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Supremo Tribunal Federal

Ementa e Acórdão

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16/06/2021 PLENÁRIO

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE 5.664 ESPÍRITO SANTO

RELATOR : MIN. MARCO AURÉLIO


REDATOR DO : MIN. NUNES MARQUES
ACÓRDÃO
REQTE.(S) : PROCURADOR-GERAL DA REPÚBLICA
INTDO.(A/S) : GOVERNADOR DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DO ESTADO DO ESPÍRITO
SANTO
INTDO.(A/S) : ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DO
ESPÍRITO SANTO
ADV.(A/S) : SEM REPRESENTAÇÃO NOS AUTOS
AM. CURIAE. : SINDICATO DOS TRABALHADORES E SERVIDORES
PÚBLICOS DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO -
SINDIPÚBLICOS
ADV.(A/S) : MARCOS GOMES RIBEIRO

EMENTA

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. LEIS


COMPLEMENTARES ESTADUAIS. CONTRATAÇÃO TEMPORÁRIA.
AGENTES SOCIOEDUCATIVOS E TÉCNICOS DE NÍVEL SUPERIOR.
AUSÊNCIA DE EXCEPCIONALIDADE. PRINCÍPIO DO CONCURSO
PÚBLICO (CF, ART. 37, II). INCONSTITUCIONALIDADE.
MODULAÇÃO DE EFEITOS.

1. É expletiva, além de insuficiente para implicar revogação


automática de lei, a cláusula que evoca a revogação do que for contrário
ao texto aprovado (LINDB, art. 2º, § 1º). Dispositivos da Lei
Complementar n. 809/2015 do Estado do Espírito Santo validam
contratações temporárias ocorridas antes de sua vigência, sob a égide de
diplomas legislativos anteriores. Preliminar rejeitada.

2. A custódia de crianças e adolescentes que cumprem medidas

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ADI 5664 / ES

socioeducativas é tarefa ordinária, permanente e previsível do Estado, e a


ela devem corresponder cargos públicos de provimento efetivo, mediante
a realização de prévio concurso público, atendidas a natureza e a
complexidade (CF, art. 37, II).

3. A contratação temporária de agentes socioeducativos e técnicos de


nível superior com a finalidade de atender necessidade educacional deve
ser excepcional e voltada apenas a garantir a continuidade do serviço, até
que a vacância de cargo público seja resolvida.

4. São eivadas de inconstitucionalidade as Leis Complementares n.


559/2010 e 772/2014 do Estado do Espírito Santo.

5. Tendo em vista os princípios da segurança jurídica e da


continuidade do serviço público, é pertinente a modulação dos efeitos da
decisão (Lei n. 9.868/1999, art. 27), garantindo-se a vigência das
contratações temporárias celebradas com base nos citados diplomas, até
que expirem os prazos de duração. Nesse ínterim, o Poder Público local
deverá prover meios para que o Instituto de Atendimento Socioeducativo
(Iases) passe, em até dois anos, contados da publicação da ata de
julgamento, a desincumbir-se de suas atribuições, em sintonia com a
regra do art. 37, II, da Lei Maior.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros


do Supremo Tribunal Federal, em sessão realizada em 16 de junho de
2021, sob a Presidência do ministro Luiz Fux, na conformidade da ata de
julgamentos, por maioria, em julgar procedente o pedido formulado na
ação direta para declarar inconstitucionais a Lei Complementar n. 559, de 30
de junho de 2010, e a Lei Complementar n. 772, de 4 de abril de 2014, ambas

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ADI 5664 / ES

do Estado do Espírito Santo, vencidos os ministros Alexandre de Moraes, que


o julgava prejudicado e, vencido, improcedente, e Ricardo Lewandowski, que
o julgava improcedente, com a determinação de envio dos autos ao
Ministério Público do Estado do Espírito Santo. Por maioria, modularam os
efeitos da decisão, garantindo a vigência das contratações temporárias
eventualmente celebradas com base nas leis ora expungidas do ordenamento
jurídico até que expirem os prazos de duração originariamente previstos,
devendo o Poder Público capixaba prover meios para que o Instituto de
Atendimento Socioeducativo do Espírito Santo (Iases), em até dois anos,
contados da publicação desta sessão de julgamento, passe a se desincumbir
de suas atribuições, em sintonia com a regra constitucional constante do art.
37, II, da Lei Maior, vencidos os ministros Marco Aurélio (Relator) e Edson
Fachin. Redigirá o acórdão o ministro Nunes Marques. Falou, pelo
requerente, o Dr. Humberto Jacques de Medeiros, Vice-Procurador-Geral da
República.

Brasília, 16 de junho de 2021.

Ministro NUNES MARQUES


Redator do acórdão

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16/06/2021 PLENÁRIO

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE 5.664 ESPÍRITO SANTO

RELATOR : MIN. MARCO AURÉLIO


REDATOR DO : MIN. NUNES MARQUES
ACÓRDÃO
REQTE.(S) : PROCURADOR-GERAL DA REPÚBLICA
INTDO.(A/S) : GOVERNADOR DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DO ESTADO DO ESPÍRITO
SANTO
INTDO.(A/S) : ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DO
ESPÍRITO SANTO
ADV.(A/S) : SEM REPRESENTAÇÃO NOS AUTOS
AM. CURIAE. : SINDICATO DOS TRABALHADORES E SERVIDORES
PÚBLICOS DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO -
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ADV.(A/S) : MARCOS GOMES RIBEIRO

RE LAT Ó RI O

O SENHOR MINISTRO MARCO AURÉLIO – Adoto, como relatório,


as informações prestadas pelo assessor Hazenclever Lopes Cançado
Júnior:

O Procurador-Geral da República ajuizou esta ação direta,


com pedido de liminar, buscando ver declarada a
incompatibilidade, com a Constituição Federal, das Leis
Complementares nº 559, de 30 de junho de 2010, e 772, de 4 de
abril de 2014, ambas do Estado do Espírito Santo, a versarem
contratação temporária de agentes socioeducativos e técnicos de
nível superior do Instituto de Atendimento Socioeducativo do
Espírito Santo – Iases. Eis o teor:

Lei Complementar nº 559/2010:

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ADI 5664 / ES

Art. 1º Fica o Poder Executivo autorizado a celebrar


contrato administrativo de prestação de serviço, por prazo
determinado, para admissão de 677 (seiscentos e setenta e
sete) Agentes Socioeducativos e 60 (sessenta) Técnicos de
Nível Superior, em caráter temporário, para atender às
necessidades emergenciais do Instituto de Atendimento
Socioeducativo do Espírito Santo – IASES.

Art. 2º As contratações previstas no artigo 1º


respeitarão o prazo de até 12 (doze) meses, a contar da
data de formalização do contrato administrativo de
prestação de serviços, podendo ser prorrogadas por igual
período e rescindidas a qualquer tempo no interesse da
administração.

Art. 3º É proibido o desvio de função do pessoal


contratado na forma desta Lei Complementar.

Art. 4º É proibida a contratação, nos termos desta Lei


Complementar, de servidores das administrações direta e
indireta, da União, do Estado e dos Municípios, exceto as
acumulações permitidas constitucionalmente.

Parágrafo único. Sem prejuízo da nulidade do


contrato, a infração do disposto no caput deste artigo,
importará na responsabilidade da autoridade contratante
e do contratado, inclusive solidariedade quanto à
devolução dos valores pagos ao contratado.

Art. 5º Nas contratações, de que trata esta Lei


Complementar, serão observados os valores da Tabela de
Subsídio, classe I, referência 1, a que se refere o Anexo IV
da Lei Complementar nº 503, de 05.11.2009, pagos aos
servidores efetivos dos cargos de Agente Socioeducativo e
de Técnico de Nível Superior, respectivamente, para a
jornada de trabalho de 40 (quarenta) horas semanais.

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ADI 5664 / ES

Art. 6º Aplicam-se ao pessoal contratado os mesmos


deveres, proibições e responsabilidades vigentes para os
servidores públicos, integrantes do órgão a que forem
subordinados, além daqueles descritos pela Lei
Complementar nº 46, de 31.01.1994, com suas alterações
posteriores.

Art. 7º As infrações disciplinares atribuídas ao


pessoal contratado nos termos desta Lei Complementar
serão apuradas mediante sindicância, concluídas no prazo
de 30 (trinta) dias e assegurada a ampla defesa.

Art. 8º O contrato firmado de acordo com os termos


desta Lei Complementar extinguir-se-á sem direito à
indenização:
I - pelo término do prazo contratual;
II - por iniciativa do contratado;
III - por conveniência da administração;
IV - quando o contratado incorrer em falta
disciplinar.

Art. 9º É assegurado aos contratados:


I – o 13º (décimo terceiro) salário, proporcional ao
tempo de serviço prestado nessa condição;
II – a indenização de férias proporcionalmente ao
tempo de serviço prestado;
III – o adicional de férias proporcional ao tempo de
serviço prestado;
IV – o vale-transporte.

Art. 10. Os contratados, na forma desta Lei


Complementar, serão segurados do Regime Geral da
Previdência Social, conforme § 13 do artigo 40 da
Constituição Federal.

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ADI 5664 / ES

Art. 11. O quantitativo de vagas dos cargos de


provimento efetivo de Agente Socioeducativo e de Técnico
de Nível Superior, a que se refere o Anexo da Lei
Complementar nº 503/09, passa a ser respectivamente de
1.109 (mil cento e nove) e 206 (duzentos e seis).

Art. 12. As despesas decorrentes da execução desta


Lei Complementar correrão por conta das dotações
orçamentárias próprias que serão suplementadas, se
necessário.

Art. 13. Esta Lei Complementar entra em vigor na


data de sua publicação.

Lei Complementar nº 772/2014:

Art. 1º Fica o Poder Executivo autorizado a celebrar


contrato administrativo de prestação de serviço, por prazo
determinado, para admissão de 30 (trinta) analistas de
suporte socioeducativos distribuídos nas áreas de
administração, contabilidade, direito, economia,
jornalismo; 1 (um) nutricionista socioeducativo; 21 (vinte e
um) pedagogos socioeducativos; 29 (vinte e nove)
psicólogos socioeducativos; 28 (vinte e oito) assistentes
sociais socioeducativos; 1 (um) terapeuta ocupacional
socioeducativo; 13 (treze) técnicos em enfermagem
socioeducativos; 4 (quatro) técnicos socioeducativos nas
áreas de segurança do trabalho e edificações; 37 (trinta e
sete) assistentes de suporte socioeducativos e 578
(quinhentos e setenta e oito) agentes socioeducativos,
totalizando 742 (setecentos e quarenta e dois) servidores,
em caráter temporário para atender às necessidades
emergenciais do Instituto de Atendimento Socioeducativo
do Espírito Santo – IASES.

Art. 2º As contratações previstas no artigo 1º

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respeitarão o prazo de até 12 (doze) meses, a contar da


data de formalização do contrato administrativo de
prestação de serviços, podendo ser prorrogadas por igual
período e rescindidas a qualquer tempo no interesse da
administração.

Art. 3º É proibido o desvio de função do pessoal


contratado na forma desta Lei Complementar.

Art. 4º É proibida a contratação, nos termos desta Lei


Complementar, de servidores das administrações direta e
indireta da União, do Estado e dos Municípios, exceto as
acumulações permitidas constitucionalmente.
Parágrafo único. Sem prejuízo da nulidade do
contrato, a infração do disposto no caput deste artigo,
importará na responsabilidade da autoridade contratante
e do contratado, inclusive solidariedade, quanto à
devolução dos valores pagos ao contratado.

Art. 5º Nas contratações de que trata esta Lei


Complementar, serão observados os valores da Tabela de
Subsídio, classe I, referência I, a que se refere o Anexo XIII
da Lei Complementar nº 706, de 27.8.2013, pagos aos
servidores efetivos dos cargos de analista de suporte
socioeducativo, nutricionista socioeducativo; pedagogo
socioeducativo; psicólogo socioeducativo; assistente social
socioeducativo; terapeuta ocupacional socioeducativo;
técnico em enfermagem socioeducativo; técnico
socioeducativo nas áreas de segurança do trabalho e
edificações; assistente de suporte socioeducativo e agente
socioeducativo, para a jornada de 40 (quarenta) horas
semanais, exceto aos servidores ocupantes do cargo de
agente socioeducativo, cuja jornada de trabalho é em
regime de escala de plantão de 12 (doze) horas de trabalho
e de 36 (trinta e seis) horas de descanso ou de 24 (vinte e
quatro) horas de trabalho e de 72 (setenta e duas) horas de

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descanso, respeitado o limite máximo de 192 (cento e


noventa e duas) horas mensais.

Art. 6º Aplicam-se ao pessoal contratado os mesmos


deveres, proibições e responsabilidades vigentes para os
servidores públicos, integrantes do órgão a que forem
subordinados, além daqueles descritos pela Lei
Complementar nº 46, de 31.01.1994, com suas alterações
posteriores.

Art. 7º As infrações disciplinares atribuídas ao


pessoal contratado nos termos desta Lei Complementar
serão apuradas mediante sindicância, concluídas no prazo
de 30 (trinta) dias e assegurada a ampla defesa.

Art. 8º O contrato firmado de acordo com os termos


desta Lei Complementar extinguir-se-á sem direito a
indenização:

I - pelo término do prazo contratual;


II - por iniciativa do contratado;
III - por conveniência da administração;
IV - quando o contratado incorrer em falta
disciplinar.

Art. 9º É assegurado aos contratados:


I – o 13º (décimo terceiro) salário, proporcional ao
tempo de serviço prestado nessa condição;
II – a indenização de férias proporcionalmente ao
tempo de serviço prestado;
III – o adicional de férias proporcional ao tempo de
serviço prestado;
IV – o vale-transporte.

Art. 10. Os contratados, na forma desta Lei


Complementar, serão segurados do Regime Geral da

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Previdência Social, conforme § 13 do artigo 40 da


Constituição Federal.

Art. 11. As despesas decorrentes da execução desta


Lei Complementar correrão por conta das dotações
orçamentárias próprias, que serão suplementadas, se
necessário.

Art. 12. Esta Lei Complementar entra em vigor na


data de sua publicação.

Narra autorizada a contratação de 2.057 empregados


temporários para atuação nas áreas de saúde e educação.
Elucida em jogo cargos de agente socioeducativo, técnico de
nível superior, analista de suporte socioeducativo, nutricionista
socioeducativo, pedagogo socioeducativo, técnico
socioeducativo, assistente de suporte socioeducativo e agente
socioeducativo. Faz ver que, desde 2004, o Estado vem editando
leis complementares a versarem ocupação precária de cargos
técnicos, os quais, conforme sustenta, exigem provimento
efetivo, ausente realização de certame nesse período – Leis
Complementares nº 300/2004, 349/2005, 378/2006, 405/2007,
559/2010 e 772/2014.

Aponta violados os artigos 37, incisos II e IX, e 39, cabeça,


da Constituição Federal. Assevera não demonstrada a
configuração dos requisitos de necessidade e excepcionalidade
a justificarem admissão de servidores na modalidade
temporária. Esclarece inexistir prazo para a contratação. Cita
doutrina.

Afirma inobservado entendimento do Supremo sobre o


tema. Remete ao julgamento da ação direta de nº 3.430, relator
ministro Ricardo Lewandowski, com acórdão publicado no
Diário da Justiça de 23 de outubro de 2009, na qual o Pleno
declarou inconstitucional a Lei Complementar nº 300/2004 do

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Estado do Espírito Santo, assentando não atendidas as


condições para vínculo precário.

Sob o ângulo do risco, menciona possibilidade de


provimento de cargos públicos sem observância das balizas
constitucionais.

Requer, em sede liminar, a suspensão da eficácia das Leis


Complementares nº 559/2010 e 772/2014 do Estado do Espírito
Santo. Postula, alfim, a declaração de inconstitucionalidade.

Vossa Excelência acionou o disposto no artigo 12 da Lei nº


9.868/1999, determinando fossem providenciadas informações,
manifestação da Advocacia-Geral da União e parecer da
Procuradoria-Geral da República.

O Presidente da Assembleia Legislativa do Estado ressalta


a higidez do processo legislativo que deu origem aos diplomas
impugnados. Diz editados objetivando suprir necessidade
excepcional e provisória quanto a serviços públicos essenciais,
ligados a segurança e bem-estar da população. Realça a
capacidade financeira da unidade federativa. Sustenta a
improcedência do pedido.

O Governador do Espírito Santo destaca excepcional


interesse público consideradas as atribuições do Estado
relativamente aos sistemas socioeducativo e de saúde pública.
Articula com proteção da criança e do adolescente – artigo 227
da Carta da República. Alega inexistir dano ao erário levando
em conta o exercício das atividades, com proveito para a
Administração, evitando riscos ao patrimônio público e à
continuidade dos serviços. Postula seja o pedido julgado
improcedente e, sucessivamente, modulados os efeitos da
declaração de inconstitucionalidade, com a finalidade de
manter válidas as admissões efetivadas.

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ADI 5664 / ES

A Advocacia-Geral da União manifesta-se pela


improcedência da pretensão, nos seguintes termos:

Contratação excepcional sem concurso público. Leis


Complementares nº 5592010 e 772/2014 do Estado do
Espírito Santo, que autorizam o Poder Executivo a realizar
contratação temporária de pessoal para atender às
necessidades emergenciais do Instituto de Atendimento
Socioeducativo do Espírito Santo - IASES. Ausência de
violação ao artigo 37, incisos II e IX da Constituição. As
hipóteses de contratação em exame estão disciplinadas em
lei editada pela unidade federada competente e possuem
balizas circunstanciais e temporais especificas, que
demonstram o caráter transitório de sua necessidade e a
excepcionalidade do interesse público subjacente.
Possibilidade de contratação temporária para o exercício
de atividades de caráter permanente. Precedentes desse
Supremo Tribunal Federal. Inexistência de violação ao
artigo 39, caput, da Constituição. Inaplicabilidade do
regime jurídico único aos prestadores de serviço púbico
temporários. Manifestação pela improcedência do pedido
formulado pelo requerente.

A Procuradoria-Geral da República preconiza o


acolhimento do que requerido, ante fundamentos assim
resumidos:

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE.


LEIS COMPLEMENTARES Nºs 559/2010 E 772/2014, DO
ESTADO DO ESPÍRITO SANTO. INSTITUTO DE
ATENDIMENTO SOCIOEDUCATIVO DO ESPÍRITO
SANTO – IASES. CONTRATAÇÃO ADMINISTRATIVA
DE PESSOAL EM CARÁTER TEMPORÁRIO. NÃO
DEMONSTRAÇÃO DA TRANSITORIEDADE DA
CONTRATAÇÃO NEM DA EXCEPCIONALIDADE DO
INTERESSE PÚBLICO.

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ADI 5664 / ES

- Para a contratação temporária, nos moldes do art.


37, IX, da CF, é indispensável o exame da transitoriedade
da contratação e da excepcionalidade do interesse público
que a justifica. Precedente do STF. Elementos não
demonstrados nas Leis Complementares nºs 559/2010 e
772/2014, do Estado do Espírito Santo.
- Parecer pelo acolhimento do pedido, nos termos da
petição inicial.

Vossa Excelência admitiu, como terceiro interessado, o


Sindicato dos Trabalhadores e Servidores Públicos do Espírito
Santo – Sindipúblicos.

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Voto - MIN. MARCO AURÉLIO

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AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE 5.664 ESPÍRITO SANTO

VOTO

O SENHOR MINISTRO MARCO AURÉLIO (RELATOR):

CARGO OU EMPREGO PÚBLICO – OCUPAÇÃO. Cargo


público há de ser ocupado de forma permanente, realizando-se
concurso de provas ou de provas e títulos, atendidas a natureza
e complexidade, não cabendo generalizar a exceção revelada
por nomeação para cargo em comissão, declarado em lei de
livre nomeação e exoneração – artigo 37, inciso II, da
Constituição Federal.

EDUCAÇÃO – CONTRATAÇÃO TEMPORÁRIA –


IMPROPRIEDADE. Surge conflitante com a Constituição
Federal contratação temporária de agentes socioeducativos e
técnicos de nível superior visando atender necessidade
educacional. Inconstitucionalidade das Leis Complementares nº
559/2010 e 772/2014 do Estado do Espírito Santo.

Há de atentar-se para a supremacia da Constituição Federal, Lei das


leis, que se encontra no ápice da pirâmide das normas jurídicas pátrias.
Tem-se, no artigo 37, inciso II, dela constante, preceito imperativo:

Art. 37. A administração pública direta e indireta de


qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de
legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e
eficiência e, também, ao seguinte:
[...]
II – a investidura em cargo ou emprego público depende
de aprovação prévia em concurso público de provas ou de
provas e títulos, de acordo com a natureza e a complexidade do
cargo ou emprego, na forma prevista em lei, ressalvadas as

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Voto - MIN. MARCO AURÉLIO

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ADI 5664 / ES

nomeações para cargo em comissão declarado em lei de livre


nomeação e exoneração.

O acesso a cargo e emprego depende da feitura de concurso público.


Essa é a regra, confirmando-a a exceção, no que contempla cargo em
comissão declarado em lei de livre nomeação e exoneração.
Educação é um dos males existentes, em termos de ser deficitária.
Cumpre ao Estado – gênero – aparelhar-se, objetivando atender esse
direito básico do cidadão. Conforme ressaltado na petição inicial, tem-se,
no Espírito Santo, edição de sucessivas normas prevendo contratação
temporária de cargos técnicos, a exigirem provimento efetivo.
Nesta ação direta de inconstitucionalidade, são questionadas as Leis
Complementares nº 559/2010 e 772/2014. Antes, houve diplomas
versando idêntica matéria, a saber: Leis Complementares nº 300/2004,
349/2005, 387/2006, 405/2007. O círculo é vicioso, deixando-se de observar
o ditame constitucional sobre preenchimento definitivo de cargos em área
sensível que é o sistema socioeducativo.
O conflito, com o inciso II do artigo 37 da Constituição Federal, dos
atos normativos impugnados é de clareza solar.
Julgo procedente o pedido formulado, para declarar
inconstitucionais as Leis Complementares nº 559/2010 e 772/2014 do
Estado do Espírito Santo.

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código E8AD-42D0-730B-24E1 e senha D1C9-076E-657A-A5CA
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16/06/2021 PLENÁRIO

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE 5.664 ESPÍRITO SANTO

VOTO

O SENHOR MINISTRO NUNES MARQUES: O Procurador-Geral


da República ajuizou esta ação direta de inconstitucionalidade, com
pedido de medida cautelar, tendo por objeto a Lei Complementar n. 559,
de 30 de junho de 2010, e a Lei Complementar n. 772, de 4 de abril de
2014, ambas do Estado do Espírito Santo. Eis o teor das normas:

LEI COMPLEMENTAR Nº 559, DE 30 DE JUNHO DE


2010.
Autoriza o Poder Executivo a realizar contratação
temporária de Agente Socioeducativo e Técnico de Nível
Superior do Instituto de Atendimento Socioeducativo do
Espírito Santo – IASES e dá outras providências.

O GOVERNADOR DO ESTADO DO ESPIRITO SANTO


Faço saber que a Assembleia Legislativa decretou e eu
sanciono a seguinte lei:

Art. 1º Fica o Poder Executivo autorizado a celebrar


contrato administrativo de prestação de serviço, por prazo
determinado, para admissão de 677 (seiscentos e setenta e sete)
Agentes Socioeducativos e 60 (sessenta) Técnicos de Nível
Superior, em caráter temporário, para atender às necessidades
emergenciais do Instituto de Atendimento Socioeducativo do
Espírito Santo – IASES.

Art. 2º As contratações previstas no artigo 1º respeitarão o


prazo de até 12 (doze) meses, a contar da data de formalização
do contrato administrativo de prestação de serviços, podendo
ser prorrogadas por igual período e rescindidas a qualquer
tempo no interesse da administração.

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
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ADI 5664 / ES

Art. 3º É proibido o desvio de função do pessoal


contratado na forma desta Lei Complementar.

Art. 4º É proibida a contratação, nos termos desta Lei


Complementar, de servidores das administrações direta e
indireta, da União, do Estado e dos Municípios, exceto as
acumulações permitidas constitucionalmente.

Parágrafo único. Sem prejuízo da nulidade do contrato, a


infração do disposto no caput deste artigo, importará na
responsabilidade da autoridade contratante e do contratado,
inclusive solidariedade quanto à devolução dos valores pagos
ao contratado.

Art. 5º Nas contratações, de que trata esta Lei


Complementar, serão observados os valores da Tabela de
Subsídio, classe I, referência, a que se refere o Anexo IV da Lei
Complementar nº 503, de 05.11.2009, pagos aos servidores
efetivos dos cargos de Agente Socioeducativo e de Técnico de
Nível Superior, respectivamente, para a jornada de trabalho de
40 (quarenta) horas semanais.

Art. 6º Aplicam-se ao pessoal contratado os mesmos


deveres, proibições e responsabilidades vigentes para os
servidores públicos, integrantes do órgão a que forem
subordinados, além daqueles descritos pela Lei Complementar
nº 46, de 31.01.1994, com suas alterações posteriores.

Art. 7º As infrações disciplinares atribuídas ao pessoal


contratado nos termos desta Lei Complementar serão apuradas
mediante sindicância, concluídas no prazo de 30 (trinta) dias e
assegurada a ampla defesa.

Art. 8º O contrato firmado de acordo com os termos desta


Lei Complementar extinguir-se-á sem direito à indenização:
I – pelo término do prazo contratual;

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ADI 5664 / ES

II – por iniciativa do contratado;


III – por conveniência da administração;
IV – quando o contratado incorrer em falta disciplinar.

Art. 9º É assegurado aos contratados:


I – o 13º (décimo terceiro) salário, proporcional ao tempo
de serviço prestado nessa condição;
II – a indenização de férias proporcionalmente ao tempo
de serviço prestado;
III – o adicional de férias proporcional ao tempo de serviço
prestado;
IV – o vale-transporte.

Art. 10. Os contratados, na forma desta Lei


Complementar, serão segurados do Regime Geral da
Previdência Social, conforme § 13 do artigo 40 da Constituição
Federal.

Art. 11. O quantitativo de vagas dos cargos de provimento


efetivo de Agente Socioeducativo e de Técnico de Nível
Superior, a que se refere o Anexo I da Lei Complementar nº
503/09, passa a ser respectivamente de 1.109 (mil cento e nove) e
206 (duzentos e seis).

Art. 12. As despesas decorrentes da execução desta Lei


Complementar correrão por conta das dotações orçamentárias
próprias que serão suplementadas, se necessário.

Art. 13. Esta Lei Complementar entra em vigor na data de


sua publicação.”

LEI COMPLEMENTAR Nº 772, DE 04 DE ABRIL DE 2014.


Autoriza o Poder Executivo a realizar contratação
temporária para atender às necessidades urgentes do Instituto
de Atendimento Socioeducativo do Espírito Santo – IASES e dá

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ADI 5664 / ES

outras providências.

O GOVERNADOR DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO


Faço saber que a Assembleia Legislativa decretou e eu
sanciono a seguinte Lei:

Art. 1º Fica o Poder Executivo autorizado a celebrar


contrato administrativo de prestação de serviço, por prazo
determinado, para admissão de 30 (trinta) analistas de suporte
socioeducativos distribuídos nas áreas de administração,
contabilidade, direito, economia, jornalismo; 1 (um)
nutricionista socioeducativo; 21 (vinte e um) pedagogos
socioeducativos; 29 (vinte e nove) psicólogos socioeducativos;
28 (vinte e oito) assistentes sociais socioeducativos; 1 (um)
terapeuta ocupacional socioeducativo; 13 (treze) técnicos em
enfermagem socioeducativos; 4 (quatro) técnicos
socioeducativos nas áreas de segurança do trabalho e
edificações; 37 (trinta e sete) assistentes de suporte
socioeducativos e 578 (quinhentos e setenta e oito) agentes
socioeducativos, totalizando 742 (setecentos e quarenta e dois)
servidores, em caráter temporário para atender às necessidades
emergenciais do Instituto de Atendimento Socioeducativo do
Espírito Santo – IASES.

Art. 2º As contratações previstas no artigo 1º respeitarão o


prazo de até 12 (doze) meses, a contar da data de formalização
do contrato administrativo de prestação de serviços, podendo
ser prorrogadas por igual período e rescindidas a qualquer
tempo no interesse da administração.

Art. 3º É proibido o desvio de função do pessoal


contratado na forma desta Lei Complementar.

Art. 4º É proibida a contratação, nos termos desta Lei


Complementar, de servidores das administrações direta e
indireta da União, do Estado e dos Municípios, exceto as

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acumulações permitidas constitucionalmente.


Parágrafo único. Sem prejuízo da nulidade do contrato, a
infração do disposto no caput deste artigo, importará na
responsabilidade da autoridade contratante e do contratado,
inclusive solidariedade, quanto à devolução dos valores pagos
ao contratado.

Art. 5º Nas contratações de que trata esta Lei


Complementar, serão observados os valores da Tabela de
Subsídio, classe I, referência I, a que se refere o Anexo XIII da
Lei Complementar nº 706, de 27.8.2013, pagos aos servidores
efetivos dos cargos de analista de suporte socioeducativo,
nutricionista socioeducativo; pedagogo socioeducativo;
psicólogo socioeducativo; assistente social socioeducativo;
terapeuta ocupacional socioeducativo; técnico em enfermagem
socioeducativo; técnico socioeducativo nas áreas de segurança
do trabalho e edificações; assistente de suporte socioeducativo e
agente socioeducativo, para a jornada de 40 (quarenta) horas
semanais, exceto aos servidores ocupantes do cargo de agente
socioeducativo, cuja jornada de trabalho é em regime de escala
de plantão de 12 (doze) horas de trabalho e de 36 (trinta e seis)
horas de descanso ou de 24 (vinte e quatro) horas de trabalho e
de 72 (setenta e duas) horas de descanso, respeitado o limite
máximo de 192 (cento e noventa e duas) horas mensais.

Art. 6º Aplicam-se ao pessoal contratado os mesmos


deveres, proibições e responsabilidades vigentes para os
servidores públicos, integrantes do órgão a que forem
subordinados, além daqueles descritos pela Lei Complementar
nº 46, de 31.01.1994, com suas alterações posteriores.

Art. 7º As infrações disciplinares atribuídas ao pessoal


contratado nos termos desta Lei Complementar serão apuradas
mediante sindicância, concluídas no prazo de 30 (trinta) dias e
assegurada a ampla defesa.

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ADI 5664 / ES

Art. 8º O contrato firmado de acordo com os termos desta


Lei Complementar extinguir-se-á sem direito a indenização:
I – pelo término do prazo contratual;
II – por iniciativa do contratado;
III – por conveniência da administração;
IV – quando o contratado incorrer em falta disciplinar.

Art. 9º É assegurado aos contratados:


I – o 13º (décimo terceiro) salário, proporcional ao tempo
de serviço prestado nessa condição;
II – a indenização de férias proporcionalmente ao tempo
de serviço prestado;
III – o adicional de férias proporcional ao tempo de serviço
prestado;
IV – o vale-transporte.

Art. 10. Os contratados, na forma desta Lei


Complementar, serão segurados do Regime Geral da
Previdência Social, conforme § 13 do artigo 40 da Constituição
Federal.

Art. 11. As despesas decorrentes da execução desta Lei


Complementar correrão por conta das dotações orçamentárias
próprias, que serão suplementadas, se necessário.

Art. 12. Esta Lei Complementar entra em vigor na data de


sua publicação.”

Adotou-se o rito do art. 12 da Lei n. 9.868/1999.

Em informações, o Governador do Estado do Espírito Santo


sustentou a improcedência do pedido.

O Advogado-Geral da União manifestou-se pela improcedência do


pedido, mas defendeu que as contratações temporárias só devem
perdurar até as respectivas atribuições poderem ser realizadas por

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servidores públicos efetivos, a serem recrutados por concurso público de


provas ou de provas e títulos, in verbis:

Ressalte-se, outrossim, que as contratações sob invectiva


somente podem ocorrer “para atender às necessidades
emergenciais do Instituto de Atendimento Socioeducativo do
Espirito Santo – IASES” (artigo lº da Lei Complementar nº
559/2010 e artigo 1º da Lei Complementar nº 772/2014), o que
afasta a possibilidade de sua válida aplicação quando o serviço
público puder ser desempenhado a contento com o quadro de
servidores permanentes, bem como impede a utilização do
referido instituto com a finalidade exclusiva de postergar a
realização de concurso público.

A Assembleia Legislativa do Estado do Espírito Santo, prestou


informações, afirmando a constitucionalidade das leis impugnadas.

O Procurador-Geral da República reiterou os termos da petição


inicial, opinando pela declaração de inconstitucionalidade dos diplomas
legais questionados.

O Sindicato dos Trabalhadores e Servidores Públicos do Estado do


Espírito Santo – Sindipúblicos foi admitido como amicus curiae.

Por último, tornou ao feito o Governador do Estado do Espírito


Santos, para comunicar a revogação das normas atacadas, o que
redundaria, segundo ponderou, na perda de objeto da ação, dando azo à
extinção sem julgamento do mérito.

Sobreveio decisão do Relator, ministro Marco Aurélio, na qual Sua


Excelência assentou: “Ausente revogação expressa, subsiste campo à
atuação do Supremo, desafiado o controle concentrado, uma vez
impugnados preceitos abstratos em plena vigência.”

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É o contexto. Passo ao voto.

Preliminarmente, observo que a Lei Complementar n. 809, de


setembro de 2015, do Estado do Espírito Santo, a qual teria revogado os
diplomas ora impugnados, não o fez expressamente, como se pode
verificar da leitura do art. 23:

[…]
Art. 23. Ficam revogadas as Leis Complementares e as
Leis Ordinárias que tratarem de contratações temporárias,
naquilo que contrariar as disposições desta Lei Complementar.

A mera cláusula de estilo legislativo, que evoca a revogação de tudo


que for contrário ao novo texto aprovado, não é suficiente para
efetivamente retirar a vigência das normas questionadas. No mínimo,
surge duvidosa e passível de controvérsia a revogação.

De resto, esse tipo de cláusula é meramente expletivo, visto que, por


disposição legal de sobredireito (art. 2º, § 1º, da Lei de Introdução às
Normas do Direito Brasileiro), a lei nova haverá sempre de revogar a
anterior, naquilo em que forem contrárias, in verbis:

Art. 2º […]
§ 1º A lei posterior revoga a anterior quando
expressamente o declare, quando seja com ela incompatível ou
quando regule inteiramente a matéria de que tratava a lei
anterior.

A identificação de dispositivos, nos dois diplomas atacados,


pretensamente revogados pela Lei Complementar estadual n. 809/2015,
exigiria confronto analítico entre a lei posterior e as anteriores. Não se
trata de retirada de efeitos expressa e automática, mas, sim, de algo que
demandaria esforço hermenêutico nada desprezível.

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A propósito, acresça-se que, na Lei Complementar n. 809/2015 do


Estado do Espírito Santo, se encontram dispositivos a validar
contratações temporárias ocorridas antes de sua vigência, sob a égide de
diplomas legislativos anteriores. Bem se vê, portanto, que seu ingresso no
ordenamento jurídico capixaba não significou, por si só, revogação das
Leis Complementares n. 559/2010 e 772/2014.

Art.16. Todos os órgãos e entidades públicas deverão, no


prazo de 60 (sessenta) dias contados da entrada em vigor desta
Lei Complementar, apresentar ao CPCT relatório completo de
todos os servidores a eles vinculados sob o regime de
contratação temporária, indicando, inclusive, se for o caso, o
respectivo enquadramento nos termos do art. 2º desta Lei
Complementar.
§ 1º O CPCT (Comissão Permanente de Contratações
Temporárias) validará ou não o enquadramento das
contratações temporárias nas hipóteses do art. 2º desta Lei
Complementar, comunicando sua decisão ao respectivo órgão
ou entidade pública para as providências administrativas
cabíveis.
§ 2º O CPCT (Comissão Permanente de Contratações
Temporárias) organizará a relação oficial do quantitativo de
contratações temporárias do Poder Executivo não enquadradas
nas hipóteses previstas no art. 2º desta Lei Complementar, com
discriminação por órgão e entidade pública.

Por tais razões, adiro às apresentadas pelo eminente Relator,


ministro Marco Aurélio. Rejeito, assim, a alegação de perda de objeto e
conheço da ação.

Avanço ao mérito.

Ao Instituto de Atendimento Socioeducativo do Espírito Santo


(Iases) cabe a custódia de adolescentes que tenham cometido atos
infracionais e estejam, por consequência disso, cumprindo medida de

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internação em estabelecimento educacional (Lei federal n. 8.069, de 13 de


julho de 1990 – Estatuto da Criança e do Adolescente –, art. 101, VI).

Trata-se, aqui, de medida socioeducativa privativa de liberdade, a


ser aplicada por autoridade judicial após o devido processo legal.

Os atos infracionais que justificam tais medidas geralmente são


aqueles praticados mediante grave ameaça ou violência à pessoa; ou
quando são reiterações de outras infrações graves ou o insistente
descumprimento de medidas menos gravosas, previamente impostas,
conforme o art. 122 do Estatuto da Criança e do Adolescente.

É curial que, durante o período de internação, ao adolescente


infrator sejam assegurados todos os seus direitos fundamentais não
atingidos pela medida socioeducativa (vida, integridade física, educação,
saúde etc.), de forma a reabilitá-lo à vida em sociedade.

Logicamente, para assegurar esses direitos e, ao mesmo tempo,


executar a medida socioeducativa, o Estado precisa estruturar um corpo
de agentes públicos capaz de cumprir a função pública correspondente a
essa tarefa.

Ora, tal incumbência não é transitória, nem precária, muito menos


imprevisível. A custódia de menores que cumprem medidas
socioeducativas é tarefa ordinária, permanente e previsível do Estado.
Por isso, a ela devem corresponder cargos públicos de provimento
efetivo, mediante a realização de prévio concurso público.

Não há nenhuma indicação, ademais, no caso do Espírito Santo, de


que o serviço público local apresentasse alguma peculiaridade transitória
a exigir a contratação excepcional, em regime jurídico precário, de
agentes públicos para a função estatal típica e permanente.

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ADI 5664 / ES

Por essas razões, as contratações autorizadas nas leis estaduais


impugnadas, sem concurso público de provas ou de provas e títulos, não
correspondem à hipótese fática prevista pela Constituição Federal na
regra do art. 37, IX.

Viola manifestamente a exigência constitucional de prévio concurso


público para ingresso no serviço estatal a lei mediante a qual criados 677
postos precários de agentes socioeducativos para atuarem diretamente na
guarda e vigilância dos adolescentes infratores.

Sobre a exceção à regra geral do concurso público, constante do art.


37, IX, da Constituição Federal, assim leciona o Professor Marçal Justen
Filho:

[...]
Houve também discussão a respeito da extensão da
interpretação das cláusulas “necessidade temporária” e
“excepcional interesse público”. O STF manifestou-se no
sentido de que serviços essenciais, de natureza permanente,
jamais poderiam caracterizar-se como temporários, razão pela
qual descaberia a contratação segundo o regime da Lei
8.745/1993. Mas há julgado mais recente que adotou
interpretação diversa. Ficou consignado que a natureza
permanente de determinadas atividades não afasta, de plano, o
cabimento da contratação temporária.

Jurisprudência do STF

“1. A Constituição Federal é intransigente em relação


ao princípio do concurso público como requisito para o
provimento de cargos públicos (art. 37, II, da CF). A
exceção prevista no inciso IX do art. 37 da CF deve ser
interpretada restritivamente, cabendo ao legislador
infraconstitucional a observância dos requisitos da reserva
legal, da atualidade do excepcional interesse público

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ADI 5664 / ES

justificador da contratação temporária e da


temporariedade e precariedade dos vínculos contratuais.
2. A Lei Complementar 12/1992 do Estado do Mato
Grosso valeu-se de termos vagos e indeterminados para
deixar ao livre arbítrio do administrador a indicação da
presença de excepcional interesse público sobre
virtualmente qualquer atividade, admitindo ainda a
prorrogação dos vínculos temporários por tempo
indeterminado, em franca violação ao art. 37, IX, da CF”
(ADI 3.662, Pleno, rel. Min. Marco Aurélio, rel. p/ acórdão
Min. Alexandre de Moraes, j. 23.03.2017, DJe 25.04.2018).

“(...) 6) É inconstitucional a lei que, de forma vaga,


admite a contratação temporária para as atividades de
educação pública, saúde pública, sistema penitenciário e
assistência à infância e à adolescência, sem que haja
demonstração da necessidade temporária subjacente. 7) A
realização de contratação temporária pela Administração
Pública nem sempre é ofensiva à salutar exigência
constitucional do concurso público, máxime porque ela
poderá ocorrer em hipóteses em que não há qualquer
vacância de cargo efetivo e com o escopo, verbi gratia, de
atendimento de necessidades temporárias até que o
ocupante do cargo efetivo a ele retorne. Contudo, a
contratação destinada a suprir uma necessidade
temporária que exsurge da vacância do cargo efetivo há de
durar apenas o tempo necessário para a realização do
próximo concurso público, ressoando como razoável o
prazo de 12 meses. (...)” (ADI 3.649, Pleno, j. 28.05.2014,
rel. Min. Luiz Fux, DJe 30.10.2014).

“(...) 1. Nos casos em que a CF/1988 atribui ao


legislador o poder de dispor sobre situações de relevância
autorizadoras da contratação temporária de servidores
públicos, exige-se o ônus da demonstração e da adequada
limitação das hipóteses de exceção ao preceito

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ADI 5664 / ES

constitucional da obrigatoriedade do concurso público. 2.


O legislador, ao fixar os casos autorizadores da
contratação de professores substitutos, atendeu à
exigência constitucional de reserva qualificada de lei
formal para as contratações temporárias. Improcedência
da alegada inconstitucionalidade do inc. IV e do § 1.º do
art. art. 2.º da Lei 8.745/1993, com a redação dada pela Lei
9.849/1999. 3. Contudo, ao admitir genericamente a
contratação temporária em órgãos específicos, o legislador
permitiu a continuidade da situação excepcional, sem
justificativa normativa adequada. Conveniência da
limitação dos efeitos da declaração de
inconstitucionalidade, reconhecida a peculiaridade das
atividades em questão. 4. Ação julgada parcialmente
procedente para dar interpretação conforme à
Constituição às alíneas ‘d’ e ‘g’ do inc. VI do art. 2.º da Lei
8.745/1993, com a redação dada pela Lei 9.849/1999, a fim
de que as contratações temporárias por elas permitidas
para as atividades finalísticas do Hospital das Forças
Armadas e desenvolvidas no âmbito dos projetos do
Sistema de Vigilância da Amazônia SIVAM e do Sistema
de proteção da Amazônia – SIPAM só possam ocorrer em
conformidade com o art. 37, inc. IX, da CF/1988, isto é, no
sentido de que as contratações temporárias a serem
realizadas pela União nos referidos casos apenas sejam
permitidas excepcionalmente e para atender a
comprovada necessidade temporária de excepcional
interesse público nas funções legalmente previstas. A
Corte limitou os efeitos da declaração de
inconstitucionalidade para que só incidam um ano após a
publicação da decisão final desta ação no Diário Oficial da
União quanto à alínea d e, quanto à alínea g, após quatro
anos” (ADI 3.237, Pleno, rel. Min. Joaquim Barbosa, j.
26.03.2014, DJe 19.08.2014).

“(...) 1. A natureza permanente de algumas

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Voto - MIN. NUNES MARQUES

Inteiro Teor do Acórdão - Página 29 de 103

ADI 5664 / ES

atividades públicas – como as desenvolvidas nas áreas da


saúde, educação e segurança pública – não afasta, de
plano, a autorização constitucional para contratar
servidores destinados a suprir demanda eventual ou
passageira. Necessidade circunstancial agregada ao
excepcional interesse público na prestação do serviço para
o qual a contratação se afigura premente autoriza a
contratação nos moldes do art. 37, inc. IX, da CF/1988. 2. A
contratação destinada a atividade essencial e permanente
do Estado não conduz, por si, ao reconhecimento da
alegada inconstitucionalidade. Necessidade de exame
sobre a transitoriedade da contratação e a
excepcionalidade do interesse público que a justifica. 3.
Ação direta de inconstitucionalidade julgada parcialmente
procedente para dar interpretação conforme à
Constituição” (ADI 3.247, Pleno, rel. Min. Cármen Lúcia, j.
26.03.2014, DJe 18.08.2014).

“Art. 2.º, inc. III, da Lei 8.745/1993: necessidade


temporária de excepcional interesse público, para fins de
contratação de pessoal; realização de recenseamentos e
outras pesquisas de natureza estatística efetuadas pela
Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística –
IBGE. 1. É de natureza permanente a atividade de
estatística e pesquisa desenvolvida pelo IBGE; sua
intensidade e o volume dessas pesquisas não são os
mesmos todo o tempo. 2. Possibilidade de contratação
temporária, nos termos do art. 37, inc. IX, da Constituição
da República, para atender à necessidade temporária de
pessoal necessário à realização de trabalhos em
determinados períodos. Observância dos princípios da
eficiência e da moralidade. 3. Ação Direta de
Inconstitucionalidade julgada improcedente” (ADI 3.386,
Pleno, rel. Min. Cármen Lúcia, j. 14.04.2011, DJe
24.08.2011).

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Voto - MIN. NUNES MARQUES

Inteiro Teor do Acórdão - Página 30 de 103

ADI 5664 / ES

“(...) I – A contratação temporária de servidores sem


concurso público é exceção, e não regra na Administração
Pública, e há de ser regulamentada por lei do ente
federativo que assim disponha. II – Para que se efetue a
contratação temporária, é necessário que não apenas seja
estipulado o prazo de contratação em lei, mas,
principalmente, que o serviço a ser prestado revista-se do
caráter da temporariedade. III – O serviço público de
saúde é essencial, jamais pode-se caracterizar como
temporário, razão pela qual não assiste razão à
Administração estadual capixaba ao contratar
temporariamente servidores para exercer tais funções. IV –
Prazo de contratação prorrogado por nova lei
complementar: inconstitucionalidade. V – É pacífica a
jurisprudência desta Corte no sentido de não permitir
contratação temporária de servidores para a execução de
serviços meramente burocráticos. Ausência de relevância e
interesse social nesses casos. VI – Ação que se julga
procedente” (ADI 3.430, Pleno, rel. Min. Ricardo
Lewandowski, j. 12.08.2009, DJe 23.10.2009).

Jurisprudência do STJ

“1. A manutenção de contratos temporários para


suprir a demanda por Médicos Oftalmologistas,
demonstra a necessidade premente de pessoal para o
desempenho da atividade, revelando flagrante preterição
daqueles que, aprovados em concurso ainda válido,
estariam aptos a ocupar o cargo; circunstância que, a teor
da Jurisprudência desta Corte Superior, faz surgir o
direito subjetivo do candidato à nomeação” (AgRg no
REsp 1.124.373/RJ, 5.ª T., j. 21.06.2011, rel. Min. Napoleão
Nunes Maia Filho, DJe 01.07.2011).
[...]

De acordo com alguns dos precedentes desta Corte, até é possível,

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Supremo Tribunal Federal
Voto - MIN. NUNES MARQUES

Inteiro Teor do Acórdão - Página 31 de 103

ADI 5664 / ES

em situações excepcionais, a lei prever contratação temporária para o


desempenho de funções permanentes do Estado. Contudo, é preciso que
efetivamente exista e seja bem demonstrada a presença dessas
circunstâncias singulares, o que não ocorreu em relação às leis ora
impugnadas, por meio das quais criados os espaços para contratação
temporária no Iases.

Mesmo que se admitisse a contratação temporária para essa


finalidade, ela deveria vir conjugada com a previsão de concurso público
para cargos efetivos. Ou seja, tais contratações deveriam ter o objetivo de
apenas garantir a continuidade dos serviços, até que a vacância de
cargos efetivos fosse resolvida, com a investidura de candidatos
regularmente habilitados em concurso público. Nada disso, porém, foi
comprovado nos autos.

Em verdade, as leis capixabas objeto de impugnação nesta ação


direta abrem oportunidade para que parte da força de trabalho
imprescindível ao regular funcionamento do Iases seja recrutada
precariamente, sem vínculo permanente e ao arrepio da regra
constitucional a exigir aprovação prévia em concurso público, de provas
ou de provas e títulos, para ingresso nos quadros funcionais da
Administração Pública (CF, art. 37, II).

Do exposto, acompanho o eminente Relator, ministro Marco


Aurélio, para julgar procedente o pedido e, assim, declarar
inconstitucionais a Lei Complementar n. 559, de 30 de junho de 2010, e
a Lei Complementar n. 772, de 4 de abril de 2014, ambas do Estado do
Espírito Santo.

Em homenagem ao postulado da segurança jurídica, e atento ao


princípio da continuidade do serviço público, proponho a modulação dos
efeitos da decisão, garantindo-se a vigência das contratações temporárias
eventualmente celebradas com base nas leis expungidas do ordenamento

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Voto - MIN. NUNES MARQUES

Inteiro Teor do Acórdão - Página 32 de 103

ADI 5664 / ES

jurídico, até que expirem os prazos de duração originariamente previstos.

Entrementes, o Poder Público do Estado do Espírito Santo haverá de


prover meios para que o Iases, no prazo de até dois anos, a contar da
publicação da ata desta sessão de julgamento, passe a se desincumbir de
suas atribuições, em sintonia com a regra encerrada no art. 37, II, da Lei
Maior.

É como voto.

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Esclarecimento

Inteiro Teor do Acórdão - Página 33 de 103

16/06/2021 PLENÁRIO

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE 5.664 ESPÍRITO SANTO

ESCLARECIMENTO

O SENHOR MINISTRO LUIZ FUX (PRESIDENTE) - Então, Vossa


Excelência acompanha o Relator e propõe dois anos para que haja a
demissão daqueles que foram admitidos por essa lei declarada
inconstitucional. É isso?
O SENHOR MINISTRO NUNES MARQUES – Isso, Presidente. A
preocupação é que a realização de concurso público demanda tempo
razoável, porque há de se exigir a aprovação de lei orçamentária, a
contratação de banca... É necessário lapso temporal razoável para que isso
se efetive.
O SENHOR MINISTRO LUIZ FUX (PRESIDENTE) - É uma
segurança jurídica não só para o Estado, como também para aqueles que
serão demitidos.
O SENHOR MINISTRO NUNES MARQUES – [ininteligível] desses
adolescentes que necessitam dessa prestação de serviço.

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Supremo Tribunal Federal
Voto - MIN. EDSON FACHIN

Inteiro Teor do Acórdão - Página 34 de 103

16/06/2021 PLENÁRIO

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE 5.664 ESPÍRITO SANTO

O SENHOR MINISTRO EDSON FACHIN: Senhor Presidente,


cumprimento Vossa Excelência, Ministro Luiz Fux, as eminentes
Ministras Cármen Lúcia e Rosa Weber, os eminentes pares e, de modo
especial, o eminente Ministro Marco Aurélio, nosso Decano, Relator da
ação direta em julgamento.
Saúdo as sustentações orais que aqui aportaram, do Excelentíssimo
Senhor Procurador-Geral da República, e dos ilustres advogados e
advogadas que também sustentaram.
Senhor Presidente, consigno que adoto o Relatório lançado aos autos
pelo e. Ministro Marco Aurélio. Tal como consignou Sua Excelência o
Ministro Relator, trata-se de ação direta ajuizada pela Procuradoria-Geral
da República almejando declaração de incompatibilidade, com a
Constituição da República, das Leis Complementares nº 559, de 30 de
junho de 2010, e 772, de 4 de abril de 2014, ambas do Estado do Espírito
Santo, que versam sobre contratação temporária de agentes
socioeducativos e técnicos de nível superior do Instituto de Atendimento
Socioeducativo do Espírito Santo – Iases.
A PGR argumenta pela violação dos artigos 37, incisos II e IX, e 39,
caput, da Constituição da República, já que não teriam sido demonstrados
os requisitos de necessidade e excepcionalidade a justificarem admissão
de servidores na modalidade temporária, nos termos em que autorizada a
contratação temporária pelas normas objeto da ADI.
Conforme noticia a PGR, as leis objurgadas autorizaram a
contratação de 2.057 empregados temporários para atuação nas áreas de
saúde e educação. Sublinha que, desde 2004, o Estado vinha editando leis
complementares a versarem ocupação precária de cargos técnicos, os
quais, conforme sustenta, exigem provimento efetivo, ausente realização
de certame nesse período – Leis Complementares nº 300/2004, 349/2005,
378/2006, 405/2007, 559/2010 e 772/2014, todas do Espírito Santo.
Não há dúvida, Senhor Presidente, que a contratação temporária é
medida excepcional e que, em regra, os servidores públicos devem ser

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Voto - MIN. EDSON FACHIN

Inteiro Teor do Acórdão - Página 35 de 103

ADI 5664 / ES

recrutados por meio de concurso público.


Conforme noticiou o Governador do Estado do Espírito Santo, em
15.10.2020, mediante a petição/STF nº 86.437/2020, houve revogação
expressa das normas objeto da presente ADI, nos termos do art. 23 da Lei
Complementar nº 809/2015, que disciplinou a contratação temporária:

“Por constituir o “estatuto das contratações temporárias” e


regular inteiramente a matéria referente à contratação
temporária no âmbito do Estado do Espírito Santo, a LC
809/2015 revogou todas as leis anteriores que versavam sobre o
tema, incluindo-se as impugnadas Leis Complementares
Estaduais de números 559/2010 e 772/2014. É o que se observa
do seu art. 23:
“Art. 23. Ficam revogadas as Leis Complementares e as
Leis Ordinárias que tratarem de contratações temporárias,
naquilo que contrariar as disposições desta Lei
Complementar”.”

Com efeito, os artigos 1º e 2º da Lei Complementar n. 809/2015


dispõem acerca dos requisitos para contratação temporária, limitando-a
ao atendimento de necessidade temporária de excepcional interesse
público.
No entanto, tal como ressaltou em sustentação oral o eminente Vice-
Procurador Geral da República Dr. Humberto Jacques de Medeiros, a
norma revogadora autoriza a ultratividade da lei complementar objeto da
presente ação direta:

“Art. 17. Ficam os órgãos e entidades públicas do Poder


Executivo autorizados a celebrar novos contratos
administrativos de prestação de serviço, por prazo
determinado, para as funções discriminadas nas leis
complementares e ordinárias alcançadas pelo art. 23 desta Lei
Complementar, que não se enquadrem nas situações previstas
no art. 2º desta Lei Complementar.

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Voto - MIN. EDSON FACHIN

Inteiro Teor do Acórdão - Página 36 de 103

ADI 5664 / ES

§ 1º Cada órgão ou entidade pública autorizado a


contratar na forma do caput deste artigo se responsabilizará
pela redução gradativa do quantitativo geral de servidores
contratados temporariamente, constante da relação oficial do §
2º do art. 16 desta Lei Complementar, na proporção
estabelecida em decreto regulamentar a ser editado no prazo de
60 (sessenta) dias contados da publicação desta Lei
Complementar.

§ 2º Os contratos celebrados nos termos do caput deste


artigo terão prazo máximo de vigência de 12 (doze) meses,
prorrogáveis por igual período.”

Ultrapassada a preliminar, entendo que, no mérito, deve prevalecer


a inconstitucionalidade arguida pela PGR.
A jurisprudência deste STF é intransigente em relação ao princípio
do concurso público, como se vê:

“Ementa: CONSTITUCIONAL. CONTRATAÇÃO


TEMPORÁRIA DE SERVIDORES (ART. 37, IX, CF). LEI
COMPLEMENTAR 12/1992 DO ESTADO DO MATO GROSSO.
INCONSTITUCIONALIDADE. MODULAÇÃO DE EFEITOS. 1.
A Constituição Federal é intransigente em relação ao princípio
do concurso público como requisito para o provimento de
cargos públicos (art. 37, II, da CF). A exceção prevista no inciso
IX do art. 37 da CF deve ser interpretada restritivamente,
cabendo ao legislador infraconstitucional a observância dos
requisitos da reserva legal, da atualidade do excepcional
interesse público justificador da contratação temporária e da
temporariedade e precariedade dos vínculos contratuais. 2. A
Lei Complementar 12/1992 do Estado do Mato Grosso valeu-se
de termos vagos e indeterminados para deixar ao livre arbítrio
do administrador a indicação da presença de excepcional
interesse publico sobre virtualmente qualquer atividade,
admitindo ainda a prorrogação dos vínculos temporários por

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Supremo Tribunal Federal
Voto - MIN. EDSON FACHIN

Inteiro Teor do Acórdão - Página 37 de 103

ADI 5664 / ES

tempo indeterminado, em franca violação ao art. 37, IX, da CF.


3. Ação direta julgada procedente, para declarar
inconstitucional o art. 264, inciso VI e § 1º, parte final, da Lei
Complementar 4/90, ambos com redação conferida pela LC
12/92, com efeitos ex nunc, preservados os contratos em vigor
que tenham sido celebrados exclusivamente com fundamento
nos referidos dispositivos, por um prazo máximo de até 12
(doze) meses da publicação da ata deste julgamento. (ADI 3662,
Relator(a): MARCO AURÉLIO, Relator(a) p/ Acórdão:
ALEXANDRE DE MORAES, Tribunal Pleno, julgado em
23/03/2017, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-080 DIVULG 24-04-
2018 PUBLIC 25-04-2018)”

Como se observa da leitura do referido precedente, a interpretação


dada por esta Corte ao art. 37, IX, da Constituição Federal não alberga a
norma impugnada na presente ação direta. De fato, a possibilidade
genérica de extensão do prazo de contratação, a autorizar, em tese, sua
prorrogação indefinida, vai de encontro ao princípio do concurso público,
que admite a exceção apenas nas delimitadas hipóteses de contratação
temporária.
Pedindo vênia à divergência aberta pelo e. Ministro Alexandre de
Moraes, respeitosamente, consigno que eventual necessidade emergente
permite contratação temporária, respeitados os limites legais e
constitucionais, sem autorização de prorrogação indefinida das
contratações temporárias. Tais hipóteses são, contudo, absolutamente
inconstitucionais.
Desse modo, Senhor Presidente, acompanho o e. Relator e julgo
procedente a ação direta.
É como voto.

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Voto - MIN. ROBERTO BARROSO

Inteiro Teor do Acórdão - Página 38 de 103

16/06/2021 PLENÁRIO

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE 5.664 ESPÍRITO SANTO

VOTO

O SENHOR MINISTRO LUÍS ROBERTO BARROSO - Boa tarde,


Presidente, Ministro Luiz Fux! Boa tarde, Ministra e Professora Cármen
Lúcia! Boa tarde, Ministra Rosa Weber, prezados Colegas, prezado Vice-
Procurador-Geral da República, Doutor Humberto Jacques, Doutora
Carmen Lilian.
Presidente, ouvi com muita atenção os votos e também as
considerações particulares do Ministro Alexandre de Moraes, mas há
alguma coisa estranha acontecendo aqui neste processo.
São duas leis impugnadas: uma é de 2010, e previa uma contratação
temporária por doze meses, prorrogáveis por mais doze, de modo que
este imbróglio deveria ter terminado em 2012. A lei subsequente é de
2014, e igualmente permite a contratação por doze meses, com
prorrogação por mais doze, então deveria ter acabado em 2016.
De modo que, se estamos discutindo esse ponto aqui - em rigor,
alegou-se até a revogação, mas não que elas ainda estivessem produzindo
efeitos -, se computássemos esses prazos que falei, a prorrogação
proposta pelo Ministro Nunes Marques não faria sentido, porque tudo já
teria terminado. Mas não parece ser assim. Essas leis, supostamente se
valendo do permissivo para contratação temporária do art. 37, IX, têm
servido repetidamente de fundamento para contratações temporárias.
Acho que temos que interpretar o Direito também à luz da normatividade
dos fatos, e não apenas em tese e em abstrato.
Se essas leis continuam a ser usadas para renovação de contratação
ou de novas contratações temporárias, a violação do preceito
constitucional é evidente. Além de - com todas as vênias e entendendo as
emergências a que se referiu o Ministro Alexandre de Moraes -
contratação temporária de 2.057 servidores, como aponta o Ministério
Público, ser uma coisa totalmente fora de padrão. Não surge subitamente
a necessidade temporária de se contratarem 2000 servidores.

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Supremo Tribunal Federal
Voto - MIN. ROBERTO BARROSO

Inteiro Teor do Acórdão - Página 39 de 103

ADI 5664 / ES

Estou convencido, embora examinando à distância, que essas leis


vêm sendo utilizadas para manipular a exigência constitucional do
concurso público, portanto não vou interpretá-las apenas em abstrato,
vou interpretá-las como vêm sendo concretizadas.
O SENHOR MINISTRO ALEXANDRE DE MORAES - Ministro Luís
Roberto, me permite um aparte, só para contribuir? Na verdade, não são
tantos servidores assim, o número é alto - inclusive para reflexão,
qualquer que seja a posição, para que a decisão do Supremo não seja
inútil. Com certeza, não há mais nenhum contrato de trabalho temporário
com base na LC nº 559, que previu 667, por exemplo, agentes
socioeducativos, substituídos pelos 578 agentes socioeducativos da outra
lei. Não se soma, são contratos diferentes. Só para termos em mente: se
vamos declarar a inconstitucionalidade dessas duas leis, o efeito prático
será nada. Na verdade, as novas contratações estão sendo feitas com base
na nova lei, porque aquelas leis já se exauriram no tempo. Não é uma
renovação de contrato com base na lei anterior, cada lei permite doze por
mais doze. Talvez tivéssemos que pensar no arrastamento da nova lei.
Só essa observação. Obrigado e desculpe interromper.
O SENHOR MINISTRO LUIZ FUX (PRESIDENTE) - Se me
permite, Ministro Luís Roberto Barroso, apenas para entender exatamente
a imbricação do Direito à realidade. É preciso esclarecer se, com base
nessas leis, as pessoas contratadas continuam a exercer suas funções no
serviço público, passado aquele prazo, como se efetivamente nada tivesse
acontecido. Isso é muito importante, porque é a única maneira que vamos
ter de podar esse excesso de contratação temporária, que já tem tantos
anos, de declarar a inconstitucionalidade e, eventualmente, até modular,
para não admitir que as pessoas que entraram sem concurso público
possam ser demitidas.
O que acho que chama a atenção aqui é que essas leis, se elas se
protraíram no tempo, criaram um estado de coisas inconstitucional, se a
pessoa foi contratada temporariamente, mas está lá trabalhando já há
mais de dez anos.
Acho que foi esse o ponto que o Procurador-Geral da República

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Voto - MIN. ROBERTO BARROSO

Inteiro Teor do Acórdão - Página 40 de 103

ADI 5664 / ES

procurou destacar.
Obrigado, Ministro Barroso!
O SENHOR MINISTRO LUÍS ROBERTO BARROSO - Obrigado,
Ministro Luiz Fux!
Retomando aqui, a petição do Procurador-Geral da República
informa a realização da contratação de aproximadamente 2.057
contratações de natureza temporária. Esse é o número que consta da
petição inicial do Procurador-Geral da República, que tem fé pública.
Mas, ainda que tenhamos tido uma primeira lei permitindo e, depois, tido
a segunda lei permitindo a contratação temporária para o mesmo lugar,
fica evidenciado que se está utilizando o mecanismo da contratação
temporária em lugar da realização do concurso público.
Se duas leis, uma de 2010 e outra de 2014, permitem a contratação de
empregados e servidores temporários para vagas na instituição
socioeducativa, parece-me fora de dúvida que se está usando o artifício
da contratação temporária em lugar do concurso público. Depois ainda
sobreveio uma lei genérica, permitindo contratações temporárias.
Nenhum de nós aqui discute que o inciso IX do art. 37 da
Constituição permite contratação temporária. Em precedente do Ministro
Dias Toffoli, com o qual continuo de acordo, assentamos os requisitos da
contratação temporária, Tema 612 da repercussão geral. Quais são os
casos? Exige-se:

"a) os casos excepcionais estejam previstos em lei; b) o


prazo de contratação seja predeterminado; c) a necessidade seja
temporária; d) o interesse público seja excepcional; e) a
necessidade de contratação seja indispensável […]."

Seria capaz de concordar que, uma primeira vez, para uma


contratação excepcional, para o instituto socioeducativo, faria sentido, em
uma emergência, como pontuou o Ministro Alexandre de Moraes. Mas,
na sequência, veio outra lei específica para a instituição socioeducativa e,
depois, uma lei genérica. Não me estou referindo a qualquer contratação
temporária no Espírito Santo, mas, no tocante ao instituto socioeducativo,

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Voto - MIN. ROBERTO BARROSO

Inteiro Teor do Acórdão - Página 41 de 103

ADI 5664 / ES

estou convencido, pelas informações que temos aqui, de que está


havendo, sim, burla do princípio do concurso público.
Penso que é uma decisão que poderá produzir o bem, sem nenhum
risco de produzir o mal. Se declararmos inconstitucional e ela já não
estiver mais sendo aplicada, ótimo, não traz consequência nenhuma; se
declararmos inconstitucional, porque efetivamente está sendo aplicada,
como parece ser o caso, acho que a proposta de modulação do Ministro
Kassio Nunes Marques faz todo sentido.
De modo que penso que não há possibilidade de se produzir um
mau impacto sobre a realidade se declararmos a inconstitucionalidade
dessas duas normas, que, estou assumindo, vêm sendo utilizadas para
continuadamente serem feitas contratações temporárias para o instituto
socioeducativo.
Se essa minha premissa não for verdadeira, se eu estiver enganado, a
declaração de inconstitucionalidade de uma lei que já não está sendo
aplicada não vai produzir nenhum mal. Mas, se ela estiver sendo
aplicada, como suspeito, creio que tenha que ser declarada
inconstitucional mesmo. Porém, para atender o interesse público, como já
decidimos em precedentes, também modulo em dois anos para que se
possam repor esses servidores pela via do concurso público.
Pelo que percebi, a única distinção entre a posição do Ministro
Kassio e a do Ministro Marco Aurélio era a questão da modulação.
Ministro Kassio, há alguma outra divergência de Vossa Excelência?
O SENHOR MINISTRO NUNES MARQUES – Queria apenas
aproveitar a oportunidade e pedir um pequeno aparte.
Em meu voto, reportei-me a essa dúvida que Vossa Excelência
mencionou, mas o fiz de forma muito breve, quanto à perda de objeto das
leis anteriores. Posteriormente veio a Lei Complementar n. 809, e o que
ela fez? Criou uma comissão permanente de contratações temporárias,
que disse: os órgãos e entidades do Espírito Santo deveriam encaminhar
um relatório de todas as contratações temporárias efetivadas, sob a égide
das duas leis anteriores, para que fossem revalidadas.
Em minha compreensão, essas leis estavam em plena eficácia. Não

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Voto - MIN. ROBERTO BARROSO

Inteiro Teor do Acórdão - Página 42 de 103

ADI 5664 / ES

houve revogação da norma, porque esses contratos foram revalidados e


permanecem vigentes até esta data. Apenas deu-se perpetuidade às
contratações anteriores, no art. 16, caput e § 1º, da Lei n. 809.
Respondendo a pergunta de Vossa Excelência, a divergência é tão
somente quanto à modulação.
O SENHOR MINISTRO LUÍS ROBERTO BARROSO - A
observação do Ministro Kassio Nunes Marques confirma minhas
suspeitas. Estava suspeitando, mas parece ser a realidade, eram
contratações temporárias perpetuadas no tempo. A burla ao princípio
constitucional é evidente.
Presidente, pedindo todas as vênias ao eminente Ministro Alexandre
de Moraes, estou acompanhando a posição iniciada pelo Ministro Kassio
Nunes Marques, penso, acompanhada pelo Ministro Luiz Edson Fachin.
Ministro Fachin, Vossa Excelência modulou, não?
O SENHOR MINISTRO EDSON FACHIN - Não, Ministro Barroso,
acompanhei integralmente o Ministro-Relator.
O SENHOR MINISTRO LUÍS ROBERTO BARROSO - Ok. Estou
acompanhando o Ministro-Relator no sentido de julgar procedente o
pedido, mas, desde logo, proponho a modulação, também por dois anos,
e, portanto, nesse particular, acompanhando o Ministro Kassio Nunes
Marques. Apenas relembro que, em hipóteses anteriores, também
adotamos a linha de determinar a realização do concurso, mas deixando
um prazo de dois anos, prazo razoável para sua conclusão.
É como voto.

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Voto - MIN. ROSA WEBER

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16/06/2021 PLENÁRIO

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE 5.664 ESPÍRITO SANTO

A Senhora Ministra Rosa Weber: 1. Trata-se de ação direta de


inconstitucionalidade, com pedido de medida cautelar, proposta pelo
Procurador-Geral da República contra as Leis Complementares n° 559,
de 30.06.2010 e n° 772, de 04.04.2014, ambas do Estado do Espírito Santo
– que autorizam o Poder Executivo a realizar contratação temporária “de
agentes socioeducativos e técnicos de nível superior do Instituto de Atendimento
Socioeducativo do Espírito Santo (IASES)” e “para atender a necessidades
urgentes do IASES”, respectivamente.
2. Sustenta-se a inconstitucionalidade dos dispositivos atacados, por
afronta ao disposto nos arts. 37, II e IX, e 39, caput, da Constituição da
República, sob o fundamento que as leis complementares estaduais
preveem contratação temporária mediante contrato de prestação de
serviços, ao invés de prover cargos públicos por meio de concurso, sem
demonstrar “excepcional interesse público e necessidade premente do serviço”.
Aponta-se a “inexistência do caráter transitório da contratação, por
ausência de predeterminação de prazos e da excepcionalidade do serviço,
mediante as reiteradas edições de atos para novas contratações”. Aduz-se que os
atos normativos impugnados vão de encontro ao texto constitucional,
“segundo o qual contratação temporária somente deve ocorrer em situações
efêmeras”, atendendo a necessidades urgentes e com excepcionalidade.
3. A medida cautelar pleiteada, com o escopo de suspender a eficácia
dos atos normativos atacados até o julgamento final da ação, tem por
fundamentos a plausibilidade jurídica da tese esposada (fumus boni juris)
– haja vista os argumentos apresentados pela petição inicial e a
jurisprudência desta Corte – e o perigo da demora na prestação
jurisdicional (periculum in mora), dado dano de “provimento de postos de
trabalho no poder público incompatíveis com preenchimento do que deveriam ser
cargos públicos por empregos públicos temporários, sem a devida
excepcionalidade e necessidade que o justifique”.
4. No mérito, requer a declaração de inconstitucionalidade da Lei

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Voto - MIN. ROSA WEBER

Inteiro Teor do Acórdão - Página 44 de 103

ADI 5664 / ES

Complementar 559, de 30 de junho de 2010, e da Lei Complementar 772,


de 4 de abril de 2014, ambas do Estado do Espírito Santo.
5. Adotou-se o rito do art. 12 da Lei nº 9.868/1999.
6. O Governador do Estado do Espírito Santo defende a
constitucionalidade dos atos normativos impugnados, à alegação de que
o art. 37, IX, da CF/88 dispõe genericamente sobre contratação temporária
e não indica os casos específicos de necessidade e excepcional interesse
público. Ressalta, ainda, que a elaboração das leis complementares
impugnadas ocorreu no contexto do “estado de necessidade em que se
encontra o atendimento socioeducativo do Estado do Espírito Santo”, e buscou
“a continuidade da prestação de serviços públicos referentes à educação, à saúde,
à segurança pública e à proteção da criança e do adolescente”.
7. Por sua vez, a Advocacia-Geral da União manifesta-se pela
improcedência do pedido formulado pelo requerente. Aduz a ausência de
violação do artigo 37, incisos II e IX, da Constituição Federal, pois avalia
que as leis impugnadas: (i) especificam “as hipóteses de contratação
temporária, estabelecendo as espécies de atividades que necessitam de
atendimento imediato para atender às necessidades emergenciais do Instituto de
Atendimento Socioeducativo do Espírito Santo - IASES”, e; (ii) fixam “balizas
circunstanciais e temporais específicas, que demonstram o caráter transitório de
sua necessidade e a excepcionalidade do interesse público subjacente”.
Afirma, ainda, que não houve a violação do artigo 39, caput, da
Carta Magna, uma vez que “a temporariedade que caracteriza essa modalidade
de contratação permite a adoção de um regime jurídico distinto daquele que rege
a investidura de servidores em cargos de provimento efetivo da administração
pública”.
8. A Assembleia Legislativa do Estado do Espírito Santo vindica a
inexistência da inconstitucionalidade dos dispositivos atacados, uma vez
que o “Estado atende provisoriamente a determinadas situações de risco social
presente, de acordo com sua capacidade financeira, não tendo assim estrutura e
condições de incorporar tais políticas à Administração”, de modo que as
“contratações provisórias visam justamente assegurar ao Estado a possibilidade
de contratar pessoal exclusivamente quando tem condições financeiras para

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Inteiro Teor do Acórdão - Página 45 de 103

ADI 5664 / ES

tanto, de acordo com as demandas sociais”.


9. Deferido o pedido de admissão no feito, na qualidade de amicus
curiae, o Sindicato dos Trabalhadores e Servidores Públicos do Espírito
Santo – SINDIPÚBLICOS.
10. A Procuradoria-Geral da República apresenta parecer assim
ementado:

“AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. LEIS


COMPLEMENTARES Nºs 559/2010 E 772/2014, DO ESTADO
DO ESPÍRITO SANTO. INSTITUTO DE ATENDIMENTO
SOCIOEDUCATIVO DO ESPÍRITO SANTO – IASES.
CONTRATAÇÃO ADMINISTRATIVA DE PESSOAL EM
CARÁTER TEMPORÁRIO. NÃO DEMONSTRAÇÃO DA
TRANSITORIEDADE DA CONTRATAÇÃO NEM DA
EXCEPCIONALIDADE DO INTERESSE PÚBLICO. - Para a
contratação temporária, nos moldes do art. 37, IX, da CF, é
indispensável o exame da transitoriedade da contratação e da
excepcionalidade do interesse público que a justifica.
Precedente do STF. Elementos não demonstrados nas Leis
Complementares nºs 559/2010 e 772/2014, do Estado do Espírito
Santo. - Parecer pelo acolhimento do pedido, nos termos da
petição inicial”.

11. Em 05.10.2020, o processo foi liberado para apreciação no


Plenário Virtual, com a proposta da seguinte ementa:

“CARGO OU EMPREGO PÚBLICO – OCUPAÇÃO.


Cargo público há de ser ocupado de forma permanente,
realizando-se concurso de provas ou de provas e títulos,
atendidas a natureza e complexidade, não cabendo generalizar
a exceção revelada por nomeação para cargo em comissão,
declarado em lei de livre nomeação e exoneração – artigo 37,
inciso II, da Constituição Federal.
EDUCAÇÃO – CONTRATAÇÃO TEMPORÁRIA –
IMPROPRIEDADE. Surge conflitante com a Constituição
Federal contratação temporária de agentes socioeducativos e

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ADI 5664 / ES

técnicos de nível superior visando atender necessidade


educacional. Inconstitucionalidade das Leis Complementares nº
559/2010 e 772/2014 do Estado do Espírito Santo”.

12. Destaque do ambiente virtual formulado pelo Ministro


Alexandre de Moraes.
13. O Governador do Estado do Espírito Santo requer a extinção da
presente ação por perda de objeto, tendo em vista a revogação das leis
impugnadas. Aponta a vigência da Lei Complementar nº 809/2015, que
disciplina as contratações temporárias e revoga, em seu art. 23, as leis
complementares e ordinárias que dispõem sobre a matéria.
14. Indeferido, em 19.10.2020, o pedido de extinção do processo. Em
face da ausência de revogação expressa das leis questionadas, entendeu o
Ministro Marco Aurélio que: “A superveniência de regra geral atinente ao
tema considerada a Administração direta e indireta não torna insubsistentes as
normas atacadas, mostrando-se impróprio o exame de circunstância a encerrar
eventual crise de legalidade”.
É o breve relatório.
15. Inicialmente, afasto a tese do Estado do Espírito Santo quanto à
alegada perda do objeto.
A Lei 809/2015 dispõe que “Dispõe sobre a contratação por tempo
determinado pelo Estado do Espírito Santo para atender a necessidade temporária
de excepcional interesse público, nos termos do inciso IX do art. 37 da
Constituição Federal e do inciso IX do art. 32 da Constituição Estadual, e dá
outras providências”:

“Art. 1º Para atender a necessidade temporária de


excepcional interesse público, os órgãos da administração
direta, as autarquias e as fundações públicas do Poder
Executivo poderão efetuar contratação de pessoal por tempo
determinado, nas condições e prazos previstos nesta Lei
Complementar.
(...)
Art. 20. Aplica-se à Administração Estadual, em específico

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ADI 5664 / ES

aos contratos administrativos, no que couber, as disposições


contidas na Lei Federal nº 8.745, de 09.12.1993, e suas alterações.
Art. 21. As disposições desta Lei Complementar não se
aplicam aos profissionais que exerçam suas funções nas
atividades das Polícias Civil e Militar.
Art. 22. Esta Lei Complementar entra em vigor na data de
sua publicação.
Art. 23. Ficam revogadas as Leis Complementares e as
Leis Ordinárias que tratarem de contratações temporárias,
naquilo que contrariar as disposições desta Lei
Complementar”.

Entendo que não houve revogação das leis complementares objeto


deste processo objetivo de constitucionalidade, uma vez que não há
contrariedade com a nova norma editada em 2015. Em verdade, as Leis
Complementares n° 559/2010 e n° 772/2014 continuaram a ser utilizadas
como fundamento para contratações temporárias no âmbito do Instituto
de Atendimento Socioeducativo do Espírito Santo - IASES.
Conheço, pois, da ação direta, e passo ao exame do mérito.
16. Para a melhor compreensão da controvérsia, transcrevo as leis
impugnadas na presente ação direta:

“Lei Complementar 559/2010:


Art. 1º Fica o Poder Executivo autorizado a celebrar
contrato administrativo de prestação de serviço, por prazo
determinado, para admissão de 677 ([...]) Agentes
Socioeducativos e 60 ([...]) Técnicos de Nível Superior, em
caráter temporário, para atender às necessidades emergenciais
do Instituto de Atendimento Socioeducativo do Espírito Santo –
IASES.
Art. 2º As contratações previstas no artigo 1º respeitarão o
prazo de até 12 ([...]) meses, a contar da data de formalização do
contrato administrativo de prestação de serviços, podendo ser
prorrogadas por igual período e rescindidas a qualquer tempo
no interesse da administração.

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ADI 5664 / ES

Art. 3º É proibido o desvio de função do pessoal


contratado na forma desta Lei Complementar.
Art. 4º É proibida a contratação, nos termos desta Lei
Complementar, de servidores das administrações direta e
indireta, da União, do Estado e dos Municípios, exceto as
acumulações permitidas constitucionalmente.
Parágrafo único. Sem prejuízo da nulidade do contrato, a
infração do disposto no caput deste artigo, importará na
responsabilidade da autoridade contratante e do contratado,
inclusive solidariedade quanto à devolução dos valores pagos
ao contratado.
Art. 5º Nas contratações, de que trata esta Lei
Complementar, serão observados os valores da Tabela de
Subsídio, classe I, referência 1, a que se refere o Anexo IV da Lei
Complementar nº 503, de 05.11.2009, pagos aos servidores
efetivos dos cargos de Agente Socioeducativo e de Técnico de
Nível Superior, respectivamente, para a jornada de trabalho de
40 ([...]) horas semanais.
Art. 6º Aplicam-se ao pessoal contratado os mesmos
deveres, proibições e responsabilidades vigentes para os
servidores públicos, integrantes do órgão a que forem
subordinados, além daqueles descritos pela Lei Complementar
nº 46, de 31.01.1994, com suas alterações posteriores.
Art. 7º As infrações disciplinares atribuídas ao pessoal
contratado nos termos desta Lei Complementar serão apuradas
mediante sindicância, concluídas no prazo de 30 ([...]) dias e
assegurada a ampla defesa.
Art. 8º O contrato firmado de acordo com os termos desta
Lei Complementar extinguir-se-á sem direito à indenização:
I – pelo término do prazo contratual;
II – por iniciativa do contratado;
III – por conveniência da administração;
IV – quando o contratado incorrer em falta disciplinar.
Art. 9º É assegurado aos contratados:
I – o 13º ([...]) salário, proporcional ao tempo de serviço
prestado nessa condição;

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ADI 5664 / ES

II – a indenização de férias proporcionalmente ao tempo


de serviço prestado;
III – o adicional de férias proporcional ao tempo de serviço
prestado;
IV – o vale-transporte.
Art. 10. Os contratados, na forma desta Lei
Complementar, serão segurados do Regime Geral da
Previdência Social, conforme § 13 do artigo 40 da Constituição
Federal.
Art. 11. O quantitativo de vagas dos cargos de provimento
efetivo de Agente Socioeducativo e de Técnico de Nível
Superior, a que se refere o Anexo I da Lei Complementar nº
503/09, passa a ser respectivamente de 1.109 ([...]) e 206 ([...]).
Art. 12. As despesas decorrentes da execução desta Lei
Complementar correrão por conta das dotações orçamentárias
próprias que serão suplementadas, se necessário.
Art. 13. Esta Lei Complementar entra em vigor na data de
sua publicação.

Lei Complementar 772/2014:


Art. 1º Fica o Poder Executivo autorizado a celebrar
contrato administrativo de prestação de serviço, por prazo
determinado, para admissão de 30 ([...]) analistas de suporte
socioeducativos distribuídos nas áreas de administração,
contabilidade, direito, economia, jornalismo; 1 ([...])
nutricionista socioeducativo; 21 ([...]) pedagogos
socioeducativos; 29 ([...]) psicólogos socioeducativos; 28 ([...])
assistentes sociais socioeducativos; 1 ([...]) terapeuta
ocupacional socioeducativo; 13 ([...]) técnicos em enfermagem
socioeducativos; 4 ([...]) técnicos socioeducativos nas áreas de
segurança do trabalho e edificações; 37 ([...]) assistentes de
suporte socioeducativos e 578 ([...]) agentes socioeducativos,
totalizando 742 ([...]) servidores, em caráter temporário para
atender às necessidades emergenciais do Instituto de
Atendimento Socioeducativo do Espírito Santo – IASES.
Art. 2º As contratações previstas no artigo 1º respeitarão o

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prazo de até 12 ([...]) meses, a contar da data de formalização do


contrato administrativo de prestação de serviços, podendo ser
prorrogadas por igual período e rescindidas a qualquer tempo
no interesse da administração.
Art. 3º É proibido o desvio de função do pessoal
contratado na forma desta Lei Complementar.
Art. 4º É proibida a contratação, nos termos desta Lei
Complementar, de servidores das administrações direta e
indireta da União, do Estado e dos Municípios, exceto as
acumulações permitidas constitucionalmente.
Parágrafo único. Sem prejuízo da nulidade do contrato, a
infração do disposto no caput deste artigo, importará na
responsabilidade da autoridade contratante e do contratado,
inclusive solidariedade, quanto à devolução dos valores pagos
ao contratado.
Art. 5º Nas contratações de que trata esta Lei
Complementar, serão observados os valores da Tabela de
Subsídio, classe I, referência I, a que se refere o Anexo XIII da
Lei Complementar nº 706, de 27.8.2013, pagos aos servidores
efetivos dos cargos de analista de suporte socioeducativo,
nutricionista socioeducativo; pedagogo socioeducativo;
psicólogo socioeducativo; assistente social socioeducativo;
terapeuta ocupacional socioeducativo; técnico em enfermagem
socioeducativo; técnico socioeducativo nas áreas de segurança
do trabalho e edificações; assistente de suporte socioeducativo e
agente socioeducativo, para a jornada de 40 ([...]) horas
semanais, exceto aos servidores ocupantes do cargo de agente
socioeducativo, cuja jornada de trabalho é em regime de escala
de plantão de 12 ([...]) horas de trabalho e de 36 ([...]) horas de
descanso ou de 24 ([...]) horas de trabalho e de 72 ([...]) horas de
descanso, respeitado o limite máximo de 192 ([...]) horas
mensais.
Art. 6º Aplicam-se ao pessoal contratado os mesmos
deveres, proibições e responsabilidades vigentes para os
servidores públicos, integrantes do órgão a que forem
subordinados, além daqueles descritos pela Lei Complementar

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nº 46, de 31.01.1994, com suas alterações posteriores.


Art. 7º As infrações disciplinares atribuídas ao pessoal
contratado nos termos desta Lei Complementar serão apuradas
mediante sindicância, concluídas no prazo de 30 ([...]) dias e
assegurada a ampla defesa.
Art. 8º O contrato firmado de acordo com os termos desta
Lei Complementar extinguir-se-á sem direito a indenização:
I – pelo término do prazo contratual;
II – por iniciativa do contratado;
III – por conveniência da administração;
IV – quando o contratado incorrer em falta disciplinar.
Art. 9º É assegurado aos contratados:
I – o 13º ([...]) salário, proporcional ao tempo de serviço
prestado nessa condição;
II – a indenização de férias proporcionalmente ao tempo
de serviço prestado;
III – o adicional de férias proporcional ao tempo de serviço
prestado;
IV – o vale-transporte.
Art. 10. Os contratados, na forma desta Lei
Complementar, serão segurados do Regime Geral da
Previdência Social, conforme § 13 do artigo 40 da Constituição
Federal.
Art. 11. As despesas decorrentes da execução desta Lei
Complementar correrão por conta das dotações orçamentárias
próprias, que serão suplementadas, se necessário.
Art. 12. Esta Lei Complementar entra em vigor na data de
sua publicação”.

17. Como parâmetros de controle, invocam-se:

“Art. 37. A administração pública direta e indireta de


qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de
legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e
eficiência e, também, ao seguinte:

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ADI 5664 / ES

[...]
II – a investidura em cargo ou emprego público depende
de aprovação prévia em concurso público de provas ou de
provas e títulos, de acordo com a natureza e a complexidade do
cargo ou emprego, na forma prevista em lei, ressalvadas as
nomeações para cargo em comissão declarado em lei de livre
nomeação e exoneração;
[...]
IX – a lei estabelecerá os casos de contratação por tempo
determinado para atender a necessidade temporária de
excepcional interesse público.
[…].
Art. 39. A União, os Estados, o Distrito Federal e os
Municípios instituirão, no âmbito de sua competência, regime
jurídico único e planos de carreira para os servidores da
administração pública direta, das autarquias e das fundações
públicas”.

18. O problema constitucional posto envolve perquirir se as Leis


Complementares estaduais que autorizam o respectivo Poder Executivo a
realizar contratação temporária de agentes socioeducativos e técnicos de
nível superior do Instituto de Atendimento Socioeducativo do Espírito
Santo (IASES) atendem o requisito da necessidade temporária em virtude
da excepcionalidade do atendimento ao interesse público.
Rememoro o voto liberado pelo eminente Relator no Olenário
Virtual:

“O SENHOR MINISTRO MARCO AURÉLIO (RELATOR)


– Há de atentar-se para a supremacia da Constituição Federal,
Lei das leis, que se encontra no ápice da pirâmide das normas
jurídicas pátrias. Tem-se, no artigo 37, inciso II, dela constante,
preceito imperativo:

Art. 37. A administração pública direta e indireta de


qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito

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ADI 5664 / ES

Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de


legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e
eficiência e, também, ao seguinte:
[...]
II – a investidura em cargo ou emprego público
depende de aprovação prévia em concurso público de
provas ou de provas e títulos, de acordo com a natureza e
a complexidade do cargo ou emprego, na forma prevista
em lei, ressalvadas as nomeações para cargo em comissão
declarado em lei de livre nomeação e exoneração.

O acesso a cargo e emprego depende da feitura de


concurso público. Essa é a regra, confirmando-a a exceção, no
que contempla cargo em comissão declarado em lei de livre
nomeação e exoneração.
Educação é um dos males existentes, em termos de ser
deficitária. Cumpre ao Estado – gênero – aparelhar-se,
objetivando atender esse direito básico do cidadão. Conforme
ressaltado na petição inicial, tem-se, no Espírito Santo, edição
de sucessivas normas prevendo contratação temporária de
cargos técnicos, a exigirem provimento efetivo.
Nesta ação direta de inconstitucionalidade, são
questionadas as Leis Complementares nº 559/2010 e 772/2014.
Antes, houve diplomas versando idêntica matéria, a saber: Leis
Complementares nº 300/2004, 349/2005, 387/2006, 405/2007. O
círculo é vicioso, deixando-se de observar o ditame
constitucional sobre preenchimento definitivo de cargos em
área sensível que é o sistema socioeducativo.
O conflito, com o inciso II do artigo 37 da Constituição
Federal, dos atos normativos impugnados é de clareza solar.
Julgo procedente o pedido formulado, para declarar
inconstitucionais as Leis Complementares nº 559/2010 e
772/2014 do Estado do Espírito Santo”.

Também eu não vislumbro o excepcional interesse público a


informar as leis impugnadas, editadas no encadeamento de outros atos

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ADI 5664 / ES

normativos elaborados para permitir a contratação temporária em setores


essenciais, como a saúde, objeto da Lei Complementar nº 300/2004,
declarada inconstitucional por esta Suprema Corte ao julgamento da ADI
3430. Transcrevo o teor da ementa do acórdão:

“CONSTITUCIONAL. LEI ESTADUAL CAPIXABA QUE


DISCIPLINOU A CONTRATAÇÃO TEMPORÁRIA DE
SERVIDORES PÚBLICOS DA ÁREA DE SAÚDE. POSSÍVEL
EXCEÇÃO PREVISTA NO INCISO IX DO ART. 37 DA LEI
MAIOR. INCONSTITUCIONALIDADE. ADI JULGADA
PROCEDENTE. I - A contratação temporária de servidores sem
concurso público é exceção, e não regra na Administração
Pública, e há de ser regulamentada por lei do ente federativo
que assim disponha. II - Para que se efetue a contratação
temporária, é necessário que não apenas seja estipulado o
prazo de contratação em lei, mas, principalmente, que o
serviço a ser prestado revista-se do caráter da temporariedade.
III - O serviço público de saúde é essencial, jamais pode-se
caracterizar como temporário, razão pela qual não assiste
razão à Administração estadual capixaba ao contratar
temporariamente servidores para exercer tais funções. IV -
Prazo de contratação prorrogado por nova lei complementar:
inconstitucionalidade. V - É pacífica a jurisprudência desta
Corte no sentido de não permitir contratação temporária de
servidores para a execução de serviços meramente burocráticos.
Ausência de relevância e interesse social nesses casos. VI - Ação
que se julga procedente”.(ADI 3430, Relator(a): RICARDO
LEWANDOWSKI, Tribunal Pleno, julgado em 12/08/2009, DJe-
200 DIVULG 22-10-2009 PUBLIC 23-10-2009 EMENT VOL-
02379-02 PP-00255, destaquei)

A profusão legislativa sugere prática tendente a desnaturar a


excepcionalidade constitucionalmente prevista.
No caso em exame o Estado do Espírito Santo, em verdade, busca,
sob o manto da contratação temporária excepcional, admitir uma vasta

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gama de profissionais – como elencado no artigo 1º da Lei


Complementar 772/2014 – para uma expressiva quantidade de vagas –
“677 ([...]) Agentes Socioeducativos e 60 ([...]) Técnicos de Nível Superior”. Tal
postura denota que se trata do suprimento da demanda de um real
aparelhamento do Instituto de Atendimento Socioeducativo do Espírito
Santo, sem a observância do concurso público, porém.
Há, no Estado, uma área essencial, a socioeducativa, cujo serviço
prestado refere-se a direito fundamental social de imprescindível
implementação governamental por meio de uma estruturação estável,
duradoura e eficiente, a exigir a contratação mediante concurso público.
Afastada, portanto, a temporariedade imprescindível para a efetivação
da contratação excepcional. Ao valer-se dessa espécie de contratação, o
Estado deixa de imprimir eficiência ao serviço, em manifesta
desobediência ao comando do artigo 37, caput, da Carta Magna.
A isso acresce que da leitura das duas leis combatidas não se observa
nenhuma justificativa fática a delinear uma situação de emergência na
contratação. Inexiste, então, a excepcionalidade do interesse público.
A Procuradoria-Geral da República, em seu parecer, bem sintetiza o
problema jurídico posto:

“A importância dos serviços socioeducacionais demanda


estabilidade no quadro de contratação do instituto, para fins de
continuidade do importante trabalho desenvolvido com
adolescentes.
A contratação temporária deve ser limitada a casos de
excepcional transitoriedade, não demonstrada na espécie. A
diferença entre o número de contratados por tempo
determinado e a quantidade de servidores efetivos no quadro
do IASES evidencia que a Administração vem preferindo a
contratação temporária à efetivação de esforços para a
realização de concurso público“.

Não caracterizado, por conseguinte, o excepcional interesse público


para a execução da contratação temporária em tela.

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Rememoro que a Constituição estabeleceu um ponto de partida para


o ingresso no serviço público, sob a regra da realização de concurso
público, efetivado mediante critérios prévia e objetivamente
estabelecidos. Como exceção, possibilitou a contratação para suprir
necessidade temporária de excepcional interesse público, desvirtuada, in
casu, pelo Estado do Espírito Santo.
Ao assim agir, o legislador estadual infringiu também a igualdade.
Com efeito, esclarece Robert Catherine que o concurso público
implementa o princípio da igualdade, por exigir equivalência de
qualificações técnicas no certame e reduzir ao mínimo os elementos
subjetivos de apreciação1.
Nessa linha de raciocínio jurídico, as Leis Complementares
capixabas n° 559/2010 e 772/2014 afrontaram os ditames constitucionais
relativos ao concurso público, à eficiência e à igualdade.
19. Sobre o tema, colho precedentes desta Suprema Corte:

“CONSTITUCIONAL. CONTRATAÇÃO TEMPORÁRIA


DE SERVIDORES (ART. 37, IX, CF). LEI COMPLEMENTAR
12/1992 DO ESTADO DO MATO GROSSO.
INCONSTITUCIONALIDADE. MODULAÇÃO DE EFEITOS. 1.
A Constituição Federal é intransigente em relação ao princípio
do concurso público como requisito para o provimento de
cargos públicos (art. 37, II, da CF). A exceção prevista no
inciso IX do art. 37 da CF deve ser interpretada
restritivamente, cabendo ao legislador infraconstitucional a
observância dos requisitos da reserva legal, da atualidade do
excepcional interesse público justificador da contratação
temporária e da temporariedade e precariedade dos vínculos
contratuais. 2. A Lei Complementar 12/1992 do Estado do
Mato Grosso valeu-se de termos vagos e indeterminados para
deixar ao livre arbítrio do administrador a indicação da

1 No original: “Le concours a précisément pour objet d’assurer cette égalité technique de
départ, en réduisant au minimum les élements subjectifs d’appréciation”. CATHERINE, Robert. Le
Fonctionnaire français: Introduction à une déontologie de la fonction publique. Paris:
Éditions Sirey, 1973, p. 64-65.

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presença de excepcional interesse publico sobre virtualmente


qualquer atividade, admitindo ainda a prorrogação dos
vínculos temporários por tempo indeterminado, em franca
violação ao art. 37, IX, da CF. 3. Ação direta julgada procedente,
para declarar inconstitucional o art. 264, inciso VI e § 1º, parte
final, da Lei Complementar 4/90, ambos com redação conferida
pela LC 12/92, com efeitos ex nunc, preservados os contratos em
vigor que tenham sido celebrados exclusivamente com
fundamento nos referidos dispositivos, por um prazo máximo
de até 12 (doze) meses da publicação da ata deste julgamento”.
(ADI 3662, Relator(a): MARCO AURÉLIO, Relator(a) p/
Acórdão: ALEXANDRE DE MORAES, Tribunal Pleno, julgado
em 23/03/2017, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-080 DIVULG 24-
04-2018 PUBLIC 25-04-2018, destaquei)

“CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO. LEI


COMPLEMENTAR 22/2000, DO ESTADO DO CEARÁ.
CONTRATAÇÃO TEMPORÁRIA DE PROFESSORES DO
ENSINO BÁSICO. CASOS DE LICENÇA.
TRANSITORIEDADE DEMONSTRADA. CONFORMAÇÃO
LEGAL IDÔNEA, SALVO QUANTO A DUAS HIPÓTESES: EM
QUAISQUER CASOS DE AFASTAMENTO TEMPORÁRIO
(ALÍNEA “F” DO ART. 3º). PRECEITO GENÉRICO.
IMPLEMENTAÇÃO DE PROJETOS DE ERRADICAÇÃO DO
ANALFABETISMO E OUTROS (§ ÚNICO DO ART. 3º). METAS
CONTINUAMENTE EXIGÍVEIS. 1. O artigo 37, IX, da
Constituição exige complementação normativa criteriosa
quanto aos casos de “necessidade temporária de excepcional
interesse público” que ensejam contratações sem concurso.
Embora recrutamentos dessa espécie sejam admissíveis, em
tese, mesmo para atividades permanentes da Administração,
fica o legislador sujeito ao ônus de especificar, em cada caso,
os traços de emergencialidade que justificam a medida
atípica. 2. A Lei Complementar 22/2000, do Estado do Ceará,
autorizou a contratação temporária de professores nas situações
de “a) licença para tratamento de saúde; b) licença gestante; c)

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licença por motivo de doença de pessoa da família; d) licença


para trato de interesses particulares; e ) cursos de capacitação; e
f) e outros afastamentos que repercutam em carência de
natureza temporária”; e para “fins de implementação de
projetos educacionais, com vistas à erradicação do
analfabetismo, correção do fluxo escolar e qualificação da
população cearense” (art. 3º, § único). 3. As hipóteses descritas
entre as alíneas “a” e “e” indicam ocorrências alheias ao
controle da Administração Pública cuja superveniência pode
resultar em desaparelhamento transitório do corpo docente,
permitindo reconhecer que a emergencialidade está
suficientemente demonstrada. O mesmo não se pode dizer,
contudo, da hipótese prevista na alínea “f” do art. 3º da lei
atacada, que padece de generalidade manifesta, e cuja
declaração de inconstitucionalidade se impõe. 4. Os projetos
educacionais previstos no § único do artigo 3º da LC 22/00
correspondem a objetivos corriqueiros das políticas públicas
de educação praticadas no território nacional. Diante da
continuada imprescindibilidade de ações desse tipo, não
podem elas ficar à mercê de projetos de governo casuísticos,
implementados por meio de contratos episódicos, sobretudo
quando a lei não tratou de designar qualquer contingência
especial a ser atendida. 5. Ação julgada parcialmente
procedente para declarar inconstitucionais a alínea “f” e o §
único do art. 3º da Lei Complementar 22/00, do Estado do
Ceará, com efeitos modulados para surtir um ano após a data
da publicação da ata de julgamento”. (ADI 3721, Relator(a):
TEORI ZAVASCKI, Tribunal Pleno, julgado em 09/06/2016,
ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-170 DIVULG 12-08-2016
PUBLIC 15-08-2016, destaquei)

“CONSTITUCIONAL. AÇÃO DIRETA DE


INCONSTITUCIONALIDADE. LEI Nº 17.882/2012 DO
ESTADO DE GOIÁS. SERVIÇO DE INTERESSE MILITAR
VOLUNTÁRIO (SIMVE). INOBSERVÂNCIA DA REGRA
CONSTITUCIONAL IMPOSITIVA DO CONCURSO

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ADI 5664 / ES

PÚBLICO. VIOLAÇÃO AOS ART. 37, II, E 144, § 5°, DA


CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA. PREVISÃO GENÉRICA E
ABRANGENTE DE CONTRATAÇÃO TEMPORÁRIA:
OFENSA AOS ARTS. 37, II, IX, E 144, CAPUT, DA CRFB/88.
INCONSTITUCIONALIDADE FORMAL. LEI ESTADUAL
QUE CONTRARIA NORMAS GERAIS EDITADAS PELA
UNIÃO. AÇÃO JULGADA PROCEDENTE. 1. O postulado do
concurso público traduz-se na necessidade essencial de o
Estado conferir efetividade a diversos princípios
constitucionais, corolários do merit system, dentre eles o de
que todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer
natureza (CRFB/88, art. 5º, caput). 2. A Polícia Militar e o Corpo
de Bombeiros Militar dos Estados, do Distrito Federal e dos
Territórios, conquanto instituições públicas, pressupõem o
ingresso na carreira por meio de concurso público (CRFB/88,
art. 37, II), ressalvadas as funções administrativas para
trabalhos voluntários (Lei nº 10.029/2000), restando
inconstitucional qualquer outra forma divergente de
provimento. 3. À luz do conteúdo jurídico do art. 37, inciso IX,
da Constituição da República e da jurisprudência firmada por
esta Suprema Corte em sede de Repercussão Geral (RE 658.026,
Relator Min. Dias Toffoli, Tribunal Pleno, DJe 31.10.2014), a
contratação temporária reclama os seguintes requisitos para
sua validade: (i) os casos excepcionais devem estar previstos
em lei; (ii) o prazo de contratação precisa ser predeterminado;
(iii) a necessidade deve ser temporária; (iv) o interesse público
deve ser excepcional; (iv) a necessidade de contratação há de
ser indispensável, sendo vedada a contratação para os serviços
ordinários permanentes do Estado, e que devam estar sob o
espectro das contingências normais da Administração,
mormente na ausência de uma necessidade temporária. 4. No
caso sub examine, não há qualquer evidência de necessidade
provisória que legitime a contratação de policiais temporários
para o munus da segurança pública, mercê de a lei revelar-se
abrangente, não respeitando os pressupostos básicos de
norma que almeja justificar a sua excepcionalidade frente à

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regra da Carta Magna (CRFB/88, art. 37, II e IX). 5. A


competência legislativa concorrente entre a União e os
Estados-membros (CRFB/88, art. 24), nos casos em que cabe
àquela estabelecer normas gerais (§ 1º) e a estes normas
suplementares (§ 2º), submete-se ao exame de
constitucionalidade em sede de fiscalização normativa
abstrata quando configurada inconstitucionalidade direta,
imediata e frontal. Precedentes do Plenário:; ADI 1366 AgR,
Rel. Min. Celso de Mello, Tribunal Pleno, DJe 20-09-2012; ADI
2656/SP, Rel. Min. Maurício Corrêa, Tribunal Pleno, DJ
01.08.2003; ADI 311 MC, Rel. Min. Carlos Velloso, Tribunal
Pleno, DJ 14-09-1990. 6. É que afronta o texto maior lei estadual
que regule fora das peculiaridades locais e de sua competência
suplementar, atentando contra as normas gerais de competência
da União em manifesta usurpação de competência (CRFB/88,
arts. 22, XXI, e 24, § 2º). 7. É inconstitucional, por vício formal,
lei estadual que inaugura relação jurídica contraposta à
legislação federal que regula normas gerais sobre o tema,
substituindo os critérios mínimos estabelecidos pela norma
competente. 8. In casu, a Lei nº 17.882, de 27 de dezembro de
2012, do Estado do Goiás, ao instituir o Serviço de Interesse
Militar Voluntário Estadual (SIMVE) na Polícia Militar e no
Corpo de Bombeiros Militar do Estado de Goiás, instituiu uma
classe de policiais temporários, cujos integrantes, sem o
indispensável concurso público de provas e títulos, passam a
ocupar, após seleção interna, função de natureza policial militar
de maneira evidentemente inconstitucional. 9. Ação direta de
inconstitucionalidade julgada procedente. 10. Proposta a
modulação temporal pelo Relator, não se obteve, no Plenário, o
quorum necessário para a sua aprovação”. (ADI 5163,
Relator(a): LUIZ FUX, Tribunal Pleno, julgado em 08/04/2015,
PROCESSO ELETRÔNICO DJe-091 DIVULG 15-05-2015
PUBLIC 18-05-2015)

“RECURSO EXTRAORDINÁRIO. AÇÃO DIRETA DE


INCONSTITUCIONALIDADE. LEI COMPLEMENTAR N.

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ADI 5664 / ES

1.120/2003 DO MUNICÍPIO DE CONGONHAL/MG. 1)


NECESSIDADE TEMPORÁRIA E EXCEPCIONAL
INTERESSE PÚBLICO NÃO CONFIGURADOS. 2)
CONTRATAÇÃO TEMPORÁRIA DE MÉDICOS, DENTISTAS,
ENFERMEIROS, TÉCNICOS EM ENFERMAGEM,
BIOQUÍMICO, TÉCNICOS EM RX, AUXILIARES DE
ENFERMAGEM E AGENTES COMUNITÁRIOS DE SAÚDE,
AUXILIARES ADMINISTRATIVOS, PROFESSORES,
OPERÁRIOS DE OBRAS E SERVIÇOS PÚBLICOS;
OPERADORES DE MÁQUINAS, PEDREIROS, PINTORES,
ELETRICISTAS, ENCANADORES, AUXILIARES DE
PEDREIROS, TÉCNICO AGRIMENSOR E MESTRE DE
OBRAS, MERENDEIRAS E SERVIÇAIS, MAGAREFE E
MONITOR DE ESPORTES. 3) CONTRARIEDADE AO ART.
37, INC. II E IX, DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA.
EXIGÊNCIA DE CONCURSO PÚBLICO. PRECEDENTES. . 4)
RECURSO EXTRAORDINÁRIO PROVIDO PARA DECLARAR
A INCONSTITUCIONALIDADE DOS ARTS. 2º, 3º E 4º DA LEI
COMPLEMENTAR N. 1.120/2003 DO MUNICÍPIO DE
CONGONHAL/MG”. (RE 527109, Relator(a): CÁRMEN
LÚCIA, Tribunal Pleno, julgado em 09/04/2014, ACÓRDÃO
ELETRÔNICO DJe-213 DIVULG 29-10-2014 PUBLIC 30-10-
2014)

20. Ante o exposto, conheço da ação direta e, acompanhando o


eminente Relator, julgo procedente o pedido.
É como voto.

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Voto - MIN. CÁRMEN LÚCIA

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16/06/2021 PLENÁRIO

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE 5.664 ESPÍRITO SANTO

VOTO

A SENHORA MINISTRA CÁRMEN LÚCIA - Senhor

Presidente, Senhores Ministros, cumprimento o Ministro Marco Aurélio,

Relator; a Senhora Ministra Rosa Weber, Vice-Presidente; o Doutor

Humberto Jacques.

Senhor Presidente, não tenho a menor dúvida de que

as observações do Ministro Alexandre de Moraes são extremamente

pertinentes e dizem respeito à forma de administrar que, muitas vezes - e

é por isso mesmo que a Constituição abre a exceção -, permite a

contratação temporária. Várias vezes, em muitos julgados, esse Supremo

Tribunal Federal tem reafirmado a possibilidade, cumpridos os requisitos

para interpretar o inciso IX do art. 37, de contratação temporária.

Entretanto, neste caso, o que se vê é uma continuidade

de legislação no que se pode ter como lei cortina de fumaça: contrata-se e

recontrata-se e segue-se. Uma lei vem depois para, como disse o Ministro

Edson Fachin, dotar de ultratividade uma norma que já não poderia, por

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Voto - MIN. CÁRMEN LÚCIA

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ADI 5664 / ES

ser contrária à Constituição, ter a sua eficácia prorrogada.

No caso do Espírito Santo, o Ministro Roberto Barroso

fez uma referência acompanhada pelo esclarecimento que também foi

ponderado pelo Ministro Nunes Marques sobre, ao que tudo indica, uma

possibilidade que essas leis têm oferecido de continuidade dessas

contratações temporárias em desrespeito flagrante e frontal à regra do

concurso público que a Constituição estabelece.

Por uma pura curiosidade, verificando o que esta Lei

nº 809, que está em vigor agora e que o Ministro Alexandre alerta que

teria revogado as normas anteriores, mas que vem da mesma toada,

portanto permitindo a contratação, foi regulamentada, no Espírito Santo,

por um decreto, o Decreto nº 3.923. Eu tive só uma curiosidade mesmo

intelectual de verificar.

Ali se estabelece que os órgãos da administração

deveriam reduzir, de forma gradativa, o quantitativo geral de servidores

contratados temporariamente na administração capixaba e dar os

percentuais. Só seriam extintas as contratações temporárias, ou só serão,

nos termos deste decreto do governador, em 2025.

Portanto, tem toda a pertinência, não apenas a

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Voto - MIN. CÁRMEN LÚCIA

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ADI 5664 / ES

declaração de inconstitucionalidade, como a proposta do Ministro Nunes

Marques de modulação, porque o sistema socioeducativo é extremamente

sensível e depende mesmo da presença permanente de servidores.

Acho que é um tema, Ministro Alexandre, que, depois,

merece até um refazimento, até porque sabemos que há muitos outros

problemas nesse sistema. Por exemplo, nesses institutos, não se pode

manter pessoas por longo tempo no mesmo lugar. Não só porque se

acostumam. Algumas até embrutecem pela dificuldade do trabalho, pela

sensibilidade, pela dureza, pela amargura de tudo aquilo. Esse modelo

precisa ser repensado. Não pode ocorrer a contratação para um lugar e

em uma lotação só, e tudo isso não independe de concurso público.

Nesse caso, o número já é suficiente para demonstrar

que realmente se tem uma burla ao princípio do concurso público. Fosse

pouco, a superveniência dessa Lei Complementar nº 809, de que se dá

notícia nessa ação direta, e, mais, essa regulamentação na Administração

Pública capixaba continuará, até 2025, com percentuais anuais, a diminuir

a contratação, tem-se, portanto, o testemunho de que ali encontra-se uma

permanente burla ao princípio, à regra do concurso público.

Razão pela qual, Senhor Presidente, considerando, sem

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Voto - MIN. CÁRMEN LÚCIA

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ADI 5664 / ES

afirmar - e não afirmo nenhum momento - a necessidade de se retirar da

Constituição a possibilidade de contratação temporária, necessária nos

casos e com os requisitos que este Supremo mais de uma vez reafirmou,

mas que neste caso não são cumpridos, na minha compreensão, estou

acompanhando o Ministro-Relator para julgar procedente a ação.

É como voto, Senhor Presidente. Agradeço a palavra.

Publicado sem revisão. Art. 95 do RISTF.

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Voto - MIN. DIAS TOFFOLI

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16/06/2021 PLENÁRIO

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE 5.664 ESPÍRITO SANTO

VOTO

O SENHOR MINISTRO DIAS TOFFOLI:


Boa tarde, Senhor Presidente, Senhoras Ministras; Senhores
Ministros; Senhor Vice-Procurador-Geral da República, Dr. Humberto
Jacques; Senhoras Advogadas e Senhores Advogados e todos que nos
acompanham.
Senhor Presidente, também julgo procedente a ação, na linha dos
votos já proferidos.

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Voto - MIN. RICARDO LEWANDOWSKI

Inteiro Teor do Acórdão - Página 67 de 103

16/06/2021 PLENÁRIO

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE 5.664 ESPÍRITO SANTO

VOTO

O SENHOR MINISTRO RICARDO LEWANDOWSKI - Boa tarde,


Senhor Presidente! Cumprimento todos na pessoa de Vossa Excelência.
Presidente, nós estamos em sede de controle concentrado de
constitucionalidade, examinando uma lei em abstrato e não fatos.
Estamos examinando justamente as leis capixabas à luz do que se contém
no art. 37, IX, da Constituição Federal.
A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal é pacífica no sentido
de entender que a contratação por tempo indeterminado para atender a
necessidade temporária e excepcional de interesse público exige, para o
preenchimento dos requisitos constitucionais, o seguinte: previsão dos
casos legalmente estabelecidos, tempo determinado e necessidade
temporária e excepcional do interesse público. Cito como exemplo a ADI
3.210.
Ademais, até numa evolução jurisprudencial, a Corte decidiu nas
ADIs 890 e 2987 que a Constituição Federal autoriza sim a contratação
por tempo determinado, tanto para o desempenho de atividades de
natureza eventual quanto para o exercício de atividade de caráter regular
e permanente, esse tipo de contratação excepcional. Então, tanto para os
cargos permanentes quanto para aqueles cargos eventuais.
Nesse aspecto, Senhor Presidente, quero crer, e com o devido
respeito àqueles que pensam diferentemente, que as leis capixabas estão
sim em conformidade com a Constituição. Agora, se o Governo do Estado
está burlando a Constituição e a própria lei, é um caso que deverá ser
examinado pelo Ministério Público.
Nós não estamos, aqui, examinando uma ação civil pública. Eu
conheço o instituto da fungibilidade dos recursos, mas não conheço o
instituto da fungibilidade das ações originárias que aportam no Supremo
Tribunal Federal. Quer dizer, nós estamos examinando uma ação direta
de inconstitucionalidade e, nesse aspecto, data venia, estou entendendo

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Voto - MIN. RICARDO LEWANDOWSKI

Inteiro Teor do Acórdão - Página 68 de 103

ADI 5664 / ES

que elas estão compatíveis com a Constituição. Se houve burla, é uma


questão que não podemos examinar nesta sede, no Plenário do Supremo
Tribunal Federal.
Então, Senhor Presidente, eu vou pedir todas as vênias ao relator e
àqueles que o seguiram e vou acompanhar a divergência aberta pelo
Ministro Alexandre de Moraes, para julgar improcedente a ação, mas com
a determinação de que os autos sejam enviados ao Ministério Público do
Espírito Santo para as providências necessárias ou que julgar
convenientes.
É como voto, Senhor Presidente.

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Voto Vogal

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16/06/2021 PLENÁRIO

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE 5.664 ESPÍRITO SANTO

RELATOR : MIN. MARCO AURÉLIO


REDATOR DO : MIN. NUNES MARQUES
ACÓRDÃO
REQTE.(S) : PROCURADOR-GERAL DA REPÚBLICA
INTDO.(A/S) : GOVERNADOR DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DO ESTADO DO ESPÍRITO
SANTO
INTDO.(A/S) : ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DO
ESPÍRITO SANTO
ADV.(A/S) : SEM REPRESENTAÇÃO NOS AUTOS
AM. CURIAE. : SINDICATO DOS TRABALHADORES E SERVIDORES
PÚBLICOS DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO -
SINDIPÚBLICOS
ADV.(A/S) : MARCOS GOMES RIBEIRO

VO TO -V O GAL

O SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES: Trata-se de Ação Direta de


Inconstitucionalidade ajuizada pela Procuradoria-Geral da República,
com pedido de liminar, buscando ver declarada a incompatibilidade das
Leis Complementares 559, de 30 de junho de 2010, e 772, de 4 de abril de
2014, ambas do Estado do Espírito Santo, com a Constituição Federal de
1988.
As normas questionadas versam sobre a contratação temporária de
agentes socioeducativos e técnicos de nível superior do Instituto de
Atendimento Socioeducativo do Espírito Santo IASES.
Convém transcrever, ainda que parcialmente, os textos legais, para
que tenhamos uma visão mais abrangente do problema que se nos
apresenta:

Lei Complementar 559/2010 (ES)


“Art. 1º Fica o Poder Executivo autorizado a celebrar

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Voto Vogal

Inteiro Teor do Acórdão - Página 70 de 103

ADI 5664 / ES

contrato administrativo de prestação de serviço, por prazo


determinado, para admissão de 677 (seiscentos e setenta e sete)
Agentes Socioeducativos e 60 (sessenta) Técnicos de Nível
Superior, em caráter temporário, para atender às necessidades
emergenciais do Instituto de Atendimento Socioeducativo do
Espírito Santo - IASES.
Art. 2º As contratações previstas no artigo 1º respeitarão o
prazo de até 12 (doze) meses, a contar da data de formalização
do contrato administrativo de prestação de serviços, podendo
ser prorrogadas por igual período e rescindidas a qualquer
tempo no interesse da administração.
[...]”

Lei Complementar 772/2014 (ES)


“Art. 1º Fica o Poder Executivo autorizado a celebrar
contrato administrativo de prestação de serviço, por prazo
determinado, para admissão de 30 (trinta) analistas de suporte
socioeducativos distribuídos nas áreas de administração,
contabilidade, direito, economia, jornalismo; 1 (um)
nutricionista socioeducativo; 21 (vinte e um) pedagogos
socioeducativos; 29 (vinte e nove) psicólogos socioeducativos;
28 (vinte e oito) assistentes sociais socioeducativos; 1 (um)
terapeuta ocupacional socioeducativo; 13 (treze) técnicos em
enfermagem socioeducativos; 4 (quatro) técnicos
socioeducativos nas áreas de segurança do trabalho e
edificações; 37 (trinta e sete) assistentes de suporte
socioeducativos e 578 (quinhentos e setenta e oito) agentes
socioeducativos, totalizando 742 (setecentos e quarenta e dois)
servidores, em caráter temporário para atender às
necessidades emergenciais do Instituto de Atendimento
Socioeducativo do Espírito Santo – IASES.
Art. 2º As contratações previstas no artigo 1º respeitarão o
prazo de até 12 (doze) meses, a contar da data de formalização
do contrato administrativo de prestação de serviços, podendo
ser prorrogadas por igual período e rescindidas a qualquer
tempo no interesse da administração.”

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ADI 5664 / ES

A Assembleia Legislativa do Espirito Santo, em sua manifestação


(eDOC. 24), destaca o objetivo da norma, qual seja: suprir necessidade
excepcional e provisória quanto a serviços públicos essenciais, ligados à
segurança e ao bem-estar da população (sistema socioeducativo).
O presidente da Casa Legislativa Estadual ressalta ainda a reduzida
capacidade financeira da unidade federativa e pugna pela improcedência
do pedido.
O Governador do Estado (eDOC. 11) salienta o excepcional interesse
público da norma, considerando-se as atribuições do Estado
relativamente aos sistemas socioeducativo e de saúde pública, dialogando
com o princípio da proteção integral da criança e do adolescente (Art. 227 da
CF/88).
Pleiteia o julgamento do pedido como improcedente e,
sucessivamente, sejam modulados os efeitos da declaração de
inconstitucionalidade, a fim de manter válidas as admissões efetivadas.
A Advocacia-Geral da União (eDOC. 15) se manifesta pela
improcedência da ADI, ressaltando que as hipóteses de contratação em
exame estão disciplinadas em lei editada pela unidade federada
competente e que possuem balizas circunstanciais e temporais específicas,
que demonstram o caráter transitório de sua necessidade e a
excepcionalidade do interesse público subjacente. Afirma ainda, citando
precedentes da Corte, ser possível a contratação temporária, mesmo para
o exercício de atividades de caráter permanente.
Por sua vez, a Procuradoria-Geral República (eDOC. 51) reitera os
argumentos da petição inicial da ADI e defende, para a contratação
temporária nos moldes do art. 37, IX, da CF, ser indispensável o exame da
transitoriedade da contratação e da excepcionalidade do interesse público
que a justifica, elementos estes não demonstrados nas Leis
Complementares 559/2010 e 772/2014, do Estado do Espírito Santo.
Sua Excelência, o Ministro Marco Aurélio, em voto disponibilizado
quando da inclusão do processo em plenário virtual, situou que esta ADI
questiona as Leis Complementares nº 559/2010 e 772/2014. O eminente

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ADI 5664 / ES

Relator fez notar, entretanto, ter havido outros diplomas legais anteriores,
igualmente do Espirito Santo, a versar sobre idêntica matéria (Leis
Complementares nº 300/2004, 349/2005, 387/2006, 405/2007).
Sua Excelência julgou procedente a ADI, na compreensão de haver,
no caso, verdadeiro círculo vicioso, deixando-se de observar o ditame
constitucional sobre preenchimento definitivo de cargos em área sensível,
qual seja: o sistema socioeducativo.
O julgamento da presente Ação Direita de Inconstitucionalidade foi
então objeto de destaque pelo eminente Ministro Alexandre de Moraes
para julgamento presencial, que ora se retoma.
É breve o relatório.
Decido.

Cumpre inicialmente destacar a importância do tema de fundo que


se apresenta. Ao fazê-lo, reporto-me à ilustrativo e diligente levantamento
realizado pelo Conselho Nacional de Justiça, conduzido ao tempo da
presidência do eminente Ministro Dias Toffoli.
O estudo buscou diagnosticar, a partir de dados extraídos do
Cadastro Nacional de Adolescentes em Conflito com a Lei (CNACL), as
reentradas e reiterações infracionais no sistema socioeducativo.
Transcrevo pequeno trecho das conclusões do estudo, de forma a
situar a importância de políticas públicas voltadas à redução de
desigualdades socioeconômicas, bem como para ressaltar o destaque e a
perenidade da atenção a ser dispensada ao sistema socioeducativo, verbis:

“Outrossim, a pesquisa apontou, ainda, que adolescentes


ingressam no sistema socioeducativo principalmente pela
prática de atos infracionais equiparados aos crimes de porte de
arma, roubo, furto e tráfico de drogas. Igual tendência foi
encontrada no âmbito do sistema prisional. À exceção do
primeiro, todos os demais atos estão diretamente relacionados
a vulnerabilidades socioeconômicas, indicando, por um lado,
a seletividade de ambos os sistemas quanto ao público sobre
o qual incidem e, por outro, a necessidade de serem

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ADI 5664 / ES

aprimoradas as políticas públicas que visem à redução das


desigualdades socioeconômicas como estratégia para a
diminuição dos ilegalismos.”
(Brasil. Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Reentradas e
reinterações infracionais: um olhar sobre os sistemas
socioeducativo e prisional brasileiros/ Conselho Nacional de
Justiça – Brasília: CNJ, 2019)

Parece-me adequada a conclusão que a atenção e o investimento no


sistema socioeducativo em muito contribui para a redução da reiteração
infracional e a consequente reentrada da criança ou do adolescente no
sistema socioeducativo. Em última análise, rompe-se mesmo um círculo
vicioso que, não raro, impacta alhures no sistema prisional.
A partir das manifestações, tanto da Assembleia Legislativa quanto
do Governador do Estado do Espirito Santo, não deixo de perceber um
aparente descompasso entre a fundamentalidade e importância atribuídas
por aquelas autoridades constituídas ao sistema socioeducativo, quando
comparadas ao tratamento historicamente dispensado a ponto central do
sistema: os profissionais que nele atuam.
Em outras palavras, a importância destacada não representou uma
desejável e adequada conformação e estruturação do sistema
socioeducativo.
Percebe-se com clareza que o fornecimento de meios para um
adequado desenvolvimento das crianças e adolescentes passa pela
centralidade da educação no sistema socioeducativo, encontrando nos
seus profissionais o instrumento precípuo e fundamental.
Tais aspectos não passam despercebidos a Giovana Mazzarolo
Foppa, ao lecionar sobre a mudança paradigmática e cultural decorrente
da substituição do Código de Menores pelo Estatuto da Criança e do
Adolescente:

“O Estatuto, em consonância com tal doutrina, rompeu


com as velhas concepções trazidas pela Doutrina da Situação
Irregular, presente no revogado CM, estabelecendo que crianças

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e adolescentes são sujeitos de direitos, reconhecendo sua


peculiar condição de pessoas em desenvolvimento, tomando-os
merecedores de proteção total por parte da família, da
sociedade e do Estado. E tornou obrigatório o fornecimento de
todos os meios para o seu pleno crescimento, seja físico, mental,
moral, espiritual ou social.
Com a Doutrina da Proteção Integral se rompe com a ideia
de "atos generosos" ou "caridade", exigindo-se, agora,
compromisso na realização de políticas públicas que visem à
inclusão social.
[…]
O SINASE foi pensado para integrar os diferentes sistemas
e as diferentes políticas, exigindo atuação dos executores tanto
na questão da "responsabilização" como na satisfação de
direitos dos adolescentes. Na condição de sistema integrado,
procura articular os três níveis de governo no atendimento
socioeducativo, levando em consideração a intersetorialidade e
a corresponsabilização entre família, Estado e sociedade.
Reforçando a fundamental importância do trabalho em rede,
que atue nas diferentes áreas: educação; saúde; trabalho;
previdência social; assistência social; cultura; esporte; lazer;
segurança pública.”
(FOPPA, Giovana Mazzarolo. Adolescente egresso: o
desafio do atendimento socioeducativo. Porto Alegre: Nuria
Fabris, 2013. p.16) Destaquei.

Para se desincumbir de suas atribuições constitucionais quanto à


proteção integral às crianças e aos adolescentes do sistema socioeducativo,
o Estado do Espirito Santo, por meio das normas ora impugnadas, buscou
amparo no seguinte permissivo constitucional:

“Art. 37. A administração pública direta e indireta de


qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de
legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e
eficiência e, também, ao seguinte:

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[…]
IX - a lei estabelecerá os casos de contratação por tempo
determinado para atender a necessidade temporária de
excepcional interesse público;”

Como já pontuei anteriormente, a necessidade de profissionais


capacitados e adequados ao cumprimento dos objetivos do Sistema
Nacional de Atendimento Socioeducativo (SINASE), instituído pela Lei
12.594, de 2012, é constante e premente.
Deveras oportuna, nesse sentido, a percepção do eminente Relator,
Ministro Marco Aurélio, acerca da existência de legislações anteriores, no
Estado do Espirito Santo, com o mesmo teor das normas ora impugnadas.
O registro é importante, haja vista a doutrina administrativista, ao
classificar os servidores públicos, assim lecionar quanto àqueles
contratados de maneira temporária:

“A última categoria é a dos servidores públicos


temporários, os quais, na verdade, se configuram como um
agrupamento excepcional dentro da categoria geral dos
servidores públicos. A previsão dessa categoria especial de
servidores está contemplada no art. 37, IX, da CF, que admite a
sua contratação por tempo determinado para atender à
necessidade temporária de excepcional interesse público. A
própria leitura do texto constitucional demonstra o caráter de
excepcionalidade de tais agentes. Entretanto, admitido o seu
recrutamento na forma da lei, serão eles considerados como
integrantes da categoria geral dos servidores públicos.”
(CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de Direito
Administrativo – 33. ed. – São Paulo: Atlas, 2019. p. 866)

Portanto, a mim parece que a necessidade por servidores


qualificados no sistema socioeducativo não é, de forma alguma,
transitória e, no caso sob exame, a situação de precarização das
contratações advém de longa data.
Ainda no tema da temporariedade, Carvalho Filho assevera:

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“Depois, temos o pressuposto da temporariedade da função:


a necessidade desses serviços deve ser sempre temporária. Se a
necessidade é permanente, o Estado deve processar o
recrutamento através dos demais regimes. Está, por isso,
descartada a admissão de servidores temporários para o
exercício de funções permanentes; se tal ocorrer, porém,
haverá indisfarçável simulação, e a admissão será
inteiramente inválida. Lamentavelmente, algumas
Administrações, insensíveis (para dizer o mínimo) ao citado
pressuposto, tentam fazer contratações temporárias para
funções permanentes, em flagrante tentativa de fraudar a regra
constitucional. Tal conduta, além de dissimular a ilegalidade do
objetivo, não pode ter outro elemento mobilizador senão o de
favorecer a alguns apaniguados para ingressarem no serviço
público sem concurso, o que caracteriza inegável desvio de
finalidade.48 Caso a função seja permanente, a contratação
temporária só é legítima se a Administração comprovar
situação emergencial e transitória, com previsão de ser
posteriormente superada.”
(CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de Direito
Administrativo – 33. ed. – São Paulo: Atlas, 2019. p. 875)
Destaquei.

A perpetuação de situações não almejadas por normas que


franqueiam aos gestores públicos a contratação temporária foi igualmente
motivo de perplexidades na pena de Celso Antonio Bandeira de Mello:

“A razão do dispositivo constitucional em apreço,


obviamente, é contemplar situações nas quais ou a própria
atividade a ser desempenhada, requerida por razões
muitíssimo importantes, é temporária, eventual (não se
justificando a criação de cargo ou emprego, pelo quê não
haveria cogitar do concurso público), ou a atividade não é
temporária, mas o excepcional interesse público demanda que
se faça imediato suprimento temporário de uma necessidade (neste

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ADI 5664 / ES

sentido, “necessidade temporária”), por não haver tempo hábil


para realizar concurso, sem que suas delongas deixem insuprido
o interesse incomum que se tem de acobertar.
Para que se faça uma ideia do escândalo em que se
constitui esta lei, mencione-se apenas que os contratos referidos
no art. 2º,VI, “g”, isto é, relativos a atividades desenvolvidas no
âmbito dos projetos do Sistema de Vigilância da Amazônia -
SIVAM e do Sistema de Proteção da Amazônia - SIPAM, podem
ser prorrogados até completarem um período total de cinco
anos, a teor do art. 4º, parágrafo único, IV. Haja temporariedade
nisto! Aliás, o art. 76 da lei da ANP, o art. 34, § 2º, da lei da
ANEEL, o art. 36, § 1º, da lei da ANVISA e o art. 16 da lei da
ANA, como se disse, ao tratar das “agências reguladoras”,
autorizaram a admissão de pessoal técnico “em caráter
temporário”, por até 36 meses.”
(MELLO, Celso Antonio Bandeira de. Curso de Direito
Administrativo. 30ª Edição. São Paulo: Malheiros, 2013.)
Destaquei.

Retomando-se à situação concreta que motivou o ajuizamento da


presente ADI, a mim parece oportuno reverberar alguns aspectos fáticos
de relevo.
Isso porque, o amicus curiae SindiPúblicos noticia, em seu pedido de
ingresso (eDOC. 17), que a realização do último concurso público para os
cargos previstos nas normas questionadas ocorreu em 2010. Acrescenta
ainda, citando representação do Ministério Público de Contas junto ao
Tribunal de Contas do Estado (TCE-ES), uma grande discrepância entre o
número de servidores efetivos e temporários ainda no ano de 2016,
reveladora, portanto, de inércia do Poder Público estadual na superação
definitiva da situação.
O cenário, acrescenta o SindiPúblicos, desconsidera Diretrizes do
Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (SINASE), contraria o
Princípio Constitucional da Proteção Integral e, consequentemente,
ofende o Artigo 227 da Constituição Federal de 1988.
A jurisprudência do STF, mesmo nos julgados que reconhecem a

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possibilidade de contratações temporárias para cargos de natureza


efetiva, não transitória, parecem ressalvar a temporariedade, ou seja, a
não perpetuação das contratações indefinidamente, senão vejamos:

“EMENTA: CONSTITUCIONAL. LEI ESTADUAL


CAPIXABA QUE DISCIPLINOU A CONTRATAÇÃO
TEMPORÁRIA DE SERVIDORES PÚBLICOS DA ÁREA DE
SAÚDE. POSSÍVEL EXCEÇÃO PREVISTA NO INCISO IX DO
ART. 37 DA LEI MAIOR. INCONSTITUCIONALIDADE. ADI
JULGADA PROCEDENTE. I - A contratação temporária de
servidores sem concurso público é exceção, e não regra na
Administração Pública, e há de ser regulamentada por lei do
ente federativo que assim disponha. II - Para que se efetue a
contratação temporária, é necessário que não apenas seja
estipulado o prazo de contratação em lei, mas,
principalmente, que o serviço a ser prestado revista-se do
caráter da temporariedade. III - O serviço público de saúde é
essencial, jamais pode-se caracterizar como temporário, razão
pela qual não assiste razão à Administração estadual capixaba
ao contratar temporariamente servidores para exercer tais
funções. IV - Prazo de contratação prorrogado por nova lei
complementar: inconstitucionalidade. V - É pacífica a
jurisprudência desta Corte no sentido de não permitir
contratação temporária de servidores para a execução de
serviços meramente burocráticos. Ausência de relevância e
interesse social nesses casos. VI - Ação que se julga procedente.”
(ADI 3430, Relator(a): RICARDO LEWANDOWSKI,
Tribunal Pleno, julgado em 12/08/2009)

EMENTA: AÇÃO DIRETA DE


INCONSTITUCIONALIDADE. ART. 2º, INC. VII, DA LEI
6.915/1997 DO ESTADO DO MARANHÃO. CONTRATAÇÃO
DE PROFESSORES POR TEMPO DETERMINADO.
INTERPRETAÇÃO E EFEITO DAS EXPRESSÕES
“NECESSIDADE TEMPORÁRIA” E “EXCEPCIONAL
INTERESSE PÚBLICO”. POSSIBILIDADE DE

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CONTRATAÇÃO TEMPORÁRIA PARA SUPRIR ATIVIDADES


PÚBLICAS DE NATUREZA PERMANENTE.
TRANSITORIEDADE CARACTERIZADA. PARCIAL
PROVIMENTO DA AÇÃO. 1. A natureza permanente de
algumas atividades públicas - como as desenvolvidas nas áreas
da saúde, educação e segurança pública – não afasta, de plano,
a autorização constitucional para contratar servidores
destinados a suprir demanda eventual ou passageira.
Necessidade circunstancial agregada ao excepcional interesse
público na prestação do serviço para o qual a contratação se
afigura premente autoriza a contratação nos moldes do art. 37,
inc. IX, da Constituição da República. 2. A contratação
destinada a atividade essencial e permanente do Estado não
conduz, por si, ao reconhecimento da alegada
inconstitucionalidade. Necessidade de exame sobre a
transitoriedade da contratação e a excepcionalidade do
interesse público que a justifica. 3. Ação direta de
inconstitucionalidade julgada parcialmente procedente para dar
interpretação conforme à Constituição .
(ADI 3247, Relator(a): CÁRMEN LÚCIA, Tribunal Pleno,
julgado em 26/03/2014)

Ainda no tema, vale destacar os seguintes julgados:

“EMENTA: Servidor público: contratação temporária


excepcional (CF, art. 37, IX): inconstitucionalidade de sua
aplicação para a admissão de servidores para funções
burocráticas ordinárias e permanentes.”
(ADI 2987, Relator(a): SEPÚLVEDA PERTENCE, Tribunal
Pleno, julgado em 19/02/2004) Destaquei.

“Ementa: CONSTITUCIONAL. ADMINISTRATIVO. ART.


37, IX, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. LEI 8.745/1993.
CONTRATAÇÃO TEMPORÁRIA. PROFESSORES
SUBSTITUTOS. HOSPITAL DAS FORÇAS ARMADAS.
PROGRAMAS SIVAM E SIPAM. AÇÃO JULGADA

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PARCIALMENTE PROCEDENTE 1. Nos casos em que a


Constituição Federal atribui ao legislador o poder de dispor
sobre situações de relevância autorizadoras da contratação
temporária de servidores públicos, exige-se o ônus da
demonstração e da adequada limitação das hipóteses de
exceção ao preceito constitucional da obrigatoriedade do
concurso público. 2. O legislador, ao fixar os casos
autorizadores da contratação de professores substitutos,
atendeu à exigência constitucional de reserva qualificada de lei
formal para as contratações temporárias. Improcedência da
alegada inconstitucionalidade do inciso IV e do § 1º do art. art.
2º da Lei 8.745/1993, com a redação dada pela Lei 9.849/1999. 3.
Contudo, ao admitir genericamente a contratação temporária
em órgãos específicos, o legislador permitiu a continuidade
da situação excepcional, sem justificativa normativa
adequada. Conveniência da limitação dos efeitos da declaração
de inconstitucionalidade, reconhecida a peculiaridade das
atividades em questão. 4. Ação julgada parcialmente
procedente para dar interpretação conforme à Constituição às
alíneas "d" e "g" do inciso VI do art. 2º da Lei 8.745/1993, com a
redação dada pela Lei 9.849/1999, a fim de que as contratações
temporárias por elas permitidas para as atividades finalísticas
do Hospital das Forças Armadas e desenvolvidas no âmbito dos
projetos do Sistema de Vigilância da Amazônia SIVAM e do
Sistema de proteção da Amazônia – SIPAM só possam ocorrer
em conformidade com o art. 37, inciso IX, da Constituição da
República, isto é, no sentido de que as contratações
temporárias a serem realizadas pela União nos referidos casos
apenas sejam permitidas excepcionalmente e para atender a
comprovada necessidade temporária de excepcional interesse
público nas funções legalmente previstas. A Corte limitou os
efeitos da declaração de inconstitucionalidade para que só
incidam um ano após a publicação da decisão final desta ação
no Diário Oficial da União quanto à alínea "d" e, quanto à alínea
"g", após quatro anos.”
(ADI 3237, Relator(a): JOAQUIM BARBOSA, Tribunal

12

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Supremo Tribunal Federal
Voto Vogal

Inteiro Teor do Acórdão - Página 81 de 103

ADI 5664 / ES

Pleno, julgado em 26/03/2014). Destaquei.

Dessa forma, penso que a perpetuação da situação fática, de


reiteradas contratações temporárias em seara a exigir uma atuação
permanente, constante, por parte do poder público (sistema
socioeducativo), conduziu à inconstitucionalidade das normas
questionadas.
Pondero, entretanto, dada a sensibilidade da temática envolvida, a
dialogar com os elevados interesses de crianças e adolescentes
submetidas ao sistema socioeducativo, que eventual prevalência da
declaração de inconstitucionalidade seja acompanhada da modulação de
seus efeitos.
A medida, penso eu, viabilizará a imediata realização de concursos
públicos e contratação de pessoal efetivo, sem descuidar, entretanto da
necessária continuidade da prestação de serviços tão sensíveis e
relevantes.

Dispositivo

Ante o exposto, julgo procedente a presente Ação Direta de


Inconstitucionalidade, e, nos termos do Art. 27 da Lei 9.868, de 1999,
modulo os efeitos, para que os efeitos da declaração de
inconstitucionalidade só tenha eficácia a partir de 2 anos, contados da
publicação da ata deste julgamento.

É como voto.

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Voto - MIN. GILMAR MENDES

Inteiro Teor do Acórdão - Página 82 de 103

16/06/2021 PLENÁRIO

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE 5.664 ESPÍRITO SANTO

VOTO

O SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - Boa tarde,


Presidente, Senhoras Ministras, Senhores Ministros!
Este realmente é um caso desafiador do ponto de vista dos próprios
fatos legislativos. Como já foi apontado, a LC nº 559, de 2010, dizia que:
"Art. 1º Fica o Poder Executivo autorizado a celebrar contrato
administrativo de prestação de serviço, por prazo determinado, para
admissão de 677 (seiscentos e setenta e sete) Agentes Socioeducativos (...),
em caráter temporário (...)"
As contratações previstas no art. 1º respeitariam o prazo de doze
meses. Depois veio a Lei nº 772, de 2014, que também tem lista de cargos
ou de funções e prevê a contratação de agentes socioeducativos, no total
de 578, em caráter temporário. Dizia que as contratações previstas no art.
1º respeitariam o prazo de doze meses, a contar da formalização do
contrato administrativo.
Feito todo esse exame, vou realmente poupar o Tribunal de maiores
considerações, tendo em vista o profícuo debate já ocorrido. Tendo em
vista, inclusive, a jurisprudência que desenvolvemos, tudo indica, parece-
me, que essa é a premissa da qual a maioria está partindo: há uma
perpetuação fática de reiteradas contratações temporárias, em seara a
exigir uma atuação de caráter, pelo menos, mais estável. Talvez esse seja
um ponto, inclusive, que se devesse discutir.
Temos uma ADI - já dialoguei com o Ministro Alexandre a propósito
-, acho que da relatoria da Ministra Cármen, em que se coloca a questão
da ruptura do regime único, de se ter, inclusive, um regime contratual de
caráter permanente para situações desse tipo, objeto de liminar lá atrás.
De fato, aqui estamos diante de situação que também induz - pelo menos
há uma certa percepção -a que, se já não houve a exaustão dessa norma, a
prática está levando a certa ultratividade. Isso é o que está sendo
indicado.

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Voto - MIN. GILMAR MENDES

Inteiro Teor do Acórdão - Página 83 de 103

ADI 5664 / ES

Não quero deixar de registrar, Presidente, que as observações do


Ministro Alexandre, de fato, mostram a importância dos fatos e
prognoses no âmbito do exame da questão de constitucionalidade. De
fato, temos que fazer o devido sopesamento, mas me parece, muito
provavelmente - pelo menos essa é a percepção -, que a norma já teria
exaurido seus efeitos.
Com base em que norma, então, o Estado do Espírito Santo estaria
contratando? Muito provavelmente fazendo uma interpretação extensiva,
atribuindo, portanto, ultratividade a essa norma, o que nos coloca em
situação bastante delicada, como já apontado aqui em vários
pronunciamentos.
Estou com voto no sentido de indicar a procedência da ação, já me
estava manifestando, mas vi que vários Colegas se reservaram a se
pronunciar sobre a segunda fase, a discussão sobre a modulação, a partir
do voto do Ministro Nunes Marques.
Tendo em vista exatamente os precedentes e delimitações que se
fazem em nossa jurisprudência em torno dessa contratação temporária,
estou entendendo que, ou se trata da própria norma, e aí ter-se-ia que,
talvez, assentar, pelo menos, sua ilegitimidade, ou de uma extensão, que
também, talvez, seria declarada inconstitucional. Por que com base em
quê o Estado estaria fazendo essas contratações? A não ser que faltem
elementos aqui nestes autos para uma conclusão mais...
O SENHOR MINISTRO NUNES MARQUES – Permita-me um
pequeno, mínimo aparte?
O SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - Por favor, Ministro
Nunes Marques.
O SENHOR MINISTRO NUNES MARQUES – Talvez, para
esclarecer esse ponto, tive essa dúvida no início. Quando se remete às
contratações, a lei fala em prazo de validade das contratações por doze
meses, renovado por doze meses. A lei não tem validade, essas leis estão
em plena eficácia. Essa interpretação que estranhei.
As contratações é que têm validade. Ou seja, o Estado contrata por
doze meses, e esse contrato pode ser renovado por outros doze. A pessoa

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Voto - MIN. GILMAR MENDES

Inteiro Teor do Acórdão - Página 84 de 103

ADI 5664 / ES

contratada sai, entra uma nova pessoa, contratada por doze meses e,
depois, esse contrato é renovado por doze meses. A lei, porém, não tem
limite. Não foi a lei que teve limite de doze meses, foi o contrato. Também
tive a dúvida de Vossa Excelência.
O SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - Mas temos duas leis. A
LC nº 559, ao que tudo indica foi... ou esse número foi ampliado, na
verdade, são mil e tantos agentes socioeducativos. Essa é uma leitura,
então, que dá substância ao posicionamento já trazido pelo Ministro
Nunes Marques.
Portanto, Presidente, vou acompanhar o Relator no sentido da
procedência, mas já deixo, de antemão, assinalado que vou acompanhar
o Ministro Nunes Marques no que concerne à questão da modulação de
efeitos.
Este é um caso em que me parece que a modulação de efeitos não é
sequer uma escolha. Na verdade, não há outra alternativa, sob pena de se
ter como alternativa o caos, como já apontado no voto do Ministro
Alexandre de Moraes.
Queria só fazer essas considerações, tendo em vista realmente que o
caso se coloca em uma linha muito divisória, tendo em vista a questão de
ser política pública essencial, como o Ministro Alexandre demonstrou, e
isso pode provocar o colapso de um serviço fundamental.
A Corte Constitucional alemã se viu às voltas com a declaração de
inconstitucionalidade de uma lei que declarava inconstitucional os
regulamentos do sistema prisional. A Corte disse: não se pode declarar a
inconstitucionalidade, mas vou fazer um apelo ao legislador para que ele
venha fazer o suprimento e a regulação dessas leis em outro momento.
Aqui, hoje, temos a possibilidade de lançarmos mão do art. 27 da Lei
nº 9.868, para, de fato, fixarmos uma orientação mais segura. É um caso
em que, se pudéssemos invocar, talvez fazer uma diligência, valeria à
pena inclusive ter o pronunciamento do Estado do Espírito Santo diante
dessa perplexidade que se colocou.
O SENHOR MINISTRO LUIZ FUX (PRESIDENTE) - Então, Vossa
Excelência também julga procedente e modula, nos termos do voto do

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Voto - MIN. GILMAR MENDES

Inteiro Teor do Acórdão - Página 85 de 103

ADI 5664 / ES

Ministro Nunes Marques. É isso, Ministro Gilmar?


O SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - É isso.

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Voto - MIN. LUIZ FUX

Inteiro Teor do Acórdão - Página 86 de 103

16/06/2021 PLENÁRIO

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE 5.664 ESPÍRITO SANTO

VOTO

O SENHOR MINISTRO LUIZ FUX (PRESIDENTE) - Senhores


Ministros, verifico que o Ministro Alexandre de Moraes tinha razão no
momento em que estabeleceu que, a priori, a lei que prevê contratação
temporária é contemplada pela Constituição Federal.
Entretanto, a Constituição Federal prevê essa contratação temporária
na pressuposição de que, posteriormente, será cumprido o postulado do
concurso público. E não é isso que se verifica na prática. Então, no meu
modo de ver, esse estado de fato tem de ser levado em consideração para
que possamos concluir o resultado desse julgamento.
Há uma regra de supradireito que se aplica ao magistrado no
momento em que ele vai decidir. Qual seja:

"Se, depois da propositura da ação, algum fato constitutivo,


modificativo ou extintivo do direito influir no julgamento do mérito,
caberá ao juiz tomá-lo em consideração, de ofício ou a requerimento da
parte, no momento de proferir a decisão."

Creio que essa regra in procedendo é aplicável in casu, porque as


normas que foram instituídas no afã de estabelecer um trabalho
temporário produzem efeitos até hoje.
Tenho aqui alguns dados importantes, inclusive um acórdão muito
sugestivo do Ministro Ricardo Lewandowski na ADI 3.430, de 12/8/2009,
quando Sua Excelência, no seu voto vencedor no Plenário, estabeleceu o
seguinte:
"Dessa forma, não basta que a lei, seja ela federal, estadual,
distrital ou municipal, autorize a contratação de pessoal por prazo
limitado para conformar-se ao texto constitucional, eis que a
excepcionalidade das situações emergenciais afasta a possibilidade de
que elas, de transitórias, se transmudem em permanentes."

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Voto - MIN. LUIZ FUX

Inteiro Teor do Acórdão - Página 87 de 103

ADI 5664 / ES

E foi exatamente o que aconteceu aqui. Daí a razão pela qual,


naquela oportunidade, ter sido declarada a inconstitucionalidade da Lei
Complementar nº 300, de 2004, do mesmo Estado do Espírito Santo. E
essa Lei nº 300/2004 é a lei antecedente a essas outras leis.
Então, anoto aqui, apenas para concluir o meu raciocínio, que
poderia ser sintetizado no fato de que essas leis acabaram gerando um
estado de coisas inconstitucional, que, em consulta ao sítio eletrônico da
Assembleia Legislativa do Estado do Espírito Santo, verifiquei que as
legislações impugnadas nesta ação permanecem em pleno vigor, a
despeito da novel legislação estadual complementar mencionada pela
Procuradoria do Estado do Espírito Santo.
Por outro lado, o princípio do concurso público é corolário do
Estado de Direito, rule of law, máxime os certames espelharem valores
republicanos isonômicos. De sorte que qualquer brasileiro pode lograr
êxito nessas provas e exercer o cargo no funcionalismo público brasileiro,
conforme lição do Professor José Afonso da Silva, no seu Curso de Direito
Constitucional Positivo, 2010, página 679.
Em sede meritória, verifico que, desde 2004, o Estado do Espírito
Santo permanece editando normas, que foi o detalhe que o Ministro
Barroso destacou, editando normas para preencher cargos públicos
técnicos e permanentes no âmbito do Iases, por meio de contratações
excepcionais, as quais deveriam ser temporárias, e não por via de
certames públicos, como manda a Constituição Federal.
Não por acaso, ainda no ano de 2004, a Lei Complementar capixaba
nº 300, que é antecedente dessas leis, a qual versava igualmente sobre a
contratação de servidores em caráter temporário, foi julgada
inconstitucional pelo Plenário do Supremo Tribunal Federal, sob a
relatoria do Ministro Ricardo Lewandowski. E eu destaquei este trecho:

"Não basta que a lei (...) autorize a contratação de pessoal por


prazo limitado para conformar-se ao Texto Constitucional, eis que a
excepcionalidade das situações emergenciais afasta a possibilidade de
que elas, de transitórias, transmudem-se em permanentes."

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Voto - MIN. LUIZ FUX

Inteiro Teor do Acórdão - Página 88 de 103

ADI 5664 / ES

A nossa jurisprudência é clara no sentido de que o art. 37, IX, dispõe,


de forma genérica e abrangente, essas possibilidades de casos
emergenciais.
Ao julgar o paradigma da Repercussão Geral 658.026, o Plenário
ratificou esse entendimento, nos termos do voto do Ministro Dias Toffoli,
que a Lei, ao estabelecer os casos de contratação por tempo determinado,
deve regular de forma detalhada as hipóteses em que houver a
necessidade temporária excepcional de interesse público.
Deveras, a despeito de o Supremo admitir a contratação por tempo
determinado para suprir atividades públicas de natureza permanente, a
Suprema Corte brasileira exige a justificação pormenorizada e que não
haja esse prosseguimento, como se colhe no voto de Sua Excelência a
Ministra Cármen Lúcia, na ADI 3.247, de 2014.
No caso sob exame, a simples leitura das legislações impugnadas e a
reiterada recusa do Estado capixaba de realizar certames públicos
demonstram cabalmente a generalidade da norma e a inexistência do
caráter transitório da contratação dos servidores do Iases, a todo
momento contratados temporariamente. Razão pela qual o Ministério
Público de Contas e o Sindicato dos Servidores Públicos do Estado do
Espírito Santo realizaram uma denúncia contra ao flagrante cenário de
inconstitucionalidade instaurado no ente federativo.
A representação apresentada pelo Ministério Público de Contas pelo
Tribunal de Contas, juntada aos autos pelo Sindpúblicos, revela que, em
7/4/2016, o instituto contava com 27 cargos comissionados, 379 servidores
efetivos e 1.123 contratados por tempo determinado. Até então, o último
concurso público realizado pelo Iases para provimento de cargos efetivos
havia sido em 2010, como destacou aqui Sua Excelência o Vice-
Procurador-Geral da República. Nós estamos em 2021. O último concurso
tem onze anos, e continua a fazer contratações temporárias.
Como bem-assinalado pelo Sindpúblicos, a indevida utilização de
contratação temporária para suprir demanda de atendimento
socioeducativo vai bem contra o princípio do concurso público.
A importância dos serviços socioeducacionais demanda estabilidade

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Voto - MIN. LUIZ FUX

Inteiro Teor do Acórdão - Página 89 de 103

ADI 5664 / ES

do quadro de contratação do instituto para fins de continuidade do


importante trabalho desenvolvido com adolescentes. A contratação
temporária deve ser limitada a casos excepcionais não demonstrados, e a
diferença do número de contratados por tempo determinado. E a
quantidade de servidores efetivos evidencia que a Administração vem
preferindo a contratação temporária à efetivação de esforços para a
realização de concurso público.
Por isso é que, nesse sentido, pela importância dos serviços
socioeducacionais, conheço da presente ação também e, no mérito, julgo
procedente in totum, acompanhando o Relator para declarar a
inconstitucionalidade das Leis Complementares nº 559 e 772, do Espírito
Santo, por violação do princípio do concurso público, mas permito-me
aderir, exatamente pela importância do trabalho, à modulação que foi
suscitada e indicada no voto do Ministro Nunes Marques.
É assim que voto.

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Esclarecimento

Inteiro Teor do Acórdão - Página 90 de 103

16/06/2021 PLENÁRIO

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE 5.664 ESPÍRITO SANTO

ESCLARECIMENTO

O SENHOR MINISTRO RICARDO LEWANDOWSKI - Senhor


Presidente, como Vossa Excelência me honrou, e também a Ministra Rosa
Weber, com a menção de um trecho de voto que proferi em situação
análoga, quero dizer que estou acompanhando o Ministro Alexandre de
Moraes, neste caso, porque se trata de uma ação direta de
inconstitucionalidade.
Não tenho, nos autos, as informações ventiladas por alguns
Ministros, no sentido da continuidade da contratação, não obstante o
prazo fixado nas leis agora impugnadas, mediante esta ADI. Por isso, não
pude manifestar-me, tal como os outros Ministros, no sentido de
desrespeito à Constituição e ultratividade da lei, então estou optando
pela remessa de peças ao Ministério Público capixaba, mas fico vencido.
O SENHOR MINISTRO LUIZ FUX (PRESIDENTE) - As situações
eram diferentes, mas, como o voto de Vossa Excelência tinha substância
importante para a solução desse caso, foi citado ad exemplum, não para
manifestar nenhuma contradição, de forma alguma.
O SENHOR MINISTRO RICARDO LEWANDOWSKI - Fiquei
muito honrado, Presidente, muito obrigado!

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Proposta

Inteiro Teor do Acórdão - Página 91 de 103

16/06/2021 PLENÁRIO

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE 5.664 ESPÍRITO SANTO

PROPOSTA

O SENHOR MINISTRO LUIZ FUX (PRESIDENTE) - Agora eu


colher votos sobre se haverá ou não modulação.

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Voto s/ modulação

Inteiro Teor do Acórdão - Página 92 de 103

16/06/2021 PLENÁRIO

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE 5.664 ESPÍRITO SANTO

O SENHOR MINISTRO MARCO AURÉLIO – Senhor Presidente,


Vossa Excelência sabe muito bem o que penso, considerado conflito entre
ato normativo e a Constituição Federal. Ato normativo contrário à
Constituição Federal é natimorto, não tem nenhuma eficácia.
O caso é exemplar, de desprezo pela Lei Maior. Referi-me, no voto
que tentei resumir – voto de página apenas, é muito curto, não gastaria
vela com péssimo defunto –, a círculo vicioso. A prática vem de 2014 e
ainda se caminha para projetar no tempo, por dois anos, a declaração de
inconstitucionalidade! É estimular a prática que houve de, a cada ano, ter-
se edição de lei prevendo a contratação temporária por doze meses,
considerados cargos técnicos, cargos necessários à atuação do Estado em
atividade precípua.
Não modulo a decisão, Presidente.

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Supremo Tribunal Federal
Voto s/ modulação

Inteiro Teor do Acórdão - Página 93 de 103

16/06/2021 PLENÁRIO

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE 5.664 ESPÍRITO SANTO

VOTO SOBRE MODULAÇÃO

O SENHOR MINISTRO NUNES MARQUES – Senhor Presidente,


nesse caso, como pontuou o ministro Alexandre de Moraes e bem frisou o
ministro Gilmar Mendes, é caso de realmente instalar-se o caos. Digo isso
porque é toda a estrutura do sistema carcerário de adolescentes. Por
simetria, fala-se em agente penitenciário. Esse agente socioeducacional é
o agente penitenciário do menor; é toda a estrutura, enfermeiro,
nutricionista e agente que cuida. Retirando todo esse pessoal, instala-se
imediatamente o caos.
Em razão disso, modulo.

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Supremo Tribunal Federal
Voto s/ modulação

Inteiro Teor do Acórdão - Página 94 de 103

16/06/2021 PLENÁRIO

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE 5.664 ESPÍRITO SANTO

VOTO SOBRE MODULAÇÃO


O SENHOR MINISTRO EDSON FACHIN - Senhor Presidente, eu
já houvera me manifestado pela não modulação e é como voto nesse
ponto.

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Voto s/ modulação

Inteiro Teor do Acórdão - Página 95 de 103

16/06/2021 PLENÁRIO

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE 5.664 ESPÍRITO SANTO

VOTO S/ MODULAÇÃO

O SENHOR MINISTRO LUÍS ROBERTO BARROSO - Presidente,


desde meu voto original já me havia manifestado favoravelmente à
modulação. Não para legitimar a prorrogação de uma situação
inconstitucional, mas para impedir uma situação que, de fato, pode ser
gravosa à ordem pública e à própria proteção dos menores que se
encontram neste estabelecimento. De novo, aqui, e a modulação é isso, às
vezes a realidade fática se impõe sobre os efeitos jurídicos puramente
teóricos.
De modo que estou votando pela modulação.

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Voto s/ modulação

Inteiro Teor do Acórdão - Página 96 de 103

16/06/2021 PLENÁRIO

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE 5.664 ESPÍRITO SANTO

VOTO S/ MODULAÇÃO

A SENHORA MINISTRA ROSA WEBER - Presidente, embora ache


triste que o Supremo Tribunal Federal venha afirmando a mesma coisa
desde a ADI 3.430/2004, da qual essa lei complementar foi objeto, às
vezes, os fatos gritam - argumento agora enfatizado pelo Ministro Luís
Roberto.
Como vou ficar, com todo respeito, com uma concepção teórica que,
na verdade, de fato, levaria ao caos? Então modulo, considerando ainda o
segundo argumento trazido. Já agimos assim em outros processos, com
questões similares.
Acompanho, nessa linha, a posição do Ministro Nunes Marques.

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Supremo Tribunal Federal
Voto s/ modulação

Inteiro Teor do Acórdão - Página 97 de 103

16/06/2021 PLENÁRIO

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE 5.664 ESPÍRITO SANTO

VOTO S/ MODULAÇÃO

O SENHOR MINISTRO DIAS TOFFOLI:


Acompanho a modulação sugerida pelo Ministro Nunes Marques,
Senhor Presidente.

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Voto s/ modulação

Inteiro Teor do Acórdão - Página 98 de 103

16/06/2021 PLENÁRIO

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE 5.664 ESPÍRITO SANTO

VOTO S/ MODULAÇÃO

A SENHORA MINISTRA CÁRMEN LÚCIA - Acompanho


igualmente, Senhor Presidente, a modulação, em razão do interesse
público, que como exposto pelo Ministro Nunes Marques, prevaleceria
neste caso.

Publicado sem revisão. Art. 95 do RISTF.

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Voto s/ modulação

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16/06/2021 PLENÁRIO

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE 5.664 ESPÍRITO SANTO

VOTO
S/ MODULAÇÃO

O SENHOR MINISTRO RICARDO LEWANDOWSKI -


Presidente, vou acompanhar a proposta de modulação do Ministro
Nunes Marques.

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Voto s/ modulação

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16/06/2021 PLENÁRIO

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE 5.664 ESPÍRITO SANTO

VOTO S/ MODULAÇÃO

O SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES -

Presidente, tenho a impressão, como já disse, de que esses são casos de

modulação praticamente imperativa, até porque a alternativa é o caos.

Lembro sempre um autor alemão, salvo engano,

Walter Leisner, que dizia que a gente às vezes se depara com essas

situações fáticas em que temos que encontrar a modulação sob pena de

instalarmos o caos, ou até o comprometimento do próprio sistema. Isso

ficou muito claro na exposição trazida pelo Ministro Alexandre e, agora,

enfatizada pelo Ministro Nunes Marques.

Não se trata apenas de um número de agentes

socioeducativos. Nós estamos falando de todo o sistema que dá estrutura

para o modelo de acompanhamento, contenção e eventual repressão de

menores nas instalações do Estado do Espírito Santo.

O exemplo que parece, assim, colocar uma aporia é

aquele em que uma lei eleitoral é declarada inconstitucional depois das

eleições, com todos os eleitos já nas suas funções. Então, se desfaz todo o

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Voto s/ modulação

Inteiro Teor do Acórdão - Página 101 de 103

ADI 5664 / ES

sistema pela nulidade com eficácia ex tunc. E aí pergunta-se: então, o que

se faz com os governantes que foram eleitos e com o parlamento que foi

eleito? Bom, desfaz-se tudo. E ao fim e ao cabo, então, se chega à

conclusão de que precisamos de uma nova lei. E quem vai votá-la? Então,

essa aporia responde ao questionamento sobre se é possível deixar de

modular.

Aqui, as consequências seriam outras. Uma nova lei

pode ser feita, mas quem vai guardar, a partir do dia seguinte, a decisão

do Supremo Tribunal Federal? Nesse sentido, acho que o Ministro Nunes

Marques trouxe uma boa solução para o caso.

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Extrato de Ata - 16/06/2021

Inteiro Teor do Acórdão - Página 102 de 103

PLENÁRIO
EXTRATO DE ATA

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE 5.664


PROCED. : ESPÍRITO SANTO
RELATOR : MIN. MARCO AURÉLIO
REDATOR DO ACÓRDÃO : MIN. NUNES MARQUES
REQTE.(S) : PROCURADOR-GERAL DA REPÚBLICA
INTDO.(A/S) : GOVERNADOR DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO
INTDO.(A/S) : ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO
ADV.(A/S) : SEM REPRESENTAÇÃO NOS AUTOS
AM. CURIAE. : SINDICATO DOS TRABALHADORES E SERVIDORES PÚBLICOS DO
ESTADO DO ESPÍRITO SANTO - SINDIPÚBLICOS
ADV.(A/S) : MARCOS GOMES RIBEIRO (21094/ES)

Decisão: O Tribunal, por maioria, julgou procedente o pedido


formulado na ação direta para declarar inconstitucionais a Lei
Complementar nº 559, de 30 de junho de 2010, e a Lei Complementar
nº 772, de 4 de abril de 2014, ambas do Estado do Espírito Santo,
vencidos o Ministro Alexandre de Moraes, que julgava prejudicada a
ação e, vencido, julgava-a improcedente, e o Ministro Ricardo
Lewandowski, que julgava improcedente a ação, com a determinação
de envio dos autos ao Ministério Público do Estado do Espírito
Santo. Por maioria, modulou os efeitos da presente decisão,
garantindo a vigência das contratações temporárias, eventualmente
celebradas com base nas leis agora expungidas do ordenamento
jurídico, até que se expirem os prazos de duração originariamente
previstos, devendo o Poder Público capixaba prover meios para que
o Instituto de Atendimento Socioeducativo do Espírito Santo
(IASES), no prazo de até 02 (dois) anos, a partir da publicação
desta sessão de julgamento, passe a se desincumbir de suas
atribuições em sintonia com a regra constitucional constante do
art. 37, inciso II, da Lei Maior, vencidos os Ministros Marco
Aurélio (Relator) e Edson Fachin. Redigirá o acórdão o Ministro
Nunes Marques. Falou, pelo requerente, o Dr. Humberto Jacques de
Medeiros, Vice-Procurador-Geral da República. Presidência do
Ministro Luiz Fux. Plenário, 16.06.2021 (Sessão realizada por
videoconferência - Resolução 672/2020/STF).

Presidência do Senhor Ministro Luiz Fux. Presentes à sessão os


Senhores Ministros Marco Aurélio, Gilmar Mendes, Ricardo
Lewandowski, Cármen Lúcia, Dias Toffoli, Rosa Weber, Roberto
Barroso, Edson Fachin, Alexandre de Moraes e Nunes Marques.

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Extrato de Ata - 16/06/2021

Inteiro Teor do Acórdão - Página 103 de 103

Vice-Procurador-Geral da República, Dr. Humberto Jacques de


Medeiros.

Carmen Lilian Oliveira de Souza


Assessora-Chefe do Plenário

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