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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PARANÁ - CAMPUS PARANAVAÍ

JULIA CRISTINA ANTUNIAZI

A Lei n. 13.431/2017 e a organização dos fluxos de


atendimento à criança e ao adolescente vítimas ou
testemunhas de violência: virtudes e desafios

PARANAVAÍ – PARANÁ 2023


JULIA CRISTINA ANTUNIAZI

A Lei n. 13.431/2017 e a organização dos fluxos de


atendimento à criança e ao adolescente vítimas ou
testemunhas de violência: virtudes e desafios

Trabalho de Conclusão de Curso


apresentado ao Colegiado de Serviço
Social da Universidade Estadual do
Paraná - UNESPAR, Campus Paranavaí,
como requisito à obtenção do título de
Bacharel em Serviço Social

Orientador/a: Prof. Me. Leonardo


Carvalho de Souza

Paranavaí - Paraná
2023
JULIA CRISTINA ANTUNIAZI

A Lei n. 13.431/2017 e a organização dos fluxos de atendimento à criança e ao


adolescente vítimas ou testemunhas de violência: virtudes e desafios

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Colegiado de Serviço


Social da Universidade Estadual do Paraná - UNESPAR, Campus Paranavaí,
como requisito à obtenção do título de Bacharel em Serviço Social.

BANCA EXAMINADORA

Leonardo Carvalho de Souza


Presidente: _________________________________________________________
Professor/a orientador/a

Maria Inês Barboza Marques


1º Examinador: ______________________________________________________
Professor/a examinador/a

Marilia Gonçalves Dal Bello


2º Examinador: ______________________________________________________
Professor/a examinador/a

Paranavaí, 2023
Dedico este trabalho a meus pais....

AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente aos meus pais, Odalice de Fatima Martins Antuniazi e


Edelcio Antuniazi e minha irmã, Juliana de Fatima Antuniazi, que em grande estima
proporcionaram apoio, carinho durante o meu processo na graduação, sem vocês
minha trajetória até aqui não seria possível. Não poderia esquecer de dos meus tios
que me acolheram durante esses quatro anos de graduação, e que foram a minha
segunda casa em Paranavaí, sempre me apoiando, Irani Aparecida Martins Tanno,
Claudio Yoshimi Tanno, Silvana de Lurdes Martins Peloso, Sandro Sergio Peloso e
Carlos Roberto da Silva.
Não poderia deixar de agradecer ao meu orientador Professor Leonardo
Carvalho de Souza, pelas valorosas contribuições, e ensinamentos ao decorrer da
jornada acadêmica, e durante o processo de construção do TCC e a imensa
paciência principalmente na escolha do tema, sendo em questão o tema sobre
criança e adolescente, que nunca cogitaria em escrever sobre, deixo aqui meus
sinceros agradecimentos e admiração, pelas contribuições e aprendizados ao longo
dessa jornada acadêmica.
Agradeço aos meus colegas de turma pelas experiências e contribuições ao
longo desses quatros anos de graduação, perpassados por grandes momentos
incríveis, mas também de dificuldades. Em especial, sou grata às minhas amigas
Talya de Souza Delfino, Suziele Cristina Martins Carvalho, Amanda Cristina Devechi,
por todos os momentos inesquecíveis dessa graduação de muitas risadas, choros e
fofocas.
Não é questão de querer
Nem questão de concordar
Os direitos das crianças
Todos têm de respeitar (Ruth Rocha)
ANTUNIAZI, Julia Cristina. A Lei n. 13.431/2017 e a organização dos fluxos de
atendimento à criança e ao adolescente vítima ou testemunha de violência:
virtudes e desafios. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Serviço Social)
– Universidade Estadual do Paraná – UNESPAR, campus Paranavaí, 2023.

RESUMO

Tomamos como problemática os inúmeros casos de violência contra o público


infantojuvenil, seja física, psicológica, sexual, institucional que em nossas análises
se processam a partir da violência estrutural, do patriarcado, do machismo e do
adultocentrismo, que desqualificam, diminuem ou secundariza crianças,
adolescentes e jovens. Com esta pesquisa, tivemos por finalidade analisar os
protocolos e fluxos elaborados por três municípios do Paraná a respeito do
atendimento à criança e ao adolescente vítimas ou testemunhas de violência a partir
da lei n. 13.431/2017. Buscamos nos apropriar de contribuições da teoria social
crítica e da sociologia da infância a fim de entender as virtudes e os desafios do
atendimento em relação a violência contra esse segmento populacional. A referida
pesquisa trata-se de uma análise bibliográfica e documental por meio das quais
esperamos poder contribuir com a qualificação e formulação dos protocolos e fluxos.
O recorte se deu a partir dos documentos produzidos sobre a temática em três
municípios (Paranavaí, Cianorte e Maringá). A partir da análise, destacamos e
enfatizamos aspectos que podem servir como diferentes modelos, que possibilitam a
qualificação legal e operacional da lei supracitada, seus decretos e discussões sobre
execução da mesma. Os resultados apontam para existência de virtudes em todos
os fluxos analisados e para possibilidade de replicar aspectos da organização de
cada um em outros municípios.

Palavras-chave: Criança e Adolescente, Fluxos/Protocolos, Violência, Rede de


Proteção.
ANTUNIAZI, Julia Cristina. Law no. 13.431/2017 and the organization of care
flows for children and adolescents who are victims or witnesses of violence:
virtues and challenges. Completion of course work (graduate in social work) –
Paraná state university – Unespar, Paranavaí campus, 2023.

ABSTRACT

We take as problematic the countless cases of violence against children and


adolescents, whether physical, psychological, sexual or institutional, which in our
analyzes are processed based on structural violence, patriarchy, machismo and
adult-centrism, which disqualify, diminish or put children in second place, teenagers and
young people. With this research, we aimed to analyze the protocols and flows
elaborated by some municipalities of Paraná regarding the assistance to children and
adolescents who are victims or witnesses of violence based on Law n. 13,431/2017.
We seek to appropriate contributions from critical social theory, decolonial perspective
and sociology of childhood in order to understand the virtues and challenges of care in
relation to violence against this population segment. This research is a bibliographical
and documentary analysis through which we hope to be able to contribute to the
qualification and formulation of protocols and flows. The clipping was based on
documents produced on the subject in three municipalities (Paranavaí, Cianorte and
Maringá). From the analysis, we highlight and emphasize aspects that can serve as
different models, which allow the legal and operational qualification of the
aforementioned law, its decrees and discussions on its execution. The results point to
the existence of virtues in all analyzed flows and to the possibility of replicating aspects
of the organization of each one in other municipalities.

Keywords: Children and Adolescents, Flows/Protocols, Violence,


Protection Network.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 – Sobre a construção da problemática 12


LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas


ECA Estatuto da Criança e do Adolescente
ONU Organização Nacional das Nações Unidas
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO…………………………………………………………………………….. 11

1. A CONSTRUÇÃO DA CONCEPÇÃO DE INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA NO


BRASIL: ENTRE VIOLAÇÕES E PROMOÇÃO DE DIREITOS................................13

2. A LEI 13.431/2017: CONSTRUÇÕES, QUESTÕES E DESAFIOS......................26

CONSIDERAÇÕES FINAIS……………………………………………………………… 36

REFERÊNCIAS……………………………………………………………………………. 37
11

INTRODUÇÃO

A Violência contra crianças e adolescentes no Brasil é histórica, se processa


mediante a um processo histórico e cultural marcado na construção do país,
permeado pela exploração e desigualdades sociais estruturais e estruturantes.
Desse modo, trazemos a questão da construção histórica do país, nos moldes do
Brasil colonial, imperial e republicano nos quais predominaram contextos de
exploração e vitimização de crianças e adolescentes (RIZZINI; PILOTTI, 2011).
Ademais, há casos em que o Estado que deveria ser o principal provedor de
políticas públicas e de subsídios para manutenção e construção de uma sociedade
igualitária, mas é o mesmo que vitimiza e traz consigo características punitivas, por
exemplo, as expressas por meio das criações dos códigos de menores (1927, 1979)
dentro de uma política de traços higienista. Somente com a Constituição Federal de
1988 tal cenário começa a mudar, as formas de relações tanto em um contexto
social, quanto no campo dos direitos sociais principalmente para as crianças e
adolescentes. Após todo esse processo de construção das relações sociais, e de
exploração e vitimização de crianças e adolescentes, se conquista o Estatuto da
Criança e do Adolescente (ECA), concretizando de fato a garantia de direitos e
forjando a Doutrina da Proteção Integral1 em detrimento da Doutrina da Situação
Irregular2 sobre todo o processo histórico de lutas permeadas desde o período
colonial (RIZZINI; PILOTTI, 2011; MORAES, 2019).
A problemática sobre a violência é então, histórica contra crianças e
adolescentes no Brasil e por vezes, além da vivência da violência, as crianças
vivenciavam a revitimização, que era o processo de contar a violência várias vezes,
ser desacreditado ou mesmo ser culpabilizado, pressionado após sofrer uma
violência. É a fim de resolver ou amenizar a problemática da revitimização, que se
propõe a lei n. 13.431/2017, vinculada à Doutrina da Proteção Integral, que traduz a
compreensão de direitos voltados à população infantojuvenil brasileira. Ela está
prevista na legislação do país desde a aprovação da Constituição Federal de 1988 e

1
A Doutrina da Proteção Integral traduz a compreensão de direitos voltados à população infantojuvenil
brasileira. Ela está prevista na legislação do país desde a aprovação da Constituição Federal de 1988 e
mais especificamente, no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), de 1990 (AMORIM, 2017).
2
A Doutrina da Situação Irregular entendia que os menores eram apenas sujeitos de direito ou
mereciam consideração judicial, quando se encontravam em uma determinada situação, caracterizada
como "irregular", por exemplo, estar em situação de rua, ou cometendo pequenos delitos. Havia uma
discriminação legal quanto à situação do menor, somente recebendo respaldo jurídico aquele que se
encontrava em situação irregular, os demais, não eram sujeitos ao tratamento jurídico ou enfocados pelo
estado ou por políticas públicas particulares.
12

mais especificamente, do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), em 1990


(AMORIM, 2017).
A indagação da realidade nesta pesquisa originou-se por meio da elaboração
de um trabalho para o Seminário de Gênero, que teve como foco a literatura
infantojuvenil enquanto instrumento de prevenção à violência sexual contra crianças e
adolescentes. O foco dessa pesquisa foi a análise dos fluxos e protocolos de
atendimento às crianças e adolescentes vítimas ou testemunhas de violência de três
municípios do Paraná (Paranavaí, Cianorte e Maringá), diante da compreensão da lei
n. 13.431/2017, não houve intenção de sistematizar uma comparação entre tais
municípios, até porque isso demandaria trazer mais indicadores de cada um deles, ao
passo que nos dedicamos a pensar cada um como um modelo de atendimento e
destacar virtudes e desafios a partir de estudos e publicações sobre a lei e
parâmetros pensados a partir dela. A problemática da pesquisa pode ser sintetizada
por meio da imagem a seguir:

1. Figura sobre a construção da problemática:

Fonte: a pesquisa, elaboração da autora, 2022

Diante dessa indagação a pesquisa se estrutura a partir de dois capítulos, no


primeiro capítulo tratamos de refletir sobre a gênese e modelos explicativos a
respeito da violência estrutural, do patriarcado, machismo e adultocentrismo e como
são estruturadores dos diversos tipos de violência contra crianças e adolescentes.
Trazemos análises de casos para refletir acerca de intervenções de políticas
públicas e sociais que poderiam desempenhar o papel de prevenir e evitar violências
contra o público mencionado.
Neste contexto, no segundo capítulo, tratamos da discussão a respeito da lei
n. 13.431/2017, decretos federais e do estado do Paraná e suas contribuições. Bem
13

como apresentamos as análises de leis, decretos, fluxos, protocolos e outros


documentos, produzidos pelos municípios selecionados (Paranavaí, Cianorte e
Maringá).
14

CAPÍTULO 1

A CONSTRUÇÃO DA CONCEPÇÃO DE INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA NO BRASIL:


ENTRE VIOLAÇÕES E PROMOÇÃO DE DIREITOS

No Brasil colônia os levantes das expressões sociais e direitos sociais,


perpetuavam pelas lutas, no processo de construção do país passando por forte
exploração europeia, trazendo influências e costumes da concepção europeia, assim
tais mudanças permeiam-se no meio brasileiro em que abrange inúmeras culturas,
crenças, raças e religiões com a chegadas de imigrantes e escravos no país.
Schwartz (1999) apresenta a história da formação do Brasil como colônia e, ao
mesmo tempo, coloca o papel do poder do Estado e das condições econômicas em
uma posição central dentro das explicações acerca do pensamento dos homens e
mulheres de várias camadas sociais. Esta união dos substratos material, cultural e
mental da vida nos estudos históricos levaria ao questionamento de uma série de
tradições historiográficas, proporcionando uma discussão que nos permite entender
percursos sobre a economia, a cultura e a formação da sociedade brasileira.
Tais mudanças expressaram grandes características sociais e econômicas
sob forte exploração da cana de açúcar e do pau brasil, do ouro. Neste contexto de
relações coloniais as garantias e condições de vida, se colocam em grande
desmonte, para manutenção de necessidades básicas decorrentes dos meios
familiares. Levando em conta o contexto social, em que muitas famílias não tinham
condições de manter seus filhos e de subsidiá-los, diante de um contexto cultural e
econômico, no qual o país se encontrava no momento, a colonização no Brasil
marca-se por um contexto de grande exploração e escravização, exploração tanto
da força de trabalho, quanto dos recursos naturais que o país oferecia, com tudo a
grande desigualdade das classes sociais refletem nas condições de vida e de
subsídios da manutenção da vida entre as famílias, ao passo que pela historiografia
podemos inferir que crianças e adolescentes eram por vezes violados em sua
dignidade (CYPRIANO, 2021).
A compreensão da concepção de infância e adolescência no Brasil nos
demanda contextualizar esse processo e entender, que acarreta questões históricas
do próprio passado colonial do país. Com a saída desses meandros coloniais e
início da urbanização no final do século XIX a criança e os adolescentes passam a
ser vistos como força de trabalho urbana, barata e vitimizada, no sentido de não
reconhecimento dos mesmos enquanto sujeitos de direitos legais.
15

Esta construção sócio-histórica da infância e adolescência no Brasil demarca a


relação de contextos sociais, divisão de classe. A vitimização em um contexto de
colonização do país, dentro de um processo de escravidão, da qual os agravamentos
das expressões sociais estavam em grande acirramento junto ao contexto de
exploração, por vezes, respondidos com caridades, que não davam conta das
barbaridades ainda presentes na realidade do país. Rizzini e Pilotti (2011) fazem uma
linha do tempo interessante, quando colocam que nossas crianças já estiveram nas
mãos dos colonizadores e jesuítas, depois nas mãos dos senhores de escravos, nas
mãos das Santas Casas de Misericórdia, nas mãos dos asilos, nas mãos dos
higienistas e filantropos, nas mãos dos tribunais e casas de correção, nas mãos da
polícia, nas mãos dos patrões, da família, do Estado, das Forças armadas, dos
juizados, até a atualidade, quando indicam que as crianças estão nas mãos da
sociedade civil, por meio da responsabilidade compartilhada. Nesse sentido, os
autores denunciam diversas facetas de exploração do trabalho, inculcação de cultura
e violações pelas quais passaram/passam as crianças e adolescentes.
Segundo Del Priore e Passetti (2010), às pessoas que moravam no subúrbio,
depois conhecido como periferia, em casas de aluguel, quartos de cortiços, barracos
em favelas ou construções clandestinas passaram a compor a prioridade do
atendimento social.
Após o processo colonial, adentramos no período imperial, no qual as
realidades postas perpetuam ainda nas desigualdades, e exploração da mão de obra
escrava, de recursos naturais bastantes presentes, mas com uma configuração de
Estado pautadas em leis, parlamentos e na própria monarquia burguesa. Ainda sob
forte influência da igreja católica e da burguesia nacional, detentoras de grande
influência e poder aquisitivo, a sociedade da época ainda pautada na marginalização,
precarização social, neste sentido, muitas famílias não tinham outra escolha em
colocar suas crianças e adolescentes para trabalhar, nas casas dos senhores ou
ficavam à mercê da caridade ou da marginalização

O mito criado em torno da família das classes empobrecidas


serviu de justificativa para a violenta intervenção do Estado neste
século. Com o consentimento das elites políticas da época, juristas
delegaram a si próprios o poder de suspender, retirar e restituir o Pátrio
Poder, sempre que julgassem uma família inadequada para uma
criança (RIZZINI; PILOTTI, 2011, p. 25, grifo nosso).

Neste contexto imperial as expressões da questão social ainda perpetuam,


das relações com o passado colonial trazendo de exploração dos recursos naturais
16

do país e da força de trabalho escrava, levando em conta todo esse processo de


construção de uma centralidade de uma monarquia europeia, trazendo a
configuração do Estado voltado para o favorecimento da classe burguesa que se
formava no país, e com cunho punitivista reforçado contra as camadas populares,
com o código penal inferiorizando a criança e o adolescente como sujeitos
marginalizados. Del Priore (2010) explica que a infância, sempre era vista como a
“semente do futuro”, era alvo de sérias preocupações. Os criminalistas, diante dos
elevados índices de delinquência, buscavam por vezes na infância a origem do
problema: uma das causas do aumento espantoso da criminalidade nos centros
urbanos, um processo que chama de corrupção da infância. Por isso é tão
importante considerar a desigualdade do contexto para entender a proteção e o
cuidado do período.
Dentro desta percepção da infância de interiorização e vitimização, é
elaborado o primeiro código penal com cunho punitivo das relações com as crianças
e adolescentes, estabelecendo que os “menores” passariam a ser recolhidos e
levados a casas de correção, nas quais residiam até os 17 anos de idade em
medida. Segundo Del Priore (2010), instaurado o regime republicano, os juristas e
legisladores logo trataram de elaborar um novo Código Penal, que estivesse em dia
com a realidade social do país, e que substituísse a contento aquele elaborado no
regime anterior, de 1831.
Já em 1890 saía a versão quase definitiva do código republicano, que em
muito pouco inovou no que dizia respeito à menoridade e sua imputabilidade. O
código do Império rezava, em seu artigo 10 que “[...] não se julgarão criminosos os
menores de 14 anos”. Porém, estabelecia que aqueles garotos que, mesmo não
atingindo a idade mínima de 14 anos, tivessem agido de forma consciente, ou seja,
tivessem agido com “discernimento”, deveriam ser encerrados em uma casa de
correção: art.13 – Se se provar que os menores de 14 anos, que tiverem cometido
crimes, obraram com discernimento, deverão ser recolhidos à Casa de Correção,
pelo tempo que ao Juiz parecer, contanto que o recolhimento não exceda a idade de
17 anos (DEL PRIORE, 2010).
O Brasil diante das mudanças históricas e sociais no país, perpetuou em
diversos marcadores econômicos e sociais, resultando em grande vitimização de
crianças e adolescentes. Contudo, ao longo deste processo conseguiu-se alguns
avanços, em passos lentos. Um desses pode ser entendido como o período de
abertura da ditadura militar (1964-1984), no qual a concretização da constituição
17

federal e dos direitos humanos de crianças e adolescentes se processam de modo


articulado.
Em termos epistemológicos, podemos destacar que em detrimento de
rompimentos, o próprio partido comunista, com a ortodoxia com o marxismo dentre
outros, temos um grande processo com a infância, em que a criança assume um
papel forte dentro da historiografia, dentro de um contexto ocidental e de maneira
mundial, sob os direitos da criança e do adolescente e na sequência temos a
promulgação do estatuto da criança e do adolescente.
Nesse sentido, o desenvolvimento de áreas de estudo e pesquisa a respeito
dessa temática, as legislações, políticas públicas, etc. Possibilitaram trazer à tona o
nível de violência ao qual crianças e adolescentes sofrem no mundo. Ressaltando em
que esse desenho desta situação é muito comum, e trazer à tona e romper com este
discurso, modificado principalmente no século XX em que com a escola de Frankfurt,
foi incisiva na questão da denúncia, de violência que sempre foi intensa no Brasil, e
que a ainda há inúmeros casos subnotificados. Neste contexto, identifica-se como é
difícil não só no Brasil, mas no geral que as relações entre as leis e o tempo dela
para se tornar algo efetivo, em que ausência de uma imediaticidade na validação dos
direitos, uma desproteção ainda maior para as crianças e os adolescentes (SAWAIA,
2018).
A Criança e o Adolescente no Brasil eram vistos como sujeitos de não
direitos, inferiores aos adultos, vistos como força de trabalho barata e de fácil
acesso no contexto da época. No Brasil após a escravidão, apresenta-se diante do
estado como provedor e garantidor das necessidades de crianças e adolescentes
órfãos ou em situação de rua, vistos como sujeitos marginalizados.
Neste caráter em 1927 cria-se o 1º Código de Menores como caráter punitivo,
as crianças órfãs ou em situação de rua, vistos como sujeitos marginalizados no
qual, a igreja e as casas de menores realizavam um papel higienista.
Em 1979 temos a aprovação do 2º código de menores em que o Brasil vai
estabelecer dar continuidade à doutrina da situação irregular desse setor dentro de
sua legislação. Ressaltando que as leis da época inferiorizam as crianças e
adolescentes em relação aos adultos, reproduzindo a ideia do adultocentrismo.
Somente com a promulgação da constituição federal em 1988 em que de fato o
Brasil promove, garantia de direitos dentre eles a de crianças e adolescentes os
reconhecendo como sujeitos de direitos. Somente a partir desse marco que se
passa pensar em uma realidade bem diferente da apresentada no Brasil colônia,
império e no primeiro século de república, onde as crianças e adolescentes, eram
18

submetidos ao trabalho nas ruas, sem quaisquer meios de garantia de direitos.


Diferentemente, a CF de 1988 forja a proteção do público infantojuvenil quando
coloca que:

Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à


criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito
à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à
profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à
convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda
forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade
e opressão. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 65, de
2010).

Em 1990, no Brasil promulga-se a lei n. 8.069, de 13 de julho sob consolidação


dos direitos da criança e do adolescente, O Estatuto da Criança e do Adolescente
(ECA), que afirma todo o processo de estabilização de direitos civis. Culturais,
políticos, dignidade humana, respeito, liberdade, convivência familiar entre outros.
Contextualizando o Estatuto da Criança e do Adolescente, diante do sistema protetivo
em que são as bases de um aparato legal, perante as transformações da realidade
contra a violência às crianças e adolescentes. Tal lei propiciou um avanço no contexto
histórico cultural do Brasil em termos de violações de direitos e vitimizações, em
entender a criança e ao adolescente como sujeitos de direitos por meio da sociedade
civil (BRASIL, 1990).
A partir do modelo da Organização das Nações Unidas (ONU), da qual o
Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), reproduziu em grande parte, o teor da
declaração Universal dos Direitos da Criança de 1979, e da convenção internacional
sobre direitos da criança aprovada pela Organização das Nações Unidas (ONU) de
1989. Mesmo sendo um reflexo de mudanças internacionais, o país tardou em
cumprir os compromissos assumidos, ao promulgar formalmente a convenção no
Brasil em 1990.
Os Direitos das Crianças e dos Adolescentes foram reconhecidos/aprovados
nesse contexto, assim como conhecemos na atualidade, reconhecendo também as
prerrogativas internacionais das quais o Brasil é signatário. A conceituação e
concepções em relação à infância e à adolescência demonstraram mudanças
significativas, pois a criança e o adolescente passam a serem vistos como sujeitos
de direitos, demonstrando assim uma percepção bem diferente da anterior, na qual a
ideia de infância associada à passividade, ou a imagem da criança como alguém
que virá a ser. A ideia de presente, de construir no hoje uma realidade melhor para a
ser uma demanda (FALEIROS, 2007).
19

O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), regulamenta em seu artigo 4


em que é dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do Poder
Público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à
vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização,
à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária
(BRASIL, 1990).
A Caracterização de direitos da criança e ao adolescente, demarcam-se em
contextos de lutas econômicas, culturais em contextos internacionais, as crianças e
adolescentes necessitam serem vistos como sujeitos, formadores de opinião dentro
da sociedade, como transformadores do mundo, e, deixar de lado como sujeitos que
um dia será, sem exploração e vitimização da criança e do adolescente garantindo o
seu reconhecimento por meio das políticas pública.
Tendo em vista que após todo este contexto cronológico de vitimização e
garantias de direitos, o contexto de conflitos internacionais, como a Guerra Fria
(1947) marca a convenção sobre direitos da criança adotada pela Assembleia geral
das Nações Unidas (ONU), conquista-se a identificação dos direitos humanos sob a
criança e o adolescente como atores sociais, econômicos, políticos, civis e culturais.
A após esta contextualização da linha histórica, do processo garantia de direitos da
criança e do adolescente, pontuamos que em 1988 com a constituição federal do
Brasil, são de fatos assegurados pelo estado deixando a sobra de um caráter punitivo
e vitimizador, mas de provedor de políticas públicas e do bem estar.
Neste sentido, em 1990 temos a elaboração e promulgação do Estatuto da
Criança e do Adolescente (ECA), em que de fato assegura-se os direitos à criança e
ao adolescente, promovendo a promoção integral dos direitos e promoção das
políticas públicas. Neste contexto, a consolidação do Estatuto da Criança e do
Adolescente marca-se a construção de políticas públicas e sociais, proteção,
garantias sem mais um caráter punitivo e vitimizador sobre a criança e o adolescente.
Provendo em seu artigo 15 e 16 os direitos fundamentais, sendo eles no
Art.15. A criança e o adolescente têm direito à liberdade, ao respeito e à dignidade
como pessoas humanas em processo de desenvolvimento e como sujeitos de direitos
civis, humanos e sociais garantidos na Constituição e nas leis. Art. 16. O direito à
liberdade compreende os seguintes aspectos: I - ir, vir e estar nos logradouros
públicos e espaços comunitários, ressalvadas as restrições legais; II - opinião e
expressão; III - crença e culto religioso; IV - brincar, praticar esportes e divertir-se; V -
participar da vida familiar e comunitária, sem discriminação, VI - participar da vida
política, na forma da lei; VII - buscar refúgio, auxílio e orientação (BRASIL, 1990).
20

A Família dentro das relações sociais se coloca no caráter de proteção, dentro


do núcleo familiar em que a criança e ao adolescente, ficam protegidos, mas também
podem se colocar em situação de violação, dando a família como um duplo caráter
violador e protetivo. Sendo assim, a família está ligada a uma estrutura de relações
da sociedade, a partir delas que as relações passam a ser estabelecidas junto a
sociedade, pois a família coloca-se como um espelho das relações sociais.
Segundo Qvortrup (2011) a infância é tratada como um período de
aprendizagem dos elementos simbólicos que fazem parte da sociedade, dessa é
atribuída à criança uma condição de inferioridade em relação ao adulto. Essa posição
de inferioridade é presente em quaisquer crianças que experienciam a infância
ocidental, estabelecendo-se de modo estrutural e conceitualmente análoga à
concepção de classe, principalmente pela posição em que estão os integrantes da
infância e sua relação com os grupos sociais dominantes.
A Criança e o Adolescente nos meandros do processo de construção histórica
em que vivenciam as relações sociais, das quais elas estão inseridas e neste
contexto, em que as relações deveriam ser como todo um espaço de abertura das
relações, culturais, sociais, econômicas, abrindo o espaço para as expressões do
pensamento da criança e do adolescente a sua visão de mundo. segundo Faria
2007, Para que haja escuta da infância é preciso que nos comprometemos a ouvir
os gestos, os movimentos e as brincadeiras. É essencial que se conceda
oportunidade para que as crianças sejam ouvidas, pois ao contrário do que prega a
sociedade adultocêntrica, elas já têm voz. É preciso escutá-las, sem qualquer tipo
de preconceito, ainda que elas não falem ou escrevam, reconhecendo que são
capazes de construir múltiplas relações, até mesmo com adultos e crianças de
idades diferentes.
Segundo Losacco (2018) a configuração familiar modifica-se profundamente.
Muito embora, os meios de divulgação e mesmo alguns profissionais da área da
infância e da juventude enfatizem que a instituição família encontra-se em processo
de desestruturação, de desagregação ou de crise, temos que ter claro que, mesmo
aquelas que apresentem problemas, ela é ainda um "porto seguro" para os jovens e
as crianças.
A partir da construção da infância é que podemos entender toda
contextualização das relações, entre a criança e o adolescente e o adulto mesmo
diante da cultura do adultocentrismo. No corpo social da qual a cultura adultocêntrica
coloca a criança como um ser diferente, age e pensa diferentemente do adulto, essa
inferioridade das relações de ambas, impactam na inferioridade dos gêneros como
21

uma questão hierárquica colocando o homem no topo, mulheres e crianças como


inferiores. Assim, patriarcado, machismo e adultocentrismo se articulam (CYPRIANO,
2021).
Esta inferioridade se acarreta ao longo da história, das relações sociais dentro
de um caráter vitimizador das relações sociais, em que o homem tem o livre arbítrio
para pensar e expressar, as mulheres e crianças não expressam as suas opiniões
perante a sociedade. Segundo Cypriano (2021), a discussão sobre gênero3 foi
construída com o objetivo de questionar a naturalização da diferença sexual que
coloca homens e mulheres em diferentes hierarquias. Cotidianamente, nos
deparamos com a profunda desigualdade entre mulheres e homens. Desde as
atitudes comportamentais, divisão de trabalho, gostos, objetivos de vida e submissão
feminina e dominação masculina, a título de exemplo, a mulher é vista como posse
do homem.
O Adultocentrismo4 se coloca dentro de uma relação de inferiorização da
criança, em que as discrepâncias entre as relações se mostram em um processo em
que a criança é posta como sujeito não pensante, sem formação de opinião perante
a sociedade, dentro de uma cultura na qual o adulto se expressa e desenvolve as
suas relações, com pleno senso de julgamento na sociedade.

O Adultocentrismo confere competências às crianças para que se


transformem em adultas no futuro, abstraindo as características da própria
infância, convertendo essa fase da vida em apenas uma passagem, somente
um vir a ser, no qual assimilamos a forma de como devemos nos relacionar e
a nos incorporar à sociedade vigente. A hierarquização que ocorre com base
na faixa etária, sobrepondo o poder do adulto em relação à criança pode ser
concebida como uma relação colonial, a qual desqualifica a língua, a cultura e
os saberes das crianças (CYPRIANO, 2021, p. 84).

Neste contexto, a infância se coloca dentro de um processo de aprendizagem,


de descobertas mediante as relações sociais. Conforme Cypriano (2021) esse modo
de compreensão da infância possibilita entender as crianças como sujeitos que
constroem as relações sociais, concedendo visibilidade das singulares das crianças e
as suas relações com o mundo, evidencia a construção das culturas infantis e
descolonizando a concepção adultocêntrica que carregam em si.

3
O gênero é um modo de regulação social, já que o sujeito só existe na medida em que se subordina às regras
determinadas e validadas dentro de sua cultura ou sociedade (BUTLER, 2005, p. 85).
4
Alguns estudos trazem os termos cultura “adultocrática” ou “adultismo”, que se referem ao mesmo processo, são
um conjunto de ideias que desqualifica e inferioriza crianças, adolescentes e jovens. Essa cultura e matriz não
possui intenção de reconhecer as particularidades e promover os direitos desse público. Ao contrário, entende o
público infantojuvenil como um “vir a ser”, retira a legitimidade das pautas do público infantojuvenil e com
frequência, promove violação de direitos humanos desse público, sempre minimizam as pautas de crianças,
adolescentes e jovens (UNICEF, 2013; QVORTRUP, 2011).
22

Estas relações vivenciadas mostram a criança dentro do seu processo de


formação que eles são formadores de opiniões, sejam elas das relações culturais,
sociais, econômicas, dentre outras em que neste meio mostra em que a infância
acarreta relações de descobertas, dos meios das relações em que a vivência tanto
socialmente, quanto culturalmente. Crianças e adolescentes são produtores de
cultura e não meros consumidores do mundo adulto e social.
Mesmo com os avanços que as legislações internacionais e nacionais
propiciaram, ainda é comum identificar casos de violações de direitos humanos na
sociedade brasileira. Que em nossas análises são motivados em grande medida
pela desigualdade estrutural, pelo machismo, patriarcalismo e adultocentrismo que
podem ser delimitados em inúmeros casos de violência contra crianças e
adolescentes. Além disso, o racismo, questões de gênero, de classe, território e
etnia estão presentes também. E nesse sentido que refletir sobre alguns casos
ajuda a entender como essas matrizes estão presentes na nossa sociabilidade e
permeiam as infâncias e juventudes.
Trazendo ao contexto atual, pode-se pensar sobre a chacina da candelária5,
que explicita a desigualdade, racismo, violência de classe, se enraízam diante deste
caso. A igreja da candelária localizada na cidade do Rio de Janeiro, foi o cenário no
qual, no ano de 1993 vários jovens em situação de rua, abrigavam-se nas
escadarias da igreja e ficaram feridos, mais oito outros jovens foram assassinados a
queima roupa, por sete homens mediante este ocorrido, e importante ressaltar que
estes jovens eram negros. Demarcando a vulnerabilidade de raça, marcada por um
país com uma cultura racista e misógina, de um país que a pouco havia assegurado
os direitos da criança e o adolescente com a constituição de 1988, um direito
apenas no papel, pois o estado ainda mostra que as expressões da questão social,
não são prioridade. De uma constituição já estava em vigor a cinco anos, desde o
ocorrido na candelária (ALMEIDA, 2018).
Reforçando um Estado republicano que construiu legalmente, a garantia da
proteção e dos direitos civis e sociais, as crianças e adolescentes, mas que viola ao
permitir que estes jovens em que se encontravam em situação de rua, estejam
desassistidos e vulneráveis a situação, como esta da chacina da candelária, uma
impunidade e uma demora no julgamento desses infratores. A obra de Moraes
(2019) trata sobre o caso do menino Bernardo em que o autor nos traz a
discrepância entre a lei a realidade, permeadas por um sistema em que a proteção

5
Disponível em:
https://memoriaglobo.globo.com/jornalismo/coberturas/chacina-na-candelaria/noticia/chacina-na-candelaria.ghtml.
Acesso em 20 nov. 2022.
23

dos direitos da criança e do adolescente, deveriam ser colocados em primeiro plano,


quando a prevenção e proteção tanto na lei quanto na própria rede de proteção
falham e possibilitam a violação de direitos humanos de crianças e adolescentes.

Nesta perspectiva de defasagem dos direitos, às crianças e adolescentes. E a


partir do caso do menino Bernardo, em que as violações de direitos e
principalmente judiciais tomam proporções inimagináveis mediante a falha na
proteção dessa criança, podemos inferir que o adultocentrismo é uma matriz
presente, assim como o patriarcado. O Caso do menino Bernardo se coloca
diante da falha da rede de atendimento acopladas entre os conselhos
tutelares, Ministério Público, as delegacias especializadas e nas varas da
infância e da juventude, que falharam em garantir os direitos e a proteção
de um menino de 11 anos, que estava em situação vulnerável e sofreu
inúmeras violações de direitos nas mãos da própria família [...] (LYARA et al,
2018, p. 103, grifo nosso).

Contexto muito diferente do que apresentado nos apontamentos feitos durante


o processo, do caso do menino Bernardo, envolvendo o pai médico, a madrasta
enfermeira, amigos da família colocados como de terceiro grau, e uma assistente
social, que ajudou a cavar a cova do menino. Em que a rede de proteção ao chegar à
demanda do caso, e as realidades apresentadas pela própria vítima, olhar com mais
atenção e deste modo, evitar a morte do menino Bernardo.
Segundo as definições processuais diante do caso do menino Bernardo coloca
em evidência o sistema protetivo de defesa, junto à assistência social, das quais
deveriam serem provedores a proteção e a segurança, ainda carrega forte questões
estruturais culturais, embasadas por recorrências históricas mediante a demora na
sanção de leis a fim de prover a constante na proteção contra a criança e o
adolescente, a falta a sistematização da proteção social resultasse na vitimização e
na banalização das estruturas de proteção a infância (MORAES, 2019).
Apesar de um longo processo de construção histórico e social, em que o
mundo perpassou ao longo dos séculos com a precarização de direitos
principalmente de crianças e adolescentes, nos levou a construção da constituição de
1988 e após anos, enfim a criação do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA),
perpassando por mudanças significativas na atenção e proteção da infância. Neste
contexto, a criação de espaço, para o atendimento de intercorrências se
multiplicaram, como no caso dos conselhos tutelares, Ministério Público, nas
delegacias especializadas de polícia, varas de infância e juventude dentre uma vasta
infinidade de organismos, diante da prevenção e combate às violações de direitos da
criança e do adolescente.
As redes de entendimento são a porta de entrada para que este funcionamento
das políticas sejam planejados, para que este funcionamento seja um espaço
24

acolhedor e não de vitimização, nesta relação a própria lei perpassa ainda por
grandes limitações diante das decisões de inserção da criança no meio familiar,
limitações estas que resultaram na tragédia do menino Bernardo, mostram que é
preciso uma ação ampla e imediata qualificação de toda a rede de proteção para
toda criança ou adolescente em situação de risco e inclusive atuação mais intensa
na prevenção (MORAES, 2019).
O caso do menino Bernardo e sua repercussão fomentaram a promulgação
da Lei Menino Bernardo ou Lei da Palmada como foi apelidada, preferimos o
primeiro nome, pois reconhece a demanda por rechaçar qualquer forma de violência
no processo educativo (MORAES, 2019). O apelido “Lei da Palmada” incorre em
duas interpretações que até uma palmada deve ser radicalmente recusada na
educação ou sugerir que as violências são semelhantes à uma palmada, o que não
é verdade, pois conforme dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública, em
2020, ao menos, 267 crianças de 0 a 11 anos e 5.855 crianças e adolescentes de 12
a 19 anos foram vítimas de mortes violentas intencionais.
Ou seja, trata-se de 6.122 crianças e adolescentes que morreram por
causas violentas em um ano. Nesse sentido, não se trata somente de uma
palmada, mas da reprodução de uma violência sistemática e letal contra crianças e
adolescentes. Portanto, é catedral quando a lei n. 13.010 de 26 de junho de 2014 que
prevê que crianças e adolescentes tenham o direito de ser educados e cuidados, sem
quaisquer usos de castigos físicos ou tratamento cruel, como forma de correção,
disciplina e educação integrantes da família ampliada, pelos responsáveis, pelos
agentes públicos executores de medidas socioeducativas ou por qualquer pessoa
encarregada de cuidar deles, tratá-los, educá-los ou protegê-lo.
Em seu artigo 5º, o Estatuto da Criança e do Adolescente determina que
“nenhuma criança ou adolescente será objeto de qualquer forma de negligência,
discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão, punido na forma da lei
qualquer atentado, por ação ou omissão, aos seus direitos fundamentais” (BRASIL,
1990, p. 10).
Outro caso, de repercussão internacional de violência contra criança, é do
menino Gabriel Fernandes, de 7 anos, nos Estados Unidos (EUA), o qual foi morar
com a mãe e o padrasto e mais dois irmãos pequenos, com a finalidade de
conseguir receber benefícios sociais. As percepções da violência foram identificadas
pela professora, para a qual o mesmo relatou que sofria violências, apanhando de
cinto. Não houve avanço das denúncias e intervenções que pudessem ofertar a
proteção de Gabriel. O menino vivenciava constantes agressões sendo bem visíveis,
25

pelo corpo, esta relação de abuso cometidas pela própria mãe e o namorado,
reforçam a ideal do adultocentrismo de uma relação de interiorização da criança.
Segundo Cypriano (2021), o adultocentrismo ao inferiorizar e objetificar as
crianças faz parte de um processo que produz e reproduz violências contra crianças
e adolescentes. Ademais, sobrepõe o poder do adulto em relação à criança pode ser
concebida como uma relação colonial, a qual desqualifica a língua, a cultura e os
saberes das crianças, enquanto sujeitos produtores de cultura e não meros
reprodutores.
Segundo a reportagem da BBC NEWS BRASIL, relatos dos próprios irmãos de
Gabriel, que testemunharam a portas fechadas no julgamento por serem menores
de idade, confirmaram que o garoto era forçado a comer excrementos de gatos se
não limpasse bem a bandeja do animal. Potencializando a relação de vitimização
por parte da criança e a relação adultocêntrica, como processo de inferiorização da
criança e do adolescente.
Ademais, e ainda a fim de pensar as características da violência contra crianças
e adolescentes no Brasil, temos indicativos que apontam para uma questão de
gênero, no caso de violências abusos sexuais a maioria são meninas e negras.
Fundação Abrinq (2021), infelizmente, esta violação ainda é uma realidade no
brasil e pode estar mais próxima do que você pensa. de acordo com os últimos
dados divulgados pelo ministério da saúde e pelo sistema de informação de
agravos de notificação, só em 2020, mais de 29 mil casos de violência sexual infantil
foram notificados.
A violência sexual contra crianças e adolescentes é nucleada a partir de uma
estrutura patriarcal/machista e adultocêntrica que permeia a construção social e
cultural do Brasil. Mesmo com inúmeros mecanismos elaborados para prevenir esta e
outras formas de violência contra esse público, como os prescritos no Estatuto da
Criança e do Adolescente (1990) e leis decorrentes, ainda é comum atender famílias
que possuem crianças e adolescentes que sofreram dessa forma de violência.
A partir de Unicef (2013), Leacock (2019) e Lima (2019) podemos entender a
violência sexual como expressão de aspectos estruturais relacionados ao patriarcado,
machismo, ao sexismo e ao adultocêntrismo, que reproduzem uma hierarquia na qual
o homem passa a entender mulheres e crianças como objetos e que por isso,
entendem que devem satisfazer seus desejos e vontades. Além disso, tais hierarquias,
tendencialmente desqualificam as próprias denúncias realizadas.
A Violência Física configura-se como uma ação em que cause danos e agressão
física à vítima, causando-lhe sofrimento físico. Digiácomo e Digiácomo (2018),
26

explicam que a mesma se configura como aquela em que “a ação infligida à criança ou
ao adolescente que ofenda sua integridade ou saúde corporal ou que lhe cause
sofrimento físico. Outra contribuição advém de Faleiros (2008) quando argumenta que:

Essa violência é acompanhada pelo medo, pelo terror, pela


submissão, pelo espanto, pelo sofrimento psíquico,
constituindo-se ao mesmo tempo em violência psicológica. No
âmbito familiar, essas manifestações se vinculam ao uso da força e do
poder na relação de superioridade ou autoridade que uma pessoa
exerce sobre outra que dela dependem ou que a ela esteja vinculada
por laços afetivos, de parentesco ou de trabalho, dentre outros. A
violência física é acobertada pelo silêncio, negação ou mentiras, e,
nos casos de referência a serviços de saúde, suas marcas são
muitas vezes justificadas como se tivessem sido causadas por
acidentes (FALEIROS, et al, 2008, p. 35, grifos nossos).

Violência Institucional em relação à Crianças e Adolescentes impede que os


mesmos tenham seu direito à participação assegurado em todos os processos que se
refiram a violências sofridas ou testemunhadas. O direito de ser ouvido não pode se
converter jamais em uma forma de violência institucional. É imprescindível que se
conjugue o direito à participação aos pressupostos de direitos humanos na tomada do
depoimento (SANTOS, et al, 2017, p. 15).

Existe, em nível institucional, um outro tipo de violência que pode


passar despercebida, que é a negligência profissional. Sua
manifestação caracteriza-se pelo desprezo (por desinteresse,
despreparo ou incompetência) pelas outras formas de violência e de
violação de direitos de crianças e adolescentes, ignorando os sinais de
risco e a existência de processos violentos em curso que poderão levar
a violências mais graves (como a sexual, por exemplo) ou até mesmo à
morte (FALEIROS, et al 2008, p 33).

Em síntese, no capítulo 1 discutimos sobre como crianças e adolescentes


foram desqualificadas e secundarizadas no Brasil, especialmente quando se tratava
de sujeitos das camadas populares, sendo que a garantia de direitos à educação,
saúde, lazer, etc. podem ser identificados somente no final do século XX. Ademais,
também indicamos como se deu a formação da concepção de infância, de como
essas ideias começaram no âmbito internacional e nacional. Mostramos que uma
concepção punitivista e depois a doutrina da situação irregular foram hegemônicas e
alteradas somente com a promulgação do ECA e legislação e mecanismos
decorrentes. Trouxemos ainda alguns casos de violência contra o público
infantojuvenil mais contemporâneos a fim de evidenciar como o marco legal, não
pode sozinho alterar uma cultura e estrutura violadora, sendo necessário atuarmos
27

em várias frentes para a concretização da Proteção Integral às crianças e


adolescentes (CARVALHO, 2004). No próximo capítulo discutimos sobre os tipos de
violência contra crianças e adolescentes e sobre a lei 13.431 e suas repercussões
legais, protocolares e institucionais, bem como apresentamos a análise de dados.
28

CAPÍTULO 2
A LEI 13.431/2017: CONSTRUÇÕES, QUESTÕES E DESAFIOS

Neste capítulo discutimos sobre as contribuições da lei 13.431/2017 na resolução


da violência institucional e revitimização. Além de discutirmos os limites e problemas e
desafios postos pela lei, bem como os decretos nacionais e estaduais decorrentes da
lei.
A construção da história do Brasil se produz com da criança e adolescente diante
das vastas violações, e não reconhecimento como seres pensantes e provedor de
direitos, diante de todo esse passado histórico e vitimizado da qual as crianças e
adolescentes presenciaram em suas vivências ao longo dos anos (RIZZINI; PILOTTI,
2011).
Houve uma construção muito lenta diante da construção dos direitos
fundamentais, para garantia e bem-estar da criança em que de fato foi consolidada
com a constituição federal Brasileira de 1988 e mais tarde com a elaboração do ECA.
Após a construção de avanços significativos que ajudaram na construção de e
consolidação destes direitos, mas que ainda nos dias atuais a luta para consolidação e
manutenção desses direitos ainda continua.
Deste modo os desafios e a construção dos direitos da criança se perpetuaram
por várias mudanças históricas e culturais, tanto dentro de um contexto nacional, mas
também internacional. Dentro dessas retomadas do capítulo anterior, adentramos na lei
n. 13.431/2017 na construção, questões e desafios nos rebatimentos da violência
contra a criança e do adolescente.
A Lei 13.431/2017 normatiza os direitos da criança e do adolescente frente ao
contexto de violência perpetuados pelos mesmos, das quais foram vítimas ou
testemunhas de violência sofridas, sendo elas violência física, psicológica, conduta de
criminalização e bullying, alienação parental, exposição da criança a crimes violentos,
violência sexual, trafico e violência patrimonial. A inovação da criação da lei se junta às
garantias e mecanismos, criados para assegurar a criança em que a lei se coloca na
ótica de possibilitar o atendimento qualificado e humanizado às crianças e
adolescentes vítimas ou testemunhas de violência.
Dentro desta apropriação da lei nos aborda a primeiro momento com a
necessidade de uma normatização de fluxos6 e protocolos, em detrimento a uma

6
Fluxos e protocolos são destinados a otimizar a atuação dos diversos órgãos e agentes
corresponsáveis, tanto no âmbito municipal quanto estadual, que mais do que nunca precisa aprender a
dialogar entre si e trabalhar de forma harmônica, coordenada e sobretudo eficiente, cada qual em sua
área (DIGIÁCOMO E DIGIÁCOMO, 2018, p.5).
29

organização junto a rede de proteção, estaduais e Municipais atendendo às


necessidades postas as redes de proteção. Segundo Digiácomo e Digiácomo (2018)
argumentam sobre a inovação da lei, pois consideram que:

Pela primeira vez, a Lei se refere expressamente à necessidade da


instituição (formal/oficial) e organização da “rede de proteção” à criança
e ao adolescente, prevendo a necessidade da identificação, no âmbito
desta, de um “órgão de referência”, que ficará encarregado tanto para,
quando necessário, realizar a escuta especializada das vítimas ou
testemunhas (art. 7º), quanto para coordenar a ação dos demais,
zelando para que todas as necessidades daquelas sejam prontamente
atendidas por quem de direito (art. 14, §2º) (DIGIÁCOMO;
DIGIÁCOMO, 2018, p. 5).

A abertura de um novo olhar para o enfrentamento das violências contra as


crianças e adolescente, e a elaboração de protocolos junto às redes articuladas com
as demandas, trazem um novo aparato ao retrato da violência, com menos
instrumentos de criação de provas ou sendo escutadas inúmeras vezes,
proporcionadas pela falta de formação do sistema integrado a proteção destas
crianças, proporcionando a meios para prevenir a revitimização desse público.
Ademais, lei 13.431/2017 traz a violência institucional dentro das várias violências,
compostas na lei em que seu artigo 4° inciso “IV pondera-se como entendida como a
praticada por instituição pública ou conveniada, inclusive quando gerar revitimização”
(BRASIL, 2017, s/n). Já a compreensão de violência institucional é considerada
“aquela praticada por instituição pública ou conveniada, inclusive quando gerar
revitimização” (BRASIL, 2017, s/n). Ademais, a partir das contribuições de Digiácomo e
Digiácomo (2018) pensamos que as violências institucionais podem se manifestar
quando agentes realizam alguma ação em desacordo com os “fluxos”, ou “protocolos7”
e normas elaboradas no âmbito jurídico ou da rede de atendimento, como também
quando há omissão ou demora dos órgãos e agentes que deveriam intervir. Sabe-se
que é comum a demora tanto nos processos de atendimento às vítimas quanto de
responsabilização dos autores das violências. O ECA prevê o princípio da eficiência no
atendimento prestados às crianças e adolescentes (BRASIL, 1990)
A Proteção da criança articulada junto à constituição federal de 1988 dispondo
descriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. Neste sentido, a família, a
sociedade, o Estado asseguram à criança e o adolescente o direito à vida, à saúde, à

7
Assim como os “fluxos’’ e ‘’Protocolos’’ de atendimento (dentre outras questões de cunho ‘’ estrutural’’ e
coletivo), quanto estratégias de abordagem e atuação nos casos individuais que surgem, (sobretudo os
de maior gravidade/ complexidade)(Digiácomo e Digiácomo, 2018, p.10).
30

alimentação em que permitem assegurá-los e das quaisquer formas de negligências e


discriminações dos seus direitos.
A Construção da trajetória da lei ainda se permeia de maneira cautelosa, dentro
de um contexto novo em pensar como este processo de revitimização da criança e do
adolescente pode ser amenizado, em que os mesmos consigam passar o processo de
violência em que sofreram, de maneira segura. A análise da construção da lei
13.431/2017 nos faz refletir sobre as demandas e as particularidades de cada cidade e
como elas constroem a organização de um atendimento voltado a essas vítimas. Pois
a construção da lei posta as crianças e adolescentes se propõem a um passo
promissor na construção de direitos, em relação a violência contra a criança e o
adolescente (BRASIL, 2017).
Em 2014 como o caso do menino Bernardo, demarcado por um contexto de
descaso do próprio sistema judiciário, em que se coloca como base a falha iminente e
direta da proteção integral da criança por parte do Estado. Segundo Digiácomo e
Digiácomo (2018) ao explicarem sobre a Lei n. 13.010/2014 (Lei Menino Bernardo),
entendem que a mesma trouxe mecanismos adicionais para prevenir e coibir tais
situações, deixando explícita, com a incorporação do art. 70-A ao ECA, a necessidade
da especialização de profissionais dos mais diversos setores da administração, assim
como sua reunião periódica em “espaços intersetoriais locais” para discutir tanto o
“papel” de cada um, assim como os “fluxos” e “protocolos” de atendimento (dentre
outras questões de cunho “estrutural” e coletivo), quanto às estratégias de abordagem
e atuação nos casos individuais que surgirem (sobretudo os de maior
gravidade/complexidade).
Vale ressaltar que apesar da lei ser sancionada em 2017, o trabalho de prevenção
às violências contra crianças e adolescentes se perpetua como algo novo no processo
da construção de direitos, pois pensar os direitos da criança e do adolescente por mais
que seja uma discussão já fomentada, com avanço de leis. A própria lei estabeleceu
um fluxo de atendimento às vítimas de violência, neste modo esse fluxo estabelecido
pela própria lei prepara as cidades para que se tenha um posicionamento, decorrentes
das demandas apresentadas por cada município, pois a falta desses documentos
perpetua, na revitimização da criança e do adolescente.
Dentro desse fluxo estabelecido pela lei propõem-se, em que ao momento em que
a notícia de violência envolvendo a criança ou adolescente sendo vítima ou
testemunha a rede de proteção por meio de órgãos capacitados seja realizada a
escuta especializada, seguindo o fluxo de atendimento será feito a comunicação com
as autoridade policiais realizando o boletim de ocorrência, em seguida sendo
31

encaminhada pelo serviços de atendimentos de saúde e serviços de referência da


assistência social em conjunto ao conselho tutelar.
Segundo Santos et.al 2017, o depoimento especial resultou da busca de culturas
e práticas não revitimizantes, tendo como focos a proteção de crianças e adolescentes
contra a perspectiva adultocêntrica da cultura jurídica tradicional e a geração de uma
nova ética da oitiva, que passou da “inquirição” para a “escuta”. Portanto, é o
prenúncio de uma nova cultura jurídica de adesão/respeito ao princípio de que crianças
e adolescentes são sujeitos de direitos.
Esta fundamentação da lei propicia a pensar em como esses fluxos e protocolos,
vão ser implementados nas cidades, pois cada cidade tem as suas próprias demandas
e particularidades, e neste sentido, a regulação da lei para que a criança e o
adolescente sejam atendidos de maneira correta, estabelecendo particularidades entre
os fluxos e protocolos. Os Fluxos e Protocolos definem estratégias de cada cidade na
elaboração de documentos que permitem, tornar eficaz as estratégias de prevenção e
atendimento a violência contra a criança e ao adolescente (MORAES, 2019).
Paranavaí perante a elaboração de documentos referente a violência contra
crianças e adolescentes, diante da lei 13.431/2017 tem estabelecido somente os fluxos
de atendimentos (Imagem 2) a estas crianças e adolescentes, diferentemente das
cidades de Cianorte e Maringá (Imagens 3 e 4), que além dos desenhos dos fluxos
também possuem um protocolo com textos explicativos que trazem definições e
esclarecem os caminhos dos atendimentos a essas vítimas.
Neste sentido, o município de Paranavaí tem, em nosso entendimento, o desafio
de elaborar e publicar este decreto ou documento. Contudo, podemos entender que há
um fluxo por meio do qual se estabelecem os atendimentos, decorrentes dos casos de
violência. Vale ressaltar, a pertinência do direcionamento do atendimento dessas
crianças e adolescentes, o trabalho junto à rede de apoio do município propicia e
direciona os assistidos, sem que haja um revitimização dos mesmos, tanto pela
instituição e pelo trauma causado pela violência sofrida (MORAES, 2019).
O atendimento perante a lei deixa essa demanda a ser atingida. Nós tivemos a
oportunidade de participar da Conferência Municipal dos Direitos das Crianças e dos
Adolescentes de Paranavaí de 2022 e uma das propostas aprovadas na plenária foi a
de melhorar o serviço de escuta especializada no município, em relação a formação
dos profissionais para prevenção e na execução da escuta, bem como, demais
condições para realização dos procedimentos.
Ademais, a existência no protocolo que explique o fluxo e disponibilize os modelos
para realização da revelação espontânea e escuta especializada é pertinente e
32

também, que sejam publicados no site da prefeitura, que sejam socializados. Pois
assim, se possibilita um atendimento “padronizado”, que evite revitimização da criança
e do adolescente que foram vítimas ou testemunhas de violência. Nesse sentido de
refletir sobre a violência institucional, Foucault (1986) possibilita entender que a mesma
possui:

[...] um conjunto decididamente heterogêneo que engloba discursos,


instituições, organizações arquitetônicas, decisões regulamentares, leis,
medidas administrativas, enunciados científicos, proposições filosóficas,
morais, filantrópicas. Em suma, o dito e o não dito são os elementos do
dispositivo. O dispositivo é a rede que se pode estabelecer entre esses
elementos (FOUCAULT, 1986, p. 244).

Contudo, essa relação dentro no município de Paranavaí permanece somente


com uma elaboração do fluxo, sendo inexistente um protocolo em que o mesmo se
encontra como um documento provisório, e de difícil acesso por não está publicado no
site da prefeitura da cidade, evidentemente a construção da rede de atendimento
perpassa-se ainda pela falta de formação de profissionais na atuação da escuta
especializada dentre do município.
A seguir apresentamos o fluxo de atendimento (Imagem 2) à criança e ao
adolescente no município de Paranavaí:
33

Imagem 2: Fluxograma de Atendimento à criança e ao adolescente vítima ou testemunha de


violência no município de Paranavaí-PR

Fonte: Prefeitura de Paranavaí, 2021.

A existência do fluxo e contato que estabelecemos com a rede de atendimento


por meio do estágio e participação em eventos como conferências, permitiu saber que
o serviço é realizado com consonância com a lei 13.431/2017. Inclusive, uma virtude
que precisamos destacar é a existência de um código de identificação das instituições
que realizam a escuta. Esse fato, contribui para desvincular os profissionais,
propiciando mais condições éticas e técnicas à manutenção do sigilo nos casos
atendidos.
Na cidade de Cianorte as normativas da construção de protocolos e fluxos,
perante a lei 13.431/17 ficam estabelecidas que a rede de proteção à criança e ao
adolescente será composta por membros da Proteção Social Básica da Secretaria
Municipal de Assistência Social, representante da Proteção Social Especial – Média
Complexidade da Secretaria Municipal de Assistência Social, Proteção Social Especial
Alta Complexidade da Secretaria Municipal de Assistência Social, Divisão dos Direitos
da Criança e do Adolescente da Secretaria Municipal de Assistência Social, Educação
Infantil da Secretaria Municipal de Educação e Cultura, Ensino Fundamental da
34

Secretaria Municipal de Educação e Cultura, Divisão de Atenção Básica em Saúde da


Secretaria Municipal de Saúde, Unidade de Pronto Atendimento - UPA da Secretaria
Municipal de Saúde, Divisão de Vigilância em Saúde da Secretaria Municipal de
Saúde, Divisão de Saúde Mental da Secretaria Municipal de Saúde, Secretaria
Municipal de Esporte e Lazer, Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do
Adolescente, Conselho Tutelar, Equipe Técnica do Conselho Tutelar. Em resumo, o
decreto estabelece a Rede de Proteção à Criança e ao Adolescente no município, que
tem por finalidade o seguinte.

Art. 5º. A Rede de Proteção à Criança e ao Adolescente atuará


como o Comitê de Gestão Colegiada da rede de cuidado e de
proteção social das crianças e dos adolescentes do Município de
Cianorte, com a finalidade de articular, mobilizar, planejar,
acompanhar e avaliar as ações da rede intersetorial, além de
colaborar para a definição dos fluxos de atendimento e o
aprimoramento da integração do referido comitê, conforme
preconiza o art. 9º, I do Decreto Federal nº 9.603, de 10 de
dezembro de 2018 (PREFEITURA DE CIANORTE, 2019, p. 2,
grifo nosso).

Neste sentido, é pertinente analisarmos o fluxograma no atendimento de crianças


e adolescentes vítimas ou testemunhas de violência, na cidade de Cianorte. A
organização do município por meio dos decretos n. 208 e 209 de 2019 apresenta como
se organiza e é composta a rede, quais são as portas de entrada dos serviços que o
município oferece, enfatizando os casos de violência. Ademais, vislumbramos uma
orientação de Moares (2019) quando atenta para o trabalho em rede, que além de se
pôr como porta de entrada aos serviços, deve ter articulação entre todos, pois as
instituições apresentam incompletude institucional e a proteção integral seria
contemplada somente por meio dessa articulação. A seguir apresentamos o fluxo do
município de Cianorte-PR a fim de pensar sobre sua estrutura.
35

Imagem 3: Fluxograma de Atendimento à criança e ao adolescente vítima ou testemunha de


violência no município de Cianorte-PR

Fonte: site da prefeitura de Cianorte, 2019.

A partir do fluxo acima apresentado podemos inferir que qualquer instituição se


compõe como porta de entrada das demandas, que o Conselho Tutelar é a instituição
que deve ser acionada quando há alguma violação e também quem dará os
encaminhamentos para a denúncia junto às delegacias de polícia e Ministério Público.
Em seguida, tem-se que a realização da escuta especializada é feita pela equipe
técnica do conselho tutelar (psicóloga e assistente social), o que entendemos como
uma virtude, pois essa equipe não presta atendimentos direitos às famílias, fato que
também contribui para que não sejam interpretados como pessoas que fizeram a
denúncia. E também é uma equipe que poucas cidades contam em seus Conselhos
Tutelares (PREFEITURA DE CIANORTE, 2019).
Na cidade de Maringá, a elaboração de fluxos e protocolos em razão a violência
contra a criança e ao adolescente, nos ajuda a pensar nos encaminhamentos postos
as vítimas das quais perpassam por todo um sistema de apoio em função dos
equipamentos do município. As referências de atendimento à criança e adolescente
vítima de violência, levam aos serviços das Unidades Básicas de Saúde (UBS) como
uma das portas de entrada preferencial, assegurando o atendimento e sua
continuidade, bem como o acesso aos demais pontos de atenção, quando necessário.
O Fluxograma (Imagem 4) da rede de atendimento a violência sexual dispõe da
atuação dos serviços, demandados para realização dos atendimentos cabendo assim
desenhar-se o início do serviço da qual será encaminhado e direcionar a outros
atendimentos para qual a situação se acabe dentro do contexto.
Os profissionais da atenção básica são muito importantes na captação dos casos
de violência e no acompanhamento às vítimas e suas famílias, fazendo os primeiros
36

encaminhamentos aos serviços necessários. Além das unidades básicas de saúde, o


Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF), Hospitais de Referência (Hospital
Universitário de Maringá- HUM ou Hospital Municipal de Maringá- HMM), estão em
conjunto como equipamentos de atenção às vítimas de violência, estabelecem que as
vítimas façam exames laboratoriais seja ao primeiro contato com o serviço ou não.
Os Atendimentos são realizados de acordo com as demandas apresentadas de
modo com que, o assistido seja o mais breve possível encaminhado aos serviços de
referência e atendimento médico, social ou psicológico, a estruturação do protocolo da
cidade de Maringá centraliza os atendimentos garantindo, conforto e máximo sigilo as
famílias das vítimas e os próprias vítimas. Outro ponto do protocolo que cabe ressaltar
é que os serviços de saúde devem sempre preencher a ficha de notificação do Sistema
de Informação de Agravos de Notificação/SINAN. Nos casos de Violência Sexual é o
HU que fica responsável por preencher.
A seguir apresentamos o fluxo do município de Maringá:

Imagem 4: Fluxograma de Atendimento à criança e ao adolescente vítima ou testemunha de


violência no município de Maringá-PR

Fonte: Prefeitura de Maringá, 2012.


37

A Implementação de fluxos e protocolos diante da implementação da lei


13.431/2017, coloca-se em grande relevância na prevenção da violência contra as
crianças e adolescentes, mas também em reforçar que crianças e adolescentes
precisam estar constantemente sendo protegidos pelas políticas públicas, pois há
ainda graves violações dos direitos. A Adequação desses fluxos e protocolos
pré-estabelecidos pela lei traz com sigo a adequação de profissionais capacitados para
o entendimento dessas vítimas, e para que o processo de escuta da criança ou do
adolescente não seja um processo vitimizador fazendo o que o mesmo repita o
processo e exponha mais uma vez a história vivenciada.
Neste sentido a construção do sistema protetivo diante do processo de escuta,
pauta-se também na formação profissional qualificado para o atendimento, dessas
crianças e adolescentes, em que essa formação fica a critério de cada município pois
as normativas e determinações de como a atuação da lei irá funcionar, desenha-se nos
mecanismos de documentos em cada um apresenta.
Segundo Faleiros (2008) e Moares (2019), a proteção integral obriga todas as
políticas sociais a se articularem para viabilizar o atendimento às necessidades de
crianças e adolescentes. A exigibilidade torna legítima a defesa comunitária desse
atendimento por meio dos Conselhos de Direitos (nacional, estaduais e municipais) e
dos Conselhos Tutelares. O Estatuto institui, pois, direitos dos quais não podemos abrir
mão e tampouco podemos deixar de lutar para sua efetiva implementação.
Por se tratar de uma implantação de cunho recente não há uma formulação e
implantação dessa lei dentre os municípios, permeia-se de maneiras autônomas por
partes dos municípios em estruturar seus próprios protocolos e fluxos para que ao ser
analisada a demanda de atendimento dentro das cidades, faz com que não se siga um
modelo de atendimento, mas as demandas dentro das cidades e municípios junto às
redes de atendimento especializadas.
A Lei 13.431/17 ao ser sancionada propôs modelos dos fluxos diante de
direcionar o atendimento às crianças e aos adolescentes, na tentativa de normatizar o
serviço entre as demandas apresentadas pelas cidades. Deste modo a lei aborda os
tipos de violência configuradas em seu artigo 4° sendo elas, violência física, violência
psicológica, violência sexual, violência institucional, violência patrimonial.
Portanto, é uma demanda considerar as diferenças dos tipos de violências e
também de particularidade do território e do público infantojuvenil de cada lugar.
Santos et al (2017) contribui quando explica que:
38

A existência de ações e ambientes diferenciados de acordo com a faixa


etária e outros critérios, como padrão físico e mental, tipo de violência
ou crime sexual, indica preocupação constante com as especificidades
da população atendida e com a efetividade da preparação de crianças e
adolescentes para prestar depoimento. Algumas experiências buscam
adequar suas atividades de preparação de acordo com o padrão físico
e mental das vítimas e/ou testemunhas e mesmo com o tipo de
violência sofrida (SANTOS, et al, 2017, p. 252).

Segundo Organização Mundial de Saúde (OMS) a violência sexual é definida


como “todo ato sexual, tentativa de consumar um ato sexual ou insinuações sexuais
indesejadas; ou ações para comercializar ou usar de qualquer outro modo a
sexualidade de uma pessoa por meio da coerção por outra pessoa,
independentemente da relação desta com a vítima, em qualquer âmbito, incluindo o lar
e o local de trabalho”.
Em resumo, neste capítulo falamos sobre os fluxos e protocolos nas cidades de
Paranavaí, Cianorte e Maringá nos cabe apontar a importância da rede de apoio não
só como um serviço necessário para, as expressões da violência, mas para as
crianças e adolescentes que ainda perpetuam dentro de um espaço de violações de
direitos mesmo que reconhecidos constitucionalmente. A implantação de uma rede
proteção integrada aos serviços municipais das cidades, ajudam a conduzir as
demandas levantadas dentre os municípios , em que neste contexto a articulação da
rede de apoio junto aos serviços de atendimento dos municípios, propiciam uma
qualidade no atendimento à criança e o adolecente que foram vítimas ou testemunhas
de violências.
Pois ao decorrer do processo da análise dos fluxos e protocolos das cidades de
Paranavaí, Cianorte e Maringá, podemos observar que essas demandas de
atendimentos muitas vezes , são implantadas como máxima veracidade nos sites das
prefeituras. Outro ponto em que trazemos em discussão são as formações
profissionais para atendimento qualificado para realização da escuta, e de
encaminhamentos para os serviços responsáveis, essas formações fazem com que o
atendimento ofertado à criança e ao adolescente, não se tornem um processo
revitimizatório.
39

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir das análises realizadas é possível inferir que autores como Rizzini e
Pilotti (2011), Cypriano (2021), Del Priore (2010) contribuem para reflexão acerca da
construção da concepção de infância e adolescência no Brasil, bem como para
entendermos a trajetória de violações e a elaboração da doutrina da proteção
integral e os direitos previstos nesse processo. Outra tese por nós discutida é a de
que a lei 13.431/2017 e sua construção, pode-se entender como um dos mais
recentes mecanismos destinados a coibir a violência contra crianças e adolescentes,
nas análises realizadas constatamos, que em sua construção embase o
direcionamento no atendimento de crianças e adolescentes vítimas ou testemunhas
de violência, a configuração desta lei sancionada em 2017, visa estabelecer fluxos e
protocolos para realização dos atendimentos às vítimas e representa portanto, um
passo importante na prevenção e atendimento.
Ainda em primeira discussão, pontuamos casos reais de crianças vítimas de
violência, em que somente o legalismo pode falhar, por exemplo, no caso da chacina
da Candelária envolvendo a morte de várias crianças, uma vez em que a
implantação da lei para garantia de direitos já estava em vigor. Outros dois casos em
discussão foram do menino Bernardo e do Gabriel Fernandes de contexto
internacional, ambos em um contexto em que o sistema de garantia de direitos já
estava em vigor, mas que o papel do Estado e da rede de proteção em ambos os
casos foram negligentes , e inerentes durante todo o processo de julgamento.
A construção desses fluxos são o desenho da lei, vista de uma maneira
informativa e compreensão dos encaminhamentos, já os Fluxos discorrem de qual
maneira cada serviço integrado ao sistema de proteção do município, irá intervir
diante da situação apresentada. Pois a configuração destes modelos são primordiais
aos atendimentos das crianças e dos adolescentes, que foram vítimas ou
testemunhas de violência e que precisam passar por um processo de
acompanhamento e escuta. A formação desta contribuição durante a análise dos
fluxos de Paranavaí, Cianorte e Maringá, se configuraram de maneiras diferentes na
apresentação dos fluxos e protocolos de atendimento e contemplam peculiaridades
que podem ser usadas como modelo, por exemplo, o código de identificação da
instituição no caso de Paranavaí, a forma clara e didática do decreto 208 que explica
sobre os processo do fluxo de Cianorte. E a articulação da política de prevenção de
40

violências contra mulheres e crianças e adolescentes, que repercutiu, inclusive, na


documentação do município de Maringá.
Em resumo, a própria Lei 13.431/17 ao ser sancionada propôs modelos dos
fluxos diante da demanda por direcionar o atendimento às crianças e aos
adolescentes, na tentativa de normatizar o serviço entre as particularidades
apresentadas pelas cidades, evitando-se assim o processo de revitimização da
própria criança dentro do processo de escuta. Portanto, entre os fechamentos e
aberturas da lei, documentação, orientações teóricas e metodológicas posteriores,
nos cabe o compartilhamento das virtudes de cada experiência a fim de superar os
desafios postos pelo problema da violência contra crianças e adolescentes.

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criança e do adolescente de serem educados e cuidados sem o uso de castigos
físicos ou de tratamento cruel ou degradante, e altera a Lei nº 9.394, de 20 de
dezembro de 1996. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2014/lei/l13010.htm. Acesso em
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