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Paranavaí - Paraná
2023
JULIA CRISTINA ANTUNIAZI
BANCA EXAMINADORA
Paranavaí, 2023
Dedico este trabalho a meus pais....
AGRADECIMENTOS
RESUMO
ABSTRACT
INTRODUÇÃO…………………………………………………………………………….. 11
CONSIDERAÇÕES FINAIS……………………………………………………………… 36
REFERÊNCIAS……………………………………………………………………………. 37
11
INTRODUÇÃO
1
A Doutrina da Proteção Integral traduz a compreensão de direitos voltados à população infantojuvenil
brasileira. Ela está prevista na legislação do país desde a aprovação da Constituição Federal de 1988 e
mais especificamente, no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), de 1990 (AMORIM, 2017).
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A Doutrina da Situação Irregular entendia que os menores eram apenas sujeitos de direito ou
mereciam consideração judicial, quando se encontravam em uma determinada situação, caracterizada
como "irregular", por exemplo, estar em situação de rua, ou cometendo pequenos delitos. Havia uma
discriminação legal quanto à situação do menor, somente recebendo respaldo jurídico aquele que se
encontrava em situação irregular, os demais, não eram sujeitos ao tratamento jurídico ou enfocados pelo
estado ou por políticas públicas particulares.
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CAPÍTULO 1
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O gênero é um modo de regulação social, já que o sujeito só existe na medida em que se subordina às regras
determinadas e validadas dentro de sua cultura ou sociedade (BUTLER, 2005, p. 85).
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Alguns estudos trazem os termos cultura “adultocrática” ou “adultismo”, que se referem ao mesmo processo, são
um conjunto de ideias que desqualifica e inferioriza crianças, adolescentes e jovens. Essa cultura e matriz não
possui intenção de reconhecer as particularidades e promover os direitos desse público. Ao contrário, entende o
público infantojuvenil como um “vir a ser”, retira a legitimidade das pautas do público infantojuvenil e com
frequência, promove violação de direitos humanos desse público, sempre minimizam as pautas de crianças,
adolescentes e jovens (UNICEF, 2013; QVORTRUP, 2011).
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Disponível em:
https://memoriaglobo.globo.com/jornalismo/coberturas/chacina-na-candelaria/noticia/chacina-na-candelaria.ghtml.
Acesso em 20 nov. 2022.
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acolhedor e não de vitimização, nesta relação a própria lei perpassa ainda por
grandes limitações diante das decisões de inserção da criança no meio familiar,
limitações estas que resultaram na tragédia do menino Bernardo, mostram que é
preciso uma ação ampla e imediata qualificação de toda a rede de proteção para
toda criança ou adolescente em situação de risco e inclusive atuação mais intensa
na prevenção (MORAES, 2019).
O caso do menino Bernardo e sua repercussão fomentaram a promulgação
da Lei Menino Bernardo ou Lei da Palmada como foi apelidada, preferimos o
primeiro nome, pois reconhece a demanda por rechaçar qualquer forma de violência
no processo educativo (MORAES, 2019). O apelido “Lei da Palmada” incorre em
duas interpretações que até uma palmada deve ser radicalmente recusada na
educação ou sugerir que as violências são semelhantes à uma palmada, o que não
é verdade, pois conforme dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública, em
2020, ao menos, 267 crianças de 0 a 11 anos e 5.855 crianças e adolescentes de 12
a 19 anos foram vítimas de mortes violentas intencionais.
Ou seja, trata-se de 6.122 crianças e adolescentes que morreram por
causas violentas em um ano. Nesse sentido, não se trata somente de uma
palmada, mas da reprodução de uma violência sistemática e letal contra crianças e
adolescentes. Portanto, é catedral quando a lei n. 13.010 de 26 de junho de 2014 que
prevê que crianças e adolescentes tenham o direito de ser educados e cuidados, sem
quaisquer usos de castigos físicos ou tratamento cruel, como forma de correção,
disciplina e educação integrantes da família ampliada, pelos responsáveis, pelos
agentes públicos executores de medidas socioeducativas ou por qualquer pessoa
encarregada de cuidar deles, tratá-los, educá-los ou protegê-lo.
Em seu artigo 5º, o Estatuto da Criança e do Adolescente determina que
“nenhuma criança ou adolescente será objeto de qualquer forma de negligência,
discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão, punido na forma da lei
qualquer atentado, por ação ou omissão, aos seus direitos fundamentais” (BRASIL,
1990, p. 10).
Outro caso, de repercussão internacional de violência contra criança, é do
menino Gabriel Fernandes, de 7 anos, nos Estados Unidos (EUA), o qual foi morar
com a mãe e o padrasto e mais dois irmãos pequenos, com a finalidade de
conseguir receber benefícios sociais. As percepções da violência foram identificadas
pela professora, para a qual o mesmo relatou que sofria violências, apanhando de
cinto. Não houve avanço das denúncias e intervenções que pudessem ofertar a
proteção de Gabriel. O menino vivenciava constantes agressões sendo bem visíveis,
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pelo corpo, esta relação de abuso cometidas pela própria mãe e o namorado,
reforçam a ideal do adultocentrismo de uma relação de interiorização da criança.
Segundo Cypriano (2021), o adultocentrismo ao inferiorizar e objetificar as
crianças faz parte de um processo que produz e reproduz violências contra crianças
e adolescentes. Ademais, sobrepõe o poder do adulto em relação à criança pode ser
concebida como uma relação colonial, a qual desqualifica a língua, a cultura e os
saberes das crianças, enquanto sujeitos produtores de cultura e não meros
reprodutores.
Segundo a reportagem da BBC NEWS BRASIL, relatos dos próprios irmãos de
Gabriel, que testemunharam a portas fechadas no julgamento por serem menores
de idade, confirmaram que o garoto era forçado a comer excrementos de gatos se
não limpasse bem a bandeja do animal. Potencializando a relação de vitimização
por parte da criança e a relação adultocêntrica, como processo de inferiorização da
criança e do adolescente.
Ademais, e ainda a fim de pensar as características da violência contra crianças
e adolescentes no Brasil, temos indicativos que apontam para uma questão de
gênero, no caso de violências abusos sexuais a maioria são meninas e negras.
Fundação Abrinq (2021), infelizmente, esta violação ainda é uma realidade no
brasil e pode estar mais próxima do que você pensa. de acordo com os últimos
dados divulgados pelo ministério da saúde e pelo sistema de informação de
agravos de notificação, só em 2020, mais de 29 mil casos de violência sexual infantil
foram notificados.
A violência sexual contra crianças e adolescentes é nucleada a partir de uma
estrutura patriarcal/machista e adultocêntrica que permeia a construção social e
cultural do Brasil. Mesmo com inúmeros mecanismos elaborados para prevenir esta e
outras formas de violência contra esse público, como os prescritos no Estatuto da
Criança e do Adolescente (1990) e leis decorrentes, ainda é comum atender famílias
que possuem crianças e adolescentes que sofreram dessa forma de violência.
A partir de Unicef (2013), Leacock (2019) e Lima (2019) podemos entender a
violência sexual como expressão de aspectos estruturais relacionados ao patriarcado,
machismo, ao sexismo e ao adultocêntrismo, que reproduzem uma hierarquia na qual
o homem passa a entender mulheres e crianças como objetos e que por isso,
entendem que devem satisfazer seus desejos e vontades. Além disso, tais hierarquias,
tendencialmente desqualificam as próprias denúncias realizadas.
A Violência Física configura-se como uma ação em que cause danos e agressão
física à vítima, causando-lhe sofrimento físico. Digiácomo e Digiácomo (2018),
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explicam que a mesma se configura como aquela em que “a ação infligida à criança ou
ao adolescente que ofenda sua integridade ou saúde corporal ou que lhe cause
sofrimento físico. Outra contribuição advém de Faleiros (2008) quando argumenta que:
CAPÍTULO 2
A LEI 13.431/2017: CONSTRUÇÕES, QUESTÕES E DESAFIOS
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Fluxos e protocolos são destinados a otimizar a atuação dos diversos órgãos e agentes
corresponsáveis, tanto no âmbito municipal quanto estadual, que mais do que nunca precisa aprender a
dialogar entre si e trabalhar de forma harmônica, coordenada e sobretudo eficiente, cada qual em sua
área (DIGIÁCOMO E DIGIÁCOMO, 2018, p.5).
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Assim como os “fluxos’’ e ‘’Protocolos’’ de atendimento (dentre outras questões de cunho ‘’ estrutural’’ e
coletivo), quanto estratégias de abordagem e atuação nos casos individuais que surgem, (sobretudo os
de maior gravidade/ complexidade)(Digiácomo e Digiácomo, 2018, p.10).
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também, que sejam publicados no site da prefeitura, que sejam socializados. Pois
assim, se possibilita um atendimento “padronizado”, que evite revitimização da criança
e do adolescente que foram vítimas ou testemunhas de violência. Nesse sentido de
refletir sobre a violência institucional, Foucault (1986) possibilita entender que a mesma
possui:
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir das análises realizadas é possível inferir que autores como Rizzini e
Pilotti (2011), Cypriano (2021), Del Priore (2010) contribuem para reflexão acerca da
construção da concepção de infância e adolescência no Brasil, bem como para
entendermos a trajetória de violações e a elaboração da doutrina da proteção
integral e os direitos previstos nesse processo. Outra tese por nós discutida é a de
que a lei 13.431/2017 e sua construção, pode-se entender como um dos mais
recentes mecanismos destinados a coibir a violência contra crianças e adolescentes,
nas análises realizadas constatamos, que em sua construção embase o
direcionamento no atendimento de crianças e adolescentes vítimas ou testemunhas
de violência, a configuração desta lei sancionada em 2017, visa estabelecer fluxos e
protocolos para realização dos atendimentos às vítimas e representa portanto, um
passo importante na prevenção e atendimento.
Ainda em primeira discussão, pontuamos casos reais de crianças vítimas de
violência, em que somente o legalismo pode falhar, por exemplo, no caso da chacina
da Candelária envolvendo a morte de várias crianças, uma vez em que a
implantação da lei para garantia de direitos já estava em vigor. Outros dois casos em
discussão foram do menino Bernardo e do Gabriel Fernandes de contexto
internacional, ambos em um contexto em que o sistema de garantia de direitos já
estava em vigor, mas que o papel do Estado e da rede de proteção em ambos os
casos foram negligentes , e inerentes durante todo o processo de julgamento.
A construção desses fluxos são o desenho da lei, vista de uma maneira
informativa e compreensão dos encaminhamentos, já os Fluxos discorrem de qual
maneira cada serviço integrado ao sistema de proteção do município, irá intervir
diante da situação apresentada. Pois a configuração destes modelos são primordiais
aos atendimentos das crianças e dos adolescentes, que foram vítimas ou
testemunhas de violência e que precisam passar por um processo de
acompanhamento e escuta. A formação desta contribuição durante a análise dos
fluxos de Paranavaí, Cianorte e Maringá, se configuraram de maneiras diferentes na
apresentação dos fluxos e protocolos de atendimento e contemplam peculiaridades
que podem ser usadas como modelo, por exemplo, o código de identificação da
instituição no caso de Paranavaí, a forma clara e didática do decreto 208 que explica
sobre os processo do fluxo de Cianorte. E a articulação da política de prevenção de
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REFERÊNCIAS
ACOSTAS, Ana Rojas; VITALE, Maria Amelia Faller. Família, Redes, Laços e
Políticas Públicas. 7º edição. São Paulo, Cortez: 2018.
BUTLER, J. Cuerpos que importán: sobre los limites materiales y discursivos del
sexo. Buenos Aires, AR: Paidós. 2005.
DEL PRIORE, Mary. História das Crianças no Brasil. Contexto: São Paulo, 2010.
DUARTE, Letícia. O Filho da Rua. Reportagem Especial. Jornal Zero Hora, Porto
Alegre, 2012.Disponível em:
http://zh.clicrbs.com.br/rs/noticias/pagina/filho-darua.html. Acesso em: 15 mai 2015.
FARIA, Ana Lúcia Goulart de. Para uma pedagogia da infância. Pátio: educação
infantil, Porto Alegre: Artmed, v.5, n.14, p.6-9, Out. 2007.
LIMA, Patricia dos Santos Lages Prata. Abuso infantil através de gerações:
herança mal dita. Curitiba: Juruá, 2019.
MORAES, José Carlos Sturza de. Conselhos Tutelares: entre a tutela de condutas
e a defesa de direitos humanos: o caso do menino Bernardo e outras histórias. 1 ed.
Maringá: Viseu, 2019.
NAÇÕES UNIDAS. OMS aborda consequências da violência sexual para saúde das
mulheres. 2022. Disponível em:
https://brasil.un.org/pt-br/80616-oms-aborda-consequencias-da-violencia-sexual-par
a-saude-das-mulheres. Acesso em: 05 dez. 2022.