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Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro

Gabinete da Desembargadora Marilia de Castro Neves Vieira


ÓRGÃO ESPECIAL DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO
DE JANEIRO
DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE n 0061211-13.2015.8.19.0000
REPRESENTANTE: EXMO SR PROCURADOR GERAL DE JUSTIÇA
DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
REPRESENTADO: EXMO SR GOVERNADOR DO ESTADO DO RIO DE
JANEIRO, EXMO SR PREFEITO DO MUNICÍPIO DE MARICÁ e
CÂMARA MUNICIPAL DO MUNICÍPIO DE MARICÁ
RELATOR: DES. MARILIA DE CASTRO NEVES VIEIRA

REPRESENTAÇÃO DE
INCONSTITUCIONALIDADE TENDO COMO
OBJETO A LEI Nº 2.331, DE 25 DE MAIO DE 2010,
DO MUNICÍPIO DE MARICÁ, E O DECRETO
ESTADUAL Nº 41.048, DE 04 DE DEZEMBRO DE
2007. DECRETO ESTADUAL QUE INSTITUI O
PLANO DE MANEJO DA ÁREA DE PROTEÇÃO
AMBIENTAL – APA DE MARICÁ, CRIADA PELO
DECRETO ESTADUAL Nº 7.230/84, ENQUANTO A
LEI MUNICIPAL INSTITUI O PLANO DIRETOR
SETORIAL DA ÁREA DE RESTINGA DE MARICÁ.
ALEGAÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE
MATERIAL E FORMAL. IMPOSSIBILIDADE DE
AS NORMAS ATACADAS SEREM OBJETO DE
CONTROLE ABSTRATO, UMA VEZ QUE NÃO
BUSCAM SEU PLANO DE VALIDADE NA
CONSTITUIÇÃO ESTADUAL, SENDO NORMAS
EXECUTIVAS, PORTANTO SECUNDÁRIAS.
NORMAS JURÍDICAS QUE SE PRETENDE
SEJAM DECLARADAS INCONSTITUCIONAIS,
QUE POSSUEM NATUREZA REGULAMENTAR.
IMPOSSIBILIDADE DE SEREM SUBMETIDAS A
CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE.
PRECEDENTES DO SUPREMO TRIBUNAL
FEDERAL E DESTA E. CORTE. AUSÊNCIA DE
GENERALIDADE E ABSTRAÇÃO QUE
INVIABILIZAM O CONTROLE CONCENTRADO
DE CONSTITUCIONALIDADE, DIANTE DE LEI
FORMAL DE EFEITOS CONCRETOS.
IMPROPRIEDADE DA VIA ELEITA. NÃO
CONHECIMENTO DA REPRESENTAÇÃO.

ACÓRDÃO
Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro
Gabinete da Desembargadora Marilia de Castro Neves Vieira
Vistos, relatados e discutidos estes autos da Ação
Direta de Inconstitucionalidade nº 0026000-13.2015.8.19.0000, figurando
como Representante Exmo. Sr. Procurador Geral de Justiça do Estado do
Rio de Janeiro e Representado o Exmo. Sr. Governador do Estado do Rio
de Janeiro, Exmo. Sr. Prefeito do Município de Maricá e Câmara Municipal
do Município de Maricá.

Acordam os Desembargadores integrantes do Órgão


Especial do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, por
unanimidade de votos, em não conhecer a Ação Direta de
Inconstitucionalidade.

Relatório às fls. 396.

VOTO

Trata-se de Representação de Inconstitucionalidade


proposta pelo Ministério Público Estadual com o objetivo de serem
declarados inconstitucionais o Decreto Estadual nº 41.048 de 04 de
dezembro de 2007 e a Lei nº 2.331 de 25 de maio de 2010, do Município
de Maricá.

O Decreto Estadual institui o Plano de Manejo da


Área de Proteção Ambiental – APA de Maricá, criada pelo Decreto
Estadual nº 7.230/84, enquanto a Lei Municipal institui o Plano Diretor
Setorial da Área de Restinga de Maricá, situada na APA daquele Município.

Afirma o Autor que o Decreto Estadual possui vícios


formais e materiais, o que se reflete no aspecto material da Lei Municipal.
Além disso, alega que o Decreto é inconstitucional por violar a reserva de
lei prevista no artigo 267 da Constituição Estadual.

Com efeito, os atos normativos impugnados são


secundários, porque atos de regulamentação de norma primária, em
especial do Decreto Estadual nº 7.230 de 23 de abril de 1984.

Sustenta o Representante que o Decreto Municipal


nº 41.048/2007 “ao introduzir alterações em área de proteção ambiental
preexistente incursionou em seara afeta à lei formal”.

Alega, ainda, que, “além do vício formal, há os vícios


de ordem material, já que a Lei nº 2.331 de 25 de maio de 2010 reproduz,
quase literalmente, os termos do Decreto Estadual”.
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A questão, portanto, comporta-se no contencioso
infraconstitucional.

De fato, o que fazem os dispositivos impugnados é


regulamentar o Decreto Estadual 7.230/84.

A noção de ato normativo, para efeito de controle


concentrado de constitucionalidade, pressupõe, além da autonomia jurídica
da deliberação estatal, a constatação de seu coeficiente de generalidade
abstrata, bem assim de sua impessoalidade. Esses elementos - abstração,
generalidade, autonomia e impessoalidade - qualificam-se como requisitos
essenciais que conferem, ao ato estatal, a necessária aptidão para atuar,
no plano do direito positivo, como norma revestida de eficácia subordinante
de comportamentos estatais ou de condutas individuais.

O Representante busca a declaração de


inconstitucionalidade de todos os dispositivos legais sob o argumento de
que a aprovação das normas impugnadas viola os princípios da isonomia e
impessoalidade, bem como não houve participação popular, em especial a
realização de audiências públicas, na elaboração da referida Lei
impugnada, bem como inexiste estudo prévio de impacto ambiental, em
confronto aos artigos 231, § 4°, 261 e 359, caput todos da Constituição do
Estado do Rio de Janeiro.

É certo que os atos normativos têm como


características: a generalidade, pois se destinam a sujeitos indetermináveis;
e a abstração, uma vez que descrevem situações gerais sem
concretização.

Dentro deste conceito, os atos normativos dividem-


se em primários, aqueles que inovam na ordem jurídica e possuem
autonomia, submetendo-se apenas aos preceitos constitucionais; ou
secundários, quando se prestam apenas a regulamentar o ato primário e
são diretamente a ele vinculados.

Esta é a diferença mais relevante, pois somente os


atos primários serão passíveis de controle concentrado de
constitucionalidade.

Ainda que uma lei seja, em regra, formalmente um


ato normativo primário (art. 59 da Constituição Federal), quando ela se
destina a prever situação específica, ou mesmo regulamentar uma outra lei,
ela será materialmente um ato normativo secundário.
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Ao que se vê, essa é exatamente a hipótese,
conforme se extrai da lição de Hely Lopes Meirelles, Arnold Wald e Gilmar
Ferreira Mendes:

“Por leis e decretos de efeitos concretos


entendem-se aqueles que trazem em si mesmos
o resultado específico pretendido, tais como as
leis que aprovam planos de urbanização, as que
fixam limites territoriais, as que criam municípios
ou desmembram distritos, as que concedem
isenções fiscais; as que proíbem atividades ou
condutas individuais; os decretos que
desapropriam bens, os que fixam tarifas, os que
fazem nomeações e outros dessa espécie. Tais
leis ou decretos nada têm de normativos; são
atos de efeitos concretos, revestindo a forma
imprópria de lei ou decreto, por exigências
administrativas. Não contêm mandamentos
genéricos, nem apresentam qualquer regra
abstrata de conduta; atuam concreta e
imediatamente como qualquer ato administrativo
de efeitos individuais e específicos, razão pela
qual se expõem ao ataque pelo mandado de
segurança”

(Mandado de segurança e ações constitucionais. 33ª


ed. Malheiros Editores: 2010. p. 40-1).

Uma lei de efeitos concretos se equipara a um ato


administrativo e busca fundamento de validade diretamente em outra lei, e
não na Constituição, não admitindo, em consequência, o controle de
constitucionalidade pela via abstrata.

Nesse sentido é a jurisprudência do Supremo


Tribunal Federal, como servem de exemplo os acórdãos cujas ementas se
transcrevem:
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ADI 4095 AgR / PR – PARANÁ AG.REG. NA AÇÃO DIRETA
DE INCONSTITUCIONALIDADE Relator(a): Min. ROSA
WEBER Julgamento: 16/10/2014 Órgão Julgador: Tribunal
Pleno Publicação PROCESSO ELETRÔNICO DJe-218
DIVULG 05-11-2014 PUBLIC 06-11-2014
Parte(s)
AGTE.(S) : ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE SEMENTES E
MUDAS - ABRASEM
ADV.(A/S) : CARLOS ARAÚZ FILHO
AGDO.(A/S) : SECRETÁRIO DE ESTADO DA
AGRICULTURA E DO ABASTECIMENTO

AGRAVO REGIMENTAL. AÇÃO DIRETA DE


INCONSTITUCIONALIDADE. ARTS. 1º, 2º E 3º DA
RESOLUÇÃO Nº 102/2007 DO SECRETÁRIO DE ESTADO
DA AGRICULTURA E DO ABASTECIMENTO DO ESTADO
DO PARANÁ. FUNDAMENTO EM LEGISLAÇÃO
INFRACONSTITUCIONAL. NATUREZA REGULAMENTAR.
ATO SECUNDÁRIO. CONTROLE CONCENTRADO DE
CONSTITUCIONALIDADE. INVIABILIDADE.

1. Decisão denegatória de seguimento de ação direta de


inconstitucionalidade por manifesto descabimento. 2.
Segundo a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal,
somente os atos normativos qualificados como
essencialmente primários ou autônomos expõem-se ao
controle abstrato de constitucionalidade. Precedido o
conteúdo do ato normativo atacado por legislação
infraconstitucional que lhe dá amparo material, a
evidenciar sua natureza de ato regulamentar secundário,
inviável a sua impugnação pela via da ação direta.
Precedentes. Agravo regimental conhecido e não provido.

ADI 2398 AgR / DF - DISTRITO FEDERAL AG.REG.NA


AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE Relator(a):
Min. CEZAR PELUSO Julgamento: 25/06/2007 Órgão
Julgador: Tribunal Pleno Publicação DJe-092 DIVULG 30-
08-2007 PUBLIC 31-08-2007 DJ 31-08-2007 PP-00029
EMENT VOL-02287-02 PP-00404 RTJ VOL-00204-01 PP-
00139 LEXSTF v. 29, n. 345, 2007, p. 88-119
Parte(s)
AGTE.(S) : CONSELHO FEDERAL DA ORDEM DOS
ADVOGADOS DO BRASIL
ADV. : MARCELO ROCHA DE MELLO MARTINS
AGDO.(A/S) : MINISTRO DE ESTADO DA JUSTIÇA

EMENTA: INCONSTITUCIONALIDADE. Ação direta. Portaria


nº 796/2000, do Ministro de Estado da Justiça. Ato de
caráter regulamentar. Diversões e espetáculos públicos.
Regulamentação do disposto no art. 74 da Lei federal nº
8.069/90 - Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Ato
normativo não autônomo ou secundário. Inadmissibilidade
da ação. Inexistência de ofensa constitucional direta.
Eventual excesso que se resolve no campo da legalidade.
Processo extinto, sem julgamento de mérito. Agravo
improvido. Votos vencidos. Precedentes, em especial a ADI
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nº 392, que teve por objeto a Portaria nº 773, revogada pela
Portaria nº 796. Não se admite ação direta de
inconstitucionalidade que tenha por objeto ato normativo
não autônomo ou secundário, que regulamenta
disposições de lei.

ADI 2626 / DF - DISTRITO FEDERAL AÇÃO DIRETA DE


INCONSTITUCIONALIDADE Relator(a): Min. SYDNEY
SANCHES Relator(a) p/ Acórdão: Min. ELLEN GRACIE
Julgamento: 18/04/2004 Órgão Julgador: Tribunal Pleno
Publicação DJ 05-03-2004 PP-00013 EMENT VOL-02142-
03 PP-00354
Parte(s)
REQTES. : PARTIDO COMUNISTA DO BRASIL - PC DO B
E OUTRO
ADVDOS. : PAULO MACHADO GUIMARÃES E OUTRO
REQTE. : PARTIDO LIBERAL - PL
ADVDO. : ENIR BRAGA
REQTE. : PARTIDO DOS TRABALHADORES - PT
ADVDOS. : ALAN EMANUEL TRAJANO E OUTROS
REQTE. : PARTIDO SOCIALISTA BRASILEIRO - PSB
ADVDOS. : LUIZ ARNÓBIO DE BENEVIDES COVÊLLO E
OUTRO
REQDO. : TRIBUNAL SUPERIOR ELEITORAL

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE.


PARÁGRAFO 1º DO ARTIGO 4º DA INSTRUÇÃO Nº 55,
APROVADA PELA RESOLUÇÃO Nº 20.993, DE 26.02.2002,
DO TRIBUNAL SUPERIOR ELEITORAL. ART. 6º DA LEI Nº
9.504/97. ELEIÇÕES DE 2002. COLIGAÇÃO PARTIDÁRIA.
ALEGAÇÃO DE OFENSA AOS ARTIGOS 5º, II E LIV, 16, 17,
§ 1º, 22, I E 48, CAPUT, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. ATO
NORMATIVO SECUNDÁRIO. VIOLAÇÃO INDIRETA.
IMPOSSIBILIDADE DO CONTROLE ABSTRATO DE
CONSTITUCIONALIDADE.

Tendo sido o dispositivo impugnado fruto de resposta à


consulta regularmente formulada por parlamentares no
objetivo de esclarecer o disciplinamento das coligações tal
como previsto pela Lei 9.504/97 em seu art. 6º, o objeto da
ação consiste, inegavelmente, em ato de interpretação.
Saber se esta interpretação excedeu ou não os limites da
norma que visava integrar, exigiria, necessariamente, o
seu confronto com esta regra, e a Casa tem rechaçado as
tentativas de submeter ao controle concentrado o de
legalidade do poder regulamentar. Precedentes: ADI nº
2.243, Rel. Min. Marco Aurélio, ADI nº 1.900, Rel. Min.
Moreira Alves, ADI nº 147, Rel. Min. Carlos Madeira. Por
outro lado, nenhum dispositivo da Constituição Federal se
ocupa diretamente de coligações partidárias ou estabelece
o âmbito das circunscrições em que se disputam os pleitos
eleitorais, exatamente, os dois pontos que levaram à
interpretação pelo TSE. Sendo assim, não há como
vislumbrar, ofensa direta a qualquer dos dispositivos
constitucionais invocados. Ação direta não conhecida.
Decisão por maioria.
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ADI 2792 AgR / MG - MINAS GERAIS AG.REG.NA AÇÃO
DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE Relator(a): Min.
CARLOS VELLOSO Julgamento: 19/02/2004 Órgão
Julgador: Tribunal Pleno Publicação DJ 12-03-2004 PP-
00036 EMENT VOL-02143-02 PP-00303
Parte(s)
AGTE.(S) : PARTIDO TRABALHISTA BRASILEIRO - PTB
ADVDO.(A/S) : MAURO BORGES LOCH E OUTRO (A/S)
AGDO.(A/S) : TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE
MINAS GERAIS

EMENTA: CONSTITUCIONAL. ADMINISTRATIVO.


REGULAMENTO. NOTÁRIOS. CONTROLE CONCENTRADO
DE CONSTITUCIONALIDADE: IMPOSSIBILIDADE.
Resolução nº 350/99 e Editais 001/99 e 002/99 do Tribunal
de Justiça do Estado de Minas Gerais. I. - Ato regulamentar
não está sujeito ao controle de constitucionalidade, dado
que se vai ele além do conteúdo da lei, pratica ilegalidade e
não inconstitucionalidade. Somente na hipótese de não
existir lei que preceda o ato regulamentar, é que poderia
este ser acoimado de inconstitucional, assim sujeito ao
controle de constitucionalidade. Precedentes do Supremo
Tribunal Federal. II. - No caso, têm-se atos regulamentares
da Lei 12.919/98, do Estado de Minas Gerais. III. - Agravo
regimental não provido.

ADI 3950 AgR / DF - DISTRITO FEDERAL AG.REG. NA


AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE Relator(a):
Min. TEORI ZAVASCKI Julgamento: 19/09/2013 Órgão
Julgador: Tribunal Pleno Publicação ACÓRDÃO
ELETRÔNICO DJe-202 DIVULG 10-10-2013 PUBLIC 11-10-
2013
Parte(s)
AGTE.(S) : CONFEDERAÇÃO NACIONAL DOS
TRABALHADORES METALÚRGICOS
ADV.(A/S) : FERNANDO AGRELA ARANEO
AGDO.(A/S) : PRESIDENTE DA REPÚBLICA
ADV.(A/S) : ADVOGADO-GERAL DA UNIÃO

Ementa: CONSTITUCIONAL. AÇÃO DIRETA DE


INCONSTUCIONALIDADE (ADI). AUSÊNCIA DE
CONFRONTO DIRETO ENTRE O ATO NORMATIVO
IMPUGNADO E O DISPOSITIVO CONSTITUCIONAL
APONTADO COMO PARÂMETRO. NÃO-CABIMENTO.
PRECEDENTES. 1. A jurisprudência do Supremo Tribunal
Federal (STF) firmou-se no sentido de que o controle de
constitucionalidade por ADI somente é admissível quando
se alega confronto direto, sem intermediações normativas,
entre o ato normativo impugnado e o dispositivo
constitucional apontado como parâmetro (ADI 996/DF,
Pleno, unânime, rel. Min. Celso de Mello, j. 11/03/1994, DJ
de 06/05/1994; ADI 1.670/DF, Pleno, unânime, rel. Min. Ellen
Gracie, j. 10/10/2002, DJ de 08/11/2002; e ADI-AgR-ED-ED
3.934/DF, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, Pleno, j.
24.02.2011, DJe 30/03/2011). 2. Agravo Regimental
improvido.
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No mesmo sentido é o entendimento desta E. Corte:
DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE N.º 0035576-
69.2011.8.19.0000. Relator: Des. BERNARDO MOREIRA
GARCEZ NETO – ÓRGÃO ESPECIAL

Lei Complementar. Município do Rio de Janeiro. Alegação


de inconstitucionalidade formal. Norma que estabelece
áreas de interesse para implantação do Projeto de
Estruturação Urbana, sem realização de audiências
públicas. Ato normativo materialmente secundário e
ancilar que não é objeto de controle de constitucionalidade
abstrato. Norma relativa ao “Plano Diretor”, que é lei geral
e suprema na orientação do desenvolvimento urbano.
Manifesta crise de legalidade. Ação direta não conhecida.

DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE 0034718-


09.2009.8.19.0000 - 1ª Ementa. DES. ALEXANDRE
H.VARELLA - Julgamento: 14/02/2011 - ORGAO ESPECIAL

DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. CONTROLE


ABSTRATO DE CONSTITUCIONALIDADE. LEI FORMAL DE
EFEITOS CONCRETOS. AUSÊNCIA DE REQUISITOS.NÃO
CONHECIMENTO.

Lei Estadual que determina o tombamento de determinado


imóvel de forma individualizada, antiga fábrica da
Cervejaria Brahma. Ausência de generalidade e abstração
que inviabilizam o controle concentrado de
constitucionalidade, diante de lei formal de efeitos
concretos. Impropriedade da via eleita. NÃO
CONHECIMENTO DA REPRESENTAÇÃO.

DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE 0047432-


35.2008.8.19.0000 (2008.007.00082) - 1ª Ementa. DES.
NAGIB SLAIBI - Julgamento: 18/05/2009 – ORGAO
ESPECIAL

Direito Constitucional estadual. Representação de


inconstitucionalidade. Controle abstrato de
constitucionalidade. Requisitos da generalidade e
abstração. Ausência. Artigo 125, §2º da Constituição da
República. Lei formal de efeitos concretos. Não
conhecimento da representação. “A noção de ato
normativo, para efeito de controle concentrado de
constitucionalidade, pressupõe, além da autonomia
jurídica da deliberação estatal, a constatação de seu
coeficiente de generalidade abstrata, bem assim de sua
impessoalidade. Esses elementos - abstração,
generalidade, autonomia e impessoalidade - qualificam-se
como requisitos essenciais que conferem, ao ato estatal, a
necessária aptidão para atuar, no plano direito positivo,
como norma revestida de eficácia subordinante de
comportamentos estatais ou de condutas individuais”.
(ADI-MC 2321 / DF, Relator o Ministro Celso Mello, DJ de 10
Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro
Gabinete da Desembargadora Marilia de Castro Neves Vieira
de junho de 2005, p. 4). “Os atos estatais de efeitos
concretos - porque despojados de qualquer coeficiente de
normatividade ou de generalidade abstrata - não são
passíveis de fiscalização jurisdicional, 'em tese', quanto a
sua compatibilidade vertical com o texto da Constituição".
(ADI 643/SP, Relator Ministro CELSO DE MELLO, DJ
3.04.1992). Não conhecimento da arguição de
inconstitucionalidade.

Assim, há impossibilidade de as normas atacadas


serem objeto de controle abstrato, uma vez que não buscam seu plano de
validade na Constituição Estadual, sendo normas meramente executivas,
portanto secundárias.

Embora as normas impugnadas tenham forma de


ato normativo primário (lei complementar e decreto estadual), elas são
materialmente secundárias, pois são atos da administração, conforme
determinação constitucional.

O Decreto Estadual institui o Plano de Manejo da


Área de Proteção Ambiental – APA de Maricá, criada pelo Decreto Estadual
nº 7.230/84, enquanto a Lei Municipal institui o Plano Diretor Setorial da
Área de Restinga de Maricá, situada na APA daquele Município.

Vê-se, por outro lado, que o Decreto Estadual nº


41.048 de 04 de dezembro de 2007, apenas regulamenta questões
técnicas sobre a exploração e modo de conservação da APA de Maricá, em
atenção ao disposto nos artigos 2º, inciso XVII, 15 e 27 da Lei n°
9.985/2000.

Ressalte-se, ainda, que o plano de manejo da APA


de Maricá, estabelecido no referido Decreto Estadual, deu ensejo à
previsão do Plano Diretor Setorial da Restinga de Maricá, veiculado na
legislação municipal também impugnada, que possui conteúdo normativo
similar.

Demais disso, a legislação municipal impugnada


restringe-se tão somente a enfocar os preceitos regulamentares previstos
no citado Decreto Estadual, contudo, em âmbito territorial mais restrito, já
que a Restinga de Maricá integra a APA de Maricá, de modo que a análise
isolada da constitucionalidade dessa norma municipal possui menor
utilidade prática.

Diante disso, resta claro que as normas jurídicas que


se quer sejam declaradas inconstitucionais possuem natureza
regulamentar, o que implica na impossibilidade de serem submetidas a
controle de constitucionalidade.
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Nesse contexto, torna-se evidente o descabimento
da presente representação quando pretendida a inconstitucionalidade de
atos executivos, que são meramente ancilares e secundários, pois
representam uma derivação e um efeito consequencial de eventual
ilegitimidade constitucional da própria lei em sua condição jurídica de ato
normativo primário e principal.

Sobre o tema, confiram-se os ensinamentos do


Eminente Ministro do Supremo Tribunal Federal Luís Roberto Barroso (in O
Controle de Constitucionalidade no Direito Brasileiro, 6ª ed., rev. e ampl –
São Paulo: Saraiva, 2012, p. 208), verbis:

“Atos administrativos normativos (...) não podem


validamente inovar na ordem jurídica, estando
subordinados à lei. Desse modo, não se estabelece
confronto direto entre eles e a Constituição.
Havendo contrariedade, ocorrerá uma de suas
hipóteses: (i) ou o ato administrativo está em
desconformidade com a lei que lhe cabia
regulamentar, o que caracteriza ilegalidade e não
inconstitucionalidade; (ii) ou é a própria lei que está
em desconformidade com a Constituição, situação
em que ela é que deverá se objeto de impugnação”
(grifo nosso)

In casu, verifica-se claramente a ocorrência da


primeira hipótese.

Diante disso, é inquestionável que a quaestio juris se


constitui, in casu, em uma crise de legalidade, o que retira da norma
questionada a qualidade de objeto idôneo para o controle normativo
abstrato perante este Órgão Especial.

Ao que parece, da leitura de seus dispositivos, os


diplomas normativos em debate, objetivam apenas regulamentar a
exploração e modo de conservação daquela APA, conferindo a devida
proteção da fauna e da flora da região, bem como delimitando as áreas de
exploração, dentro dos limites estabelecidos pela legislação federal.

Conclui-se, então, que o Decreto Estadual n°


41.048/2007 não se revela formalmente inconstitucional, porque, ao
contrário do que relata o Representante, não suprime, tampouco reduz, os
limites e finalidades da APA de Maricá.

O Plano de Manejo estabelecido naquele diploma


normativo, visa apenas levar a APA de Maricá a cumprir com os objetivos
estabelecidos na sua criação, em conformidade com o disposto no artigo
2º, XVII da Lei 9.985/2000, que estabelece:
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“o conceito de plano de manejo consiste em um ...
documento técnico mediante o qual, com
fundamento nos objetivos gerais de uma unidade de
conservação, se estabelece o seu zoneamento e as
normas que devem presidir o uso e o manejo dos
recursos naturais, inclusive a implantação das
estruturas físicas e necessárias à gestão da
unidade.” (grifamos)

Tem-se, que o Decreto Estadual n° 41.048/2007,


encontra-se em harmonia com a legislação federal e com o artigo 267 da
Constituição Estadual, servindo-se tão somente a instituir o zoneamento
interno da APA de Maricá, dividindo o terreno em: a) áreas mais restritivas
(as zonas de preservação da vida silvestre); b) medianamente restritivas
(zonas de conservação da vida silvestre); c) menos restritivas ( zonas de
ocupação controlada), coadunando-se com a definição de “área de
preservação ambiental”, prevista no art. 15 da Lei Federal 9.985/2000.

Com isso, impossível a análise da Lei Municipal


2.331, de 25 de maio de 2010 e do Decreto 41.048 de 04 de dezembro de
2007 diante de suas naturezas secundárias, que é impeditiva do controle
abstrato de normas, razão pela qual deve o Representante questionar a
legalidade das normas por meio da via adequada.

Por fim, no que tange a alegação de afronta aos


dispositivos da Constituição Federal, tem-se que o controle exercido por
esta E. Corte, apenas se dá em face de constitucionalidade de legislação,
atos normativos estaduais ou municipais em face do disposto no artigo 162
da Constituição Estadual.

Assim, é defeso a esta Corte, a análise, em sede de


controle de constitucionalidade, de atos normativos estaduais e municipais,
frente a Constituição Federal, sob pena de usurpação da competência do
Supremo Tribunal Federal (artigo 102, inciso I, letra “a” da Constituição
Federal)

Diante do exposto, deixo de conhecer a presente


Representação de Inconstitucionalidade e, em consequência julgou extinto
o feito, nos termos do que autorizam o artigo 330, inciso I c/c artigo 485,
inciso I do Novo Código de Processo Civil e o artigo 106, inciso I do
Regimento Interno deste Tribunal de Justiça.

Rio de Janeiro, 20 de fevereiro de 2017.

Marilia de Castro Neves Vieira


Desembargador Relator

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