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Supremo Tribunal Federal

Ementa e Acórdão

Inteiro Teor do Acórdão - Página 1 de 29

22/02/2023 PLENÁRIO

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE 6.701 ESPÍRITO SANTO

ON
RELATOR : MIN. ROBERTO BARROSO
REQTE.(S) : PROCURADOR-GERAL DA REPÚBLICA

FF
INTDO.(A/S) : GOVERNADOR DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO

BU
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DO ESTADO DO ESPÍRITO
SANTO

:42 NO
INTDO.(A/S) : ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO
DO ESPÍRITO SANTO

:25 IA
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DA ASSEMBLEIA

11 RC
LEGISLATIVA DO ESTADO DO ESPIRITO SANTO
4 - MA
Ementa: DIREITO CONSTITUCIONAL, PROCESSUAL CIVIL E FINANCEIRO.
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. LEIS ESTADUAIS. SISTEMA DE
02 2 -

GERENCIAMENTO DE DEPÓSITOS JUDICIAIS. CONHECIMENTO PARCIAL.


1/2 0-7

PROCEDÊNCIA. MODULAÇÃO DE EFEITOS.


1. Ação direta de inconstitucionalidade contra a Lei nº
9/0 86

4.138/1988, do Estado do Espírito Santo, que define a instituição


: 2 37.

financeira responsável pela administração de depósitos judiciais


decorrentes de processos de competência da Justiça Estadual, e contra a
Em 69.3

Lei nº 8.386/2006, do mesmo Estado, que institui sistema de


gerenciamento de depósitos judiciais e destina ao Poder Judiciário parcela
r: 4

dos resultados financeiros obtidos com a aplicação desses valores.


po

2. Não conhecimento da ação relativamente à Lei nº


4.138/1988. A ausência de impugnação de todas as normas que integram
sso

o conjunto normativo apontado como inconstitucional implica a ausência


de interesse de agir do autor. Precedentes.
pre

3. A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal (STF) se


Im

consolidou no sentido de que leis estaduais que autorizam a transferência


e o uso, pelo Estado, de recursos financeiros correspondentes a depósitos
judiciais e extrajudiciais incorrem em vício de inconstitucionalidade
formal, por usurpação da competência da União para legislar sobre
direito processual, para disciplinar o Sistema Financeiro Nacional e para
editar normas gerais de direito financeiro (arts. 22, I e VII, 192 e 24, I, da

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
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ADI 6701 / ES

CF). Precedentes.
4. Especificamente quanto à previsão de apropriação, pelo
Poder Judiciário, de parcela dos rendimentos obtidos com depósitos
judiciais, esta Corte também já afirmou a inconstitucionalidade de lei

ON
estadual que “fixa a destinação dos rendimentos líquidos decorrentes da

FF
aplicação dos depósitos no mercado financeiro e atribui ao Fundo de
Reaparelhamento do Poder Judiciário a coordenação e o controle das

BU
atividades inerentes à administração financeira de tal sistema” (ADI
2.909, Rel. Min. Ayres Britto), por entender que a matéria integra a

:42 NO
competência legislativa da União.

:25 IA
5. A medida impugnada nesta ação direta suscita efeitos que

11 RC
exigem regulamentação por lei federal, dada a distribuição constitucional
de competências legislativas e a necessidade de que se defina, de maneira
4 - MA
uniforme e com consideração aos impactos sobre o sistema bancário, a
forma de distribuição de eventuais diferenças (spreads) entre os
02 2 -

rendimentos decorrentes da aplicação financeira dos valores depositados


1/2 0-7

e a remuneração legalmente prevista para os depósitos judiciais.


6. A lei em exame vigorou por mais de 16 (dezesseis) anos com
9/0 86

presunção formal de constitucionalidade e fundamentou o repasse de


: 2 37.

valores ao Fundo Especial do Poder Judiciário do Estado do Espírito


Santo (FUNEPJ), além do seu posterior dispêndio. Em hipóteses
Em 69.3

semelhantes, o Plenário do STF tem atribuído efeitos prospectivos às


decisões proferidas em ações diretas. Precedentes.
r: 4

7. Ação parcialmente conhecida e, nessa parte, pedido julgado


po

procedente, para declarar a inconstitucionalidade da Lei nº 8.386/2006, do


Estado do Espírito Santo, com efeitos ex nunc a contar da data da
sso

publicação da ata de julgamento. Tese de julgamento: “É inconstitucional,


por vício de competência, lei estadual que discipline a transferência, ao Poder
pre

Judiciário, dos rendimentos decorrentes da aplicação financeira de depósitos


Im

judiciais”.
ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do

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ADI 6701 / ES

Supremo Tribunal Federal, em Sessão Virtual, por unanimidade de votos,


em conhecer parcialmente da ação direta e, na parte conhecida, julgar
procedente o pedido, para declarar a inconstitucionalidade da Lei nº
8.386/2006 do Estado do Espírito Santo, com efeitos ex nunc a contar da

ON
data da publicação da ata de julgamento, propondo a fixação da seguinte

FF
tese de julgamento: “É inconstitucional, por vício de competência, lei
estadual que discipline a transferência, ao Poder Judiciário, dos

BU
rendimentos decorrentes da aplicação financeira de depósitos judiciais”,
nos termos do voto do Relator.

:42 NO
Brasília, 10 a 17 de fevereiro de 2023.

:25 IA
11 RC
Ministro LUÍS ROBERTO BARROSO - Relator
4 - MA
02 2 -
1/2 0-7
9/0 86
: 2 37.
Em 69.3
r: 4
po
sso
pre
Im

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AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE 6.701 ESPÍRITO SANTO

ON
RELATOR : MIN. ROBERTO BARROSO
REQTE.(S) : PROCURADOR-GERAL DA REPÚBLICA

FF
INTDO.(A/S) : GOVERNADOR DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO

BU
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DO ESTADO DO ESPÍRITO
SANTO

:42 NO
INTDO.(A/S) : ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO
DO ESPÍRITO SANTO

:25 IA
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DA ASSEMBLEIA

11 RC
LEGISLATIVA DO ESTADO DO ESPIRITO SANTO
4 - MA
RELATÓRIO:
02 2 -

O SENHOR MINISTRO LUÍS ROBERTO BARROSO (RELATOR):


1/2 0-7

1. Trata-se de ação direta de inconstitucionalidade proposta


9/0 86

pela Procuradoria-Geral da República contra as Leis nº 4.138/1988 e


: 2 37.

8.386/2006, do Estado do Espírito Santo, que tratam do sistema de


gerenciamento de depósitos judiciais à disposição da Justiça Estadual.
Em 69.3

Transcrevo a íntegra dos atos normativos impugnados:


r: 4

Lei nº 4.138/1988, do Estado do Espírito Santo:


po

Art. 1º Os depósitos judiciais decorrentes de processos de


sso

competência da Justiça Estadual serão feitos, obrigatoriamente,


no BANESTES S/A – Banco do Estado do Espírito Santo,
pre

assegurada a estes, remuneração idêntica à determinada pelo


órgão competente do Governo Federal para os depósitos de
Im

poupança livre, mantidos nas instituições integrantes do


Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo, deduzidos os
tributos cabíveis. (Redação dada pela Lei nº 4.569, de 14 de
outubro de 1991)
Parágrafo único. O disposto neste artigo não se aplica aos
casos de depósitos judiciais em que a lei expressamente preveja

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a obrigatoriedade de sua realização em outro estabelecimento


de crédito.
Art. 2º Nos casos de depósitos em favor de menores, sobre
os quais não haja pendências, o Juízo do feito providenciará

ON
para que, na abertura da conta, seja assinalada pela entidade
financeira, na correspondente ficha, a data ou ocasião em que o

FF
depositante poderá movimentá-la sem a necessidade de Alvará

BU
Judicial.
Art. 3º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

:42 NO
Art. 4º Revogam-se as disposições em contrário.

:25 IA
Lei nº 8.386/2006 do Estado do Espírito Santo:

11 RC
Art. 1º Fica instituído, na forma desta Lei, o Sistema de
4 - MA
Gerenciamento de Depósitos Judiciais à Disposição da Justiça,
no Poder Judiciário do Estado do Espírito Santo,
02 2 -

compreendendo os recursos provenientes de depósitos judiciais


à disposição da Justiça Estadual em geral, depositados no Banco
1/2 0-7

do Estado do Espírito Santo – BANESTES S.A.


9/0 86

Art. 2º As receitas do Poder Judiciário provenientes da


aplicação desta Lei serão destinadas ao Fundo Especial do
: 2 37.

Poder Judiciário do Estado do Espírito Santo – FUNEPJ,


Em 69.3

visando a modernização e reaparelhamento do Poder Judiciário


nos moldes do artigo 2º da Lei Complementar nº 219, de
26/12/2001.
r: 4

Art. 3º As normas gerais para o gerenciamento do Sistema


po

criado pelo artigo 1º desta Lei serão estabelecidas através de


convênios a serem firmados entre o BANESTES S.A. e o Poder
sso

Judiciário Estadual.
Art. 4º Os valores que serão repassados mensalmente pelo
pre

BANESTES S.A. ao FUNEPJ corresponderão a:


I - 40% (quarenta por cento) dos resultados financeiros
Im

obtidos com a aplicação dos depósitos judiciais existentes na


data de publicação desta Lei;
II - 60% (sessenta por cento) dos resultados financeiros
obtidos com a aplicação dos depósitos judiciais que vierem a ser

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realizados após a publicação desta Lei.


Parágrafo único. São considerados resultados financeiros
aqueles provenientes da aplicação da taxa do Sistema Especial
de Liquidação e Custódia – SELIC efetiva do mês, ou outra taxa

ON
oficial que a substitua, sobre o valor médio dos depósitos
judiciais do mesmo período, descontados a remuneração legal

FF
desses depósitos, índice fixado por lei e o percentual

BU
obrigatório recolhido ao Fundo Garantidor de Crédito – FGC.
Art. 5º Ficam atribuídas à Assessoria Econômica/Diretoria

:42 NO
Judiciária Econômica, Financeira e Contábil do Tribunal de
Justiça a coordenação, supervisão e controle das atividades

:25 IA
inerentes à administração financeira do Sistema de

11 RC
Gerenciamento de Depósitos Judiciais à Disposição da Justiça.
Art. 6º Fica incluído no artigo 3º da Lei Complementar nº
4 - MA
219/01 o inciso XVII, com a seguinte redação:
“Art. 3º (…) (…) XVII - as provenientes do Sistema de
02 2 -

Gerenciamento de Depósitos Judiciais à Disposição da


Justiça. (…).” (NR)
1/2 0-7

Art. 7º Fica o Poder Executivo autorizado a abrir crédito


9/0 86

adicional ao Poder Judiciário, nas dotações orçamentárias do


FUNEPJ, efetuando as suplementações necessárias, oriundas do
: 2 37.

cumprimento da presente Lei, de acordo com as regras


Em 69.3

previstas na Lei Federal nº 4.320, de 17.3.1964, bem como adotar


os ajustes que se fizerem necessários no Plano Plurianual de
Aplicações – PPA 2004/2007 em decorrência dos efeitos desta
r: 4

Lei.
Art. 8º Os depósitos judiciais à disposição da Justiça, no
po

âmbito do Poder Judiciário Estadual, deverão ser


sso

obrigatoriamente efetuados no BANESTES S.A., conforme


disposto na Lei nº 4.569, de 14/10/1991.
pre

Art. 9º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.


Im

2. A requerente alega que a matéria se insere na competência


privativa da União Federal para: (i) legislar sobre direito civil e processual
civil (art. 22, I, da CF); (ii) sobre política de crédito, transferência de
valores e sistema financeiro (art. 21, VII, da CF); e (iii) para editar normas

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gerais de direito financeiro (art. 24, I e § 1º, da CF). Nesse sentido,


menciona precedentes do Supremo Tribunal Federal em que se afirmou a
inconstitucionalidade de leis estaduais que regulavam a administração da
conta dos depósitos judiciais e extrajudiciais e permitiam a transferência

ON
de parcela dos recursos ao Poder Executivo. Pede a declaração de

FF
inconstitucionalidade das leis impugnadas.

BU
3. Intimada a prestar informações, a Assembleia Legislativa
do Estado do Espírito Santo defende o não cabimento da ação direta, ao

:42 NO
fundamento de que a atual redação do art. 1º da Lei estadual nº

:25 IA
4.138/1988, dada pela Lei estadual nº 4.569/1991 - i.e., a previsão de que os

11 RC
depósitos judiciais serão feitos, obrigatoriamente, no Banco do Estado do
Espírito Santo (BANESTES S/A) -, é substancialmente igual à redação
4 - MA
original e de que esta, por sua vez, constitui norma pré-constitucional.
Alega que eventual declaração de inconstitucionalidade da redação
02 2 -

vigente seria inócua, porque determinaria a repristinação da redação


1/2 0-7

originária, de teor semelhante. Ainda nesse ponto, argumenta que a


ausência de impugnação de todo o bloco normativo - do qual faria parte o
9/0 86

art. 1º da Lei estadual nº 10.562/2016 - também impede o conhecimento da


: 2 37.

ação (doc. 13).


Em 69.3

4. No mérito, defende a constitucionalidade da realização


dos depósitos judiciais no banco oficial do Estado, ao fundamento de que
r: 4

uma comparação entre a remuneração de depósitos praticada no âmbito


po

do Tribunal de Justiça do Espírito Santo (TJ/ES) e aquela obtida por


outros tribunais de justiça do País evidenciou que, a despeito da ausência
sso

de realização de certame licitatório para escolha da instituição financeira


depositária, o índice remuneratório praticado no Poder Judiciário do
pre

Espírito Santo foi maior. Afirma que tal resultado evidencia a ausência de
Im

prejuízo real à administração judiciária. Esclarece que tal informação foi


prestada nos autos da Inspeção nº 0002449-43.2009.2.00.0000, instaurada
pelo Conselho Nacional de Justiça em face da Justiça Comum do Estado
do Espírito Santo.

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5. O Governador do Estado do Espírito Santo defende o não


conhecimento da ação direta pelos mesmos fundamentos expostos acima.
Preliminarmente, pede que se reconheça a necessidade de suspensão da

ON
representação de inconstitucionalidade nº 0001173-31.2021.8.08.0000,

FF
proposta perante o TJ/ES e que também tem por objeto a Lei estadual nº
4.138/1988. No mérito, defende a constitucionalidade da manutenção dos

BU
depósitos judiciais no BANESTES com fundamento no art. 164, § 3º, da
Constituição, que dispõe que:

:42 NO
:25 IA
“[a]s disponibilidades de caixa da União serão

11 RC
depositadas no Banco Central; as dos Estados, do Distrito
Federal, dos Municípios e dos órgãos ou entidades do Poder
4 - MA
Público e das empresas por ele controladas, em instituições
financeiras oficiais, ressalvados os casos previstos em lei”.
02 2 -

6. Alega que, conforme a jurisprudência do STF, o art. 164, §


1/2 0-7

3º, da Constituição também se aplica aos depósitos judiciais. Ressalta as


9/0 86

disposições constantes do art. 840 do Código de Processo Civil, art. 32 da


Lei nº 6.830/1990, art. 1º da Lei nº 9.730/1998, art. 1º da Lei nº 10.819/2003,
: 2 37.

art. 1º da Lei nº 11.429/2006 e art. 2º da Lei Complementar nº 151/2015,


Em 69.3

que também preveem que os depósitos judiciais sejam mantidos em


instituições financeiras oficiais.
r: 4

7. Quanto aos demais dispositivos impugnados, sustenta a


po

sua constitucionalidade, ao fundamento de que se trata de tema de


sso

peculiar interesse local, a exigir regulamentação por lei estadual, sem que
haja usurpação da competência legislativa da União (doc. 16).
pre

8. A Advocacia-Geral da União se manifesta pelo não


Im

conhecimento parcial da ação direta e, no mérito, pela procedência do


pedido, nos termos da seguinte ementa:

“Leis nº 4.138/1988 e nº 8.386/2006, do Estado do Espírito

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Santo, que dispõem sobre o gerenciamento de depósitos


judiciais decorrentes de processos de competência da Justiça
estadual. Preliminar. Inadequação da via eleita quanto à
impugnação de norma pré-constitucional. Mérito.

ON
Inconstitucionalidade formal. Competência privativa da União
para legislar sobre direito processual. Ofensa ao artigo 22,

FF
inciso I, da Constituição da República. Aplicabilidade de

BU
precedentes dessa Suprema Corte que reconhecem a invalidade
formal de leis locais que instituíam modelos próprios de

:42 NO
gerenciamento de depósitos judiciais. Manifestação pelo não
conhecimento parcial da presente ação direta e, no mérito, pela

:25 IA
procedência do pedido veiculado pelo requerente”.

9. A 11 RC
Procuradoria-Geral da República apresenta
4 - MA
manifestação em que reitera os argumentos pelo conhecimento da ação
direta e pelo julgamento de procedência dos pedidos. Afirma que o objeto
02 2 -

da ação consiste na sistemática de gerenciamento de depósitos judiciais,


1/2 0-7

definida concomitantemente pela Lei nº 4.138/1988, com as alterações


promovidas pela Lei nº 4.569/1991, e pela Lei nº 8.386/2006. Nesse
9/0 86

sentido, defende que a impugnação conjunta dos atos normativos era


: 2 37.

necessária, por se tratar de complexo normativo incindível. Com relação


aos efeitos repristinatórios decorrentes da declaração de
Em 69.3

inconstitucionalidade do art. 1º da Lei nº 4.138/1988, com a redação dada


pela Lei nº 4.569/1991, pede que o Supremo Tribunal Federal reconheça a
r: 4

não recepção da redação originária desse mesmo dispositivo legal.


po

10. É o relatório.
sso
pre
Im

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Voto - MIN. ROBERTO BARROSO

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AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE 6.701 ESPÍRITO SANTO

ON
VOTO:

FF
O SENHOR MINISTRO LUÍS ROBERTO BARROSO (RELATOR):

BU
Ementa: DIREITO CONSTITUCIONAL,

:42 NO
PROCESSUAL CIVIL E FINANCEIRO.
AÇÃO
DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. LEIS

:25 IA
ESTADUAIS. SISTEMA DE GERENCIAMENTO DE

11 RC
DEPÓSITOS JUDICIAIS. CONHECIMENTO
4 - MA
PARCIAL. PROCEDÊNCIA. MODULAÇÃO DE
EFEITOS.
02 2 -

1. Ação direta de inconstitucionalidade


contra (i) a Lei nº 4.138/1988, do Estado do
1/2 0-7

Espírito Santo, que define a instituição


9/0 86

financeira responsável pela administração


: 2 37.

de depósitos judiciais decorrentes de


processos de competência da Justiça
Em 69.3

Estadual, e contra (ii) a Lei nº 8.386/2006, do


mesmo Estado, que institui sistema de
r: 4

gerenciamento de depósitos judiciais e


destina ao Poder Judiciário parcela dos
po

resultados financeiros obtidos com a


sso

aplicação desses valores.


2. Não conhecimento da ação
pre

relativamente à Lei nº 4.138/1988. A


ausência de impugnação de todas as
Im

normas que integram o conjunto normativo


apontado como inconstitucional implica a
ausência de interesse de agir do autor.
Precedentes.
3. A jurisprudência do Supremo

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Voto - MIN. ROBERTO BARROSO

Inteiro Teor do Acórdão - Página 11 de 29

ADI 6701 / ES

Tribunal Federal (STF) se consolidou no


sentido de que leis estaduais que autorizam
a transferência e o uso, pelo Estado, de
recursos financeiros correspondentes a

ON
depósitos judiciais e extrajudiciais incorrem

FF
em vício de inconstitucionalidade formal,
por usurpação da competência da União

BU
para legislar sobre direito processual, para
disciplinar o Sistema Financeiro Nacional e

:42 NO
para editar normas gerais de direito

:25 IA
financeiro (arts. 22, I e VII, 192 e 24, I, da

11 RC
CF). Precedentes.
4. Especificamente quanto à previsão de
4 - MA
apropriação, pelo Poder Judiciário, de
parcela dos rendimentos obtidos com
02 2 -

depósitos judiciais, esta Corte também já


1/2 0-7

afirmou a inconstitucionalidade de lei


estadual que “fixa a destinação dos
9/0 86

rendimentos líquidos decorrentes da


: 2 37.

aplicação dos depósitos no mercado


financeiro e atribui ao Fundo de
Em 69.3

Reaparelhamento do Poder Judiciário a


coordenação e o controle das atividades
r: 4

inerentes à administração financeira de tal


po

sistema” (ADI 2.909, Rel. Min. Ayres Britto),


por entender que a matéria integra a
sso

competência legislativa da União.


5. A medida impugnada nesta ação
pre

direta suscita efeitos que exigem


Im

regulamentação por lei federal, dada a


distribuição constitucional de competências
legislativas e a necessidade de que se
defina, de maneira uniforme e com

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Voto - MIN. ROBERTO BARROSO

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consideração aos impactos sobre o sistema


bancário, a forma de distribuição de
eventuais diferenças (spread) entre os
rendimentos decorrentes da aplicação

ON
financeira dos valores depositados e a

FF
remuneração legalmente prevista para os
depósitos judiciais.

BU
6. A lei em exame vigorou por mais de
16 (dezesseis) anos com presunção formal

:42 NO
de constitucionalidade e fundamentou o

:25 IA
repasse de valores ao Fundo Especial do

11 RC
Poder Judiciário do Estado do Espírito
Santo (FUNEPJ), além do seu posterior
4 - MA
dispêndio. Em hipóteses semelhantes, o
Plenário do STF tem atribuído efeitos
02 2 -

prospectivos às decisões proferidas em


1/2 0-7

ações diretas. Precedentes.


7. Ação parcialmente conhecida e, nessa
9/0 86

parte, pedido julgado procedente, para


: 2 37.

declarar a inconstitucionalidade da Lei nº


8.386/2006, do Estado do Espírito Santo,
Em 69.3

com efeitos ex nunc a contar da data da


publicação da ata de julgamento. Tese de
r: 4

julgamento: “É inconstitucional, por vício de


po

competência, lei estadual que discipline a


transferência, ao Poder Judiciário, dos
sso

rendimentos decorrentes da aplicação financeira


de depósitos judiciais”.
pre
Im

1. Trata-se de ação direta de inconstitucionalidade contra a


Lei nº 4.138/1988, do Estado do Espírito Santo, que elege o Banco do
Estado do Espírito Santo (BANESTES) como instituição financeira
responsável pela administração de depósitos judiciais decorrentes de

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Voto - MIN. ROBERTO BARROSO

Inteiro Teor do Acórdão - Página 13 de 29

ADI 6701 / ES

processos de competência da Justiça Estadual, e contra a Lei nº


8.386/2006, do mesmo Estado, que institui sistema de gerenciamento de
depósitos judiciais e destina ao Poder Judiciário parcela dos resultados
financeiros obtidos com a aplicação desses valores.

ON
FF
I. NÃO CONHECIMENTO DA AÇÃO RELATIVAMENTE À LEI Nº 4.138/1988

BU
2. A Assembleia Legislativa do Estado do Espírito Santo
(ALES) e a Advocacia-Geral da União (AGU) suscitam preliminar de não

:42 NO
conhecimento da ação no que diz respeito à Lei nº 4.138/1988. Alegam que

:25 IA
a redação impugnada, dada pela Lei estadual nº 4.569/1991, é

11 RC
substancialmente igual ao texto originário do ato normativo, que é
anterior à Constituição Federal de 1988. Nesse sentido, afirmam que a
4 - MA
configuração do interesse de agir exigiria que a redação originária da lei
também fosse objeto de impugnação, o que, ademais, não poderia ocorrer
02 2 -

pela via da ação direta de inconstitucionalidade, por se tratar de direito


1/2 0-7

pré-constitucional.
9/0 86

3. O Plenário do Supremo Tribunal Federal já decidiu que


: 2 37.

“[n]ão obsta a cognição da ação direta a falta de impugnação de ato


jurídico revogado pela norma tida como inconstitucional, supostamente
Em 69.3

padecente do mesmo vício, que se teria por repristinada” (ADI 7.110,


Rel.ª Min.ª Rosa Weber, j. em 14.09.2022). Entendeu-se que cabe à Corte,
r: 4

ao delimitar a eficácia da sua decisão, excluir dos efeitos da decisão


po

eventual efeito repristinatório quando constatada incompatibilidade com


a ordem constitucional. Considerando que tal providência equivale à
sso

modulação dos efeitos da decisão - e não à apreciação de pedido de


reconhecimento da não recepção de normas pré-constitucionais -, a
pre

escolha da via da ação direta também não representaria óbice à


Im

apreciação do pedido de mérito [1].

4. Ocorre que, como informado pela ALES, há outros atos


normativos estaduais que definem o BANESTES como instituição

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Voto - MIN. ROBERTO BARROSO

Inteiro Teor do Acórdão - Página 14 de 29

ADI 6701 / ES

financeira depositária de valores relacionados a processos judiciais da


competência da Justiça Estadual do Espírito Santo. O exemplo
mencionado na peça de informações se refere ao art. 1º da Lei estadual nº
10.549/2016, com redação dada pela Lei nº 10.562/2016, que disciplina os

ON
procedimentos relativos ao repasse de depósitos judiciais e

FF
administrativos ao Estado do Espírito Santo:

BU
Art. 1º Os depósitos judiciais e administrativos, em
dinheiro, referentes a processos judiciais ou administrativos,

:42 NO
tributários ou não tributários, nos quais o Estado do Espírito
Santo seja parte serão efetuados junto ao Banco do Estado do

:25 IA
Espírito Santo – BANESTES S/A. (Nova redação dada pela Lei
nº 10.562/2016)
11 RC
4 - MA
5. Ante o quadro, deve-se observar a jurisprudência da Corte,
02 2 -

que reconhece a falta de interesse de agir do autor nos casos em que a


petição inicial não impugna todo o complexo normativo. Na hipótese,
1/2 0-7

ainda que o pedido de declaração de inconstitucionalidade da Lei nº


9/0 86

4.138/1988 fosse julgado procedente, o conteúdo impugnado


permaneceria vigente com base em outro ato normativo estadual, não
: 2 37.

questionado nesta ação direta, o que esvazia a utilidade do provimento


Em 69.3

jurisdicional.
r: 4

6. Confiram-se as seguintes ementas:


po

AGRAVO REGIMENTAL EM AÇÃO DIRETA DE


INCONSTITUCIONALIDADE. EXTINÇÃO SEM
sso

RESOLUÇÃO DE MÉRITO. (...) LEI COMPLEMENTAR


pre

1.031/2007 DO ESTADO DE SÃO PAULO. NORMA DE


INTERESSE DA MAGISTRATURA ESTADUAL. NÃO
Im

IMPUGNAÇÃO À NORMA DO MESMO COMPLEXO


NORMATIVO. AUSÊNCIA DE INTERESSE DE AGIR.
IMPOSSIBILIDADE DE ADITAMENTO DA INICIAL.
NECESSIDADE DE NOVAS INFORMAÇÕES.
DESPROVIMENTO DO AGRAVO REGIMENTAL. (...) 2. A não

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ADI 6701 / ES

impugnação de todas as normas que integram o conjunto


normativo apontado como inconstitucional implica a ausência
do interesse de agir da parte requerente. Precedentes. 3.
Entendimento desta CORTE no sentido de que o aditamento da

ON
inicial só é possível, observados os princípios da economia e da
celeridade processuais, quando a inclusão de nova impugnação

FF
dispensa a requisição de novas informações. No presente caso,

BU
não é possível tal aditamento com a finalidade de corrigir vício
relativo à legislação não impugnada do complexo normativo. 4.

:42 NO
Agravo Regimental a que se nega provimento.
(ADI 4.265 AgR, Rel. Min. Alexandre de Moraes)

:25 IA
11 RC
[...] DIPLOMAS NORMATIVOS QUE INTEGRAM
COMPLEXO NORMATIVO INCINDÍVEL – NECESSIDADE
4 - MA
DE IMPUGNAÇÃO ABRANGENTE DE TODAS AS NORMAS
UNIDAS PELO VÍNCULO DE CONEXÃO – INOCORRÊNCIA
02 2 -

– INVIABILIDADE DA AÇÃO DIRETA. – Tratando-se de


normas legais e de diplomas legislativos que se
1/2 0-7

interconexionam ou que mantêm, entre si, vínculo de


9/0 86

dependência jurídica, cabe ao autor da ação direta, ao postular


a declaração de inconstitucionalidade, abranger, no alcance
: 2 37.

desse “judicium”, todas as regras unidas pelo vínculo de


Em 69.3

conexão, sob pena de, em não o fazendo, tornar inviável a


própria instauração do controle concentrado de
constitucionalidade. – Em situação de mútua dependência
r: 4

normativa, em que as regras estatais interagem umas com as


outras, condicionando-se, reciprocamente, em sua
po

aplicabilidade e eficácia, revela-se incabível a impugnação


sso

tópica ou fragmentária de apenas algumas dessas normas,


considerada a circunstância de o complexo normativo que elas
pre

integram qualificar-se como unidade estrutural incindível, a


inviabilizar questionamentos seletivos e isolados de
Im

determinadas prescrições normativas. – Em tal contexto, e pelo


fato de referidas normas integrarem a totalidade do sistema,
não se admitem, em sede de controle normativo abstrato,
impugnações isoladas ou tópicas, sob pena de completa

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ADI 6701 / ES

desarticulação e desagregação do próprio sistema normativo a


que se acham incorporadas. Precedentes.
(ADI 2.422 AgR, Rel. Min. Celso de Mello)

ON
7. Por esse motivo, não conheço da ação direta relativamente
ao pedido de declaração de inconstitucionalidade da Lei nº 4.138/1988.

FF
BU
II. MÉRITO

:42 NO
8. Passo a analisar a constitucionalidade das disposições
constantes da Lei nº 8.386/2006, do Estado do Espírito Santo, cujo teor

:25 IA
volto a transcrever:
11 RC
4 - MA
Art. 1º Fica instituído, na forma desta Lei, o Sistema de
Gerenciamento de Depósitos Judiciais à Disposição da Justiça,
02 2 -

no Poder Judiciário do Estado do Espírito Santo,


compreendendo os recursos provenientes de depósitos judiciais
1/2 0-7

à disposição da Justiça Estadual em geral, depositados no Banco


do Estado do Espírito Santo – BANESTES S.A.
9/0 86

Art. 2º As receitas do Poder Judiciário provenientes da


: 2 37.

aplicação desta Lei serão destinadas ao Fundo Especial do


Poder Judiciário do Estado do Espírito Santo – FUNEPJ,
Em 69.3

visando a modernização e reaparelhamento do Poder Judiciário


nos moldes do artigo 2º da Lei Complementar nº 219, de
r: 4

26/12/2001.
Art. 3º As normas gerais para o gerenciamento do Sistema
po

criado pelo artigo 1º desta Lei serão estabelecidas através de


sso

convênios a serem firmados entre o BANESTES S.A. e o Poder


Judiciário Estadual.
pre

Art. 4º Os valores que serão repassados mensalmente


pelo BANESTES S.A. ao FUNEPJ corresponderão a:
Im

I - 40% (quarenta por cento) dos resultados financeiros


obtidos com a aplicação dos depósitos judiciais existentes na
data de publicação desta Lei;
II - 60% (sessenta por cento) dos resultados financeiros
obtidos com a aplicação dos depósitos judiciais que vierem a

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Inteiro Teor do Acórdão - Página 17 de 29

ADI 6701 / ES

ser realizados após a publicação desta Lei.


Parágrafo único. São considerados resultados financeiros
aqueles provenientes da aplicação da taxa do Sistema Especial
de Liquidação e Custódia – SELIC efetiva do mês, ou outra

ON
taxa oficial que a substitua, sobre o valor médio dos depósitos
judiciais do mesmo período, descontados a remuneração legal

FF
desses depósitos, índice fixado por lei e o percentual

BU
obrigatório recolhido ao Fundo Garantidor de Crédito – FGC.
Art. 5º Ficam atribuídas à Assessoria Econômica/Diretoria

:42 NO
Judiciária Econômica, Financeira e Contábil do Tribunal de
Justiça a coordenação, supervisão e controle das atividades

:25 IA
inerentes à administração financeira do Sistema de

11 RC
Gerenciamento de Depósitos Judiciais à Disposição da Justiça.
Art. 6º Fica incluído no artigo 3º da Lei Complementar nº
4 - MA
219/01 o inciso XVII, com a seguinte redação:
“Art. 3º (…) (…) XVII - as provenientes do Sistema de
02 2 -

Gerenciamento de Depósitos Judiciais à Disposição da Justiça.


(…).” (NR)
1/2 0-7

Art. 7º Fica o Poder Executivo autorizado a abrir crédito


9/0 86

adicional ao Poder Judiciário, nas dotações orçamentárias do


FUNEPJ, efetuando as suplementações necessárias, oriundas do
: 2 37.

cumprimento da presente Lei, de acordo com as regras


Em 69.3

previstas na Lei Federal nº 4.320, de 17.3.1964, bem como adotar


os ajustes que se fizerem necessários no Plano Plurianual de
Aplicações – PPA 2004/2007 em decorrência dos efeitos desta
r: 4

Lei.
Art. 8º Os depósitos judiciais à disposição da Justiça, no
po

âmbito do Poder Judiciário Estadual, deverão ser


sso

obrigatoriamente efetuados no BANESTES S.A., conforme


disposto na Lei nº 4.569, de 14/10/1991.
pre

Art. 9º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.


Im

9. A matéria de fundo é complexa, mas não consiste em


novidade para esta Corte. Com efeito, ao longo dos últimos quatro anos,
o Plenário do Supremo Tribunal Federal julgou ao menos 13 (treze) ações
diretas de inconstitucionalidade contra leis estaduais que disciplinavam a

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Inteiro Teor do Acórdão - Página 18 de 29

ADI 6701 / ES

transferência de depósitos judiciais e/ou administrativos, vinculados a


processos tributários e/ou não tributários, dos quais o ente federativo
fosse ou não parte.

ON
10. No julgamento das Ações Diretas de Inconstitucionalidade

FF
5.455 (j. em 20.11.2019), 4.114 (j. em 13.12.2019), 5.747, 5.456 e 5.080 (j. em
15.04.2020), todas sob a relatoria do Ministro Luiz Fux, e no julgamento

BU
da Ação Direta de Inconstitucionalidade 5.353, sob a relatoria do Ministro
Alexandre de Moraes (j. em 11.05.2020), o Tribunal entendeu que a

:42 NO
administração da conta dos depósitos judiciais e extrajudiciais constitui

:25 IA
matéria processual (art. 22, I, da CF) e de normas gerais de direito

11 RC
financeiro (art. 24, I, § 1º, da CF), motivo por que se insere na competência
legislativa da União. Por esse fundamento, foram declaradas
4 - MA
inconstitucionais leis dos Estados de Alagoas, Sergipe, São Paulo, Rio
Grande do Sul e Minas Gerais que previam a transferência de depósitos
02 2 -

mantidos em instituições financeiras oficiais ao Poder Executivo estadual.


1/2 0-7

11. Nas ADIs 5.409 e 5.476 (Rel. Min. Edson Fachin, j. em


9/0 86

13.12.2019), leis estaduais da Bahia e do Rio Grande do Norte que


: 2 37.

versavam sobre a mesma matéria foram declaradas inconstitucionais, não


apenas pela existência de vício formal de competência, mas também por
Em 69.3

ofensa ao direito de propriedade dos jurisdicionados. O Plenário


concluiu, na ocasião, que a custódia de patrimônio alheio pelo ente estatal
r: 4

não autoriza o desvirtuamento da finalidade do depósito e o seu uso para


po

custeio de despesas públicas.


sso

12. O reconhecimento de vício material de


inconstitucionalidade voltou a ocorrer no julgamento da ADI 5.099 (Rel.ª
pre

Min.ª Cármen Lúcia, j. em 20.04.2020), em que se impugnava lei


Im

complementar do Estado do Paraná. A lei em questão autorizava a


transferência ao Poder Executivo de parcela dos depósitos judiciais
existentes em instituição financeira oficial contratada pelo Poder
Judiciário, independentemente de o Estado ser ou não parte no processo

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correspondente. Naquela oportunidade, esta Corte decidiu pela


inconstitucionalidade do ato normativo por vício formal de competência
e por vício material, tendo em vista a impossibilidade de expropriação de
numerário que não compõe patrimônio do Poder Público, mas de

ON
terceiros, litigantes em processo judicial específico.

FF
13. Fundamentação semelhante foi adotada no julgamento da

BU
ADI 5.072 (Rel. Min. Gilmar Mendes, j. em 22.06.2020), contra lei do
Estado do Rio de Janeiro, bem como das ADIs 5.392, 5.414 e 6.660 (Rel.ª

:42 NO
Min.ª Rosa Weber, j. em 16.09.2020, 27.09.2021 e 21.06.2022), contra leis

:25 IA
dos Estados do Piauí, Ceará e Pernambuco. Em todas essas demandas, a

11 RC
Corte concluiu pela usurpação da competência legislativa da União em
matéria de direito processual (art. 22, I, da CF), Sistema Financeiro
4 - MA
Nacional (art. 22, VII, e art. 192 da CF) e normas gerais de direito
financeiro (art. 24, I). Além disso, também reconheceu a existência de
02 2 -

violação ao direito de propriedade e às normas constitucionais que


1/2 0-7

regulam o endividamento dos Estados, tendo em vista o conteúdo


expropriatório da medidas impugnadas e a criação de hipótese disfarçada
9/0 86

de dívida pública.
: 2 37.

14. O relato feito acima demonstra que a jurisprudência do


Em 69.3

Supremo Tribunal Federal se consolidou no sentido de que leis estaduais


que autorizam a transferência e o uso, pelo Estado, de recursos
r: 4

financeiros correspondentes a depósitos judiciais e extrajudiciais


po

incorrem em vício de inconstitucionalidade formal, por usurpação da


competência da União para legislar sobre direito processual, para editar
sso

normas gerais de direito financeiro e para disciplinar o Sistema


Financeiro Nacional.
pre
Im

15. Na maior parte dos precedentes mencionados acima,


apreciavam-se leis estaduais que previam a transferência de parcela dos
depósitos judiciais e/ou extrajudiciais para o Poder Executivo. Todavia, o
Supremo Tribunal Federal também já teve a oportunidade de se

10

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manifestar especificamente sobre a (in)constitucionalidade de leis


estaduais que autorizavam a apropriação, pelo Poder Judiciário, de
parcela dos rendimentos obtidos com depósitos judiciais.

ON
16. No julgamento da ADI 2.855 (Rel. Min. Marco Aurélio, j.

FF
em 12.05.2010) e das ADIs 2.909 e 3.125 (Rel. Min. Ayres Britto, j. em
12.05.2010), o Plenário desta Corte concluiu pela existência de vício

BU
formal em leis estaduais que atribuíam ao Poder Judiciário parte dos
rendimentos líquidos decorrentes da aplicação financeira dos depósitos

:42 NO
judiciais. Transcrevo a ementa desses precedentes:

:25 IA
11 RC
DEPÓSITOS JUDICIAIS - INICIATIVA DE LEI. Ao
Judiciário não cabe a iniciativa de lei visando disciplinar o
4 - MA
Sistema Financeiro de Conta Única de Depósitos.
DEPÓSITOS JUDICIAIS - DIFERENÇA ENTRE A
02 2 -

REMUNERAÇÃO DAS CONTAS E RENDIMENTO


PREVISTO EM LEI - UTILIZAÇÃO PELO JUDICIÁRIO.
1/2 0-7

Surge conflitante com a Carta da República lei do Estado, de


9/0 86

iniciativa do Judiciário, a dispor sobre Sistema Financeiro de


Conta Única de Depósitos Judiciais com aporte de diferença de
: 2 37.

acessórios em benefício do Poder Judiciário” (ADI 2.855, Rel.


Em 69.3

Min. Marco Aurélio, j. em 12.05.2010).

“AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. LEI


r: 4

11.667, DE 11 DE SETEMBRO DE 2001, DO ESTADO DO RIO


GRANDE DO SUL. INSTITUIÇÃO DE SISTEMA DE
po

GERENCIAMENTO DOS DEPÓSITOS JUDICIAIS. VÍCIOS DE


sso

INCONSTITUCIONALIDADE FORMAL.
RECONHECIMENTO.
pre

1. É inconstitucional, por extravasar os limites do inciso II


do art. 96 da Constituição Federal, lei que institui Sistema de
Im

Gerenciamento dos Depósitos Judiciais, fixa a destinação dos


rendimentos líquidos decorrentes da aplicação dos depósitos
no mercado financeiro e atribui ao Fundo de Reaparelhamento
do Poder Judiciário a coordenação e o controle das atividades

11

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ADI 6701 / ES

inerentes à administração financeira de tal sistema. Matéria que


não se encontra entre aquelas reservadas à iniciativa legislativa
do Poder Judiciário.
2. Lei que versa sobre depósitos judiciais é de

ON
competência legislativa exclusiva da União, por tratar de
matéria processual (inciso I do art. 22 da Constituição

FF
Federal). Precedente: ADI 3.458, da relatoria do ministro Eros

BU
Grau. 3. Ação que se julga procedente.
(ADI 2.909, Rel. Min. Ayres Britto)

:42 NO
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. LEI

:25 IA
2.759, DE 20 DE NOVEMBRO DE 2002, DO ESTADO DO

11 RC
AMAZONAS. INSTITUIÇÃO DE SISTEMA DE CONTA
ÚNICA DE DEPÓSITOS JUDICIAIS. VÍCIOS DE
4 - MA
INCONSTITUCIONALIDADE FORMAL.
RECONHECIMENTO.
02 2 -

1. É inconstitucional, por extravasar os lindes do inciso II


do art. 96 da Constituição Federal, lei que institui Sistema de
1/2 0-7

Conta Única de Depósitos Judiciais, fixa a destinação dos


9/0 86

rendimentos líquidos decorrentes da aplicação dos depósitos no


mercado financeiro e atribui ao Poder Judiciário a coordenação
: 2 37.

e o controle das atividades inerentes à administração financeira


Em 69.3

desse sistema. Matéria que não se encontra entre aquelas


reservadas à iniciativa legislativa do Poder Judiciário.
2. Lei que versa sobre depósitos judiciais é de competência
r: 4

legislativa exclusiva da União, por tratar de matéria processual


(inciso I do art. 22 da Constituição Federal). Precedente: ADI
po

3.458, da relatoria do ministro Eros Grau. 3. Ação que se julga


sso

procedente.
(ADI 3.125, Rel. Min. Ayres Britto)
pre

17. Assim, foram declaradas inconstitucionais leis dos Estados


Im

do Mato Grosso, do Rio Grande do Sul e do Amazonas, de teor muito


semelhante ao da lei capixaba ora impugnada, que destinavam a fundos
vinculados aos tribunais de justiça os recursos financeiros resultantes da
diferença entre os índices fixados por lei para atualização monetária dos

12

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ADI 6701 / ES

depósitos judiciais - usados para definir o valor total a ser devolvido à


parte depositante, ou ao vencedor da demanda - e aquele pactuado para
remuneração da conta única instituída para administração desses
depósitos.

ON
FF
18. A existência de uma disputa, entre o Poder Judiciário e as
instituições financeiras depositárias, por eventuais diferenças (spreads)

BU
apuradas entre os rendimentos decorrentes da aplicação financeira de
valores depositados judicialmente e a remuneração legalmente prevista

:42 NO
para os depósitos judiciais foi considerada pelo Tribunal, mais

:25 IA
recentemente, no julgamento da já mencionada ADI 5.072 (Rel. Min.

11 RC
Gilmar Mendes, j. em 22.06.2020). A seguir:
4 - MA
“(...) Outro ponto que chama atenção pela sua forte ligação
com o funcionamento do sistema bancário é o chamado spread
02 2 -

bancário.
1/2 0-7

O spread bancário nada mais é do que a diferença entre o


9/0 86

que o banco cobra ao emprestar dinheiro e a taxa que ele paga


ao captar recursos.
: 2 37.
Em 69.3

Conforme apontado pelo Ministério Público Federal, o art.


1º, § 4º, da Lei Complementar 147/2013, ainda disciplina o
repasse ao Tribunal de Justiça do excedente de remuneração de
r: 4

depósitos judiciais transferidos à conta vinculada ao pagamento


po

de precatórios:
sso

‘Art. 1º (…)
§4º Sobre o valor atualizado da parcela, o Poder
pre

Executivo repassará, mensalmente, ao Tribunal de Justiça,


a diferença entre a remuneração atribuída originalmente
Im

aos depósitos judiciais e a remuneração fixada em


convênio, firmado entre o Tribunal de Justiça e a
instituição financeira, de forma a não haver perda de
rentabilidade para o Tribunal de Justiça.’

13

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Voto - MIN. ROBERTO BARROSO

Inteiro Teor do Acórdão - Página 23 de 29

ADI 6701 / ES

A legislação impugnada cria, então, uma nova fonte de


receita para o Poder Judiciário estadual e um novo tipo de
repasse de valores entre Executivo e Judiciário. No entanto, não

ON
sendo o Poder Executivo uma instituição financeira e, portanto,
não gerando spread, qual a fonte dessa receita a ser repassada ao

FF
Judiciário?

BU
O Poder Judiciário recebe os valores discutidos em Juízo e

:42 NO
entrega ao Banco para gerir esses recursos enquanto o processo
judicial tramita. A remuneração dos valores depositados no

:25 IA
Banco conforma-se à regulação do Banco Central, que monitora

11 RC
o spread bancário.
4 - MA
Compartilho das preocupações da Ministra Cármen Lúcia,
externadas no julgamento da ADI 2.855:
02 2 -

‘Estou enfatizando, Senhor Presidente, que este é um


1/2 0-7

problema que precisa ser enfrentado, porque há um vício


9/0 86

no sistema e o jurisdicionado brasileiro está pagando caro


por ele. A fórmula, no entanto, não me parece que possa
: 2 37.

ser essa, porque esse valor a mais que o banco ganha vai
Em 69.3

para essa conta, e isso não tem embasamento, pelo menos


ético, sequer jurídico, não é nenhuma desapropriação, na
verdade, é uma expropriação, é um quase confisco, porque
r: 4

estamos tirando aquilo que é obtido e entregando para


que o Poder Judiciário, que tem as suas carências, possa
po

usar. Primeiro: Perguntaram ao litigante? Perguntaram ao


sso

jurisdicionado? Segundo: O sistema comporta esse tipo de


situação? Terceiro: O Estado pode criar este mecanismo de
pre

uso de um direito que não é seu? – e aí vamos ver várias


condições em vários Estados; vi mesmo Municípios
Im

querendo fazer a mesma coisa, ou seja, quando ele fosse


parte, poderia fazer isso.
Então, em que pese as observações do Ministro Eros
Grau, concordo com o ponto de partida, este é um

14

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Voto - MIN. ROBERTO BARROSO

Inteiro Teor do Acórdão - Página 24 de 29

ADI 6701 / ES

problema gravíssimo, porque há um dinheiro que o banco


recebe sem nenhuma dificuldade, a pessoa não pode
escolher ser ou não cliente dele, o dinheiro fica por um
tempo que não depende deste cliente, porque é o

ON
jurisdicionado e o banco o utiliza para seu próprio
enriquecimento.

FF
E ainda há um outro problema que vi quando

BU
estudei a matéria: não se sabe em que momento, por
exemplo, o Poder Judiciário vai determinar o

:42 NO
levantamento, tem que ser de imediato. Ora, se o banco
está emprestando e uma parte já reverteu para o próprio

:25 IA
Judiciário, como ficam todos os que estão nesta verdadeira

11 RC
ciranda?’ (manifestações da Ministra Cármen Lúcia na
ADI 2.855, Rel. Min. Marco Aurélio, Tribunal Pleno, DJe
4 - MA
17/09/2010)
02 2 -

Como já manifestei em diversas ocasiões neste Plenário,


entendo que a questão do spread bancário no caso dos depósitos
1/2 0-7

judiciais é muito delicada e precisa ser regulamentada. No


9/0 86

entanto, é preciso que essa regulamentação parta da União, até


porque envolve o sistema financeiro nacional, na medida em
: 2 37.

que afeta a estabilidade do sistema bancário.


Em 69.3

De fato, parece haver um embate entre Poder Judiciário e


Poder Executivo versus instituições financeiras para ver quem
r: 4

se aproveita dos spreads”.


po

19. Na linha do afirmado pelo então relator, entendo que a


sso

medida impugnada nesta ação direta suscita efeitos que exigem


regulamentação por lei federal, seja pela distribuição constitucional de
pre

competências legislativas, seja pela necessidade de que se defina, de


Im

maneira uniforme e com consideração aos impactos sobre o sistema


bancário, a forma de distribuição de eventuais spreads bancários
originados da aplicação financeira dos depósitos judiciais.

20. Desse modo, concluo pela inconstitucionalidade da Lei nº

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Voto - MIN. ROBERTO BARROSO

Inteiro Teor do Acórdão - Página 25 de 29

ADI 6701 / ES

8.386/2006, do Estado do Espírito Santo, por vício formal, tendo em vista


a invasão da competência da União para legislar sobre direito processual,
para disciplinar o Sistema Financeiro Nacional e para editar normas
gerais de direito financeiro (arts. 22, I e VII; 192; e 24, I, da CF).

ON
FF
21. Entendo necessária, contudo, a modulação temporal dos
efeitos da declaração de inconstitucionalidade. A lei em questão vigorou

BU
por mais de 16 (dezesseis) anos com presunção formal de
constitucionalidade e fundamentou o repasse de valores ao Fundo

:42 NO
Especial do Poder Judiciário do Estado do Espírito Santo (FUNEPJ).

:25 IA
Considerando que os valores transferidos foram manejados pelo poder

11 RC
público ao longo de quase duas décadas, a atribuição de efeitos
retrospectivos à declaração de inconstitucionalidade criaria situação de
4 - MA
difícil equacionamento.
02 2 -

22. Em hipóteses semelhantes, o Plenário desta Corte tem


1/2 0-7

conferido efeitos prospectivos às decisões proferidas em ações diretas de


inconstitucionalidade. Vejam-se, a propósito, as seguintes ementas:
9/0 86
: 2 37.

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. LEI


ESTADUAL 12.069/2004, EM SUA REDAÇÃO ORIGINAL,
Em 69.3

ARTIGO 5º DA LEI ESTADUAL 12.585/2006 E LEI ESTADUAL


14.738/2015, TODAS DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL.
r: 4

DISPONIBILIZAÇÃO AO ESTADO DE 95% DOS RECURSOS


DE DEPÓSITOS JUDICIAIS PARA FINALIDADES
po

DISCRICIONÁRIAS. DESACORDO COM AS NORMAS


FEDERAIS DE REGÊNCIA. INVASÃO DA COMPETÊNCIA
sso

DA UNIÃO PARA LEGISLAR SOBRE DIREITO PROCESSUAL


pre

E SOBRE NORMAS GERAIS DE DIREITO FINANCEIRO


(ARTIGOS 22, I, E 24, I, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL).
Im

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE


CONHECIDA E JULGADO PROCEDENTE O PEDIDO.
MODULAÇÃO DOS EFEITOS DA DECISÃO.
(...)
5. A segurança jurídica impe a modulação dos efeitos da

16

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Voto - MIN. ROBERTO BARROSO

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ADI 6701 / ES

declaração de inconstitucionalidade das leis estaduais


objurgadas, a fim de que a sanatória de um vício não propicie o
surgimento de panorama igualmente inconstitucional, máxime
porque as normas possibilitaram ao Poder Executivo estadual a

ON
utilização de percentual dos recursos em finalidades não
previstas na legislação federal, que poderiam ficar

FF
desamparadas pela aplicação fria da regra da nulidade

BU
retroativa.
6. Ação direta de inconstitucionalidade CONHECIDA e

:42 NO
julgado PROCEDENTE o pedido, para declarar a
inconstitucionalidade da Lei estadual 12.069/2004, em sua

:25 IA
redação original, do artigo 5º da Lei estadual 12.585/2006, e da

11 RC
Lei estadual 14.738/2015, todas do Estado do Rio Grande do Sul,
com eficácia ex nunc, a partir da data do presente julgamento.
4 - MA
(ADI 5.456, Rel. Min. Luiz Fux)
02 2 -

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE.


DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. DIREITO
1/2 0-7

FINANCEIRO. SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL. LEI Nº


9/0 86

12.305, DE 18 DE DEZEMBRO DE 2002, DO ESTADO DE


PERNAMBUCO, ALTERADA PELA LEI Nº 12.337/2003, QUE
: 2 37.

DISPÕE SOBRE OS DEPÓSITOS JUDICIAIS E


Em 69.3

EXTRAJUDICIAIS À DISPOSIÇÃO DO PODER JUDICIÁRIO


ESTADUAL OU DA SECRETARIA DA FAZENDA. INVASÃO
DA COMPETÊNCIA DA UNIÃO PARA LEGISLAR SOBRE O
r: 4

SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL, A POLÍTICA DE


po

CRÉDITO E TRANSFERÊNCIA DE VALORES, DIREITO CIVIL


E PROCESSUAL, BEM COMO NORMAS GERAIS DE DIREITO
sso

FINANCEIRO. INCONSTITUCIONALIDADE FORMAL.


AFRONTA À SEPARAÇÃO DOS PODERES E AO DIREITO DE
pre

PROPRIEDADE. CARACTERIZAÇÃO DE EMPRÉSTIMO


COMPULSÓRIO. INCREMENTO DE ENDIVIDAMENTO.
Im

INCONSTITUCIONALIDADE MATERIAL. PRECEDENTES.


PROCEDÊNCIA. MODULAÇÃO DOS EFEITOS DA DECISÃO.
(...)
5. O ato normativo declarado inconstitucional, não

17

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ADI 6701 / ES

obstante viciado na sua origem, possibilitou o manejo dos


recursos depositados judicialmente. Modulação dos efeitos da
decisão para assentar a validade da lei até a data da publicação
da ata do presente julgamento. 6. Pedido da ação direta julgado

ON
procedente, para declarar a inconstitucionalidade formal e
material da Lei nº 12.305, de 18 de dezembro de 2002, do Estado

FF
de Pernambuco, alterada pela Lei nº 12.337, de 23 de janeiro de

BU
2003, com efeitos ex nunc a contar da data da publicação da ata
do julgamento.

:42 NO
(ADI 6.660, Rel.ª Min.ª Rosa Weber)

:25 IA
III. CONCLUSÃO

23. 11 RC
Diante do exposto, conheço parcialmente da ação direta e,
4 - MA
na parte conhecida, julgo procedente o pedido, para declarar a
inconstitucionalidade da Lei nº 8.386/2006, do Estado do Espírito Santo,
02 2 -

com efeitos ex nunc a contar da data da publicação da ata de julgamento.


1/2 0-7

24. Proponho a fixação da seguinte tese de julgamento: “É


9/0 86

inconstitucional, por vício de competência, lei estadual que discipline a


: 2 37.

transferência, ao Poder Judiciário, dos rendimentos decorrentes da aplicação


Em 69.3

financeira de depósitos judiciais”.

25. É como voto.


r: 4
po

Notas:
sso

[1] “Na nossa opinião, os obstáculos concernentes à possível


pre

ausência de pedido expresso de declaração de inconstitucionalidade da


Im

norma repristinada, e à eventual anterioridade desta norma em relação à


Constituição, podem ser superados através de uma compreensão
adequada da problemática cogitada. Na verdade, o STF não precisa
declarar a inconstitucionalidade da norma revogada, mas ele pode

18

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Inteiro Teor do Acórdão - Página 28 de 29

ADI 6701 / ES

apreciá-la apenas para os fins específicos de conceder, ou não, efeitos


repristinatórios à decisão de pronúncia de inconstitucionalidade da
norma revogadora. Não se trata, portanto, de exercer a fiscalização
abstrata daquele ato normativo anterior, mas sim de analisar a sua

ON
validade, para os fins específicos de modulação dos efeitos da decisão no

FF
controle de norma posterior” (Daniel Sarmento, “A eficácia temporal das
decisões no controle de constitucionalidade”, In: Daniel Sarmento (Org.),

BU
O controle de constitucionalidade e a lei nº 9.868/99, 2001, p. 131).

:42 NO
:25 IA
11 RC
4 - MA
02 2 -
1/2 0-7
9/0 86
: 2 37.
Em 69.3
r: 4
po
sso
pre
Im

19

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Extrato de Ata - 22/02/2023

Inteiro Teor do Acórdão - Página 29 de 29

PLENÁRIO
EXTRATO DE ATA

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE 6.701

ON
PROCED. : ESPÍRITO SANTO
RELATOR : MIN. ROBERTO BARROSO

FF
REQTE.(S) : PROCURADOR-GERAL DA REPÚBLICA
INTDO.(A/S) : GOVERNADOR DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO

BU
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO
INTDO.(A/S) : ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DA ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO

:42 NO
ESTADO DO ESPIRITO SANTO

:25 IA
Decisão: O Tribunal, por unanimidade, conheceu parcialmente da
ação direta e, na parte conhecida, julgou procedente o pedido,

11 RC
para declarar a inconstitucionalidade da Lei nº 8.386/2006 do
Estado do Espírito Santo, com efeitos ex nunc a contar da data da
4 - MA
publicação da ata de julgamento, fixando a seguinte tese de
julgamento: “É inconstitucional, por vício de competência, lei
estadual que discipline a transferência, ao Poder Judiciário, dos
02 2 -

rendimentos decorrentes da aplicação financeira de depósitos


judiciais”, nos termos do voto do Relator. Plenário, Sessão
1/2 0-7

Virtual de 10.2.2023 a 17.2.2023.


9/0 86

Composição: Ministros Rosa Weber (Presidente), Gilmar Mendes,


: 2 37.

Ricardo Lewandowski, Cármen Lúcia, Dias Toffoli, Luiz Fux, Roberto


Barroso, Edson Fachin, Alexandre de Moraes, Nunes Marques e André
Em 69.3

Mendonça.
r: 4

Carmen Lilian Oliveira de Souza


po

Assessora-Chefe do Plenário
sso
pre
Im

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