidade do adulto-jovem alcoolista.
O(A) senhor(a) receberá todos os esclarecimentos necessários antes e no
decorrer da pesquisa e lhe asseguramos que seu nome não aparecerá, sendo mantido
o mais rigoroso sigilo pela omissão total de quaisquer informações que permitam
identificá-la.
A sua participação se dará por meio de um processo de análise documental de
evoluções, relatórios e sessões, observação clínica, uma entrevista semiestruturada
e a submissão a um teste projetivo. A aplicação do teste ocorrerá na própria
instituição, com um tempo estimado de duas horas, em um encontro. A participação
não acarretará nenhum custo para o(a) senhor(a), sendo o procedimento totalmente
voluntário. O(A) senhor(a) poderá deixar de participar da pesquisa em qualquer
momento, isenta de responder a qualquer uma das perguntas.
Os riscos decorrentes de sua participação na pesquisa são a possibilidade de
emergirem sentimentos de constrangimento ou vulnerabilidade, no processo de
autoavaliação da prática profissional. No entanto, diante de qualquer incômodo
apresentado pelo(a) senhor(a), o pesquisador oferecerá suporte emocional técnico
imediato e local, encerrará o diálogo, caso considerem necessário, além de
disponibilizar contatos pessoais para esclarecimento de eventuais dúvidas,
atendimento ou encaminhamento de demandas que se evidenciarem ao longo do
processo de pesquisa. Se o(a) senhor(a) aceitar participar, estará contribuindo para
o sucesso da pesquisa e também estará ajudando os futuros pacientes que
procurarão ajuda dos terapeutas.

79
O(A) senhor(a) pode se recusar a responder a qualquer questão que lhe traga
constrangimento, podendo desistir de participar da pesquisa em qualquer momento
sem nenhum prejuízo para o senhor.
Caso haja algum dano direto ou indireto decorrente de sua participação nessa
pesquisa, o(a) senhor(a) receberá assistência integral e gratuita, pelo tempo que for
necessário, obedecendo aos dispositivos legais vigentes no Brasil. Caso o(a)
senhor(a) sinta algum desconforto relacionado aos procedimentos adotados durante
a pesquisa, o(a) senhor(a) poderá procurar o pesquisador responsável para que
possamos ajudá-la.
Os resultados da pesquisa serão divulgados no Centro Universitário e
Faculdade UniProjeção, podendo ser publicados posteriormente. Os dados e
materiais serão utilizados somente para esta pesquisa e ficarão sob a guarda do
pesquisador por um período de cinco anos; após isso, serão destruídos.
Este projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP), após
submissão na Plataforma Brasil do Conselho Nacional de Saúde (CNS). O CEP é
composto por profissionais de diferentes áreas, cuja função é defender os interesses
dos participantes da pesquisa em sua integridade e dignidade e contribuir no
desenvolvimento da pesquisa dentro de padrões éticos.
Se você tiver qualquer dúvida em relação à pesquisa, por favor, entre em
contato pelo e-mail: xxxxxxxxx98@gmail.com ou com o Comitê de Ética em
Pesquisa do Hospital Santa Marta, através do endereço: QSE Área especial 01 e 17.
Setor Sul, Edifício ISMEP. Taguatinga Sul. CEP: 72.025-090, e-mail:
cep@ismep.com.br ou pelo telefone: (61) 3932-6431, sob horário de funcionamento
de segunda à sexta das 13h às 18h. A pesquisa será realizada sob orientação da
professora Ma. Michelle de Faria Nunes, do Centro Universitário e Faculdade
Projeção.
Caso concorde em participar, pedimos que assine este documento que foi
elaborado em duas vias, uma ficará com o pesquisador responsável e a outra com
o(a) senhor (a).
______________________________________________
Nome do(a) participante

80
______________________________________________
Vinícius Matos de Almeida
Pesquisador Responsável

Brasília, ____ de _______________ de 2023.

81
APÊNDICE C – TERMO DE CESSÃO DE USO DE VOZ PARA FINS CIENTÍFICOS
E ACADÊMICOS

TERMO DE CESSÃO DE USO DE VOZ


PARA FINS CIENTÍFICOS E ACADÊMICOS

Por meio deste termo, _____________________________________, CPF nº


__________________, participante do estudo “Estrutura de Personalidade de um
Adulto-Jovem Alcoolista: Estudo de Caso”, de forma livre e esclarecida, cede o direito
de voz adquiridos durante sua participação neste estudo/pesquisa, e autoriza o
pesquisador Vinícius Matos de Almeida, CPF nº xxx.xxx.xxx-xx, Matrícula 2018xxxxx,
do curso de Graduação em Psicologia do UniProjeção, responsável pelo trabalho a:
(a) utilizar e veicular a voz obtida durante sua participação em
estudo/pesquisa de Trabalho de Conclusão de Curso, para fim de obtenção de grau
acadêmico, sem qualquer limitação de número de inserções e reproduções, desde
que essenciais para os objetivos do estudo, garantida a ocultação de identidade
(mantendo-se a confidencialidade e a privacidade das informações);
(b) veicular trechos de fala, obtidas na gravação de voz, na versão final do
trabalho acadêmico, que será obrigatoriamente disponibilizado na página web da
biblioteca (repositório) do UniProjeção, ou seja, na internet, assim tornando-as
públicas;
(c) utilizar trechos de fala, obtidas pela gravação de voz, na produção de
quaisquer materiais acadêmicos, inclusive aulas e apresentações em congressos e
eventos científicos, por meio oral (conferências) ou impresso (pôsteres ou painéis);
(d) utilizar trechos de fala, obtidas pela gravação de voz, para a publicação de
artigos científicos em meio impresso e/ou eletrônico para fins de divulgação, sem
limitação de número de inserções e reproduções;
(e) no caso da voz, executar livremente a edição e montagem do trecho,
realizando cortes e correções necessárias, assim como de gravações, sem alterar a
sua veracidade, utilizando-as exclusivamente para os fins previstos neste termo e
responsabilizando-se pela guarda e pela utilização da obra final produzida.
A participante declara que está ciente que não haverá pagamento financeiro
de qualquer natureza neste ou em qualquer momento pela cessão da gravação de
voz, e que está ciente que pode retirar seu consentimento, em qualquer fase da
pesquisa, sem penalização alguma, salvo os materiais científicos já publicados.
É vedado ao pesquisador trechos da fala, obtidos pela gravação de voz, para
fins comerciais ou com objetivos diversos da pesquisa proposta, sob pena de
responsabilização nos termos da legislação brasileira. O pesquisador declara que o
presente estudo/pesquisa será norteado pelos normativos éticos vigentes no Brasil.

82
Concordando com o termo, a participante da pesquisa e o pesquisador
assinam o presente termo em 2 (duas) vias iguais, devendo permanecer uma em
posse do pesquisador responsável e outra com o participante.

Brasília, 07 de novembro de 2022.

___________________________________________________________________
VINÍCIUS MATOS DE ALMEIDA
PESQUISADOR RESPONÁVEL
CPF:

PARTICIPANTE DO ESTUDO
CPF:_________________

83
APÊNDICE D – TERMO DE COMPROMISSO PARA UTILIZAÇÃO E MANUSEIO
DOS DADOS

TERMO COMPROMISSO PARA UTILIZAÇÃO E MANUSEIO DE DADOS (TCUD)

Nós, Vinícius Matos de Almeida e Michelle de Faria Nunes, do Centro


Universitário e Faculdades Projeção (UniProjeção), pesquisadoras do projeto de
pesquisa intitulado “Estrutura de Personalidade de um Adulto-Jovem Alcoolista:
Estudo de Caso”, declaramos, para os devidos fins, conhecer e cumprir as
Resoluções Éticas Brasileiras, em especial a Resolução nº 466/12 do Conselho
Nacional de Saúde.
Esta etapa do projeto de pesquisa não apresenta Termo de Consentimento
Livre e Esclarecido (TCLE), pois se trata de pesquisa documental, em prontuários,
relatórios e/ou documentos de registro de informações do caso, e não será possível
obter o consentimento livre e esclarecido das pessoas cujos dados estão contidos
nesses documentos de acesso restrito, pois elas já não frequentam a instituição
detentora. Por isto, propomos ao Sistema CEP/CONEP a dispensa de TCLE para esta
etapa da pesquisa.
Comprometemo-nos com a utilização dos dados contidos nos documentos e
prontuários da Instituição Coparticipante, detentora dos documentos cujos dados
serão coletados, que serão manuseados somente após receber a aprovação do
sistema CEP-CONEP e da instituição detentora.
Comprometemo-nos a manter a confidencialidade e sigilo dos dados contidos
nos prontuários, relatórios e/ou documentos de registro de informações do caso, bem
como a privacidade de seus conteúdos, mantendo a integridade moral e a privacidade
dos indivíduos que terão suas informações acessadas. Não repassaremos os dados
coletados ou o banco de dados em sua íntegra, ou parte dele, a pessoas não
envolvidas na equipe da pesquisa.
Também nos comprometemos com a guarda, cuidado e utilização das
informações apenas para cumprimento dos objetivos previstos nesta pesquisa.
Qualquer outra pesquisa, em que necessitemos coletar informações, será submetida

84
para apreciação do Comitê de Ética em Pesquisa. Os dados obtidos da pesquisa
documental serão guardados de forma sigilosa, segura, confidencial e privada, por
cinco anos, e depois serão destruídos. Ao publicar os resultados da pesquisa,
manteremos o anonimato das pessoas cujos dados foram pesquisados, bem como o
anonimato da instituição coparticipante, detentora, onde os dados foram coletados.

Brasília, 07 de novembro de 2022.

______________________________ _____________________________

Vinícius Matos de Almeida Michelle de Faria Nunes

Pesquisador Responsável Orientadora de Trabalho de Conclusão de Curso

85
APÊNDICE E – TERMO DE CONCORDÂNCIA DE INSTITUIÇÃO
COPARTICIPANTE

TERMO DE CONCORDÂNCIA DE INSTITUIÇÃO COPARTICIPANTE


A Srª. _____________________ (CRP: __________), coordenadora de
estágio com ênfase em clínica do curso de Psicologia do
____________________________________, está ciente de suas
corresponsabilidades como instituição coparticipante no cumprimento da Resolução
466/2012 do Conselho Nacional de Saúde, para realização do projeto de pesquisa
“Estrutura de Personalidade de um Adulto-Jovem Alcoolista: Estudo de Caso”, de
responsabilidade do pesquisador Vinícius Matos de Almeida, realizada sob orientação
de Michelle de Faria Nunes, com a finalidade de compreender os mecanismos de
defesa e as características de personalidade de um indivíduo alcoolista, a partir da
aprovação pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos, após submissão
na Plataforma Brasil, tendo o Centro Universitário e Faculdades Projeção de
Taguatinga, como instituição proponente do projeto de pesquisa.
O estudo envolve realização de pesquisa qualitativa, utilizando-se, como
instrumentos para produção de informações, análise documental, observações
clínicas, uma entrevista estruturada sobre a temática do estudo para o participante
com duração aproximada de 30 minutos e aplicação do teste projetivo de Rorschach
com duração aproximada de 2 horas. A coleta de dados tem previsão de início para
fevereiro de 2023.
Esta instituição está ciente de suas corresponsabilidades como instituição
coparticipante do presente projeto de pesquisa e assegura que dispõe de
infraestrutura necessária para a garantia da execução do projeto.

Brasília, ___ , de __________________, de 2022.

Nome da Coordenadora
Coordenadora do estágio

86
Vinícius Matos de Almeida
Pesquisador Responsável pelo protocolo de pesquisa

87

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