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CENTRO UNIVERSITÁRIO UNINTA – POLO ESPERANÇA

CURSO DE SERVIÇO SOCIAL

MANUEL BERNARDO DA COSTA DIAS

REDUÇÃO DA MAIORIDADE PENAL: QUESTÕES TEÓRICAS DA ATUAÇÃO DO


ASSISTENTE SOCIAL JUNTO AS MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS.

ESPERANÇA

2023
MANUEL BERNARDO DA COSTA DIAS

REDUÇÃO DA MAIORIDADE PENAL: QUESTÕES TEÓRICAS DA ATUAÇÃO DO


ASSISTENTE SOCIAL JUNTO AS MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS.

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao


Curso de Serviço Social do Centro Universitário
INTA- UNINTA, Polo de Esperança, como requisito
obrigatório para a aprovação na disciplina de
TCCII.

Prof.ª.(a) Orientadora: Elane Maria Beserra


Mendes.

ESPERANÇA
2023

“Quem tem conhecimento, tem a arma mais


poderosa para produzir transformações internas e
externas”.
(Marianna Moreno)
AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus todo poderoso, por ter me permitido trilhar este caminho até
aqui, por ter mim proporcionado à força necessária para seguir em frente.

Aos meus pais, meus exemplos de honestidade, amor e humanidade.

Aos amigos que sempre me apoiariam, por todo carinho e força ofertados.

A coordenadora Marilda da Universidade UNINTA, Polo de Esperança- PB.

Ao Professor Cristiano e a supervisora Acadêmica Lúcia de Fátima Morais, a


supervisora de Campo Amanda Leite Ribeiro e aos tutores que me ajudaram e
ensinaram nesta caminhada.

Enfim, a todos aqueles que passaram pela minha jornada e sonharam comigo
meu muito obrigado!
SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO.......................................................................................................06

2. O CONTEXTO DO SERVIÇO SOCIAL SERVIÇO SOCIAL E A ORIENTAÇÃO


FAMILIAR..................................................................................................................09
2.1Destruturação Familiar.........................................................................................12
2.2 Atos Infracionários e suas Consequências.........................................................15
3. MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS E DE PROTEÇÃO APLICADAS...................19

3.1 O CREAS e Conselho Tutelar nas medidas socioeducativas de adolescentes


infratores...................................................................................................................24

3.2. Desafios da Rede de Proteção na perspectiva de adolescentes em ato


infracional.................................................................................................................27

4. POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL: SUAS FUNÇÕES E OS NIVEIS DE


PROTEÇÃO.............................................................................................................29

4.1 O Trabalho dos Assistentes Sociais no CREAS: Avanços e desafios para a


superação de práticas que reproduzem desigualdades de gênero...................30
4.2 A Política Nacional de Assistência Social na aplicação da medida de
Liberdade Assistida nos CREAS......................................................................36
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS...............................................................................39

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.......................................................................41
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1.INTRODUÇÃO

O presente Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) é um requisito obrigatório


para a obtenção do título de Bacharel em Serviço Social na Universidade UNINTA. foi
elaborado a partir dos conhecimentos adquiridos durante a trajetória acadêmica na
graduação e, de forma particularizada, nas disciplinas de TCC I e II .
As medidas socioeducativas e a redução da maioridade penal figuram entre os
temas que estão frequentemente em discussão na sociedade brasileira,
principalmente quando surgem os debates sobre a redução da maior idade penal ou
sobre o aumento do período de privação de liberdade. Enquanto uma parcela da
população visa à garantia de direitos, a parcela conservadora da sociedade clama por
punições mais severas aos adolescentes que cometeram algum ato infracional.
Desta forma, a temática deste TCC versa sobre “Redução da Maioridade
Penal: Questões Teóricas da Atuação do Assistente Social junto às medidas
Socioeducativas”. Nele se descreve com rigor, observando as normas técnicas e
algumas diretrizes para a construção de uma pesquisa científica. A relevância desse
trabalho está na intenção de problematizar a contradição existente entre as
observações feitas no marco regulatório das medidas socioeducativas, que pressupõe
a responsabilização do adolescente em conflito com a lei atingindo uma dimensão
ético-pedagógica, mas que na sua execução ainda carrega traços da trajetória punitiva
exercida pelo Estado no tratamento dado a crianças e adolescentes no Brasil.
A escolha deste tema resultou no seguinte problema de pesquisa: em que
medida o caráter punitivo, exercido historicamente pelo Estado e pela sociedade civil,
no tratamento dado a crianças e adolescentes, persiste na execução das medidas
socioeducativas destinadas a adolescentes e jovens que cometem algum ato
infracional?
Considerando essas perspectivas, o objetivo geral desta pesquisa é
caracterizar a forma como as medidas socioeducativas vêm sendo materializadas,
buscando refletir criticamente em que medida o caráter punitivo, exercido
historicamente pelo Estado e pela sociedade civil no tratamento dado a crianças e
adolescentes persiste na execução das medidas socioeducativas destinadas a
adolescentes e jovens que cometem algum ato infracional. O intuito é oferecer
subsídios, a partir dos conhecimentos acumulados pelo Serviço Social, para qualificar
o debate e o trabalho dos profissionais que atuam na área da socioeducação.
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O adolescente será a vítima preferencial da violência social, pois ele é mais


vulnerável. Essa vulnerabilidade decorre da invasão de seu ser por estímulos
internos ligados à sexualidade e à agressividade, de difícil controle, que
interagem com um ambiente externo que não lhe permite sua transformação
adequada, gratificante, que implique pensar e agir de formas úteis para si e
para os demais. Levisky (2011, p. 16)

Como enfoca bem o autor Levisky (2011), o adolescente é mais propício à


violência social por ser mais vulnerável ao sistema em que vivemos, diante da
complexidade dos fatos em que os mesmos são bombardeados pela lei da oferta de
possibilidades de sonhos e realizações que muitas vezes estão fora do seu alcance
estrutural e familiar.
No entanto, algumas empresas fazem convênios com o Programa Jovem
Aprendiz para incentivar os jovens no mercado de trabalho, contribuindo para uma boa
formação profissional e experiência, buscando tirar o adolescente do crime, das
drogas, dando-lhes uma nova oportunidade de crescer profissionalmente.
O presente trabalho tem como principal a problemática em torno da redução da
maioridade penal, trazendo as consequências que serão produzidas se houver esta
modificação, ou seja, argumentação contraria e favoráveis à redução da maioridade
penal. A redução da maioridade penal é um tema fortemente tratado na mídia,
principalmente quando acontece algo de grande repercussão em que envolve menores.
Este objetivo se desdobra em outros seis objetivos específicos: identificar e
analisar o marco legal que regulamenta as medidas socioeducativas; caracterizar os
objetivos das medidas socioeducativas e a forma como são aplicadas; Conceituar e
refletir sobre o conceito de socioeducação; realizar um levantamento sobre o perfil
dos adolescentes que cumprem medidas socioeducativas; compreender como
ocorreu o tratamento dado pelo Estado a crianças e adolescentes, ao longo da
história; analisar criticamente como este tratamento dado pelo Estado a crianças e
adolescentes, ao longo da história, interfere nas medidas socioeducativas e que
consequências traz para os adolescentes.
Este método busca romper com o imediatismo profissional frente às
demandas do cotidiano. Para isso, o assistente social precisa ter compreensão
sobre as dimensões teórico-metodológica, técnico-operativo e ético-político, cuja
direção indica o compromisso na construção de uma nova ordem societária.
Para alcançar os objetivos propostos na pesquisa, foram coletados dados,
tendo como fonte livros, artigos, teses e dissertações selecionados por meio de
descritores relacionados ao tema: medidas socioeducativas; punição; trajetória
punitiva; adolescentes em conflito com a lei, entre outros.
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No que tange à pesquisa documental, foram priorizados o Estatuto da Criança


e do Adolescente (ECA) e o Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo
(SINASE). Delimitou-se como recorte temporal para pesquisa documental o período
compreendido entre 1988 até 2019. Após a seleção das fontes de pesquisa realizou-
se a leitura, o fichamento e a definição de quais deles seriam utilizados para a
elaboração do TCCII.
Para melhor compreender o tema desenvolvido, a metodologia divide-se em
Três capítulos:
No primeiro capítulo, busca-se compreender a Questão Social e o trabalho do
serviço social, quanto o apoio e orientação a essas famílias que são essenciais,
servindo como base para ajudar crianças e adolescentes em suas diversas etapas de
transformações, pois, sabe-se que, assim como qualquer outra etapa de
desenvolvimento, a temática requer estudo, investigação, atualização e
acompanhamento.
O segundo capitulo discute As medidas socioeducativas que são repressivas
previstas no Estatuto, aplicáveis para adolescentes de 12 a 18 anos que cometerem
ato infracional ,procuramos compreender os motivos pelos quais esse tema de
maioridade penal é tão polêmico.
O terceiro capítulo define como é a Política de Assistência Social, frente as
essas medidas socioeducativas instituído pela Constituição Federal de 1988, o dever
do Estado e atender a todos os cidadãos que dela necessitarem, realizando ações
integradas entre a iniciativa pública, privada e da sociedade civil, tendo por objetivo
garantir a proteção social à família.

É preciso que sejamos trabalhadores durante o processo de academia, pois


através deste trabalho, despertarmos e aprimoramos cada vez mais nossas
habilidades.
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2. O CONTEXTO DO SERVIÇO SOCIAL E A ORIENTAÇÃO FAMILIAR.

A Questão Social comporta o conceito de necessidades humanas, podendo


ser encontrada nas diversas camadas da sociedade e nos diversos sistemas de
governo e econômicos. A Questão Social não é apenas vivencia de apelos dos menos
favorecidos e não se identifica única e exclusivamente com o sistema capitalista. A
Questão Social apreendida como o conjunto das expressões das desigualdades da
sociedade capitalista madura, que tem uma raiz comum à produção social é cada vez
mais coletiva, o trabalho torna-se mais amplamente social, enquanto a apropriação dos
seus resultados mantém-se privada, monopolizada por uma parte da sociedade.
(IAMAMOTO, 2009).
O serviço social tem na questão social a base de sua fundação como
especialização do trabalho, o esforço profissional em tentar solucionar a questão social
não deve ser tomado como uma tentativa de estruir a profissão e que muito menos ele
deve deixar de lutar contra os problemas que surgirem sob o argumento de manter a
profissão. A permanência da Questão Social não necessariamente implica que ela
permaneça com as mesmas manifestações, o homem é uma conquista histórica do
gênero humano, o que inclui o enriquecimento de seus sentidos, logo, também
depende de sua apropriação de manifestações e exigências que possam motivar e
ampliar suas capacidades de modo a se apropriar da riqueza humana. (BARROCO,
2010).
O campo do Serviço Social é demarcado e tensionado pela conjunção de
uma dupla dinâmica: a que decorre do confronto entre os protagonistas sócios
históricos na emersão da ordem monopólica e a que se instaura quando, esbatendo
mediatamente aquele confronto na estrutura sócio ocupacional, todo um caldo cultural
se instrumentaliza para dar corpo às alternativas de intervenção social
profissionalizadas. (NETTO, 1996). O assistente social, que é chamado a implementar
e viabilizar direitos sociais e os meios de exerce - lós, vê-se tolhido em suas
ações, que dependem de recursos, condições e meios de trabalho cada
vez mais escassos para operar as políticas e serviços sociais públicos.
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O conhecimento das condições de vida dos sujeitos permite ao assistente


social dispor de um conjunto de informações que, iluminadas por uma
perspectiva teórica crítica, possibilitam apreender e revelar as novas faces e
os novos meandros da questão social, que desafia a cada momento o
desempenho profissional: a falta de atendimento às suas necessidades na
esfera da saúde, da habitação, da assistência; nas precárias condições de
vida das famílias; na situação das crianças de rua; no trabalho infantil; na
violência doméstica, entre inúmeros outros exemplos (SALES, MATOS,
LEAL, 2009, p. 272).

Conforme nos relata Sales, Matos, Leal, (2009), o acúmulo de


informações que dispõe o assistente social diante de uma perspectiva teórica critica
possibilita os parâmetros da questão Social em que estão inseridos as crianças e
adolescentes de nosso país.

Ao lado da naturalização da sociedade ativam-se os apelos morais à


solidariedade, no contra face da crescente degradação das condições de vida das
grandes maiorias. As configurações assumidas pela questão social são
condicionadas pela formação cultural brasileira, em seus traços de clientelismo, em
que os trabalhadores foram historicamente tratados como súditos receptores de
benefícios e favores e não cidadãos, portadores de direitos. Mas aquelas
configurações passam também pelas suas expressões singulares presentes na vida
de cada um dos indivíduos atendidos pelo assistente social. (CFESS, 2012).

É a partir da compreensão do Serviço Social enquanto trabalho e do


entendimento da “questão social” enquanto seu objetivo de ação e fundamento
histórico da profissão, que a categoria pode direcionar seus esforços para a
consolidação do projeto ético-político profissional, um projeto que visa à garantia de
direitos e a ampliação da cidadania, contribuindo para a construção de uma
sociedade igualitária e justa. (BRAVO E MATOS, 2010, p.133)

Referente à dificuldade do convívio familiar e orientação nos núcleos


familiares em nossa sociedade atual o eca (estatuto da criança e adolescente) em
seu artigo° 4 diz quer: (É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e
do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos
referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à
profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência
familiar e comunitária), e no seu artigo° 22 diz: (Aos pais incumbe o dever de
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sustento, guarda e educação dos filhos, cabendo-lhes ainda, no interesse destes, a


obrigação de cumprir e fazer cumprir as determinações judiciais).

Diante destes expostos vemos que cabe aos pais ou responsáveis pelas
crianças e adolescentes conforme o ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente),
orientar, cuidar dos mesmos com ‘’autoridade’’ de responsáveis para que os
mesmos possam viver de maneira harmônica e digna na sociedade.

Para um compromisso com o usuário, é necessário romper as rotinas e a


burocracia estéreis, potencias as coletas de informações nos atendimentos,
pensar a reorganização dos planos de trabalho, tendo em vista as reais
condições de vida dos usuários; e articular as ações profissionais com as
formas de representação coletivas dos usuários e com os recursos
institucionais disponíveis. (SALES, MATOS, LEAL, 2009, p. 277).

Enfatizando os relatados Sales, Matos, Leal, (2009), é imprescindível o


rompimento de todas as formas condições que venham a atrapalhar as diversas
coletas de informações, referente às reais condições de cada usuário.
Segundo Regina Cardoso (2013) Delegada Especializada de Atendimento
à Mulher (Deam) de Parauapebas, a falta de estrutura familiar tem contribuído
diariamente a esses adolescentes a chegarem à delegacia, ou seja, alvo de crimes.
A mesma relatou ainda que hoje, infelizmente, estamos vendo um monte de
jovens sendo perdidos para as drogas e para o mundo dos crimes. Acreditamos que
isso se dá pela falta de orientação da família. Para ela, a falta de orientação ainda na
infância faz com que a autoridade se perca e “quem não tem limites nunca irá
obedecer às regras sociais, morais ou legais”.
A mudança no comportamento geral da sociedade, segundo a delegada, pode
ser uma das causas dessas mudanças. Diante de tais fatos é nítido que a
importância da família no processo de formação e educação das nossas crianças e
adolescentes, visto que são os responsáveis que podem direta ou indiretamente
incentivar através da presença e do dialogo as crianças e adolescentes a serem
homens e mulheres de boa índole na sociedade, construindo pontes para um futuro
melhor e mais amplo na totalidade da vida.
A família constitui a instância básica, na qual o sentimento de pertencimento e
identidade social é desenvolvido, onde são transmitidos os valores e condutas
pessoais e sociais. Apresenta certo pluralismo de ralações interpessoais e
diversidade cultural, que devem ser reconhecidas e respeitadas, em uma rede de
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vínculos comunitários, segundo o grupo social em que está inserido. (SIMÕES,


2009).

2.1 Arranjos Familiares e suas Vulnerabilidades

A finalidade principal de nossas famílias sempre vai ser a realização da


pessoa humana, de sua dignidade, permitindo o pleno desenvolvimento da sua
personalidade e de suas melhores potencialidades para uma existência digna. A
família é uma estrutura psíquica onde cada integrante possui um lugar definido,
independentemente de qualquer vínculo biológico.
O grande desafio da família atual é a de servir e amar aos seus integrantes,
de maneira harmônica e coordenada, sem que os exercícios dos direitos de cada um
de seus integrantes sejam violados ou afaste os direitos e os interesses dos demais,
a família e como formação social, deve ser garantida constitucionalmente não em
razão de titularizar um interesse superior ou superindividual, mas em função da
realização das exigências das pessoas humanas, como lugar onde se desenvolvem
as pessoas.

Há alguns anos não muito longínquos as desigualdades sociais eram


suficientes para explicar as situações de risco, abandono e possíveis traços de
negligências em que viviam nossas crianças e adolescentes em nosso país, e que
propiciavam a marginalização, exclusão e até mesmo a perda dos direitos
fundamentais daqueles que são o futuro da nossa humanidade, porém diante do
estatuto da criança e adolescente o eca o mesmo diz no seu artigo 23 (A falta ou a
carência de recursos materiais não constitui motivo suficiente para a perda ou a
suspensão do pátrio poder familiar).

Parágrafo único. (Não existindo outro motivo que por si só autorize a


decretação da medida, a criança ou o adolescente será mantido em sua
família de origem, a qual deverá obrigatoriamente ser incluída em
programas oficiais de auxílio).

Portanto, hoje em dia tais anormalidades como, por exemplo, as


desigualdades sociais estão sendo somadas a outras tantas vertentes que durante
os séculos surgiram. Diante de tais fatos enfatizamos ainda mais a essência e
importância das famílias que é a base da sociedade e é a principal responsável para
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transmitir o todo da cultura, dos valores, da compreensão, do amor entre seus


membros e para um desenvolvimento saudável para os filhos em nível psicológico,
emocional e comportamental.

Mas, infelizmente vislumbramos a desestrutura familiar que envolve carência


emocional, afetiva e comportamental. A carência afetiva pode surgir desde a
infância, quando a própria família (pais e/ou principais responsáveis), podem
contribuir para o desenvolvimento de distúrbios de comportamento, emocional e de
personalidade para os filhos. A desestrutura familiar é a fonte da carência
emocional, afetiva e comportamental.

A lei 8.069 de 1990 determina em seu artigo 5º que:

[...] nenhuma criança ou adolescente será objeto de qualquer forma de


negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão,
punido na forma da lei qualquer atentado, por ação ou omissão, aos seus
direitos fundamentais. (BRASIL, 1990).

Vivemos em uma determinada sociedade em que a família dos tempos


atuais, mudou alguns tantos valores, gerando frustrações entre pais ou responsáveis
e filhos: como conflitos familiares e conjugais e de interesses próprios, englobando
todos os tipos de violência ou conflitos e negligencia; separações e divórcios que
não foram bem elaborados ou absorvidos para os filhos; pais extremamente
ausentes e sem responsabilidade para com os seus filhos; conflitos constantes entre
pais e filhos adolescentes; acumulo de trabalho e a falta de tempo dos pais para
com os seus filhos, facilitando a falta de diálogo com os filhos; falta de educação e
limites colocados como prioridade para os pais em relação aos seus filhos; os
exemplos apresentados pelas programações de televisão (violência, drogas, sexo)
apelativas e também, quando exibidos em qualquer horário; filhos que ficam o tempo
todo em brinquedos eletrônicos (alguns muito violentos) e internet e com isso,
possibilitando o isolamento da família, de cada criança ou adolescente, entre outros.

Todos estes e outros tantos comportamentos facilitam para que muitos


adolescentes procurem amizades e o caminho como referência e que também
dependendo da sua história de vida, personalidade e como lidam com as
frustrações, procurem companhias como bandos, gangues, muitos casos
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possibilitando e facilitando também o consumo de álcool e outras drogas ilícitas e


muitos casos, sendo vítimas de acidentes de trânsito por imprudência e até mesmo
cometendo vários atos infracionários.( DEBORA, AFALMA,2015).

Com o tempo, os jovens se angustiam por não saber identificar seus medos
e expectativas em relação ao ambiente; são alimentados pelas experiências
pessoais, pelos noticiários ou pelos programas de ficção. As informações e
imagens se misturam. É comum assumirem, por exemplo, a ideia de que
podem ser atacados, embora nunca tenham passado por isto. A
predominância da violência na programação de TV é sem dúvida um dos
responsáveis pela tendência para a agressividade, além de gerar
concepção muito confusa e vaga do mundo. (PEREIRA, 1999, pg. 69).

Referente ao que nos relata Pereira, (1999), muitos jovens não sabem
expressar seus traumas e anseios mediante ao contexto familiar em que está
vivenciando, sendo influenciados drasticamente pelas experiências pessoais e pelas
mídias, onde os conteúdos de informações se misturam em ficção e real, gerando
concepções confusas e vaga em relação ao mundo. Sendo assim, percebe-se a
essência e importância da família no tocante ao dialogo e conscientização no papel
de colocar limites que devem servir para permear a formação humana e cultural de
nossas crianças e adolescentes.

Na totalidade, cada realidade e cada esfera dela são uma totalidade de


determinações, de contradições atuais ou superadas. Cada esfera da
realidade está aberta para todas as relações e dentro de uma ação
recíproca com todas as esferas do real. Mas a totalidade sem contradições
é vazia e inerte, exatamente porque a riqueza do real, isto é, sua
contraditoriedade, é escamoteada, para só se levarem em conta aqueles
fatos que se enquadram dentro de princípios estipulados a prior. A
consideração da totalidade sem as contradições leva a colocar a coerência
acima da contradição. Nesse caso, o objeto de conhecimento ganha em
coesão e coerência, em detrimento, porém, do que há de conflituoso nele. E
o privilegiamento da contradição revela a qualidade dialética da totalidade
(CURY, 1985, apud OLIVEIRA et al. (2013, p.14).

As redes sócio-assistencial necessita urgentemente estarem mais próximos


das famílias, todas as vezes que o vinculo familiar vier a serem rompidos, os órgãos
da rede possam está próximo para proporcionar um apoio técnico na construção
sendo como ponte de um novo diálogo e aproximação dos envolvidos. Os
envolvidos poderão sonhar em uma sociedade mais justa e fraterna, onde nossas
crianças e adolescentes poderão realmente usufruí e ter o que é realmente seu de
direto como pessoas em estado de formação. Portanto o que necessitamos é mais
dialogo e um estado mais presente na gênese da família Brasileira, para que os
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conflitos, desigualdade social e a destruturação familiar não seja o motivo pelo qual
nossos protagonistas do futuro venham a se envolver em atos que ferem a lei e os
princípios da sociedade.
Devido à importância social do Direito de família, predominam as normas de
ordem pública, como já ressaltado, o que demonstra que a intervenção do Estado no
segmento do Direito de Família se baseia na busca de maior proteção e promoção
às pessoas humanas no sentido de propiciar-lhes melhores condições de vida, em
especial às mais novas gerações. (GAMA, 2008).

2.2 Atos Infracionarios e suas Consequências.

O ato infracional é uma definição simples e clara descrita junto ao artigo


103 do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) Art.103. Considera-se ato
infracional a conduta descrita como crime ou contravenção penal). Em outras
palavras, para descrevermos melhor um ato infracional nada mais é que uma
conduta descrita na lei como crime ou contravenção penal praticado por criança (até
completar 12 anos) ou adolescente (entre 12 anos completos e 18 anos
incompletos). Sendo assim, na prática, o ato infracional é o "crime" cometido por um
menor de idade. Se a lei ordinária diz que a ação é um crime para aquele que é
imputável e um adolescente, com 17 anos e 364 dias de idade comete tal, estará, na
verdade, sendo punido não por um crime, mas sim por um ato infracional.

Se o ato infracional corresponde a um crime ou a contravenção penal, por


que nomeá-lo de outra forma, ou seja, como ato infracional e não como
crime ou contravenção, no caso de se tratar de um adolescente? O que
pode parecer um detalhe tem alto significado: o adolescente deverá ser
tratado a partir da sua condição, como pessoa em desenvolvimento com
possibilidades múltiplas, e não simplesmente a partir do ato infracional que
tiver cometido. Ele não é o ato que cometeu e mesmo se for
responsabilizado pelo mesmo, deverá ser visto e tratado além dele (CRAIDY
apud RIZZINI et al., 2019, p.30).

O Estatuto da Criança e do Adolescente rompe com dois paradigmas


anteriores, o da responsabilidade penal, onde o a criança ou adolescente era
responsabilizado penalmente por seus atos da mesma forma que um adulto, e o
tutelado, onde o juiz de criança ou adolescente decidia por si só o destino de cada
um deles que praticasse delito, sem existência de processo legal. Hoje, com o ECA,
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partiu-se do princípio da Inimputabilidade penal para as criança ou adolescente de


18 anos de idade.

Os adolescentes entre 12 e 18 anos são inimputáveis, mas responsáveis


penalmente. Ou seja, são inimputáveis perante o Código Penal brasileiro,
mas são responsáveis perante a Lei Especial. Há um sistema de
responsabilidade que tem como parâmetro Código Penal, o mesmo usado
para os adultos, pois o ato infracional é equiparado ao crime ou
contravenção penal. Mas o atendimento é diferenciado dos adultos, no que
diz respeito aos trâmites processuais, à aplicação das penalidades, no caso
dos adolescentes, medidas sócio-educativas, e aos estabelecimentos de
internação para cumprimento da medida, separada dos adultos.
(SARTÓRIO, 2007, pg. 42).

Como nos relata Sartório, (2007), os adolescentes segundo a lei que rege
são inimputáveis, no qual o adolescente quer vier a cometer seus delitos tem como
rigor de lei as medidas socioeducativas como reparo dos erros cometidos.

Diante de tais atos inflacionários existe um leque vasto de consequência


pela infração cometida. A criança estará sujeito apenas às medidas protetivas, isto
por que é adotado o sistema da absoluta responsabilidade a elas. Já aos
adolescentes é adotado o sistema de responsabilidade parcial, ou seja, recebe, além
de algumas das medidas anteriores, também poderão ser aplicadas as
socioeducativas (que inclui até mesmo a internação).

O cumprimento em meio aberto da medida socioeducativa de liberdade


assistida tem como objetivo estabelecer um processo de acompanhamento,
auxílio e orientação ao adolescente. Sua intervenção e ação socioeducativa
devem estar estruturadas com ênfase na vida social do adolescente (família,
escola, trabalho, profissionalização e comunidade) possibilitando, assim, o
estabelecimento de relações positivas que é base de sustentação do
processo de inclusão social a qual se objetiva. Desta forma o programa
deve ser o catalisador da integração e inclusão social desse adolescente.
(BRASIL, 2006, p. 44).

Segundo o artigo 101° do estatuto da criança e adolescente (ECA), onde o


mesmo descreve quais são as medidas protetivas:

Art. 101. Verificada qualquer das hipóteses previstas no art. 98, a


autoridade competente poderá determinar, dentre outras, as seguintes
medidas:

I - encaminhamento aos pais ou responsável, mediante termo de


responsabilidade;

II - orientação, apoio e acompanhamento temporários;


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III - matrícula e frequência obrigatórias em estabelecimento oficial de ensino


fundamental;

IV - inclusão em serviços e programas oficiais ou comunitários de proteção,


apoio e promoção da família, da criança e do adolescente; (Redação dada
pela Lei nº 13.257, de 2016).

V - requisição de tratamento médico, psicológico ou psiquiátrico, em regime


hospitalar ou ambulatorial;

VI - inclusão em programa oficial ou comunitário de auxílio, orientação e


tratamento a alcoólatras e toxicômanos;

VII - acolhimento institucional; (Redação dada pela Lei nº 12.010, de 2009)


Vigência

VIII - inclusão em programa de acolhimento familiar; (Redação dada pela Lei


nº 12.010, de 2009) Vigência.

IX - colocação em família substituta. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009)


Vigência.

Percebam e reflitam que a ideia das medidas protetivas é sempre a


manutenção do convívio familiar harmônico ao menor de 12 anos e também aos
adolescentes. Tais medidas podem ser aplicadas de forma isolada ou cumulativa e,
da mesma forma, podem ser substituídas a qualquer tempo, observadas as
formalidades necessárias e desde que necessárias ao bom desenvolvimento deste
ser humano em desenvolvimento, podendo ser aplicada pelo Conselho Tutelar ou
por um Magistrado.

A título de explicação, destaca-se que tais aplicações não estão restritas


somente ao cometimento de atos infracionais, já que há mais possibilidades para
aplicação de outras medidas:

Segundo o artigo 98 ° do estatuto da criança e adolescente (ECA). As


medidas de proteção à criança e ao adolescente são aplicáveis sempre que os
direitos reconhecidos nesta Lei forem ameaçados ou violados:

I - por ação ou omissão da sociedade ou do Estado;

II - por falta, omissão ou abuso dos pais ou responsável;

III - em razão de sua conduta.


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Nota-se que as medidas socioeducativas são aplicadas exclusivamente a


aqueles com 12 anos completos até 18 anos incompletos, ou seja, aos
adolescentes, e exclusivamente após a prática de atos infracionais.

Segundo ainda o artigo Art. 112° do estatuto da criança e adolescente ao


ser constatada a prática de ato infracional, a autoridade competente poderá aplicar
ao adolescente as seguintes medidas.

I - advertência;

II - obrigação de reparar o dano;

III - prestação de serviços à comunidade;

IV - liberdade assistida;

V - inserção em regime de semi-liberdade;

VI - internação em estabelecimento educacional;

VII - qualquer uma das previstas no art. 101, I a VI.

Tais medidas são de natureza puramente pedagógica, contudo,


observamos que estas são as que mais se assemelham a um reparo nos danos
cometidos em sociedade e que temos no ECA.

Percebemos diante de tal exposto quer qualquer ato inflacionário


cometido por criança e adolescente tem suas devidas consequências para os
mesmos, onde o estatuto da criança e adolescente além de prevenir o direito dos
mesmos colocou lei de deveres a serem cumpridas e se preciso forem serem
executadas no tocante as medidas socioeducativas que porventura se precisar ser
executada na forma da lei.

As práticas sociais devem oferecer condições reais, por meio de ações e


atividades programáticas à participação ativa e qualitativa da família no
processo socioeducativo, possibilitando o fortalecimento dos vínculos e a
inclusão dos adolescentes no ambiente familiar e comunitário. As ações e
atividades devem ser programadas a partir da realidade familiar e
comunitária dos adolescentes para que em conjunto, programa de
atendimento, adolescentes e familiares, possam encontrar respostas e
soluções mais aproximadas de suas reais necessidades. (BRASIL, 2006,
p.49)
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Salienta-se aos membros da sociedade que estudem mais o Eca (Estatuto da


criança e do adolescente) antes de prejulgar o mesmo sem conhecimento específico
das leis que regem e estão incluídos em seus estatutos e que servem para defender
o direito de nossas crianças e adolescentes em sua totalidade, mas que por outro
servem também como modo de reeducação para aquelas crianças e adolescentes
que porventura tiver cometido algum ato inflacionário e que necessitem diante do
rigor da lei e a luz do estatuto da criança e adolescente ser aplicada.

O artigo 26, do Código Penal Brasileiro registra quanto aos


inimputáveis, transcrito abaixo:

É isento de pena o agente que, por doença mental ou desenvolvimento


mental incompleto ou retardado, era, ao tempo da ação ou da omissão,
inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-
se de acordo com esse entendimento.

3. MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS E DE PROTEÇÃO APLICADAS.

As medidas socioeducativas são medidas repressivas previstas no


Estatuto, aplicáveis para adolescentes de 12 a 18 anos que cometerem ato
infracional, o Estatuto da Criança e do Adolescente é uma lei extremamente
abrangente, de cunho mais garantista do que punitivista, sendo aplicável para jovens
de até 18 anos, essa importante lei veio substituir o ultrapassado e punitivista
Código de Menores. (O Código de Menores, uma das primeiras estruturas de
proteção aos menores, em nossa sociedade brasileira, foi produto de uma época
culturalmente autoritária e patriarcal, portanto, não havia preocupação com o
problema da criança e do adolescente em compreendê-lo e atendê-lo, mas sim com
soluções paliativas, o principal objetivo do legislador era “tirar de circulação” aquilo
que atrapalhava a ordem social.).

Segundo Wilson Donizeti Liberati (2003, p. 113): Antes do Estatuto, as


medidas aplicadas aos menores infratores visavam, sobretudo, sua proteção,
tratamento e cura, como se eles fossem portadores de uma patologia social que
tornava insustentável sua presença no convívio social. O pior disso é que esses
menores não eram considerados sujeitos de direitos, mas objeto de atividades
policiais e das políticas sociais. Faz-se importante ressaltar que o antigo Código de
Menores (1979) tratava especificamente de crianças e adolescentes em situação
20

irregular, com o advento do Estatuto da Criança e do Adolescente (1990), tem-se


proteção integral aos menores de idade, independentemente de sua condição na
sociedade, como ressalta Saraiva (2010, p.16) ”tem-se uma só condição de criança
e adolescente enquanto destinatário da norma, titular de diretos e de certas
obrigações, estabelecendo uma nova referência paradigmática”.

Nesse sentido, Saraiva destaca que a Doutrina da Proteção Integral dos


Direitos da Criança, trouxe a estes agentes da condição de objeto do processo para
o status de sujeitos do processo, consequentemente detentores de direitos e
obrigações próprios do exercício da cidadania plena, observada sua condição
peculiar de pessoa em desenvolvimento, cumprindo um dos princípios fundamentais
da Constituição Federal Brasileira, que estabelece no seu art. 1.º, inciso III, como
fundamento da República, a dignidade da pessoa humana.

Logo, o Estatuto da Criança e do Adolescente vinculado à Doutrina da


Proteção Integral rompeu definitivamente com os ditames da Doutrina da Situação
Irregular, aquele que antes era chamado de “menor”, passa a ter seus direitos
reconhecidos e garantidos, tal “reforma conceitual” foi de suma importância para a
construção de uma sociedade mais equilibrada.

O Estatuto da Criança e do Adolescente, ao contrário do Código de Menores,


tem por objetivo a reeducação e reinserção do menor à sociedade, sendo premissa
a dignidade da pessoa humana. Outrossim, as medidas adotadas passam a ter
caráter pedagógico, e não caráter meramente punitivo, como anteriormente.

Segundo Bandeira (2006), a medida socioeducativa tem por objetivo incluir


o adolescente no meio social, inserir no caminho do aprendizado direcionando-o
para melhores escolhas e oportunidades para os adolescentes que cometem atos
infracionais é aplicada pela a autoridade competente medidas como advertência,
obrigação de reparo de danos, prestação de serviços, liberdade assistida, internação
entre outras impostas pela lei (BRASIL, 2007).

A advertência é aplicada ao adolescente quando o mesmo comete um ato


menos prejudicial, é aplicada de uma forma mais tranquila para os que cometem
atos infracionais de prejuízos e danos patrimoniais é aplicada a lei de reparo de
21

danos, o adolescente compensa a vítima (BANDEIRA, 2006) essa Prestação de


serviços é uma das principais medidas em que o adolescente cumpre em liberdade
assistida ele presta serviço de forma gratuita, para hospitais, comunidade, órgãos
governamentais e entidades sociais (BANDEIRA, 2006). Bandeira (2006) ainda
coloca que a liberdade assistida tem por objetivo ressocializar o adolescente,
através de ações pedagógicas e criativas, com o intuito de inseri-lo com
responsabilidade sem tirar sua liberdade.

Entre período de 12 a 18 anos, percebe-se perfeitamente com um olhar


técnico ou não, portanto o adolescente está em busca da sua própria identidade
pessoal, um momento de varias angustias dúvidas e descobertas, momento estes
onde ele mesmo começa a ter consciência do seu lugar do mundo. Pode-se
observar que essa fase é uma fase onde o adolescente vive intensos
questionamentos diários, mesmo mantendo uma postura de quem sabe o que se
está fazendo e dizendo, que é dono da sua própria vida, comumente ele está em
constante procura de perguntas e respostas pelo o que se deve fazer como agir,
experimentando o sentimento de estar perdido no mundo novo onde se encontra.

Em meio a essa busca eminente por um espaço próprio na sociedade,


diversas vezes o adolescente se encontra na formação de seus grupos, esse
encontro pode se tornar produtivo na vida do jovem ou não, onde eles se socializam
e se ajudam nas questões dos seus anseios e sonhos, mas ao mesmo tempo pode
se tornar destrutivo, podendo ocorrer o incentivo a comportamentos diversos e até
mesmo violentos e agressivos, devido a uma intensa identificação com um grupo de
amigos com tais características e práticas.

Diante dos atos infracionais, consequentemente diante e a luz do estatuto da


criança e adolescente (ECA), ineditamente o adolescente passa por medidas
socioeducativas. Tal medida tem por objetivo de reeducar e reinserir o adolescente
no convívio social novamente, de cunho pedagógico tendo o intuito de ajudar o
adolescente de diversas formas. Contudo, isso infelizmente não ocorre em inúmeros
episódios e o que se pode observar na maioria das vezes é que esses adolescentes
que passam por medidas socioeducativas são inseridos na sociedade novamente
22

acabam voltando, lamentavelmente para o cumprimento de medidas e, por vezes,


pelo cometimento do mesmo ato infracional ou outros tantos.

Torna-se possível a percepção de que há significativas falhas no emprego


dessas medidas por parte de todos na sociedade e que os seus objetivos de
reinserção social a partir da mudança comportamental do adolescente não
conseguem ser cumpridos, constituindo-se apenas enquanto medidas punitivas e
não pedagógicas o que implica em danos e traumas para os mesmos adolescentes,
fugindo assim do que o estatuto da criança e do adolescente prioriza.

Podemos enfatizar conforme o Estatuto da Criança e do Adolescente cita


no artigo 112 da Lei nº 8.069 de 13 de Julho de 1990, seis medidas socioeducativas.
Elas podem ser assim classificadas conforme a sua gravidade:

*Advertência;

*Obrigação de reparar o dano;

*Prestação de serviços à comunidade;

*Liberdade assistida;

Inserção em regime de semiliberdade;

*Internação em estabelecimento educacional.

* qualquer uma das previstas no art. 101, I a VI.

* 1º A medida aplicada ao adolescente levará em conta a sua capacidade


de cumpri-la, as circunstâncias e a gravidade da infração.

* 2º Em hipótese alguma e sob pretexto algum, será admitida a prestação


de trabalho forçado.

* 3º Os adolescentes portadores de doença ou deficiência mental receberão


tratamento individual e especializado, em local adequado às suas
condições.

Vale salientar ainda mais que as medidas socioeducativas ficam à


disposição do magistrado e não do conselho tutelar como muitos erroneamente
pensar ser de sua competência e atribuição.

Neste contexto o magistrado ou magistrada determina as medidas


socioeducativas para que este as utilize na definição da pena dos adolescentes
23

infratores, a lei determina ainda que a medida cabível seja escolhida conforme a
capacidade do jovem de cumpri-la, as circunstâncias e a gravidade da situação,
podendos os mesmos serem encaminhados a vários setores da sociedade para o
processo de reeducação na sociedade. Neste contexto o papel do Conselho tutelar,
por força do art. 95 (As entidades governamentais e não governamentais referidas
no art. 90 serão fiscalizadas pelo Judiciário, pelo Ministério Público e pelos
Conselhos Tutelares), do Estatuto da Criança e do Adolescente, é um dos órgãos
legitimados para fiscalizar as entidades governamentais e não governadas por seu
art. 90, no caso, como entidades de atendimento que prestam serviços de proteção
ou socioeducativos, as medidas socioeducativas, retratam um processo que envolve
estudos e debates, que resultou na elaboração do SINASE, elas são estabelecidas
pelo Estatuto da Criança e do Adolescente e sua perspectiva é socioeducativa.

De acordo com Pantoja (2021), a realização do atendimento socioeducativo


de acordo com as diretrizes do SINASE e em acordo com as regulamentações do
ECA, pode aumentar a eficácia das políticas públicas no atendimento aos
adolescentes que cometem atos infracionais,nesse nível, é essencial destacar que
a função das medidas socioeducativas é garantir aos adolescentes um processo
que oportunize obter proteção social, assim como construir reflexões,
responsabilização e socialização perante a sociedade.
Dessa forma, afirma-se aqui que responsabilização não é punir, na medida
em que juntamente com os direitos previstos nas Leis do direito da criança e do
adolescente, se agregam igualmente as responsabilidades. As bases legais dão
suporte educativo necessário para que o jovem infrator reflita sobre seus atos e
obtenha a ressocialização através das práticas pedagógicas, o único e verdadeiro
meio de conscientização (PANTOJA, 2021).
Afinal, as medidas socioeducativas baseiam-se na educação, pois a
importância pedagógica possibilita atuar no sentido de promover a construção
social e histórica dos adolescentes e enchendo-os de conhecimento, para a
convivência em sociedade com outra visão.
Dessa forma, o Estado passou a se preocupar com a questão da infância
demarcando um novo momento da assistência à infância no Brasil e este marco
histórico foi construído sob a égide do controle, coerção e punição sobre a vida das
crianças e adolescentes (MIRANDA 2008). Consequentemente quando os
24

adolescentes que cometiam infração cumpriam suas medidas, eram recebidos com
o mesmo tratamento dos sujeitos adultos, ou seja, ignorando o suas
particularidades em fase de desenvolvimento, levando os atos dos adolescentes
para o lado punitivo.
Portanto, o Estado com o objetivo de afastar os adolescentes da rua, pois os
achavam sujeitos perigosos e que perturbavam a ordem e a paz social, promovia a
apreensão e confinamento desses adolescentes, sem que lhes fosse dada a
oportunidade de desenvolvimento e de defesa, visto que não havia a necessidade
de fundamentar juridicamente ao se determinar a apreensão e confinamento de
uma criança ou adolescente, ou seja, demonstrando o descaso do Estado para
com a situação do jovem em situação irregular.

3.1- O Centro de Referência Especializado da Assistência Social e o Conselho


Tutelar nas Medidas Socioeducativas dos adolescentes Infratores.

Sabemos que tanto o CREAS como Conselho Tutelar são essenciais na


execução bem realizada referente às medidas socioeducativas, portanto esta parte
do trabalho tem como objetivo explicar o papel do Conselho Tutelar e do Centro de
Referência Especializado da Assistência Social (CREAS) em relação a execução de
medidas socioeducativas para adolescentes, onde são atendidos indivíduos e suas
famílias que estão em risco ou vulnerabilidade social, promovendo a Proteção Social
Especial na perspectiva do Sistema Único de Assistência Social (SUAS).

Segundo o Estatuto da Criança e Adolescente (1990), em seu artigo 112,


medidas socioeducativas são medidas aplicáveis a adolescentes envolvidos com ato
infracional, as medidas a serem aplicadas, vão da advertência até a privação de
liberdade, quem recebe as medidas são pessoas que praticam ato infracional de 12a
18 anos de idade, podendo se entender aos 21.

A partir da análise do processo em Juiz, o Juiz da vara da Infância e da


Juventude pode aplicar a sentença, conforme a gravidade da infração, baseado a lei
do Estatuto da Criança e do Adolescente e conforme serviço a ser realizado por este
órgão de proteção que é o CREAS, onde o mesmo está situado na rede de proteção
socioassistencial o CREAS além de suas tantas outras atribuições presta Serviço de
25

Proteção Social especial a adolescentes em cumprimento de medida socioeducativa


de Liberdade Assistida (LA) e Prestação de Serviços à Comunidade (PSC),
conforme previsto no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA),cabe ao Centro
de Referência Especializado de Assistência Social- CREAS, acompanhar o
adolescente, auxiliando no trabalho de responsabilização do ato infracional.

Logo após os tramites Judiciais o CREAS deve receber os pais ou


responsável pelo adolescente para orientá-los sobre a medida socioeducativas e
referente à organização e funcionamento do programa; deve também encaminhar o
adolescente ao orientador credenciado; avaliar com o orientador como está a
evolução do cumprimento da medida a ser executada, se necessário propor a
autoridade a extinção da medida, o órgão acima tem autoridade de fazer parcerias
com essas entidades assistenciais para que os adolescentes façam atividades
prestando serviços à comunidade, essas entidades podem ser hospitais, escolas ou
outros estabelecimentos congêneres, que podem ser programas comunitários ou
governamentais de acordo com o perfil do socioeducando.

Os serviços prestados pelos CREAS (Centro de Referência Especializado


da Assistência Social) a adolescentes em cumprimento de medidas socioeducativas
e suas famílias devem estar no âmbito da Política Socioeducativa, entende-se ações
de diversos órgãos e setores responsáveis pelas áreas previstas no Art. 8º da Lei
12.594/2012 - SINASE (educação, saúde, assistência social, cultura, capacitação
para o trabalho). Portanto, evidencia-se que o papel imprescindível e estratégico do
CREAS em relação às medidas socioeducativas é subsidiar da melhor forma as
atividades e os compromissos que os adolescentes realizarão de acordo com sua
medida socioeducativa.

Portanto como já foi exposto o papel do Centro de Referência


Especializado da Assistência Social (CREAS), em relação às medidas
socioeducativas é subsidiar da melhor forma as atividades e os compromissos que
os adolescentes possam vir a realizar de acordo com sua medida socioeducativa, já
o papel do Conselho Tutelar como defensor dos direitos das crianças e adolescentes
do ECA ( Estatuto da Criança e Adolescente por mais que algumas varas da infância
encaminhem adolescentes infratores para que o conselho Tutelar os acolha em sua
26

sede e os mesmos realizem as medidas socioeducativas em seu lugar de trabalho


ou o conselho como foi determinado e os receba e faça a seleção de entidades
assistenciais para que os adolescentes façam atividades prestando serviços à
comunidade, mesmo sendo errôneo e evidenciado o encaminhamento deste
adolescentes para o conselho tutelar, em meio aos seus atos inflacionários, diante
das atribuições deste órgão de proteção.

Sendo necessário muito das vezes reencaminhar um oficio resposta à vara


da infância informando a não atribuição do conselho tutelar para aquela
competência, e que irá encaminhar para a equipe técnica do CREAS (Centro de
Referência Especializado da Assistência Social), para que a mesma equipe possa
acolher o adolescente ou os adolescentes, oficializando assim o órgão competente,
informando as informações pertinentes de cada adolescente e reafirmando que essa
não é competência do conselho tutelar. Mas o que seria então a competência do
conselho Tutelar em relação as medidas socioeducativas ? bem, o pape do conselho
tutelar ? Para tentar explanar precisamos refletir a Lei 8.069/1990, em quer em
obediência a norma constitucional, fez surgir o do Conselho Tutelar como o órgão
autônomo a ser representado pela sociedade.

Percebemos que a Lei Federal estabelece um tratamento bem diferenciado


entre a criança e o adolescente que praticam algum ato infracional. Para tanto, fez-
se necessário à análise do ato infracional em si, e sua distinção quando praticados
por criança e adolescente, bem como, das medidas aplicadas em cada caso, além,
da atuação e atribuições do Conselho Tutelar, visando o melhor entendimento de
sua competência sobre as crianças e adolescentes que praticam o ato infracional, ao
analisar as atribuições do Conselho Tutelar em face do disposto no Estatuto da
Criança e do Adolescente, constata-se que o Conselho Tutelar é um órgão que
possui competência para atender e aplicar medidas protetivas em situações de
ameaça ou violação de direito dos infanto-juvenis, em especial, nos casos de criança
infratora.

Desta forma, portanto, o Conselho Tutelar não é um órgão de execução, e


sim, um órgão que solicita órgãos governamentais e não governamentais que
prestam serviços de atendimento à criança e ao adolescente, para garantir a eficácia
27

das medidas que serão aplicadas. E de suma importância Conselho tutelar


encaminhar casos relacionados à adolescentes envolvidos ou supostamente
envolvidos em ato infracional para a autoridade competente, além disso, para o
cumprimento de medidas protetivas aplicadas pela justiça aos adolescentes
infratores, o Conselho apenas providencia o encaminhamento do adolescente aos
programas correspondentes (CREAS), podendo em determinados casos requisitar
serviços públicos.

No caso do adolescente infrator deve ter o mesmo tratamento que


qualquer outro ser de direito, deverá ser protegido sempre e ter seus direitos
resguardados, encontrando-se aqui, a atribuição do Conselho Tutelar a luz do ECA
nesse cenário, ou seja, garantir com as todas as forças a proteção de direitos do
adolescente infrator. Nesse sentido, mais uma vez reforça-se é enfatizado que as
medidas socioeducativas são de atribuição do Poder Judiciário, conclui-se que a
atuação do Conselho Tutelar, nessa ocasião, limita-se a apresentar essas situações
sempre que tiver conhecimento, pois o órgão não é responsável por aplicar
penalidades, mas de proteger conforme o Estatuto da Criança e do Adolescente e
suas atribuições.

Portanto, é evidente que o Conselho Tutelar é um órgão de fiscalização


dos órgãos que diante das medidas socioeducativas são responsáveis por acolher
no processo de reeducação de adolescentes que encontra-se por meio da lei
efetuando as medidas socioeducativas naqueles estabelecimentos.

3.2 - Os Desafios da rede Socioassistencial na proteção dos Direitos dos


Adolescentes em Meio as Medidas Socioeducativas.

Sabemos que são inúmeras as dificuldades que a rede socioassistencial


sofre diariamente garantir os direitos e resguardar os adolescentes em conflito com
a lei, tendo em vista que tais seres humanos, por estarem em idade de formação
bio-psíquica e social, necessitam de atenção especial sempre, faz-se também uma
reflexão sobre a importância do fortalecimento das políticas sociais como
mecanismo de prevenção ao cometimento de novos atos infracionais por esses
adolescentes, fortalecimento este tantas vezes defasado pela falta de profissionais
capacitados ou em muitas cidades pela falta de profissionais.
28

Podemos citar também como um grande empecilho a dificuldade de trabalhar


em rede pelos profissionais ainda é um problema que se verifica em várias cidades
do Brasil, isso se constata, na prática, pela falta de interligação das ações entre as
Secretarias municipais, Conselhos Tutelares, CREAS (Estaduais ou regionais),
Secretaria de saúde e suas vertentes, Secretaria de Educação, e etc. Gerando
assim, a descontinuidade administrativa do serviço e fragmentação da atividade, o
que possibilita apenas que as ações ocorram de maneira pontual e sem grande
alcance.

A Proteção social especial de média complexidade conta com Serviços de


Proteção e atendimento especializado a Famílias e indivíduos, de abordagem social,
proteção ao adolescente em cumprimento de medida socioeducativa de liberdade
assistida, proteção social para deficientes, idosos e suas famílias, além de pessoas
em situações de rua, já os classificados com Alta complexidade envolvem o
acolhimento institucional, acolhimento em república e em família acolhedora, e de
proteção em situações de calamidades públicas e de emergências (GOMES; ELIAS,
2016).

Temos ciência que a rede socioassistencial é uma estrutura especificamente


de planejamento, ação, acompanhamento especifico e avaliação continua das ações
de promoção da proteção social à população vulnerável, a rede de proteção
funciona como um elemento importantíssimo de mediador e de interação mútua para
romper as diversas barreiras entre o usuário e o atendimento social que necessita,
com capacidade de facilitar sempre a circulação das interações pessoais como um
todo.

Assim, a rede socioassistencial é uma ação articulada e integrada com a


finalidade de possibilitar aos usuários dos serviços sociais a proteção social,para
isso, suas ações devem ser bem definidas, evitando falhas e garantindo a
continuidade do atendimento (ANDRADE et al, 2015).

Percebemos que os desafios na continuidade da rede socioassistencial são


grandes, o que requer mudanças e transformações culturais, políticas,
organizacionais e na gestão pública, mas é fato que o sistema de rede é uma
proposta que facilita a comunicação de informações, promove a consciência
29

coletiva, possibilita o levantamento de recursos, potencialidades e fatores de


efetivação das ações para atendimento social no tocante as medidas sócio
educativas tanto para adolescentes como para crianças, o que vai possibilitar um
melhor acompanhamento destes seres humanos em desenvolvimento e também
uma melhor resolutividade da rede socioassistencial.

Diante de tais situações sabe-se que é primordial que a rede


socioassistencial proporcione todo o suporte e avaliação para os adolescentes em
suas medidas protetivas para que eles possam ser inseridos na sociedade de forma
certa e reparem os danos causados e a mesma sociedade venha a observar tais
serviços que o adolescente possa vir a passar para então refletir de maneira mais
ampla referente à solicitação sem sentido da diminuição da maioridade penal, visto
que nossa sociedade não está tão preparada nem para acolher e dar subsídios
básicos os homens e mulheres maiores de idade, que por ventura cometeram seus
delitos, quanto mais para receber jovens que ainda estão em processo de formação
humana e que a própria sociedade não possibilita para os mesmos oportunidade de
um mundo melhor, mais justo e fraterno para os seus e para os familiares.

4. POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL: SUAS FUNÇÕES E OS NIVEIS DE


PROTEÇÃO.

A Assistência Social é um direito do cidadão e dever do Estado, instituído pela


Constituição Federal de 1988. A partir de 1993, com a publicação da Lei Orgânica
da Assistência Social- LOAS é definida como política de Seguridade Social,
compondo o tripé da Seguridade Social, juntamente com a saúde e Previdência
Social, com caráter de Política Social articulada a outras políticas do campo social.
A Assistência Social, diferentemente da Previdência Social, não é
contributiva, ou seja, deve atender a todos os cidadãos que dela necessitarem,
realiza-se a partir de ações integradas entre a iniciativa pública, privada e da
sociedade civil, tendo por objetivo garantir a proteção social à família, à infância, a
adolescência, à velhice, amparo a crianças e adolescentes; a promoção da
integração ao mercado de trabalho e a reabilitação e promoção de integração à
comunidade para as pessoas com deficiência e o pagamento de benefícios aos
idosos e as pessoas com deficiência.
30

Cabe ao Governo do Estado, por meio da Secretaria do Desenvolvimento


Social do Estado: estabelecer rumos, diretrizes e fornecer mecanismos de apoio às
instâncias municipais, ao terceiro setor e à iniciativa privada, ao manter a
responsabilidade pelo apoio financeiro aos munícipios e entidades de Assistência
Social, fixa sua atuação no apoio técnico, capacitação, monitoramento e avaliação
das ações sociais desenvolvidas em todo o Estado.
4.1 O Trabalho dos Assistentes Sociais no CREAS: Avanços e desafios
para a superação de práticas que reproduzem desigualdades de gênero.

Embora a intersetorialidade em políticas públicas seja algo recente, já


está sendo considerada como uma alternativa de enfrentamento às múltiplas
expressões da Questão Social vivenciadas pelas usuárias dos CREAS
pesquisados. Através da abordagem intersetorial, a gestão pública pode
alcançar maior efetividade e impacto sobre os problemas e demandas da
população, com uma visão integrada destas questões e de suas soluções.

A intersetorialidade supõe [...] a articulação entre sujeitos que atuam em


áreas que, partindo de suas especificidades e experiências particulares,
possam criar propostas e estratégias conjuntas de intervenção pública para
enfrentar problemas complexos impossíveis de serem equacionados de
modo isolado (COUTO, YAZBEK, RAICHELIS, 2010. p. 40).

O Estado pouco vem disponibilizando de respostas às situações de


violência, atualmente limita-se a responder de forma fragmentada e paliativa à
violência interpessoal, valia-se a necessidade deste tema ser transversal em
todas as políticas públicas, e, atualmente a realidade está muito distante da
transversalidade. Além disso, há que se destacar a precariedade das políticas
sociais no sentido da prevenção do agravamento das situações vivenciadas
especialmente pela classe trabalhadora.
É neste sentido que se questiona as respostas que vem sendo dadas
pelo Estado no processo de enfrentamento da violência, os serviços públicos
enfrentam inúmeras dificuldades para o atendimento das famílias que vivenciam
algum tipo de violência, passando principalmente pela falta de recursos
humanos, e, de uma rede com serviços estruturados, que torne possível a
materialização da intersetorialidade.
Há algumas fragilidades que podem ser superadas, como a instituição de
31

processos de monitoramento e avaliação permanente dos serviços ofertados por


parte dos usuários; a ampliação da participação dos usuários nos processos de
decisões das instituições e serviços, inclusive na indicação de prioridades; a
adoção de estratégias que promovam o fortalecimento dos usuários, com o
reconhecimento dos mesmos enquanto sujeitos de direitos, participem do
processo de superação das situações vivenciadas.

A concepção do masculino como sujeito da sexualidade e o feminino como


seu objeto é um valor de longa duração da cultura ocidental. Na visão
arraigada no patriarcalismo, o masculino é ritualizado como o lugar da ação,
da decisão, da chefia da rede de relações familiares e da paternidade como
sinônimo de provimento material: é o “impensado” e o “naturalizado” dos
valores tradicionais de gênero. Da mesma forma e em consequência, o
masculino é investido significativamente com a posição social (naturalizada)
de agente do poder da violência, havendo, historicamente, uma relação
direta entre as concepções vigentes de masculinidade e o exercício do
domínio de pessoas, das guerras e das conquistas. (MINAYO, 2005, p. 23).

Além disso, é essencial que a violência seja enfrentada e discutida a partir


de seu reconhecimento enquanto expressão da questão social, possuindo sua
gênese na apropriação privada da riqueza socialmente produzida, ou seja,
conflito existente entre capital e trabalho. Verifica-se a importância de se
desenvolver ações preventivas, que seriam de responsabilidade de todas as
políticas públicas, identificando-se a Escola como espaço privilegiado para este
tipo de ação, a partir do estímulo para a resolução de conflitos de forma não
violenta, a partir de uma educação para a paz.
Compreender a atuação do assistente social nos dias atuais e em meio às
medidas socioeducativas exige antes uma breve contextualização sobre as origens
do Serviço Social no Brasil e sua ligação com o sistema capitalista, visto que é a
partir das desigualdades e explorações desse sistema que emerge a questão social,
cuja problemática do adolescente autor de ato infracional é mais uma expressão.
O Serviço Social brasileiro surgiu em um momento histórico permeado pelo
aprofundamento dos conflitos e contradições entre as classes antagônicas, situação
na qual a burguesia precisou criar alternativas para conter e manter seu domínio
sobre o proletariado (IAMAMOTO; CARVALHO, 1991).
A causa desse tensionamento está ligada, principalmente, à relação capital-
trabalho resultante do processo de consolidação do capitalismo. Desse modo,
inicialmente, o Serviço Social foi criado para atender aos interesses da burguesia,
32

situando-se no processo de reprodução das relações sociais com o intuito de


desarticular a classe trabalhadora e auxiliar no exercício do controle social.
Ademais, é importante destacar que a origem da profissão no país sofreu
forte influência europeia e também está relacionada a um movimento social
desenvolvido pela Igreja Católica, com bases no ideário filosófico neotomista e
numa formação doutrinária.

Contudo, durante o percurso histórico do Serviço Social no Brasil, foram


discutidas diferentes orientações teóricas na profissão, para além da doutrina social
da Igreja, o amadurecimento da profissão, bem como a aproximação com a teoria
Marxista por volta da década de 1960, possibilitou a compreensão do que é a
relação capital-trabalho e o que representa a luta de classes, além de levar o
assistente social a percepção de que o próprio é pertencente da classe trabalhadora,
a partir disso, o Serviço Social posiciona-se em defesa da luta pela viabilização do
acesso aos direitos civis, sociais e políticos dessa classe.
Atualmente, a profissão é regulamentada pela Lei 8.662/93 é orientada
pelos princípios éticos previstos no Código de Ética Profissional, dos quais
destacamos o compromisso com o reconhecimento da liberdade humana como valor
ético central; a defesa intransigente dos direitos humanos e a recusa do arbítrio e do
autoritarismo; a ampliação e consolidação da cidadania, com vistas à garantia dos
direitos das classes trabalhadoras; a defesa da radicalização da democracia,
enquanto socialização da participação política e da riqueza socialmente produzida; o
posicionamento em favor da equidade e justiça social, que assegure universalidade
de acesso aos bens e serviços, bem como sua gestão democrática e o empenho
para a eliminação de todas as formas de preconceito (CFESS, 2012).
As medidas socioeducativas apresentam diversas particularidades e,
portanto, as estratégias de intervenção para o profissional de Serviço Social também
são diferenciadas. Assim, de acordo com a Tipificação Nacional de Serviços
Socioassistenciais (2009), o assistente social que atua na execução da medida de
Liberdade Assistida deve realizar a acolhida e escuta dos adolescentes e sua
família, ofertar orientação social, articulação com a rede de apoio, bem como a
construção e implementação do plano individual e familiar de atendimento.
33

Iamamoto (1997, p.31) ressalta que para a realização desse trabalho “(...)
exige-se um profissional qualificado, que reforce e amplie a sua competência crítica;
não só executivo, mas que pensa, analisa, pesquisa e decifra a realidade”.

Sobre as competências e atribuições do assistente social na política de


Assistência Social, pontua-se que este profissional deve desenvolver:

Apreensão crítica dos processos sociais de produção e reprodução das


relações sociais numa perspectiva de totalidade; análise do movimento
histórico da sociedade brasileira, apreendendo as particularidades do
desenvolvimento do Capitalismo no país e as particularidades regionais;
compreensão do significado social da profissão e de seu desenvolvimento
sócio-histórico, nos cenários internacional e nacional, desvelando as
possibilidades de ação contidas na realidade; identificação das demandas
presentes na sociedade, visando a formular respostas profissionais para o
enfrentamento da questão social, considerando as novas articulações entre
o público e o privado (ABEPSS, 1996 apud Parâmetros para Atuação de
Assistentes Sociais na Política de Assistência, 2009).

Partindo disso, entendemos que os profissionais que não se capacitam


podem não refletir a realidade através desse ponto de vista da totalidade, dos limites
e contradições da sociedade capitalista, assim, é provável que tragam reflexos
negativos para a vida dos usuários, tendo em vista a execução de um trabalho
desqualificado, por isso a importância do profissional ter clareza e, sobretudo
compreensão sobre o exercício profissional, para poder exercê-la de maneira
competente e atuar atendendo as demandas do contexto em que estiver inserido.
Para o Serviço Social, a entrevista é um dos instrumentos mais utilizados no
cotidiano da prática profissional, e esse instrumento permite a realização de uma
escuta qualificada e por meio do diálogo, visa estabelecer uma relação com o
usuário que lhe possibilite conhecer a realidade social, econômica e cultural deste, a
entrevista permite através da coleta de dados, que o assistente social organize e
estruture sua intervenção para com o usuário atendido (MEDEIROS, 2017).
A visita domiciliar consiste em um instrumento que potencializa as
possibilidades de conhecimento da realidade, considerando as particularidades de
cada usuário. O objetivo da visita é conhecer o contexto sociocultural, as relações
sociais e as condições em que o usuário está inserido, analisar suas
vulnerabilidades e potencialidades, mas de maneira respeitosa e não invasiva
(MEDEIROS, 2017).
34

Tendo em vista que a natureza dessa profissão é interventiva,


compreendemos que o assistente social enfrenta o desafio de articulação da teoria e
prática diante de enfrentamentos postos pela realidade social e frente às expressões
da questão social que demandam respostas imediatas, requerendo conhecimentos
específicos sobre políticas, instituições, bens e serviços, para além disso, torna-se
fundamental compreender a realidade na sua contextualidade histórica.
Assim sendo, o assistente social que trabalha como executor de medidas
socioeducativas desempenha intervenções em um espaço institucional através de
uma política de atendimento assegurada em lei pelo Estatuto da Criança e do
Adolescente, o profissional desse serviço desenvolve o papel de orientador, que de
acordo com o Art. 119 do ECA têm as seguintes obrigações:

Art. 119 I - promover socialmente o adolescente e sua família, fornecendo-


lhes orientação e inserindo-os, se necessário, em programa oficial ou
comunitário de auxílio e assistência social;
- supervisionar a frequência e o aproveitamento escolar do adolescente,
promovendo, inclusive, sua matrícula;
- diligenciar no sentido da profissionalização do adolescente e de sua
inserção no mercado de trabalho;
- apresentar relatório do caso.

Ou seja, cabe ao assistente social promover espaços de reflexão que levem o


adolescente a reconhecer seu papel na sociedade, auxiliando-o a descobrir suas
potencialidades e orientando-o em seus projetos de vida para que assim consiga
romper com a trajetória de transgressão.
Conforme Schena (2005) a execução da LA depende do comprometimento
com que ela é executada e da busca por alternativas de atendimento que não
envolva apenas um acompanhamento individual, mas que possibilite o
desenvolvimento de um trabalho que integre toda a vida do adolescente.
Nesse sentido, Iamamoto (1997) disserta que a condição de podermos pensar
o indivíduo como um todo é sustentada pelo compromisso assumido pelo Serviço
Social em favor da defesa intransigente dos direitos humanos, o que requer uma
atuação democrática, desse modo, reforça-se também o compromisso com a
cidadania e os direitos sociais, levando o profissional a perceber os indivíduos em
sua totalidade e a buscar dar sua contribuição para a criação de novas formas de
sociabilidade em que o outro passa a ser visto realmente como sujeito de direitos.
35

O próprio Código de Ética da profissão indica um rumo ético-político e oferece


um direcionamento para o exercício profissional, em que afirma ter como valor ético
central a responsabilidade com a liberdade humana e objetiva ofertar autonomia,
emancipação e plena expansão aos indivíduos sociais.
Contudo, é preciso reconhecer que para uma atuação condizente com os
princípios de defesa e garantia de direitos adotados pela profissão e inscritos em
seu Projeto Ético-Político, faz-se necessário ampliar a atuação junto a estes
adolescentes através da articulação com a rede de atendimento e proteção à criança
e ao adolescente, provocando os atores do Sistema de Garantia de Direitos, a
exemplo dos Conselhos Tutelares e de Direitos, do Ministério Público, das Varas da
Infância e Juventude e dos programas e serviços atrelados as políticas sociais
setoriais (CELESTINO, 2016).

Por fim, podemos observar que muito se exige do profissional de Serviço


Social e, por se tratar de uma profissão que lida com expressões da realidade social,
a qual está em constante transformação, é de suma importância que este também
esteja em constante formação.

O assistente social lida especialmente com situações e ações que dizem


respeito a direitos fundamentais e sociais, no caso dos que atuam no serviço de
execução de medidas socioeducativas, estes precisam enfrentar ameaças
constantes de violação de direitos dos adolescentes, inseridos em um sistema que,
ao invés de promover justiça, por vezes promove injustiça, justificadas diante do ato
infracional cometido.

O profissional tem como norte o rompimento e a superação da prática


infracional, no entanto, neste tipo de sociabilidade que se alimenta da pobreza e das
desigualdades, é muito complexo alcançar este objetivo na sua totalidade. Assim
como toda política social inserida na lógica neoliberal, o programa de Liberdade
Assistida também apresenta dificuldades para sua execução e o assistente social
encontra-se em busca de alternativas para desenvolver sua prática diante da ação
minimalista do Estado, tendo que atender às suas demandas ao mesmo tempo em
que busca a garantia de direitos das classes subalternas. Ademais, além da
36

fragmentação e focalização das políticas, há também a falta de recursos e de


profissionais realmente qualificados para executá-las.

Destarte, cabe salientar que o assistente social traz contribuições importantes


para o processo de emancipação social dos adolescentes em conflito com a lei, mas
esta realidade tal qual descreve o código de ética e o ECA ainda encontra-se
distante devido aos entraves presentes nesta forma de sociabilidade.
4.2 A política Nacional de Assistência Social na aplicação da medida de
liberdade assistida nos Centro de Referência Especializado de
Assistência Social- CREAS.

A Constituição Federal de 1988 aponta além das garantias, os meios


para a ampliação dos direitos sociais, considerando o caráter participativo,
universalista e descentralizado da política de Assistência Social que compõe o
tripé da Seguridade Social, juntamente com a Saúde e Previdência Social. A
partir dessa nova percepção, compreende-se que as políticas de Seguridade
Social possibilitam um processo de transformação rumo a uma nova situação
para o Brasil.
No que se refere à Assistência Social como política de proteção
social, esta se configura então como uma garantia a todos que dela necessitam
e sem exigir contribuição prévia, pois constitui-se como dever do Estado e
direito de todo cidadão,tudo isso se tornou possível a partir do momento em
que o paradigma da caridade e do assistencialismo foi sendo rompido e logo
substituído pela concepção do direito, sendo materializado através da Lei
Orgânica da Assistência Social (LOAS)– Lei 8.742 regulamentada em
dezembro de 1993.
A LOAS (1993) regulamenta questões referentes à Assistência Social a
partir das diretrizes definidas pela CF/88, especificamente o artigo 194, a respeito da
Seguridade Social, e dos artigos 203 e 204, que abordam o seguinte:
Art. 203. A assistência social será prestada a quem dela necessitar,
independentemente de contribuição à seguridade social, e tem por objetivos:

a) a proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescência e à


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velhice;
b)- o amparo às crianças e adolescentes carentes;
c)- a promoção da integração ao mercado de trabalho;
d)- a habilitação e reabilitação das pessoas portadoras de deficiência e a
promoção de sua integração à vida comunitária;
e)- a garantia de um salário mínimo de benefício mensal à pessoa portadora
de deficiência e ao idoso que comprovem não possuir meios de prover à
própria manutenção ou de tê-la provida por sua família, conforme dispuser a
lei.

Com relação ao previsto no inciso I do artigo 204 citado acima sobre o


processo de descentralização, Rocha et al. (2005, p.2) ressaltam que “visando
assegurar a descentralização/municipalização, definem-se mecanismos legais e
burocráticos, estabelecem-se parcerias e criam-se estímulos capazes de
materializar a nova proposta nas esferas nacional, estadual e municipal”.
A municipalização pode ser definida como a transferência de serviços e
encargos dos governos federal e estadual que possam ser resolvidos mais
satisfatoriamente pelos municípios, assim, o município fica com a responsabilidade
de articular e planejar ações para as novas demandas sociais, priorizando o cidadão
e a garantia da qualidade de vida deste.
Em paralelo com esse acontecimento, ocorreu o desenvolvimento do Sistema
Único de Assistência Social - SUAS. De acordo com a PNAS/2004, o SUAS possui
um modelo de gestão descentralizado e participativo, e se constitui na regulação e
organização das ações socioassistenciais nacionalmente, consagrado na PNAS e na
Norma Operacional Básica (NOB/SUAS) de 2005, o SUAS encaminha-se para a
implementação desse novo modelo de gestão das ações socioassistenciais, além de
integrar e definir o compartilhamento das obrigações entre as três esferas de
governo (União, Estados, Município e Distrito Federal).
O SUAS, desta forma, materializa o conteúdo da LOAS ao cumprir as
exigências para realização dos objetivos e resultados esperados que devem
consagrar direitos de cidadania e inclusão social.
Quanto à Proteção Social Especial (PSE), esta destina-se a famílias e
indivíduos em situação de risco pessoal ou social, cujos direitos tenham sido
violados ou ameaçados. Como bem ressalta a PNAS/2004, para integrar as ações
da proteção especial é necessário que o cidadão esteja enfrentando situações de
violação de direitos por ocorrência de violência física ou psicológica, abuso ou
exploração sexual, cumprimento de medidas socioeducativas, abandono,
rompimento ou fragilização de vínculos ou afastamento do convívio familiar.
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Diferentemente da Proteção Social Básica que possui caráter preventivo, a


Proteção Social Especial atua com natureza protetiva, através de ações que
requerem acompanhamento familiar e individual e maior flexibilidade nas soluções,
por isso, comportam encaminhamentos efetivos e monitorados, apoios e processos
que assegurem qualidade na atenção (BRASIL, 2004).

O Centro de Referência Especializado da Assistência Social (CREAS) é a


unidade pública responsável pela oferta de serviços da proteção especial e tem o
papel de executar, coordenar e fortalecer a articulação dos serviços da rede
socioassistencial com as demais políticas públicas e com o sistema judiciário.
O Centro de Referência Especializado de Assistência Social – CREAS
constitui-se numa unidade pública estatal, de prestação de serviços especializados e
continuados a indivíduos e famílias com seus direitos violados, promovendo a
integração de esforços, recursos e meios para enfrentar a dispersão dos serviços e
potencializar a ação para os seus usuários, envolvendo um conjunto de profissionais
e processos de trabalhos que devem ofertar apoio e acompanhamento
individualizado especializado (BRASIL, 2005a, p. 04-05).
Nesse sentido, os CREAS, que integram o Sistema Único de Assistência
Social, classificam-se como equipamentos públicos de Proteção Social Especial de
média complexidade, e, por isso, são responsáveis por orientar e oferecer serviços
especializados e contínuos da assistência social aos cidadãos que já tiveram seus
direitos violados, sem que houvesse o rompimento dos vínculos familiares.
Inicialmente, com a implantação do SUAS, o CREAS deverá prestar
atendimento a crianças e adolescentes em situações de risco e violação de direitos,
bem como aos adolescentes em cumprimento de medida socioeducativa em meio
aberto (LA e PSC). Este último teve início em 2008, quando o Ministério de
Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS) passou a ofertar o
cofinanciamento das medidas socioeducativas em meio aberto através da Secretaria
Nacional de Assistência Social, possibilitando o atendimento de forma
municipalizada, em conformidade com o SINASE e a PNAS.
O CREAS através do Serviço de Proteção Social a Adolescentes em
Cumprimento de Medida Socioeducativa tem por finalidade ofertar atenção
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socioassistencial e acompanhamento aos adolescentes e jovens em cumprimento


de medida socioeducativa em meio aberto, de Liberdade Assistida e Prestação de
Serviços à Comunidade. Faz parte do objetivo deste serviço contribuir para o acesso
aos direitos dos adolescentes e jovens e também para a ressignificação de valores
na vida pessoal e social destes (PMAS, 2014).
40

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este trabalho buscou a compreensão das proposições do ECA junto


com o SINASE , e do papel da sociedade e de seus agentes sociais, naquilo
que se define como medidas socioeducativas. Para tanto é necessário rever
alguns conceitos para alcançar um impacto positivo sobre a problemática, no
que se refere à posição do CFESS a Lei de Maioridade, a categoria e
impreterivelmente contra, de acordo com a categoria devem sertomadas
medidas socioeducativas que visem à recuperação e a inserção da
criança/adolescente na sociedade. O Estado como interventor tem a obrigação
como estado de bem estar social sustentar e manter os projetos democráticos
a serviço das políticas de proteção e defesa dos direitos da criança e do
adolescente, assim implantando medidas socioeducativas e não punitivas para
infância e juventude.

Repensar a maioridade penal não é o caminho mais propicio para que


adolescentes sejam reeducados em nossa sociedade visto que nosso sistema
prisional brasileiro não cumpre com o seu objetivo de reeducar indivíduos que
praticaram crimes e foram condenados pela justiça, quanto mais não daria o suporte
necessário para adolescentes infratores que diante de uma possível mudança da lei
estaria migrando para os diversos presídios espalhados pelo nosso país.

A redução da maioridade penal implicaria direta e indiretamente a retirada mais


uma vez dos direitos fundamentais das nossas crianças e dos nossos adolescentes
que já tiveram ao longo de sua história de vida sua infância roubada por um Estado
omisso que não oferece o suporte necessário para os mesmos serem o que são
apenas adolescentes e crianças estão em processo de construção humana e
psicológica.

O que realmente precisamos é encontrar meios para mudar o sistema de


medidas socioeducativas, visto que é preciso e necessário uma fiscalização mais
eficiente, para que o ECA possa ser efetivado pelos órgãos de proteção e aqueles que
cometeram algum dano a sociedade possa ser reeducado a não praticar os meios atos
e pagar a luz do estatuto da criança e do adolescente as consequências daquela ação,
pois depois deste período pandêmico em que todos sofreram precisamos ainda mais
41

unir força e se faz imprescindível a cada novo dia a desconstrução eminente das
experiências danosas, reinventando-as. Contudo, isso não significa nunca a sua
extinção ou agravamento, se pode pensar nunca em uma sanção severa para crianças
ou adolescentes, por meio da privação de liberdade, para tentar resolver o problema
da criminalidade e violência em nosso país que já é desde os primórdios.

A proposta não é e nunca será incentivar a defesa de enrijecimento do ECA,


por exemplo, mas sim manter viva e eficaz uma reflexão constante e criativa acerca
da capacidade sociopedagógica da rede de proteção, que possui esse sistema de
justiça juvenil,essa tarefa diária de desconstrução da punição e não aceitação dos
diversos mecanismos repressivosem nossa sociedade é um ato de resistência e luta
constante pela garantia dos direitos desses jovens. É fundamental, principalmente,
para a construção de políticas públicas sólidas e eficazes de atendimento
socioeducativo em cada cidade o estado, para que urgentemente se efetivem ações
conjuntas envolvendo diversos atores da rede socioassitencial.

Dessa forma, tão importante quanto à responsabilização do jovem


transgressor é assegurar-lhes direitos e deveres, proporcionando garantias
fundamentais aos mesmos desde as medidas socioeducativas mais simples até
mesmos aqueles de fase de acolhimento /apuração dos casos de adolescentes
acusados da pratica de ato infracional, com o devido respaldo e respeito ao processo
legal e condições especiais conforme o estatuto da criança e adolescente, até o final
da possível execução da medida socioeducativa escolhida para o mesmo, alicerçado á
necessidade e o direito de um trabalho especializado e protetivo junto aos egressos do
sistema, em atenção aos quem realmente são vitimas no sistema que são
provenientes de contexto de vulnerabilidade social ou desconstrução familiar.
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